SCHUSTER
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SCHUSTER
CHAPECÓ
2016
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RESUMO
Este artigo é de natureza teórica e tem como objetivo compreender, com base na teoria de
Vygostky, o papel da mediação pedagógica na educação infantil. Parte-se do princípio de que
a prática pedagógica do professor é fundamental para garantir aprendizagem e desenvolvimento
das crianças de 0 a 5 anos. Como método buscou-se estudos de Vygotsky, Rego, Oliveira, entre
outros autores, a fim de se aprofundar essa temática. Conclui-se que um ambiente planejado,
organizado, que tenha recursos em que a professora mediadora possa disponibilizá-los promove
aprendizagens e desenvolvimento infantil.
ABSTRACT
This article is of a theoretical nature and aims to understand, based on Vygotsky’s theory, the
role of pedagogical mediation in early childhood education. It is assumed that the pedagogical
practice of the teacher is fundamental to ensure learning and development of children from 0 to
5 years. As a method, studies were carried out by Vygotsky, Rego and Oliveira among other
authors in order to deepen this theme. We conclude that a planned, organized environment that
has resources in which the mediating teacher can make them available promotes learning and
child development
1 INTRODUÇÃO
Segundo Vygotsky (2007), desde que nasce o ser humano está rodeado por seus pares
num ambiente cultural. Defende que o próprio desenvolvimento da inteligência é o produto
dessa convivência. Para ele, o homem só se constitui nas interações sociais, assim sendo, é visto
como alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas numa determinada
cultura.
2 DESENVOLVIMENTO HUMANO
3 Transcrito de várias formas Vygotsky, Vigotski, Vygotski ou Vigotsky. Estarei usando o escrito Vygotsky nesse
artigo.
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Conforme Rabello e Passos (2011) não basta o ser humano estar desenvolvendo-se
biologicamente para realizar uma tarefa, se o indivíduo não participa de ambientes e práticas
específicas que propiciem esta aprendizagem. “Não podemos pensar que a criança vai se
desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos para andar sozinho o
caminho do desenvolvimento, dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a
que foi exposta” (RABELLO e PASSOS, 2011, p.3). De acordo com Rego (2011), o
desenvolvimento está relacionado com o contexto sociocultural em que a pessoa está inserida.
O bebê humano por ser indefeso e despreparado para lidar com o meio depende dos sujeitos
mais experientes do seu grupo para sobreviver, essa dependência permanecerá por um longo
período. O bebê desde que nasce tem interação com os adultos que asseguram sua sobrevivência
e mediam sua relação com o mundo. Procuramos inserir a criança na cultura, dando significados
as condutas e a objetos culturais que se formam ao longo da história. Neste sentido Rego ressalta
que:
Para não cairmos no reducionismo, não podemos separar a criança e sua atividade das
suas condições de existência e de sua maturação funcional, integrando corpo e mente, condições
internas e externas, aspectos genéticos e socioculturais. Para Vygotsky, segundo Bastos e
Pereira (2003), o sujeito é determinado pelo organismo e pelo social que estrutura sua
consciência, sua linguagem, seu pensamento, a partir da apropriação ativa das significações
histórico-culturais.
O objetivo de Vygotsky é “trabalhar com a importância do meio cultural e das relações
entre indivíduos na definição de percurso de desenvolvimento da pessoa humana, e não propor
uma pedagogia diretiva, autoritária” (OLIVEIRA, 2010 a, p.65).
Para Vygotsky (2007), o nível de desenvolvimento real da criança é o nível mental que
ela já determina o desenvolvimento completo. Quando a criança faz tarefas que aprendeu a
dominar e já consegue fazer sozinha sem ajuda de pessoas mais experientes. Como por
exemplo, amarrar o tênis.
Segundo Vygotsky (2007) para descobrir a relação entre o processo de desenvolvimento
e a capacidade de aprendizagem não basta determinar o nível real da criança; é preciso descobrir
o nível de desenvolvimento potencial da criança. O nível de desenvolvimento potencial é a
capacidade que a criança tem em desempenhar tarefas com ajuda de pessoas mais experientes
(professora e colegas), nesse processo em que a professora mediadora é intermediaria da criança
com objeto de aprendizagem.
Conforme Rabello e Passos (2011) é exatamente na zona de desenvolvimento proximal
que aprendizagem vai acontecer. A função da professora é favorecer esta aprendizagem,
servindo de mediadora entre a criança e o mundo. Na interação no interior do coletivo, das
relações com o outro que as funções psicológicas são construídas na criança.
A imitação é uma oportunidade de a criança realizar ações que estão além de suas
próprias capacidades, que contribui para seu desenvolvimento. A imitação se diferencia das
reações similares, tais como gestos de acompanhamento, de contágio emotivo, caracterizadas
pelos primeiros sorrisos, bocejos (GALVÃO 1995 apud BASTOS e PEREIRA, 2003).
Conforme Veer; Valsiner (1996 apud BASTOS e PEREIRA,2003), Vygotsky acredita que a
imitação é promotora do desenvolvimento humano na medida em que a criança pode imitar
uma série de ações que se encontram bem além dos limites de suas próprias possibilidades. As
crianças têm a capacidade de imitação, determinando que a aprendizagem evoque e promova
seu desenvolvimento cognitivo e emocional, ao atuar sobre a zona desenvolvimento proximal.
Para Vygotsky (1991 apud BASTOS e PEREIRA,2003, p.16), “a representação não se
limita a refletir a realidade, mas a interpreta no intercâmbio comunicativo social, dependendo
da filogênese e da ontogênese: da bagagem do saber e da experiência. ”
Uma representação é a capacidade de criar uma imagem mental quando articulada com
outras imagens, permite o estabelecimento de relações, mesmo na ausência ou ante a existência
ou inexistência do objeto representado. É, pela representação que criamos e promovemos, o
nosso desenvolvimento como espécie.
[...] o ambiente das creches e pré-escolas pode ser considerado como um campo de
vivências e explorações, zona de múltiplos recursos e possibilidades para a criança
reconhecer objetos, experiências, significados de palavras e expressões, além de
ampliar o mundo de sensações e percepções. Funciona esse ambiente como recurso
de desenvolvimento, e, para isso ele deve ser planejado pelo educador, parceiro
privilegiado de que a criança dispõe. (2005 p.193)
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Segundo Daniels (2003 apud BRITO ,2013), a mediação pedagógica deve auxiliar a
interação do sujeito e na compreensão das estruturas de conhecimento. Essa estrutura não
depende do desenvolvimento interno do amadurecimento orgânico. É por meio da mediação
que ela construirá seu conhecimento. No seu cotidiano, a criança interage com pessoas e
artefatos da cultura, isso a leva a uma aprendizagem. Quando uma criança está aprendendo a
falar e ao interagir com adultos que conversam, cantam, dialogam com ela no momento em que
estão realizando atividades de cuidado como alimentação e higiene pessoal, vai possibilitar a
criança aprender pela interação um número significativo de palavras e podendo desenvolver um
diálogo com os adultos. A professora mediadora precisa proporcionar situações para as
crianças, em que as experiências por eles vividas possam enriquecer suas estruturas intelectuais.
Uma das formas de mediação utilizada é o uso de instrumentos como materiais, signos,
linguagem oral, pictórica, que auxiliam na realização de suas tarefas. Os instrumentos são
objetos ou elemento que possuem utilidade prática para as crianças usarem na construção das
suas experiências. Nesse sentido a mediação pedagógica é muito importante, em que a
professora disponibilizará materiais para auxiliar as crianças em suas atividades práticas, o que
possibilita a elas viverem suas experiências numa relação mediada.
A professora mediadora tem a função de favorecer uma prática que abranja interações
colaborativas entre as crianças. Tem a função de perceber quais instrumentos e signos que
proporcionam ações enriquecedoras no ambiente escolar, permitindo troca de experiências, a
colaboração e o auxílio necessário para realização de atividades.
4 EDUCAÇÃO INFANTIL
de creches e pré-escolas, deem voz às crianças e acolham a forma delas significarem o mundo
e a si mesmas.
As diretrizes são importantes instrumentos que orientam a organização das atividades
nas instituições de educação infantil. Necessário dialogar sobre as diretrizes e utilizá-las na
prática pedagógica que ajudará os professores a criar um ambiente de crescimento e
aperfeiçoamento humano que contemplem as crianças, suas famílias e equipe de educadores.
As DCNEIs, em primeiro lugar fazem uma clara explicação sobre a identidade da
educação infantil, condições as quais são indispensáveis para estabelecer normativas em relação
do currículo envolvidos em uma proposta pedagógica. Em segundo lugar, as diretrizes expõem
o que deve ser considerado como função sociopolítica e pedagógica na educação infantil. São
esses pontos que fazem parte das discussões na área e apontam um caminho que se deseja
trabalhar com as crianças. (BRASIL,2010).
A questão pedagógica tem a finalidade de desenvolver o educando assegurando uma
formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
trabalho e em estudos posteriores. As finalidades devem ser apropriadas em relação as crianças
pequenas. É importante que os educadores observem as crianças nesse momento de suas vidas,
como vivenciam o mundo e apropriam conhecimentos, expressam-se, interagem e manifestam
desejos e curiosidades e a partir disso deve servir de referência para propor método de trabalho
que melhorem a convivência entre instituições e famílias.
As instituições de educação infantil assim como as demais instituições nacionais
precisam assumir a responsabilidade em construir uma sociedade livre, justa, solidária e que
preserve o meio ambiente segundo o projeto de sociedade democrática desenhado na
Constituição Federal de 1988 no artigo 3, inciso I (BRASIL,1988). Também devem trabalhar
pela redução de desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos (Artigo 3
incisos II e IV).
Em terceiro lugar as diretrizes partem de uma definição de currículo que apresentem
princípios básicos que possa orientar o trabalho pedagógico que seja comprometido com a
qualidade efetivação de oportunidades de desenvolvimento para todas as crianças. Que possam
organizar seus objetivos e condições para a preparar o currículo dando importância a parcerias
com as famílias, onde essas experiências devem ser concretizadas em práticas cotidianas nas
instituições.
Enfim, a educação infantil precisa ser comprometida com o desenvolvimento integral
de crianças e deve criar e recriar constantemente como instituição pensante possibilidades de
espaço/tempo para ensinar (professor) para aprender (alunos) (OLIVEIRA,2011). Não pode ser
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um lugar em que se aprende a obedecer, deve ser um espaço em que o conhecimento seja
resinificado a partir dos pontos e contrapontos estabelecidos nas relações entre professor e
alunos e que seja realmente um provocador do conhecimento, instigando crianças desde
pequenas ao desenvolvimento do pensamento reflexivo e crítico, além do estímulo pela busca
do conhecimento (RIBEIRO,2007).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos estudos que fiz baseada nesses autores pude compreender melhor e refletir
sobre a função da professora mediadora, a fim de possibilitar a construção de uma escola viva,
composta por cidadãos críticos participativos e criativos.
Durante os estudos do tema e na elaboração desse artigo, surgiram as seguintes
perguntas para discussões futuras sobre a prática de mediação da professora com as crianças
em centros de educação infantil municipais: quais as mediações feitas pelo adulto, dentro de
uma educação que partilha valores democráticos, éticos e participativos, que inserem a criança
como sujeito de sua aprendizagem e que podem garantir maior envolvimento e interações? Em
que medida as práticas de mediação favorecem as ações das crianças em suas aprendizagens
como um ser social que participa na tomada de decisões, no contexto educativo? Em que medida
as práticas de mediação possibilitam as experiências das crianças, considerando o eixo da
brincadeira e as interações, favorecendo sua participação?
REFERÊNCIAS
<http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7153-2-1-curriculo-educacao-infantil-
zilma-moraes/file >acesso em 26 de agosto de 2016
VYGOTSKY, L. S.A formação social da mente 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,1991
disponível em http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/vygotsky-a-formac3a7c3a3o-
social-da-mente.pdf acesso em 25/09/2015
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes ,2007