Alienação Parental
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¹ Acadêmica do 9º semestre do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões, URI, campus Santiago. E-mail: [email protected]
² Psicóloga, mestre em Psicologia. Docente do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões, URI, campus Santiago. E-mail: [email protected]
Resumo:O presente artigo teve por objetivo realizar um estudo da arte das publicações
científicas empíricas nacionais dos últimos dez anos sobre a relação entre psicologia e
alienação parental. Buscou-se conhecer os objetivos de pesquisa que perpassaram os
estudos da Psicologia em sua interlocução com o fenômeno da alienação parental e
identificar os principais métodos e resultados de pesquisa. Neste artigo, ainda, foi realizada
uma breve explanação sobre a alienação parental, seus principais atores, suas
consequências, e como a psicologia pode atuar nestes casos. O delineamento utilizado foi a
pesquisa bibliográfica sistemática, utilizando-se de uma busca em duas bases de dados
consideradas completas para acesso à produção científica nacional. A partir dos dados
coletados neste estudo foi possível identificar que a maioria dos estudos já publicados
fazem referência ao papel do psicólogo na área de avaliação psicológica e poucos são os
resultados na área de intervenção e acompanhamento psicológico. A presente pesquisa
aponta para a importância da intervenção nos casos de alienação parental, mediação
familiar e guarda compartilhada.
Abstract: The purpose of this article was to study the art of national empirical scientific
publications of the last ten years on the relationship between psychology and parental
alienation. It was sought to know the research objectives that permeated the studies of
Psychology in its interlocution with the phenomenon of parental alienation and to identify
the main methods and results of research. In this article, a brief explanation about parental
alienation, its main actors, its consequences, and how psychology can act in these cases was
carried out. The design used was the systematic bibliographic research, using a search in
two databases considered complete for access to national scientific production. From the
data collected in this study it was possible to identify that most of the studies already
published refer to the role of the psychologist in the area of psychological evaluation and
few results in the area of intervention and psychological monitoring. The present research
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Introdução
A alienação parental é um importante assunto que, embora recente, vem se
destacando na literatura da área da Psicologia, como por exemplo, os estudos de Araújo
(2014), Do Carmo (2002), Calçada (2001), Reis (2014) Silva (2006) e Colombo (2014).
Eles aparecem também na literatura da área do Direito, como no estudo de Simão (2008) e
Dias (2010) e também da Assistência Social como, por exemplo, os estudos de Góis (2005)
e Valente (2014). Os destaques teóricos chamam a atenção para um olhar atento às
consequências deste fenômeno no desenvolvimento psicossocial da criança e-ou
adolescente, principalmente. Chama-se atenção também para as variáveis psicológicas dos
alienadores e as conseqüências psicossociais da experiência para o genitor alienado. Isso
porque o genitor que aliena frequentemente revela vulnerabilidades e sofrimento psíquico e
o genitor alienador comumente sofre conseqüências da fragilidade e possível ruptura do
vínculo afetivo com o filho, tornando-se potencialmente vulnerável ao sofrimento psíquico
(DIAS, 2010).
Richard Gardner foi o primeiro autor a definir a alienação parental, no ano de
1985. A partir de sua definição pode-se entender a alienação parental como um processo
difamatório de um genitor contra o outro, sem justificativas aparentes. Pode ser entendida
como uma combinação de uma manipulação da criança contra esta figura parental e da
consequente contribuição da criança para atingir o genitor alienado (GARDNER, 2001). A
alienação parental ganhou reconhecimento e visibilidade com a criação da lei no 12.318, de
26 de agosto de 2010. Esta Lei conceitua alienação parental em seu artigo 2o:
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criança e/ou adolescente. Nesse ambiente explícito (ou por vezes mascarado) de disputas, a
criança e/ou adolescente começa, gradativamente, a ter preferência exclusiva por um dos
genitores, alienando o outro. A alienação parental comumente é decorrente da fragilidade
na elaboração da separação (luto do relacionamento amoroso perdido) de um dos membros
do casal. Este, ao buscar alternativas de vingança pelo sofrimento vivenciado ou chantagear
em busca de uma reconciliação ou ganhos financeiros, encontro no filho uma ferramenta
poderosa para agredir afetivamente o ex-parceiro. Quando não há uma elaboração adequada
do luto conjugal, pode-se ter início um processo de destruição, de desmoralização, de
descrédito do ex cônjuge. Os filhos são levados a rejeitar o genitor, a odiá-lo. Tornam-se
instrumentos da agressividade direcionada ao parceiro (DIAS, 2010).
Importante enfatizar que, embora a alienação parental comumente ocorra em
situações de separações conjugais litigiosas, ela pode ocorrer também no contexto de um
relacionamento conjugal aparentemente “estável”. No entanto, o foco deste trabalho recai
sobre a alienação parental em casos de separações litigiosas pela frequência com que esta é
identificada (ou denunciada) pelos sujeitos envolvidos.
O interesse pessoal em pesquisar sobre a alienação parental ao final do curso de
Psicologia se deu através da curiosidade em compreender como, de fato, todo esse processo
de “desmoralização” do outro ocorre, bem como as consequências possíveis nas vítimas
envolvidas, e de que forma a área da psicologia pode intervir e auxiliar. Embora a maioria
das pessoas já tenha visto, ouvido falar ou vivenciado um caso de alienação parental,
poucas delas refletem sobre a importância do assunto ser debatido. A alienação parental é
uma produção social cada vez mais presente na atualidade, sendo necessário pensar e
buscar formas diversas de lidar com tal situação de desamparo afetivo em benefício de um
desenvolvimento familiar e social potencialmente saudável para todos os seus membros. De
acordo com comentários de Junior (2010), é possível pensar que a alienação parental
sempre tenha ocorrido, porém, com o número cada vez mais crescente e frequente de
separações e divórcios, ficou mais propícia a ser identificada, analisada e estudada por
profissionais da área da psicologia e posteriormente por profissionais da área jurídica.
A partir do exposto, este estudo busca realizar um estudo da arte das
publicações científicas empíricas nacionais dos últimos dez anos sobre a relação entre
Psicologia e alienação parental e a forma como o psicólogo pode pensar sua intervenção
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aproximação afetiva com filhos. O sistema judiciário determina que a guarda dos filhos
ficará com o genitor que tiver melhores condições de exercê-la, aguçando ainda mais os
conflitos que surgiram, pois, para obter a guarda, cada um se esforça para demonstrar que o
outro é um mau genitor, o que se ocasiona uma disputa em que todos saem feridos,
inclusive as crianças. Esse quadro caracteriza famílias alienadoras (VIEIRA, 2013).
Recentemente, na Lei nº 13058 de 2014 foi inserida a ideia de guarda compartilhada sendo
a decisão prioritária em casos de separação conjugal, no Sistema Judiciário Brasileiro. Isso
só não ocorre quando há comprovação de maus-tratos e demais violências por um dos
genitores ou quando um deles abra mão da guarda compartilhada.
É visto que em todo esse processo os filhos são os mais atingidos, pois essa
situação gera muitos agravos aos mesmos. Porém é importante levar em consideração que
tanto o genitor alienado quanto o genitor alienador também sofrem e vivenciam as
consequências das rupturas afetivas. O genitor alienador, na maioria dos casos, não
consegue elaborar de forma adequada o luto da separação. Devido ao sofrimento com o fim
do relacionamento, sentimentos comuns de abandono, rejeição e a dificuldade em lidar com
isso, passa a usar o filho para atingir o ex-cônjuge visando uma forma de vingança. Inicia-
se assim um processo de destruição dos laços afetivos, passando a dificultar ao máximo o
contato do genitor alienado com o filho. Neste processo o genitor alienado também sofre,
pois há sempre um empecilho que dificulta ou até mesmo impossibilita-o de manter os
laços afetivos com o filho. Este vê o filho passar a odiá-lo e evitar contato, muitas vezes
tendo o discurso de que ele não é um bom cuidador, recusando as visitas ou as vivenciando
como um sacrifício. O genitor alienado vê sua relação com o filho escorrer pelos dedos
(DIAS, 2010).
A criança ou adolescente envolvido é a parte mais atingida neste processo, pois
suas percepções ainda estão em formação. De acordo com Guilhermano (2012), a família é
a base que fundamenta a personalidade de alguém, portanto esse jogo de acusações,
difamações e desmoralização do outro acaba por trazer sérios prejuízos à sua saúde
psíquica que podem perduram até a vida adulta. Young, Klosko e Weishaar (2008)
enfatizam a importância dos pais e dos vínculos de apego estabelecidos ao longo da
infância e adolescência para a formação de uma personalidade saudável. As figuras de
apego mais importantes ao desenvolvimento de uma criança são as figuras parentais. Estas
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todos que estão diretamente ligados ao caso, a fim de levantar informações e entender o
modo de funcionamento de cada sujeito envolvido. De acordo com Silva (2012) uma
atitude acolhedora por parte do profissional é fundamental para que possa ocorrer a
aproximação da criança ou do adolescente da figura parental alienada, sem afastar-se da
figura alienadora, uma vez que o sentimento de raiva e culpabilização desta podem também
se desenvolver. Esse comportamento facilitador possibilitará que a criança elabore as
problemáticas psíquicas relacionadas à experiência emocional que está vivenciando,
potencializando também a resolução de problemas e aproximação de vínculos. É bastante
comum em casos de alienação parental ocorrer falsas denúncias de abuso sexual, porém não
cabe ao profissional, tentar “descobrir coisas”. Os limites da criança ou do adolescente
devem ser sempre respeitados. A partir daí, cabe ao psicólogo amparado por suas técnicas
e abordagem, traçar uma terapia que busque auxiliar a criança neste contexto traumático e
doloroso.
Silva (2012) destaca a necessidade de o psicólogo estar sempre atualizado na
área, conhecer profundamente o que é alienação parental, detectar sua ocorrência, os efeitos
que isso pode causar nas crianças, e formas de tratamento e prevenção efetivas.
Método
O delineamento a ser utilizado foi a pesquisa bibliográfica sistemática,
conforme sugere Gil (2010). A escolha por este delineamento se deu devido a diversidade
de intervenções em Psicologia no campo da alienação parental e a necessidade de o
profissional que trabalha com o assunto estar conectado com a evolução científica da área.
Ainda, por interesse da aluna pesquisadora em desenvolver um panorama geral de como a
Psicologia vem intervindo neste contexto. A análise da produção científica é importante,
pois permite a clarificação dos enfoques que têm sido dados nos estudos, visto que
possibilitam a classificação dos assuntos que vêm recebendo maior destaque entre os
pesquisadores de uma área, o tipo de investigação que vem sendo privilegiada, bem como a
qualidade e efetividade dessas investigações (WITTER, 1999). Conhecer o atual estado de
produção científica sobre determinado tema permite a identificação de lacunas que
necessitam de maiores investigações, a caracterização de instrumentos mais utilizados e o
conhecimento dos conceitos-chave que vêm permeando as investigações científicas da área,
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oferecendo diretrizes ao pesquisador sobre novos caminhos que podem ser traçados (MÉIS;
LETAS, 1996; GIL, 2010).
A pesquisa bibliográfica é elaborada por meio da busca em materiais já
publicados, tais como livros, jornais, teses, dissertações, anais de eventos científicos e
outros materiais disponibilizados na internet que oferecem veracidade científica. As bases
de dados virtuais são hoje uma grande fonte de disponibilização de artigos completos. Sua
facilidade de acesso favorece a amplitude de divulgação dos estudos científicos, garantindo
a visibilidade e o acesso universal à literatura e, portanto, constituindo-se como uma fonte
rica de busca de materiais (GIL, 2010).
Para este estudo foram acessadas duas bases de dados, especialmente, que são
consideradas completas para acesso à produção científica nacional: Scielo Brasil e BVS psi.
Ainda, foi acessado o banco de teses e dissertações da capes
(http://bancodeteses.capes.gov.br/banco-teses/).
Para constituir o grupo de artigos selecionados para o estudo, eles deveriam: ser
empíricos, estar diretamente relacionado à separação conjugal e o impacto desta na vida da
criança, ter sido publicado nos últimos 10 anos e estarem vinculados à área da Psicologia e
intervenção do psicólogo no contexto da alienação parental. Não atendendo a estes
critérios, ocasionará na exclusão dos mesmos da lista de análises.
Resultados e Discussões
Os resultados são organizados em quatro eixos norteadores definidos a partir
dos objetivos do estudo. São eles: (1) objetivos de pesquisa em Psicologia na interface com
a alienação parental; (2) métodos de pesquisa (delineamentos, participantes e instrumentos
de coleta de dados) e principais resultados; (3) principais intervenções realizadas e (4)
sugestões de novos estudos na área.
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também desenvolver uma reflexão crítica acerca dos mesmos a fim de problematizar os
temas de pesquisa que atravessam o campo.
Os estudos realizados por Moraes (2012) e Coelho (2013) buscaram conhecer a
forma de atuação dos psicólogos jurídicos que atuavam no sistema judiciário realizando
trabalhos com crianças que vivenciam o processo de separação litigiosa dos pais, bem como
conhecer as estruturas de apoio concedidas a estes profissionais (Moraes, 2012) e as
possibilidades de intervir nos casos de alienação parental (Coelho, 2013). A parceria
interdisciplinar do psicólogo (conhecimentos jurídicos X psicológicos) que atua neste
contexto foi problematizada por Silva (2011).
A análise dos dados nos estudos de Moraes (2012) se deu através das
entrevistas realizadas. A partir das entrevistas e do referencial teórico divide-se as
características principais do conteúdo coletado: a estrutura física e material de trabalho
fornecidos aos psicólogos, como é realizado o trabalho com as crianças, quais os aspectos
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relacionamento entre os genitores e que ambos a direcionem para o bem estar dos filhos,
não para suprir alguma informação desejada a respeito do outro genitor. A mediação
familiar seria uma nova forma de trabalho do psicólogo jurídico e auxiliaria nos processos
de separação litigiosa, mas não há uma equipe responsável por essa resolução dos conflitos.
Este litígio e a forma que os genitores se relacionam, influenciam no comportamento e
adaptação dos filhos diante da decisão do juiz.
Percebeu-se que os psicólogos participantes da pesquisa de Moraes (2012) realizam
atendimentos psicológicos lúdicos com as crianças com a finalidade de perceber como a
dinâmica do litígio do casal está afetando a criança e os pais são orientados com o intuito
de amenizar os prejuízos que esta dinâmica litigiosa possa causar à criança. O trabalho dos
psicólogos é proporcionar também a tranquilidade da criança, pois geralmente ela chega
muito ansiosa e confusa ao atendimento, e o objetivo é que ela possa compreender da
melhor forma possível sua dinâmica familiar.
Já os estudos de Silva (2011) constataram que o número de profissionais que
conhecem a temática e possuem experiência com a mesma é bastante reduzido. A autora
afirma que psicoterapia exerce aqui uma importância ímpar, visto que é com ela que se
tenta restabelecer a aproximação e o vínculo afetivo da criança com o genitor alienado. Um
fator desafiante no enfrentamento da prática alienativa refere-se a não adesão dos alienantes
e das crianças ao tratamento psicoterapêutico, mesmo mediante determinação judicial. A
autora aborda que uma maneira de resgatar o vínculo afetivo da criança com o alienado é
através do brincar. Relata também que através de seu estudo é possível concluir que a
atuação jurisdicional sozinha é incapaz de solucionar o conflito existente. É preciso que
profissionais do direito e profissionais psi – numa atuação conjunta – unem esforços para
enfrentar essa dinâmica familiar.
Acompanhando o raciocínio de Silva (2011) a aderência da ciência psi no âmbito
jurídico e jurisdicional, permite que os vários profissionais se conscientizem de que ambos
os pais ocupam lugares imprescindíveis, igualmente importantes e necessários para a vida e
o pleno desenvolvimento infantil. No que se refere a sugestões de ordem prática, a fim de
melhor subsidiar no enfrentamento da prática alienativa, acredita-se que o Estado deve
promover uma capacitação técnica aos profissionais forenses para esse específico problema
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(Serviço de Atendimento a Famílias com Ação Cível), são encontros com ex-casais, para os
quais os profissionais realizam palestras, trechos de filmes, discussão e reflexões acerca da
continuação da família, pela existência dos filhos, e de que os mesmos devem receber de
seus pais, uma vida saudável e bem-estar físico e psicológico. É um trabalho de
assessoramento adotado por toda equipe técnica a partir da perspectiva sistêmica, sendo
cinco atendimentos realizados diretamente com a família em litígio. O objetivo é de
promover intervenções para a minimização do sofrimento e resolução de conflitos com foco
no bem-estar dos filhos. Como sugestão de novas possíveis intervenções, Moraes (2012),
traz que os psicólogos poderiam desenvolver palestras e cartilhas de auxílio aos pais que
estão se separando, para não acarretar maiores danos aos seus filhos e com o intuito de
fornecer informações mais claras aos pais em litígio. Moraes (2012) ainda constata que o
psicólogo jurídico, que atende os processos da Vara de Família de Mato Grosso do Sul,
ainda tem diversas facetas em suas práticas de trabalho para serem exploradas, como a
Mediação Familiar, porém ainda existem poucos profissionais capacitados.
Nos estudos de Coelho (2013) percebe-se que há, preocupação em estabelecer um
rapportinicial, em acolher as partes que chegam com um nível alto de sofrimento.
Compreende-se que, à medida que o psicólogo jurídico utiliza-se do recurso de adotar uma
postura acolhedora estabelece uma relação de empatia com as partes atendidas, ele se
utiliza de elementos de sua atuação clínica para nortear sua prática. Neste sentido, Coelho
(2013) infere que o psicólogo tende a utilizar os métodos de investigação, tais como
entrevista, testes, recuperação de dados de arquivo protocolo, informações de familiares e
terceiros, etc. Acrescenta-se, ainda, nesse rol de métodos o que seria prioritário, a
capacidade de acolher o outro e estabelecer um rapportinicial com ele, quer seja um
paciente, quer seja um avaliado. No settingterapêutico o psicólogo se utiliza do acolhimento
de forma mais ampla, podendo desenvolver uma postura de compreensão e auxílio
buscando compreender a problemática trazida pelo paciente no intuito de tratá-lo ou reduzir
o seu sofrimento.
Coelho (2013) menciona que para acolher as famílias envolvidas procura-se
aprofundar na dinâmica familiar dos avaliados, compreendendo o comportamento da
criança, do pai, da mãe dentro da dinâmica familiar dos mesmos. Compreende-se que a
atuação em uma perspectiva sistêmica é necessária e imprescindível à medida que a
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Moraes (2012) afirma que para alguns psicólogos um dos grandes fatores frustrantes
no seu trabalho no Estado, é que eles não sabem do resultado e não fazem um
acompanhamento com a família após a decisão do juiz, como também não têm acesso às
informações a respeito da adaptação da criança, após as mudanças familiares. Desta forma
percebeu-se que as produções são mínimas no que diz respeito a atuação do psicólogo após
as avaliações, como forma de intervenção. São em minoria os autores que nos levam a
pensar nas práticas psicoterapêuticas além de avaliações psicológicas e produções de
documentos judiciais.
Precisamos pensar em metodologias que se adaptem à nossa realidade e possam
oferecer atendimento clínico ou psicossocial às famílias que possuem diferenças em suas
necessidades e características. Isso implica avanços nos delineamentos das pesquisas, no
sentido de proporcionar conhecimento de aspectos de dinâmicas familiares que estão ainda
muito obscuros porque refletem modos de vida da população família ainda distantes dos
interesses dos pesquisadores.
O acompanhamento psicológico durante e após a decisão judicial é de extrema
importância, haja vista que a criança passa por uma grande mudança e adaptação em sua
vida, que muitas vezes é traumático para toda a família. E para que o trabalho do psicólogo
seja realizado da melhor forma, é necessária a constante produção de novos estudos na área.
É importante salientar que o acompanhamento psicólogo não se restringe apenas à criança
envolvida na alienação, mas pode-se pensar que as demais partes envolvidas também
merecem um alhar apurado do nosso campo do saber.
Sugere-se que, independente da abordagem teórica utilizada pelo profissional da
psicologia, se possa pensar em atendimentos sistêmicos que envolvam a família toda como
parte da intervenção, visando uma melhor adaptação da criança e resolução familiar neste
processo. De acordo com Costa (2010), a terapia familiar sistêmica presta-se melhor ao
enfrentamento terapêutico de determinados problemas interacionais ou problemas ligados a
momentos de transição da vida familiar, que é o caso da separação conjugal litigiosa de
onde provém a alienação parental. É preciso, ainda, que o conhecimento da dinâmica
familiar na perspectiva sistêmica seja melhor divulgado nos sistemas decisórios, como
exemplo, a Justiça (COSTA, 2010).
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Considerações finais
Com a realização desta pesquisa foi possível identificar que são poucos os estudos
já realizados na área. Grande maioria fala sobre o papel do psicólogo como perito e atuante
em decisões judiciais. Procurou-se focar em estudos que abordassem o papel da psicologia
frente à demanda da alienação parental. Refletir o que se pode fazer como prática
interventiva, visando minimizar os efeitos traumáticos aos envolvidos, principalmente à
criança e/ou adolescente.
A partir dos dados coletados foi possível identificar o que de fato se caracteriza
como alienação parental, de que forma esse fenômeno afeta os envolvidos, como o Direito
atua frente à esses casos e como a Psicologia vêm intervindo.
Como principais resultados buscou-se problematizar a importância da guarda
compartilhada, a mediação familiar e o acompanhamento psicológico, destacando a
participação do psicólogo neste contexto.
Nos três estudos destacados mencionou-se a importância de se refletir sobre a
importância da guarda compartilhada como possível solução nos casos de alienação
parental que no ano de 2014 foi definido como prioridade pela Lei. Segundo Silva (2011) a
guarda compartilhada coloca ambos os pais em situação de igualdade, evitando que o
exercício da autoridade fique restrito ao genitor-custódio, criando situações de
constrangimento na condução de regras educacionais e de ressentimento interno. Por ela,
qualquer dos genitores se sentirá responsável na primeira pessoa pela educação dos filhos,
por seu desenvolvimento. Em termos psicológicos, a guarda compartilhada trará o
inestimável resgate dos vínculos parentais, a convivência afetiva com o genitor que não
possuía a custódia será mais bem estruturada, havendo maior período para que pai e filhos
passem a se conhecer melhor, de modo que haja tempo, intimidade e disponibilidade para
estar em contato com a criança, percebendo com sensibilidade seu desenvolvimento e suas
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de fora da análise e outros estudos devem ser realizadas buscando novas perspectivas sobre
o tema.
De acordo com Moraes (2012) o trabalho do psicólogo não tem como foco
desvendar os fatos do processo para auxiliar os profissionais do Direito, mas sim, de
explanar melhor a situação requerida pelo judiciário, sendo ela por intermédio de
desenvolver trabalhos de intervenção, como: apoio, mediação, aconselhamento, orientação,
encaminhamento e prevenção dentro do seu contexto de trabalho.
A intervenção judicial nos casos de alienação parental é necessária, todavia esse
processo exige dos profissionais forenses um trabalho com foco interdisciplinar. A atuação
do direito sozinho é incapaz de solucionar o conflito existente. É necessário que
profissionais do direito e profissionais da psicologia trabalhem em conjunto e unam
esforços para enfrentar as complexidades desse fenômeno. A atuação dessas ciências em
conjunto devem seguir amparada no melhor interesse da criança, pois a mesma sendo uma
pessoa com a personalidade em formação, necessita de um olhar mais atento que reconheça
suas necessidades.
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