Dissertação - Saneamento Básico Na Cidade Do Recife - Entre A Idealidade Do Planejamento e A Realidade Da Execução-Georgia - 1
Dissertação - Saneamento Básico Na Cidade Do Recife - Entre A Idealidade Do Planejamento e A Realidade Da Execução-Georgia - 1
Dissertação - Saneamento Básico Na Cidade Do Recife - Entre A Idealidade Do Planejamento e A Realidade Da Execução-Georgia - 1
RECIFE, 2014
GEORGIA CAVALCANTI ALVES DE MIRANDA
RECIFE, 2014
Catalogação na fonte
Bibliotecário Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204
Profa. Maria de Fátima Ribeiro de Gusmão Furtado Prof. Ruskin Marinho de Freitas
Orientadora Examinador Interno/PPG/MDU
À Controladoria Geral de Orçamento da PCR – por dirimir dúvidas insolúveis, sob o ponto
de vista, estritamente, teórico, em especial a Sandra Cavalcanti, Concita, Rebeca Pedroza e
Arthur Gueiros.
Citar nominalmente todas as outras pessoas que contribuíram para esse estudo seria difícil,
assim, agradeço a Cynthia Xavier de Carvalho, Wilson Grimaldi, Andrezza Monteiro, Kamila
Arruda, Jaucele Azerêdo, Jéssica Menezes, Josemary Oliveira, Núbia Michella, Elvira
Fernandes, Mirela Duarte e Breno Borges em nome de todos que contribuíram com essa
pesquisa.
Muito obrigada!
“Despesa pública, em geral, quanto menor a dose mais saudável a
economia. Mas cuidado! Existem várias quantidades desta erva. A de
melhor qualidade se chama infraestrutura (saneamento, escolas,
estradas, energia, comunicações, portos...). Esta variedade, se
misturada com boas doses de eficiência, pode fazer milagres. A
segunda variedade, reconhecida por forte cheiro de enxofre, é
constituída de subsídios, funcionários inúteis, de participação
artificial na economia e outras ervas daninhas. Fiquem longe desta
variedade. Há casos em que ela conseguiu matar todas as galinhas
dos ovos de ouro em menos de dez anos”.
(Piero Sierra)
RESUMO
Nos centros urbanos, o saneamento básico representa o serviço de infraestrutura social cuja
ausência ou precariedade é responsável por externalidades negativas claras e significativas, de
vez que tal insuficiência acarreta diversos problemas econômicos, ambientais, sociais e de
saúde, tendo por consequência relevantes perdas materiais e humanas. A presente pesquisa
buscou mensurar, no orçamento municipal, a prioridade conferida ao saneamento básico, ao
longo do ciclo orçamentário, na cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco, Brasil,
com vistas a se compreender o descompasso observado entre o crescimento populacional e a
provisão de serviços de saneamento básico. Esses serviços possuem, sob o ponto de vista
econômico, atividades de custo fixo elevado em capital específico, elevadas economias de
escala e longo prazo de maturação dos investimentos, motivos pelos quais a administração
pública se constitui em seu principal provedor. Assim, o objetivo geral dessa pesquisa tem seu
foco na dinâmica de alocação de recursos para o setor, no período de 2006 a 2013, buscando
contribuir para a explicitação, para além dos discursos, da prioridade, de fato, atribuída ao
saneamento básico, por parte da administração municipal, de forma a se aferir se tais
alocações contribuíram para a reversão do quadro de precariedade do saneamento básico,
especialmente quanto ao esgotamento sanitário. Trabalhou-se com a hipótese de que a
alocação dos recursos orçamentários municipais em saneamento básico urbano propiciou a
ampliação do nível de atendimento à população, no sentido da superação dos déficits
históricos, particularmente em termos de esgotamento. Com fundamento na teoria, nas
legislações aplicáveis à temática, nos levantamentos de campo e na análise dos dados
orçamentários, o trabalho refutou a hipótese supra exposta, demonstrando que os
investimentos em saneamento básico urbano, entre 2006 e 2013, não foram suficientes para
suprir a demanda de esgotamento sanitário da cidade do Recife, permanecido o histórico
déficit no setor.
In urban centers, sanitation is the social service infrastructure whose absence or insufficiency
is responsible for evident and significant negative externalities, because of such failure causes
many economic, environmental, social and health problems, which results in significant
material and human losses. This research sought to measure, in the municipal budget, the
priority given to sanitation, over budget cycle, in Recife, capital of Pernambuco state, Brazil,
in order to understand the observed mismatch between population growth and provision of
sanitation services. These services have, under the economic point of view, high fixed cost
activities in specific capital, high economies of scale and long-term maturity investments,
why the public administration constitutes its main provider. Thus, the general objective of this
research focuses on the dynamic resource allocation for the sector, in the period 2006 to 2013,
seeking to contribute to the explanation, beyond words, of the priority, in fact, attributed to
basic sanitation by the municipal administration, in order to assess whether such allocations
contributed to reverse the precarious sanitation conditions, especially in regard to sewage. We
worked with the hypothesis that government resources for investment in sanitation in the
period under consideration were sufficient to reach the universal rate of urban sewage service.
Based on the theory, on the applicable laws to the theme, in the field surveys and in the
Analysis of budget data, the work refuted the above hypothesis, demonstrating that
investments in sanitation between 2006 and 2013 were not sufficient to meet the demand of
sewage from the city of Recife, remaining the historical deficit in the sector.
Tabela 1 – Pernambuco: (%) dos prestadores e a cobertura dos serviços de água e/ou esgotos 2012 .. 38
Tabela 2 – PIB, PIB per capita e IDHM do NE e das principais capitais nordestinas (milhões R$) .... 88
Tabela 3 – Caracterização demográfica do Recife 2010 ....................................................................... 91
Tabela 4 – Caracterização demográfica das principais capitais do Nordeste (2010) ............................ 91
Tabela 5 – Caracterização econômica do Recife 2011 (milhões R$) .................................................... 93
Tabela 6 – Porcentagem da renda apropriada por estratos da população (2010) .................................. 96
Tabela 7 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes - Recife - PE ........... 96
Tabela 8 – Rendimento dos domicílios, por RPA (2010) ..................................................................... 97
Tabela 9 – Índice de atendimento urbano de água e esgoto – 2012 ...................................................... 98
Tabela 10 – Domicílios particulares permanentes por tipo de serviço sanitário– 2010 ........................ 99
Tabela 11–Síntese: demonstrativo geral das despesas da PCR – 2006-2009 (milhões R$) ................ 107
Tabela 12 – Demonstrativo da despesa por projeto no PPA 2006-2009 (milhões R$) ....................... 110
Tabela 13 – Comparação entre o PPA e a LOA 2006-2009 (milhões R$).......................................... 112
Tabela 14 – Comparação entre o investimento executado e o planejado 2006-2009 (milhões R$) .... 113
Tabela 15–Receitas e despesas orçamentárias da PCR no período de 2006-2009 (milhões R$) ........ 115
Tabela 16 – Despesas da PCR por Função 2006-2009 (milhões R$).................................................. 116
Tabela 17 – % da função saneamento na despesa total da subfunção SBU 2006-2009 (em milhões) 117
Tabela 18 – Despesas em saneamento básico urbano 2006-2009 (milhões R$) ................................. 117
Tabela 19 – Despesas de capital em saneamento básico urbano 2006-2009 ...................................... 118
Tabela 20 – Síntese: demonstrativo geral das despesas da PCR – 2010-2013 (milhões R$) .............. 124
Tabela 21 – Demonstrativo da despesa por projeto no PPA 2010-2013 (milhões R$) ....................... 128
Tabela 22 – Comparação entre o PPA e a LOA 2010-2013 (milhões R$).......................................... 129
Tabela 23 – Comparação entre o investimento executado e o planejado 2010-2013 (milhões R$) .... 130
Tabela 24 - Receitas e despesas orçamentárias da PCR no período de 2010-2013 (milhões R$)....... 131
Tabela 25 – Despesas da PCR por Função 2010-2013 (milhões R$).................................................. 132
Tabela 26–% da Função na despesa total da subfunção SBU2010-2013 (milhões R$) ...................... 133
Tabela 27 – Despesas em saneamento básico urbano 2010-2013 (milhões R$) ................................. 133
Tabela 28 – Despesas de capital em saneamento básico urbano 2010-2013 (em milhões) ................ 134
Tabela 29–Receitas e despesas orçamentárias da PCR no Período de 2006-2013 (milhões R$) ........ 140
Tabela 30 – Despesas de capital em saneamento básico urbano 2006-2013 (milhões R$)................. 140
Tabela 31 – Despesas de capital em saneamento básico urbano 2006-2013 (milhões R$)................. 141
LISTA DE QUADROS
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16
1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO BRASILEIRO E O SANEAMENTO BÁSICO 21
1.1 O Processo de Urbanização Global ............................................................................................. 21
1.2 O Processo de Urbanização Brasileiro ........................................................................................ 23
1.3 A Gestão das Cidades e o Saneamento Básico............................................................................ 28
1.3.1 Saneamento básico direito .................................................................................................... 30
1.3.2 Saneamento básico – saúde, qualidade de vida e ambiental ................................................ 31
1.4 Marco Jurídico do Saneamento Básico ....................................................................................... 32
1.4.1 Precedentes da Constituição Federal de 1988 ...................................................................... 32
1.4.2 Constituição Federal de 1988 ............................................................................................... 34
1.4.3 Saneamento no estado de Pernambuco: a Compesa ............................................................. 38
1.4.4 Saneamento básico no município do Recife......................................................................... 39
2 PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E GESTÃO DE CIDADES ........................ 43
2.1 Interação entre Planejamento Governamental e Orçamento Público .......................................... 43
2.1.1 Ciclo Orçamentário .............................................................................................................. 44
2.1.1.1 Lei do Plano Plurianual – PPA ...................................................................................... 45
2.1.1.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO........................................................................ 48
2.1.1.3 Lei Orçamentária Anual – LOA .................................................................................... 48
2.2 Orçamento Público ...................................................................................................................... 51
2.2.1 Princípios Orçamentários ..................................................................................................... 52
2.3 Atividade Financeira do Estado .................................................................................................. 53
2.3.1 Funções do Governo: alocativa, distributiva e estabilizadora .............................................. 53
2.3.2 Receita pública ..................................................................................................................... 54
2.3.3 Despesa orçamentária ........................................................................................................... 57
2.4 Conceitos Orçamentários ............................................................................................................ 58
2.4.1 Plano Plurianual: aspectos conceituais ................................................................................. 58
2.4.2 Execução Orçamentária: comentários conceituais ............................................................... 60
2.5 Elementos de Finanças Públicas ................................................................................................. 65
2.5.1 Bens Públicos ....................................................................................................................... 65
2.5.2 Externalidades ...................................................................................................................... 66
2.5.3 Monopólios Naturais ............................................................................................................ 68
3 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DA PESQUISA...................................................... 71
3.1 Modelo Lógico da Pesquisa ........................................................................................................ 71
3.1.1 O Problema de Pesquisa ....................................................................................................... 72
3.1.2 A Hipótese da Pesquisa ........................................................................................................ 72
3.1.3 Objetivos da Pesquisa........................................................................................................... 73
3.2 Delimitação do Objeto da Pesquisa ............................................................................................. 75
3.3 Percurso Metodológico ............................................................................................................... 76
3.3.1 Coleta de dados .................................................................................................................... 77
3.3.1.1 Fontes dos Dados .......................................................................................................... 77
3.3.1.2 O Processo de Coleta de Dados..................................................................................... 79
3.4 Análise dos Dados ....................................................................................................................... 80
3.5 Variáveis Utilizadas .................................................................................................................... 82
4 PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E O GASTO PÚBLICO EM
SANEAMENTO BÁSICO: a experiência do Recife ........................................................... 88
4.1 Breve Caracterização da Área de Estudo .................................................................................... 88
4.2 Saneamento Básico no Recife ..................................................................................................... 98
4.3 A Dinâmica de Alocação de Recursos Públicos e Ação Governamental .................................. 103
4.3.1 PPA 2006-2009 – Recife: mais trabalho, melhor qualidade de vida .................................. 103
4.3.1.1 Estrutura do PPA 2006-2009 ....................................................................................... 104
4.3.1.2 Saneamento Básico no PPA 2006-2009 ...................................................................... 108
4.3.1.3 Comparação entre o PPA e a LOA 2006-2009 ........................................................... 111
4.3.1.4 Comparação entre o Investimento Executado e o Planejado 2006-2009 .................... 112
4.3.1.5 Execução orçamentária: uma análise dos investimentos em SBU 2006-2009 ............ 115
4.3.2 PPA 2010-2013 – Nossa Cidade é a Gente quem Faz........................................................ 121
4.3.2.1 Estrutura do PPA 2010-2013 ....................................................................................... 121
4.3.2.2 Saneamento Básico no PPA 2010-2013 ...................................................................... 124
4.3.2.3 Comparação entre o PPA e a LOA 2010-2013 ........................................................... 129
4.3.2.4 Comparação entre o Investimento Executado e o Planejado 2010-2013 .................... 130
4.3.2.5 Execução orçamentária: uma análise dos investimentos em SBU 2010-2013 ............ 131
4.3.3 Planejamento Governamental 2006-2013 .......................................................................... 137
4.3.3.1 Comparação entre os PPA e as LOA 2006- 2013 ....................................................... 137
4.3.3.2 Comparação entre o Investimento Executado e o Planejado 2006-2013 .................... 138
4.3.3.5 Execução orçamentária: uma análise dos investimentos em SBU 2006-2013 ............ 140
4.3.4 Repercussão dos Investimentos Municipais na Provisão de Esgotamento Sanitário ......... 144
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 149
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 153
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 161
ANEXOS ............................................................................................................................... 166
ANEXO A – Lista das Funções e Subfunções ................................................................................ 167
ANEXO B – Programas – PPA 2006-2009..................................................................................... 168
ANEXO C – Programas – PPA 2010-2013..................................................................................... 169
Convenções
- Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento;
.. Não se aplica dado numérico;
... Dado numérico não fornecido e/ou indisponível.
16
INTRODUÇÃO
1
Em linhas gerais, externalidade é o impacto das ações de uma pessoa sobre o bem-estar de outras que não
tomam parte da ação (MANKIW, 2007).
2
Conjunto de ações com o objetivo de alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental, nas condições que
maximizem a promoção e a melhoria das condições de vida dos meios urbano e rural, compreendendo o
abastecimento de água, o esgotamento sanitário, o manejo de águas pluviais e o manejo de resíduos sólidos
(IBGE – Atlas de Saneamento, 2011, p. 263).
não faz sentido discutir a qualidade do gasto sem antes conhecer a efetividade e os resultados
concretos da ação governamental. Essa característica confere importância e oportunidade a
este estudo, quando se tenta elevar os níveis de transparência da ação governamental.
O segundo ponto de destaque desta dissertação está relacionado ao acesso à
informação pública, pois embora exista disponibilidade de informações governamentais,
asseguradas por força de Lei3, nas três esferas do poder, a pesquisa de campo executada
demonstrou que não constitui tarefa trivial proceder à sua análise, pois os dados são
apresentados, na maioria, na forma de balanços patrimonial, financeiro e orçamentário ou por
meio de outros tipos de demonstração codificada, dificultando a democratização da
informação.
Como exemplo, cita-se o orçamento, uma peça de planejamento complexa e
eminentemente técnica, em função de suas várias classificações. Classificações institucionais,
econômicas, funcionais, etc., que acabam limitando a compreensão dos cidadãos sobre o que
de fato está sendo proposto na peça técnica. Essa linguagem codificada restringe o poder
avaliativo do cidadão, praticamente lhe impedindo o exercício do controle social sobre as
ações governamentais, pois se não se sabe o que foi proposto, o que cobrar? São necessários
estudos, como esta dissertação, que traduzam o conteúdo dos instrumentos de planejamento
governamental em uma linguagem mais acessível para que haja uma efetiva transparência da
ação do poder público.
Por isso, definiu-se como objetivo geral da pesquisa analisar a dinâmica de
alocação e execução dos recursos orçamentários municipais em Saneamento Básico Urbano,
no Recife, no período em tela, com vistas a se avaliar a relação dessa dinâmica com o nível
de atendimento da população pelos serviços de saneamento básico, sobretudo de
esgotamento sanitário.
3
Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 – dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso a informações (BRASIL, 2011).
2. Comparar o PPA e LOA buscando evidenciar o que foi alocado (planejado) e o que
foi efetivamente autorizado nos respectivos períodos;
3. Comparar a execução orçamentária dos quatro anos de cada PPA com os volumes
alocado (planejados) e autorizados visando entender a efetividade do planejamento
governamental;
4. Analisar a execução orçamentária visando quantificar e mapear os investimentos em
saneamento básico urbano no período de cada PPA, visando não apenas quantificar
mas também espacializar os investimentos em SBU;
5. Analisar a relação entre os investimentos municipais em Saneamento Básico Urbano e
o Índice de Atendimento Urbano de Esgoto IN047 do Sistema Nacional de Informação
Sanitária – SNIS.
As cidades são fenômenos antigos, que surgiram na Ásia por volta do ano 3.500 AC,
no vale compreendido entre Tigre e Eufrates. Todavia, o crescimento demográfico nas
cidades só se manifesta significativamente a partir da primeira metade do século XIX, com o
início da Revolução Industrial, na Europa (SILVA, 2006, p. 20). Esta gerou profundas
mudanças na estrutura produtiva, na organização econômica e social da sociedade e, por
conseguinte, afetou definitivamente a configuração espacial das cidades. Segundo Canêdo
(1995, p. 6-7), “desde a descoberta do fogo, nada trouxe tão profundas e extensas
transformações na aparência física da Terra e no modo de viver e trabalhar dos homens”.
Iniciadas na Inglaterra, essas transformações se estenderam, de forma desigual, para os países
da Europa continental e, posteriormente, para outras áreas de além-mar, transformando a
natureza da história dos homens e a relação entre eles (CANÊDO, 1995, p. 8).
Além do surgimento de fábricas e máquinas a vapor e da nova divisão social do
trabalho, as cidades tiveram que se reorganizar para fazer face à chegada de grandes
contingentes de camponeses, que passaram a emigrar para as cidades devido à introdução de
um sistema de operacionalização dos métodos agrícolas que propiciou o aumento da
produtividade rural, liberando uma enorme massa de trabalhadores do campo (COTRIM, p.
258, 1994). Este fluxo migratório fomentou, na Europa, a transição de uma sociedade agrária
para uma sociedade com cidades populosas e industrializadas.
4
Urbanização – fenômeno que ocorre quando a população urbana cresce em proporção superior à população
rural (SILVA, 2006, p.26).
Na segunda metade do século XIX e nos primeiros anos do século XX, essa
aceleração do processo de urbanização havia agravado de tal modo às condições sanitárias das
cidades que as administrações foram obrigadas a buscar novas respostas, diante, inclusive de
problemas de saúde e segurança pública. Nasce nesse contexto a disciplina do urbanismo. Ela
e outras disciplinas como, por exemplo, a geografia, sociologia e economia, que tratam da
cidade e do território, foram emoldurando-se com características disciplinares distintas.
Segundo Calabi (2012, p.3), o período de formação do urbanismo com características
autônomas pode ser situado entre os anos de 1859 e 1913.
O último quartel do século XIX foi caracterizado por uma crescente participação das
instituições políticas e administrativas, nos processos de construção e organização das
cidades. As razões que motivaram o protagonismo do Estado na vida urbana, em linhas gerais,
foi a velocidade com que se processava o crescimento urbano apoiado em distintas bases
econômicas e sob diferentes pressões demográficas, condicionando as características do
ambiente citadino, impelindo e condicionando a intervenção pública na organização da
cidade.
Cabe observar que alguns dos instrumentos de intervenção pública utilizados na
cidade advêm do período que se inicia na segunda metade do século XIX e se estende até a I
Guerra Mundial. Neste período, a interferência do Estado na economia urbana manifesta-se
através da: i) regulação da atividade econômica, impondo uma participação das empresas nos
custos sociais; ii) da oferta pública de bens e serviços, em substituição aos mecanismos do
2010…
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
Gráfico 1– Brasil: composição setorial da economia – 1947-2011
Fonte: IBGE – Séries históricas e estatísticas, 2013.
A economia brasileira não apenas cresceu, mas transformou-se. O Brasil passou por
uma transformação estrutural, alterando radicalmente sua base produtiva, com grandes
rebatimentos nas condições de vida da população, inclusive urbana.
Todavia, para a compreensão das principais características da transição demográfica
no país, hão que se considerar, além das transformações econômicas, as características
demográficas brasileiras ao longo do século XX. A população brasileira multiplicou-se mais
de 10 vezes no transcorrer dos censos 1900 a 2010. Como se observa no gráfico 2, em 1900
havia pouco mais de 17 milhões de habitantes e, em 2010, o Brasil atinge uma população de
aproximadamente 190 milhões de habitantes.
200.000
População total
180.000
160.000
140.000
120.000
(milhões/ hab.)
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
0
1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Gráfico 2– Trajetória da população brasileira (1900-2010)
Fonte: IBGE – Séries históricas e estatísticas, 2013.
50,00
Natalidade
45,00
Mortalidade
40,00
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
1900 1910 1920 1930 1945 1955 1965 1975 1985 1995 2000 2007
significativo ocorrido no país a partir da década de quarenta, com grandes rebatimentos nas
cidades brasileiras.
Mas, do ponto de vista demográfico, o processo de urbanização brasileiro não foi
influenciado apenas pelo crescimento populacional que, segundo Dráuzio Varela (2013), teve
sua base relacionada aos progressos na saúde pública (especialmente em vacinas e
antibióticos) e às melhorias relativas ao saneamento básico, notadamente acesso à água de boa
qualidade e controle de vetores. Houve também a influência dos fluxos migratórios, pois,
assim como a economia, a demografia brasileira mudou seu perfil ao longo do século XX.
No Brasil, até o final do século XIX e início do século XX predominava a migração
externa, principalmente a advinda da Itália e Portugal. Essa migração era significativa,
explicando parte do crescimento populacional brasileiro. A partir de 1930, as migrações
externas diminuem e o crescimento populacional passa a depender majoritariamente do
crescimento vegetativo. Continuam existindo as migrações dentro do país, não afetando,
todavia, a população total, mas apenas sua distribuição regional, como ilustra o gráfico
abaixo.
N NE SE S CO
1900
1920
1940
1950
1960
1970
1980
1991
2000
2010
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Gráfico 4 – Trajetória da distribuição da população brasileira por grandes regiões
Fonte: IBGE – Séries históricas e estatísticas, 2013.
rural. Seguidas das demais Regiões que passaram a possuir população urbana superior a rural
a partir de 1970 no Centro-Oeste e 1980 no Nordeste e Norte, conforme ilustra gráfico 5.
1875 - 1906
1875 -1930 - Planos de
Melhoramento e Embelezamento
1906 - 1930
1875 - [...]
1930 - 1965
1930 - 1990 - Planos Intelectuais
1965 - 1990
De acordo com o autor, o período de 1875 a 1930 foi caracterizado pelos planos de
melhoramento e embelezamento ainda herdeiros da forma urbana monumental que exaltava a
burguesia e que destruiu a forma urbana medieval. Esse período subdividisse em duas fases, a
primeira estende-se de 1875 a 1906 – marcada pela ascensão dos planos de melhoramento e
embelezamento e a segunda de 1906 a 1930 – inicia-se o declínio dos planos de
melhoramento e embelezamento. O segundo período se estende de 1930 a 1990 foi marcado
pela ideologia do planejamento enquanto técnica de base científica. Esse período subdividisse
também em duas fases com a primeira de 1930 a 1965 – caracterizada pela implantação de
práticas urbanísticas e utilização do Plano Diretor e a segunda de 1965 a 1990 – marcada pela
passagem do planejamento executado para o planejamento-discurso. No terceiro período,
datado a partir de 1990, inicia-se uma reação ao período de base científica.
Cabe observar que para Villaça (1999, p. 180), só podem ser consideradas da esfera
do “Planejamento Urbano” apenas aquelas ações do Estado sobre o urbano que tenham sido
objeto de algum plano, por mais amplo que seja o conceito de plano.
Segundo Silva (2006, p. 89), o ‘Planejamento Urbano’ é um processo técnico
instrumentado para transformar a realidade existente no sentido de objetivos previamente
estabelecidos. Portanto, o Planejamento Urbano constitui elemento essencial na formação e
gerenciamento das cidades, pois ele interfere diretamente na produção, reprodução,
organização/desorganização do espaço urbano.
5
O Decreto nº 72.512, de 23 de julho de 1973 foi retificado pelo Decreto nº 88.293, de 09 de maio de 1983,
porém sem retificar o exercício de suas funções.
I - universalização do acesso;
II - integralidade, compreendida como o conjunto de todas as atividades e
componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico,
propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e
maximizando a eficácia das ações e resultados;
III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo
dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à
proteção do meio ambiente;
IV - disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e
de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da
vida e do patrimônio público e privado;
V - adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as
peculiaridades locais e regionais;
VI - articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de
habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção
ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social
De acordo com Peixoto (2013, p. 3) essa lei também estabelece as diretrizes para:
Tabela 1 – Pernambuco: (%) dos prestadores e a cobertura dos serviços de água e/ou esgotos 2012
Prestador Serviços
Água Esgotos Água e esgotos
Compesa (regional) 81% - 12%
Consórcios (microrregional) - - -
Prefeituras (local) 2% 11% 2%
Total 83% 11% 14%
Fonte: SNIS, 2014.
6
Distrito Estadual de Fernando de Noronha – instituído através da Lei nº 11.304/1995 (PERNAMBUCO, 1995).
7
Prestador de serviços de abrangência regional – entidade legalmente constituída para administrar serviços e
operar sistema(s), atendendo a vários municípios com sistema(s) isolado(s) ou integrado(s), compreendendo as
companhias estaduais (BRASIL-Ministério das Cidades, 2013).
8
Prestador de serviços de abrangência local – entidade legalmente constituída para administrar serviços e operar
sistema(s), atendendo ao município em que está sediada (BRASIL-Ministério das Cidades, 2013).
9
Prestador de serviços de abrangência microrregional – entidade legalmente constituída para administrar
serviços e operar sistema(s), atendendo a alguns municípios, normalmente adjacentes e agrupados (BRASIL-
Ministério das Cidades, 2013).
De acordo com a tabela acima, a Compesa (prestador regional) provê apenas serviços
de água a 81% dos municípios e serviços de água e esgoto a 12% dos municípios,
pernambucanos. As Prefeituras (prestador local) são responsáveis pelo provimento dos
serviços de água, esgotos e água e esgotos em: 2%, 11% e 2%, respectivamente, dos
municípios pernambucanos.
Destaque-se, que em 20 municípios pernambucanos ocorre, concomitantemente,
prestação regional e local. Nesses casos, a Compesa é responsável pelo provimento dos
serviços de água cabendo as Prefeituras o provimento dos serviços de esgoto, exceção ao
município de Quipapá que provê serviços de água e esgoto.
Observa-se também que, considerando os dois prestadores, em Pernambuco, 83%
dos municípios possuem serviços de água, 11% possuem acesso aos serviços de esgotos e
apenas 14% dos municípios tem acesso aos serviços de água e esgoto, independentemente do
prestador. É válido ressaltar que 3%, dos municípios pernambucanos (Água Preta,
Carnaubeira da Penha, Catende, Gameleira, Iati e Jaqueira), não recebem nenhuma prestação
dos serviços de água e/ou esgotos. Cumpre destacar, que as populações destes municípios,
não acessam nenhum dos serviços públicos de saneamento básicos, distribuição de água
encanada e coleta e tratamento de esgoto. Observe-se que o despejo de esgoto, sem tratamento
adequado, nos rios, lagos e mares afeta a qualidade das águas e constitui-se em um grave
problema ambiental, social e de saúde pública. Segundo dados do SNIS (2014), Recife,
encontra-se nos 12% que recebem a prestação de serviços de água e esgotos da Compesa.
10
Conselho Municipal de Saneamento – órgão colegiado de natureza consultiva, deliberativa e normativa
vinculado à Sanear (RECIFE, 2005, p. 2).
Elaboração
Controle e
Aprovação
Avaliação
Execução
Leis
Orçamentárias
LDO Tático
Curto Prazo
LOA Operacional
11
Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras
providências (BRASIL, 2000).
12
Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União,
dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal (BRASIL, 1964).
serviços para a população, buscando o desenvolvimento do país. Neste plano são definidas as
grandes prioridades do governo para o período.
Por conseguinte, torna-se a ferramenta mais importante do Planejamento
Governamental, não apenas, para União, mas também, para Estados e Municípios. Pois, o
PPA condiciona a elaboração de todos os demais planos, que devem estar em consonância e
harmonizar-se com o PPA, conforme dispõe art. 165, § 4º da CF/88 “os planos e programas
nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em consonância
com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional” (BRASIL, 1988), além de
direcionar o orçamento.
Neste sentido, Paludo (2013, p. 81), conceitua o planejamento governamental como a
atividade que, a partir de diagnósticos e estudos prospectivos, orienta as escolhas de políticas
públicas, sendo o PPA um instrumento desse planejamento, que define diretrizes, objetivos e
metas com o propósito de viabilizar a implementação e a gestão das políticas públicas. Além
de estabelecer o trinômio diretrizes, objetivos e metas, de forma regionalizada, para as
despesas de capital e outras delas decorrentes e às relativas a programas de duração
continuada, conforme o ordenamento constitucional, o PPA é também o principal instrumento
de organização da atuação governamental.
Em síntese, é através deste plano, e por meio de ações governamentais, que os
governantes buscam definir soluções para os diversos problemas (saúde, educação,
mobilidade, saneamento, etc.) existentes. O PPA compreende o conjunto de ações que devem
ser realizadas pelo governo no período de quatro anos. Se um governante tem como uma de
suas metas de governo resolver o problema do saneamento básico ele tem que inserir isto no
PPA. E como fazer isto? Através de um programa que vai prever todas as ações que serão
executadas para resolver o problema em tela. Além disso, o PPA vai determinar quanto será
realizado em cada ano e quanto vai custar o total das ações.
A elaboração do PPA é de responsabilidade do chefe do Executivo. O PPA é um
plano de médio prazo, elaborado para ter vigência por um período de quatro anos, conforme já
mencionado.
O projeto de lei do PPA deve ser enviado ao Congresso Nacional (no caso da União),
até 31 de agosto do primeiro ano de cada mandato presidencial, devendo ser aprovado até o
encerramento da sessão legislativa, em 22 de dezembro. No caso dos Estados e municípios,
vigoram os prazos que estão estabelecidos nas respectivas Constituições Estaduais, Leis
Orgânicas municipais e regimento interno das Assembleias Legislativas e das Câmaras
Municipais (ILB, 2013, p.43). Caso não possuam datas fixadas, ficam condicionados aos
prazos especificados na CF/88.
Uma vez sancionado e publicado, o PPA estará apto a ser executado nos próximos
quatro anos. Esse período inicia-se a partir do segundo ano de mandato presidencial
(governador ou prefeito) até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial
subsequente. Destaque-se que a vigência do PPA não coincide com o mandato do chefe do
Poder Executivo, conforme ilustra a figura, abaixo. Pois, o primeiro ano de vigência do PPA
será o segundo ano do mandato do chefe do Poder Executivo. No caso da União, o chefe do
Poder Executivo é o Presidente da República; nos Estados, o Governador; e nos municípios, o
Prefeito. Isso ocorre para que não haja descontinuidade de programas governamentais na
transição de um governo a outro.
Mandato 1 Mandato 2
1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano
PPA
Antes de efetuar o orçamento de cada ano o governo prepara e encaminha para ser
discutida no Congresso, Assembleias ou Câmaras uma outra lei intitulada; Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO). Esta é uma lei anual que estabelece, entre outros assuntos, as metas e
prioridades do governo, ou seja, quais as obras e os serviços mais importantes a serem
realizados no ano seguinte. A LDO dita as regras que deverão ser observadas na formulação
do projeto da LOA pelo Poder Executivo e na discussão, votação e aprovação pelo Poder
Legislativo. Saliente-se que a LDO subordina-se ao PPA, no que concerne à programação
prioritária.
O Poder Executivo possui prazo até 15 de abril de cada ano para encaminhar o
projeto da LDO ao Congresso Nacional. A votação da LDO, normalmente se encerra até o
mês de junho e se tem até 31 de agosto (o não encaminhamento da lei até este prazo implica
em crime de responsabilidade do Presidente da República) para encaminhar a proposta de
LOA ao Congresso.
A Lei Orçamentária Anual, define como será produzido o orçamento anual e quais
serão os gastos mais importantes para o período. No PPA, estão as grandes prioridades para
um período de quatro anos. Mas, este planejamento precisa ser ajustado a cada ano de acordo
com as necessidade e metas do governo para o ano seguinte.
Neste sentido, é a LDO que define quais as despesas mais importantes que o governo
deve fazer a cada ano. A LDO, portanto, faz a ligação entre o plano estratégico de médio
prazo estabelecido no PPA com o plano operacional de curto prazo representado pelo
Orçamento Anual (LOA). Além de definir quais são as prioridades13 que deverão constar no
orçamento anual ela também traz uma série de regras para elaborar, organizar e executar o
orçamento. Portanto, como o próprio nome sugere a LDO é uma lei diretiva.
O Orçamento da União vem desde o PPA, que define qual caminho deve seguir, qual
rumo as despesas devem tomar ao longo desse período.
13
No caso da União, a LDO retira do PPA as prioridades que LOA deve contemplar em cada ano, mas essas
prioridades não são absolutas, uma vez que, existem outras despesas prioritárias: i) obrigações constitucionais e
legais; ii) manutenção e funcionamento dos órgãos/entidades; iii) PAC e programa de superação da extrema
pobreza ;e iv) as demais despesas priorizadas pela LDO (PALUDO, 2013, p,74).
As ações fazem parte do orçamento, mas antes de fazerem parte do orçamento elas
devem estar previstas no PPA. O PPA define as ações para um período de quatro anos. E
anualmente o orçamento, através da LOA, irá destinar os recursos financeiros para parte dos
programas/ações do PPA.
A LOA é um instrumento de planejamento de curto prazo, um ano, de iniciativa
privativa do chefe do Poder Executivo. Deve estar compatível com a CF/88, com a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), com a Lei 4.320/1964, com o PPA e com a LDO, conforme
ilustra a figura 4. É a lei que viabiliza a realização dos programas e das políticas públicas com
o intuito de propiciar o bem-estar da coletividade.
Cabe a Lei Orçamentária Anual (LOA), à luz do PPA e da LDO, estimar receitas e
fixar despesas, de modo a efetivamente autorizar a realização de gastos públicos em
determinado exercício financeiro.
É na LOA que o governo demonstra todas as receitas e despesas para o ano seguinte.
A LOA é composta de três documentos, também denominados de orçamentos: fiscal,
seguridade social e investimento das empresas estatais.
a) orçamento fiscal – contempla os gastos em infraestrutura, educação, agricultura,
manutenção dos órgãos, transferências de receitas tributárias federais para Estados e
municípios, entre outros, e discrimina as receitas de acordo com a origem.
b) orçamento da seguridade social – lista os desembolsos com benefícios previdenciários
(aposentadorias, pensões, etc.), assistência social e saúde e discrimina as receitas de
contribuições sociais e de transferências recebidas do orçamento fiscal.
c) orçamento de investimento das empresas estatais – contempla apenas este tipo de
gasto, com as respectivas fontes de financiamento. Observe que os demais gastos das
estatais, como manutenção e pagamento de pessoal, não entram na LOA.
Os recursos que vão constar da proposta orçamentária são discutidos dentro de uma
perspectiva de ambiente econômico. Situação da economia, qual será a taxa de inflação do
ano seguinte, qual é a evolução do crescimento da economia, qual será a taxa de câmbio de
juros. Estes são alguns parâmetros básicos que norteiam a estimativa de receita. Para União
existe a Secretaria da Receita Federal que é responsável pela arrecadação e acompanhamento
de todos os impostos e das principais contribuições sociais que fornece uma estimativa inicial.
Há também o INSS que fornece uma estimativa de arrecadação da receita da contribuição dos
empregadores/trabalhadores para a Previdência. Além da arrecadação direta de diversas
entidades da máquina pública que possuem diversas taxas que são recolhidas ao longo dos
Planejamento Governamental e Gestão de Cidades
50
serviços que são prestados. No final estes números são discutidos pelo Ministério do
Planejamento e pelo Ministério da Fazenda e através de sucessivas reuniões vão sendo
discutidos os números até que se chegue a valores mais apropriados para constar na proposta.
No caso dos Estados e Municípios, vigoram os prazos que estão estabelecidos nas
respectivas Constituições Estaduais, Leis Orgânicas Municipais e Regimento Interno das
Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais (ILB, 2013, p.43).
O fato de ser necessária a autorização legal para a realização do gasto público não
significa, todavia, que a previsão de determinada despesa na LOA, por si só, gere direito
subjetivo para os destinatários das dotações orçamentárias. O que ocorre é que, embora só
possa ser gasto aquilo que for autorizado pela LOA, nem toda a despesa nela fixada deva
necessariamente ser executada. Em virtude do exposto, afirma-se, por consequência, que o
orçamento não é impositivo, mas sim autorizativo. (BRASIL-TCU, 2012).
Isso significa que o orçamento fixa um teto de gastos que pode ou não ser observado,
conforme o exclusivo critério dos gestores públicos. Há notícias de que até mesmo tal limite
de teto é, eventualmente, desobedecido, sem consequências mais sérias para os infratores. Por
outro lado, o caráter autorizativo da lei orçamentária gera rigidez, decorrente da coexistência
de um elevado volume de despesas obrigatórias e vinculações de receitas a finalidades
específicas o que reduz significativamente a margem de liberdade dos gestores públicos.
Entretanto, essa situação não condiz com o ideal das estruturas normativas vigentes,
a começar pelo princípio republicano que rege o nosso Estado democrático de Direito. A
República respalda o dever de o agente público prestar contas, a qualquer momento, não
apenas sobre o que faz, mas também acerca do que deixa de fazer. Afinal, as suas decisões se
referem ao patrimônio ou à coisa comum, com reflexo sobre todos os cidadãos (PEDERIVA,
2008, p. A2).
Diante do exposto, observa-se que as razões acerca das controversas a respeito do
caráter do orçamento no Brasil fazem parte do mundo da política, onde a técnica pouca
contribuição tem a dar (ILB, p. 24).
Cabe observar, que as despesas obrigatórias decorrem não da lei orçamentária, mas
de outras normas e princípios que estipulam a obrigatoriedade, a exemplo do que ocorre em
relação a despesas com pessoal e às transferências constitucionais ou legais por repartição de
receita.
Mas, de onde vêm os recursos para execução das obras de infraestrutura e para a
prestação dos serviços públicos ofertados à sociedade?
Os recursos advêm do Orçamento Público. E o que é Orçamento Público?
Não há uma definição de orçamento livre de críticas e aceita pacificamente pela
maioria dos estudiosos na área. Entretanto, Angélico (1995, p. 19-20) destaca três teorias
centrais. A primeira, liderada pelo economista alemão Hoennel, declara que o orçamento é
sempre uma lei. A segunda conduzida pelo constitucionalista francês Léon Duguit, afirma que
o orçamento é, em algumas de suas partes, um simples ato administrativo, às vezes
essencialmente contábil e, em outras partes, ele é lei. A última teoria, comandada pelo
financista Gaston Jèze, entende que o orçamento possui apenas a aparência de lei, mas sua
substância não é de uma lei. Saliente-se que essas são definições sob a ótica financeira.
Para operacionalização da pesquisa, o orçamento será conceituado à luz da teoria que
declara que o orçamento será essencialmente uma lei. Acrescentando-se que ele possui como
objetivo precípuo, executar o programa de trabalho do Poder Executivo, expresso nos planos
de custeio dos serviços públicos, planos de investimentos, etc.
Neste sentido, o orçamento é uma prévia autorização do Legislativo para que se
realizem receitas e despesas de um ente público, em determinado período de tempo. Através
do orçamento, pode-se aferir a real situação econômica do Estado, evidenciando-se seus
gastos com saúde, pessoal, educação, transportes, saneamento, etc. (PIRES, 2005, p.73). De
acordo com Deodato (1984), analisando sob á ótica econômica, o orçamento é, na sua mais
exata expressão, o quadro orgânico da economia pública. É o espelho da vida do Estado e
pelas cifras, conhecem-se os detalhes de seu processo, de sua cultura e de sua civilização. Na
sequência, apresentam-se os princípios orçamentários.
“os princípios são de grande utilidade para o orçamento público no que diz
respeito aos aspectos financeiro, contábil e ético. Servem,
fundamentalmente, como instrumento de controle social, posto que,
fornecem as condições para que os atos financeiros do Estado sejam
conhecidos e avaliados pela sociedade (ILB, 2013, p.19)”.
No Setor Público, o estudo do orçamento faz parte de uma disciplina mais ampla
denominada Finanças Públicas, cujo objeto de estudo é a Atividade Financeira do Estado,
normatizada/disciplinada pelo Direito Financeiro, ou seja, o Direito Financeiro é o conjunto
de leis que regulam a atividade financeira do Estado. Esta atividade abrange: receita, despesa,
orçamento e crédito público. O Direito Tributário, por sua vez, trata apenas dos tributos e das
receitas tributárias (impostos, taxas e contribuições). Este, por sua vez, compreende o
conjunto de normas que regulam a instituição e arrecadação desses tributos e a relação
jurídica do Estado com os contribuintes.
A Atividade Financeira é o processo pelo qual o Estado arrecada (obtém receitas)
para atender aos vários gastos públicos (despesa pública). É exercida pelo Estado visando ao
bem comum da coletividade, aplicada na esfera federal, estadual e municipal, e, segundo
Baleeiro (1973, p. 18), consiste em:
a) obter recursos – receita pública;
b) despender recursos – despesa pública;
c) gerir e planejar os recursos – orçamento público; e
d) criar crédito – empréstimo público.
Receita OBTER
Pública Recursos
CRIAR Despesa
Créditos Pública
Empréstimo APLICAR
Público Recursos
GERIR Orçamento
Recuros Público
Figura 6– Atividade financeira do Estado
Fonte: PALUDO, 2013.
corresponde a obtenção de recursos através da arrecadação das receitas, que são ingressos
financeiros nos cofres públicos (PALUDO, 2013).
A Receita Pública dimensiona a capacidade do Governo em realizar despesas, ou
seja, a receita determina os gastos governamentais através do princípio de equilíbrio,
conforme exposto no item 2.2.1, alínea g, página 51.
Segundo o Manual de Procedimentos da Receita Pública, receitas públicas são:
A Lei nº 4.320/64, em seu art. 57, ressalvado o disposto no parágrafo único do artigo
3º, da referida lei, declara que serão classificadas como receitas orçamentárias, sob as rubricas
próprias, todas as receitas arrecadadas, inclusive as provenientes de operações de crédito,
ainda que não previstas no orçamento.
Saliente-se que a Lei supramencionada, regulamenta os ingressos de disponibilidades
de todos os entes da federação, classificando-os em dois grupos: Extraorçamentários e
Orçamentários.
Os Ingressos Extraorçamentários, são aqueles pertencentes a terceiros, arrecadados
pelo ente público exclusivamente para fazer face às exigências contratuais pactuadas para
posterior devolução. Esses ingressos são denominados Recursos de Terceiros. Constituem
estes recursos: os depósitos, restos a pagar do exercício, operações de crédito por antecipação
da receita, etc.
Os ingressos orçamentários são aqueles pertencentes ao ente público, arrecadados
exclusivamente para aplicação em programas e ações governamentais, são também aquelas
que podem ser previstos no orçamento e constituem fontes para o pagamento das despesas
autorizadas. Esses ingressos são denominados Receita Pública. A Lei nº 4.320/64, em seu art.
11, classifica a receita pública orçamentária em duas categorias econômicas:
a) receitas correntes – são também denominadas primárias ou efetivas. São exemplos de
receitas correntes: a tributária (impostos, taxas, contribuições de melhoria, etc.), de
contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, dos aluguéis que o Governo
recebe, dos serviços que ele comercializa e até de produtos que ele produz e vende no
mercado, entre outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de
outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas
classificáveis em despesas correntes;
Categoria
Origem
Econômica
1. Tributária
2. Contribuições
RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS
3. Patrimonial
1. Receitas 4. Agropecuária
Correntes 5. Industrial
6. Serviços
7. Transferências correntes
8. Outras receitas correntes
Receitas correntes intraorçamentárias
1. Operações de crédito
2. Alienação de bens
2. Receitas
3. Amortização de empréstimos
de Capital
4. Transferências de capital
5. Outras receitas de capital
Receitas de capital intraorçamentárias
Figura 7 – Receitas orçamentárias por categoria econômica e origem
Fonte: Adaptado BRASIL - MPOG, 2008, 2011, 2013.
classificados como fiscais e como fundos de natureza parafiscal14, administrados pelo ente
público. Os principais fundos utilizados no setor do saneamento são o FGTS, FAT, PIS,
CONFINS.
Como dito, a atividade financeira é exercida pelo Estado visando ao bem comum da
coletividade, mas para que isso ocorra, torna-se necessária a intervenção do Estado na
economia através de suas funções clássicas (alocativa, distributiva e estabilizadora) e do
orçamento público.
A despesa pública é definida como o conjunto de dispêndios do Estado ou de outra
pessoa de Direito Público para o funcionamento dos serviços públicos e encargos assumidos
no interesse geral da comunidade. Nesse sentido, a despesa, como parte do orçamento,
compreende as autorizações para gastos com as várias atribuições e funções governamentais.
Em outras palavras, as despesas públicas correspondem à distribuição e ao emprego das
receitas para o custeio de diferentes setores da Administração e para os investimentos. Cabe
observar que é através das despesas públicas que os programas e as ações governamentais são
implementados (SILVA, 2007).
De acordo com Kohama (2010), Carvalho (2010), Angélico (1995), Manuais
Técnicos de Orçamento (2013), a despesa orçamentária classifica-se em dois grandes grupos,
a saber:
a) despesa orçamentária – aquela executada por entidade pública e que depende de
autorização legislativa para sua realização, por meio da Lei Orçamentária Anual ou de
créditos adicionais, pertencendo ao exercício financeiro da emissão do respectivo
empenho, ou seja, conjunto de gastos públicos autorizados através do orçamento ou de
créditos adicionais;
b) despesa extraorçamentária – é a despesa que não consta da lei do orçamento,
compreendendo as diversas saídas de numerário decorrentes do levantamento de
depósitos, cauções, pagamento de restos a pagar, resgate de operações de créditos por
antecipação de receita, bem como quaisquer valores que se revistam de características
14
Fundos parafiscais – são aqueles originados na cobrança de taxas ou contribuições especialmente criadas para
alimentá-los. Essas taxas incidem sobre vários fluxos financeiros, dentre eles, lucros, receitas brutas, folhas de
pagamento, etc.(VASCONCELOS, 2011, p. 259).
15
Para melhor compreensão sobre o modelo de Gestão adotado pela Prefeitura da Cidade do Recife desde então,
ver: Galindo (2004), FERREIRA, D. R. F (2012), FERREIRA, H. M. R. (2012).
Diretrizes são critérios de ação e decisão que norteiam as medidas a serem adotadas
pelo Governo para a consecução dos objetivos; os objetivos, de sua parte, são os resultados a
serem alcançados por intermédio das ações governamentais; já as metas, por sua vez, são
subdivisões dos objetivos, expressas numericamente; e, por fim, os programas são os
instrumentos que articulam um conjunto de ações que devem ser implementadas para a
consecução de objetivos preestabelecidos no Plano Plurianual (BRASIL - MPOG, 2008,
2011, 2013; BRASIL-TCU, 2012; ILB, 2013). O PPA, por conseguinte, é composto pela
totalidade dos programas que reúnem as ações governamentais planejadas para o período de
sua vigência. Visando à solução de um problema ou o atendimento de determinada
necessidade ou demanda da sociedade.
Saliente-se que o programa é detalhado em ação. Esta, dependendo de sua natureza
de atuação, classifica-se como (BRASIL, 1998; PISCITELLI, TIMBÓ e ROSA, 1999):
a) atividade é um instrumento utilizado para alcançar o objetivo de um
programa, envolve um conjunto de operações que se realizam de modo
contínuo e permanente, das quais resulta um produto ou serviço necessário à
manutenção da ação de governo. Por exemplo, campanha de educação
sanitária. É identificado através dos números 2, 4, 6 ou 8 na codificação do
programa de trabalho (10º dígito);
b) projeto é um instrumento utilizado para alcançar o objetivo de um programa,
envolve um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um
produto que contribui para expansão ou aperfeiçoamento da ação de governo
É identificado através dos números 1, 3, 5 ou 7 na codificação do programa
de trabalho (10º dígito). Como exemplo, cita-se; a construção de uma estação
de tratamento de esgoto;
c) operação especial é uma despesa que não contribui para a manutenção das
ações de Governo, das quais não resulta um produto, e não geram
contraprestação direta sob a forma de bens e serviços.
Nos PPA da cidade do Recife, as ações recebem mais uma desagregação denominada
“Operação”. Esta consiste no maior detalhamento que a ação (classificada como atividade,
projeto ou operação especial) é apresentada no PPA. A operação consiste no meio através do
qual se concretiza a ação, sua estrutura discrimina o que deverá ser realizado, a unidade de
medida, a quantidade e a localização. As operações permitem a identificação do tipo de
investimento (estudo, obra, etc.), da quantidade e da localização geográfica do
Planejamento Governamental e Gestão de Cidades
60
O PPA deve ser monitorado e avaliado ao longo de sua execução, pois, por ocasião
de eventual mudança no cenário econômico e/ou nas demandas da população, deve ser
reavaliado e ajustado à nova realidade. De acordo com a Constituição do Estado de
Pernambuco (PERNAMBUCO, 1989), as revisões do PPA podem ser elaboradas a cada ano.
gestão dos recursos públicos, pois permitem a visualização da despesa sob diferentes
enfoques, conforme o ângulo que se pretende analisar. A partir delas são realizadas a
programação, a execução, o controle e a avaliação das despesas e realizações da gestão
pública naquele período. O instrumento legal que orienta as classificações orçamentárias da
despesa pública, nas três esferas de poder (União, Estados e Municípios), é o Manual Técnico
de Orçamento (MTO), complementado pelos Manuais de Despesa Nacional e de
Contabilidade da STN/SOF. Os conceitos descritos Lei nº 4.320/1964 também são
amplamente utilizados.
De acordo com esse sistema, cada despesa pública é identificada a partir da
combinação de diversos elementos de classificação, que se constituem em um conjunto de
dígitos, conforme a figura abaixo:
16
Ação não orçamentária é aquela que não demanda recursos públicos para sua realização (BRASIL, 2008).
A classificação por fonte de recurso (três dígitos) identifica a origem dos recursos
que estão sendo utilizados para garantir a execução das despesas. O primeiro dígito
indica o grupo dos recursos, que pode ser; recursos do tesouro – exercício corrente,
recursos de outras fontes – exercício corrente, recursos do tesouro – exercícios
anteriores, recursos de outras fontes – exercícios anteriores e recursos
condicionados. Os dois últimos dígitos especificam as fontes, totalizando 98
categorias, a título de exemplo cita-se: recursos ordinários, dividendos da união,
etc.
A Lei 4.320/64 em seu art. 58, conceitua o empenho de despesa como “o ato
emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente
ou não de implemento de condição”. Saliente-se, que os valores empenhados não poderão
exceder o limite dos créditos concedidos, conforme expõe art. 59, caput da Lei supracitada, na
dotação própria, não se admitindo, igualmente, a realização de despesa sem prévio empenho,
art. 60, caput da Lei 4.320/64.
Em virtude do exposto, as análises orçamentárias realizadas na presente pesquisa
consideram os valores empenhados.
O próximo item declara as fundamentações teóricas acerca da intervenção do Estado
na economia. Segundo Bresser (2013), constitui um equívoco comparar a administração
pública com a administração de privada, pois a primeira é monopolista e foca o bem público,
enquanto a segunda compete no mercado e mira a expansão e o lucro. Neste sentido, expõe-se
no próximo item Elementos de Finanças Públicas direcionados ao saneamento básico.
que é impossível excluir alguém do seu consumo”. Segundo Giambiagi e Além (2011, p. 5),
“é por esta razão que a responsabilidade pela provisão de bens públicos recai sobre o governo,
que financia a produção desses bens através da cobrança compulsória de impostos”.
Ressalta-se que é raro encontrar bens públicos puros que atendam às características
de não-rivalidade e não-exclusividade. Geralmente, o que há é um contínuo em que uma parte
maior ou menor dessas características é observada (REZENDE, 2012, p. 28). Neste sentido,
observe-se que os serviços de saúde, educação, saneamento etc. caracterizam-se como bens
semi-públicos, pois apresentam consumo excludente (só quem paga usa), mas apresentam
também externalidades positivas, ou seja, o benefício social é maior que o benefício privado o
que também justifica a intervenção governamental.
A necessidade de ampliação da oferta de bens públicos e semi-públicos está
correlacionada ao crescimento populacional. Uma vez que, um maior número de habitantes
aumenta a demanda dos serviços de segurança, saúde, educação, saneamento etc. De acordo
com Rezende (2012, p. 28), incrementos na urbanização aumentam a demanda de serviços
urbanos, tais como: ruas, praças, trânsito, saneamento, polícia, bombeiro etc. Outro
condicionante importante da ampliação da oferta de bens públicos e meritórios é a elevação
do nível de renda per capita, que propicia a elevação do padrão de vida da população,
alargando, por exemplo, o tempo disponível para o lazer, o que gera a demanda de novos bens
públicos, como: museus, parques etc.
2.5.2 Externalidades
De acordo com Giambiagi e Além (2011, p. 6), há setores da economia cujo processo
produtivo caracteriza-se pelos retornos crescentes de escala, em outras palavras, os custos
unitários de produção declinam conforme aumentam a quantidade produzida. Como exemplo,
cita-se o setor do saneamento básico, que assim como outros serviços públicos de
infraestrutura, possui sob o ponto de vista econômico atividades com um custo fixo elevado
em capital específico17. Além dos custos incrementais, custos de curto de prazo, como
materiais de tratamento, energia e etc.
Sendo assim, dependendo do tamanho do mercado consumidor dos bens e/ou
serviços desses setores, pode ser mais viável economicamente haver apenas uma empresa
produtora do bem em questão. Um exemplo dado por Nozaki ilustra a explanação acima.
17
Construção e manutenção de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, redes de distribuição e
coleta e equipamentos (OLIVEIRA; SCAZUFCA, 2006).
municípios mais populosos18. Todavia, o Brasil possui uma situação díspare, seja sob o ponto
de vista demográfico, econômico, social, etc., o que sinaliza que a viabilidade econômica
individual é um problema não trivial (OLIVEIRA; SCAZUFCA, 2006, p. 18). Segundo dados
do Censo demográfico (2010), o Brasil possui mais de 190 milhões de habitantes e mais de
cinco mil municípios. Onde 1.301 municípios com menos de 50 mil habitantes abrigam 2,3%
da população. Enquanto 38 municípios, com mais de 500 mil habitantes, domiciliam 29,3%
da população brasileira, conforme ilustra o gráfico 6 (IBGE-Sidra (a), 2010).
População % Nº de municípios
35% 2.000
1.766 29,3% 1.800
30%
1.600
25% 1.400
1.301
20%
1.212 1.200
(unidade)
(%)
14,6% 14,5%
1.000
15% 12,2% 800
11,7% 11,0%
678
10% 600
4,5% 400
325
5% 2,3%
184 200
61 38
0% 0
> 5.000 5.000 a 10.000 a 25.000 a 50.000 a 100.000 a 250.000 a < de
10.000 25.000 50.000 100.000 250.000 500.000 500.000
18
Naturalmente o tamanho da população constitui apenas uma variável envolvida na determinação do custo. O
grau de verticalização, a topografia e o tipo de tecnologia constituem alguns, dentre vários fatores, que
influenciam o custo (OLIVEIRA; SCAZUFCA, 2006, p. 18).
Segundo Popper (2007) as teorias não são verificáveis, mas podem ser
“corroboradas”. O autor afirma ainda que não existe o conhecimento absoluto, sem erro,
absolutamente certo. Tudo o que existe é provisório. Para Popper a posse do conhecimento é a
procura da verdade.
Objetivo Geral
final. Porém, ao longo dos trabalhos de pesquisa, verificou-se que o primeiro PPA elaborado
pela Prefeitura do Recife apresentou uma deficiência relevante para os objetivos da pesquisa,
ele não apresentou a alocação dos recursos por projeto. Esse fato impediu que se
acompanhasse o fluxo ao longo do caminho: PPA, LOA e execução orçamentária, pois em
todos esses instrumentos, exceto naquele PPA, a unidade de alocação de recursos que permite
a visualização dos recursos destinados a Saneamento Básico Urbano é o de Projeto. Diante
desse fato, decidiu-se excluir o PPA que cobriu o período de 2002 a 2005, ficando o recorte
temporal da pesquisa relativo ao período 2006-2013, o que compreende dois PPA totalmente
concluídos, e um período dos últimos oito anos, período razoável para se perceber uma
tendência ou trajetória dos recursos financeiros alocados no setor, na cidade do Recife.
Objetivos Específicos
geral da pesquisa. Esses passos estão apresentados em relação ao atingimento de cada um dos
objetivos específicos.
O recorte temporal utilizado na pesquisa foi o de 2006 a 2013, período que engloba
dois PPA. Ressalte-se que os investimentos em saneamento básico são majoritariamente
públicos, justificando-se, portanto, a adequação do recorte temporal ao período compreendido
pelos dois últimos PPA do município do Recife.
Público-
Roteiros Conteúdo
alvo/data
Para realizar uma avaliação dos investimentos no setor de saneamento
básico, seria uma boa medida analisar o orçamento fiscal e de
investimento das estatais? Só eles bastariam? Profissionais
As obras em saneamento realizadas pelo Estado e pela União figuram da
no orçamento municipal? Controladori
Se sim, onde? a Geral do
Município
Se não, como e onde obtenho esses dados?
do Recife
Onde conseguir informações sobre o orçamento de investimento das
estatais independentes?
(Órgão
É possível localizar o gasto no orçamento, por exemplo: onde foi
1 responsável
implantada uma ETE?
pela gestão
O orçamento da União permite emendas por parte dos deputados, no orçamentária
caso de se tratar de ente municipal, a Câmara dos Vereadores também do
pode oferecer emendas ao orçamento municipal? município)
O que é Orçamento Participativo?
O orçamento da cidade do Recife é considerado participativo? Período das
É possível identificar no orçamento fiscal e de investimento das estatais entrevistas:
quais investimentos advém de demandas do orçamento participativo? 2013-2014
Quantos por cento do orçamento destinado a sub-função saneamento
básico urbano (512) é de caráter participativo?
Qual a atribuição do órgão em realizar investimentos em saneamento Profissionais
básico? responsáveis
Como ocorre a classificação orçamentária por subfunção, quais critérios pela
são utilizados? execução
orçamentária
Como ocorre a classificação por subfunção em projetos que envolvem da Sesan,
várias funções? Sanear,
2 Examinando a execução orçamentária, há possibilidade de saber o Emlurb e
destino de uma dotação orçamentária em caso de transferência dos Urb.
recursos de uma ação para outra, dentro do mesmo programa?
A PCR utiliza algum Manual próprio para estabelecer as diretrizes da (Órgãos que
execução orçamentária, mais especificamente, a PCR determina quando realizaram
se deve utilizar a subfunção saneamento básico urbano (512) em obras investimento
de pavimentação e drenagem ao invés da função infraestrutura urbana s em
(451)? saneamento
A coleta dos dados primários foi realizada com o objetivo de sanar lacunas
conceituais que subsistiram após a pesquisa bibliográfica e documental. Já a coleta de dados
secundários consistiu na utilização de informações já existentes em diversas fontes como
IBGE, instituições governamentais, relatórios internos de empresas etc., com o objetivo de
produzir conhecimento a partir da conexão de dados antes dispersos nessas fontes. Os dados
referentes aos PPA foram coletados no Portal da Transparência da PCR, que disponibiliza
demonstrativos contábeis, fiscais, governamentais e execuções orçamentárias (receitas e
despesas) do município do Recife.
O quadro abaixo apresenta as fontes secundárias que constituíram a base de dados da
presente pesquisa.
Base de Documentos/
Períodos Fonte
Dados Informações
2006 – 2009 e http://portaltransparencia.recife.pe.gov.br/codig
revisões os/web/geral/home.php.
PPA
2010 – 2013 e http://portaltransparencia.recife.pe.gov.br/codig
Portal da revisões os/web/geral/home.php.
Transpar http://portaltransparencia.recife.pe.gov.br/codig
LDO 2006-2013
ência - os/web/estaticos/estaticos.php?nat=PO#filho
PCR http://portaltransparencia.recife.pe.gov.br/uploa
LOA 2006-2013
ds/pdf/loa_2005.pdf
Execução orçamentária 2006 - 2013 http://portaltransparencia.recife.pe.gov.br/codig
os/web/geral/home.php.
Sidra –
PIB nacional e população 2000-2012 http://www.sidra.ibge.gov.br/
IBGE
Geociên
http://downloads.ibge.gov.br/downloads_geocie
cias – Malha digital 2010
ncias.htm.
IBGE
Séries
http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?n
Estatístic
Economia e demografia 1900-2011 o=10&op=0&vcodigo=CD90&t=populacao-
as –
presente-residente.
IBGE
Condepe PIB municipal 2000-2011 http://www.condepefidem.pe.gov.br/web/conde
/ Fidem pe-fidem.
SNIS Informações de água, 2000-2012 http://www.cidades.gov.br/serieHistorica/
esgotos e resíduos sólidos
Base de Documentos/
Períodos Fonte
Dados Informações
Sanear Relatório dos investimentos 2002-2013 Relatório Interno – Ofício nº 154/2013
realizados em SBU, com a
referida localização
geográfica e a tipologia do
investimento.
Emlurb Relatório dos investimentos 2002-2013 Relatório Interno – Ofício nº 165/2013
realizados em SBU, com a
referida localização
geográfica e a tipologia do
investimento.
Urb Relatório dos investimentos 2002-2013 Relatório Interno – Ofício nº 164/2013
realizados em SBU, com a
referida localização
geográfica e a tipologia do
investimento.
Quadro 3 - Lista das fontes secundárias utilizadas na pesquisa
Fonte: Autora.
pesquisa, como também por meio de métodos da estatística descritiva e inferencial, como foi
o caso da relação entre os investimentos e Índice de Atendimento Urbano de Esgoto (IN047).
(ii) Análise 2: Para atingir o objetivo específico 2, foi feita uma análise nas Leis
Orçamentárias Anuais (LOA) do período de vigência de cada PPA para se verificar o volume
de recursos autorizados para gastos com SBU. Comparando-se esses volumes com aqueles
planejados no PPA, evidenciou-se a diferença entre o que foi alocado (planejado) e o que foi
efetivamente autorizado nos respectivos períodos;
(iii) Análise 3: Para atingir o objetivo específico 3, foi feita uma análise da
execução orçamentária dos quatro anos de cada PPA, procedendo-se à comparação entre os
volumes alocados (planejados) e autorizados, visando entender a efetividade do
planejamento governamental;
(iv) Análise 4: Ainda por meio de uma análise da execução orçamentária em cada
ano, foi possível quantificar e mapear os investimentos em saneamento básico urbano no
período de cada PPA. Isso permitiu quantificar o esforço para ampliação do serviço e não
apenas para manutenção. Além disso, foi possível espacializar, ao menos parcialmente, os
investimentos em saneamento básico;
governamental, por meio da quantificação dos recursos alocados nos projetos governamentais
municipais com operações destinadas ao saneamento básico.
No grupo um (1), expõe-se também as variáveis necessárias ao alcance do segundo
objetivo específico, qual seja, comparar o PPA e LOA buscando evidenciar o que foi alocado
(planejado) e o que foi efetivamente autorizado nos respectivos períodos.
tais ações. Cumpre salientar que os relatórios em tela se fazem indispensáveis ao alcance
deste objetivo específico, posto que inexiste, na Execução Orçamentária, a especificação do
elemento localizador do gasto – identificador da localização física da ação.
envolvem a peça orçamentária, a maior parte dos referidos procedimentos foram aplicados no
capítulo subsequente, neste são expostos e analisados os resultados da pesquisa.
O presente capítulo tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa. Seu foco
principal é a análise da relação entre os gastos com saneamento previstos no planejamento
governamental, ou seja, nos PPA e nas LOA, e aqueles realmente efetivados, no Recife, no
período entre 2006 a 2013. Para isso, inicia-se com a contextualização do objeto empírico do
estudo, realizando-se uma breve caracterização da cidade do Recife em relação aos seus
aspectos sociais, econômicos e demográficos. Segue-se, então, a apresentação dos resultados
da pesquisa, baseados na identificação, análise e cotejamento das propostas municipais de
investimento em saneamento básico, expressas nos projetos e operações dos PPA em exame,
com suas respectivas execuções orçamentárias.
Tabela 2 – PIB, PIB per capita e IDHM do NE e das principais capitais nordestinas (milhões R$)
Variável NE PE Recife Fortaleza Salvador
PIB (2011) 555.325 104.394 33.149 42.010 38.820
PIB per capita (em reais) 10.380 11.776 21.435 16.963 14.412
IDHM (2010) ... 0,673 0,772 0,754 0,759
Fonte: IBGE – Sidra (b), 2013; PNUD, 2010.
19
Além da Cidade do Recife, a RMR é constituída pelos municípios de Olinda, Abreu e Lima, Paulista, Igarassu,
Itapissuma, Ilha de Itamaracá, Araçoiaba, Camaragibe, São Lourenço da Mata, Moreno, Jaboatão dos
Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca (PERNAMBUCO, 1994).
20
Segundo o IBGE-Regic (2008), os doze principais centros urbanos do Brasil são: i) São Paulo – grande
metrópole nacional; ii) Rio de Janeiro e Brasília – metrópoles nacionais; iii) Manaus, Belém, Fortaleza, Recife,
Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre – metrópoles.
Em termos de urbanização, os níveis são altos, tanto para Região Nordeste como para
o Estado de Pernambuco, com 73,13% e 80,17% das suas populações, respectivamente,
residindo em aglomerados urbanos (IBGE-Censo, 2010). Recife, Fortaleza e Salvador
possuem a totalidade de sua população residindo em área urbana (tabela 4). Essas capitais
reunidas concentraram 12,6% da população e ocuparam 0,08% do território nordestino.
Aspectos Econômicos
apenas 0,04% do Valor Adicionado Bruto21 (VAB) do município, enquanto o setor industrial
contribuiu com 18,78% e o de serviços com 81,18% (gráfico 7).
VAB
agropecuária;
0,04%
VAB
indústria;
18,78%
VAB
serviços;
81,18%
21
Valor Adicionado Bruto (VAB) ou PIB a preços básicos (pb) é o valor que a atividade agrega aos bens e
serviços consumidos em seu processo produtivo. É a contribuição ao PIB pelas diversas atividades econômicas,
obtida pela diferença entre o valor de produção e o consumo intermediário absorvido por essas atividades
(IBGE-SCN, 2008).
22
PIB a preços de mercado = VAB + impostos líquidos de subsídios.
Em consonância com a Lei 16.293/1997, art. 1º, as RPA foram demarcadas, “para
efeito de formulação, execução e avaliação permanente das políticas e do planejamento
governamentais”. Para atingir tal propósito, as RPA foram “subdivididas em microrregiões,
visando à definição das intervenções municipais à nível local e articulação com a população”
(RECIFE, 1997, p 1), conforme ilustra o quadro 8. A referida Lei também estatuiu os bairros
da cidade do Recife, utilizados, para subsidiar o levantamento de informações do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Sistema de Informações e Planejamento do
Recife, conforme estabelecido no Decreto Municipal 14.452, de 26 de outubro de 1988.
Nº de
RPA MICRORREGIÃO BAIRROS
Bairros
1.1 Recife e Santo Amaro 2
Boa Vista, Cabanga, Ilha do Leite, Paissandu, Santo Antônio, São
1 1.2
José e Soledade 7
1.3 Coelhos e Ilha Joana Bezerra 2
Arruda, Campina do Barreto, Campo Grande, Encruzilhada,
2.1
Hipódromo, Peixinhos, Ponto de Parada, Rosarinho e Torreão 9
2 2.2
Água Fria, Alto Santa Terezinha, Bomba do Hemetério, Cajueiro,
Fundão e Porto da Madeira 6
2.3 Beberibe, Dois Unidos e Linha do Tiro 3
Aflitos, Alto do Mandu, Apipucos, Casa Amarela, Casa Forte,
3.1 Derby, Dois Irmãos, Espinheiro, Graças, Jaqueira, Monteiro,
Parnamirim, Poço, Santana, Tamarineira e Sítio dos Pintos 16
3 Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho, Mangabeira, Morro da
3.2
Conceição e Vasco da Gama 5
Brejo da Guabiraba, Brejo do Beberibe, Córrego do Genipapo,
3.3
Guabiraba, Macaxeira, Nova Descoberta, Passarinho e Pau Ferro 8
Cordeiro, Ilha do Retiro, Iputinga, Madalena, Prado, Torre e
4.1
Zumbi 7
4 4.2 Engenho do Meio e Torrões 2
4.3 Caxangá, Cidade Universitária e Várzea 3
5.1 Afogados, Bongi, Mangueira, Mustardinha e San Martin 5
5 5.2 Areias, Caçote, Estância e Jiquiá 4
Barro, Coqueiral, Curado, Jardim São Paulo, Sancho, Tejipió e
5.3
Totó 7
6.1 Boa Viagem, Brasília Teimosa, Imbiribeira, Ipsep e Pina 5
6 6.2 Ibura e Jordão 2
6.3 Cohab 1
Total 94
Quadro 8 – Divisão político administrativa do Recife
Fonte: RECIFE, 1997; RECIFE, 1998.
Aspectos Sociais
23
Percentual da renda total apropriada pelos indivíduos pertencentes ao quinto mais pobre da distribuição dos
indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Considerou-se como universo os indivíduos que vivem em
domicílios particulares permanentes (PNUD, 2010).
A urbanização, como bem lembra Milton Santos (IBGE – Atlas Nacional do Brasil,
2010), é um processo que concentra cada vez mais contingentes populacionais em espaços
relativamente restritos do planeta o que acarreta diversos problemas, inclusive ambientais.
Conforme apontado no Capítulo 1, o processo de urbanização brasileiro gerou cidades cujo
crescimento não foi, via de regra, acompanhado pelo provimento de infraestrutura, em
especial em termos de saneamento básico. Pode-se compreender o saneamento básico como
um conjunto de procedimentos adotados numa determinada região com a finalidade de
proporcionar salubridade à população. Dentre os procedimentos do saneamento básico, cita-se
o tratamento de água, canalização e tratamento de esgotos, limpeza pública de ruas e
avenidas, coleta e tratamento de resíduos sólidos urbanos. Através da oferta e prestação desses
bens e serviços de saneamento básico é possível melhorar as condições de saúde da
população. A tabela 9 expõe os índices de atendimento da população em relação a
abastecimento de água e coleta e tratamento de esgotos sanitários nas principais capitais do
Nordeste.
A situação das três principais cidades nordestinas, em 2012, foi similar para o acesso
à água, com Recife apresentando o índice de atendimento de 83,60%, Fortaleza o de 89,10% e
Salvador o de 92,50%, percentuais que se aproximam da universalização do serviço. Na
contramão desse índice, exceto para Salvador, está o índice de atendimento urbano de esgoto,
o qual apresenta os percentuais de 36,62% para Recife e 49,43% para Fortaleza, distanciando-
se, por conseguinte, da universalização do serviço.
A população da cidade do Recife, em 2012, possuía taxa de cobertura de 99% do
serviço de coleta de resíduos domiciliar, com volume de resíduo per capita coletado de 1,4
(kg/hab./dia). No que tange à drenagem urbana não há informações disponíveis. Possuía
também, 83,6% da população atendida com abastecimento de água, com extensão da rede de
água de 3.035,91 km. Mas o aspecto do saneamento básico mais preocupante são os baixos
aproximadamente 25,6% do total dos domicílios, contrastando com a RPA 1 que detinha o
menor número de domicílios, cerca de 5,4% do total dos domicílios. Cumpre observar que,
nesta pesquisa, as RPA e os bairros foram utilizados como unidades territoriais de análise,
para fins de caracterização dos elementos de saneamento básico, na cidade do Recife.
Em termos de abastecimento de água, a RPA 2 possuía a maior parte de seus
domicílios com adequado abastecimento de água, cerca de, 95%, a RPA 3, por sua vez,
possuía o maior percentual de seus domicílios com inadequado abastecimento de água,
aproximadamente, 17% e, a RPA 1 detinha o maior percentual de domicílios que não
possuíam nenhuma forma de abastecimento de água (inexistente), em torno de, 0,8% dos
domicílios dessa RPA.
De acordo com a tabela 10, no que respeita à variável banheiro/sanitário com
esgotamento, a RPA 1, possuía, o maior percentual de seus domicílios inseridos na
classificação semi-adequado, cerca de, 81,6%, a RPA 2, por seu turno, apresentou a maior
parte de seus domicílios incluídos na categoria inadequado, aproximadamente, 56,4% dos
seus domicílios e, a RPA 1, por sua vez, deteve o maior percentual de domicílios pertencendo
a classificação inexistente, aproximadamente, 1,4% dos domicílios dessa RPA.
O item coleta de lixo informa que na RPA 4, a maior parte de seus domicílios
possuíam adequada coleta de lixo, cerca de, 98,8%, a RPA 1, por sua vez, apresentou a
maioria de seus domicílios com inadequada coleta de lixo, cerca de, 3,7%, e essa mesma RPA
deteve o maior percentual de domicílios com coleta de lixo inexistente, em torno de, 0,8%,
dos seus domicílios (tabela 10).
Considerando a cidade do Recife, os números revelam que no item abastecimento de
água, aproximadamente 86,7% dos domicílios da cidade, possuíam adequado abastecimento
de água, 13,2% inadequado e apenas 0,1% não possuíam abastecimento de água. O percentual
de domicílios com banheiro/sanitário e esgotamento sanitário, classificado como semi-
adequado, inadequado e inexistente foi de 54,9%, 44,5% e 0,6%, respectivamente. O item
coleta de lixo informa que 97,8% dos domicílios particulares permanentes possuíam adequada coleta
de lixo, 2,1% inadequada coleta de lixo e 0,1% não possuíam coleta de lixo.
Destaque-se que todas as informações atinentes aos domicílios particulares
permanentes, da cidade do Recife, advieram dos microdados do IBGE (Estatísticas-
Resultados do Universo, 2010). Essas informações são expostas através do quadro 9 que
revela o universo dos domicílios particulares permanentes por bairro e RPA, na cidade do
Recife, apresenta-se também a figura 12 que especializa a concentração desses domicílios.
Por fim, cabe proceder a uma breve explicação quanto a classificação adota de
semiadequado esgotamento sanitário ao invés adequado. Segundo Vasconcelos (2014),
existem dois tipos de sistemas de esgotos:
a) na França, por exemplo, o sistema utilizado é o sistema Único. Ele capta as
águas da chuva e dos esgotos, o que o torna mais caro devido ao volume de
água;
b) no Brasil, a partir das obras de Saturnino de Brito foi estabelecido o Sistema
Separador Absoluto, com sistemas independentes para as águas pluviais, que
não são tratadas e o sistema de esgotos, que tratam os esgotos antes de lançá-los
nos corpos receptores.
Em virtude da existência de sistema pluvial em 70% das áreas urbanas e apenas
30% de sistemas de esgotos, no Brasil, muitos edifícios conectaram seus esgotos as
redes pluviais, causando a poluição que se observa nos corpos receptores (rios, lagos,
etc.).
O IBGE estabelece como adequado os esgotos lançados via rede geral ou
pluvial, em virtude da impossibilidade de desagregação (rede geral e pluvial) dos dados
dos seus dados, neste sentido, portanto, optou-se pela terminologia semi-adequado, pois
entende-se que dever-se-ia adotar a terminologia adequado apenas para os esgotos
lançados via rede geral.
Para atingir tal finalidade, a ação governamental foi orientada por valores,
eixos e diretrizes estratégicas, que conformaram os programas, as ações e operações
necessárias para consecução do objetivo, a figura a seguir ilustra a lógica de atuação da
ação governamental.
Objetivo do
PPA:
solução de
problemas
Operações Eixos
Estratégicos
Ações Valores
(atividades, Diretrizes
projetos, Setoriais
operações
especiais)
Metas e
Programas Indicadores
Tipologia dos Nº de
Classe dos Programas
Programas Programas
Específicos Voltados para a Melhoria Vida das Pessoas 20
Finalísticos
Específicos Voltados para a Melhoria da Vida da Cidade 15
Melhoria da Gestão Municipal 11
De Gestão
Gestão dos Encargos 3
Total 49
Quadro 12 – Classificação dos programas do poder executivo 2006-2009
Fonte: RECIFE, 2005.
Tabela 11–Síntese: demonstrativo geral das despesas da PCR – 2006-2009 (milhões R$)
Demonstrativo Geral da Despesa da PCR 2006-2009 % no total
Poder Executivo 7.692,58 100,00%
Pessoal e Encargos Sociais 2.919,29 37,95%
Programas Específicos Voltados para a Melhoria Vida das Pessoas 1.798,70 23,38%
Programas Específicos Voltados para a Melhoria da Vida da Cidade 1.418,38 18,44%
Programas de Melhoria da Gestão Municipal 632,18 8,22%
Programa de Gestão dos Encargos 924,03 12,01%
Fonte: Fonte: RECIFE, 2005, 2006, 2007, 2008.
Unidade de
Programa Código/Projeto Operação Nº Localização
Medida
Implantar, Complementar e/ou Recuperar
RPA 1, 2, 4
Sistemas de Saneamento Básico em Áreas de comunidade 36
e5
Risco
Manter os Sistemas de Saneamento e Realizar
(1.251) Intervenções Localizadas de Esgotamento comunidade 60 Mun.*
Saneamento Sanitário e de Drenagem
em Saúde Implantar Ações de Educação Sanitária Mun.
comunidade 60
Ambiental
Implantar, Complementar e/ou Recuperar Mun.
unidade de
Sistemas de Esgotamento Sanitário 8
esgotamento
("Capibaribe Melhor")
Implantar, Complementar E/ou Recuperar Mun.
Comunidade Saudável
(1.577) Projeto 6
Requalificação de
24
As Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS - são áreas de assentamentos habitacionais de população
de baixa renda, surgidos espontaneamente, existentes, consolidados ou propostos pelo Poder Público,
onde haja possibilidade de urbanização e regularização fundiária (RECIFE, 1996).
25
Crédito Orçamentário é o valor autorizado para ser gasto num determinado projeto ou atividade, é
quanto está previsto no orçamento, ou ainda, é a dotação orçamentária (SEDAS, [s.d.]).
que foi autorizado e o que foi gasto (96%), diferentemente do que se encontrou nos
valores relativos aos projetos voltados para saneamento básico. Essa constatação sugere
que:
a) outros projetos foram priorizados em detrimentos destes, ou seja, houve
Movimentação de Créditos Orçamentários ou Descentralização de
Créditos – transferência do poder de utilizar créditos orçamentários de
uma projeto/atividade para outro projeto/atividade dentro de um órgão,
ou entre órgãos. Para isso, são anulados os créditos em uma ação e
suplementados em outra;
b) em virtude da necessidade de elaboração de projetos executivos para
consecução de algumas despesas em obras e instalações (em
saneamento, urbanização, etc.) e devido à incapacidade de alguns
órgãos em elaborar esses projetos, faz-se necessária despesa para a
contratação de serviços de terceiros. Mas, para que os serviços de
terceiros sejam contratados, faz-se necessário que haja dotação
orçamentária e disponibilidade financeira para esse fim. Se as referidas
despesas não estiverem previstas será preciso a suplementação de
créditos para essa demanda, bem como liberação de cota de recursos;
c) ou ainda, a gestão não implementou em tempo hábil o processo
administrativo de contratação de fornecedor do bem/obra/estudo a ser
adquirido (SEDAS, [s.d.], p. 4 – 8).
capital foi de aproximadamente 719 milhões (tabela 15). Ressalte-se que as despesas de
capital, provavelmente, utilizaram-se do superávit corrente para financiar o déficit de
capital.
A tabela 16, utilizando-se da classificação funcional, demonstra a despesa da
PCR executada (ou empenhada) em cada função e a participação de cada função na
despesa total. Destaque-se que a classificação por função coincide com a classificação
institucional enquanto a classificação por subfunção associa-se a ação (projeto ou
atividade). Por exemplo, quando se expõe o valor gasto pela PCR, na função
Saneamento Básico, pode-se inferir que a despesa foi realizada por algum dos órgãos ou
unidade responsáveis pelo saneamento, no caso do Recife, a Sesan, Sanear e/ou
FMSAN.
Tabela 17 – % da função saneamento na despesa total da subfunção SBU 2006-2009 (em milhões)
Despesa da Função na Subfunção % da Função na Despesa Total da
Função
SBU Subfunção SBU
Saúde 42,50 36,42%
Saneamento 74,19 63,58%
Total 116,69 100%
Fonte: RECIFE-Portal da Transparência, 2013.
Tesouro 2,41%
O Plano Plurianual- Nossa Cidade é a Gente quem Faz - foi instituído pela Lei
17.586, de 2009, para o quadriênio 2010 - 2013, em conformidade com o que dispõem o
art. 165, § 1º da CF/88, o art. 123, § 1º da Constituição do Estado de Pernambuco e o
art. 92 da Lei Orgânica do Município do Recife. O plano em análise refere-se ao
segundo ano do mandato atinente a eleição do Prefeito do Recife João da Costa Bezerra
Filho ao primeiro ano do mandato do Prefeito Geraldo Júlio.
Objetivo do
PPA:
solução de
problemas
Operações Diretrizes
Setoriais
Valores
Ações Eixos
(atividades, Estratégicos
projetos,
operações
especiais)
Programas
Valores Preposições
→ sentimento já enraizado de se dispor a compartilhar de
decisões, buscar consensos, garantir transparência, buscar
Cultura da Participação a formação de parcerias, promover a interatividade, e,
permanentemente, se envolver com a boa prática da
cidadania
→ compromisso com a preservação ambiental, com o
Cultura da exercício do planejamento, da gestão do conhecimento,
Sustentabilidade com o desafio da competitividade, a garantia do controle
de qualidade, e o combate ao desperdício
→ atitude que promove a igualdade de oportunidades, a
Cultura da Paz democratização do espaço urbano, o combate às
injustiças sociais, e o respeito à diversidade
Quadro 16 – Valores PPA 2010-2013
Fonte: RECIFE, 2009.
Com base nos valores (quadro 16) e no panorama da realidade atual são
elaboradas as quatro diretrizes prioritárias, que nortearão o processo de implementação
do PPA 2010-2013. As diretrizes são apresentadas no quadro 17.
Diretrizes Setoriais
→ Construção da Cidade do Futuro
→ Expansão do Terciário Moderno
→ Desenvolvimento da Economia da Cultura
→ Fortalecimento da Produção do Conhecimento
Quadro 17 – Diretrizes setoriais – PPA 2010-2013
Fonte: RECIFE, 2009.
Com base nos valores, diretrizes setoriais e eixos estratégicos foram elaborados
59 programas, três do Poder Legislativo e 56 do Poder Executivo, sendo os últimos os
que têm interesse para a pesquisa (a totalidade dos programas que compõem o PPA
2010-2013 está exposta no anexo C). Dos 56 programas do Executivo, 39 eram
finalísticos, ou seja, objetivam o provimento de bens e serviços à população, e 17 de
gestão, que contemplam as ações de natureza tipicamente administrativa, como
apresenta o quadro 19.
Tipologia dos Nº de
Classe dos Programas da PCR
Programas Programas
Específicos Voltados para a Melhoria Vida das Pessoas 22
Finalísticos
Específicos Voltados para a Melhoria da Vida da Cidade 17
Melhoria da Gestão Municipal 12
De Gestão
Gestão dos Encargos 5
Total 56
Quadro 19 – Classificação dos programas do poder executivo – 2010-2013
Fonte: RECIFE, 2009.
Tabela 20 – Síntese: demonstrativo geral das despesas da PCR – 2010-2013 (milhões R$)
Demonstrativo Geral da Despesa 2010-2013 % no total
Poder Executivo 12.872,91 100%
Pessoal e Encargos Sociais 5.083,28 39,49%
Programas Específicos Voltados para a Melhoria Vida das Pessoas 2.567,39 19,94%
Programas Específicos Voltados para a Melhoria da Vida da Cidade 3.207,72 24,92%
Programas de Melhoria da Gestão Municipal 743,66 5,78%
Programa de Gestão dos Encargos 1.270,86 9,87%
Fonte: RECIFE, 2009, 2010, 2011, 2012.
plano/projet Mun.
Elaborar Planos e Projetos Relativos aos Cursos D'água o 20
Executar Obras na Rede ee Macrodrenagem - Canais Mun.
Iraque, Pessegueiros e Ibura De Baixo (Acordo
Bndes/Infraestrutura) e outros obra 5
Requalificação e Reapropriação dos Espaços Públicos
Tesouro 6,79%
Projetos com Operações em Saneamento Básico 390,15 1.327,76 1.462,82 29,38% 26,67%
26
Crédito é o valor autorizado para ser gasto num determinado projeto ou atividade a, é quanto está
previsto no orçamento, ou ainda, é a dotação orçamentária (PERNAMBUCO, [s.d.], 2013).
2.500
2.051,79 2.093,68
2.000 1.798,67
1.545,95
1.500
1.000
500
0,36% 0,58% 0,76% 0,55% 0,87% 0,25% 0,38% 0,14%
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Gráfico 10 – Trajetória do orçamento global e dos investimentos em SBU (2006-2013)
Fonte: RECIFE-Portal da Transparência, 2013.
Taxa de
ES001 - Taxa de
Taxa de Taxa de crescimento dos
população IN047- índice crescimento Investimentos
GE06B – crescimento crescimento Orçamento investimentos
total atendida de do orçamento em SBU
população do GE06B em do ES001 em global da em SBU
ANO com atendimento global da PCR realizados pela
total do Recife relação ao relação ao PCR* (em realizados pela
esgotamento urbano de em relação ao PCR** (em
(hab.) período período milhões) PCR em relação
sanitário esgoto (%) período milhões)
anterior anterior ao período
(hab.) anterior
anterior
2006 1.515.052 .. 607.833 .. 40,12% 1.545,95 .. 5,53 ..
2007 1.533.580 1,22% 626.634 3,1% 40,86% 1.798,67 16,35% 10,37 87,39%
2008 1.549.980 1,07% 578.300 -7,7% 37,31% 2.051,79 14,07% 15,53 49,77%
2009 1.561.659 0,75% 602.956 4,3% 38,61% 2.093,68 2,04% 11,58 -25,42%
2010 1.537.704 -1,53% 540.584 -10,3% 35,16% 2.330,95 11,33% 20,31 75,36%
2011 1.546.516 0,57% 549.617 1,7% 35,54% 2.728,87 17,07% 6,76 -66,73%
2012 1.555.039 0,55% 569.478 3,6% 36,62% 3.179,59 16,52% 11,99 77,50%
2013 1.599.513 2,86% 581.597 2,1% 36,36% 3.450,30 8,51% 4,73 -60,56%
Taxa média de
crescimento 0,78% .. -0,63% .. .. 12,15% .. -2,21% ..
anual27
Quadro 24 – Variáveis demográficas, sanitárias e orçamentária (2006-2013)
Fonte: Recife-Portal da Transparência, 2013; SNIS, 2013.
*Valores globais empenhados pela PCR em determinado exercício financeiro.
**Valores empenhados pela PCR para gastos com investimentos em SBU em determinado exercício financeiro.
27
Taxa média de crescimento anual = − 1 ×100
Onde:
P0 = período inicial
Pt = período final
n = número de períodos de tempo
1.400.000
1.200.000
(habitantes)
1.000.000
800.000
40,12% 40,86% 38,61%
37,31% 35,16% 35,54% 36,62% 36,36%
600.000
400.000
200.000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base em uma análise mais objetiva dessa dinâmica de alocação, foi possível se
verificar a discrepância que existe entre o planejamento e a ação governamental, concernente
aos projetos que contemplam operações em saneamento básico.
A partir do desenvolvimento da presente pesquisa, ficou notória a ausência de
interação entre o planejamento e a execução, de vez que os instrumentos PPA e LOA-
legalmente instituídos pela CF/88 - não dialogam com a Execução Orçamentária, isto é, não
há alinhamento entre as terminologias de classificação dos elementos que constituem o PPA,
a LOA e a Execução, ao longo do ciclo orçamentário.
Observe-se que o PPA desagrega os seus “Programas” em “Ações” e “Operações”. A
LOA, por sua vez, restringe-se à autorização dos “Programas” e “Ações” previstos no PPA,
não se referindo, por conseguinte, às “Operações” neste especificadas, ao passo que a
Execução Orçamentária faz menção aos referidos “Programas” e utiliza-se de elementos
próprios, para efeito de subclassificação das “Ações” constantes do PPA e autorizadas na
LOA: as “Funções” e “Subfunções”.
As “Operações” do PPA, utilizadas para a subclassificação dos gastos previstos nas
“Ações”, discriminam as obras ou estudos planejados, informando sua localização geográfica,
não quantificando, todavia, os recursos alocados para a sua execução. Já as “Subfunções”,
utilizadas pela Execução Orçamentária em sua maneira própria de subclassificar os gastos
previstos nas “Ações”, restringem-se à menção da natureza das obras (se SBU ou Transportes,
por exemplo), em nada se referindo à sua discriminação (se ETE ou TIP, por exemplo) ou
localização geográfica.
Torna-se, portanto, impossível se aferir, por exemplo, se a construção de uma
Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), prevista em uma “Operação” (que discriminou tal
obra e a sua localização geográfica) de uma “Ação” de um “Programa” do PPA, “Ação” esta
autorizada na respectiva LOA, foi efetivamente executada, pois a correspondente Execução
Orçamentária não discrimina, em suas “Subfunções”, as obras que foram executadas, não
informando, sequer, sua localização geográfica, o que inviabiliza, por completo, a aferição de
que as obras e demais estudos planejados no PPA foram efetivamente executados.
Assim, esta ausência de padronização na metodologia de classificação dos elementos
constitutivos do PPA, LOA e Execução Orçamentária representa um entrave a que os atos
financeiros do Estado sejam conhecidos e avaliados pela sociedade.
Saneamento Básico na Cidade do Recife: entre a idealidade do planejamento e a realidade da execução
151
Ademais, o processamento das informações fornecidas pelo SNIS e pelo IBGE (com
vistas à caracterização sanitária de Recife), mostrou-se problemático. A fragilidade, no que
respeita ao SNIS, refere-se à espacialização dos dados, pois eles são disponibilizados apenas
em escala municipal, desconsiderando-se as regionalizações censitárias, além do fato de as
informações serem autodeclaradas. O IBGE, por sua vez, considera, para efeito de dados de
esgotamento sanitário, tanto o lançamento de esgotos efetuado na rede geral – esgotamento
sanitário considerado adequado pela literatura, quanto o que é lançado na rede de coleta de
águas pluviais – considerado inadequado pela referida literatura. Ressalte-se que tal
procedimento mascara um cenário indesejável, sob o ponto de vista ambiental.
Todos os objetivos da pesquisam foram alcançados através de duas análises básicas.
A primeira análise levou em consideração os projetos com operações em saneamento básico,
ao longo de todo o ciclo orçamentário. Essa análise verificou que há evasão dos recursos
destinados a tais projetos, ao longo do período de 2006 a 2013. Observa-se que
aproximadamente 91% dos recursos orçamentários globais, autorizados na LOA, foram
executados. No que respeita aos projetos com operações em Saneamento Básico Urbano
(SBU), constata-se que cerca de 29% deles, apenas, foi efetivamente executado. Essa
discrepância pode ter advindo: i) do fato de outros projetos terem sido priorizados, em
detrimentos dos projetos em análise, através da movimentação de créditos orçamentários, ou
descentralização de créditos; ii) da necessidade de elaboração de projetos executivos para a
realização de algumas despesas em obras e instalações (em saneamento, urbanização, etc.), o
que geralmente demanda contratação de serviços de terceiros, serviços que necessitam de
dotação orçamentária específica; e iii) do fato de a gestão não haver implementado, em tempo
hábil, o processo administrativo de contratação de fornecedor do bem/obra/estudo a ser
adquirido.
A segunda análise diz respeito, exclusivamente, à execução orçamentária. Nessa
etapa, mensuraram-se os dispêndios na “Subfunção” saneamento básico urbano, no período de
2006-2013. Verificou-se uma despesa total (corrente e de capital) de, aproximadamente, 264
milhões, nessa “Subfunção”. Desse montante, destinaram-se 59% para despesas correntes e
41% para despesas de capital. Os investimentos em saneamento básico urbano foram os
responsáveis por cerca de 80% das despesas de capital. Entretanto, após teste estatístico,
observou-se que esses investimentos em SBU não foram feitos na proporção necessária para
influenciar positivamente a ampliação do índice de atendimento urbano de esgoto. Saliente-se
que, no período em análise, observou-se uma diminuição da cobertura do índice de
atendimento urbano de esgoto.
Saneamento Básico na Cidade do Recife: entre a idealidade do planejamento e a realidade da execução
152
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RECIFE. Lei 17.586, de dezembro de 2009. Institui Plano Plurianual – PPA (2010-2013). Nossa
cidade é a gente quem faz 2009. Secretaria de Planejamento e Gestão Disponível em:
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Horizonte: Departamento de Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde – DCBAS, 2013. 62 p.
Apostila
GLOSSÁRIO
A
Abastecimento de água via rede geral de distribuição – quando o domicílio ou o terreno,
ou a propriedade onde está localizado, está ligado a uma rede geral de distribuição de água.
Abastecimento de água via poço ou nascente na propriedade – quando o domicílio é
servido por água proveniente de poço ou nascente localizado no terreno ou na propriedade
onde está construído.
Abastecimento de água via água de chuva armazenada em cisterna – quando o domicílio
é servido por água de chuva armazenada em cisterna, caixa de cimento etc.
Abastecimento de água via outra forma - quando a forma de abastecimento de água do
domicílio é proveniente de poço ou nascente fora da propriedade, carro-pipa, água da chuva
armazenada de outra forma, rio, açude, lago ou igarapé ou outra forma de abastecimento de
água, diferente das descritas anteriormente.
B
Base territorial – é a denominação dada ao sistema integrado de mapas, cadastros e banco de
dados, construído segundo a metodologia própria para dar organização e sustentação espacial
às atividades de planejamento operacional, coleta e apuração de dados e divulgação de
resultados do censo demográfico.
C
Crédito orçamentário – é o valor autorizado para ser gasto num determinado projeto ou
atividade, é quanto está previsto no orçamento, ou ainda, é a dotação orçamentária.
D
Domicílio – local estruturalmente separado e independente que se destina a servir de
habitação a uma ou mais pessoas, ou que esteja sendo utilizado como tal.
Domicílio coletivo – é uma instituição ou estabelecimento onde a relações entre as pessoas
que nele se encontram, moradoras ou não, é restrita a normas de subordinação administrativa,
como em hotéis, motéis, camping, pensões, penitenciárias, presídios, casas de detenção,
quartéis, postos militares, asilos, orfanatos, conventos, hospitais e clínicas (com internação),
alojamento de trabalhadores ou de estudantes etc.
Domicílio particular – domicílio onde o relacionamento entre seus ocupantes é ditado por
laços de parentesco, de dependência doméstica ou por normas de convivência.
Domicílio particular permanente – domicílio construído para servir, exclusivamente, à
habitação e com a finalidade de servir de moradia a uma ou mais pessoas.
E
Economia – moradias, apartamentos, unidades comerciais, salas de escritório, indústrias,
órgãos públicos e similares, existentes numa determinada edificação, que são atendidos pelos
serviços de abastecimento de água e/ou de esgotamento sanitário.
Esgotamento sanitário via rede geral de esgoto ou pluvial – quando a canalização das
águas servidas e dos dejetos, proveniente do banheiro ou sanitário, está ligada a um sistema de
coleta que os conduzia a um desaguadouro geral da área, região ou município, mesmo que o
sistema não disponha de estação de tratamento da matéria esgotada.
Esgotamento sanitário via fossa séptica – quando a canalização do banheiro ou sanitário
está ligada a uma fossa séptica, ou seja, a matéria é esgotada para uma fossa próxima, onde
passa por um processo de tratamento ou decantação, sendo, ou não, a parte líquida conduzida
em seguida para um desaguadouro geral da área, região ou município.
Esgotamento sanitário via fossa rudimentar – quando o banheiro ou sanitário está ligado a
uma fossa rústica (fossa negra, poço, buraco, etc.).
Esgotamento sanitário via vala – quando o banheiro ou sanitário está ligado diretamente a
uma vala a céu aberto.
163
Esgotamento sanitário via rio, lago ou mar – quando o banheiro ou sanitário está ligado
diretamente a um rio, lago ou mar.
Esgotamento sanitário via outro escoadouro – qualquer outra situação não descrita
anteriormente.
I
Inversões financeiras – despesas orçamentárias com a aquisição de imóveis ou bens de
capital já em utilização; aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou
entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do
capital; e com a constituição ou aumento do capital de empresas, além de outras despesas
classificáveis neste grupo.
Investimentos – despesas orçamentárias com softwares e com o planejamento e a execução
de obras, inclusive com a aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas
últimas, e com a aquisição de instalações, equipamentos e material permanente.
J
Juros e encargos da dívida – despesas orçamentárias com o pagamento de juros, comissões
e outros encargos de operações de crédito internas e externas contratadas, bem como da dívida
pública mobiliária.
L
Ligação – ramal predial conectado à rede de distribuição de água ou à rede coletora de
esgoto. Pode estar ativa ou inativa.
M
Morador – pessoa que possuiu domicílio como local habitual de residência e que, na data de
referência, estava presente ou ausente por período não superior a 12 meses em relação àquela
(data censo).
Municípios – constituem as unidades autônomas de menor hierarquia dentro da organização
político-administrativa do Brasil. Sua criação, incorporação, fusão ou desmembramento
dependem de leis estaduais, que devem observar o período determinado por lei complementar
federal e a necessidade de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações envolvidas,
após divulgação dos estudos de viabilidade municipal, apresentados e publicados na forma da
lei. Os municípios são regidos por leis orgânicas, observados os princípios estabelecidos na
Constituição Federal e na constituição do estado onde se situam, e podem criar, organizar e
suprimir distritos. A localidade onde está sediada a Prefeitura Municipal tem a categoria de
Cidade.
164
O
Operação especial – são despesas as despesas que não contribuem para a manutenção das
ações de governo, das quais não resulta um produto, e não geram contraprestação direta sob a
forma de bens ou serviços.
Outras despesas correntes – despesas orçamentárias com aquisição de material de consumo,
pagamento de diárias, contribuições, subvenções, auxílio-alimentação, auxílio-transporte,
além de outras despesas da categoria econômica "Despesas Correntes" não classificáveis nos
demais grupos de natureza de despesa.
P
Pessoal e encargos sociais – despesas orçamentárias com pessoal ativo, inativo e
pensionistas, relativas a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de
membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e
vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões,
inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza,
bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência,
conforme estabelece o caput do art. 18 da LRF.
Projeto – é um instrumento utilizado para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo
um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre
para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de governo.
População residente – população residente é constituída pelos moradores em domicílios na
data de referência.
R
Regiões metropolitanas – a identificação de regiões metropolitanas, no Brasil, foi iniciada na
década de 1960 e institucionalizada pelo Congresso Nacional nos anos de 1973 e 1974, tendo
sido definidas nove Regiões Metropolitanas: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. A partir de 1988, a
Constituição do Brasil facultou aos estados a instituição de regiões metropolitanas,
“constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, com o objetivo de integrar a
organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum” (artigo
25, parágrafo 3º).
Reserva de contingência – dotação constante da lei orçamentária, sem destinação específica
nem vinculação a qualquer órgão, cuja finalidade principal é servir de fonte de cancelamento
para a abertura de créditos adicionais, ao longo do exercício.
S
Sanitário - considera-se como sanitário o local limitado por paredes de qualquer material,
coberto ou não por um teto, que dispunha de vaso sanitário ou buraco para dejeções.
165
ANEXOS
167
Programas da Câmara
Poder
Municipal do Recife
o
Ação Legislativa
PODER
TIVO