Psicologia Jurídica 2

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 RESGATE HISTÓRICO DA PSICOLOGIA JURÍDICA ............................... 4

3 PSICOLOGIA FORENSE............................................................................ 8

3.1 Psicologia forense e suas formas de integração com o direito ........... 10

4 PSICOLOGIA INVESTIGATIVA ................................................................ 13

5 PSICOLOGIA CRIMINAL .......................................................................... 16

5.1 Perfil criminal – criminal profiling ........................................................ 17

5.2 As atuações dos psicólogos no sistema de justiça brasileiro ............. 22

6 PSICOLOGIA JURÍDICA E AS QUESTÕES DA INFÂNCIA E JUVENTUDE


26

7 PSICOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DE FAMÍLIA ................................... 27

8 PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO ........................................................... 30

9 PSICOLOGIA JURÍDICA E DIREITO CIVIL.............................................. 32

10 PSICOLOGIA POLICIAL/MILITAR ........................................................ 34

11 MEDIAÇÃO............................................................................................ 34

12 PSICOLOGIA JURÍDICA E DIREITOS HUMANOS............................... 36

13 VITIMOLOGIA ....................................................................................... 40

13.1 Proteção a testemunhas ................................................................. 41

13.2 Perfil das vítimas e seus aspectos psicológicos .............................. 45

14 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM INSTITUIÇÕES DE JUSTIÇA........... 56

14.1 Avaliação psicológica forense ......................................................... 59

14.2 Avaliação psicológica no contexto da vara de família ..................... 60

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 64

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 RESGATE HISTÓRICO DA PSICOLOGIA JURÍDICA

Fonte: unifor.br

A pretensão de fazer um resgate histórico da psicologia jurídica só pode ser


efetivada se primeiramente remontarmos a história da medicina ligada ao estudo das
doenças mentais, área pela qual a psicologia inclusive sua ramificação jurídica apoiou
seus estudos e aplicações séculos mais tarde. Assim, retoma-se à Idade Antiga com
a primeira classificação nosológica de Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.), na qual
doenças como melancolia, delírio, psicoses puerperais, histeria, dentre outras, foram
catalogadas e até hoje são reconhecidas e estudadas, servindo inclusive para
definição de imputabilidade de sujeitos acometidos por elas (PINHEIRO, 2013 apud
SILVA J; 2016).
Porém, como a história não segue um curso retilíneo, as doenças mentais
assumiram caráter distinto, em especial na Idade Média, quando se atrelava o
surgimento de uma doença mental a possessões demoníacas ou a intervenções
divinas. Aqui a loucura começa a ser punida e encarcerada com vistas a manutenção
da ordem pública (MILLANI; VALENTE, 2008 apud SILVA J; 2016). Já a Idade
Moderna rompe com o discurso religioso e traz consigo a primazia do discurso
científico, no qual a loucura passa a ser enquadrada em uma concepção biológica.

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Nasce à psiquiatria, ramo da medicina inaugurado pelo francês Philippe Pinel
em 1793. Várias correntes voltadas ao estudo dos fenômenos mentais surgem, tais
como: a conceituação frenológica de Francis Galton, que ligava caráter, personalidade
e grau de criminalidade ao tamanho do crânio; a antropologia criminal de Césare
Lombroso, na qual se tentou relacionar características físicas à psicopatologia
criminal; a concepção médico-moral de Esquirol, que postulava a loucura ligada a uma
degenerescência racial. Todas essas correntes traziam que o comportamento
criminoso era uma das facetas do comportamento do doente mental (PINHEIRO, 2013
apud SILVA J; 2016).
Mediante os fatos expostos, a interface entre psiquiatria e direito se dá em
vistas a estudar a autonomia do sujeito e a responsabilização do mesmo perante seus
atos. Aqui o direito positivo fundamentava seus argumentos de que o crime competia
a fatores de ordem pessoal e não social. A psicologia encontrou espaço inicial na área
jurídica através do núcleo comum com a psiquiatria, voltando seus estudos para
subjetividade dos indivíduos implicados em atos infracionários, conforme SILVA J;
2016.

Cronologicamente essa aproximação se deu no final do século XIX, através


das avaliações de fidedignidade de testemunhos de pessoas envolvidas em
um dilema jurídico, o que passou a se chamar psicologia do testemunho.
Cresce, a partir desse viés, a psicologia experimental deste século, ganhando
expressivo campo de aplicação de suas técnicas investigativas (AFONSO;
SENRA, 2014 apud SILVA J; 2016).

Delineou-se, a partir desses fatos, o perfil de psicólogos testólogos, que


limitavam sua atuação na aplicação de testes/exames e entrevistas em vistas de
realizar perícias, exames criminológicos e pareceres psicológicos, tendo por base o
psicodiagnóstico. Por seus dados serem comprováveis matematicamente, permitia
maior segurança para que operadores de direito utilizassem seus laudos para guiarem
suas decisões (BRITO, 2005 apud SILVA J; 2016).
É importante fazer menção que, atualmente, o uso do recurso do teste
psicológico é tido enquanto parte integrante de um processo, como um recurso para
qual se tem objetivos bem definidos, não como única fonte de dados e aplicação como
era esperado pelos operadores de direito da época em relação à atividade do
psicólogo, conforme SILVA J; 2016.

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Retomando a história, em 1868, com a publicação do livro Psychologie
Naturelle do médico francês Prosper Despine, inaugura-se a psicologia criminal, área
de bastante expressão e reconhecimento. Essa obra trouxe estudos ligados ao campo
da delinquência, no qual o crime estaria arraigado em tendências comportamentais
morais (LEAL, 2008 apud SILVA J; 2016).
Anos após, em 1937, Mira Y Lopez publica o seu Manual de Psicologia Jurídica,
com versão original publicado na Espanha e tradução para a língua portuguesa datada
em 1955, constituindo-se um marco em psicologia jurídica mundial, auxiliando na
formação e atuação profissional, pois discorre sobre a interlocução psicologia e direito,
além de servir como material base para auxiliar juristas em suas decisões referentes
à conduta humana. Essa é a primeira vez que se utiliza o termo psicologia jurídica
oficialmente (LEAL, 2008 apud SILVA J; 2016).
Portanto, no que se refere à denominação psicologia jurídica resultante da
interface psicologia e direto, nota-se que a mesma sofreu mudanças de acordo com
sua relação teórica prática em diferentes épocas (COSTA; PENSO; SUDBRACK,
2009 apud SILVA J; 2016). As demais áreas citadas anteriormente passam a ser
consideradas como práticas jurídicas englobadas nessa grande área do saber.
Assim, a psicologia jurídica pode ser compreendida como um “campo
especializado de investigação psicológica, que estuda o comportamento dos atores
jurídicos no âmbito do direito, da lei e da justiça. ” (JESUS, 2010 p.52 apud SILVA J;
2016). Diniz (2011 apud SILVA J; 2016) complementa a ideia, trazendo que essa área,
por elucidar aspectos do comportamento humano em suas tendências e inclinações,
facilita o trabalho dos mais diversos operadores de direito em atividades distintas,
embasando-os para tomada de decisões mais justas em sua prática profissional.
No que tange a história da atuação de psicólogos jurídicos em solo brasileiro,
a mesma convergiu com a história mundial, iniciando sua prática pela via forense. Seu
início se deu nos primórdios da área enquanto profissão, justamente no período da
regulamentação em território nacional, em meados da década de 60. A mesma
assumiu ares tímidos a princípio, no qual psicólogos limitavam sua atuação a tarefas
tradicionais como a elaboração de laudos (LAGO et al., 2009 apud SILVA J; 2016).

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Um marco importante de consolidação encontra-se no ano de 1979 com a
entrada de psicólogos no Tribunal de Justiça do estado de São Paulo, realizando,
inicialmente, trabalhos voluntários com famílias carentes. Em 1985 ocorreu o primeiro
concurso público para área, oficializando psicólogos nos quadros de servidores da
justiça (LAGO et al., 2009 apud SILVA J; 2016). Pouco tempo depois, psicólogos
começaram a atuar no então denominado Juizado de Menores.
Era de competência desses profissionais atuarem nos processos de adoção,
como também de realizar perícias civis e de crimes, atividade predominante em virtude
às solicitações dos juristas. Na década de 90 foi implantado no Brasil o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), que contou com a participação de psicólogos de
maneira significativa, além de que ampliou as possibilidades de atuação destes para
outras atividades, como acompanhamentos e aplicação das medidas de proteção ou
medidas socioeducativas, por exemplo. Houve aumento significativo de concursos
públicos para profissionais de psicologia em instituições judiciárias em estados do sul
e sudeste brasileiro (LAGO et al. 2009 apud SILVA J; 2016).
Vale a ressalva de que a interface entre direito e psicologia não resultou apenas
em encontros no que concerne à preocupação com a conduta humana, mas também
desvelou uma série de desencontros, em especial no campo epistemológico, o que
faz a atuação do psicólogo jurídico ser ampla e complexa abarcando vários setores,
desde as práticas mais tradicionais por vezes arcaicas e tecnicistas, até as práticas
tidas como inovadoras, como é o caso da mediação de conflitos (FRANÇA, 2004 apud
SILVA J; 2016).
Em linhas gerais, a aproximação entre psicologia e direito no Brasil se deu por
avaliações de sujeitos envolvidos em crimes e em questões ligadas aos direitos da
criança e do adolescente. Com o passar dos anos a Psicologia Jurídica expandiu sua
atuação, conforme SILVA J; 2016.

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3 PSICOLOGIA FORENSE

Fonte: maestrovirtuale.com

As primeiras atividades dos psicólogos nos tribunais foram através da área


criminal em 1970, momento em que a Psicologia Forense passou a ser reconhecida
pela APA como a 41ª Divisão da Psicologia, sendo denominada primeiramente como
Psicologia, Lei e Sociedade (Gomide, 2010 apud BERTOLDO J; 2019). Sendo esta,
a área que estuda o comportamento dos seres humanos, os quais estão envolvidos
com a Justiça civil ou criminal (Meister, 2013 apud BERTOLDO J; 2019).

Fernandes e Fernandes (1995 apud BERTOLDO J; 2019) destacam, que a


avaliação psíquica do criminoso é que trará os esclarecimentos: conhecer os
diferentes aspectos de sua personalidade, sua estrutura específica e suas
características fundamentais que, como são variáveis de uma para outra
pessoa, são de capital importância para se saber a gênese e a dinâmica do
evento delituoso (p. 227).

A partir da percepção dos benefícios da psicologia para o sistema legal,


começaram a surgir oportunidades para estes profissionais e para os profissionais da
psiquiatria se envolver em atividades do ramo como a avaliação, tratamento e
consultoria (Huss, 2010 apud BERTOLDO J; 2019). Para Moraes e Fridman (2004
apud BERTOLDO J; 2019), o trabalho da psiquiatria forense é o de identificar quais
indivíduos estão mais predispostos a cometer delitos, realizando assim um trabalho
de prevenção e promoção do bem-estar com a população de risco. Porém, quando o

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sujeito já estivesse no ambiente criminal, seria o psicólogo forense que deveria
ressocializar este sujeito, oferecendo-lhe condições e possibilidades para encarar a
sociedade novamente.

A psiquiatria forense busca contribuir para a melhora da norma e do social


dos indivíduos, de forma que o laudo apresente a defesa de um bem moral,
em que o sujeito estará em condições mentais de se defender caso haja a
necessidade (Moraes & Fridman, 2004 apud BERTOLDO J; 2019). Para
Taborda (2004 apud BERTOLDO J; 2019), a psiquiatria forense esclarece se
aquele indivíduo apresenta algum transtorno mental e quais as
consequências deste para o fato ocorrido.

Ambas as profissões, a psicologia e a psiquiatria forense tem suas


metodologias e visões, porém, as duas se dedicam ao estudo do comportamento do
indivíduo criminoso, buscando compreender qual foi o percurso da vida deste sujeito,
e quais processos psicológicos que o levou a praticar a criminalidade (Freitas, 2009
apud BERTOLDO J; 2019).
Huss (2010 apud BERTOLDO J; 2019) menciona que a psicologia forense
beneficia o Poder Judiciário no que se refere à forma mais justa das ações que devem
ser tomadas, pois o psicólogo irá avaliar os comportamentos observáveis ou
emocionais e cognitivos do indivíduo, para caso o juiz necessitar de um laudo
psicológico para fundamentar a sentença do sujeito, o profissional estará preparado
para a elaboração do documento.
A psicologia forense pode ser dividida em dois aspectos, criminal ou civil,
baseando-se no direito civil e criminal. O foco do Direito Criminal são os atos contra a
sociedade, pois é o governo que assume a responsabilidade sobre os assuntos
criminais, sendo o eixo do direito criminal o de punir os criminosos e, assim, prevenir
futuros delitos, conforme BERTOLDO J; (2019).
Como exemplo, pode-se usar um acidente de carro, o direito criminal cuidaria
da parte material, procurando cobrar os danos causados pelo infrator, já a psicologia
forense assumiria seu papel caso uma das vítimas tenha sofrido algum dano
psicológico por conta do acidente, um estresse pós-traumático (TEPT), ou então,
desenvolver medo ou significativa ansiedade na hora de dirigir, conforme BERTOLDO
J; (2019).

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Podendo o causador do acidente, indenizar a vítima pelo seu trauma emocional
e arcar com os custos da assistência psicológica. Sendo assim, a psicologia forense
pode atuar em diversos contextos, nas prisões, agências de polícia ou até nas
agências do Governo Estadual e Federal (Huss, 2010 apud BERTOLDO J; 2019).

3.1 Psicologia forense e suas formas de integração com o direito

O campo mais direcionado à psicologia forense tem sido a área criminal,


abrangendo o estudo do comportamento do adulto infrator, do adolescente infrator,
como este comportamento infrator é adquirido, como pode ser modificado. Abrange,
também, o estudo de crimes como violência contra mulheres, abuso sexual, crimes
contra crianças, nos quais o psicólogo forense atua em atividades que vão desde a
aplicação de testes para avaliação psicológica em presídios, em centros educacionais,
intervenções em comunidades terapêuticas, em programas de liberdade assistida,
clínicas particulares, justiça restaurativa envolvendo agressores, vítimas e famílias,
programas de prevenção e outras categorias, conforme MEISTER A; (2013).
Além disso, este profissional é capacitado para atuar diretamente nos
processos jurídicos, por meio de elaboração de laudos, pareceres e relatórios que
poderão auxiliar e orientar os operadores de diferentes áreas do Direito (Gomide, 2011
apud MEISTER A; 2013).
No campo do Direito do Trabalho, observa-se a aplicação da Psicologia
Forense em processos referentes a danos psicológicos causados por acidentes de
trabalho, em casos de aposentadoria por problemas psicológicos, afastamentos
temporários, avaliações de aptidão e em outras situações nas quais o conhecimento
advindo da ciência psicológica seja necessário para a solução das questões
apresentadas ao Judiciário, conforme MEISTER A; (2013).
O Direito do Trabalho é regido por princípios, entre os quais, o princípio da boa-
fé, princípio que possui um viés objetivo, que pode ser demonstrado por meio de ações
concretas, e um viés subjetivo, de maior complexidade, que é baseado na lealdade e
confiança (Araújo, 1996 apud MEISTER A; 2013).

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Um exemplo nesse sentido, é em relação ao indivíduo que, ao se sentir lesado
em sua honra, em sua boa-fé subjetiva, poderá pleitear uma indenização por danos
morais e por meio de uma perícia psicológica comprovar a veracidade de seus
sentimentos. Como esclarecem Cruz e Maciel (2005 apud MEISTER A; 2013), a
perícia constitui uma prova técnica.
Tanto nos processos de acidente de trabalho quanto nos outros tipos de
processos trabalhistas, o psicólogo forense é capaz de caracterizar o dano
psicológico, o qual pode gerar a indenização. Para isso, deve ser caracterizada uma
lesão que altere ou perturbe de forma grave e significativa o equilíbrio emocional da
pessoa que sofreu o dano, trazendo-lhe consequências que afetem sua vida em
sociedade (Cruz & Maciel, 2005 apud MEISTER A; 2013).
Em relação à aplicação na área civil, tendo em vista os crescentes números
de divórcios e as mudanças nas configurações familiares, os psicólogos forenses
exercem relevante papel nas Varas de Família, atuando em processos de divórcio, de
guarda de menores, processos de adoção e ações envolvendo alienação parental as
quais podem estar ou não vinculadas a processos de divórcio ou de guarda e, ainda,
em ações de tutela, curatela e interdição, conforme MEISTER A; (2013).
Nas Varas Cíveis esses profissionais também atuam nas ações referentes a
danos morais, que permitem o ressarcimento financeiro aos indivíduos que se sentem
lesados na sua intimidade moral e psíquica. Nesses casos o psicólogo auxilia a vítima
a demonstrar o dano causado, inserindo nos autos do processo a real situação
psicológica do indivíduo, a qual poderia não ser constatada sem a sua atuação
(Rovinski, 2009 apud MEISTER A; 2013).
Assim, tanto na elaboração de laudos psicológicos quanto na forma de
orientações e acompanhamentos, o psicólogo forense pode contribuir para a produção
de decisões judiciais melhor fundamentadas e mais justas (Lago et al., 2009 apud
MEISTER A; 2013). Em relação ao Direito de Família, é de grande valor a interação
com a Psicologia Forense. O universo das questões familiares, a intersubjetividade
das relações, traz questões tão complexas, que muitas vezes diversas situações são
encobertas por atitudes que passam despercebidas aos profissionais do direito.

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Essas situações podem ser identificadas pelos psicólogos forenses mediante
determinadas técnicas, entrevistas, jogos, nos quais cada uma das partes envolvidas
tem a possibilidade de expressar seus sentimentos e demonstrar reações, impulsos
que não seriam percebidos por meios verbais (Silva, 2011 apud MEISTER A; 2013).
Como ressalta Grisard Filho (2002 apud MEISTER A; 2013), nos processos de família
os profissionais interagem com pessoas e suas emoções, sendo que a singularidade
de cada pessoa precisa ser respeitada.
Nos casos de guarda de filhos a avaliação psicológica é ainda mais difícil e
comprometedora, tendo em vista que a opinião do psicólogo pode influenciar a
decisão do julgador e repercutir na vida das pessoas envolvidas no processo (Maciel
& Cruz, 2009 apud MEISTER A; 2013).
Além disso, há os casos de violência familiar, nos quais o psicólogo forense
pode contribuir avaliando, prevenindo ou sugerindo intervenções em casos de
crianças que sofrem abusos, indicando para que sejam afastados do lar que as
violenta, ou até mesmo indicando a suspensão ou a extinção do poder familiar (Bartol
& Bartol, 2008 apud MEISTER A; 2013).

A violência aumenta a cada dia, e no ambiente familiar pode ocasionar


graves consequências para a criança. Essas consequências podem ser
físicas, com lesões internas ou externas, ou psíquicas e podem desenvolver
distúrbios como ansiedade, agressividade ou depressão (Gonçalves, 2004
apud MEISTER A; 2013).

Os profissionais especializados em Psicologia Forense, além de possuir


extenso conhecimento sobre o desenvolvimento emocional das pessoas, aprofundam
os estudos na área jurídica, apresentando, assim, uma combinação de habilidades e
conhecimentos valiosos para o deslinde dos conflitos, conforme MEISTER A; (2013).
As contribuições da Psicologia Forense no campo do Direito de Família podem
ocorrer, além das áreas supracitadas, no atendimento de casos de pais com
problemas psiquiátricos, no auxílio ao relacionamento de crianças cujos pais estão
cumprindo pena de restrição de liberdade, em casos de direitos de reprodução e suas
tecnologias, em relação aos cuidados ou violência contra idosos, casos que
aumentam a cada dia e demandam esse conhecimento especializado (Bartol & Bartol,
2008 apud MEISTER A; 2013).

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A necessidade da integração do Direito com outras ciências, no caso específico
deste estudo com a Psicologia, tendo em vista as transformações que vêm ocorrendo
no meio familiar, precisa ser levada em consideração pelo Poder Judiciário de forma
a garantir maior segurança jurídica e proteção a todos os membros da nova
concepção de família que vem surgindo, especialmente às crianças e aos
adolescentes, que, por muitas vezes, nos processos de guarda, tornam-se alvos de
disputas e agressões entre os pais (Contreras, 2006; Grisard Filho, 2002 apud
MEISTER A; 2013).

4 PSICOLOGIA INVESTIGATIVA

Fonte: goconqr.com

A Psicologia Investigativa foi criada pelo Psicólogo David Victor Canter no ano
de 1985, após ser convidado para colaborar na investigação de mais de 30 crimes. O
perfil criminal (criminal profiling) que Canter desenvolveu se mostrou minucioso,
resultando na prisão do autor destes diversos crimes. Canter criou o termo Psicologia
Investigativa para explicar sua pesquisa com perfis criminais, buscando usar este
termo para identificar tentativas psicológicas que tinham relação com a investigação
dos crimes e dos perfis criminais, procurando responder como o comportamento do
suspeito pode ajudar na defesa ou acusação do mesmo (Canter, 2004 apud
BERTOLDO J; 2019).
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Em 1994, Canter criou a primeira Academia Graduada de Psicologia
Investigativa, na Universidade de Liverpool (Egger em Maia, Margaça & Saraiva, 2014
apud BERTOLDO J; 2019). Segundo Wrightsman (em Correia, Lucas e Lamia, 2007
apud BERTOLDO J; 2019), o termo profiling corresponde às atribuições da Psicologia
que são usadas nas investigações de crimes. Este termo é traduzido como
“perfilamento”, ou seja, é o perfil de cada sujeito, neste caso, de um criminoso. O
profiling é uma técnica de investigação criminal, que estuda e estabelece hipóteses
sobre o comportamento e a personalidade criminal do sujeito (Correia et al., 2007
apud BERTOLDO J; 2019).
De acordo com BERTOLDO J; (2019), o profiling busca responder algumas
questões acerca do crime ocorrido e de seu autor, elaborando, assim, uma análise
mais concreta. As perguntas principais são:
 O que se passou na cena do crime?
 Por que razão estes acontecimentos tiveram lugar?
 Que tipo de indivíduo pode estar aplicado? ” (Ainsworth em Correia et
al., 2007, p. 596 apud BERTOLDO J; 2019).
Toutin (em Correia et al., 2007 apud BERTOLDO J; 2019) aponta que os
principais objetivos do profissional que usa esta técnica é poder direcionar as
investigações, através da ajuda das ciências humanas, podendo conectar um caso ao
outro, que tenham características criminais semelhantes, ajustando o perfil do
criminoso para poder determinar recomendações para a área da criminologia.
Jaskiewicz-Obydzinska, Wach e Slawik (em Correia et al., 2007 apud
BERTOLDO J; 2019), abordam que, no Instituto de Perícias Legais da Cracóvia, os
psicólogos realizam as perícias mesmo após alguns meses, tendo um dossiê como
auxílio, no qual consta o depoimento das testemunhas, resultados de análises físicas
da vítima e fotografias da cena do crime. A partir destas informações, conseguem
elaborar hipóteses em relação ao comportamento do criminoso e a possível motivação
do crime, sendo assim, mais plausível de elaborar um perfil psicofísico do autor dos
crimes.
Juntamente com as informações citadas acima, Lino e Matsunaga (2018 apud
BERTOLDO J; 2019) descrevem o perfil criminal geográfico como um novo auxílio
para a elaboração das hipóteses dos crimes. O perfil criminal geográfico é uma das
ramificações da Psicologia Investigativa, e é capaz de analisar o que há de mais

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importante no local onde ocorreu o crime, fornecendo aos psicólogos mais
informações para que estes, acompanhados de outros profissionais, possam
identificar o local onde o criminoso preparou ou se prepara para planejar seus crimes.
Este trabalho é feito quando há, por exemplo, mais de um crime onde este se
assemelha aos outros, podendo ter uma noção de localidade onde este sujeito possa
ainda ser encontrado.
Também de acordo com os autores supracitados, o perfil criminal geográfico
indica que o local onde o crime aconteceu, não foi escolhido de forma aleatória, mas
sim após uma breve análise dos arredores e ambiente físico, o que pode dar indícios
da personalidade e da vida pessoal do indivíduo que cometeu o crime. Este local é de
extrema importância para a análise do fato, pois o cenário é fonte de informações,
sendo que os profissionais envolvidos podem interpretar possíveis evidências da
ordem comportamental manifestadas pelo criminoso (Rosa, 2015 apud BERTOLDO
J; 2019).
A partir de White, Lester, Gentile e Rosenbleeth (em Maia et al., 2014 apud
BERTOLDO J; 2019), “o perfil criminal é definido como a inter-relação entre provas
físicas e psicológicas, sendo mencionado como uma ferramenta utilizada em guias de
desenvolvimento, estreitando, assim, o foco dos suspeitos em estudo. ” (p. 21).
Ressalta-se que o Profiling não é uma profissão, e sim um complemento ou uma
especialização que agrega uma profissão, ou atividades profissionais (Correia et al.,
2007 apud BERTOLDO J; 2019).
Segundo Lunde (em Rodrigues 2010 apud BERTOLDO J; 2019), há crimes que
são cometidos sem um objetivo ou um plano traçado, muitas vezes é para encobrir
algo do próprio sujeito que talvez só ele saiba, ou outras vezes, pode ser algo
inconsciente que o faz cometer os crimes. “A vítima pode manifestar determinadas
características físicas e/ou comportamentais que, de algum modo, são
simbolicamente significativas para o ofensor de um crime violento e que, por isso,
estão na base da sua motivação para o ato criminal. ” (Rodrigues, 2010, p. 8 apud
BERTOLDO J; 2019).

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5 PSICOLOGIA CRIMINAL

Fonte: yanklovinsk.com

A Psicologia Criminal está inserida entre o conjunto da Psicologia Forense e da


Criminologia e, a partir de Bruno (1967 apud BERTOLDO J; 2019), destaca-se que as
condições psíquicas do criminoso e o modo pelo qual ele se manifesta e atua na ação
criminosa, dará muitas informações que serão organizadas e integradas para que um
perfil provável seja elaborado.
Para isso, é importante capacitar os profissionais que trabalham na segurança
pública, policiais, investigadores, psicólogos, delegados, detetives, psiquiatras, entre
outros, para que estes aprimorem os conhecimentos que já possuem, conhecendo
mais os conceitos da Psicologia e do Direito, podendo, assim, proporcionar um perfil
mais exato do criminoso. Os Investigadores de Polícia e os Psicólogos procuram
trabalhar juntos, buscando identificar os comportamentos que se repetem nos crimes,
tentando prevenir um futuro delito (Goes Júnior, 2012 apud BERTOLDO J; 2019).

Segundo Bandeira e Portugal (2017 apud BERTOLDO J; 2019), os crimes


podem ser prevenidos a partir de algumas estratégias. Para Calhau (2009
apud BERTOLDO J; 2019), citado pelas autoras descritas anteriormente, a
prevenção primária se caracteriza por ser a mais genuína, ou seja, é feita
num contexto geral, voltada para toda a população, é uma prevenção mais
demorada e que gera custos altos. Para Molina (em Bandeira e Portugal,
2017 apud BERTOLDO J; 2019), os programas de prevenção primária
procuram neutralizar os crimes, antes que estes se tornem maiores,
procurando agir na raiz do problema.

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Na prevenção secundária, esta atua nos locais onde ocorreram os crimes e
onde a taxa de ocorrência dos mesmos, é elevada, “busca uma ação concentrada e
com foco em áreas de maior violência, como comunidades carentes dominadas pelo
tráfico” (Calhau em Bandeira & Portugal, 2017, p. 68 apud BERTOLDO J; 2019). Esta
prevenção é de curto à médio prazo, voltada para os grupos que tem maior
prevalência em causar problemas criminais. Os programas de prevenção que são
utilizados por policiais, o controle das formas de comunicação entre os criminosos e o
estudo do território e estruturas que são usadas como proteção para os policiais em
certas operações, são nomeadas de prevenção secundária (Molina, 1999, citado por
Bandeira & Portugal, 2017).
E por fim, a prevenção terciária que é caracterizada por ter a população
carcerária como foco, buscando sempre evitar a reincidência desses criminosos
(Calhau, 2009 apud BERTOLDO J; 2019), o que infelizmente no nosso país é uma
das estratégias de prevenção que menos funciona.
Portanto, a Psicologia Criminal contribui para a elaboração de perfis criminais,
através da observação de características dos delitos, assim como prováveis
comportamentos dos criminosos vistos na cena do crime por testemunhas ou segundo
relatos das vítimas, e também na prevenção de novos possíveis crimes, tendo como
base outros crimes que já ocorreram (Goes Júnior, 2012 apud BERTOLDO J; 2019).
Segundo Casoy (2008 apud BERTOLDO J; 2019), a vítima escolhida pelo
agressor representa alguém que fez ou faz parte de sua vida, sendo assim, é preciso
estar atento ao depoimento da vítima, para que possam ser identificados os
comportamentos do agressor antes, durante e após a agressão, a forma de ele falar,
de agir e se algo que foi dito sirva como indício, assim como objetos que este possa
ter usado durante o ato, como faca, luvas, preservativo, entre outros.

5.1 Perfil criminal – criminal profiling

Turvey (em Mendes, 2014 apud BERTOLDO J; 2019) descreve a definição de


profiling, segundo o FBI, como “um processo de investigação que identifica a grande
personalidade e as características comportamentais do infrator com base nos crimes
que ele ou ela tenham cometido” (p. 310). O Perfil Criminal é umas das técnicas de
investigação que é usada também na cena do crime, sendo estudada na Criminologia,

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Psicologia, Psiquiatria e nas Ciências Forenses, e é através do conhecimento sobre
padrões de comportamento, que esses são avaliados e interpretados para que se
possa traçar um perfil com prováveis características do criminoso (Rodrigues, 2010
apud BERTOLDO J; 2019).
O Perfil Criminal pode ser divido em quatro principais modelos:
A Análise de Investigação Criminal (CIA – Criminal Investigative Analysis):
conhecida por ser o principal modelo de perfil usado pelo FBI. Destaca o
desenvolvimento de táticas, técnicas e procedimentos os quais ajudarão na coleta de
dados determinantes, que auxiliarão na elaboração de uma possível personalidade e
características do comportamento dos criminosos, podendo avaliar se o perfil deste
sujeito se difere da população em geral, conforme BERTOLDO J; (2019).
O segundo modelo, a Psicologia Investigativa: procura explicar os métodos
científicos usados na investigação de um crime, podendo também encontrar auxílio
na Psicologia, em relação ao ambiente e nos comportamentos mostrados pela
interação do sujeito com seu meio, porém, não deixando de olhar para o entendimento
geral do crime (Correia, et al., 2007 apud BERTOLDO J; 2019).
Perfil de Ação Criminal (CAP – Crime Action Profiling): este terceiro modelo
foi criado por Richard Kocsis, ressaltando a importância de analisar o local do crime e
que este modelo seja usado apenas em casos excepcionais, pois esta análise requer
mais informações do que precisaria se fosse a crimes “comuns”. Para o profissional
poder caracterizar traços ou um possível perfil do criminoso, este precisa ter o
conhecimento de como funciona o comportamento humano, da psicologia, assim
como dinâmicas de personalidade e de psicopatologias (Mendes, 2014 apud
BERTOLDO J; 2019).
E por fim, a Análise dos Vestígios Comportamentais (BEA – Behavioral
Evidence Analysis): esse modelo procura analisar detalhadamente o local do crime,
podendo relacionar os comportamentos apresentados pelo criminoso, a partir dos
vestígios deixados na cena do crime. Evidências físicas do criminoso são
interpretadas, a fim de elaborar uma análise para que a veracidade das evidências
seja mais precisa (Patherick et al., em Mendes, 2014 apud BERTOLDO J; 2019). O
objetivo deste instrumento é fornecer informações que auxiliem na investigação e na
elaboração de um possível perfil comportamental e psicológico do criminoso,
indicando o tipo de pessoa e sua possível personalidade, observando os tipos de

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padrões de ação, focando na cena do crime e nos vestígios deixados pelo mesmo
(Rodrigues, 2010 apud BERTOLDO J; 2019).
A aplicação da técnica do Perfil Criminal pode ser realizada em diversos casos
e por profissionais da área do Direito, Psicologia, profissionais de Polícia,
Investigadores e outros profissionais que entendam sobre ocorrências criminais
(Rodrigues, 2010 apud BERTOLDO J; 2019).
Porém, os casos mais conhecidos são os crimes de homicídio e crimes
sexuais. Vale ressaltar que essa técnica sozinha não resolve crimes, mas auxilia como
uma das ferramentas forenses existentes, para que perfis de criminosos sejam mais
eficazes durante a investigação (Holmes & Holmes, 2009; Kocsis, 2006 em Mendes,
2014 apud BERTOLDO J; 2019). Sendo um complemento, pode ser usada junto com
outros tipos de técnicas, porém, não como solução para a resolução de crimes
específicos, como citado acima.
Kocsis, (em Mendes, 2014 apud BERTOLDO J; 2019), relata que em alguns
países há a distinção entre os termos “homicídio” e “assassinato”, sendo que o
homicídio é considerado o ato de matar outro ser humano, pode-se usar como
exemplo um acidente de carro; já o assassinato é matar um indivíduo, especialmente
com dolo, ou seja, assassinar uma pessoa por determinado motivo.
Quando o profiling é usado em casos de crimes sexuais, o objetivo é identificar
os tipos de vítimas, assim como o perfil dos criminosos, para entender como cada um
planeja os ataques, ajudando na investigação, na busca e interpretação de provas e,
posteriormente, na identificação e prisão dos suspeitos. No propósito de compreender
as origens dos comportamentos e das motivações que levaram o sujeito a cometer
certos crimes, é necessário, sempre que possível, o relato da testemunha e também
do ofensor (Patherick em Mendes, 2014 apud BERTOLDO J; 2019).
Já em casos de homicídio, em que não é possível obter dados através do
testemunho da vítima, os investigadores buscam provas na cena do crime, que
possam levar à alguma informação do criminoso (Soeiro em Rodrigues, 2010 apud
BERTOLDO J; 2019). Segundo Kocsis (em Rodrigues, 2010 apud BERTOLDO J;
2019), a técnica do Perfil Criminal procura responder cinco questões relacionadas à
investigação:
 Quem cometeu o crime?;
 Quando cometeu o crime?;

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 Como foi executado o crime?;
 Qual a motivação que está na base deste (s) comportamento (s)?;
 Onde foi cometido o crime? Conforme BERTOLDO J; (2019).
Segundo Soeiro (em Rodrigues, 2010 apud BERTOLDO J; 2019), o
comportamento dos criminosos é dividido em dois grupos: os crimes organizados e os
desorganizados. Se a cena do crime é caótica, com diversas provas e evidências
físicas, indica um crime desorganizado, ou seja, “estas surgem associada a ofensores
com menores competências cognitivas e que manifestam menor cuidado na forma
como organizam e praticam o crime. Geralmente são crimes que ocorrem de repente,
sem um planejamento específico” (p. 16).
E se na cena do crime quase não são encontrados provas e evidências, indica
que o criminoso possui alto grau de organização, ou seja, “derivam de ofensores com
uma estrutura da personalidade com o mesmo tipo de características, isto é, um tipo
de ofensores que são cautelosos na forma como praticam o crime, premeditam o
crime, deixam menos vestígios e tendem a escolher vítimas desconhecidas” (p. 15),
conforme BERTOLDO J; 2019.
Em 1978, o FBI (Federal Bureau of Investigation – Departamento Federal de
Investigação) desenvolveu um estudo sobre estratégias de análise psicológica, em
casos de crimes violentos. Assim começou a análise dos Perfis Criminais, com a
finalidade de entender a motivação e as características da personalidade do sujeito;
que o levou a cometer tais crimes (Rodrigues, 2010 apud BERTOLDO J; 2019).
Esse estudo foi fundamentado através de relatórios e informações da cena do
crime e das vítimas, assim como o uso de diversas entrevistas com sujeitos aos quais
foram presos por crimes violentos e/ou em série. As entrevistas possuíam o intuito de
observar os comportamentos manifestados antes, durante e após a execução do
crime, a personalidade de cada indivíduo, o seu funcionamento e as características
cognitivas semelhantes que cada um deles apresentava. A partir disso, “surge um
instrumento psicológico próprio para as necessidades de trabalho da investigação
criminal, que se baseia nos estudos sobre o comportamento destes ofensores
violentos” (Rodrigues, 2010, p. 23 apud BERTOLDO J; 2019).

20
Na elaboração desse perfil, é importante ressaltar que o criminoso comete um
delito em uma determinada circunstância, apresentando alguns comportamentos
neste crime, que serão semelhantes ou iguais aos comportamentos que ele
manifestará em outras transgressões, o que pode revelar sua personalidade (Soeiro
em Rodrigues, 2010 apud BERTOLDO J; 2019). O autor destaca que “é possível
considerar que diferentes ofensores, em diferentes localizações, cometem um crime
violento de forma idêntica, devido às características similares de suas personalidades”
(p. 22).
Ainda segundo o autor supracitado, a construção de um perfil é baseada no
máximo de informações coletadas em relação ao crime ocorrido, a cena, objetos
encontrados, assinatura do criminoso (sinal comum que possa deixar em todos os
crimes que comete), informações das vítimas (idade, sexo, endereço, descrição física,
estado civil, etc.), hábitos, histórico familiar, profissional, financeiro, médico, histórico
social, amigos e inimigos, recentes mudanças, registros policiais, entre ouras
informações que vão surgindo no decorrer da investigação, conforme BERTOLDO J;
(2019).
Segundo Bull et al., (2006 apud BERTOLDO J; 2019); Soeiro (2009 apud
BERTOLDO J; 2019), (em Rodrigues, 2010 apud BERTOLDO J; 2019), a técnica
possui sete passos:
 Avaliação minuciosa da conduta criminosa;
 Análise detalhada da cena do crime;
 Análise da vítima;
 Avaliação dos resultados de crimes anteriores;
 Avaliação dos resultados de exames de autópsia, em casos de
homicídio; 6- Elaboração do Perfil Criminal, com sugestão de possíveis
particularidades do criminoso;
 Sugestões para a investigação criminal, conforme BERTOLDO J;
(2019).
Rodrigues (2010 apud BERTOLDO J; 2019) destaca que a técnica do Perfil
Criminal é utilizada como um instrumento psicológico no auxílio das investigações,
que conciliará informações para que o caso seja solucionado, identificando os
comportamentos apresentados pelo criminoso na hora do crime e podendo ser
comparado com outros casos. A partir deste perfil, os suspeitos começam a ser

21
investigados, até que o criminoso seja encontrado e relate o possível motivo que o
levou a cometer tal crime.

5.2 As atuações dos psicólogos no sistema de justiça brasileiro

O trabalho do psicólogo vem sendo frequentemente requisitado pelo sistema


de justiça, seja pelos tribunais judiciais, pelos promotores de justiça, ou mesmo na
fase pré-processual, durante o período investigativo, pela polícia judiciária. Tem-se
demandado ao psicólogo, principalmente, temas envolvendo a infância, adolescência
e conflitos familiares. Os documentos produzidos por esse profissional, muitas vezes,
subsidiam relevantemente a decisão judicial, conforme CADAN D; (2018).
Nesse momento, realçam-se as maneiras como o psicólogo visualiza sua
prática e o sentido que dá a ela, havendo vários entendimentos sobre a atuação frente
à demanda jurídica. A discussão acerca do Depoimento sem Dano ou, atualmente,
chamado de Depoimento Especial, é um exemplo de tema debatido, e que gera
animosidade entre os psicólogos, uma vez que alguns o reconhecem como prática da
área da psicologia, enquanto outros condenam veemente o uso de tal procedimento,
descaracterizando-o como condizente com a atuação do psicólogo, conforme CADAN
D; (2018).

Diversos autores discutem o exercício de profissionais da Psicologia, no


sistema de justiça, quando atuam na inquirição de crianças, por meio do
Depoimento sem Dano, os quais, muitas vezes, na ânsia de responderem às
demandas jurídicas, focam-se em fazer com que a criança fale, ou seja, que
seu testemunho seja suficiente para a produção de provas para o sistema de
justiça (Alves, & Saraiva 2009; Brito, 2012; Froner, & Ramires, 2008 apud
CADAN D; 2018).

Essa fala da criança, muitas vezes, torna-se decisiva na formalização da prova


judicial, desconsiderando-se os possíveis prejuízos que tal depoimento pode acarretar
a ela, já que ela não consegue apreender e nem projetar as consequências daquilo
que diz (Arantes, 2009; Batista, & Cadan, 2017; Froner, & Ramires, 2008 apud CADAN
D; 2018). Assim, discute-se se cabe à Psicologia adentrar nesta atuação de tomada
de depoimento de crianças e adolescentes, prática esta, inclusive, que é contrária às
propostas do CFP.

22
Para Alves e Saraiva (2009 apud CADAN D; 2018), algumas atividades no
campo da Psicologia jurídica, como é o caso do Depoimento sem Dano, vêm
produzindo uma determinada subjetividade: a criança vítima. A tarefa da Psicologia é
de grande importância para o sistema de justiça na inquirição dessas crianças, o que
pode compelir o psicólogo a “reificar um lugar de saber-poder” (Alves & Saraiva, 2009,
p. 102 apud CADAN D; 2018), já que há uma expectativa do direito de que o psicólogo
trate as famílias ‘disfuncionais” (aspas do autor) e as adeque ao padrão aceito de
relacionamento.
Ao sucumbir a tal missão, em nome de uma pretensa proteção da criança
intitulada vítima, os limites para a atuação do psicólogo vão sendo extintos. Assim,
segundo estes autores, o profissional de Psicologia toma para si o discurso jurídico
do saber sobre o outro e, mais, sobre o que o outro precisa, a fim de protegê-lo.
Arantes (2016 apud CADAN D; 2018) discorre sobre o princípio da proteção à criança,
o qual é exaltado nas legislações sobre a infância, em detrimento aos princípios da
liberdade e da participação.
Deste modo, o psicólogo vem atuando como mais um dos técnicos do saber
em prol de proteger crianças ao fazerem com prestem testemunhos com o fim de
produção de provas para o direito e, consequentemente, para a punição de quem teria
cometido um crime. Com isso, reforça-se uma lógica dualista entre inocente e culpado
em uma trama no sistema de justiça, em que a criança é ocupa o papel de
protagonista, conforme CADAN D; (2018).
Na contramão dos críticos ao Depoimento sem Dano, Rovinski (2007a) faz a
distinção entre a atuação do psicólogo nas áreas clínica e forense, colocando que o
que as diferencia é o foco da avaliação: enquanto na avaliação forense o atendimento
deve ser dirigido a eventos definidos pela demanda do judiciário, na atuação clínica
objetiva-se a compreensão do mundo interior do paciente. A autora, e também
psicóloga aposentada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, aponta que esta
diferenciação de foco tem sido um grande desafio aos psicólogos, por estarem
familiarizados com a área terapêutica, conforme CADAN D; (2018).

23
Ela ressalta que a formação, durante a graduação, acaba por reforçar a visão
clínica desses profissionais, levando-os a realizarem trabalhos interventivos com
enfoque terapêutico. Assim, ela destaca que, por esse motivo, os psicólogos, quando
demandados a auxiliar o poder judiciário, enfrentam inúmeros conflitos éticos,
especialmente no que diz respeito à confidencialidade das informações, conforme
CADAN D; (2018).
Como exemplo de embates fervorosos entre a Psicologia e as demandas do
campo jurídico, temos algumas resoluções emitidas pelo CFP que, não muito tempo
após suas publicações, foram anuladas pelo poder judiciário. Por meio desses
documentos de orientação e regulamentação da prática do psicólogo, o conselho de
classe buscou direcionar como o profissional deve atuar frente às solicitações
advindas no contexto da justiça, inclusive esclarecendo que o seu descumprimento
levaria à punição do psicólogo, conforme CADAN D; (2018).
Um caso recente ocorreu em 2007, quando, juntamente com o Ministério da
Justiça e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o CFP elaborou um manual
chamado Diretrizes para a atuação e formação dos psicólogos do sistema prisional
brasileiro, no qual propõe “a construção de uma outra forma de lidar com a
criminalidade, pautada pela prevenção, educação, Justiça e responsabilização dos
sujeitos e da sociedade” (Brasil, 2007, p. 11 apud CADAN D; 2018), e pincela
sutilmente sua postura contrária à realização de exames criminológicos por estes
profissionais.
Já no ano de 2011, cria a Resolução CFP no 012/2011, em que regulamenta a
atuação do psicólogo no âmbito das prisões e, aí, proíbe a prática do exame
criminológico, podendo, no caso de solicitação judicial, realizar somente a perícia
psicológica. Também, o psicólogo não poderia mais fazer “prognóstico criminológico
de reincidência, a aferição de periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a
partir do binômio delito-delinquente” (2011, p. 4 apud CADAN D; 2018).
Em abril de 2015, a Resolução CFP no 012/2011, devido à ação do Ministério
Público Federal contra o CFP e contra o Conselho Regional de Psicologia (CRP) da
7ª Região (RS), é suspensa em todo o Brasil. A partir de então, os psicólogos não
poderiam mais ser punidos ao realizarem exames criminológicos. Ainda assim, o CFP
continuou a emitir notas acerca de sua posição contrária, mesmo não havendo mais
obrigação legal de cumprimento pelos psicólogos da referida resolução. Tal cenário

24
gerou grande animosidade entre os próprios psicólogos; afinal, alguns se colocavam
em concordância com o conselho de classe, enquanto outros posicionavam-se de
acordo com a instância jurídica que pôs fim à citada resolução, conforme CADAN D;
(2018).
Anterior a esta resolução suspensa, no ano de 2012, a Resolução CFP no
010/2010 também foi anulada, por oposição do Ministério Público Federal. Ela
discorria sobre a forma como deveriam atuar os psicólogos na escuta de crianças e
adolescentes, na rede de proteção e garantia de direitos, envolvidos em situação de
violência. Nesta resolução, o Conselho de Psicologia, dentre outras atuações, findava
a polêmica prática do depoimento sem danos, conforme CADAN D; (2018).

Segundo Alves e Saraiva (2009 apud CADAN D; 2018), este trabalho tinha
como metodologia a utilização de um profissional de Psicologia que, em uma
sala separada da sala de audiências, deveria inquirir a criança que constava
como vítima de abuso sexual no procedimento judicial. Tal atendimento era
transmitido por meio de aparelhos audiovisuais para os demais participantes,
no ato da audiência, os quais poderiam transmitir perguntas para psicólogo
fazer à criança.

Para isso, o profissional de Psicologia estaria usando um ponto auditivo.


Mesmo o conselho de classe sendo contrário a tal prática, porém, não dispondo mais
de meios legais para proibição, diversos profissionais retomaram e/ou iniciaram o
trabalho na realização deste depoimento, conforme CADAN D; (2018).
Os Conselhos de Psicologia do Paraná (CRP-08) e de Santa Catarina (CRP-
12), situados nos estados onde foram realizadas as entrevistas desta pesquisa,
organizam, com frequência, eventos, sejam palestras, seminários, entre outros, nos
quais reúnem profissionais do sistema de justiça. A partir disso, alguns documentos
já foram emitidos, os quais expressam o posicionamento dos referidos conselhos de
classe acerca da melhor atuação do psicólogo neste contexto, conforme CADAN D;
(2018).
Pontos de vista, sejam eles divergentes e/ou convergentes, entre os psicólogos
e entre estes e os operadores do direito, dizem respeito às verdades produzidas no
encontro entre os dois campos de conhecimento e prática profissional. A proximidade
entre a Psicologia e o direito, por vezes, apresenta-se resistente, mas não somente,
podendo elas serem áreas que, com suas particularidades, tornam-se
complementares, conforme CADAN D; (2018).

25
6 PSICOLOGIA JURÍDICA E AS QUESTÕES DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

Fonte: cicloceap.com.br

O psicólogo jurídico trabalha junto aos processos de adoção, destituição do


poder familiar e, também, na aplicação de medidas socioeducativas nos adolescentes
infratores da lei. No processo de adoção, o psicólogo atua constantemente na família
auxiliando antes, durante e depois da adoção, conforme CRUCES A; (2011).
O papel desse psicólogo é fazer com que a criança se sinta segura em seu
novo lar e também assessorar esses pais para que eles tenham a capacidade de
satisfazer as necessidades de um filho adotado. Existem também os psicólogos que
trabalham em abrigos e fundações de proteção especiais. Essas instituições possuem
como objetivo, fazer com que as crianças e os adolescentes se sintam integrados o
máximo possível em um lar e, assim, podendo a adaptação para estes jovens em uma
nova família ser mais fácil, conforme CRUCES A; (2011).
Na destituição do poder familiar, a responsabilidade do psicólogo jurídico é
muito importante. Retirar uma criança de sua casa, sua família, não é uma tarefa fácil
de ser tratada, pois a estrutura desta criança pode ser toda comprometida, por isso,
essa retirada só pode ser feita após um levantamento de dados que o juiz pode ou
não tomar a decisão de levá-los a abrigos e instituições, por exemplo. Tal decisão

26
pode ser tomada devido a maus-tratos, pais usuários de drogas, etc., conforme
CRUCES A; (2011).
Adolescentes transgressores da lei, no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), se preveem algumas medidas socioeducativas para reabilitar este
adolescente. O psicólogo jurídico atua junto a este adolescente com medidas de
responsabilidades direcionadas a ele e, também, tratando dele para que possa
superar a sua condição de exclusão e reabilitar seus valores positivos na participação
de sua vida social, conforme CRUCES A; (2011).

7 PSICOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DE FAMÍLIA

Fonte: spainlegal.es

O Direito de Família, com o advento da Constituição Federal de 1988, adquiriu,


abrigando novas entidades familiares, maiores atenções e exigências de uma
abordagem multidisciplinar. Não há como negar a extrema importância do auxílio e da
intervenção do psicólogo (clínico/jurídico) na área do Direito relacionada com a família.
A atuação desse psicólogo tem sido institucional judiciária com a instalação de
serviços psicossociais forenses, como a utilização de quadros próprios para as suas
atribuições específicas, conforme CRUCES A; (2011).

27
A prática tem revelado o quanto significativo se apresenta o desfecho judicial
se há a intervenção de um psicólogo jurídico, que enriquece o processo com a
avaliação técnica do caso. A aplicação da psicologia nas questões judiciais procura
atender às necessidades biopsicossociais dos envolvidos nos processos de guarda,
adoção e interdição. O poder judiciário procura obter e manter todas as informações
pertinentes à origem e história de vida dos sujeitos, tanto requerentes tanto
requeridos. Contudo torna-se indispensável o trabalho de profissionais especializados
para procederem aos estudos e investigações necessárias que irão possibilitar ao
Estado defender e atender aos interesses dos sujeitos, conforme CRUCES A; (2011).
O psicólogo, dentre outros profissionais, desenvolve um trabalho relevante para
juízo civil, especialmente nos processos de guarda, adoção e interdição. Através de
estudos psicológicos é possível detectar situações que estejam encobertas pela
família ou pelas pessoas envolvidas no processo, auxiliando os profissionais a
evitarem erros que possam desencadear grandes sofrimentos e maiores transtornos,
podendo dificultar a reversão no processo. Portanto, o acompanhamento psicológico
proporciona mais tranquilidade e segurança nos processos em questão, conforme
CRUCES A; (2011)
No direito da família torna-se imprescindível à atuação do psicólogo, pois as
questões familiares são mais amplas e complexas. A psicologia, como ciência do
comportamento humano, vem através de seu aparato compreender elementos e
aspectos emocionais de cada indivíduo e da dinâmica familiar e, assim, encontrar uma
saída que atenda às necessidades daquela família, que muitas vezes passam
despercebidas nos litígios judiciais. A perícia psicológica é importante para a
compreensão da dinâmica familiar e da comunicação verbal e não- verbal de cada um
dos indivíduos envolvidos, conforme CRUCES A; (2011).
O psicólogo perito deve ser neutro e imparcial para escutar as mensagens
conscientes e inconscientes do grupo familiar e, através de suas análises, deve
fornecer subsídios à decisão judicial, apresentando enfoques que possam ajudar a
amenizar o desgaste emocional das partes envolvidas e, não menos importante,
preservar a integridade física e psicológica dos filhos menores, conforme CRUCES A;
(2011).

28
Em processos em que ocorre disputa de guarda de filhos e programação das
visitas quando o casal se separa, a presença do psicólogo jurídico nessas disputas é
reconhecida, relevante e, até mesmo, obrigatória. É possível notar que sua atuação
tem sido institucionalizada na estrutura judiciária mediante a instalação de serviços
psicossociais forenses, como serventias de quadro próprios, aparelhadas para as
suas atribuições específicas, conforme CRUCES A; (2011).
A atuação do psicólogo na vara da família trata de questões como separação,
guarda e visita, sendo muito importante a necessidade de um profissional com
formação específica em relação ao desenvolvimento infantil, pois, em grande parte,
existe a presença das crianças e há dificuldade de questioná-las diretamente e de
saber o que se passa com elas, conforme CRUCES A; (2011).
A decisão quanto à guarda e as visitas não vêm do psicólogo, ele apenas
fornecerá dados que embasarão a decisão do juiz. A psicologia contribui ao afirmar
que existem duas pessoas que personificam duas funções dentro da psicologia, a mãe
e o pai, um não substituí o outro, por isso a criança deve ter acesso aos dois. Em
casos de adoção, a intervenção da psicologia jurídica no direito da família vai além
das preocupações de moradia digna, alimentação, escola e saúde, conforme
CRUCES A; (2011).
O papel do psicólogo está em atender às necessidades biopsicossociais das
crianças e dos adolescentes, analisando os aspectos de adaptação, aceitação e
integração da criança dentro da família em relação aos filhos biológicos e demais
familiares, na reconstituição de sua nova história familiar. É preciso ter a consciência
que antes de uma história de adoção existe uma história de abandono. A instituição
de abandono de famílias originárias, o desamparo, o grande sofrimento físico e
psíquico das crianças e dos adolescentes, o motivo das adoções, as características
da família adotiva, seus anseios, seus medos, suas dificuldades e vulnerabilidade são
alguns aspectos que precisam ser trabalhados antes e durante o processo, conforme
CRUCES A; (2011).
A psicologia permite uma análise sobre a importância dos métodos psicológicos
em especial para o atendimento das famílias e das crianças, podendo gerar mudanças
significativas em suas vidas. Objetivando defender interesses e os direitos do adotado
numa tentativa de restituir dos danos até então sofridos, com o estabelecimento de
uma relação familiar estável e benéfica. Dentre os métodos do psicólogo estão às

29
entrevistas, investigações e análise dos dados coletados, valores e crenças dos
sujeitos e aspectos relevantes que possam interferir no processo de adoção, conforme
CRUCES A; (2011).
A interdição judicial de um cidadão, no Estado de Direito, está prevista como
medida de exceção da cidadania, ao mesmo tempo em que priva de
responsabilidades o cidadão, sendo regulada por lei, transfere a gestão por contra
própria (por si mesma) sem a necessidade de um representante legal. Para a
ocorrência de uma interdição, faz-se necessário que o indivíduo perca a capacidade
de gerir seus próprios bens e sua própria pessoa. Esta situação judicial apresenta-se
como a mais frequente nas perícias psiquiátricas, que incidem constantemente na
incapacidade total e definitiva, a qual se configura pela perda da autodeterminação da
pessoa. A necessidade da perícia psiquiátrica nos casos de interdição apresenta-se
hoje frequente na realidade brasileira. Este fato solicita deste profissional, cada vez
mais, uma especificidade para diagnóstico diferencial, cuja conduta seja adequada a
cada caso, conforme CRUCES A; (2011).

8 PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO

Fonte: prezi.com

30
A Psicologia do Testemunho surge da psicologia jurídica, sendo uma discussão
extremamente atual. O testemunho é uma das formas de produção de provas
utilizadas em processos judiciais. No processo civil, por exemplo, não é
necessariamente o único meio de prova, visto que a maioria dos fatos podem ser
comprovados por intermédio de provas documentais. No entanto, no processo penal,
em muitos casos, o testemunho acaba por ser um dos únicos, se não o único, meio
de prova processual, e, por isso, possui grande importância, conforme OLIVEIRA A;
(2019).
A Psicologia do Testemunho possui o intuito de garantir a qualidade do relato
prestado pela vítima/testemunha, de forma que ele seja totalmente verossímil. A
discussão da psicologia do testemunho é uma discussão tão importante nos dias
atuais que, o Conselho Nacional de Justiça, em sua Resolução 75/2009, que dispõe
sobre os concursos públicos para ingresso na carreira da magistratura, em seu Anexo
VI, dispõe que a psicologia judiciária será objeto de avaliação no concurso, e um dos
tópicos é justamente a psicologia do testemunho, sendo que será analisado o
processo psicológico e a obtenção da verdade judicial e o comportamento das partes
e testemunhas, conforme OLIVEIRA A; (2019).
Ela é importante no sentido de que é sabido que o psiquismo humano pode
modificar determinados fatos. Essa modificação pode ocorrer de forma implantada,
como é o caso das falsas memórias, como pode ocorrer pelo fenômeno denominado
por Freud como recalcamento, que é o esquecimento de determinadas situações como
forma de alívio do sofrimento. Além disso, a psicologia do testemunho é de suma
importância para a análise do depoimento de pessoas com alguma deficiência mental,
crianças, idosos, que são pessoas mais suscetíveis a mudanças na realidade,
conforme OLIVEIRA A; (2019).
Além disso, é importante porque, somente com a psicologia do testemunho é
possível a análise do intuito da testemunha, de sua personalidade, analisando de que
forma o testemunho será dado, ou seja, se vem imbuído de algum sentimento como
ódio, afeto, vingança, ou qualquer tipo de sentimento que possa interferir na qualidade
do testemunho, retirando sua imparcialidade. Assim sendo, a Psicologia do
Testemunho criou técnicas para obter o esclarecimento dos fatos da melhor forma
possível, conforme OLIVEIRA A; (2019).

31
A atuação do psicólogo na psicologia do testemunho tem como objetivo
proteger psicologicamente crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e outras
infrações penais que deixam graves sequelas no âmbito da estrutura da personalidade
do indivíduo, pois existe uma dificuldade em tomar depoimento de crianças e
adolescente. Também avalia a pessoa designada pelo juiz verificando sua
capacidade, veracidade ou uma possível omissão e, também, alguma mentira que o
testemunho diz, pois este pode estar sobre a influência de outra pessoa, conforme
CRUCES A; (2011).

9 PSICOLOGIA JURÍDICA E DIREITO CIVIL

Fronte: fortissima.com

Psicólogo jurídico e o direito civil: o psicólogo atua nos processos em que são
requeridas indenizações em virtude de danos psíquicos e também nos casos de
interdição judicial, conforme LAGO V; et al., (2009).
Dano psíquico: o dano psíquico pode ser definido como a sequela, na esfera
emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante (Evangelista &
Menezes, 2000 apud LAGO V; et al., 2009). Pode-se dizer que o dano está presente
quando são gerados efeitos traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório

32
comportamental da vítima. Cabe ao psicólogo, de posse de seu referencial teórico e
instrumental técnico, avaliar a real presença desse dano. Entretanto, o psicólogo deve
estar atento a possíveis manipulações dos sintomas, já que está em suas mãos a
recomendação, ou não, de um ressarcimento financeiro (Rovinski, 2005 apud LAGO
V; et al., 2009).
Interdição: a interdição refere-se à incapacidade de exercício por si mesmo
dos atos da vida civil. Uma das possibilidades de interdição previstas pelo código civil
são os casos em que, por enfermidade ou deficiência mental, os sujeitos de direito
não tenham o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. Nesses
casos, compete ao psicólogo nomeado perito pelo juiz realizar avaliação que
comprove ou não tal enfermidade mental. À justiça interessa saber se a doença mental
de que o paciente é portador o torna incapaz de reger sua pessoa e seus bens
(Monteiro, 1999 apud LAGO V; et al., 2009).

As questões levantadas em um processo de interdição incluem a validade,


nulidade ou anulabilidade de negócios jurídicos, testamentos e casamentos.
Além dessas, ficam prejudicadas a contração de deveres e aquisição de
direitos, a aptidão para o trabalho, a capacidade de testemunhar e a
possibilidade de ele próprio assumir tutela ou curatela de incapaz e exercer o
poder familiar (Taborda, Chalub & Abdalla-Filho, 2004 apud LAGO V; et al.,
2009).

Portanto, o psicólogo atua fornecendo o laudo técnico que avalia o indivíduo.


Verifica se existe algum dano psicológico ou sua extensão, formulando este laudo
psicológico que será submetido apreciação do juiz que fixará a sentença. O
profissional, nesta área, poderá ser escolhido pelo juiz ou por uma ou ambas as partes
para auxiliar no processo em questão, sendo um atuante no ramo da justiça. Com a
indústria de danos morais sendo cada vez mais ampliada, muitos profissionais estão
se especializando e formulando laudos como profissionais liberais ou em empresas.
De regra ele pode ser um profissional concursado para esta área ficando livre para
avaliar sem nenhum vínculo com a pessoa, mas sim com a verdade, conforme
CRUCES A; (2011).

33
10 PSICOLOGIA POLICIAL/MILITAR

Fonte: prezi.com

O psicólogo nessa área irá atuar no auxílio a policiais militares e seus familiares,
sendo muito importante o psicólogo conhecer o que um policial militar deve fazer e o
que ele vive como, por exemplo, ter que conviver com o perigo todos os dias com tiros,
graves acidentes, situações que envolvem sangue e etc. O policial militar possui a
função de garantir ordem e segurança para a população, porém, não há como ele se
sentir sempre seguro, muitas vezes trabalha esperando voltar com vida para sua
família. A profissão do policial militar é considerada pela Organização Mundial de
Saúde, desde 1998, a profissão de policial militar a segunda mais estressante de
todas, conforme CRUCES A; (2011).

11 MEDIAÇÃO

A mediação pode ser um instrumento poderoso de intervenção, que tem


importância fundamental na mudança ética e cultural, na conscientização, para que
as pessoas sejam senhoras de seus destinos, empoderadas e investidas na
autogestão e resolução pacífica de seus próprios conflitos, com auto-
responsabilização (ZAPPAROLLI, 2003 apud ROCHA B; et al., 2011).

34
Esse processo também procura desnaturalizar o papel do terceiro como
parcial, ou quem detém o poder de tomar as decisões sobre a vida das
pessoas. Ao contrário do juiz, deve o mediador ser neutro, não decidindo ou
mesmo fazendo sugestões às partes. Ao julgar procedente ou improcedente
um pedido no bojo de uma ação, o juiz decide o conflito diante de seu
convencimento e a neutralidade desaparece, permanecendo a imparcialidade
(ANDRADE, 2009 apud ROCHA B; et al., 2011).

Com a contribuição da psicologia e do direito, segundo ANDRADE (2009 apud


ROCHA B; et al., 2011), a mediação promove uma reflexão sobre o valor positivo do
conflito, o que faz com que seus partícipes, sob a atitude equidistante do mediador,
libertem-se de sua carga destrutiva, que se lhes apresenta como uma situação
intransponível.
Para GROENINGA (2007 apud ROCHA B; et al., 2011), o desenvolvimento do
ser humano se dá continuamente pelo conflito e pela transformação do conflito, sendo
este inerente à nossa natureza e constitutivo do ser humano. Ou seja, o conflito não
desaparece, ele é apenas transformado simbolicamente, sendo a dinâmica do conflito,
uma das principais contribuições teóricas da psicologia.
A análise da mediação de conflitos é oportuna posto que se trata de um meio
que contribui para o acesso à justiça e efetivação dos direitos. É importante para o
meio acadêmico e para os profissionais que atuam diretamente com a mediação de
conflitos, pois encontram nesta pesquisa um breve referencial sobre o tema. Também
apresenta relevância de caráter social, pois envolve discussões sobre uma forma
alternativa de resolução de conflitos por parte de uma população tão ameaçada pela
violação ao direito de acesso à justiça, conforme ROCHA B; et al., (2011).

Segundo GARCÍA (2003 apud ROCHA B; et al., 2011), deve-se advertir que
a mediação familiar é multidisciplinar: não somente interessa aos juristas,
mas também se estudam desde a ótica da psicologia ao trabalho social.
Revelando que esse processo une inúmeros aspectos psicojurídicos.

Portanto, Mediação é um processo no qual existe uma pessoa, não envolvida


na situação, que facilita a resolução do problema em questão. O psicólogo precisa
analisar vários aspectos dependendo do caso como, por exemplo, a autonomia de
todos os envolvidos, a situação financeira, o tempo disponível, o emocional, entre
outros. A função do psicólogo mediador é acolher os envolvidos e os advogados do
processo, prestar esclarecimentos julgados necessários de maneira clara, objetiva e
correta em relação aos procedimentos e aos fins da mediação, conforme CRUCES A;
(2011).
35
Precisa administrar a participação dos envolvidos e assegurar a integridade
física e emocional destes, formular perguntas de modo construtivo e buscar clareza
de todas as ideias. Assegurar o equilíbrio de poder entre os envolvidos, neutralizar
comportamentos repetitivos e facilitar a comunicação para todos, conforme CRUCES
A; (2011).

12 PSICOLOGIA JURÍDICA E DIREITOS HUMANOS

Fonte: andreiacorreiapsicologa.com

Segundo Coimbra (2000 apud PEROVANO C; et al., 2006), o que fica evidente
em se tratando dos movimentos relacionados aos Direitos Humanos é que as
diferentes práticas sociais, em diferentes momentos da história,

[...] vão produzindo diferentes ‘rostos’, diferentes ‘fisionomias’; portanto,


diferentes objetos, diferentes entendimentos do que são os direitos humanos.
Estes, produzidos de diversas formas, não têm uma evolução ou uma origem
primeira, mas emergem em certos momentos, de certas maneiras bem
peculiares. Devem ser, assim, entendidos não como um objeto natural e a-
histórico, mas forjados pelas mais variadas práticas e movimentos sociais
(COIMBRA, 2000, p. 142 apud PEROVANO C; et al., 2006).

36
Dessa forma, deve-se entender o homem como um ser histórico, um ser
constituído no seu movimento ao longo do tempo, pelas relações sociais e culturais
engendradas pela humanidade (BOCK, 2002 apud PEROVANO C; et al., 2006).
Nesse mesmo sentido, Coimbra (2000 apud PEROVANO C; et al., 2006) afirma que
no lugar de pensar os Direitos Humanos enquanto,

[...] essência imutável e universal do homem poderíamos, através de outras


construções, garantir e afirmá-los enquanto diferentes modos de
sensibilidade, diferentes modos de viver, existir, pensar, perceber, sentir;
enfim, diferentes modos e jeitos de ser e estar neste mundo (COIMBRA,
2000, p. 142 apud PEROVANO C; et al., 2006).

Entretanto, estas maneiras de ver a vida ainda são em sua grande maioria
entendidas como estando fora desses Direitos Humanos, “[...] pois não estão
presentes nos modelos condizentes com a essência do que tem sido produzido como
humano” (COIMBRA, 2000, p. 142 apud PEROVANO C; et al., 2006). Então surge a
afirmação de que a luta pelos Direitos Humanos é uma espécie de conservadorismo,
de inquietação, que percebemos, toma corpo atualmente entre muitos críticos do
capitalismo.

Reafirmamos que, se não entendemos esses direitos como um objeto natural,


obedecendo a determinados modelos que lhes seriam inerentes, podemos
produzir outros direitos humanos: não mais imutáveis, universais, absolutos,
eternos, contínuos e evolutivos. Teríamos ao contrário, a afirmação de
direitos locais, descontínuos, fragmentários, processuais, em constante
movimento e devir, provisórios e múltiplos como as forças que se encontram
no mundo (COIMBRA, 2000, p. 146 apud PEROVANO C; et al., 2006).

Deve-se, dessa forma, entender que só através da força dos movimentos


sociais organizados é que este quadro poderá mudar. “É no nível das práticas
cotidianas, micropolíticas, que podem estar as respostas para tais impasses”
(COIMBRA, 2000, p. 146 apud PEROVANO C; et al., 2006). A reinvenção de novas
maneiras de ser, de estar, de sentir e de viver neste mundo, isto é, o processo de
subjetivação é o que poderá fortalecer e expandir as práticas, e os movimentos que
visam o contra-ataque das políticas tradicionais, e dessa forma afirmar os Direitos
Humanos como direitos de todos, em especial dos miseráveis de hoje (COIMBRA,
2000, p. 146 apud PEROVANO C; et al., 2006).

37
Partindo dos pressupostos apontados até aqui, de que forma a Psicologia
poderia contribuir no que tange os Direitos Humanos? Para Coimbra (2000 apud
PEROVANO C; et al., 2006) é necessário entendermos a Psicologia, assim como a
Política, não em cima desses modelos hegemônicos,

[...], mas como produções históricas, como territórios não separados, mas
que se complementam e se atravessam constantemente, poderemos encarar
nossas práticas não como neutras, mas como implicadas no e com o mundo
(COIMBRA, 2000, p. 147 apud PEROVANO C; et al., 2006).

Portanto, esta implicação aponta para o lugar que o profissional ocupa nas
relações sociais em geral e não apenas no âmbito da intervenção que está realizando,
“[...] os diferentes lugares que ocupa no cotidiano e em outros locais de sua vida
profissional; em suma, os lugares que ocupa na História” (COIMBRA, 2000, p. 147
apud PEROVANO C; et al., 2006).

Estar implicado (realizar ou aceitar a análise de minhas próprias implicações)


é, ao fim de tudo, admitir que eu sou objetivado por aquilo que pretendo
objetivar: fenômenos, acontecimentos, grupos, ideias, etc., Com (sic) o saber
científico anulo o saber das mulheres, das crianças, dos loucos – o saber
social, cada vez mais reprimido como culpado e inferior (LOURAU, 1997,
apud COIMBRA, 2000, p. 147 apud PEROVANO C; et al., 2006).

Ainda, segundo Lourau (1977 apud PEROVANO C; et al., 2006) citado por
Coimbra (2000 apud PEROVANO C; et al., 2006), é necessário que se encontrem
formas de analisar nossas implicações para que, em quaisquer situações possíveis,
possamos nos situar nas relações de classe, nas redes de poder, em vez de nos
fixarmos, e permanecermos numa posição chamada de científica, objetiva e neutra.

Assim, se entendemos os objetos, saberes e sujeitos como produções


históricas, advindos das práticas sociais; se aceitamos que os especialismos
técnico-científicos que emergem como a divisão social do trabalho no mundo
capitalístico têm como função a produção de verdades e a desqualificação de
muitos outros saberes que se encontram neste mundo; se entendemos como
importante em nossas práticas cotidianas a análise de nossas implicações,
assinalando o que nos atravessa, nos constitui e nos produz, e o que
constituímos e produzimos com essas mesmas práticas, negaremos as
dicotomias. Articularemos Psicologia, Política e Direitos Humanos e
entenderemos uma série de outras questões: que nossas práticas produzem
efeitos poderosíssimos no mundo, sendo, portanto, políticas. Assumir tais
desafios é estabelecer rupturas com o pensamento hegemônico no Ocidente,
é romper com as “verdades” que estão no mundo e vê-las como temporárias,
mutantes, provisórias (COIMBRA, 2000, p. 147 apud PEROVANO C; et al.,
2006).

38
O II Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas, em maio de 2003,
na cidade de João Pessoa, tratou do protagonismo da Psicologia enquanto promotora
de saúde nas questões sociais que se mostram tão urgentemente necessárias de
intervenção. A conferência Protagonismo Social da Psicologia na Defesa dos Direitos
Humanos apontou que direitos humanos é uma questão de militância, de política, que
o psicólogo deve ser defensor dos direitos humanos como cidadão, engajado na
defesa dos direitos da vida, nas suas práticas cotidianas, conforme PEROVANO C; et
al., (2006).
Destaca-se ainda que o Conselho Federal de Psicologia e os Regionais
possuem comitês de Direitos Humanos, que conduzem importantes debates e
avanços da Psicologia brasileira nesta área. Há a necessidade de discussão crítica e
reflexiva desde a academia e no exercício profissional, pois os psicólogos têm, muitas
vezes, a ideia de senso comum de direitos humanos, tornando-os algo a parte da
prática profissional, conforme PEROVANO C; et al., (2006).
Portanto, atuam na defesa dos Direitos Humanos para que sejam efetivados,
pode-se citar o exemplo de uma pessoa na terceira idade, além do psicólogo avaliar
os aspectos psicológicos e psicossociais, a influência da atividade física na integração
social do idoso. O psicólogo irá auxiliar o idoso nas alterações psíquicas e psicológicas
através de uma avaliação psicológica, observando os aspectos que podem surgir
como a depressão, doenças degenerativas e outros, garantindo os Direitos Humanos
dessa pessoa, conforme CRUCES A; (2011).
Outro exemplo é a atuação com crianças que possuem alguma deficiência. A
atuação do psicólogo, além de garantir os Direitos Humanos desta criança é auxiliar
os familiares que sofrem devido à situação e os preconceitos enfrentados, conforme
CRUCES A; (2011).

39
13 VITIMOLOGIA

Fonte: canalcienciascriminais.jusbrasil.com

A Vitimologia é um setor da psicologia jurídica que presta assistência


psicológica às vítimas de crimes, sejam eles crimes diretos, que tenham contato direto
do criminoso com a vítima como, por exemplo, agressão, sequestro, até crimes
indiretos em termos físicos como furtos, assaltos de residências, onde não há o
contato do criminoso com a vítima. O psicólogo jurídico avalia a vítima em aspectos
biológicos, psicológicos e sociais, analisando sua personalidade. Estuda o seu
comportamento e sua participação na ocorrência do crime (enquanto vítima),
conforme CRUCES A; (2011).
A vitimologia tem como objetivo analisar possíveis traumas causados à vítima
com o objetivo de oferecer o tratamento adequado pós-trauma. A análise é feita
através de um psicólogo, sem a influência de terceiros, tais como delegados,
advogados e outros elementos do setor judicial. O psicólogo é um profissional
extremamente importante nesse setor judicial, pois ele dará apoio psicológico ás
vítimas de crimes, conforme CRUCES A; (2011).
Em casos menos severos pós-trauma, a vítima pode apresentar
comportamentos inadequados em relação à sociedade, tais como medo exagerado
de todos que não fazem parte de seu círculo social, isolamento da sociedade, entre
outros, esses comportamentos podem ser momentâneos ou durarem muito tempo, a
40
vítima que apresenta esse tipo de comportamento o vê como uma forma de refúgio
de possíveis repetições do crime ocorrido, conforme CRUCES A; (2011).
Em casos pós-trauma extremos podem levar a vítima a tornar-se um criminoso,
repetindo a terceiros o crime do qual sofreu. Algumas vítimas podem cometer suicídio
por não terem resistência emocional para superar o episódio traumatizante. Para que
grandes traumas não ocorram, é indispensável que as vítimas tenham um apoio
psicológico e se necessário que sigam corretamente o tratamento que lhe forem
indicados, muitas vezes o tratamento de uma vítima inclui medicamentos, desde
calmantes a antidepressivos, conforme CRUCES A; (2011).

13.1 Proteção a testemunhas

Segundo Monteiro (1999 apud VALADÃO G; 2005) a função do psicólogo “é


garantir a saúde mental das vítimas, buscando a superação do medo, o resgate da
autoestima, a adaptação ao novo ambiente das vítimas” (Monteiro, 1999, p. 36 apud
VALADÃO G; 2005).
As técnicas utilizadas pelos psicólogos do (PROVITA - O Programa Estadual
de Proteção a Vítimas e Testemunhas) devem focalizar os seguintes
comportamentos: a solução de problemas, a tomada de decisões, o pensamento
produtivo, a participação ativa na criação de valores sociais: “o profissional de
psicologia não só incentiva a discussão dos problemas e a planejar a superação das
dificuldades, mas ajuda a pôr em prática estes planos na perspectiva de integrar a
tomada de decisões” (Ribeiro, 1997, p. 13 apud VALADÃO G; 2005). As
vítimas/testemunhas devem entender que as privações encontradas servem como um
estágio para realizar um projeto de vida. Isso é contraditório, pois como pode se fazer
justiça, sendo injustiçado em direitos básicos como liberdade e privacidade?
Entretanto, viver sob ameaça, correndo grave risco de morte é também um contexto
que envolve muitas privações psicológicas - contradições do sistema.

Barros (1997 apud VALADÃO G; 2005) afirma que, no atendimento às


vítimas/testemunhas, é necessário considerar a realidade de violência, o
afastamento das vítimas/testemunhas e de suas famílias do seu meio social
(atividades profissionais e/ou estudantis, religiosas e de lazer). A adaptação
a um novo ambiente e a uma nova realidade gera angústias, insegurança e
medo que precisará suprir (Barros, 1997, p. 22 apud VALADÃO G; 2005).

41
Todo trabalho desenvolvido no PROVITA tem por finalidade buscar o bem-estar
físico e psicológico da testemunha, a fim de que possa contribuir com o
desvendamento e elucidação do fato criminoso. Faz parte, também, preparar o
indivíduo para depor na polícia e na justiça, levando em consideração sua idade, as
condições físicas e estado emocional as audiências, em geral, são precedidas de
atendimento psicológico e jurídico. Havendo necessidade, a pessoa é atendida
posteriormente, conforme VALADÃO G; (2005).
O psicólogo, além de atender a vítima/testemunha, realiza abordagem familiar
ou grupal, a fim de favorecer vínculos com os membros da família que não
ingressaram no Programa. Nota-se a preocupação de se trabalhar a consciência de
cidadania da vítima/testemunha e proporcionar condições econômicas e sociais para
sua emancipação, bem como trabalhar os sentimentos de medo, ansiedade e perdas
decorrentes do processo de violação, auxiliando, assim, na reorganização e na
reestruturação pessoal e familiar, conforme VALADÃO G; (2005).
Freud (1997 apud VALADÃO G; 2005) para explicar os meios que a civilização
recorre para conter e reprimir a agressividade instintiva humana aponta a lei como um
dos artifícios utilizados. A lei nada mais é do que um tipo de violência baseada no
suposto consenso entre os vários segmentos de uma determinada comunidade. A lei,
portanto, possui todas as condições para exercer a violência, pois ela o faz em nome
da preservação social, principalmente, produtiva- reprodutiva (Freud, 1997, p. 49 apud
VALADÃO G; 2005). No PROVITA a lei pode estabelecer a violência em nome da
proteção da vida das pessoas ameaçadas.
A lei regula e regulamenta a convivência do homem na civilização. Arbitra o
“status quo”, estabelece normas de conduta, padrões, convenções e regras. A
obediência à lei incorre em recompensa social, a desobediência, em castigo. Portanto,
as recompensas e castigos fazem parte das regras do jogo civilizatório. Segundo
Freud (1997 apud VALADÃO G; 2005), a lei só se sustenta mediante a força e a
coerção, diga-se, por meio da violência.
Um outro artifício, mencionado por Freud é a introjeção da agressividade que é
assumida por uma parte do ego, que se coloca contra o restante, como superego. A
tensão entre o severo superego e o ego manifesta-se como sentimento de culpa,
necessidade de punição. “A civilização, portanto, consegue dominar o perigoso desejo
de agressão do indivíduo, enfraquecendo-o, desarmando-o e estabelecendo no seu

42
interior um agente para cuidar dele, como uma guarnição numa cidade conquistada”
(Freud, 1997, p. 84 apud VALADÃO G; 2005). O mal-estar e a insatisfação podem ser
atribuídos também ao sentimento de culpa produzido pela civilização.
No Programa de Proteção pode-se visualizar essa fragilização do ego por meio
da introjeção das normas, pela perda da identidade, rompimento do ciclo social e o
sentimento de culpa em decorrência da “delação”. Nesse processo, é possível
estabelecer uma relação entre as restrições exigidas pelo Programa às pessoas que
precisam de proteção, pois como instituição responsável de proteger a vida, muitas
vezes, acentua as frustrações impostas pela civilização, conforme VALADÃO G;
(2005).
O Programa exige do protegido a inibição ou sublimação de muitos de seus
instintos para o cumprimento das normas de segurança. A vítima/testemunha não
deve revelar a sua história e identidade, não telefonar e nem se corresponder sem o
consentimento da equipe técnica, bem como não sair do local de segurança sem
autorização. Para Marcuse (1999 apud VALADÃO G; 2005), a aplicação e análise da
psicologia devem ser realizadas a partir dos acontecimentos sociais políticos que
definem a psique:

A Psicologia pôde ser elaborada e praticada como uma disciplina especial


enquanto a psique logrou sustentar-se contra o poder público, enquanto a
intimidade foi real, realmente desejada e obedecia a seus próprios moldes;
se o indivíduo não tem a capacidade nem a possibilidade de ser por si
mesmo, os termos da Psicologia convertem- se nos termos das forças da
sociedade que definem a psique. Nessas circunstâncias, a aplicação da
Psicologia à análise de acontecimentos sociais e políticos significa a
aceitação de um critério que foi viciado por esses mesmos acontecimentos.
A tarefa é, antes, a oposta; desenvolver a substância política e sociológica
das noções psicológicas (Marcuse, 1999, p. 25 apud VALADÃO G; 2005).

Para Horkheimer & Adorno (1978 apud VALADÃO G; 2005) “não existe uma
psicologia pura; o próprio substrato da psicologia - o indivíduo - não passa de uma
abstração se o retirarmos das suas determinantes sociais” (Horkheimer & Adorno,
1978, p.20 apud VALADÃO G; 2005). Marcuse (1999 apud VALADÃO G; 2005) afirma
que a análise da estrutura mental da personalidade deve ir além do indivíduo. Para o
autor “os princípios morais ‘que a criança absorve através das pessoas responsáveis
por sua criação, durante os primeiros anos de vida’, refletem ‘certos ecos filogenéticos
do homem primitivo” (Marcuse, 1999, p. 67 apud VALADÃO G; 2005).

43
Marcuse (1999 apud VALADÃO G; 2005) explica, a civilização é ainda
determinada por sua herança arcaica, e essa herança, afirma Freud, inclui
‘não só disposições, mas também conteúdos ideacionais, vestígios de
memória das experiências de gerações anteriores’. A Psicologia Individual,
portanto, é em si mesma Psicologia Grupal, na medida em que o próprio
indivíduo ainda se encontra em identidade arcaica com a espécie. Essa
herança arcaica anula a ‘brecha entre Psicologia Individual e Psicologia da
Massa’ (Marcuse, 1999, p. 67 apud VALADÃO G; 2005).

Segundo Marcuse (1999 apud VALADÃO G; 2005), essa concepção traz


extraordinárias implicações para o “método e a substância da ciência social”: (...) a
Psicologia rasga o véu ideológico e descreve a construção da personalidade, é levada
a dissolver o indivíduo: sua personalidade autônoma surge-nos como a manifestação
congelada da repressão geral da humanidade. A autoconsciência e a razão, que
conquistaram e deram forma ao mundo histórico, fizeram-no à imagem e semelhança
da repressão, interna e externa. Atuaram como agentes de dominação; as liberdades
que acarretaram (e que foram consideráveis) cresceram no solo da escravização e
conservaram essa marca de origem. São estas as perturbadoras implicações da teoria
freudiana da personalidade.
Ao ‘dissolver’ a ideia da personalidade do ego em seus componentes
primários, a Psicologia desvenda agora os fatores subindividuais e pré-individuais que
(em grande parte inconscientes para o ego) fazem realmente o indivíduo: revela o
poder do universal sobre os indivíduos e neles próprios (Marcuse, 1999, p. 67 apud
VALADÃO G; 2005).
O psicólogo, no atendimento às vítimas/testemunhas, não pode deixar de
considerar as condições sociais e o papel do sistema social, político e econômico da
formação do protegido. Não pode e nem deve se limitar a exigir adequação às normas
de sigilo, pois mesmo sendo “necessárias” acabam sendo desumanas e irracionais
como explicitaram os autores da teoria crítica. De certa forma, o cumprimento das
normas sem uma consciência crítica, pode consistir numa mera reprodução de
mecanismos de dominação, conforme VALADÃO G; (2005).
Ou seja, o indivíduo sob proteção pode se convencer de que precisa seguir
cegamente as normas por ser a única forma de se obter segurança. No entanto, deve
ter a clareza de que a segurança é um direito e que se existe o Programa é porque a
civilização ainda não descobriu ou não aceita outras mudanças necessárias para que
haja mais segurança, conforme VALADÃO G; (2005).

44
Conceição et. al. (2001 apud VALADÃO G; 2005) ao escrever sobre o modelo
brasileiro de proteção dão destaque para a intervenção multidisciplinar no
atendimento às vítimas/testemunhas e afirmam: “O desafio é possibilitar a passagem
e o deslocamento de lugares cristalizados e cristalizadores de identidades sociais,
pessoais e profissionais e permitir a construção de uma experiência estruturante de
novas subjetividades. ” Além disso, é necessário que sejam “construtores de si
mesmos, de seus destinos e do destino da sociedade” (Conceição et al., 2001, p. 27
apud VALADÃO G; 2005).
O atendimento às vítimas/testemunhas obedece a seguinte rotina:
 Recepção dos casos;
 Triagem dos casos;
 Encaminhamento ao local de proteção e/ou apoio e d) inserção do protegido
no mercado de trabalho, conforme VALADÃO G; (2005).

13.2 Perfil das vítimas e seus aspectos psicológicos

Segundo Monteiro (1999, p. 30 apud VALADÃO G; 2005), a vítima/testemunha


faz parte do grupo dos excluídos e dos desassistidos de políticas sociais básicas. A
maioria pertence ao sexo masculino, não tem qualificação profissional, está vinculada
ao setor informal de trabalho por apresentar baixa escolaridade, sua renda familiar
não passa de dois salários mínimos.
Normalmente, a estrutura familiar dos indivíduos sob proteção é marcada por
perturbações econômicas, sociais e psicológicas, pois já são vítimas dos sistemas
social, econômico e político injustos e desiguais que violam os Direitos Humanos.
Vivem em situação de vulnerabilidade, instabilidade, medo, terror, insegurança e
frustrações, conforme VALADÃO G; (2005).
As perdas afetivas ocorridas no trajeto de violação e ingresso no PROVITA são
desafios apresentados no processo de acompanhamento psicológico das
vítimas/testemunhas. Perdas que, em grande medida, são definitivas e irreparáveis,
pois nem sempre o objeto perdido pode ser resgatado, como por exemplo, quando se
trata da morte de um familiar, conforme VALADÃO G; (2005).

45
A elaboração da perda não é tarefa fácil, nem sempre é possível retirar dela
elementos estruturante que enriqueça um novo projeto de vida, que dê sentido, alivie
a dor, angústia e motive a reinserção social e uma ação para transformar a realidade,
conforme VALADÃO G; (2005).

A perda é percepcionada pelos beneficiários como uma experiência


devastadora, capaz de desestabilizar e de acabar com perspectivas de futuro,
semelhante, portanto, a loucura e à morte, devido às suas características de
fatalidade e de irreversibilidade. Assim, na perda se deixa de ser ou ter, sem
que nada se possa fazer para evitá-la (Ribeiro, 1999, p. 19 apud VALADÃO
G; 2005).

Outros fatores destacados por Ribeiro (1999 apud VALADÃO G; 2005) como
desafios são a falta de privacidade e a falta de liberdade. Os indivíduos não podem se
comunicar por carta, telefone ou outros meios sem a aprovação e controle da equipe
técnica. O seu direito de ir e vir também é decidido pelo Programa. Segundo a autora,
a falta de privacidade e liberdade é fonte de angústia, impotência e dominação.
Ribeiro (1999 apud VALADÃO G; 2005) afirma que o conteúdo do testemunho
é envolvido por influências endógenas e exógenas, quase sempre difíceis de superar.
Além disso, enfatiza a importância de se levar em conta que a violação presenciada
ou experimentada pode conduzir o indivíduo a uma situação de estresse pós-
traumático, afetando a clareza do seu testemunho e a sua retomada de vida (Ribeiro,
1999, p. 18).
Monteiro (1999 apud VALADÃO G; 2005), após analisar dez casos de
vítimas/testemunhas que ingressaram no Programa nos anos de 1997 e 1998, expõe
duas questões centrais: o que motiva a vítima/testemunha a aceitar o apoio e proteção
do PROVITA e qual o seu perfil? Para a autora a deficiência e ineficiência do Sistema
Penal no combate à violência e impunidade são fontes de descrédito e desmotivação
para contribuir com a justiça. A vítima deixa de buscar reparação para a violência
sofrida, para as suas dores, perdas e direitos, ficando presa ao silêncio e ao
desamparo.
Segundo Monteiro (1999, p. 34 apud VALADÃO G; 2005), o indivíduo ingressa
no Programa para buscar alívio no sofrimento mental, na dor da violência vista ou
vivenciada. É a forma encontrada para sair do limite da loucura:
 ‘Eu não aguentava ver o assassino de minha mãe’.
 ‘Eu sofri muito. Fui muito torturado por crimes que não cometi e não
cometo. Eu ajudarei a justiça no que precisar. É muito duro presenciar o
46
assassino passar todos os dias pela minha rua como se nada tivesse
acontecido’.
 ‘Eu sabia que era a próxima vítima’ (Monteiro, 1999, p. 34 apud
VALADÃO G; 2005).
O ingresso da vítima/testemunha no PROVITA representa um lugar seguro
para exercer a sua cidadania, desenvolver nova identidade e projeto de vida. No
entanto, após passar à fase de risco eminente, entra na fase pós-traumática, surgindo
sentimentos de angústia e depressão. Nessa fase começa a somatizar, prejudicando
ainda mais seu bem-estar físico e psicológico (Monteiro, 1999, pp.35-36). A
perturbação de stress pós-traumático – PTSD é uma ameaça grave para a vida ou
segurança e ultrapassa em intensidade as experiências comuns da vida do indivíduo
(Serra, et al, 2003, p. 9 apud VALADÃO G; 2005).
De acordo com VALADÃO G; (2005), para o diagnóstico do distúrbio de stress
pós-traumático estão presentes algumas situações muito comuns à vivência das
vítimas/testemunhas que ingressam no PROVITA:

A pessoa vivenciou, testemunhou ou foi controlada com um ou mais


acontecimentos que envolveram a morte ou ferimentos graves, reais ou
ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou dos outros. A
resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror (nas
crianças pode ser expresso por comportamento desorganizado ou agitado)
(apud. Fernandes, et al., 2003, pp. 35-38 apud VALADÃO G; 2005).

A guerra e o terrorismo estão entre os acontecimentos que mais têm levado os


investigadores ao estudo do PTSD, quer pela extensão da ameaça a vida das
pessoas, quer pelas perdas humanas e materiais que acarretam. Nos últimos anos,
muitos pesquisadores passaram a dar especial atenção aos eventos traumáticos e as
respectivas respostas dos indivíduos a essa situação. Como exemplo de ataques
terroristas, cita-se o ocorrido em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos,
quando quatro aviões provocaram a morte de milhares de pessoas (Valentine, et al,
2003, pp. 35-38 apud VALADÃO G; 2005).
Segundo Kilpatrick et al. (1987) as vítimas/testemunhas de crimes têm grande
probabilidade de desenvolver PTSD, principalmente quando há uma ameaça séria à
vida. Os autores verificaram que as vítimas de violação têm 57% de probabilidade
para desenvolver PTSD. Resnick et al. (1993 apud VALADÃO G; 2005) alteraram esta
porcentagem para 76% e Rothbaum et. al. (1992) para 94% em pessoas que foram

47
avaliadas após terem sido vítimas de violação (apud. Fernandes, et al., 2003, p. 42
apud VALADÃO G; 2005).
Os acontecimentos caracterizados como PTSD são persistentemente revividos
por recordações aflitivas, recorrentes e intrusas do evento, incluindo imagens,
pensamentos ou percepções; sonhos recorrentes e af1itivos com acontecimentos;
sensações como se o acontecimento traumático ocorresse novamente (sentimento de
revivência da experiência, ilusões e alucinações); reatividade fisiológica e sofrimento
psicológico intenso, ambos quando expostos a indícios externos ou internos que
simbolizam ou lembram algum aspecto do acontecimento traumático (Fernandes, et
al., 2003, p. 38 apud VALADÃO G; 2005).
Segundo Fernandes et al. (2003 apud VALADÃO G; 2005), as situações
traumáticas podem ter como consequência a reformulação dos pressupostos do
indivíduo em relação a si e ao mundo, valorizando mais a sua vida e a dos outros.
Entretanto, muitas vezes, as situações traumáticas trazem um impacto psicológico
negativo que podem perdurar na vida da vítima (Fernandes et al., 2003, p. 51 apud
VALADÃO G; 2005). Observa-se, assim, que a situação de trauma afeta o bem-estar
psicológico, fisiológico, interpessoal e familiar do indivíduo e, no caso específico da
vítima/testemunha, afeta também a qualidade do testemunho.
A PTSD é caracterizada por sintomas que impedem a lembrança da situação
traumática, portanto, o processo de questionamento deve ser cuidadoso, eficaz e
apoiante, auxiliando o indivíduo a ultrapassar emoções como a vergonha ou a culpa
e a fornecer poder. (Fernandes et al., 2003, p. 51 apud VALADÃO G; 2005). A
testemunha, ao denunciar, revive o que presenciou e sofreu. Nesse processo, pode
apresentar posturas como passividade, imobilidade ou consciência de seus direitos
de cidadão. Dependendo do desfecho dos procedimentos jurídicos, a
vítima/testemunha poderá sentir-se contemplada e reparada pela violação sofrida.
Um fator de intimidação e insegurança pode ser encontrado em denúncias que
envolvem agentes do Estado, policiais e políticos. Segundo Ribeiro (1999 apud
VALADÃO G; 2005), a vítima/testemunha deve adquirir consciência crítica para
entender a lógica do sistema de justiça e segurança e as armadilhas que podem ser
preparadas para desqualificar seu testemunho.

48
É importante que o indivíduo seja esclarecido quanto aos mecanismos sociais
implicados no processo de violência, de proteção e na manutenção do sistema
gerador desses mecanismos. Assim, poderá libertar as amarras ideológicas que o
cegam e o impedem de interferir e propor mudanças de estruturas sociais, autoritárias,
corruptas e injustas, geradoras do agressor, da vítima e consequentemente das
testemunhas, conforme VALADÃO G; (2005).

Baker (1998 apud VALADÃO G; 2005) representante do Serviço Marshall de


Proteção a Testemunhas dos Estados Unidos, evidenciou, em um seminário
realizado pelo Gajop, aspectos similares de funcionamento do PROVITA. Os
desafios enfrentados pelo Serviço Marshall estão diretamente relacionados
ao perfil da testemunha que tem ligação ou é criminosa. Os aspectos
psicológicos das vítimas e testemunhas estão diretamente relacionados ao
tempo ocioso. Segundo o autor, a testemunha não tem qualificação
profissional. Seu principal trabalho relaciona-se a atividades criminosas. Sob
proteção, deixa essa atividade e até conseguir uma nova ocupação sofre com
o tempo em que fica desocupada.

Baker (1998, p. 8 apud VALADÃO G; 2005) destaca, também, o desafio de se


manter clandestina a identidade de uma pessoa em um mundo globalizado e
tecnologizado, a começar por tribunais que possuem câmeras e outros equipamentos
de identificação.
Dr. Pietro Grasso representante da Procuradoria Nacional Anti-Máfia –
(Programa de Proteção à Testemunha Italiano), no I seminário de proteção à
testemunha dá como exemplo a primeira investigação contra a maior organização
mafiosa italiana “Cosa Nostra” que contou com o depoimento de duas testemunhas:
“a investigação envolvia a acusação contra 470 pessoas e foi concluída com
numerosas condenações à prisão perpétua dos expoentes máximos da Organização
e a atribuição de milhares de anos de reclusão”. Essa sentença foi dada em 1992.
Nessa ocasião, a Cosa Nostra reagiu de forma gravíssima, causando uma carnificina.
Além de homicídios dos magistrados envolvidos no julgamento, continuaram por mais
uma temporada de matança em Roma, Florença e Milão (Grasso, 1998, pp. 15-16
apud VALADÃO G; 2005).
O autor conclui que os resultados definitivos na luta contra a máfia e o crime
organizado só poderiam ser alcançados se a ação repressiva se unisse a intervenções
que garantissem os Direitos Humanos fundamentais dos cidadãos e, em particular,
das vítimas (Grasso, 1998, p.16 apud VALADÃO G; 2005). A máfia e o crime
organizado, muitas vezes, protegem e assistem os indivíduos de forma mais eficaz

49
que o próprio Estado. Marcuse oferece maior esclarecimento ao considerar o Estado
pós-industrial moderno (“Welfare state” – o Estado do Bem-Estar Social) beligerante,
causador das piores atrocidades contra o crescimento humano:

A união da produtividade crescente e da destruição crescente; a iminência de


aniquilamento; a rendição do pensamento, das esperanças e do temor às
decisões dos poderes existentes; a preservação da miséria em face da
riqueza sem precedente constitui a mais imparcial acusação ainda que não
sejam a razão de ser desta sociedade, mas apenas um subproduto, o seu
racionalismo arrasador, que impele a eficiência e o crescimento, é, em si,
irracional (Marcuse, 1982, p. 17 apud VALADÃO G; 2005).

Segundo Grasso (1998 apud VALADÃO G; 2005), o indivíduo ao se sujeitar à


organização criminosa sofre por não poder falar, pelo silêncio forçado. Quando está
sob proteção, sofre por relembrar, por romper a lei do silêncio, pelo medo e
insegurança em denunciar (Grasso, 1998, pp. 13-21 apud VALADÃO G; 2005).
Almeida (1999 apud VALADÃO G; 2005), descreve a vítima como ser singular, pessoa
que de um momento para outro é obrigada pelas ameaças e risco de morte a mudar
sua vida:

Trata-se de seres singulares que deixam para trás suas histórias de vida de
relações familiares, afetivas, de desafetos, de acomodações e resistências -,
que abandonam projetos e, ao fazê-lo, abrem mão de identidades construídas
ao longo de suas trajetórias de vida. Passam a contrair novas relações e
assumem novas identidades são identidades clandestinas em tempo de
normalidade democrática. Ao ingressarem no Programa que não é
propriamente uma escolha, mas uma tentativa desesperada de autoproteção,
testemunhas e/ou vítimas comprometem-se a observar rígidas normas de
segurança: não podem revelar suas identidades nem fragmentos de suas
histórias mesmo na esfera da intimidade, a sua comunicação com o mundo
externo é estritamente condicionada por sua capacidade de fazer uso seletivo
da memória e da linguagem (Almeida, 2001, p. 12 apud VALADÃO G; 2005).

O que motiva a vítima/testemunha a ingressar no Programa é o medo, é o fugir


da morte. Desta forma, se sujeita ao desenraizamento das situações-limite de dor de
perdas. Passa a ser um exilado no próprio país, sem perspectiva de volta, posto que
esta é condicionada ao sucesso dos procedimentos judiciais que podem durar anos.
Nessa perspectiva, se faz necessário um esforço para entender o que de fato significa
ser testemunha no Brasil onde os Direitos Humanos são constantemente violados,
inclusive, como já foi mencionado, por agentes do Estado, conforme VALADÃO G;
(2005).

50
O indivíduo chega no PROVITA como vítima. O trabalho da equipe do
Programa é ajudá-lo a exercer sua cidadania, a se tornar uma testemunha,
denunciando o que feriu seus Direitos Humanos. Segundo Benevides (1999 apud
VALADÃO G; 2005), a ameaça além de ser contra a vida do indivíduo é um atentado
contra a sua integridade psicológica. A crise coloca o sujeito numa situação-limite:
“São justamente os limites das fronteiras de seu território existencial que estão sendo
forçados a outros movimentos. Acima de tudo, é sua identidade, aquela que ele crê
inabalável, que está colocada em cheque” (Benevides, 1999, p. 69 apud VALADÃO
G; 2005).
Os principais aspectos psicológicos apontados por Benevides (1999, pp. 69-70
apud VALADÃO G; 2005) são: violação dos Direitos Humanos, situação de crise,
ruptura avassaladora de fronteiras, identidade em cheque, medo, situação de
impotência - vitimização, sofrimento com a ação do violador, mudanças quanto à
moradia e vínculos afetivos. São vítimas da falta, da carência. Vivem situações de
frustrações e fracassos.
Almeida (1999 apud VALADÃO G; 2005) afirma que ser testemunha, denunciar
a violência neste cenário de constantes violações dos Direitos Humanos “é um ato de
coragem, de defesa da vida, que pode simbolizar o exercício da cidadania por parte
de segmentos que historicamente têm sua cidadania negada” (Almeida, 1999, p. 73
apud VALADÃO G; 2005).
Os aspectos psicológicos das vítimas/testemunhas assinalados por Almeida
(1999 apud VALADÃO G; 2005) são: fragilidade, rupturas, perdas rearranjo da
dinâmica familiar ambiguidades, tensões, cumprimento das normas, tutela que
autoriza a invasão da vida privada, qualificação e desqualificação do testemunho
frente às armadilhas da defesa. Enfrentam preconceitos e estereótipos,
redirecionamento dos projetos de vida, identidades clandestinas, reinserção em redes
transitórias, desenraizamento familiar.

Segundo Velôso (1999, p. 39 apud VALADÃO G; 2005) “O silêncio das


testemunhas é o termômetro mais evidente a compelir a angustiante procura
por mecanismos efetivos e visíveis, que atuem como instrumentos
alternativos na tentativa por buscar formas de solução dos conflitos sociais”.

51
O desamparo social, no qual se encontram as vítimas/testemunhas antes de
ingressarem no PROVITA, é apontado nos textos de Almeida (1999, 2001 apud
VALADÃO G; 2005); Barros (1997 apud VALADÃO G; 2005 apud VALADÃO G; 2005);
Benevides (1999 apud VALADÃO G; 2005); Castro (2001 apud VALADÃO G; 2005);
Monteiro (1999, 2001 apud VALADÃO G; 2005) e Ribeiro (1997, 1999 apud VALADÃO
G; 2005). Entre os sofrimentos implicados no processo de proteção, os mencionados
autores dão destaque para o descaso do Estado em efetivar políticas sociais básicas
e ao desrespeito dos Direitos Humanos. Dessa forma, a testemunha é levada a
questionar se poderá de fato confiar no Estado que deixa de cumprir com suas
responsabilidades.
O ingresso no Programa, como já foi mencionado, é um momento crítico na
vida da vítima/testemunha. É marcado por perdas, tensões, ambiguidades,
rompimento e reestruturação do ciclo familiar, conforme VALADÃO G; (2005).
Freud (1997, p. 27 apud VALADÃO G; 2005), na obra O mal-estar na
civilização, aponta as consequências sociais e psicológicas de indivíduos que não
satisfazem suas necessidades básicas, ocasionando um mal-estar geral na
sociedade. Nessa direção, a sociedade capitalista sustenta a promessa de realização,
bem-estar e felicidade para todos, motivando o indivíduo a perseverar mesmo com
sacrifícios. Essas promessas estão diretamente relacionadas ao “bem-estar
econômico” destinado a uma minoria de pessoas, ficando grandes contingentes
condenadas à miséria, a longas e exaustivas jornadas de trabalho, levando o indivíduo
a situações-limite interna e externamente.
Freud (1997, p. 25 apud VALADÃO G; 2005) apresenta, nessa perspectiva,
questões que permitem compreender como o ser humano lida com suas limitações,
sofrimentos, diante de si mesmo, dos relacionamentos e diante dos fenômenos da
natureza:

Assim, nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa


própria constituição. Já a infelicidade é muito menos difícil de experimentar.
O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo,
condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar
o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo,
que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e
impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens
(Freud, 1997, p. 25 apud VALADÃO G; 2005).

52
A sociedade capitalista de certa forma representa uma ameaça nas três
direções que o autor descreve como fontes de felicidade: no físico o corpo é explorado
por muitas horas de trabalho, privado de descanso, visto que a valorização está
direcionada à produção; ameaça do mundo externo a sociedade capitalista é movida
por um sistema de dominação do homem sobre a natureza e de uns sobre os outros,
priorizando o acúmulo de capital em detrimento do indivíduo; por fim, a sociedade
capitalista acaba provocando a falta de identificação do indivíduo. Nessa direção, a
vítima é duplamente ameaçada: pelo sistema violador dos Direitos Humanos e pelos
violadores, agressores que foram gerados nesse processo de exploração e ameaça,
conforme VALADÃO G; (2005).
Nessa direção, a vítima/testemunha também se vê ameaçada em todas as
direções: no físico ameaça de morte por parte do agressor; ameaça externa a
sociedade não acolhe nem protege o indivíduo; os vínculos afetivos são abalados e
em alguns casos interrompidos pelas exigências do Programa, conforme VALADÃO
G; (2005).

Para Freud (1997 apud VALADÃO G; 2005), a luta pela liberdade e felicidade
ocorre entre as pulsões de vida (Eros) e de morte (Thanatos). Enquanto as
pulsões de vida têm por finalidade a união da vida união entre pessoas,
desejos e ideais; comportamentos e sentimentos que possibilitam a
viabilidade da sociedade as pulsões de morte buscam a desagregação, a
desarticulação e, assim, a destruição da sociedade (Freud, 1997, p. 77 apud
VALADÃO G; 2005).

As pulsões de morte precisam ser controladas para que a civilização possa


existir. Uma das principais formas de controle das pulsões é o sentimento de culpa,
pois por intermédio dele é introjetado os tabus e as proibições, gerando a moralidade.
Dessa forma, ainda que a base do desenvolvimento da sociedade esteja
fundamentada no controle parcial das pulsões de morte, para Freud, também as
pulsões de vida são desviadas de sua origem sexual sob a forma de sublimação,
devido ao conflito entre o princípio de prazer e o controle social, conforme VALADÃO
G; (2005).
Freud destaca que para viver em sociedade é preciso renunciar a uma parcela
de nossa felicidade: “Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas à
sexualidade do homem, mas também à agressividade, podemos compreender melhor
porque é difícil ser feliz nessa civilização” (Freud, 1997, p. 72 apud VALADÃO G;
2005).

53
O combate ao mal-estar da civilização se dá de forma objetiva e concreta. Na
vítima/testemunha é semelhante: para se livrar das ameaças aceita e busca
mecanismos de proteção. Freud (1997 apud VALADÃO G; 2005) afirma que os
indivíduos buscam suprir a suas faltas com elementos da religião, da ciência, da arte,
do uso de drogas como meio de se alcançar a felicidade.
Nessa perspectiva, suas ações conscientes podem servir de instrumento de
transformação da sua realidade de sofrimento e sacrifício. A vítima/testemunha ao
sentir que a sua vida está sendo preservada, ao perceber claramente os mecanismos
de dominação e violação dos seus direitos, terá, com certeza, condições de buscar
sua emancipação, conforme VALADÃO G; (2005).
Portanto, existe um Programa de Apoio ás Testemunhas que oferece proteção
e apoio psicológico às testemunhas de crimes muito graves e violentos, dos quais
podem colocar em risco a vida da testemunha. Possui como objetivo principal proteger
a testemunha de possíveis ameaças à sua vida e de seus familiares. O psicólogo tem
grande função nesse processo de apoio a testemunhas, pois será ele quem
diagnosticará se a vítima realmente precisa de proteção ou se apenas precisa de um
apoio psicológico, além de facilitar a relação da testemunha com seus protetores,
monitorar o equilíbrio emocional, auxiliar na superação do medo e na adaptação do
ambiente e estimular o fortalecimento dos laços familiares. Logo, precisa garantir a
saúde mental da testemunha, conforme CRUCES A; (2011).
Geralmente a testemunha passa por análise de advogados que zelarão pelo
direito à proteção à testemunha caso seja necessário, os assistentes sociais
defenderão e ampliarão os direitos humanos e a justiça social, e o psicólogo oferecerá
apoio psicólogo à testemunha. Desde o primeiro contato da testemunha com o Centro
de Apoio ás Testemunhas sempre haverá um psicólogo, que neste caso tem como
objetivo acalmar a testemunha e deixá-la livre do medo que poderá estar sentindo no
momento da busca pelo apoio ás testemunhas, conforme CRUCES A; (2011).
O trabalho do psicólogo se sintetiza em fazer com que a testemunha se sinta
bem, protegida e disposta a colaborar com as investigações do crime. A proteção
física da testemunha é feita por pessoas qualificadas para essa tarefa, policiais
treinados e preparados para tal função, o psicólogo zela primeiramente pelo bom
convívio entre testemunha e a quem o protege, pois é fundamental que a testemunha
se sinta livre de medo, conforme CRUCES A; (2011).

54
Através de diálogos entre o psicólogo e a testemunha é criado um laço de
confiança, para que a partir disso a testemunha se sinta segura para contar o que
sabe e testemunhar a partir de informações corretas sem nenhum abalo psicológico
que possa alterar seu depoimento. Nesse setor da psicologia jurídica o psicólogo tem
uma função bastante complexa, pois muitas vezes além de interagir sobre a proteção
às testemunhas. Com frequência, essas testemunhas também precisam de apoio da
vitimologia, o que torna esse processo lento, variando de acordo com o trauma da
vítima que também é testemunha, conforme CRUCES A; (2011).
O psicólogo interagirá junto com a família da testemunha e seu círculo social,
lhe proporcionando o acolhimento afetivo familiar com o intuito de fornecer segurança
emocional, para que desta maneira além de se sentir melhor consigo mesma possa
colaborar com o cumprimento da lei através de seu depoimento. Necessitar do apoio
do programa de proteção ás testemunhas pode ser algo bem traumatizante para um
ser humano, pois além de ter presenciado o acontecimento de um crime violento,
estará consciente que sua vida está em perigo em função disso, conforme CRUCES
A; (2011).
Após a assistência dada pelo Programa de Apoio ás Testemunhas e finalização
deste processo há ainda uma continuidade do trabalho do psicólogo referente à
testemunha, pois esse também terá como tarefa desenvolver alguns aspectos de
reintegração da testemunha à sociedade aprimorando sua criatividade e dedicação ás
tarefas de seu cotidiano, a estimulação da família e dos amigos a reinserção à
sociedade da testemunha é de suma importância para que o indivíduo não acabe se
tornando ocioso, ou até mesmo depressivo, conforme CRUCES A; (2011).

55
14 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM INSTITUIÇÕES DE JUSTIÇA

Fonte: diariodegoias.com.br

Segundo Silva (2003 apud COSTA J; et al., 2015) no âmbito judicial, a


psicologia jurídica e a avaliação psicológica têm caminhado juntas, se aperfeiçoando
ao longo do tempo para acompanhar as demandas da justiça. A inclusão da psicologia
forense nos processos legais foi proveniente da necessidade da justiça de atestar a
veracidade de um testemunho, de avaliar a capacidade psicológica de familiares em
casos de disputa de guarda, com o objetivo de precisar se o indivíduo tem ou não
algum distúrbio que o incapacite de se responsabilizar pelo ato que cometeu, a
avaliação psicológica foi introduzida em causas penais com a finalidade de periciar, e
se fazer presente em questões relacionadas ao Direito de Família, ao Juizado da
Infância e Juventude, ao Direito Civil, ao Direito Penal e ao Direito do Trabalho.

Recorre-se à prova pericial das avaliações psicológicas quando os


argumentos ou demais provas de que se dispõe não são suficientes para o
convencimento do juiz em seu poder decisório, portanto, esta tem como
finalidade última auxiliar o juiz em sua decisão acerca dos fatos que estão
sendo julgados. (SILVA, 2003 APUD JUNG, 2014, p. 2 apud COSTA J; et al.,
2015).

56
Conforme Silva (2003 apud COSTA J; et al., 2015) a influência dos laudos
psicológicos nas decisões judiciais é de responsabilidade do psicólogo, apesar de
saber que a decisão final será do juiz, o psicólogo forense deve ter uma postura
neutra, imparcial, porém não perdendo o foco da solicitação feita pelos agentes
judiciais, a escolha dos instrumentos que serão utilizados para o processo de
avaliação psicológica deve se adequar as demandas do caso avaliado.
Os testes são muito usados não apenas por serem instrumentos de uso
exclusivo dos psicólogos, mas por fornecerem indícios mais acurados quanto às
necessidades, às defesas psicológicas e aos prejuízos psíquicos, devem ser válidos
e fidedignos, de forma a garantir seu uso de forma confiável, conforme COSTA J; et
al., (2015).
Apesar da constante discussão acerca da validade dos instrumentos de
avaliação, uma pesquisa realizada por Rovinski e Elgues (1999 APUD JUNG, 2014
apud COSTA J; et al., 2015) com psicólogos forenses no estado Rio Grande do Sul
revelou que 87% dos participantes faziam uso de instrumentos psicológicos, além da
entrevista clínica. Entre as técnicas mais utilizadas, foram citadas entrevistas,
observações de comportamentos. Os testes projetivos e gráficos foram os mais
citados (87%), seguidos dos percepto-motores (71%) e, em menor frequência, os
inventários e escalas (18%). Com bases nestas pesquisas, os testes projetivos são
mais aplicados no âmbito jurídico.
Conforme Shine (2005 apud COSTA J; et al., 2015) na entrevista o psicólogo
pode envolver terceiros, pessoas da família que possam fornecer mais dados sobre o
sujeito para conferir a fidedignidade das respostas fornecidas pelo avaliado. Os testes
psicológicos geralmente devem responder as hipóteses levantadas pelo solicitante da
avaliação. No Direito Penal, Rovinsky (2003 APUD JUNG, 2014 apud COSTA J; et al.,
2015) afirma que há a utilização dos exames de determinação da responsabilidade
penal, quando se necessita esclarecer quão preservadas encontravam-se as
capacidades de entendimento e autodeterminação do réu no momento do crime.
O exame de insanidade mental, para determinar o grau de culpabilidade, é
muito solicitado, pois muitas vezes é utilizado deste artifício para se livrar de uma
penalidade. Nos processos por danos morais, por meio da perícia psicológica, leva-
se aos autos a realidade psíquica da vítima, o que auxilia na garantia dos direitos

57
humanos ao permitir que tais vítimas reivindiquem seus direitos, conforme COSTA J;
et al., (2015).
Os exames de interdição, também, são pedidos frequentes no Judiciário e
consistem em avaliar a capacidade civil do sujeito, se realmente não possui
discernimento pleno para exercer os atos da vida civil. Nessas perícias o psicólogo
utilizará com frequência testes que avaliam a inteligência e as funções
neuropsicológicas, além dos testes que avaliam a personalidade. Segundo Jung (2014
apud COSTA J; et al., 2015), no Direito Trabalhista a perícia psicológica busca
entender se há nexo de causalidade entre o sofrimento psicológico ou transtorno
mental alegado pelo sujeito e o seu ambiente de trabalho, devendo atentar-se para a
existência de transtornos psicológicos prévios por consequência de diferentes
situações que ocorrem no trabalho, nos casos de assédio moral e o assédio sexual.
O psicólogo, também, poderá realizar avaliações psicológicas periciais no
contexto da delinquência juvenil; poderá emitir parecer para fornecer subsídios à
decisão judicial, nessa avaliação, este profissional deve realizar um amplo e
aprofundado estudo das condições psicológicas, socioculturais e familiares, a fim de
atender, de fato, às necessidades do adolescente (SERAFIM; SAFFI, 2012 APUD
JUNG, 2014 apud COSTA J; et al., 2015).
Para os casos de disputa de guarda, os avaliadores devem deter-se a examinar
o ajustamento da criança, a saúde mental de cada um dos pais, a atitude da criança
com cada genitor, a atitude de cada genitor com a criança e a natureza do
relacionamento entre os membros da família (JUNG, 2014 apud COSTA J; et al.,
2015).
Jung (2014 apud COSTA J; et al., 2015) assegura que a ética do psicólogo
forense não se diferencia dos psicólogos de outras áreas de atuação, devem ser
observados os códigos de ética do CFP, devem sujeitar-se as avaliações aprovadas
pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI). O psicólogo deve
garantir o sigilo, assegurar ao avaliado quais os objetivos da avaliação e qual a
demanda do judiciário. Jung (2014 apud COSTA J; et al., 2015) afirma que no Brasil
existe uma carência de pesquisas no campo da psicologia jurídica, existem poucos
testes exclusivamente indicados para o contexto judicial, porém as demandas da
sociedade moderna, os direitos humanos, pressionam para que novas técnicas sejam
adaptadas.

58
A autora, também, afirma que no Brasil, apenas dois instrumentos que são
direcionados às avaliações psicológicas no âmbito jurídico, o PCL-R ou Escala Hare
e o IFVD, em outros países existem vários instrumentos para auxiliar as avaliações
psicológicas, conforme COSTA J; et al., (2015).

14.1 Avaliação psicológica forense

Santos (2013 apud COSTA J; et al., 2015) define a psicologia forense como
sendo uma área particular da psicologia da justiça, que tem por finalidade aplicar o
conhecimento psicológico ao trabalho no processo de tomada de decisão de ordem
judicial, sendo assim, um exercício pericial. Busca encontrar respostas referentes a
contextos científicos e práticos que são submetidos pela justiça aos profissionais
psicólogos especializados nesta área, fazendo uma integração entre a psicologia e o
direito, podendo ser vista desta forma como um campo interdisciplinar.
O objetivo da psicologia forense é realizar uma avaliação do comportamento
humano conforme a necessidade apresentada pelos âmbitos de justiça e também
para fornecer um auxílio nos processos de intervenção judicial, como também na
tomada de decisões de processos de caráter judicial. A área de atuação do psicólogo
forense engloba contextos variados como a avaliação forense de vítimas e arguidos
em processos de crime, de pais e filhos na questão de responsabilidade parental,
também em processos de adoção, avaliação de danos pós-traumáticos, avaliações
nos âmbitos de proteção de crianças e no âmbito tutelar (MANITA; MACHADO, 2012
apud COSTA J; et al., 2015).
Davoglio e Argimon (2010 apud COSTA J; et al., 2015) abordam a visão legal,
enfatizando que a partir do momento em que o indivíduo comete um ato infracional é
percebido como sendo um sujeito capaz de se responsabilizar pelos seus atos, o setor
judiciário, por meio da legislação, assume a condução do caso. Mas quando
porventura o delito engloba a competência para julgar a pessoa ou em conter seu
comportamento, nesta situação a avaliação se embasa nas capacidades mentais do
indivíduo, nesse caso, a avaliação não é de responsabilidade da esfera jurídica.

59
É de suma importância que nessa realidade as condições de imputação
preditas na lei sejam determinantes para medidas penais, correcionais e/ou de
segurança que serão executadas perante crimes ou delitos efetuados. Por isso, é
necessário o auxílio de profissionais especializados em avaliação psicológica forense
conforme COSTA J; et al., (2015).

A avaliação psicológica para fins forenses é caracterizada pela produção de


investigações psicológicas e comunicação de seus resultados visando à
aplicação no contexto legal. Todo o processo de coleta de dados, exame dos
elementos e apresentação de evidências está voltado para o contexto jurídico
e não para o clinico [...]. (IBAÑEZ; ÁVILA, 1989 APUD DAVOGLIO;
ARGIMON, 2010, p. 113 apud COSTA J; et al., 2015).

É necessário enfatizar que, no processo de avaliação psicológica realizado com


o objetivo de verificar características antissociais e psicopatas, deve-se manter
sempre uma observação focada nos comportamentos do examinando, desde a sua
entrada na sala do exame até a sua saída, pois os indivíduos que apresentam esses
traços comportamentais são manipuladores, portanto tendem a controlar suas falas
durante a perícia e também em suas respostas e reações, dissimulando e simulando
atitudes tornando assim essencial a utilização de testes psicológicos para fornecer
materiais de diagnósticos adicionais (DAVOGLIO; ARGIMON, 2010 apud COSTA J;
et al., 2015).

14.2 Avaliação psicológica no contexto da vara de família

Costa e outros autores (2009 apud COSTA J; et al., 2015) descrevem que a
atuação do psicólogo na Justiça é, em grande parte, determinada por legislações
específicas na área e por previsões nos regimentos internos dos Tribunais de Justiça
e cita algumas leis que preveem a atuação do psicólogo. No entanto, coloca que o
documento interno do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT),
instituídos pela Secretaria Geral dos Serviços Psicossociais, é o que especifica melhor
a atuação dos profissionais.
Estes, indicando mais claramente a quem responde o psicólogo que é em:
assessorar os magistrados das varas de família, cíveis, precatórias e de competência
geral de todo o Distrito Federal e assessora, também, nas varas criminais dos
processos, conforme COSTA J; et al., (2015).

60
Segundo Costa e outros autores (2009 apud COSTA J; et al., 2015) os estudos
psicossociais referentes aos processos encaminhados fornecem informações,
análises e pareceres que possam subsidiar a decisão judicial e assessorar os
magistrados das varas criminais nos processos, cuja problemática gira em torno da
dinâmica familiar, mediante a elaboração de estudos e pareceres psicossociais que
subsidiam decisões judiciais.
A atuação do psicólogo na justiça delineou-se na direção de um
assessoramento direto ao magistrado, na confecção de perícia, de parecer ou de
relatório, até ser definido como constituinte para a construção de um estudo
psicossocial (COSTA ET AL., 2009 apud COSTA J; et al., 2015). A adoção desta
modalidade de atuação, o estudo psicossocial, traz uma possibilidade de que o
psicólogo possa construir uma dimensão interventiva em seu trabalho (CESCA, 2004
APUD COSTA ET AL., 2009 apud COSTA J; et al., 2015).
Cesca (2004 APUD COSTA ET AL., 2009 apud COSTA J; et al., 2015)
questiona como a Justiça poderá ir além da interdição, oferecendo apoio à família ou
ao sujeito, bem como a necessária condição de reparação para o agressor, nos casos
de violência sexual contra crianças ou de divórcios destrutivos. Arantes (2007 APUD
COSTA ET AL., 2009 apud COSTA J; et al., 2015) aponta discussão que questiona
se o psicólogo tem uma relação com o magistrado de complementação de saberes ou
de submissão aos seus poderes, percebe-se que muitos psicólogos do judiciário,
buscando formação no Direito, e advogados buscando formação em Psicologia.
Analisando a atuação do psicólogo no contexto de processos de divórcio, Costa
e outros autores (2009 apud COSTA J; et al., 2015) consideram o divórcio no centro
da vida a representação de uma postura atual, considerando a separação conjugal
como uma etapa do processo de vida que inclui novos arranjos conjugais e familiares.
Nos divórcios destrutivos essa separação acaba por envolver grandes disputas e
expressões de violência onde a contratação do psicólogo é primordial para apresentar
embargos técnicos que levem às melhores decisões.
Ainda, segundo o mesmo autor, quando nesses casos há criança envolvida sua
posição é desfavorável, pois fica numa espécie de pêndulo emocional acrescido da
vivência de que quando agrada um genitor desagrada o outro e vice-versa. Conforme
Costa e outros autores (2009 apud COSTA J; et al., 2015) a Psicologia busca a
compreensão das ações humanas, desde uma perspectiva individual até aquela que

61
investiga os seus contextos socioculturais, enquanto o Direito busca normas e
parâmetros já legitimados na sociedade para fundamentar suas decisões.
Costa e outros autores (2009 apud COSTA J; et al., 2015) alocam que o grande
desafio é descobrir alternativas para que estas duas ciências possam trabalhar juntas
em prol do bem-estar da população. O contexto jurídico tem o seu tempo determinado
pela urgência de decisões processuais. Isto é mais forte, ainda, quando envolve
crianças e adolescentes, cujos direitos devem ser preservados sempre, conforme
preconiza no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A atenção se volta para a principal competência do psicólogo no judiciário, a


de resgatar a subjetividade presente nos processos, ou seja, apontar e focar
o ponto de vista psicológico das questões sob decisão judicial (BRITO, 2005
APUD COSTA ET AL., 2009 apud COSTA J; et al., 2015 apud COSTA J; et
al., 2015).

Costa e outros autores (2009 apud COSTA J; et al., 2015) indagam que o
enfoque terapêutico pode adotar intervenção e ir além da interdição judicial,
oferecendo suporte às famílias, criando condições dos pais retornarem suas funções
parentais da melhor forma possível. Nessas intervenções podem ser utilizadas
entrevistas, jogos lúdicos, entre outros, para isso o tempo vai depender da
complexidade do caso. Em função do excesso de demanda, os estudos são
concluídos em um número padrão de encontro o que gera angústia no profissional
quando sente que as intervenções podem não ter se constituído minimamente
terapêuticas.

[...] O trabalho terapêutico a ser construído pauta-se na mudança do


paradigma de culpabilização dessas famílias para uma de responsabilização
perante a criança. Sob essa ótica as intervenções são feitas para que o casal
se recoloque diante da decisão judicial e perceba que não existem partes que
perdem seus direitos, mas que ambas as partes vão continuar operando para
o bem-estar dos filhos. (COSTA ET AL., 2009, p. 239 apud COSTA J; et al.,
2015).

Rosenberg (2000 APUD COSTA ET AL., 2009, p. 239 apud COSTA J; et al.,
2015) propõe que as avaliações não se aplicam ao termo diagnóstico e sim a
“processo de estudos das dinâmicas psíquicas” nas quais o sentido de
processualidade tem uma fundamental relevância e a constituição da subjetividade da
criança que assim pode ser vista em movimento. Para conquistar essa competência
o profissional de psicologia deve fazer uso de aportes teóricos.

62
É preciso desenvolver habilidades para avaliar, fazer relatórios e, ao mesmo
tempo, realizar intervenções capazes de transformar os divórcios destrutivos em
separações conjugais; brigas em acordos; disputas de guarda em compartilhamento
do cuidado e proteção das crianças; cônjuges em pais capazes de conversar sobre o
bem-estar dos filhos (COSTA ET AL., 2009 apud COSTA J; et al., 2015).

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