Resumo Do Filme Nell

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 3

RESUMO DO FILME NELL

O filme trata de uma mulher de cerca de 30 anos que foi criada na floresta longe de toda
sociedade e civilização, tendo contato somente com a sua genitora e sua irmã gêmea
falecida entre 6 a 10 anos de idade. A mãe de Nell sofreu derrame e por isso não
possuía uma dicção adequada, era afásica, e se escondia do “mundo” provavelmente
por ter sido vítima de estupro e não possuía parentes para lhe amparar. Sendo assim,
Nell viveu por trinta anos uma vida simples, e possuía um dialeto próprio inspirado nas
dificuldades da fala da mãe e da própria vivência da moça, até ser descoberta pelo Dr.
Lovell no momento em que ele foi constatar a morte de sua mãe.
Nell se tornou um caso curioso e interessante para este doutor e tantos outros que ele
solicitou a ajuda e o filme concentra-se na decisão: - O que fazer com Nell? Ela era
capaz de viver sozinha na floresta? Deveria ser internada num hospital? Era autista,
deficiente mental, louca?... A trama gira em torno desta decisão e os médicos Dr. Lovell
e Drª. Paula (psicóloga) tentam defender suas opiniões, inicialmente antagônicas, mas
durante a observação mudaram de opinião e tentaram um consenso.
A aproximação de Nell provocou no médico e na psicóloga uma imersão para si mesmo,
quando eles passaram a vislumbrar as possibilidades diferentes que eles próprios
poderiam ter em relação a sua própria vida.
Na penúltima cena, os personagens estão no tribunal decidindo o que fazer da vida da
“Mulher Selvagem” é quando Nell decide se expressar em seu dialeto e o Dr. Lovell
serve de intérprete, neste momento fica clara a desenvoltura, a maturidade e a
autonomia dela. Sendo assim, a personagem principal consegue provar que é capaz de
viver sozinha e na cena final, ela já está em sua casa na floresta comemorando seu
aniversário com os amigos.

ANÁLISE CRÍTICA (Várias visões socioculturais e educacionais divididos em tópicos).

Nell representa a essência da humanidade, desprovida de qualquer tipo de educação


civilizada (se é que existe), com autonomia nas suas decisões e sem as “máscaras” que
a sociedade, de certa maneira, nos obriga a usar.
A jovem construiu sua própria cultura, baseada na vivência com sua mãe e irmã, sendo
assim, é possível analisar o que faz parte de nossa cultura e o que é realmente inato ao
ser humano. Isto foi bastante revelador no filme, já que demonstrou uma possibilidade
em o contato com uma cultura diferente, as pessoas passarem a ter uma noção mais
coerente de sua própria cultura.
A trama do filme também propõe uma reflexão sobre o homem como ser social, para a
configuração ou caracterização humana das pessoas. Não basta para tal a herança
genética acumulada em nossos bancos de dados internalizados, passados dos pais para
os filhos (o que, a princípio, não descarta a importância dessa informação transmitida
que nos diz apenas que ela não é suficiente para que estejamos preparados para
enfrentar o mundo em que viveremos).
É possível fazer uma análise da linguagem, segundo Vygotsky, unificando o dueto
pensamento linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados
pelos indivíduos. No filme, Nell expressava seu pensamento através de uma linguagem
própria trazendo a forma para o seu pensamento, baseada nos símbolos que a rodeia e
na linguagem da mãe.
É possível, ainda, citar Piaget quando se percebe que a criança é concebida como um
ser dinâmico e que todo momento interage com a realidade, operando ativamente com
objetos e pessoas. Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas
mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação
organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a
organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo
da vida. No caso de Nell, apesar do seu círculo de relacionamentos sociais serem
restritos, ainda assim resguardou sua capacidade humana de reflexão e organização
interna.
Apesar da possibilidade de relembrar estes estudiosos e tantos outros, o que mais
sintetiza a coração da trama é o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, ao defender que
todos os homens nascem livres, e a liberdade faz parte da natureza do homem. Para
Rousseau, a liberdade natural caracteriza-se por ações tomadas pelo indivíduo com o
objetivo de satisfazer seus instintos, isto é, com o objetivo de satisfazer suas
necessidades.
O homem neste estado de natureza desconsidera as consequências de suas ações para
com os demais, ou seja, não tem a vontade e nem a obrigação de manter o vínculo das
relações sociais.
Outra característica é a sua total liberdade, desde que tenha forças para colocá-la em
prática, obtendo as satisfações de suas necessidades, moldando a natureza. Visto que
Nell nunca teve a acesso a educação formal nem a sociedade, corrobora a natureza
“boa” do ser humano, já predita por Rousseau. Ninguém que viva no mundo moderno é
mais livre que a personagem Nell.
Rousseau que resume a cena do tribunal, quando a protagonista expressa seu
pensamento de maneira tão eloquente e intensa:
"A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando
uma forma de viver simples e uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza"
Jacques Rousseau.
A teoria do desenvolvimento intelectual de Vygotsky sustenta que todo conhecimento é
construído socialmente, no âmbito das relações humanas. Essa teoria tem por base o
desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio histórico,
enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo
essa teoria considerada, histórico-social.
O conhecimento que permite o desenvolvimento mental se dá na relação com os outros,
é uma troca dialética, no filme é possível observar que não só Nell  aprende coisas
novas, mas também o médico e a psicóloga aprendem coisas novas com Nell.
A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua,
nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de
formador e de formando.
Vygotsky observa que o indivíduo apresenta em seu processo de desenvolvimento um
nível que ele chamou de real e outro de potencial ou proximal. O real refere-se às etapas
já alcançadas pelo indivíduo, ou seja, as coisas que ele consegue fazer sozinho. Já o
potencial diz respeito à capacidade de desempenhar tarefas com ajuda dos outros, isso
quer dizer que a criança está inserida num contexto social e seus comportamentos são
frutos do processo de relações interindividuais, cabe então fazer com que o indivíduo
avance na sua compreensão do mundo a partir do desenvolvimento consolidado, pois o
convívio pressupõe uma aprendizagem social.
Segundo Vygotsky o desenvolvimento mental humano não é imutável e universal, não é
passivo, nem tampouco independente do desenvolvimento histórico e das formas sociais
de natureza humana.
A cultura é, portanto, parte constitutiva da natureza humana, já que sua característica
psicológica se dá através da internalização dos modos historicamente determinados e
culturalmente organizados de operar com informações.
Ø  A linguagem é um signo mediador por excelência, pois carrega em si conceitos
generalizados e elaborados pela cultura humana. Entende-se assim, que a relação do
homem para com o mundo não é uma relação direta do homem com a realidade, mas é
mediada por meios que se constituem nas ferramentas auxiliares da atividade humana. 
A linguagem tem papel de destaque no processo do pensamento. Sermos humanos é
mais do que pertencemos a uma espécie de seres com determinada biologia e estrutura
corporal: depende da participação em contextos sociais e culturais particulares, onde
aprendemos formas de ser e de nos comportamos, assim tornamo-nos humanos através
da aprendizagem de formas partilhadas e reconhecíveis de ser e de nos comportarmos.
Tudo isto, nos leva a concluir que o papel das interações sociais é fundamental no
desenvolvimento humano.
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Farar-se-á neste último capítulo da resenha crítica uma correlação do filme com os
conteúdos da disciplina Psicologia social e comunitária, inserindo questões reflexivas
sobre a importância de ver o ser humano como um ser biopsicossocial. Ou seja, é errado
pensar que o homem é só produto do meio em que vive, levando em consideração
Vygotsky, o homem interage com o meio e ele faz a história, produz a história.
Com relação ao filme podemos vislumbrar que a personagem Nell criou seu próprio
sistema de interação com o meio e mesmo quando ela teve contato com a sociedade
através do médico e da psicóloga, a mesma, mostrou-se coerente e lúcida dentro do seu
próprio sistema de comunicação.
 A personagem era um ser livre e vivia “uma vida simples”. Pela sociedade ela seria
julgada como autista, ou qualquer outra patologia que explicasse seu comportamento
atípico.
A sociedade sendo determinista, ou seja, quer ter controle sobre os homens dando
regras, normas e valores, não aceitava Nell como uma pessoa dona de seus atos, mas o
médico (nas cenas de júri) acabou comprovando diante o júri que a moça simplesmente
foi criada em um sistema diferente do sistema compreendido por eles e deu exemplos de
sociedades diferentes.
Não devemos nos esquecer de que Nell teve contato com outros seres humanos na 1ª
infância e no começo da fase adulta, pois foi criada pela mãe que veio de uma sociedade
organizada, mas que por escolha, decidiu se isolar da mesma depois que foi agredida
sexualmente e engravidou de gêmeas, ou seja, lembremo-nos que o ser humano só
cresce e se desenvolve a partir de interações sociais (interpessoais), em contato com
outros. Portanto ela só sobreviveu porque teve contato com a sociedade de maneira
indireta através de sua mãe que teve um derrame e tinha dificuldades de dicção e por
esta razão Nell desenvolveu uma linguagem somente dela, incompreensível à
sociedade.
Compreende-se que as regras, normas e valores diferem de um povo para outro, são
valores estipulados pelos homens para os homens, mas nunca um sistema social é
melhor ou mais certo do que o outro.
Atrevemo-nos a dizer que o filme critica a visão da sociedade moderna que, ao mesmo
tempo, que prega a liberdade de escolhas e possibilidades ela também “castra” o
indivíduo determinando quem ele é... O que ele pode ser e fazer, contanto, que esteja
nos padrões determinados pela sociedade.

Você também pode gostar