Pichon e Zimmerman

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O que são grupos?

  Segundo Osório (2003), um grupo é um conjunto de pessoas capazes de se


reconhecer em sua singularidade e que estão exercendo uma ação interativa
com objetos compartilhados. Dessa interação surgem fenômenos que são
denominados fenômenos grupais. Existem grupos espontâneos, como grupo de
amigos, e grupos organizados, com objetivos específicos. 

A convivência social tem um caráter construtivo do ser humano e, por isso, pode gerar
possibilidades de desenvolvimento de habilidades, de conflito, de laços de
solidariedade, de afetividade e problemas interpessoais, dentre outros, nos indivíduos
em particular. Estes aspectos das relações sociais são conhecidos como processo grupal.
O processo grupal, também chamado de dinâmica psicossocial, refere-se a uma rede de
relações equilibradas de poder entre os participantes de um determinado grupo.

Para Bion, todo grupo funciona em dois níveis: o nível da tarefa e o nível da
valência. Por nível da tarefa entende-se “a reunião de pessoas para a realização
de uma tarefa específica, onde se consegue manter um nível refinado de
comportamento distinguido pela cooperação. O nível da valência é também
designado como grupo de suposição básica. Essas suposições básicas são
estruturas específicas de forma de funcionamento que o grupo adota para se
defender de sua angústia e assim se preservar. Sem elaborar a sua angústia, o
grupo tudo faz para se afastar de sua tarefa.(AFONSO, 2006) As três as
suposições básicas são Dependência onde o grupo fica na dependência de um
líder, o mesmo será o responsável para garantir a estabilidade do grupo. O líder
é investido com qualidades de onipotência, é idealizado e é transformado em
um tipo de deus. O sentimento é que só o líder sabe qualquer coisa e só o líder
pode resolver os problemas do grupo. O segundo pressuposto básico é o de
luta-fuga possui uma suposição inconsciente quanto à existência de um perigo
que pode ser real ou imaginário, os sujeitos devem estar prontos para lutar e
fugir de alguém ou de algo. A solução é evitar a dor e rejeitam-se idéias que
possam gerar desconforto ou confrontação. O terceiro pressuposto é
o Acasalamento que ocorre quando o grupo que se entusiasma pela idéia de
apoiar dois membros que produzirão uma nova figura de líder que assumirá
plena responsabilidade pela segurança do grupo. O desejo, em fantasia
inconsciente, é que o par produzirá um Messias, um Salvador, ou na forma de
uma pessoa ou na de uma idéia a que eles possam aderir.

Na concepção de Foulkes o grupo existia em uma rede de elementos


transferenciais dirigidos de cada participante para o analista, de cada
participante para o grupo, de cada participante para cada participante e do
grupo como um todo para o analista. Para ele existem três fases comuns a
todos os grupos: Na primeira fase predomina uma grande dependência na
figura do coordenador. Onde acontecem as primeiras conversas, sentimento de
divisão, estabelecimento de identificações. A segunda fase é momento em que
ocorre maior integração entre os participantes. A comunicação e a confiança se
estabelecem, os participantes tendem a centrar mais uns nos outros que no
facilitador. A terceira fase é a momento do fim do grupo onde predominam
sentimentos de ansiedade, perda e luto. (RABELO, 2010)

“Foulkes introduziu o conceito de Matriz Grupal. Para ele o grupo é uma matriz
de experiências e processos interpessoais. A matriz do grupo é uma
mentalidade grupal, englobando consciente e inconsciente. É constantemente
realimentada pela rede de comunicação no grupo. Os processos vividos
expressam os modos como os participantes percebem e traduzem a matriz
grupal. (...) A matriz do pequeno grupo busca ser dinâmica e aberta para
incentivar processos de mudança.” AFONSO (2006, p. 19-20)

Por sua vez, Pichon-Rivière define o grupo como “um conjunto de pessoas,
ligadas no tempo e no espaço, articuladas por sua mútua representação
interna, que se propõe explícita ou implicitamente a uma tarefa, interatuando
para isto em uma rede de papéis, com o estabelecimento de vínculos entre si.”
(AFONSO, 2006, p. 20). Para Pichon, todo grupo possui uma tarefa externa que
se refere às metas pré-estabelecidas conscientemente e uma tarefa interna que
se refere ao fato de trabalhar com todos os processos vividos pelo grupo, sejam
racionais ou afetivos. Pichon utiliza-se de dois conceitos referentes aos medos
básicos: o medo da perda, que é o medo de perder o que já se tem e que
oferece alguma insegurança, inclusive e o medo do ataque, que se refere ao
medo do desconhecido, do novo e da mudança. Lidar com esses medos faz
parte da tarefa interna do grupo. Para ele, o grupo necessita de construir um
esquema que fortaleça o grupo e que diminua os medos básicos. Este esquema
foi denominado por Pichon de ECRO – Esquema Conceitual Referencial e
Operativo.

OS GRUPOS Desde que nascemos, são os grupos dos quais fazemos parte que nos
servem de referência, que nos dão apoio afetivo, espiritual, material, intelectual. Esses
grupos são a família, a escola, os espaços de trabalho, lazer etc. (...) a história de vida
dos indivíduos é a história de pertencimento em inúmeros grupos. (ALEXANDRE,
2002, p.209)

Quando visualizamos em nossa mente uma pessoa que conhecemos, involuntariamente


também nos lembramos dos grupos aos quais está vinculada, da equipe e organização
onde trabalha, do seu grupo de amigos, de sua família. Pensar em pessoas nos remete ao
motivo primeiro de estudarmos processos grupais em organizações: as pessoas são
gregárias. Ou seja, o ser humano vive em grupos, agregado a outras pessoas, e necessita,
desfruta, sofre e se delicia com as interações com seus iguais e seus diversos. Vive com
as dores e os sabores da interdependência, do viver e conviver em grupos.

Esta vivência é assemelhada a uma arte, no sentido de que desenvolvemos


competências, características pessoais que nos permite nos relacionarmos com outras
pessoas, influenciando e sendo influenciados. Esta influência mútua pode gerar
melhorias em nossas competências ou pode dificultar as interações

Bastos (2005) traz Henri Wallon que defende a ideia de que as relações do homem com o meio
são de transformações mútuas e o social influencia a evolução humana, sendo assim, o meio
social é compreendido como sendo indispensável ao ser humano, tanto para a construção do
sujeito quanto do conhecimento. A autora explica que através dessa interação entre as
pessoas, o sujeito encontra referências no outro e passa a se diferenciar do outro, aprende a
se opor, e com esse movimento transforma e é transformado. A vivência em grupo contribui
para que o indivíduo identifique a diferenciação do “eu-outro”, para adquirir consciência de si
próprio e evoluir como sujeito.

Para Pichon-Rivière apud QUIROGA (1994), "o homem é um ser de necessidades, que


se satisfazem socialmente nas relações que o determinam". Partindo dessa concepção,
compactuamos com esse autor, no sentido de que os homens vivem em grupo para
atender suas necessidades (inclusive a necessidade de comunicação), e nesse processo
grupal a comunicação é considerada um fator fundamental para a satisfação dessas
necessidades. PICHON-RIVIÈRE (1995) considera a comunicação enquanto uma
necessidade: "aquilo que o homem tem de mais primitivo e imperioso é sua necessidade
de comunicação".

Para esse mesmo autor, uma das formas de se compreender ou analisar os processos
grupais é através dos vetores universais de avaliação, sendo os seguintes: 
afiliação - é um grau de identificação dos integrantes entre si e com a tarefa (um
primeiro nível de identificação). 
Pertença - há um maior grau de identificação e integração com o grupo, permitindo a
elaboração da tarefa. 
Cooperação - pressupõe o desempenho de papéis diferenciados e complementares, de
tal modo que cada um contribui com o que sabe e com o que pode; no movimento
grupal se manifesta pela capacidade de se colocar no lugar do outro. 
Pertinência - é o centramento na tarefa, se ela está ou não sendo cumprida (as equipes
podem oscilar de forma diferente na realização da tarefa explícita e implícita), é a
realização da tarefa estratégica. 
Comunicação - é o mais importante de todos os vetores, pressupõe um intercâmbio de
significados, a mensagem vai circular por um canal que inclui ruídos e deverá ser
decodificada pelo receptor, podendo ser verbal ou não verbal; esse vetor é tomado por
Pichon como o lugar privilegiado pelo qual se expressam os transtornos e dificuldades
do grupo para enfrentar a tarefa. Na medida em que cada transtorno da comunicação
remete-se a um transtorno da aprendizagem, veremos os sujeitos grupais tratarem de
desenvolver velhas atitudes, em geral mal aprendidas, com a intenção de abordar os
objetos novos de conhecimento. Na visão do autor em pauta, toda alteração da
comunicação grupal se deve a uma dificuldade na aprendizagem e vice-versa. 
Aprendizagem - vetor estreitamente ligado à comunicação e suas alterações; é um
processo que envolve criação, adaptação ativa à realidade, as fragmentações e as
integrações dos saltos de qualidade que incluem a tese-antítese-síntese. É entendida
como a ruptura de certos estereótipos de comunicação e a obtenção de novos estilos, o
que implica sempre reestruturações e redistribuição dos papéis desempenhados pelos
integrantes do grupo. 
Tele - esse vetor se refere ao clima afetivo que prepondera no grupo em diferentes
momentos; é a disposição positiva ou negativa para trabalhar a tarefa grupal, é a
aceitação ou a rejeição que os integrantes têm espontaneamente em relação aos demais.
Os vetores guardam entre si uma inter-relação, sendo que a análise da comunicação
pode ser indicativa de como estão os demais vetores.
Outro conceito importante é o de operatividade, que se relaciona com mudança.
Operar, para Pichon-Rivière apud LEMA (1996), é "promover uma modificação
criativa da realidade".

Os grupos são vivenciados de maneira peculiar pelos seus integrantes, sendo cada um
único, mas alguns movimentos da dinâmica grupal vão estar presentes, tais como: as
fases e mitos, o medo do ataque e da perda, a alternância entre tarefa e pré-tarefa.

PICHON-RIVIÈRE (1994) relata que "a aprendizagem se realiza através do confronto,


manejo e solução integradora dos conflitos; enquanto cumpre-se esse itinerário, a rede
de comunicação é constantemente ajustada e só assim é possível elaborar um
pensamento capaz de um diálogo com o outro e enfrentar o medo".
Segundo ZIMERMAN (1993), "os indivíduos que estão fortemente fixados nos
primórdios da oralidade sempre partem de uma posição egocêntrica".
Esse primórdio grupal é o momento de se afiliar e ser aceito num universo ao mesmo
tempo novo e ameaçador, onde cada um representa para o outro uma fonte de
julgamento e crítica. Preservando-se contra tais ameaças, cada integrante volta-se a si
mesmo buscando o que julga ser o melhor para causar uma boa impressão no grupo.
Esse movimento favore o clima de competitividade entre as pessoas, interferindo no
processo de comunicação, uma vez que as falas assumiam características narcísicas.
O mesmo autor assinala que "falar não é o mesmo que comunicar", pois a fala tanto
pode ser instrumento essencial nos processos de troca, como "pode estar a serviço da
incomunicação".

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