A Penetração Mercantil Europeia e Suas Consequências
A Penetração Mercantil Europeia e Suas Consequências
A Penetração Mercantil Europeia e Suas Consequências
Introdução ....................................................................................................................................... 4
Desenvolvimento ............................................................................................................................ 5
A Penetração Mercantil Europeia e suas consequências nos Estados Africanos durante os Séculos
XVI-XVIII ...................................................................................................................................... 5
Bibliografia ................................................................................................................................... 15
Introdução
A Penetração Mercantil é um dos eventos históricos notáveis na história da humanidade pois ela
iniciou uma nova vaga de mercadores estrangeiros – os mercadores europeus, em particular
portugueses, que transformaram radicalmente o mundo.
A sequência de eventos que pautaram a Penetração Mercantil Europeia divide-se em três etapas, a
saber: a Expansão Europeia nos séculos XV-XVV, a passagem de Vasco da Gama por
Moçambique a caminho da Índia, em 1498 e a fixação dos portugueses em Sofala, em 1505.
A Penetração Mercantil Europeia teve um impacto enorme nos estados Africanos. Deste modo, o
presente trabalho tem por objetivo central analisar os impactos e implicações deste evento social.
Deste modo, a Penetração Mercantil Europeia pode ser concebida, teoricamente falando, como um
fenômeno social pois ela impactou a história nos pilares mais essências das civilizações modernas.
Desenvolvimento
Quando da chegada dos europeus à África, o continente encontrava diversas formações sociais,
tendo o predomínio das variações de modo de produção comunitário e tributário. Sobre os modos
de produção comunitário, de acordo com Samir Amin, a África negra apresenta uma gama variada
destes modos de produção, uns relativamente pouco hierarquizados – nomeadamente no território
banto –, outros fortemente desiguais como entre os tucolores no Vale do Senegal, os achânti do
Gana, os hauçás do norte da Nigéria, etc. Mas sempre o camponês tem acesso à terra; por pertencer
a um clã, tem direito a uma parcela do território deste. Daí, que seja impossível o processo de
proletarização, isto é, de separação do produtor de seus meios de produção. (Amin, 1976, p. 10).
Nas civilizações pré-capitalistas, as formações sociais mais comuns são aquelas que apresentam como modo de
produção dominante o tributário. As formações tributárias se dividem em três grandes categorias: 1)
formações tributárias ricas, fundadas num excedente interno volumoso, como Egito e China; 2) formações
tributárias pobres, caracte- rizadas pelo pequeno volume de excedente, como sociedades medievais e o
feudalismo, e 3) formações tributárias comerciantes, dependentes das rotas de comércio, como a Grécia
Antiga, o mundo árabe no seu apogeu e diversos Estados da savana africana (Amin, 1976, p. 15). O
escravismo aparecia marginalmente (África) ou com centralidade (Grécia Antiga) nessas formações
tributárias comerciantes. Tanto as formações africanas com centralidade comunitária como as
formações com centralidade tributário-mercantil foram fortemente impactadas com o contato e o
comércio com os europeus. Entretanto, se o impacto gerou o capitalismo na Europa (que veio
justamente da sua pobreza relativa), na África ocorreu o bloqueamento, precisamente porque faltou
um dos elementos essenciais para a emergência do capitalismo: a desestruturação das relações
feudais. O outro elemento (acumulação de capital) pode ser encontrado em algumas sociedades do
norte da África, que marcou o apogeu de grandes impérios africanos, mas tinham pouco excedente,
e esse lucro vinha mais do comércio de longa distância do que a articulação com a produção local.
Ou seja, essas formações eram fundadas não sobre o excedente tributado aos camponeses na
região, mas sobre os lucros do grande comércio. De acordo com Samir Amin, é assim que todos os
grandes Estados magrebinos foram estabelecidos sobre o comércio do ouro proveniente da África do
Oeste. Durante séculos, até a descoberta da América, a África do Oeste será o principal fornecedor do
metal amarelo para toda a parte ocidental do mundo antigo (Amin, 1976, p. 35). Os períodos brilhantes
da civilização árabe no norte da África não são caracterizados por grandes realizações agrícolas,
mas pela prosperidade do comércio e das cidades. A decadência virá com o desvio das rotas
comerciais. É exatamente nesse ponto que preconceitos ideológicos desfavoráveis à África
costumam aflorar. As formações africanas pré-mercantilistas são autônomas, e seu desenvolvimento
ocorre de forma paralela e articulada com as formações da Ásia, do Mediterrâneo (sul da Europa) e
do Oriente Médio. A África fazia a articulação entre essas três regiões e estava integrada na História
mundial quando chegaram os portugueses, no século XV. As estruturas africanas se equiparavam em
desenvolvimento às suas análogas em diversas outras regiões, e os relatos dos viajantes admirados
com as “maravilhas” dos Estados africanos corroboram essa tese. Mas o comércio mercantilista,
nos séculos XVI-XVIII, foi mais além do que o “comércio igualitário” da fase anterior, pois
engendrou o sistema capitalista e desagregou as relações feudais (na Europa) e tributárias e
comunitárias (essencialmente na África). A força resultante foi a formação do sistema capitalista
a partir do mercantilismo, com uma especialização e divisão internacional do trabalho, no qual os
reinos africanos ficariam incumbidos basicamente de fornecer mão- de-obra escrava, além de poucos
produtos extrativistas. Assim, esses Estados africanos no início do século XVI são embriões de nação
destruídos pelo fim do comércio saariano e pela rearticulação atlântica. O Império Songai
constituiu um exemplo claro dessa situação. O último grande Estado mercantil-tributário do Sudão
Ocidental vivia um momento de transformação interna rumo, talvez, a uma especialização e
organização com corte classista. Mas a invasão da região pelos mercenários do sultão de Marrocos e a
derrota do Estado Songai em
1591 puseram fim ao império e interromperam esse processo. Com a chegada dos europeus e o
estabelecimento de comércio no litoral, as linhas comerciais que passavam pelos domínios de
Songai foram se enfraquecendo, e o império ruiu. O deslocamento do centro de gravidade do
comércio africano (da savana para a costa) reflete, em certa medida, o deslocamento do centro de
gravidade do desenvolvimento europeu (do Mediterrâneo para o Atlântico), no qual as relações
África-Europa estariam submetidas agora ao quadro mais amplo de formação do capitalismo
mercantilista, que desenvolveu desigualmente as formações sociais que engendrava. Conforme
Samir Amin, é evidentemente impossível saber o que se tornariam as formações africanas se
tivessem continuado a evoluir por si mesmo depois do século XVII. Integradas num estádio
precoce no sistema capitalista nascente, o estádio mercantilista, foram, na realidade, destruídas
nesta época e não tardarão a regredir. Pode-se calcular-se, contudo, que o grande comércio africano
pré-mercantilista, brilhante em certas regiões, mas articulando-se em formações
comunitárias ou tributárias relativamente pobres, não teria podido gerar por si só o modo de
produção capitalista (Amin, 1976, p. 41). A Chegada dos Europeus e a Rearticulação Econômica
no Norte da África De fato, a chegada dos europeus ao continente africano no século XV,
a partir do périplo português, foi um dos acontecimentos de maior impacto no continente,
cujas conseqüências se fazem sentir até nossos dias. Em síntese, significou o
bloqueamento do desenvolvimento próprio do continente africano e sua rearticulação
em direção ao desenvolvimento do capitalismo, cujo ep icentro seria agora o Atlântico.
Inicialmente, a África não interessava diretamente aos portugueses, os quais percebiam o continente como um ponto
de escala na rota para a Ásia. Os portugueses não tinham como objetivo direto colonizar a África, mas assegurar-se de
bases comerciais e pontos de apoio, por isso o interesse em se apoderar das ilhas e dos locais litorâneos. Mesmo
com o comércio de escravos e a implantação de feitorias, os portugueses não se
aventurarão muito além da costa africana (Berteaux, 1974, p. 116-117). Os franceses foram uma exceção e
penetraram o Rio Senegal em meados do século XVII (Berteaux, 1974, p. 140). Mas os lançados, ou
tangomaus, tiveram uma importância estratégica no estabelecimento das redes comerciais entre os europeus
e africanos. Esses homens, na maioria degredados (“lançados” às praias) ou aventureiros, eram deixados
nas costas da África, Ásia e América. Os poucos que sobreviviam às doenças e aos ataques conseguiam
adquirir alguma imunização e conhecimento do terreno por onde andavam.
Esses homens aprendiam as línguas dos africanos, seus métodos de comércio e se tornaram responsáveis
pela atividade comercial. Nesse aspecto, convém recordar que Cabo Verde, a qual começou a ser povoada
em 1462, com portugueses e escravos africanos, também foi em grande parte responsável pelo comércio
com o continente. A atuação dos mulatos miscigenados chegou, inclusive, a gerar preocupação por parte
da Coroa portuguesa, a qual procurou intensificar o envio de
mulheres brancas degredadas para Cabo Verde. Duvidava-se da lealdade dos mulatos, com ligações
africanas, para com a Coroa portuguesa em relação ao comércio (Silva, 2002, p. 232-234).
No início do século XVII, outras nacionalidades européias alcançarão a África, sobretudo
holandeses e ingleses. Os holandeses procuraram fragilizar as conquistas portuguesas no
continente, como El Mina, na Costa do Ouro, em 1637, e Luanda (que ocuparam de
1641-1648). Em 1652, os holandeses fundaram a Cidade do Cabo. A partir de 1533, os ingleses
fizeram expedições regulares ao continente e entraram em diversos conflitos com os portugueses.
Em 1626 foi criada a Companhia francesa da África Ocidental, e os franceses se estabeleceram no
Senegal. Nesse período, o principal interesse dos europeus na África será o escravo. Assim, nos
séculos XVI e XVII, houve a formação de novas organizações políticas africanas, as
quais, em conjunto com outras mais antigas, prosperam em função do comércio de
escravo (como os achântis e iorubás, do Daomé) e das armas de fogo obtidas. A
fragilidade desses Estados apareceu com o fim do tráfico de escravos, em meados do
século XIX, porque temporariamente nenhum outro produto parecia substituir o
comércio de escravos (Berteaux, 1974, p. 140). Com o tráfico de escravos no litoral, o
comércio transaariano entrou em processo de estagnação, em contrapartida com a
ampliação das correntes comerciais em direção ao litoral atlântico. Conforme Alberto
da Costa e Silva, ocorreram mudanças políticas com a instalação de três dezenas de
fortes europeus na Costa do Ouro, e os comandantes e feitores europeus tinham de
pagar tributos aos régulos das terras onde estavam presentes, mas em outros locais
passaram à posição de predomínio e se invertia a prática, começando a cobrar impostos
dos chefes africanos da vizinhança. De acordo com Costa e Silva, as fortalezas europeias
também provocavam outros efeitos: Muitos africanos, por exemplo, passaram nelas a
trabalhar como assalaria dos e nelas não só adquiriam novos ofícios ou adaptaram os que já tinham
ao gosto do branco, como também aprenderam as manhas deste. Outros aprenderam em casa,
pois nasceram de uniões entre europeus e mulheres da terra. E alguns aproveitavam esse
conhecimento para se tornarem intermediários ágeis e sagazes entre os brancos, de um lado, e os
reis, chefes e batanisaças. Não faltou quem fosse além e construísse sua própria estrutura de poder
(Silva, 2002, p. 814). Se, inicialmente, os mais diversos produtos serviam como base de troca
pelos escravos (na maior parte consideradas “presentes”),
com o passar do tempo e a sistematização do tráfico, os comerciantes africanos passaram a exigir
um leque mais restrito de mercadorias. Além das contas (como cauris) utilizadas como moeda, os
produtos incluíam tecidos, armas de fogo, facas, pólvora, bebidas alcoólicas, fumo, açúcar, bacias
de cobre, basicamente produtos de consumo que em pouco contribuíam para o desenvolvimento
econômico africano, cuja drenagem de mão-de-obra já fazia sentir seus efeitos, ainda que
compensada pela drenagem menor de mulheres. Os Novos Estados do Litoral: Fortalecimento e
Dependência Durante o Mercantilismo O contato com os europeus interferiu e rearticulou diretamente
diversas organizações políticas africanas em processo de formação aglutinação. A centralização
de impérios, as novas organizações econômicas passaram a ter de contar com a variável das
relações com os europeus, os quais poderiam se tornar aliados ou inimigos, em um complexo
jogo que reunia alianças, federações e sucessão de domínios e hegemonias. O que ressalta
nesse processo é a incapacidade europeia de domínio imediato do continente africano, bem
como a impossibilidade de derrotar/submeter diversos impérios poderosos, que contavam
com armamento suficiente, em muitos casos, para repelir as investidas europeias ou promover
alianças com esses. Assim, diversas organizações políticas africanas foram rearticuladas a
partir do contato com os europeus e verificaram um incremento de seu poderio a partir do
controle do comércio no litoral, sobretudo de escravos. Um dos grandes beneficiários do
tráfico atlântico de escravos foram os achântis. Desde o século XI e XII, organizaram-se pequenos
principados formados por povos akans e que foram enquadrando as tribos autóctones, as quais
nesses territórios tinham como base o comércio de noz-de-cola e de ouro. Os fantis vieram mais
ao Sul ese estabeleceram próximo ao litoral. As cidades-Estados formadas na costa africana
procuraram resistir às tentativas de conquista dos impérios do interior e poderiam ser apoiadas
pelos fortes europeus.
A rivalidade fanti-achânti foi aproveitada pelos europeus nesse período, no qual os fantis
acabavam submetidos (Ki-Zerbo, 1999, p.345-346). Os achântis vendiam escravos em troca,
sobretudo, de armas de fogo, o que servia para ampliar seu território, alcançando extensão máxima
na metade do século XVIII. No início do século XIX, o império achânti era poderoso e centralizado,
organizado em uma burocracia eficiente. Entretanto, o fim do tráfico atlântico de escravos selaria
o destino deste império, que entrou em diversos conflitos com os britânicos, até serem
definitivamente incorporados como colônia da Costa do Ouro, em 1901. Os Estados Mossi (como
Tencodogo, Uagadugu, Iatenga, entre outros) foram criados entre os séculos XIV e XV e chegaram
a ser vassalos do Império Songai no século XV, mas recuperaram sua autonomia no século XVI.
Pelos Estados Mossi não passavam inicialmente as rotas de comércio de ouro e de noz-de-cola, mas
circulavam outros produtos. Mas os mossis procuraram estabelecer ligações com as rotas mercantis
que passavam perto de seu território, para em seguida controlá-las. Os mossi também preavam e
vendiam escravos (Silva, 2002, p. 803). Em 1896, os mossi se tornaram um protetorado francês
(atual região de Burkina Fasso). Quando os portugueses entraram em contato com o antigo Reino
do Benim (atual cidade da Nigéria, não confundir com a República de Benin, antes chamado
Daomé), por volta de l480, o reino se encontrava em plena expansão, através de guerras. Segundo
descrições dos portugueses, teria umas oitenta léguas de comprimento por quarenta de largura.
Nos últimos anos do século XV, uma expedição portuguesa foi à capital do reino para estabelecer
os primeiros contatos com Evaré, o Grande obá em exercício (era o décimo-quinto da dinastia). O
obá recebeu bem os portugueses. O comércio entre os portugueses e Benim, além de escravos,
envolvia armas, pimenta, vestimentas e marfim. O obá Esigi (ou Eisigie) que sucedeu Evaré foi
ainda mais favorável aos portugueses. Interessado pelas armas de fogo que eles portavam,
enviou em 1514 uma embaixada para Portugal. Instruído pelos portugueses que
comerciavam em Benin, o obá pediu missionários, pois um decreto papal impedia a venda
de armas para pagãos e infiéis (Silva, 2002, p. 314). De acordo com Costa e Silva, os dois
representantes do Benin levavam consigo 12 cativos, para
irem vendendo conforme as necessidades, além de terem pago com quatro cativos para serem
levados a Portugal em um barco. Entretanto, continua o autor: Os dois dignitários foram
esbulhados pelo capitão do barco, que lhes tomou seis cativos, e chegaram a Lisboa com
pouco para se sustentarem. Providenciou, porém, a Coroa Portuguesa para que nada lhes
faltasse. De modo que regressaram ao Benin de boa saúde e com muitos presentes,
acompanhados por missionários, mas sem os arcabuzes e canhões. ( Sil-
va, 2002, p. 314) O obá não se converteu ao catolicismo, mas permitiu a construção de igrejas e
que os missionários pregassem no seu reino. Mas sem a conversão do reino (como fez seu
contemporâneo manicongo Afonso, rei do Congo), o Rei de Portugal, D. João III, não autorizava a
venda de armas, o que provocou a diminuição do interesse do Benim pelo comércio com Portugal.
O obá respondeu ao embargo de armas abrindo e fechando mercados no comércio com os portugueses
e controlando a venda de escravos, chegando até a interditar por um tem-
po a venda de escravos homens para os portugueses. Mas o obá acabou conseguindo as armas,
através do comércio com outras nações européias (Silva, 2002, p. 317). A noroeste do Benim
encontrava-se o reino fon de Daomé (na atualidade, corresponde ao Benim), que incluía os reinos Alada,
Ajudá e Popó. Esses reinos se ligaram a atividades de comércio de escravos e estavam submetidos à
influência do reino de Oió. A capital do Daomé (grande Alada) possuía cerca de 25 km de circunferência
e cerca de 30 mil habitantes. A fuga ao assédio europeu provocou a instalação do reino
de Daomé em Abomé, que no século XVIII vem a ser a maior potência da região (Del Priore; Venâncio,
2004, p. 121). No século XVIII, o reino de Daomé se expandiu e seu chefe,
Agaja, comerciava com portugueses e brasileiros, que lhe pagavam em ouro pelos escravos.
Embora também cultivasse plantações de mandioca, milho, tomate e tabaco, entre outras, a
principal atividade econômica do reino era a exportação de escravos e óleo de palma (Del
Priore; Venâncio, 2004, p. 122). O reino de Daomé durou até o século XIX, quando foi dominado
por tropas senegalesas da França e incorporado às colônias francesas da África Ocidental. Os
iorubas estabeleceram, no século XVII, o reino de Oió, um Estado forte entre o Daomé e o Rio Níger.
Esse reino organizava uma espécie de federação de cidades (Ijebu, Egba, Ilesha), mas uma das
cidades mais importantes era Ifé, reconhecida pelos iorubas como
uma fonte mística de poder e legitimidade. O reino de Oió manifestava grande dinamismo
conquistador ao longo de sua história (Ki Zerbo, 1999, p. 204).Emboratenhapermanecido forada influência
direta européia, como Estado escravista, o reino de Oió sentiu a decadência do comércio atlântico de escravos e se
desintegrou em pequenas unidades políticas na primeira metade do século XIX, até cair sobre o controle britânico
(os iorubas, atualmente, constituem cerca de 20% da população da Nigéria). Mais distantes do litoral, as
cidades de Tombuctu e Djenne não deixaram de ser, com a conquista marroquina de Songai,
grandes cidades comerciais. O centro de expansão econômica acabou se desenvolvendo mais
para o Leste, para as cidades hauçás (como Kano, Katsina e Zária) e para Bornu. A cidade de
Kano era considerada um importante centro comercial e manufatureiro (sobretudo, produtos
de couro). Durante os séculos XVI e XVII, ocorreu um grande desenvolvimento das cidades
hauçás. Já os sultões de Bornu acompanhavam
com preocupação o desenvolvimento dos hauçás, a quem consideram vassalos. A organização
social das cidades hauçás era urbanizada, nela moravam a nobreza, os letrados islamizados, os
artesãos, tendo alcançado grande importância. A cidade de Kano já praticava o escambo da cola
guineense com o sal dos mercadores do deserto. Os mercadores e missionários mandingas
introduziram aí o islamismo, embora ele ficasse restrito à aristocracia. No século XVIII, a África
do Norte verificará um renascimento do islamismo, com a utilização da djihad (guerra santa). No
início do século XIX, Usuman Dan Fodio (1754-1817), um xeque, poeta e pensador fula (fulani)
que havia nascido no reino de Gobbir, iniciou sua luta contra a escravização dos muçulmanos e
contra o sincretismo religioso da Hauçalândia. Em 1812, o Dan Fodio tornou-se califa do Império
de Socotô. Diversas revoltas escravas no Brasil (como a dos Malês em 1835) tiveram influência
da djihad de Usuman Dan Fodio. A construção de Estados nacionais africanos mostrava sua
potencialidade, mas estaria submetido então à penetração europeia no continente ao longo do
século XIX.
Foi com a Expansão Mercantil Europeia que se descobriu toda a costa ocidental africana e se
chegou ao litoral sudeste de África, que era até então desconhecido.
A abertura de novas rotas comerciais entre a Europa, a América e a Ásia, ligou estes quatros
continentes através do comércio internacional.
Na Europa do século XV, para além das transformações económicas, políticas e sociais, também
se registaram avanços nas ciências e nas técnicas que permitiram aos europeus expandirem-se pelo
mundo. Todos estes avanços contribuíram para um objetivo principal: encontrar um caminho que
levasse a Índia sem passar pelas terras dominadas pelos muçulmanos.
A descoberta de novas terras, os avanços no campo das ciências, os avanços científicos e técnicos
da Europa a partir do século XV, e o desenvolvimento das ciências náuticas serviram como
catalizadores de mudança para diversos aspectos que eventualmente impactaram os Estados
Africanos a nível político, econômico, ideológico-cultural.
Considerações Finais
Quando da chegada dos europeus à África, o continente encontrava diversas formações sociais, tendo o predomínio
das variações de modo de produção comunitário e tributário. O resultado do comércio com os europeus foi a
formação do sistema capitalista a partir do mercantilismo, com uma especialização e divisão internacional do
trabalho, no qual os reinos africanos do litoral ficariam incumbidos basicamente de fornecer mão-de-obra escrava,
além de poucos produtos extrativistas. O deslocamento do centro de gravidade do comércio africano (da
savana para a costa) refletiu, em certa medida, o deslocamento do centro de gravidade do
desenvolvimento europeu (do Mediterrâneo para o Atlântico), no qual as relações África-Europa
estariam submetidas agora ao quadro mais amplo de formação do capitalismo mercantilista, que
desenvolveu desigualmente as formações sociais que engendrava. Assim, esses Estados
africanos no início do século XVI foram embriões de nação destruídos pelo fim do comércio
saariano e pela rearticulação atlântica. O contato com os europeus interferiu e rearticulou
diretamente diversas organizações políticas africanas em processo de formação/ aglutinação. Com a
centralização de impérios, as novas organizações econômicas passaram a ter de contar com a
variável das relações com os europeus, os quais poderiam se tornar aliados ou inimigos, em um
complexo jogo que reunia alianças, federações e sucessão de domínios e hegemonias. Os caçadores
de escravos iam buscar suas presas em diversos outros grupos e territórios. As consequências
foram o desmantelamento de estruturas econômicas, políticas e sociais preexistentes, e os reinos
que mais prosperaram foram, em geral, os escravistas, mas sobre uma frágil base. No começo do
século XIX, o continente ainda não havia sido dominado. Mas, ao longo do século, o fim do
escravismo colonial nas Américas, do mercantilismo e a rearticulação capitalista impulsionavam
agora os europeus a penetrarem o continente africano, e esses reinos seriam obstáculo ao novo
domínio imperialista a ser removido, destruído ou submetido.
Bibliografia