TEMA 8 - Fisiologia Do Sistema Urinário
TEMA 8 - Fisiologia Do Sistema Urinário
TEMA 8 - Fisiologia Do Sistema Urinário
PROPÓSITO
Compreender a organização morfofuncional e o papel regulatório do sistema urinário, uma ação
importante para construir um entendimento completo do funcionamento do organismo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar a estrutura renal, sua função, o processo de hemodinâmica renal e sua regulação
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO
A partir de agora, você conhecerá a organização estrutural renal e verificará que estrutura e
função estão correlacionadas no sistema urinário. Além disso, terá a compreensão do processo de
filtração renal. É importante observar que não é o sangue total que é filtrado nos rins, como se
imagina, mas apenas a fração plasmática.
ESTRUTURA DO SISTEMA URINÁRIO
Os rins possuem diversas funções, como regulação do volume de água do organismo, controle do
balanço eletrolítico, regulação do equilíbrio ácido-base, conservação de nutrientes, excreção de
resíduos metabólicos, regulação da hemodinâmica sistêmica, regulação da pressão arterial,
produção de hormônios, gliconeogênese e produção de vitamina D.
PRODUÇÃO DE HORMÔNIOS
Além do hormônio renina, que será descrito posteriormente, os rins produzem o hormônio
eritropoietina, que estimula a produção de hemácias na medula óssea. Podemos dizer,
então, que os rins também estão envolvidos na produção de hemácias.
SAIBA MAIS
O peso de cada rim varia entre homens e mulheres. No homem adulto, pesa entre 125 e 170g,
enquanto na mulher adulta, entre 115 e 155g.
Observe a anatomia renal na figura a seguir. Cada rim possui duas bordas, sendo uma convexa e
outra côncava, assumindo forma semelhante a um grão de feijão. Na borda côncava, está o hilo
renal, região que contém os vasos sanguíneos, os vasos linfáticos, os nervos e a pelve renal.
Recobrindo o rim, encontramos uma fina cápsula fibrosa, resistente e inextensível, que está ligada
frouxamente ao parênquima renal.
Fonte: Shutterstock.com
Visão anatômica do rim.
Podemos ver que o rim é dividido em uma região mais pálida e externa, o córtex, e uma região
mais escura e mais interna, a medula. Em humanos, a medula contém de 10 a 18 estruturas
cônicas, denominadas pirâmides de Malpighi. A base das pirâmides se encontra na junção
corticomedular, e o ápice se aprofunda na medula até a pelve renal, originando a papila renal. O
ápice de cada papila, denominado área cribriforme, está voltado para o interior dos cálices e
apresenta pequenos orifícios chamados ductos de Bellini. Estes ductos, na realidade, são a
extremidade final dos ductos coletores papilares. A região que engloba uma pirâmide renal e seu
córtex correspondente constitui um lobo renal (AIRES, 2012).
Cada papila renal é envolta por uma extensão da pelve renal, formando os cálices menores.
Vários destes cálices se unem, constituindo os cálices maiores, que desembocam na pelve renal,
de onde saem os ureteres, que se direcionam para a bexiga. A partir da bexiga, a urina é
eliminada através da uretra (AIRES, 2012). Note estas estruturas na figura.
Fonte: Shutterstock.com
Os rins, ureteres, a bexiga e uretra.
URETERES
Os cálices, a pelve e os ureteres são envoltos por musculatura lisa que impulsiona a urina
em direção à bexiga através de peristalse.
NÉFRON
O néfron constitui a unidade funcional do rim e é formado pelo corpúsculo renal e pelos túbulos
renais (Túbulo proximal, alça de Henle e túbulo distal) . Os ductos coletores não são
considerados parte do néfron devido às suas diferentes origens embriológicas, porém estão
envolvidos na formação da urina eliminada. Observe a estrutura do néfron na figura a seguir.
Fonte: Shutterstock.com
Estrutura do néfron.
Uma das classificações dos néfrons se refere à posição do corpúsculo renal no córtex, a saber:
NÉFRONS CORTICAIS
NÉFRONS JUSTAMEDULARES
NÉFRONS MEDICORTICAIS
Estão situados na região medial do córtex.
CORPÚSCULO RENAL
O corpúsculo renal é formado pelo glomérulo e pela cápsula de Bowman. A cápsula de Bowman
tem forma de cálice, possuindo dois tipos de paredes:
PAREDE EXTERNA
PAREDE INTERNA
A parede externa da cápsula é um epitélio pavimentoso simples, que forma o revestimento do
corpúsculo renal.
A parede interna da cápsula de Bowman possui células denominadas podócitos, que fazem parte
da estrutura de filtração do plasma.
ATENÇÃO
Entre estas, existe o espaço de Bowman, ou espaço urinário, que será ocupado pelo chamado
filtrado glomerular, tópico que discutiremos posteriormente.
Fonte: Shutterstock.com
Estrutura do corpúsculo renal.
As células endoteliais glomerulares são recobertas por um glicocálix, que é uma camada hidratada
composta de glicoproteínas e proteoglicanos, responsáveis por conferir carga negativa à estrutura,
dificultando a filtração de moléculas com a mesma carga, como a albumina e as demais proteínas
com carga negativa. Tanto alterações na estrutura do glicocálix quanto sua remoção permitem a
passagem de macromoléculas através do endotélio fenestrado.
Os capilares glomerulares estão apoiados em uma membrana basal formada por uma rede de
macromoléculas, como fibras de colágeno e laminina. Também são recobertos por proteoglicanos,
principalmente heparan sulfato, que lhe conferem eletronegatividade. Em vez de fenestras, como
no endotélio, possuem os chamados poros funcionais, que limitam a filtração de moléculas acima
de 50 Å de diâmetro, como a albumina. A membrana basal glomerular possui três camadas: duas
lâminas raras externas e uma lâmina densa interna.
Fonte: Shutterstock.com
Glomérulo de um rim humano corado com tricrômio de Masson.
As membranas basais glomerulares aparecem com manchas
muito proeminentes na cor azul.
Fonte: Shutterstock.com
Estruturas da barreira de filtração glomerular. Em vermelho,
o endotélio fenestrado. Em azul-claro, a membrana
basal glomerular. Em azul-escuro, o podócito e seus
prolongamentos (pedicélios).
Sobre a membrana basal dos capilares glomerulares, estão as células da parede interna da
cápsula de Bowman, os podócitos, que são células formadas por um corpo celular com diversos
prolongamentos primários e secundários, denominados pedicélios. Estes se interpenetram,
formando fendas de filtração, com cerca de 43 nm de diâmetro, que reduzem a passagem de
moléculas com peso molecular acima de 70 kD. São conectados por uma membrana proteica
denominada membrana diafragmática, composta por diversas proteínas estruturais e moléculas de
adesão. Devido à sua arquitetura celular, os podócitos participam da sustentação dos capilares
glomerulares aos quais estão relacionados.
ATENÇÃO
Fonte: Shutterstock.com
Visão interna do glomérulo.
A matriz mesangial também está presente fora do glomérulo (mesângio extracelular), contínuo à
intraglomerular. As células mesangiais ali presentes possuem gap junctions, que formam uma
conexão entre as células arteriolares, a mácula densa e o mesângio intraglomerular. Desta forma,
estas estruturas estão intimamente relacionadas, auxiliando na regulação da hemodinâmica renal.
Fonte: Shutterstock.com
Aparelho justaglomerular.
TÚBULOS RENAIS
Contínuos ao corpúsculo renal, encontram-se os túbulos renais, estruturas já vistas anteriormente.
A membrana das células tubulares possui dois polos com diferentes permeabilidades e
propriedades de transporte: a membrana apical ou luminal, que separa a célula da luz tubular, e a
membrana peritubular ou basolateral, que separa a célula do interstício e dos capilares
peritubulares.
TÚBULO PROXIMAL
A primeira porção dos túbulos renais é o túbulo proximal, que pode ser segmentado em convoluto
(ou contorcido) e reto. Seu epitélio é cúbico simples, com núcleo redondo, localizado na porção
basal da célula. O citoplasma possui muitas mitocôndrias que se distribuem perpendicularmente à
membrana basal.
Fonte: Shutterstock.com
Microscopia eletrônica da célula do túbulo proximal convoluto
mostrando o núcleo no canto superior esquerdo da imagem e muitas
mitocôndrias (estruturas eletrondensas e arredondadas).
Fonte: Shutterstock.com
Histologia do túbulo proximal convoluto mostrando o núcleo
arredondado (azul), citoplasma abundante e as microvilosidades
apicais formando a borda em escova (rosa).
A membrana das células proximais adjacentes é conectada por junções do tipo tight e junções
intermediárias, que formam um cinturão contínuo em volta das células. Algumas junções do tipo
gap permitem a passagem de íons e pequenas moléculas (Como nucleotídeos, aminoácidos e
cAMP) de uma célula para outra adjacente.
S1
Até aproximadamente metade da porção convoluta.
S2
Com a parte final da porção convoluta e metade da reta.
S3
Corresponde à metade final da parte reta.
Estes segmentos têm similaridade nos mecanismos de transporte semelhantes, mas diferenças
em sua estrutura. Por exemplo, a borda em escova é mais densa, e o número de mitocôndrias é
maior em S1 do que em S3.
ALÇA DE HENLE
O próximo segmento tubular renal é a alça de Henle, dividida nos ramos fino descendente, fino
ascendente e espesso ascendente (ou túbulo distal reto).
O comprimento destes ramos varia conforme a localização do néfron no córtex, sendo que os
néfrons justamedulares possuem uma alça fina mais longa, com a porção espessa presente tanto
na medula como no córtex renais.
Fonte: Shutterstock.com
Histologia mostrando três ductos coletores medulares com
células colunares altas e numerosos vasos e alças de Henle
entre eles, em cortes transversais.
VOCÊ SABIA
Quanto mais longa for a alça de Henle, maior será a capacidade de o néfron concentrar urina,
conforme veremos posteriormente. Por este motivo, animais que vivem no deserto e precisam
reter água costumam apresentar número muito mais elevado de alças de Henle longas do que
curtas.
As células dos ramos finos são delgadas, exceto na região do núcleo, com poucas mitocôndrias e
raras microvilosidades, enquanto o epitélio do ramo espesso ascendente tem uma única camada
de células cúbicas, com raros microvilos, mitocôndrias largas e alongadas e região basal
apresentando pregas que se encaixam nas células vizinhas, formando complexos canais
paracelulares.
Fonte: Shutterstock.com
Histologia mostrando túbulos proximais convolutos à direita
da imagem e túbulos distais convolutos à esquerda.
TÚBULO DISTAL CONVOLUTO
Após a alça de Henle, está o túbulo distal convoluto, com células cúbicas, pouca microvilosidade
na região apical e muitas mitocôndrias largas no citoplasma.
Sua porção final tem menos mitocôndrias, e elas são menores e com dobras basolaterais menos
profundas.
A porção inicial do túbulo distal convoluto de cada néfron fica em contato íntimo com seu
glomérulo correspondente e suas arteríolas aferente e eferente, formando o chamado aparelho
justaglomerular.
CÉLULAS GRANULARES
Estas células possuem tal nomenclatura por apresentarem em seu citoplasma grânulos que
contêm renina.
TÚBULO DE CONEXÃO
Após o túbulo distal, está o túbulo de conexão, com células de conexão, que produzem calicreína,
interpostas com células intercalares, descritas no ducto coletor.
Os ductos coletores corticais apresentam células epiteliais cuboides e passam a apresentar
células colunares com maior diâmetro à medida que caminham pela medula em direção à papila.
Fonte: Shutterstock.com
Histologia do ducto coletor medular mostrando um epitélio
colunar simples (setas vermelhas). Entre os ductos coletores,
estão cortes transversais de vasos (setas verdes) e
alças de Henle (setas azuis).
TIPO Α
Com secreção ativa eletrogênica de H+.
TIPO Β
Podemos observar, então, que o filtrado glomerular percorre as estruturas tubulares, passando a
se chamar fluido tubular, que vai sendo modificado por processos de transporte em cada um
destes seguimentos até originar a urina final, a qual será encaminhada dos ductos coletores até a
pelve renal, os ureteres, a bexiga e uretra.
Fonte: Shutterstock.com
Vascularização renal.
VASCULARIZAÇÃO RENAL
A artéria renal é originada da artéria aorta abdominal superior e, quando atinge o hilo renal, divide-
se em um ramo dorsal e um ventral. Estes ramos originam as artérias interlobares, que são
encontradas nas margens de cada lobo renal. Quando alcançam o limite entre as zonas
medulares e corticais, elas se tornam as artérias arqueadas. Perpendicularmente a estas, em
direção ao córtex renal, estão as artérias interlobulares, cujos pequenos ramos perpendiculares
constituem as arteríolas aferentes dos glomérulos. Devemos lembrar que as arteríolas aferentes
originarão os capilares glomerulares, que, depois, formam a arteríola eferente, saindo do
glomérulo (AIRES, 2012).
As arteríolas eferentes originam uma rede capilar peritubular que está intimamente associada ao
túbulo proximal convoluto dos néfrons superficiais. Já as arteríolas eferentes dos néfrons
justamedulares originam um ramo que forma uma rede capilar no córtex profundo e na medula
externa e a outro ramo que origina os vasos retos descendentes medulares.
É interessante observar um sistema porta arterial no rim, com duas capilarizações em série no
mesmo trajeto vascular, sendo que os capilares glomerulares são puramente arteriais.
O sistema venoso acompanha o trajeto do sistema arterial e a veia renal, que sai do rim e
desemboca na veia cava inferior.
INERVAÇÃO RENAL
O rim é inervado por ramos do nervo simpático toracolombar, provenientes dos segmentos entre a
quarta vértebra dorsal e a quarta vértebra lombar. As fibras simpáticas se distribuem pelas
artérias, arteríolas e pelos túbulos proximais. Não apresenta inervação parassimpática (AIRES,
2012).
Isso ocorre porque a cápsula que envolve o rim é altamente inervada e inextensível. Com a
obstrução do fluxo da urina dentro do rim, em razão do cálculo, o parênquima renal não á capaz
de eliminar a urina produzida, aumentando de volume. Com a expansão do tecido em direção à
cápsula inervada, sem que essa se estenda da mesma forma, ocorre compressão das
terminações nervosas e dor.
Fonte: Shutterstock.com
A inervação renal também inclui fibras sensoriais aferentes, que conduzem impulsos com origem
em receptores de pressão (Barorreceptores) e receptores químicos (Quimiorreceptores) com
origem renal. Se há aumento da pressão de perfusão renal, por exemplo, ocorre estímulo de
barorreceptores renais. Por outro lado, modificando a composição do fluido intersticial, ocorre
estímulo de quimiorreceptores renais, que, provavelmente, deflagrarão modificações no fluxo
sanguíneo dos capilares glomerulares.
HEMODINÂMICA RENAL E FILTRAÇÃO
GLOMERULAR
Fluxo sanguíneo é o volume de sangue que percorre uma estrutura por unidade de tempo. O fluxo
sanguíneo renal (FSR) corresponde a 20-25% do débito cardíaco, tornando os rins um dos
órgãos mais bem perfundidos do organismo. A distribuição do sangue é feita na seguinte
proporção:
CÓRTEX RENAL
Recebe 90% do sangue que chega aos rins pela artéria renal, em um fluxo maior.
MEDULA
Recebe a menor quantidade (10%) em um fluxo menor. Neste caso, o baixo fluxo ocorre pela alta
resistência dos vasos retos longos, o que reduz a lavagem do interstício medular, favorecendo a
concentração da urina.
Nos rins, em uma situação de equilíbrio, se observamos uma substância que não é sintetizada
nem metabolizada no tecido renal, a quantidade desta substância que entra no rim através da
artéria renal, em determinada unidade de tempo, deve ser igual à soma da quantidade desta
substância que sai do rim na mesma unidade de tempo, seja pela veia renal, seja pelo ureter.
A quantidade de substância que entra no órgão corresponde ao FSRa (Fluxo sanguíneo renal
arterial) multiplicado pela Ax (Concentração da substância no sangue arterial) . A quantidade da
substância que sai do rim pela veia renal equivale ao FSRv (Fluxo sanguíneo renal venoso)
multiplicado pela Vx (Concentração da substância no sangue venoso) . Da mesma forma, a
quantidade da substância que sai do rim pela urina equivale à Ux (Concentração da substância na
urina) multiplicada pelo V (Fluxo urinário) . Então, temos:
Para uma forma mais fácil de medir o FSR, é necessário que o rim excrete grande quantidade da
substância x, gerando uma diferença significativa entre suas concentrações na artéria e na veia
renais.
O maior limitante deste método é a obtenção de amostra de sangue venoso renal. Para resolver
esta questão, é utilizada uma substância exógena denominada para-amino-hipurato de sódio
(PAH) na dosagem do FSR, uma vez que as células renais conseguem remover 90% do PAH do
sangue que se destina à veia renal. Apenas o sangue que circula pela medula renal, bem como o
que irriga a cápsula renal e as estruturas renais não parenquimatosas, não é depurado de PAH.
O valor máximo do FSR é atingido entre 20 e 30 anos de idade e declina gradualmente ao longo
da vida. Os valores normais do FSR são, aproximadamente, 1200 ml/min (cerca de 600 ml/min de
plasma). Destes, 600 ml/min de plasma, cerca de 20%, são filtrados no corpúsculo renal.
ATENÇÃO
Este fato não é verdadeiro caso haja uma lesão na barreira de filtração glomerular que
comprometa sua integridade, pois é possível que haja maior permeabilidade de suas estruturas às
proteínas, permitindo a passagem destas e acúmulo no espaço urinário.
SAIBA MAIS
Em algumas espécies, como no rato, a soma das pressões que se opõem à filtração glomerular se
iguala à pressão hidrostática no capilar glomerular antes de atingir a extremidade final da arteríola
eferente glomerular. Esse ponto de igualdade de pressões é denominado pressão de ultrafiltração
de equilíbrio e, quando atingida, cessa a filtração glomerular. Em humanos, este ponto de
equilíbrio não é alcançado.
É importante notar que ПCG nunca supera a diferença de pressão hidrostática entre o capilar
glomerular e o espaço urinário, pois esta é praticamente constante. Além disso, com o equilíbrio
da filtração atingido, não há mais aumento de ПCG. Por este motivo, o ultrafiltrado não retorna
para o capilar, ocorrendo apenas filtração.
Não ocorre filtração glomerular além do ponto onde a pressão de equilíbrio for alcançada, e ПCG
se torna constante. Por outro lado, com baixa concentração de proteínas no plasma, e
consequente desequilíbrio na pressão de ultrafiltração, ocorre ultrafiltração em toda a extensão
dos capilares glomerulares.
SAIBA MAIS
A extensão do capilar glomerular que não está sendo utilizada para filtração após este ponto de
equilíbrio é denominada reserva funcional.
A filtração glomerular pode ser alterada pelo coeficiente de filtração (Kf) e pelo gradiente de
pressão ao longo dos vasos. O Kf é resultante do produto entre a superfície total disponível para
filtração e a permeabilidade dos capilares. Normalmente, o Kf é relativamente constante, sendo a
Puf o fator determinante para a filtração glomerular. O gradiente de pressão ao longo dos vasos
renais é um ponto de regulação da filtração glomerular – isso será abordado posteriormente.
A taxa de filtração glomerular (TFG) é a medida da filtração glomerular e da função renal, e seus
valores médios normais são de cerca de 90 ml/min. Pode ser influenciada por diversos outros
fatores, como:
Vasodilatação
Hiperglicemia
A função renal também deve ser avaliada a partir da proteinúria, em conjunto com a TFG. A
principal proteína avaliada na urina é a albumina, que tem uma taxa de excreção considerada
normal em até 30 mg/dia. Com taxas diferentes, temos um quadro patológico que pode ser:
MICROALBUMINÚRIA
MACROALBUMINÚRIA
Por não ser secretada, reabsorvida, metabolizada ou produzida ao longo do néfron, sua
quantidade filtrada é igual à excretada na urina (AIRES, 2012).
Na prática clínica, utiliza-se a creatinina para medir a TFG por ser uma molécula endógena
(resultante do metabolismo da creatina muscular) e liberada no plasma em uma taxa relativamente
constante. A desvantagem em usar a creatinina é que ela é secretada pelo túbulo proximal. No
entanto, seu uso persiste pelo fato de existirem no plasma e na urina (principalmente no plasma)
compostos que reagem colorimetricamente da mesma forma que a creatinina, quando esta é
dosada por método colorimétrico. Assim, este resultado plasmático superestimado compensa os
valores urinários superestimados devido à sua secreção tubular, permitindo o cálculo estimado
da TFG a partir desta substância.
Apesar do uso rotineiro da creatinina, a substância mais adequada para medir a TFG é a inulina,
um polissacarídeo polímero da frutose, extraído das raízes da dália. Apesar de precisar ser
infundida no indivíduo por ser uma molécula exógena, a inulina é livremente filtrada sem ser
metabolizada, produzida, reabsorvida ou secretada pelos túbulos renais, gerando um resultado
preciso, e não aproximado, como acontece com o uso da creatinina.
CÁLCULO ESTIMADO
Existem alguns cálculos baseados em estudos populacionais que permitem calcular a TFG
apenas com o valor de creatinina sérica.
eTFG = 141 x min (SCr/κ, 1)α x max(SCr /κ, 1)-1,209 x 0,993 idade x 1,018 [se mulher] x
1,159 [se negro], sendo SCr (creatinina sérica) = mg/dL;
A circulação renal tem uma estrutura peculiar, possuindo dois leitos capilares em série: o
glomerular e o peritubular.
Fonte: Shutterstock.com
Fonte: EnsineMe.
Fonte: EnsineMe.
Ocasionaria aumento da pressão hidrostática dentro do capilar glomerular, com aumento da TFG.
Fonte: EnsineMe.
VASODILATAÇÃO NA ARTERÍOLA EFERENTE
Geraria redução da pressão hidrostática dentro do capilar glomerular, com diminuição da TFG.
O fluxo de fluido tubular no túbulo distal também é capaz de modular a TFG, em um processo
denominado balanço tubuloglomerular. Este tipo de autorregulação ocorre pelo aumento da
carga de cloreto de sódio na luz do túbulo distal, devido ao aumento de fluxo ocasionado pelo
aumento primário da TFG. Devido ao co-transportador tríplice (NKCC2) presente na membrana
luminal de células especializadas do túbulo distal, ocorre transporte de cloreto para o interior das
células deste segmento tubular. A elevação da concentração de cloreto nestas células promove
despolarização celular, gerando influxo de cálcio através de canais de cátions não seletivos.
Outra forma de autorregulação do FSR é o mecanismo miogênico, que envolve uma propriedade
do músculo liso arterial de contrair ou relaxar devido ao aumento ou à queda da tensão da parede
vascular. Com o aumento da pressão de perfusão, ocorre aumento do raio vascular e do fluxo
sanguíneo. Porém, com o estiramento do vaso, abrem-se canais de cálcio na membrana celular,
promovendo contração muscular e vasoconstrição.
Vemos, então, que a hemodinâmica renal está intimamente relacionada à morfologia renal e que
ela é altamente regulável. Por meio de modificações na TFG, mudamos também a quantidade de
fluido que chega aos túbulos renais, refletindo na composição da urina.
Neste vídeo, a Professora Raquel Castiglione explica as estruturas renais, assim como a sua rede
vascular e como ocorre o processo de filtração.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. CONSIDERANDO QUE O CLEARANCE FRACIONAL REFLETE A
DEPURAÇÃO DE UMA SUBSTÂNCIA NO PLASMA, A PARTIR DA FIGURA A
SEGUIR, MARQUE A RESPOSTA CORRETA:
A) Quanto menor o raio molecular da molécula, mais carga positiva ela possui.
B) Quanto maior o raio molecular da molécula, mais seu clearance fracional se assemelha ao da
inulina.
C) Quanto maior a carga negativa de uma molécula, menor seu clearance fracional.
D) Quanto maior a carga positiva de uma molécula, menor seu clearance fracional.
GABARITO
Devido à eletronegatividade da barreira de filtração glomerular, moléculas com carga negativa têm
maior dificuldade de serem filtradas nos glomérulos, se não depuradas do plasma quando em
menor quantidade.
2. Qual das opções a seguir não corresponde aos valores apresentados por um jovem
saudável de 20 anos?
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
A partir de agora, estudaremos os mecanismos básicos de transporte de água e soluto ao longo
dos túbulos renais, gerando a urina final, e o mecanismo responsável pela concentração da urina.
A reabsorção tubular é o movimento de uma substância da luz tubular para o interstício renal por
via transcelular (Através das células) ou paracelular (Entre as células) e deste para o interior
dos vasos sanguíneos adjacentes (capilares peritubulares ou vasos retos), retornando à circulação
sanguínea.
Fonte: Shutterstock.com
Processos de formação da urina.
A secreção tubular é o movimento oposto, no qual uma substância se direciona do interior dos
capilares peritubulares ou vasos retos para o interstício e deste para a luz tubular por via
transcelular ou paracelular, sendo removida da circulação sanguínea.
principal co-íon é o Cl-, que, por sua vez, é o ânion mais abundante no fluido extracelular. Os
transportadores de cloreto estão envolvidos em diversos processos fisiológicos, como:
Transporte transepitelial
A MAIORIA DO CLORETO FILTRADO NOS RINS É
REABSORVIDA NOS TÚBULOS RENAIS
Atividade enzimática
Apoptose
basolateral (Na+/K+ ATPase), uma enzima que transfere a energia da hidrólise de ATP para o
contratransporte ativo de sódio e potássio através da membrana.
Fonte: Shutterstock.com
O funcionamento desta enzima promove a reabsorção de três íons sódio do interior celular para o
interstício renal e a entrada de dois íons potássio do interstício renal para o interior celular, e sua
atividade pode ser alterada em doenças como o diabetes mellitus. Neste caso, a atividade da
Na+/K+ ATPase se encontra aumentada nas primeiras semanas do diabetes mellitus, diminuindo
com o decorrer da doença.
filtrado. A energia para reabsorção proximal é derivada da Na+/K+ ATPase que está presente na
membrana basolateral das células.
A reabsorção de solutos que ocorre no túbulo proximal possui duas fases, a saber:
FASE 1
Na primeira fase, no segmento S1, ocorre, principalmente, a reabsorção de nutrientes essenciais,
como glicose, proteínas, aminoácidos, solutos orgânicos neutros e bicarbonato de sódio,
juntamente a sódio e água. A diferença de potencial (DP) transtubular neste segmento é de -2 mV,
sendo o lúmen tubular mais negativo do que o interstício peritubular.
FASE 2
Na segunda fase, ocorre principalmente a reabsorção de cloreto junto a sódio e água.
Cerca de 67% do sódio que foi filtrado é reabsorvido neste segmento, acompanhado da maior
parte do cloreto. O transporte de potássio no túbulo proximal é altamente afetado pelo transporte
de sódio e de água.
A maior parte do potássio filtrado é reabsorvida por via paracelular por meio de arraste ou
positiva. Essa DP gera uma força favorável à reabsorção de K+ por vias paracelulares de baixa
resistência.
Fonte: Shutterstock.com
Tipos de transporte celulares.
O túbulo proximal também é capaz de reabsorver água, tanto de forma transcelular (via
aquaporinas) quanto paracelular. A reabsorção de fluido neste segmento é isosmótica ao plasma,
ou seja, aproximadamente 290 mOsm/L H2O.
Neste segmento, temos também a reabsorção de solutos orgânicos, como ureia, aminoácidos,
proteínas e glicose. A ureia é o principal produto do metabolismo proteico e é a forma de excreção
da maioria dos catabólitos nitrogenados que são gerados, mas não são utilizados pelo organismo.
Esta molécula compõe cerca de 50% dos solutos excretados na urina de um indivíduo com uma
dieta normal de proteínas.
TÚBULO PROXIMAL
O túbulo proximal é alvo dos diuréticos osmóticos, como o manitol, que aumentam a
osmolaridade na luz deste segmento tubular, inibindo a reabsorção de água. Este volume
que deixa de ser reabsorvido não é inteiramente compensado no restante da estrutura
tubular, fazendo com que mais água seja eliminada na urina.
AQUAPORINAS
Aquaporinas são canais localizados na membrana celular que conduzem moléculas de água
para dentro e fora da célula, ao mesmo tempo em que inibem a passagem de íons e outros
solutos. As aquaporinas aumentam a permeabilidade das membranas à água.
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PEPTÍDEOS
Pequenos peptídeos que são filtrados podem sofrer a ação de peptidases na borda em escova,
sendo hidrolisados a aminoácidos, que são, então, reabsorvidos.
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PROTEÍNAS
Proteínas de alto peso molecular (> 65 kD) eventualmente filtradas, como a albumina, e as
proteínas de baixo peso molecular (< 65 kD) são reabsorvidas por endocitose.
Este processo é mediado por um receptor multiligante formado pela associação das proteínas
megalina e cubulina. Com a interação das proteínas filtradas com o receptor megalina-cubulina,
este complexo ligante-receptor é endocitado, dando origem a uma vesícula endocítica intracelular
revestida por clatrina. Os receptores são reciclados para a membrana tubular luminal, enquanto as
proteínas são degradadas enzimaticamente a aminoácidos, e estes são reabsorvidos através da
membrana basal.
VOCÊ SABIA
Na doença de Dent, uma mutação no ClC-5 impede a acidificação eficaz da vesícula endocítica,
impossibilitando a dissociação da proteína com o complexo megalina-cubilina, reduzindo sua
recirculação. Desta forma, menos proteína consegue ser reabsorvida no túbulo proximal,
acumulando-se na luz tubular e ocasionando proteinúria.
A carga filtrada de albumina chega a cerca de 1-2 gramas por dia em um indivíduo saudável, com
excreção de até 30 mg na urina. Quando a carga filtrada de albumina excede a capacidade de
reabsorção proteica do túbulo proximal, ocorre aumento da concentração de albumina na luz
tubular e da sua excreção urinária (albuminúria).
SAIBA MAIS
O excesso de albumina presente na luz tubular quando há uma lesão na barreira de filtração
glomerular ou no mecanismo de reabsorção tubular de proteínas é capaz de provocar lesão
tubular por ativação de diferentes vias de sinalização, como aumento da inflamação local.
Por outro lado, a ausência de albumina na superfície das células do túbulo proximal provoca
apoptose.
Vemos, então, que é necessária uma quantidade basal de albumina na luz tubular proximal para a
sobrevivência das células desta porção tubular.
REABSORÇÃO DE GLICOSE
A glicose, por sua vez, é altamente conservada pelos rins por ser um importante substrato
energético. Um exemplo disso é que sua carga filtrada é de 10 a 40 vezes maior que sua
utilização diária. É uma molécula livremente filtrada, ou seja, sua concentração do espaço urinário
é igual à concentração plasmática.
A glicose filtrada é quase totalmente reabsorvida no túbulo proximal. Esta reabsorção é mediada
por cotransportadores apicais de sódio e glicose, os SGLTs, conforme a seguir:
SGLT2
O SGLT2 é um transportador de baixa afinidade e alta capacidade, ou seja, reabsorve a maior
parte da glicose tubular (cerca de 90%).
SGLT1
O SGLT1 é um transportador de alta afinidade e baixa capacidade, responsável pela reabsorção
do restante de glicose intratubular (cerca de 10%).
Com sua concentração no interior da célula do túbulo proximal, a glicose se difunde passivamente
para o espaço intersticial através dos transportadores basolaterais, denominados GLUT, conforme
a seguir:
GLUT 1
O GLUT 1 é um transportador de glicose de alta afinidade e baixa capacidade e saturável em
concentrações de glicose próximas da basal.
GLUT 2
O GLUT 2 é um transportador de baixa afinidade e alta capacidade, capaz de transportar glicose,
frutose e galactose em diversas concentrações.
A reabsorção de glicose através dos SGLTs ocorre devido ao gradiente de concentração para
sódio gerado pela Na+/K+ ATPase basolateral. O funcionamento da Na+/K+ ATPase localizada na
membrana basolateral das células tubulares permite que a concentração intracelular de sódio
permaneça baixa devido à sua reabsorção para o espaço intersticial. O gradiente eletroquímico
gerado é responsável pelo movimento passivo de sódio da luz tubular para o interior celular,
favorece a reabsorção de sódio pelos SGLTs e, consequentemente, a reabsorção de glicose.
O próximo segmento tubular percorrido pelo fluido tubular é o ramo grosso ascendente da alça de
Henle. Na membrana apical das suas células, existe um transportador que se liga a dois íons
cloreto, um íon sódio e um íon potássio (transportador tríplice, NKCC2), responsável pela
reabsorção destes íons. Cerca de 25% do sódio filtrado é reabsorvido nesta porção tubular,
podendo esta quantidade ser maior caso o túbulo proximal deixe de reabsorver os usuais 67%.
A resultante final do transporte de potássio neste segmento tubular é a reabsorção deste íon;
porém, com a inibição do cotransportador NKCC2, pode ocorrer secreção final de potássio.
Acompanhando o sódio, ocorre grande reabsorção de cloreto neste segmento tubular.
O epitélio do ramo grosso ascendente da alça de Henle é virtualmente impermeável a água, mas
não a cloreto de sódio. Ou seja, o fluido tubular fica hipo-osmótico em relação ao interstício que o
cerca. A hipertonicidade gerada pelo transportador tríplice no interstício medular renal é importante
no mecanismo de reabsorção de água e ureia.
Neste segmento, a DP transepitelial resultante é cerca de +7 mV, lúmen positivo. Isso promove a
difusão de Na+ através das tight junctions, correspondendo a 50% da reabsorção de Na+ pelo
ramo grosso ascendente e determina a reabsorção de K,+, Ca2+ e Mg2+ pela via paracelular.
(anterior à primeira junção com outros coletores). Neste segmento, ocorre reabsorção de Na+,
secreção de K+ e sensibilidade ao hormônio antidiurético, tornando-se permeável à água. De
modo geral, suas demais características têm semelhança com as do ducto coletor.
No ducto coletor, são encontrados três diferentes tipos celulares: células principais, células
intercalares tipo α e células intercalares tipo β.
A osmolalidade do fluido tubular no ducto coletor pode variar de 50 mOsm até 1.400 mOsm em
resposta à reabsorção de água estimulada por ADH.
NKCC2
Este transportador é alvo dos diuréticos de alça, como o medicamento furosemida. Com a
inibição da reabsorção de sódio, este se concentra na luz tubular, reduzindo a tonicidade da
medula e, com isso, o gradiente necessário para a reabsorção de água pelo ducto coletor na
presença de ADH (processo discutido posteriormente).
SÓDIO
O transportador de sódio ENaC presente neste segmento é alvo dos diuréticos poupadores
de K+, como o amiloride. Com inibição da entrada de sódio na célula, a atividade da Na+/K+
ATPase é reduzida, havendo menor secreção de K+ para a luz tubular, evitando sua perda
na urina.
CLEARANCE RENAL
O clearance de uma substância indica o volume virtual de plasma que fica livre da substância em
determinada unidade de tempo. Para determinar o clearance renal, é necessário medir a sua
quantidade absoluta excretada na urina e relacioná-la com sua concentração no plasma:
Dessa forma, o clearance pode ser:
NULO
MÁXIMO
CORRESPONDENTE À TAXA DE FILTRAÇÃO
GLOMERULAR DO INDIVÍDUO
Moléculas que sofrem filtração glomerular e não são secretadas pelos túbulos renais não são
eliminadas na urina e têm clearance nulo, uma vez que não ocorre depuração plasmática. Da
mesma forma, quando uma substância filtrada é totalmente reabsorvida pelos túbulos renais, sua
carga excretada é zero. Desta forma, o plasma do indivíduo não fica depurado da substância
(clearance zero). Como exemplo, temos os aminoácidos.
Em casos em que a substância é filtrada e totalmente secretada pelos túbulos (não aparecendo no
sangue que sai do rim pela veia renal), o seu clearance é máximo e corresponde ao fluxo
plasmático renal, uma vez que todo plasma que chega ao rim é depurado da substância. Um
exemplo de uma substância que é quase eliminada pelo rim em sua totalidade é o PAH. É por isso
que seu clearance é usado clinicamente para indicar uma medida aproximada do fluxo plasmático
renal.
Se uma substância for livremente filtrada, sem sofrer reabsorção nem secreção tubular, sua carga
filtrada é igual à sua carga excretada, ficando o volume de plasma filtrado virtualmente livre dessa
substância. Parte da substância que não foi filtrada continua a percorrer os capilares peritubulares
sem ser secretada, voltando à circulação sistêmica, que é o caso da inulina, por exemplo. Desta
forma, o clearance desta substância corresponde à taxa de filtração glomerular do indivíduo.
Substâncias que são reabsorvidas apenas em parte pelos túbulos renais possuem um clearance
menor que o daquelas que são apenas filtradas, pois parte delas retorna ao sangue após a
filtração. Assim, seu clearance fracional (razão entre o clearance da substância e o clearance da
inulina) é menor que 1:
Vale ressaltar que, quando a concentração plasmática de uma substância que é transportada por
um transportador saturável aumenta, ela passa a se comportar como se fosse apenas filtrada, e
seu clearance tende ao clearance da inulina.
A glicose e o PAH são dois exemplos deste mecanismo. No caso da glicose que é reabsorvida,
com a saturação dos transportadores SGLT, o aumento da concentração plasmática faz com que
seu clearance aumente, pois ela se acumula na urina, em vez de retornar ao sangue. Desta forma,
sua fração reabsorvida torna-se desprezível, se comparada com a excretada. O PAH, por sua vez,
é secretado e, quando atinge a secreção máxima, um aumento posterior da concentração
plasmática diminui seu clearance, pois ela se acumula no sangue.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) No espaço de Bowman.
C) Na alça de Henle.
D) No túbulo proximal.
E) No ducto coletor.
GABARITO
O transporte no túbulo proximal ocorre de forma isosmótica, então a concentração do fluido tubular
não é alterada. A alça fina descendente de Henle apresenta reabsorção de água e secreção
moderada de solutos, concentrando o fluido dentro da luz tubular. A alça fina e a alça espessa
ascendentes de Henle são impermeáveis à água e apresentam reabsorção de solutos como
resultante final dos processos de transporte tubulares, mantendo a água dentro da luz tubular e
retirando solutos.
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Agora, estudaremos a conservação da hipertonicidade da medula renal e o mecanismo
contracorrente renal e conheceremos os principais mecanismos regulatórios renais, que são a
regulação da tonicidade, do volume e do pH do fluido extracelular. Veremos que o entendimento
da estrutura, da hemodinâmica renal e do transporte de solutos ao longo do néfron se relacionam
com a função do organismo como um todo, integrando os sistemas orgânicos.
Uma das principais funções do sistema renal é a regulação da tonicidade do meio extracelular,
pelo controle do balanço corpóreo de água, sendo fundamental para a manutenção do volume
celular.
O balanço de água ocorre através do ganho e da perda de água pelo organismo. Em uma
situação de equilíbrio:
Ingestão de água
Eliminação
Somatório da perda pela urina, evaporação na pele, respiração, pelas fezes e pelo suor.
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Osmose.
O movimento de água que ocorre na osmose pode ser contrabalançado por uma pressão
hidrostática, denominada pressão osmótica. A pressão osmótica efetiva (ou tonicidade) leva em
consideração não somente as moléculas dissolvidas em uma solução, mas também a membrana
que separa os compartimentos. Apenas os solutos efetivos plasmáticos são capazes de
determinar se uma solução é:
HIPERTÔNICA
Uma solução é dita hipertônica quando apresenta pressão osmótica efetiva maior que aquela de
uma célula viva. Se a célula estiver em solução hipertônica, a água se deslocará do interior celular
para a solução, até ocorrer o equilíbrio entre as tonicidades. Neste caso, ocorre a crenação da
célula, na qual ela perde volume, comprometendo sua integridade e funcionalidade.
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Hipertônico.
HIPOTÔNICA
Uma solução hipotônica tem pressão osmótica efetiva menor que a célula. Neste caso, a água se
deslocará da solução, com menor concentração de soluto, para o interior celular, até ocorrer o
equilíbrio entre as tonicidades. Dependendo da diferença de tonicidade entre os meios, a célula
pode receber água suficiente para promover sua ruptura. De qualquer forma, a célula edemaciada
tem suas propriedades físico-químicas alteradas, comprometendo seu funcionamento normal.
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Hipotônico.
ISOTÔNICA
Se colocarmos uma célula em solução isotônica, com a mesma tonicidade que seu interior, não
haverá diferença na concentração de solutos entre os compartimentos e, consequentemente, não
haverá movimento excedente de água entre eles.
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Isotônico.
ATENÇÃO
Um paciente com aumento de 56mg/dl de ureia nitrogenada no sangue terá uma elevação da
osmolaridade plasmática em 20 mOsm/L H2O, mas a tonicidade permanecerá normal, uma vez
que a ureia se distribuirá proporcionalmente entre o FIC e o FEC. Por outro lado, um paciente com
aumento plasmático de 10 mEq/L de Na+ também tem uma elevação de 20 mOsm/L de H2O na
osmolaridade plasmática, uma vez que este íon deve ser balanceado com um aumento
equivalente de ânions no plasma. Porém, neste caso, a tonicidade do FEC também será 20
mOsm/L de H2O maior, uma vez que o Na+ e seus co-ânions (principalmente o Cl-) ficam
No nosso organismo, 55-65% do nosso peso corpóreo é de água, distribuída em dois grandes
compartimentos corpóreos:
INTRACELULAR
EXTRACELULAR
de solutos de cada célula. Por exemplo, a Na+/K+ ATPase mantém a concentração de sódio baixa
dentro da célula e a de potássio alta. O interior das células também possui grande quantidade de
magnésio, fosfato e proteínas, enquanto o FEC possui alta concentração de cálcio, cloreto e
bicarbonato. Apesar destas diferenças, a pressão osmótica no FIC e no FEC é semelhante.
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O mecanismo da sede pode ser deflagrado com o aumento da Posm ou com a redução do volume
e/ou pressão sanguíneos.
Promove a inserção de aquaporinas na membrana apical das células do ducto coletor, aumenta a
permeabilidade destas células à água.
GRADIENTE VERTICAL
A conservação da hipertonicidade da medula é importante para que esta não seja diluída com a
água que está sendo reabsorvida, cessando a reabsorção. Este processo é mediado pelo ciclo
renal da ureia. Com a reabsorção de água do ducto coletor na presença de ADH, ocorre a
concentração de ureia na luz do ducto coletor medular. As células da porção final do ducto coletor
possuem transportadores apicais de ureia, denominados UTA-1, que são dependentes de ADH e
possibilitam a reabsorção de ureia neste segmento frente ao gradiente de concentração de ureia
estabelecido nos segmentos anteriores ao ducto coletor.
A ureia reabsorvida para o interstício medular renal pelo ducto coletor é secretada para as alças
finas de Henle de forma passiva a partir de transportadores UTA-2 apicais, possibilitando sua
recirculação renal.
ATENÇÃO
A reabsorção de água no ducto coletor reflete a capacidade que o rim tem de concentrar urina e
depende dos níveis de ADH nos rins, da reabsorção de cloreto de sódio e ureia e da formação da
hipertonicidade medular.
O transporte de ureia e de água ao longo do néfron pode ser afetado pela quantidade de proteína
ingerida pelo indivíduo, já que a ureia é o principal produto do metabolismo proteico. Assim, o
aumento na ingestão proteica leva ao crescimento da concentração plasmática e urinária de
ureia, e o aumento da excreção urinária de ureia promove diurese induzida pelo aumento da
osmolalidade urinária.
INGESTÃO PROTEICA
movimento de água. O conteúdo corporal total de Na+ e seu balanço pelo organismo é o principal
determinante do volume do FEC.
SINAL HORMONAL
SINAL NEURAL
O primeiro sinal hormonal envolve a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA)
devido à queda do volume circulatório efetivo, e o segundo envolve a liberação do peptídeo atrial
natriurético devido ao aumento do volume circulatório efetivo e estiramento da parede atrial.
O primeiro sinal neural é o estímulo da inervação simpática, o que reduz o fluxo sanguíneo renal e
a excreção renal de Na+. O segundo é a secreção de ADH e retenção renal de água quando
ocorre queda de 15-20% do volume circulatório efetivo.
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-
ALDOSTERONA
A ativação do SRAA se inicia nas células granulares da arteríola aferente, secretora da enzima
renina, que cliva o angiotensinogênio em angiotensina I. Esta é convertida em angiotensina
II (AngII) pela enzima conversora de angiotensina (ECA) localizada no endotélio vascular,
sendo abundante nos pulmões. A ECA renal produz angiotensina II suficiente para promover
efeitos vasculares locais, atuando diretamente nas arteríolas aferente e eferente.
SAIBA MAIS
Os medicamentos utilizados no controle da pressão arterial podem ter diferentes mecanismos de
ação. Enquanto o captopril impede a conversão da ANGI a ANGII, através do bloqueio da ECA, a
losartana é antagonista do receptor de ANGII.
A ANG II possui diferentes efeitos sistêmicos e renais; reduz o FSR e aumenta a pressão
hidrostática no capilar glomerular, prevenindo a queda da TFG através de vasoconstrição
arteriolar. Apesar de agir nas duas arteríolas, sua ação é mais potente na arteríola eferente.
Aumento na ingestão e retenção de água por estímulo da sede e liberação de ADH por redução
do fluxo sanguíneo medular, o que ocasiona maior acúmulo de ureia na medula renal e maior
tonicidade medular.
Aumento da retenção de sódio e água por efeito em diferentes transportadores de sódio presentes
nos túbulos renais e por estímulo da secreção de aldosterona pelas células do córtex da glândula
adrenal.
A aldosterona atua principalmente nas células principais e intercalares tipo α do ducto coletor. Nas
células principais, estimula a reabsorção de sódio através do aumento da síntese e/ou da
incorporação de canais de sódio na membrana e do suprimento de energia pela mitocôndria. O
aumento da permeabilidade ao Na+ estimula a Na+/K+ ATPase e ocasiona secreção de K+, com
perda na urina. Já nas células intercalares tipo α, a aldosterona estimula a secreção de hidrogênio
Vasodilatação generalizada.
Diurese e natriurese por inibição dos efeitos de ANG II, redução da liberação de renina,
aldosterona e ADH e por vasodilatação medular, com redução da hipertonicidade da medula.
INERVAÇÃO SIMPÁTICA
As terminações nervosas simpáticas renais liberam norepinefrina, que tem como efeito renal a
retenção de Na+ e o aumento do volume circulatório. Isto ocorre através de:
A baixa estimulação simpática ativa receptores α-adrenérgicos das células tubulares renais, para
que seu valor é 7,4, correspondendo a uma concentração de 40 mmol/L de H+ livre. O FIC é mais
ácido que o FEC por causa de mecanismos que evitam a acidificação do sangue.
ATENÇÃO
com H+ livre.
O HCO3- em meio aquoso se conjuga ao H+ livre, formando ácido carbônico (H2CO3), retirando o
H+ livre da solução e deixando-a menos ácida. Caso seja necessário acidificar a solução, o H2CO3
é feita pelo sistema renal, responsável pela excreção de H+ livre em excesso na urina.
Secreção de hidrogênio
Reabsorção de bicarbonato
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O HCO3- filtrado no glomérulo, quando alcança a luz tubular, reage com o H+ secretado, formando
H2CO3, que é dissociado em CO2 e H2O através da ação da anidrase carbônica. O CO2, por ser
um gás, consegue se difundir para o interior celular, enquanto a água entra na célula através de
aquaporinas. No interior celular, o processo inverso ocorre, com CO2 e H2O originando ácido
secretado para a luz tubular, acidificando a urina, enquanto o HCO3- é reabsorvido, retornando
de forma indireta, ou seja, a molécula de HCO3- que sai da luz tubular não é a mesma encontrada
no sangue. Isso acontece porque o bicarbonato que vai para o sangue peritubular é derivado da
dissociação do H2CO3 ou da água dentro da célula, enquanto o bicarbonato filtrado é removido do
80%
10%
10%
Vale lembrar que as células intercalares β secretam bicarbonato para a luz tubular e reabsorvem
H+ quando necessário. O H+ que é secretado para a luz tubular não pode ser tamponado pelo
HCO3-, uma vez que este é reabsorvido. O tamponamento urinário é denominado acidez titulável,
ATENÇÃO
Normalmente, metade dos ácidos provenientes do metabolismo são eliminados como acidez
titulável e a outra metade na forma de sal de amônio, principalmente cloreto de amônio (NH4Cl).
O pH do FEC pode ser modulado diretamente pela concentração de K+ no sangue. Isso ocorre
Uma alta concentração de potássio no sangue gera acidose metabólica devido à redução na
excreção de NH4+ tanto pela diminuição da produção de NH3 no túbulo proximal quanto pela
diminuição do transporte da luz da alça espessa de Henle para o interstício medular, o que gera
menos NH3 a ser difundido para o interior da luz do ducto coletor medular, reduzindo a excreção
de NH4+.
Fonte: Shutterstock.com
ACIDOSE
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ALCALOSE
Para entender estes distúrbios e seus mecanismos compensatórios, devemos ter em mente que o
sistema fechado:
Agora, vamos compreender melhor os distúrbios do equilíbrio ácido-base.
ACIDOSE METABÓLICA
Tem origem em uma redução da concentração de HCO3- no sangue, causada por fatores como
adição de ácidos não voláteis ao corpo, a exemplo de cetoacidose diabética, ingestão de ácidos,
insuficiência dos rins na excreção de ácido e/ou reabsorção de bicarbonato e perda de bases
(diarreia).
ACIDOSE RESPIRATÓRIA
Tem origem no aumento na pCO2 no sangue, ocasionada por fatores como danos no tecido
pulmonar (tuberculose), edema pulmonar – o que impede a troca gasosa alveolar –, paralisia dos
músculos respiratórios, insuficiência respiratória induzida (narcóticos) e reduzida mobilidade de
caixa torácica.
ALCALOSE METABÓLICA
Aumento da concentração de HCO3- no sangue por fatores como perda de ácidos não voláteis
(vômito), contração de volume por hemorragia e adição de bases não voláteis (ingestão de
antiácidos).
ALCALOSE RESPIRATÓRIA
Trata-se da redução da pCO2 no sangue, ocasionada pelo aumento da troca gasosa alveolar em
Neste vídeo, a Professora Raquel Castiglione resume os assuntos vistos neste módulo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) A ação do ADH promove a excreção de urina com baixa osmolaridade e alto volume.
GABARITO
1. Sobre o sistema renina-angiotensina-aldosterona e o hormônio antidiurético, é correto
afirmar que:
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordamos os principais pontos de entendimento do funcionamento da fisiologia do sistema
urinário, correlacionando-os com a estrutura renal, explorando a hemodinâmica renal, os
mecanismos de transporte ao longo dos túbulos renais e o papel regulatório renal na tonicidade,
no volume e no pH do fluido extracelular, assim como os tópicos de fisiologia integrada com outros
sistemas, como o cardiovascular e o respiratório.
REFERÊNCIAS
AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
YU, A.; CHERTOW, G.; LUYCKX, V.; MARSDEN, P.; SKORECHI, K.; TAAL, M. Brenner &
Rector’s The Kidney. 9. ed. Saunders: Elsevier, 2012.
EXPLORE+
Vejam as figuras e os esquemas ilustrativos do material apresentado sob outra perspectiva nos
seguintes livros de Fisiologia:
CONTEUDISTA
Raquel Carvalho Castiglione
CURRÍCULO LATTES