EMILE HUGOT MANUAL DA ENGENHARIA ACUCAREIRA Part Final Vol1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 67

476 E.

HUGOT

Capacidade de moagem 100 TCH


Consumo de CaO 18 kg/ TC
Proporção de C03Ca na pedra de calcário 90%
Pedra de calcário. - Baseando-se nas necessidades de CaO, observa-se,
pela reação (28.1), que são necessários, por TC:

18 x 15~~ x o,~o = 35,7 kg de pedra de calcário.


Levando em consideração os refugos e as partes não calcinadas, calculam-se:
35,7 X 1,05 = 37,5 kg/TC
Densidade do gás carbônico. - Supõe-se que a aspiração do gás do forno
de cal se faça com a pressão absoluta de 68 cm de mercúrio, ou seja, 8 cm de
vácuo. A densidade do C02 em relação ao ar é de 1,529. A 60°C e sob 68 cm,
este gás terá o peso de:
68 1 3
1,293 x 1,529 x 76 x 1 , u\ """r.., .. r", = 1,450 kg/m.

Vo)ume de C02. - O cálculo da composição do gás demonstrou que 100


kg de pedra de calcário produzem cerca de 64,5 kg de C02, para a pedra de
calcário com 90% de C03Ca e o coque com 85% de C Seja, por TC:

37,5 x ~~g = 24,2kg de CO2

ocupando um volume de:

24,2 . .
I I
1,450 =16680 ltros.
Volume de gás. - Observou-se que o gás contém, em média, apenas 25 a
33 % de C02. Baseando-se em 30%, obtém-se um volume de gás: I

16680
0,30
= 55600 I/TC
I

Volume total. - Para 100 TCH, tem-se:


I
Vi = 55,6 x 100= 5560 m3/h.
Aumentando-se de 10%, por medida de segurança:
V2 = 5560 x 1,10 = 6 116 m3/h.
O rendimento volumétrico das bombas de gás carbônico varia de 0,60 a
0,75. Tomando-sê 0,70, serão necessários:
6 116 . 3
V3 = Q,70 = 8 737 m/h.
~

l
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 477

Se a bomba for de efeito duplo, deve-se ter:


60 x 2 x L X S X n = V3 (28.3)
L =
percurso da bomba, em metros;
1T(D2-d2)
S = seção útil da bomba, em m2 - ;
'A . 4
d b
D = dlametro o corpo da bom a, em m;
d = diâmetro do pistão e do contrapistão, em m;
n = velocidade de rotação da bomba, em rpm.
De (28.3) obtém-se o produto nL(D2 - d2) e, conseqüentemente, a
bomba, escolhendo:
1.0 uma proporção LjD conveniente;
2.o uma velocidade razoável.
Esta velocidade deve ser mantida constante, sem o que o funcionamento do
forno seria de controle difícil e ficaria prejudicado.
Potência da bomba. - Por causa da pequena diferença de pressão entre o
recai que e a aspiração, o pistão de C02, nas bombas a vapor, é bem maior que o
pistão de vapor. Geralmente, seu diâmetro é duplo.
Calcula-se uma potência de cerca de 1,5 a 2 CV por m3jh de gás.

TANQUESDECARBONATAÇÃO

A carbonatação processa-se, geralmente, de modo descontínuo numa série


de tanques de carbonatação.
São tanques verticais, com seção retangular ou circular. Contêm uma altura
de caldo de 2 a 3 m. e sua altura alcança 4 a 7 metros,
sendo que a diferença contém as espumas abundantes
da l.a carbonatação.
Os tanques da 2.a carbonatação são idênticos,
com exceção da parte vazia, porque as espumas são
poucas.
Os tanques retangulares ocupam menos espaço
que os circulares, porém necessitam de tirantes para
evitar a deformação das paredes sob a pressão do cal-
do. Além disso, a carbonatação do caldo nos ângulos
'não é tão boa. .

Às vezes, os tanques são munidos duma tampa,


ligada a uma chaminé que serve para evacuar os gases,
após seu trajeto através do caldo no tanque. Muitas
vezes, são abertos na parte superior. Possuem uma
serpentina para o aquecimento a vapor, um tubo de
admissão do gás carbónico, que termina em um dis-
FIG.28.2. - Distribuidor tribuidor dentado, em forma de est!ela (fig. 28.2), um
em estrela. tubo para a entrada do caldo, um ladrão e, geralmente,
478 E.HUGOT

um dispositivo para diminuir a altura da espuma, formado por um tubo de vapor


perfurado, o qual lança pequenos jatos de vapor num plano horizontal, acima
da superfície do caldo.
Capacidade dos tanques de carbonatação. - Em um projeto de instalação
de carbonatação, tomar-se-á como base um número de 3 a 6 tanques, de pre-
ferência 4, para cada uma das duas carbonatações. Supõe-se que um destes
tanques se esvazia, o outro se enche, necessitando 5 minutos para cada uma
destas operações. A capacidade dum tanque será deduzida da altura escolhida
de caldo (2 a 3 m) e da necessidade de deixar o caldo, em cada tanque, no mí-
nimo durante a saturação pelo ácido carbônico, ou seja, um total de cerca de
30 minutos, para a carbonatação simples ou a l.a carbonatação, e um total de
15 minutos, para a 2.a carbonatação.
Honig (Sp. and M., 9.a edição, p. 117) calcula: a) Um volume de tanques
de 1.a carbonatação de 15 a 16 hl por TCR, para uma permanência do caldo
de 8 a 12 minutos para cada tratamento, com uma altura de caldo de 2 a 2,50 m;
leite de cal de 15 a 20° Baumé. b) Um volume de tanques de 2.a carbonatação
de 1,2 aI, 7 hljTCH, correspondendo à precipitação de 200 a 400 mg de CaO
por litro de caldo filtrado e aquecido a 70°C.

CARBONATAÇÁO CONTíNUA

Fabricam-se, também, tanques para carbonatação contínua, o que diminui


a mão-de-obra e simplifica a operação. São análogos aos tanques descontínuos,
porém são previstos para facilitar e prolongar o mais possível o contato entre
C02 e caldo.
O controle dum bom teor de saturação é mais difícil e é obtido pela regula-
gem da vazão do caldo.
A carbonatação contínua é encontrada mais freqüentemente na 2.a carbo-
natação do que na l.a.
Quando a 2.a carbonatação é efetuada de maneira contínua, o tanque de
2.a carbonatação contínua geralmente tem uma capacidade de caldo de cerca de
150 litros por TCH (PST p. 688), embora certas usinas utilizem apenas 60
ljTCH.
O caldo de 2.a carbonatação deve ser filtrado a 70°C. Com filtros-prensa,
calculam-se 3 m2 de superfície filtrante por TCH; com filtros Sweetland, 1,7
m2/TCH são suficientes.
Para aquecê-l o a 70°C, utilizam-se, preferivelmente, aquecedores aquecidos
com o vapor do 2.° ou do 3.° corpo. Calculam-se 16 a 20 m2/TCH (vapor do
2.° corpo) ou 20 a 24 m2/TCH (vapor do 3.° corpo).

COEFICIENTE DE UTILIZAÇÃO DO C02

o aproveitamento mais ou menos completo do gás carbônico depende, so-


bretudo, da superfície de contato entre caldo e gás carbônico e da duração
deste contato.
A seguir, há 2 fatores principais que influenciam este aproveitamento:
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 479

1.o O sistema de distribuição do gás na massa do caldo. Falou-se do


distribuidor em forma de estrela com braços dentados. Quanto menores e mais
numerosas são as bolhas, maior é a superfície de contato.
2.o O comprimento do trajeto do. gás entre o distribuidor e a superfície
livte do caldo, isto é, para os tanques comuns, a altura de caldo.
A eficiência nunca é perfeita. O coeficiente de aproveitamento de C02 é de
cerca de:
30 a 75%, de acordo com Quillard (p. 216)
40 " 60%,,, " "Tromp (p. 380).
As vezes, alcança 80 a 90% em circunstâncias mais favoráveis (lSJ, 1940,
p. 362). Mesmo neste caso, os gases expulsos pela chaminé ainda contêm
cerca de 12 a 15% de C02.
Aliás, não é necessário procurar um aproveitamento perfeito, sendo que as
quantidades de CÜ:! fomecidas pelo fomo de cal e correspondentes às quanti-
dades de cal normalmente empregadas são sempre largamente suficientes para as
necessidades da carbonatação.

CONDIÇÕES FA VORÁ VEIS AO EMPREGO DA CARBONATAÇÁO


A carbonatação, principalmente a dupla carbonatação e o método de
Haan, é a maneira clássica de fabricar açúcar branco.
No entanto, toma-se onerosa por causa do equipamento suplementar ne-
cessário e das quantidades suplementares de matérias-primas necessárias. Assim,
seu uso acha-se, logicamente, restrito a casos em que as 2 condições seguintes são
reunidas:
1.o A usina produz continuamente e sistematicamente açúcar branco. Fa-
bricando açúcar branco apenas esporadicamente, a sulfitação é mais conveniente,
pois necessita apenas um complemento insignifi..cante de equipamento: o início
e a interrupção de seu funcionamento não alteram muito a atividade da usina.
2.o A usina pode conseguir facilmente e a baixo preço a pedra de caléário
ou os corais necessários.
Unia usina que emprega a carbonatação consegue um rendimento geralmen-
te superior ao da usina que usa a defecação simples ou a sulfitação. Normalmente,
pode-se calcular 1 a 2% de açúcar a mais. Honig (Sp. and M., 9.a edição, p. 117)
calcula 1,5 a 2,5 % .
CONSUMO DE VAPOR

Na India, calcula-se (Podder, IX C. ISSCT, p. 521) que uma usina que


utiliza a carbonatação consome 100 a 120 kg de vapor por TC a mais que urna
usina que emprega a defecação ou a sulfitação. Neste país, os valores médios são:
Sulfitação 550 kg de vapor por TC
Carbonatação 660,,;, " " ".
Também em Formosa (TSJ, outubro 1969, p. 20), empregando a carbo-
natação, constatou-se um consumo 20% superior, em relação à defecação.
29
EMPREGO DA MAGNÉSIA NA CLARIFICAÇÃO

AÇAO DA MAGmSIA SOBRE OS CALDOS

E similar à da cal, porém afirrnou-se muitas vezes que a niagnésia era inde-
sejável, sendo melhor evitar, na defecação, cal com mais que uma certa porcen-
tagem de magnésia.

ELGUANITE

Entretanto, a usina de Koloa, Grove Farm, em Kauai, utilizava a magnésia


como agente clarificador, considerando-a satisfatória, e atribuía-lhe certos resul-
tados superiores aos obtidos pela defecação com cal. Adicionava a magnésia sob
a forma de "EIguanite", mistura contendo cerca de 78% de óxido de magnésio,
extraído dos refugos das fábricas de cimento. O método consistia em:
a) Introdução do EIguanite no caldo, proporcionalmente ao peso de Brix,
até um pH de 9,21 com um certo tempo de contato.
b) 1.° aquecimento, até cerca de 90°C, com um certo tempo de contato.
c) 1.a filtração, com um filtro especial, do tipo do filtro Philippe, de cerca
de 3 a 4 m2/TCH.
d) Adição de ácido fosfórico, regulada automaticamente por Micromax,
até um pH de 7,0.
e) 2.° aquecimento,até cerca de 95°C.
f) 2.a filtração, com um filtro do mesmo tipo, mas cuja superfície é a
Inetade da do primeiro.

*-
482 E. HUGOT

g) Envio à evaporação.
A originalidade do método, além do agente de defecação e da dispensa da
cal, estava, portanto, na ausência de decantador. O caldo levava apenas 90 mi-
nutos entre as moendas e o múltiplo-efeito. Era extraordinariamente brilhante e
claro, assim como o xarope. A massa cozida A também era clara. O ganho de
pureza era maior que aquele das usinas vizinhas com defecação comum. e era
superior em 2 pontos. O açúcar era praticamente branco. O EIguanite custava
aproximadamente 8 vezes mais que a cal, porém a economia do .clarificador era
considerável. Este método foi abandonado em 1954, por causa do custo do pro-
duto.

MAGOX

O "Magox" é um óxido de magnésio muito finamente pulverizado que pode


substituir, até em 100% ,'em casos excepcionais, porém, em geral, só parcialmente,
a cal na defecação. Nunca é empregado com o objetivo único de substituí-Ia,
porque seu emprego é muito mais oneroso que o da cal, mas sua finalidade é
evitar as incrustações no múltiplo-efeito.
Isto se deve ao fato de que certos sais de magnésia, em particular o sulfato,
são solúveis, enquanto os mesmos sais de cal são insolúveis, e ao fato de que
o Mg tende a substituir a cal nos compostos que ela forma.
Por ca\'sa de seu peso molecular, 1 kg de óxido de magnésio, MgO, subs-
titui 1.390 kg de cal virgem, CaO, ou 1,837 kg de cal hidratada, Ca(OH)2. Ge-
ralmente, os melhores resultados' são obtidos quando se substitui 50 a 80% da
cal (referimo-nos à cal hidratada pulverizada) pela quantidade corresp~)Odente
de MgO. Supondo que a usina efetue a defecação com, por exemplo, 800 g
de cal por TC, estas dosagens correspondem a:
400 g de cal + 220 g de MgO, ou seja, uma mistura 65% - 35%
ou:
160" " " + 350 " " " " " " " 30% - 70%
sendo os dois equivalentes às 800 g de cal anteriores.
No início, convém utilizar, por exemplo, esta última mistura e, em seguida,
substituir, a cada semana, 11 g de MgO por 20 g de cal, até que os tubos do
múltiplo-efeito fiquem limpos, e isto até chegar à proporção mínima de Magox
que permita o resultado desejado.
Realmente, os tubos ficam limpos e brilhantes. Gasta-se, portanto, mais
com o Magox, o qual custa 2 a 3 vezes o preço da quantidade correspondente à
cal, porém economiza-se:
além da quantidade de cal substituída,
a mão-de-obra da limpeza dos tubos (geralmente, com o salário superior do
domingo) ,
o preço das ferramentas de desincrustação (d. p. 506), que se desgas-
tam muito,
MANQAL {)A ENGENHARIA AÇUCAREIRA 483

o preço dos cones flexíveis que vão do motor à ferramenta,


o preço dos motores de substituição,
a soda e o ácido clorídrico da desincrustação,
.

o desgaste dos tubos,


e obtém-se um múltiplo- efeito de rendimento constante durante toda a semana.
Algumas usinas citam também um aumento. maior de pureza, na clarificação, um
caldo mais claro e mesmo um melhor esgotamento dos melaços. Estes últimos
efeitos são pouco significativos e bastante duvidosos, porém não se pode. esquecer
que o Magox permite resolver certos problemas de formação de incrustações
muito duras, e é fácil efetuar o balanço das vantagens e economias, em compa-
ração c~m o gasto da compra do produto.
Deve-se tomar cuidado com a lentidão da reação da magnésia, principal-
mente se o volume dos tanques de calagem permite pouco tempo de contato. É
preciso vigiar o pH. Se o pH continua a aumentar após os tanques de calagem,
no caldo aquecido, por exemplo, é porque o Magox não teve tempo de reagir. O
pH deve ser igual nos diferentes compartimentos do clarifica dor. Se aumentar do
1.° ao último, há excesso da mistura defecante. Do mesmo modo, se o pH do
lodo for maior que o do caldo clarificado, isto significa que há excesso de Magox.
Geralmente, é bom calcular 20 minutos de tempo de contato antes do aqueci-
mento (ISSCT, XII C., p. 1764).
É possível utilizar também qualquer outra magnésia calcinada pulverizada.
sob a condição de que a pulverização seja muito fina, com 99 % passanno pela
peneira de 325-mesh (EUA, Tyler).
30
DECANTAÇÃO E CLARIFICAÇÃO

Depois que o caldo recebeu o tratamento necessário (defecação simples.


sulfitação ou carbonatação), é preciso deixá-Io decantar-se, para separar o
caldo clarificado do precipitado formado em sua massa. Até 1950, esta de-
cantação efetuava-se de 3 maneiras principais: nos defecadores, nos decantadores
descontínuos ou nos decantadores contínuos, ou "clarificadores". Os dois primeiros
tipos de aparelhos desapareceram e, hoje em dia, apenas existem ainda os clari-
ficadores. Serão examinados a seguir.

Diluição
O fator de decantação é a diferença de densidade entre a matéria a ser
decantada e o líquido no qual está contida. Evidentemente, a superfície e a
forma das partículas, assim como a viscosidade do líquido, também exercem
~ua influência.
Portanto, o tempo necessário à decantação depende, principalmente, da
Jiferença de densidade entre o caldo e os corpúsculos do precipitado contido.
Em Clew,iston, na Flórida, efetuaram-se experiências sobre o tempo necessário à
decantação, em função da diluição do caldo (lSJ, 1937, p. 467):
a) Caldo misto 78 minutos
b) " ,,+ 10% de água 38 "
.c) " ,,+ 20% "" 28 "

Ao efeito provocado pela queda de densidade do líquido, devida à diluição,


acrescenta-se sua queda de viscosidade, devida à diminuição do Brix.
Salinas, em Cuba (lSJ, 1940, p. 330), tomava como base um caldo com
Brix, 16° e acreditava que era necessário calcular uma superfície de decantação
486 E. HUGOT

2%- maior para cada grau Brix acima de 16,ou, com outras palavras,. um tempo
de decantação 2% maior, para a mesma superfície.
Se bem que os resultados de Clewiston sejam bem mais marcantes que os
observados normalmente, é preciso não esquecer que a decantação melhora
com o aumento da embebição: a diminuição do tempo de depósito compensa
largamente o aumento de volume do caldó.

Velocidade de decantação
A velocidade de decantação dum caldo médio é de cerca de 7 cm por
minuto até que a concentração do lodo, na parte inferior, se tenha aproximado
do máximo. Neste momento, a velocidade de decantação diminui muito depressa
e chega a zero.

Superfície e volume de decantação


A velocidade de queda dos corpúsculos que compõem o precipitado é cons-
tante para um dado caldo. Segue-se que o tempo de depósito é proporcional à
altura de caldo. Com outras palavras, a capacidade dum decantador não depende
de sua profundidade: um decantador duas vezes mais alto conterá duas vezes
mais caldo, mas levará, também, duas vezes mais tempo para decantar. Somente
a superfície é importante.
Portanto, é preciso citar as capacidades de decantação em superfície, e não
em volume. No entanto, ainda são, muitas vezes,indicadas em volume, o que pode
levar a erros.

CLARIFICADORES

Clarificador é o nome dado ao decantado r contínuo.


Um decantador contínuo é um tanque ao qual se faz chegar, -de modo
regular e contínuo, o caldo a ser decantado e que é suficientemente grande para
que a velocidade de escoamento e de circulação do caldo seja lenta o bastante
para permitir a decantação. O caldo clarificado é trasfegado à parte superior de
maneira regular e contínua, assim como o lodo à parte inferior.

Descrição dum clarificador


Geralmente, os clarificadores são divididos em vários compartimentos, com
a finalidade de multiplicar a superfície de decantação.
Como os clarificadores possuem princípios similares e apenas variam em
seus detalhes, descrever-se-á o "Rapidorr", que é o mais generalizado (fig. 30. 1) .
Apresenta um eixo central cilíndrico vazio, girando muito lentamente (12
rotações/hora) e sustentando lâminas raspadoras que varrem vagarosamente o
fundo dos compartimentos.
O caldo a ser decantado chega tangencialmente à parte superior, num
compartimento cujo diâmetro é a metade do do tanque, chamado compartimento
de alimentação ou floculação. Neste compartimento sobrenada um pouco de
espuma: é eliminada com um raspador especial, que a empurra na direção
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 487

dum pequeno canal de expulsão lateral, o qual se comunica com a caixa de


escoamento do lodo.
Na realidade, o Rapidorr é formado por 2 clarificadores superpostos, cada
um contendo um compartimento superior e um compartimento para o lodo.
Estes dois compartimentos comunicam-se amplamente por meio dum canal cir-
cular central, com um diâmetro de 1/3 do do tanque. O lodo decantado no
compartimento superior desce por este canal ao compartimento inferior, sendo
acumulado numa fossa com as mesmas dimensões do canal pertencente ao
compartimento n.o 2, menor e cônico em relação ao inferior. Deste, o lodo. é
extraído poluma-bomba de diafragma. Os 4 compartimentos sào alimentados veto

"

FIG. 30.1. - Clarificador RapidorL'


488 E.HUGOT

eixo central vazio, que se comunica por meio duma larga abertura com cada
um dos 2 canais, alimentando assim cada par de compartimentos pelo seu
centro.
O caldo clarificado decantado é trasfegado da parte superior de cada um
dos 4 compartimentos por um tubo que sai pelo canto superior e leva o caldo
a um tanque de caldo externo, do qual escorre por um ladrão. Canecas móveis
que prolongam a extremidade vertical dos tubos do ladrão permitem regular a
vazão relativa de cada compartimento. O nível de transbordamento é, evidente-
mente, com a diferença de alguns centImetros, o nível do caldo no tanque.
O lodo também poderia ser trasfegado como o caldo, por gravidade. Os tubos
são-instalados como- que para isto, porém,eome o lod(), às vezes, é muito grosso,
é preferível tirá-Io com uma bomba de válvulas e diafragma, de curso pequeno

fi

FIG. 30.2. - Clarificador Dorr "Multifeed"


MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 489

e regulável. Da "caixa de lodo", ele vai normalmente, por gravidade, para a


filtração.
O clarificador é fechado, com exceção dum visor sobre o compartimento de
floculação. É inteiramente isolado; graças a esta proteção e, principalmente,
às suas dimensões, que permitem uma relação muito baixa entre a superfície ex-
terna e sua capacidade, ó' caldo sai a cerca de 99°C. Quando a usina pára no
domingo, o caldo ainda está com 90 ou 95°C' na segunda-feira de manhã, quando
se reinicia a moagem. Isto significa um esfriamento de 0,15 a 0,25 graus/hora,
para um tanque de, geralmente, 100 a 200 m3
O "Rapidorr" foi precedido pelo Dorr "Multifeed" ('fig. 30.2), que possuía
3 a 5 com-p-artimentos, dos quais apenas o de baixo er~ destinado ao lodo.
Um modelo muito parecido com o Dorr é o clarificador Graver (lohn
~eip) (fig. 30. 3). O lodo não desce mais pelo centro, mas pela periferia: por-

FIG. 30.3. - Clarificador Graver.


490 E.HUGOT

tanto, a superfície de decantação dos compartimentos -é um pouco inferior à


seção horizontal do clarificador. O caldo clarificado é trasfegado à parte de
cima do ápice cônico da bandeja, devendo o caldo passar, teoricamente, através
. do lodo, que se decanta. Não acreditamos que este processo se passe exata-
mente assim, na realidade. Entretanto, uma usina que tentou passar no Graver
caldos já rapidamente decantados em decantadores comuns assinalou-nos que
a clarificação era tanto melhor quanto mais o caldo estava carregado de lodo;
esta experiência viria confirmar a teoria do fabricante - "Upward sludge fil-
tration" - isto é, filtração do caldo ascendente através da corrente descen-
dente do precipitado em decantação.
Funcionamento do Clarificador
Quando se inicia a fabricação, o cl~u'ificador enche-se até o nível de trans-
bordamento dos tubos de escoamento do caldo clarificado. Entrétanto, no
Rapidorr é preciso abrir, até este momento, o tubo de comunicação entre os
compartimentos 2 e 3, para que o fundo do compartimento 2 não se deforme
com o peso do caldo.
O nível de transbordamento regula-se por meio dum volante geral, cada
volta do qual faz subir simultaneamente as canecas móveis de cerca de 1 mm.
Além disso, cada tubo pode ser regulado por meio dum volante próprio, permi-
tindo aumentar ou diminuir a vazão do compartimento correspondente.
Uma boa regulagem deve permitir vazões praticamente iguais dos diversos
compartimentos. A regulagem deve ser efetuada pouco a pouco, com uma volta
do volante de cada vez. Reconhece-se uma boa regulagem quando não mais
necessita de correções.
O nível geral deve ser fixado de modo que a espuma proveniente do com-
partimento de floculação seja facilmente empurrada pelo raspado r para o canal
de escoamento, sem arrastar caldo líquido. Esta operação deve ser constante-
mente supervisionada pelo operário encarregado da clarificação, pois se verificou
freqüentemente que o canal de escoamento não funcionava, ou funcionava com
intervalos grandes demais. Por este motivo, aconselhamos a instalação, sobre o
clarificador, dum regulador automático do nível de caldo (Masoneilan, por
exemplo). Quando o escoamento da espuma não funciona satisfatória e regu-
larmente, o caldo clarificado contém bagacinho, que não pode mais ser separado
e que passa ao açúcar.
A bomba de lodo é regulada para extrair constantemente uma quantidade
regular. Como a proporção de lodo se modifica de acordo com as variedades de
cana moídas, seu tempo de estocagem ou o grau de maturação, esta regulagem
é bastante difícil. É conseguida pela modificação do deslocamento dos pistões.
Nas regulagens mais baixas, correspondendoa vazões menores, é .possível
multiplicar sua precisão, retirando uma das válvulas da bomba, a qual, ge-
ralmente, é dupla ou tripla. De qualquer maneira, não se deve bombear todo
o lodo e parar a bomba, depois, durante algum tempo.
Quando é necessário forçar a vazão da bomba, acontece, às vezes, que os
golpes do pistão, repercutindo sobre o nível geral do líquido, produzem uma
flutuação na vazão do caldo clarificado. Este fenômeno prejudica a decantação e
deve ser evitado.
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 491

Tanque de distribuição.
Queda de pureza .em 40 h - Quando a usina trabalha
com vários c1arificadores em
série, é aconselhável distri-
buir o caldo entre os diferen-
tes c1arificadores, de acordo
4
com suas capacidades res-
pectivas. Para este fim, o
3 caldo deve chegar a um tan-
que de distribuição que te-
nha um número de vertedo-
2 res correspondente ao de
c1arificadores. O nível de
todos os vertedores deve ser
o mesmo e a largufa de cada
um será ajustada por meio
duma comporta. Assim, as
85° 90° vazões respectivas continua-
ro
Temperatura rão com a mesma proporção
adotada, independentemente
FIG. 30.4. - Queda de pureza em 40 noras, em das variações da vazão do
função da temperatura. caldo.
'Liqüidação. Perdas ocasionadas pela parada semanal
Devido ao seu grande volume, geralmente não é possível liqüidar os c1arifi-
cadores, por ocasião da parada semanal do domingo. Neste caso, o c1arificador,
ou os c1arificadores, continuam cheios, ocasionando perdas de sacarose. Estas
perdas foram estudadas por Noble e Henderson, na Austrália (QSSCT, 30.°,
abril 1963, pp. 141-156). São devidas a dois motivos diferentes:
a) Perdas por inversão, sensíveis sobretudo a alta temperatura, acima de
80°C.
b) Perdas por ação microbiana, sensíveis principalmente a baixa tempe-
ratura, abaixo de 70°C.
. Estas perdas são medidas pela queda de pureza, mínima, portanto, entre
70 e 80°C (fig. 30.4). Também estão estreitamente relacionadas ao pH e au-
mentam assim que o pH do caldo diminui a menos de 7,3 (fig. 30.5).
Para reduzir estas perdas a um mínimo, aconselha-se acrescentar ao caldo,
antes da parada, 150 g de cal por tonelada de caldo. A cal. é mais barata e
duas vezes mais ativa que o carbonato de sódio (Dupont de R. de St-Antoine,
ISJ, janeiro 1966, p. '13 ). Isto corresponde a um pH inicial de 8,7. Além disso,
como se encontra na parte mais favorável da curva da figura 30.4 (estabelecida
sem qualquer adição ao caldo), é conveniente esfriar o caldo que deve permane-
cer no c1arificador, isto é, aquele das últimas 3 ou 4 horas de moagem antes da
parada da semana. Com este fim, Noble sugere regular sua temperatura a 80°C
ou, após a parada, fazê-Io passaF num aquecedor em cujo espaço reservado ao
vapor se instala uma entrada e uma saída, efetuando-se, portanto, uma circulação
de água fria. Esta temperatura não prejudica a decantação quando se acrescenta,
ao mesmo tempo, Separan AP.. 30. A diminuição da temperatura a 80°C é
492 E. HUG01
~
muito mais eiicien~e que :1
Queda de pureza em 40 h '.
elevação do pH (IS], janeiro
1966, p. 13). 5
Assim que o caldo al-
cançar 80°C ou menos, po-
de-se adicionar formol numi1 4
proporção de 200 a 300 g
por tonelada de caldo. De;; 3
acordo com Noble, represen-
ta apenas 6% do custo d@
açúcar que seria perdido 2
sem esta precaução. É im-
o portanto misturá-Io homoge-
neamente, colocando-o, por
exemplo, por um tanque li-
gado à entrada do clarifica-
dor. Não é útil acrescentar o
formol acima de 85°C, por-
que se volatiliza rapidamen-
te. Sob este ponto de vista, é FIG. 30.5. - Queda de pureza em 40 horas, em
até conveniente acrescentá-Io função do pH.
somente depois que a tempe-
ratura do caldo foi reduzida a 70°C ou menos.
Como o pH marca nitidamente a queda de pureza, esta pode ser controlada
seguindo o pH: caindo a menos de 7,2, é sinal de deterioração.
É conveniente efetuar 2 ou, preferivelmente, várias liqüidações durante a
safra. Ao mesmo tempo, aproveita-se para limpar cuidadosamente o aparelho.
Para isto, escolhem-se especialmente as ocasiões em que a usina fica parada
durante mais de 40 horas (por exemplo, em Bourbon, a festa tradicional de
1 e 2 de novembro, ou outro feriado prolongado).
Perdas por inversão
Durante o período da decantação, o pH do caldo modifica-se e cai de cerca
de 0,8 a 1 ponto, de 7,8 a 6,9,por exemplo. Esta queda é mais açentuada no
compartimento inferior do que no superior, ou superiores.
Apesar das precauções tomadas, ocorrem perdas de sacarose por inversão
no clarificador. Pieter Honig (IX C. ISSCT, p. 550) avalia-as em 0,2 a 0,3%
de sacarose, geralmente; porém, às vezes, podem chegar até 1% (d. p. 591).
O lodo deteriora-se mais rapidamente que o caldo clarificado. Sendo man-
tido a uma temperatura de cerca de 95°C e uin pH de cerca de 6 a 6,5, a
queda de pureza observada (S. R. 1. Mackay, Techn. Rep. 17, p. 13) é de:

(2 (
..1p= 100 «( ~ 10") (O < ( :( 10") (30.1)
LJp= 10

A p = queda total de pureza;


t = tempo de permanência, em horas.
Ar
Saídas do caldo
clarificado dos t
'\ compartimentos
Regulagem do nível
'-' -.-'

Caldo
clarificado

//
t
' !

I
I
I

-~~
~ . ~-
\,' /~ '

s~'rii~~ +sernicorte
lado saída lado entrada.
do caldo do caldo
J"<IG.30.6 - Clarificador Fortier. Corte e esquema.
494 E. HUGOT

Decomposiçãode açúcaresredutores
Durante a permanência do caldo no clarificador a alta temperatura, sempre
ocorre uma certa decomposição dos açúcares redutores.' Pieter Honig (IX C. I:
I
ISSCT, p. 587) avalia-a em cerca de I % dos redutores por hora, a 100°C e
com um pH próximo a 7,0, porém esta destruição pode ultrapassar 3% por hora,
se o pH se eleva às proximidades de 8,0.
Velocidadede drcuIação
Àentrada do clarificador,o caldo deve ter uma velocidade máxima de 15 m
por hora. Caso contrário, haveria redemoinhos prej,:,-diciaisà ~ecantação.
No interior dum compartimento, as condições da decantação dependem da
velocidade v do líquido:
v = 3 a 6 m/h : escoamento laminar perfeito;
v = 6" 12 " : escoamento regular = decantação excelente;
v = 12 ,,15 " : surgem irregularidades. A decantação ainda é pos-
sível; .

v = 15 m/h e mais: o escoamento toma-se turbulento. A decantação


não mais é possível. t
Outros modelos de clarificadores

Além do Dorr e do Graver, há outros modelos menos generalizados de


clarificadores:
a) O Fortier (fig. 30.6), cuja forma retangular ocupa menos espaço.
b) O Bach (fig. 30.7), bastante generalizado em países de língua inglesa e
com concepção bastante similar ao Dorr. Porém, não é coberto, a superfície do
caldo é simplesmente protegida com uma camada de óleo, para evitar as cor-
rentes de convecção da superfície: assim o compartimento superior toma parte
na decantação, como os outros.
Tanque flasb
Os clarificadores são,normalmente, precedidos por um tanque flash. É um
simples recipiente cilíndrico, colocado imediatamente antes e acima do clarifi-
cador, com uma chaminé aberta para a atmosfera e ao qual o caldo, vindo
dos aquecedores, chega tangencialmente. Como o caldo está a 102 ou 105°C,
há uma evaporação espontânea, assim que chega a este recipiente, à pressão
atmosférica. Este fenômeno libera todas as partículas em suspensão das bolhas
de ar que ali estão agregadas e que impediriam a deposição das partículas de
bagaço durante a clarificação, se não fossem retiradas.
t.
Manutenção dos clarificadores

No fim da safra, o interior dos clarificadores é, às vezes, pintado. Isto é


bastante útil para sua manutenção durante a entressafra, porém, mesmo que a
tinta escolhida seja, supostamente, resistente aos caldos ácidos, desaparece após
as primeiras semanas da safra.
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 495

....
FIG. 30.7. - Clarificador Bach (Mirrlees Watson).

CLARIFICAÇÃO COMPOSTA

o princípio deste método de defecação já foi exposto (p. 454 e figo 25.1).
Será revisto aqui, sob o ponto de vista da capacidade de decantação.
P.roporção de caldo primário. --'- O caldo primário é o caldo fornecido pela
pressão seca, isto é, aquele fornecido pelo conjunto de esmagador + l.a moenda,
quando há esmagador com 2 rolos; pela moenda esmagadora, quando não há
esmagador.
De acordo com a eficiência destas unidades, pode-se calcular que fornecem,
em kg de caldo % kg de cana: .

a) Esmagador + l.a moenda: Ql = 55 a 83, em média,75 kg % kg de cana.


b) Moenda esmagadora: Ql = 50" 75," " 70"""" "
A quantidade Ql de caldo primário depende, principalmente, desta l.a uni-'
dade. A quantidade Q2 de caldo secundário é, pelo contrário, influenciada pelo.
teor de embebição. Se: '
496 E. HUGOT

P = proporção de caldo primário para 1 de caldo misto;


Q = peso de caldo misto para 1 de cana:

Q = Ql + Qi Q2 = Q- Ql
e
P= Ql 1- P = Q2
Q Q

Cálculo das quantidades de caldo. - Considera-se a figura 25. 1, na qual


se supõe que o lodo secundário seja filtrado em filtro contínuo Oliver e que os
caldos filtrados sejam reconduzidos .ao caldo primário. Seja:
P = proporção de caldo primário para 1 de caldo misto; e, conse-
qüentemente,
1 - P = proporção de caldo secundário para 1 de' caldo misto;
b1 = proporçãQ de lodo fornecida pelo clarifícador primário para 1
de caldo passando neste clarifIcado!:
b2 = proporção de lodo fornecida pelo clarificador secundário para
1 de caldo passando neste clarificador;
X = quantidade de caldo passando no clarificador primário para 1
de caldo misto;
Y = quantidade de caldo passando no clarificador secundário para
1 de caldo misto.

Para melhor compreensão, seguem os valores correntes:


P = 0,60 = 60% de caldo primário;
1-P= 0,40 = 40%" " secundário;
b1 = 0,10, isto é, o clarificador primário fornece cerca de 10%
de lodo e 90% de caldo clarificado;
b2 = 0,25, isto é, o clarificador secundário fornece cerca de 25 %
de lodo e 75% de caldo clarificado.
A figura 25 . 1 mostra que:
X=P+ Y y = 1- P + Xh1
dDnde:
1 1
y=--p (30.2)
X = 1- b1 1-h1
(Com os valores indicados acima, isto forneceria X = 111 e Y = 51%
do caldo fornecido pelas moendas.)
Observa-se que:
I
1.o X depende apenas de b1.

L
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCARElRA 497

2.° Por hora, passa no clarificador primário uma quantidade maior que a
fornecida pelas moendas.

Cálculo de P, X e Y pelas riquezas de caldo. - Estabelece-se:


S1 = açúcar % de caldo primário;.
S2 = " " " " secundário;
Sp = " " " " defecado saindo do clarificador primário;
S. = " " " " " " " " secundário;
.S, = " " " " filtrado, clarificado e turvo reunidos.
s, e S. podem ser igualados, porque, geralmente, a diferença é pequena e a
distinção entre estes dois valores próximos complicaria as fórmulas para obter
uma precisão ilusória.
Com efeito, a evaporação que ocorre nos separadores de vapor, colocados
entre aquecedores e clarificador, leva a um erro. Ora, a aproximação pela
substituição de S, por S. procura corrigir este erro e, aliás, corrige-o apenas par-
cialmente.
Estabelece-se que a quantidade de açúcar contida em X de caldo que vai
ao cIarificador primário provém das quantidades componentes, ocorrendo o
mesmo com o circuito secundário (fig. 25. 1) :
X. Sp = p. S1 + Y(l - b2)Ss + y. b2 . SI (30.3)

y. Ss = (1 - P)S2 + X. b1 . Sp (30.4)
Substituindo S, por S., X pelo seu valor obtido de (30.2) e eliminando Y
entre estas duas equações, segue-se:

P = Sp - S2 (30.5)
S1 - S2
Substituindo em (30.3) Y pelo seu valor obtido em (30.2), obtém-se:

X = p. Si - Ss (30.6)
Sp - Ss
A equação (30.3) fornece, igualmente, substituindo X por este valor:

Y = p. Si - SP. (30.7)
Sp - Ss
Para ter em conta a evaporação ocorrida nos separadores de vapor, é
necessário, nestas duas últimas fórmulas, substituir Sp e S$ pelos valores:

S; = 0,98Sp S; = 0,98Ss
O coeficiente 0,98 é apenas aproximado e pode ser calculado exatamente
em função da temperatura média alcançada nos aquecedores primários e se-
cundários.

32
498 E. HUGOT l

COMPARTIMENTOS

Observou-se (p. 486) que o volume dos decantadores não influencia a


decantação: apenas a superfície determina a capacidade de trabalho. Portanto,
poderia haver a tendência de reduzir a altura dos compartimentos. Porém, existem
limites, porque é necessário conservar uma altura suficiente para permitir a
vistoria e a manutenção do aparelho.
Geralmente, a altura mínima dos compartimentos é de 600 mm. A altUDa
normal noS Dorr "Multifeed" era de 686 mm. O compartimento inferior, onde se
acumula o lodo, era 2 a 3 vezes mais alto que os outros. Nos "Rapidorr", os
compartimentos superiores possuem 1 220 mm, os compartimentos' de lodo,
1 830 mm.
O "Multifeed" era fabricado com 3, 4 ou 5 compartimentos, o "Rapidorr",
sempre com 4 e o "Graver", mais freqüentemente, também com 4.
Quanto mais compartimentos um clarificador tiver, tanto mais será econô-
mico, pelo seu preço e pelo menor espaço ocupado. Às vezes, afirmou-se que o
caldo era mais claro à medida que o número de compartimentos aumentava.
Entretanto, nas usinas com díversos clarificadores e com números diferentes
de compartimentos, não foi possível constatar uma diferença regular e perceptível
entre seus caldos. Assim, o caldo dos "Rapidorr" não ~; superior ao dos
"Multifeed". ..

CAPACIDADES

Seguem algumas médias, citadas em vários países:


a) Clarificação simples. - Em Cuba, para caldos moderadamente refratá-
rios, calcula-se (FAS, abril 1940, p. 31):
Em volume: 2 400 l/TCH
Em superfície: 2,5 m2/TCH
No flavaí, conforme as variedades moídas (lSl, 1939, p. 385):
2 500 a 3 800 l/TCH, em média: 3 000 l.
Na África do Sul (43.0C. SASTA, p. 182):
3500 a 5700 I/TCH, em média: 4400 l.
Em Porto Rico, conforme a proporção de POl. 2878 das canas moídas
(ISJ, 1948, p. 317):
2 100 a 3 800 l/TCH.
Na realidade, a média de 34 usinas, para a safra de 1948 (TSl, outubro
1950, p. 58), correspondia a 3820 l/TCH; entretanto, esta média incluía o
volume total dos clarificadores de 3 usinas, empregando a clarificação composta.
b) Clarificação composta. - Em Cuba, calculava-se (151, 1941. p. 192):
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 499

Clarificador
Primário Secundário
Canas nobres 2000 I/TCH 1100 l/TCH
Canas do tipo POJ 2800 " 1500

Estes dados correspondem, portanto, a instalações em que o volume do


clarificador secundário é de 55% do volume do primário.
Vatores gerais. - Calcula-se a superfície de decantação dos clarificador.es
em seu total, isto é, igual à seção intema total do Clarificador multiplicada pelo
número de compartimentos.
No caso do Graver, toma-se também a seção total, incluindo o canal
periférico, pois toma parte na decantação.
Calcula-se, em metros quadrados de superfície de decantação por TCH:

QUADRO30. 1
Capacidade dos clarificadores

Clarificadores com
3 compar- 4 compar- 5 compar-
timentos timentos timentos

Em clarificação simples - ,. 2,80 m!/TCH 3 m!/TCH 3,10 m'/TCH.


pnmana 2,65 " 2,75 " 2,80
Em clarificação composta { ~ecundária 1,60 1,65 " 1.70

De acordo com estes dados, observa-se que o clarificador secundário tem


uma superfície correspondendo a 60% da superfície do primário.
A distinção feita conforme o número de compartimentos deve-se à super-
fície e ao espaço reservados à concentração do lodo, que são tanto maiores quanto
menos compartimentos há. '
Para cana nobre ou caldo do tipo nobre, pode-se calcular uma capacidade
.50% superior, isto é, uma superfíçie correspondendo aos 2/3 das indicadas.
De acordo com uma experiência efetuada em Kohala, no Havaí (lSJ, 1938,
p. 467), os valores propostos para a clarificação composta seriam .amplos.
Esta experiência leva à conclusão de que, na clarificação composta, a mesma
superfície total de decantação, como na clarificação simples, seria suficiente.
Isto significaria a redução de 1/3 nos valores das duas últimas linhas. Entre-
tanto, parece-nos tratar-se de valores excepcionais e acreditamos ser prudente
aproximar-se dos valores aconselhados ac!ma. Aliás, a firma Dorr tinha o costume
de montar, para clarificação composta, clarificadores primários capazes de tratar
a totalidade do caldo em clarificação simples.
Estas capacidades são muito variáveis, em relação aos valores médios
indicados para a clarificação simples. Em certos casos (cana nobre) chegam
500 E.HUGOT

até 1,5 m2/TCH, em outros (cana com caldo refratário) baixam a 4 m2/TCH.
A qualidade dos caldos a serem tratados tem bastante influência.

Capacidade dos "Rapidorr"


Em 1955, a firma Dorr-Oliver lançou este novo clarificador, com 4 com-
partimentos, dando-lhe uma capacidade por m2 muito superior à do "Multi-
feed". Com efeito, achava que a superfície à disposição da concentração do
lodo caracterizava a capacidade do aparelho. Calculava, conforme os caldos e
as variedades de cana, 0,50 a 1 m2 de superfície de concentração, de lodo
(equivale, no Rapidorr, a 2 dos 4 compartimentos), em média,0,75 m2 por TCH.
Como, por outro lado, calculava uma velocidade de decantação de 1 cm/min
= 60 cm/h e uma TCR representa, aproximadamente, 900 dm3/h de caldo,
uma superfície de 0,75 m2 permitia a decantação de:

0,75 x 0,60 = O5TCH


0.900 '
'ou seja, uma capacidade de decantação igual à metade da capacidade de con-
centração do lodo.
Com outras palavras, o fabricante considerou que, para 1 compartimento de '

concentração (o qual é também um compartimento de decantação), seriam ne-


cessários 2 compartimentos de decantação (o compartimento de concentração
de lodo mais um outro? de decantação apenas, acima deste). Isto deu origem à
concepção do "Rapidorr", que possui 4 compartimentos, dos quais 2 de con-
centração de lodo.
Finalmente, isto daria um total deI a 2 m2 de superfície de decantação
por TCH, em média, 1,50 m2/TCH.
A experiência demonstrou que estes valores eram demasiadamente otimistas.
Dorr Oliver retificou-os mais tarde e calcula, para a região norte-americana,
1,7 a 2,4, em média, 2 m2/TCH. Levando em consideração a cana com caldo
refratário, emprega-se a mesma margem de segurança que para os "Multifeed"
e calcula-se a capacidade do "Rapidorr" em: '

2,40 m2/TCH

o que completa o quadro 30.1, acrescentando-lhe uma coluna "2 comparti-


mentos", indicando 2,40 m2/TCH, em clarificação simples.
Como todos os "Rapidorr" são fornecidos para 6,10 m de altura de caldo,
isto corresponde á:
24
+ X 6,1 = 3,660 m3/TCH
de conteúdo útil.
Segue a série de clarificadores Dorr, com suas capacidades respectivas em
TCH, tais' como foram calculadas acima.

----
CENIAC
Li 5

iHf Jj I]' tH' ~ !)


11-.1:,i; ';. ,j.J<J ti I
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 501

QUADRO 30.2

Clarificação contínua. Capacidade dos clarificadores Dorr


A. Modelo "Multifeed"

Volume Capacidade
Diâmetro Superfície para: líquido em TCH
m' para

1 compartimento
Em Em 2 c. 3 c. 4 c. 5 c. 3 c. 4 c. 5 c. 2 c. 3 c. 4 c. 5 c.
pés m pés2 (m') (m') (m') (m') (m')

12 3,66 106 9,85 19,70 29,54 ,39 37 8 10 13


14 4,27 147 13,66 27,31 40,97 4,63 68,28 51 61 71 11 15 18 22
16 4,88 194 18,02 36,05 54,07 72,09 90,12 68 81 93 15 19 24 29
18 5,49 247 22,95 68,84 91,79 114,74 86 102 118 25 31 37
20 6,10 307 28,52 85,56 114,08 142,61 106 126 146 31 38 46
22 6,71 371 34,47 103,40 137,87 172,34 130 154 178 37 46 56
24 7,32 444 41,25 123,75 165 206,24 154 183 212 44 55 67
26 7,92 522 48,50 145,49 193,98 242,48 182 .217 250 52 65 78
28 8,53 605 56,21 168,62 224,83 281,03 221 265 309 60 75 91
3() 9,14 696 64,66 193,98 258,64 323,30 254 304 354 69 86 104
32 9,75 792 73,58 220,74 294,32 367,90 324 387 450 79 98 119
34 10,36 895 83,15 249,44 332,59 415,74 369 439 510 89 111 134
36 10,97 1005 93,37 280,10 373,47 466,84 414 493 572 100 124 151
38 11,58 1 179,109,50 328,49 437,98 547,48 464 552 640 117 146 177
40 12,19 1 241 115,26 345,77 461,02 576,28 516 614 712 123 154 186

B. Modelo "Rapidorr"

Diâmetro Superfície para:


Volume Capacidade
Em pés Em m 1 comp. 1 comp. 4 comp. de caldo em
pés' (m') (m') (m') TCH

-10 3,05 79 7,30 29,19 45 12


11 3,3.5 95 8,83 35,31 55 15
1! 3,66 113 10,51 42,03 65 18
13 3,96 133 12,33 49,32 77 21
14 4,27 154 14,30 57,21 89 24
15 4,57 177 16,42 65,67 103 27
16 4,88 201 18,68 74,72 117 31
17 5,18 227 21,09 84,35 132 35
18 5,49 254 23,64 94,56 148 39
19 5,79 284 26,34 105,36 165 44
20 6,10 314 29,19 116,75 182 49
22 6,71 380 35,32 141,26 221 59
24 7,32 452 42,03 168,11 263 70
26 7,92 531 49,32 197,30 308 82
28 8,53 616 57,21 228,82 357 95
30 9,1 707 '65,67 262,68 410 109
32 9,7 804 74,72 298,87 467 125
34 10,36 908 84,35 337,39 526 141
36 10,97 1018 94,56 378,26 591 158
502 E. HUGOT

Na Austrália (QSSCT, 35.0,p. 154), calculam-se as seguintes capacidades:


Clarificador Bach 550 kg de caldo/h/m3 e 500 kg de caldo/h/m2
" DorrA.T.V. 450 "" " " 650"" "

e, em outro ensaio {QSSCT, 36°, p. 251), as capacidades foram de cerca de:


Clarificador Bach 400 kg de caldo/h/m3 e 500 kg de caldo/h/m2
" DorrA.T.V. 500 " " ,,750 " " "
31
AQUECIMENTO

Já foi visto que, durante o tratamento do caldo, é necessário aquecê-Io


pelo menos uma vez. Como o vapor direto é oneroso demais, utiliza-se para este
aquecimento o vapor de escape ou, quando possível, prefere-se o vapor de
sangria. Portanto, é necessário ter om aparelho de intercâmbio de calor entre
vapor e caldo: são os aquecedores.
O aquecedor (fig. 31.1) é formado por uma calandra tubular: o caldo
circula nestes tubos e o vapor em volta. Paredes obrigam o caldo a passar um
certo número de v~zes de cima para baixo e de baixo para cima, seguindo em.
cada vez por uma parte diferente dos tubos da calandra.

CALOR ESPECIFICO DAS SOLUÇOES AçuCARADAS

O calor específico c das soluçõ~s de sacarose é dado bastante exatamente


pela fórmula:
c = 1 - 0,006B (31.1)
. B = Brix da solução.
Sem inconveniente, esta fórmula pode servir aos caldos, xaropes e méis com
purezas diferentes.
Segue-se que um caldo misto ou defecado comum, cujQ Brix é de cerca de
16 ou 17, tem um calor específico próximo a 0,9. Nunca será realmente errado
dar ao caldo o calor específico de 0,9. Para uma precisão maior, quando o Brix
difere muito da média, é melhor tomar o valor fornecido pela fórmula (31. 1),
aliás simples e de aplicação imediata.
504 E. HUGOT

De acordo com Gucker e Ayres OSJ, 1941, p. 154), obtêm-se valores mais li!
exatos, substituindo nesta fórmula o coeficiente 0,006 por 0,0056.

CALOR PERDIDO li!

Conforme o isolamento mais ou menos cuidadoso do aquecedor (e, para


as séries de aquecedores, do tubo que o liga ao aquecedor seguinte), a perda de
calor correspondente ao rendimento da operação de intercâmbio chega a cerca
de 4 a 8%, em média 5 % para um aquecedor convenientemente isolado com
tábuas de madeira.
Registro a válvula
Válvula de ar

.
Vapores
amoniacais

Entrada de vapor

I1

Válvula de esvaziamento
FIG. 31.1. - Aquecedor (Fives- Lille Cail).
I,
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 505

CÁLCULO DOS AQUECEDORES

o cálculo dos aquecedores é complicado, porque um dos fluidos, o vapor,


tem temperatura constante; o outro, o caldo, varia desde sua temperatura de
entrada até sua temperatura de saída. Isto introduz no cálculo uma integral, que
se traduz por um logaritmo. Este fato toma o cálculo um pouco mais comprido,
porém nenhum cálculo exato seria possível de outra maneira.
Aliás observar-se-á, no exemplo seguinte, que a complicação decorrente é
mínima: não há necessidade duma tábua de logaritmos; uma simples régua de
cálculos fornece resultados suficientemente exatos para as necessidades da prática.
Todo o cálculo dos aquecedores é contido nas 3 fórmulas seguintes:
a) Quantidade de calor transmitida:

M = pc(T - to)(l - e-~) (31.2)


b) Temperatura obtida:
-~
t = T - (T - to) . e pc (31.3)
c) Superfície de aquecimento:

S = pc C T - to
k T-t
. (31.4)

M = quantidade de calor transmitida ao caldo, em kcal;


S = superfície de aquecimento do aquecedor, em m2;.
p = peso de caldo a ser aquecido, em kgjhora;
c = calor específico do caldo (cerca de 0,9);
T = temperatura do vapor aquecedor, em °C;
to = " de entrada do caldo frio, em °C;
.t = " " saída do caldo quente, em °C;
k = coeficiente de transmissão do aquecedor, em kcal/m2jOCjhora.
(Lembra-se que a expressão y = e-111vem a ser:
- x = Cy= 2,3 log y (31.5)
Portanto:

-~ kS
log .e pc = - 0,4343 -
pc (31.6)

e que, quando um logaritmo tem um valor negativo, é preciso escrever, por


exemplo:
log x = - 0,372 = 1,628.)
Valor de k. - Todos os autores estão de acordo em assinalar a influência
predominante exercida sobre o coeficiente. de transmissão k pela velocidade v de
506 E.HUGOT

circulação do caldo nos tubos. Porém, as opiniões divergem quanto à .lei de


acordo com a qual se exerce esta ação.
Hausbrand (p. 331) deu:

k = 750 VU-+ 0,007 (31.7)


k = coeficiente de transmissão do aquecedor, em kcal/m2/oC/hora;
U = velocidade do caldo nos tubos, em metros/segundo.
Porém, empregou tubos limpos.
Antigamente, na Austrália (ISl, 1936, p. 438), tomava-se:
k = 900YU (31.8)
Speyerer (Perk, IX C. ISSCT, p. 600) indica, para U = 1 m/s:
k = 222 + 3,6T (31.9)
Entretanto, estas fórmulas apresentam o inconveniente de levar em consi-
deração apenas a influência da transmissão entre a parede (ou incrustação) e o
caldo, na qual atua a velocidade do caldo. Convém considerar também a resis-
tência oferecida pelas transmissões: a) do vapor à pareJe; b) através da parede;
c) da parede à incrustação; d) através da incrustação; estas somam-se (não se
multiplicam) à resistência total. Crawford e Shann (IX C. ISSCT, p. 105)
conseguiram, desta forma, uma fórmula com a seguinte equação:

- 1 = 0,00041 + - 1 (31.10)
k . 3,234uo,8
Esta fórmula, obtida em semanas de 140 horas, porém com tubos cuidado-
samente limpos, leva a valores altos demais na prática e não considera a influen-
cia do vapor aquecedor.
Foi proposto por nós (LSC, p. 294)
k = 5TyU + 0,04 (31.11)
T = temperatura do vapor aquecedor, em °C, e, mais tarde (HCSE, p.
315) :

k = T (31.12)
0,10 + 0,075
U
A multiplicidade destas fórmulas e a enorme variação deste coefici~nte na
prática levam à conclusão de que as fórmulas mais simples são as melhores e
aconselhamos agora, para marcar um valor prudente deste coeficiente no fim-
-de-semana, contentar-se em adotar:
(31.13)
Ik = T{S+U)I
neste. caso, fica subentendido que, conforme a experiência, seria possível
utilizar um multiplicador favorável, tal que: k = 1,2T{S + U).
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 507

INFLmNCIA DAS INCRUSTAÇOES SOBRE A TRANSMISSÁO DE CALOR

Na maioria dos países açucareiros, trabalha-se de modo contínuo durante a


semana e interrompe-se o trabalho no domingo para limpar os aquecedores e
corpos de evaporação. Estes aparelhos estão, portanto, relativamente limpos na
segunda-feira de manhã e revestem-se com incrustações durante toda a semana
(ou à quinzena, quando a limpeza é efetl.lada apenas a cada duas seinanas). g
interessante estudar a variação do coeficiente de. transmissão de calor durante
este período.
Seja:
k = coeficiente de transmissão do calor;
t = tempo decorrido desde a última limpeza.
g lógico supor que a espessura das incrustações nos aquecedores e corpos de
evaporação seja proporcional ao peso de líquido aquecido ou evaporado, por-
tanto à quantidade de calor transmitida. Pode-se, neste caso, escrever:
k =
1
1 (31.14)
-+ÀM
ko
k = coeficiente de transmissão do calor, durante o tempo t;
ko = " " " "" " " " t = O;
M = quantidade total d€: calor transmitida a partir do tempo t = O;
À = coeficiente.
Donde:
1 1 ~ (31.15)
M '==X ( k - ko )

Porém,M é proporcional ao coeficiente k e ao tempo:


M=cx.k. t (31.16)
a = coeficiente.
De (31.15), obtém-se:

dM=-~
. Ã. k2
e de (31.16):
dM = .
cxk dt
Donde:

.
cxk dt =- dk
Ã. k2 -3 dk
k
= .
cxà dt

Integrando: 1
k2 = 2cxÀt+ b
508 E. HUGOT

b = constante.
Ou:
1
k = Vb+ at

estabelecendo: 2aà = a. .

O valor encontrado para o coeficiente de transmissão bruto k poderia ser


demonstrado da mesma maneira para a T.E.E.R., c (d. p. 620).
Exprimindo t em dias e determinando os coeficientes a e b em função dos
resultados geralmente constatados, pode-se escrever:

k = ko JA~ J c = Co J~
A J
(31.17)

ko = coeficiente de transmissão de calor durante o tempo t = O;


Co = T.E.E.R. duranteo tempo t = O;
A = número variante conforme a rapidez de depósito das. incrustações, a
qual depende do caldo, da intensidade de circulação no aparelho, de
sua concepção etc.;
] = número de dias passados desde a limpeza do aquecedor ou do corpo.
Para um aquecedor ou um múltiplo-efeito comum, adota-se:
Condições favoráveis A = 13 a 15
"médias A = 10 " 12
" desfavoráveis A = 6" 9.
EXEMPLO.- Um aquecedor tem um.coeficiente de transmissão global:
ko = 1000 kcal!m2/oC/h
na segunda-feira de manhã. Apresentando condições bastante boas, definidas
por A = 12, este coeficiente, na noite do sábado, fica reduzido a:
~ -
k = 1 000 ~ 12+6 = 1000 x 0,8165 = 816kcalfm2tC/h.
Procurando levar em conta esta variação do coeficiente de transmissão do
calor durante a semana, é possível adotar:

k= T A J ~~
(6 + 1,5U A J) J~ (31.18)
Esta fórmula permite levar em conta o dia da semana. É possível, também,
trocar os dias pelas horas... substituindo:
24A .

JA~J pela fração: J 24A + H


H = número de horas passadas depois da limpeza.
,~
r
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 509

VARIABILIDADE DO COEFICIENTE k

A variabilidade do coeficiente k de transmissão será indicada no quadro


seguinte, por Perk (IX C. ISSCT, p. 601). É o resultado duma investigação rea-
lizada em Java, em 1940, sobre o valor do coeficiente k total, para os diferentes
aquecedores vertIcais de 9 usinas:
Valor de k
Aquecedores aquecidos com ° vapor de escape 225 a 1127 kcal/m2/oC/h
do 1.° corpo 212" 1 080 ,
"2,°,, 201" 630 ,
"3.°,, 129" 612 ,
"últ." 276" 517 ,

Webre (Sp. and M., 9.a ed., p. 141) calcula cerca de 1 200 a 1 500 kcal/
m2/oC/h, valores bem mais altos que aqueles citados por Perk.
Por causa desta variabilidade, é bom determinar o coeficiente k para os
aquecedores existentes na usina. Deste coeficiente, deduz-se o valor dum fator
que será utilizado no segundo membro da fórmula (31. 13) ou (31. 18) e, em
função dos diferentes valores encóntrados, empregam-se estas fórmulas com o
fator mais provável para o caso considerado.
É preciso lembrar que, no início da semana, isto é, com tubos limpos, um
aquecedor bem construído, com uma velocidade de caldo suficiente, tem um
coeficiente de transmissão de calor de cerca de 1 000 kcal/m2/oC/h.

VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO

Já se examinou a influência 'da veloêidade de circulação do caldo nos tubos


sobre a eficiência do aquecedor. Por este motivo, os aquecedores são divididos em
compartimentos por meio de chicanas.
Para uma boa utÍlização destes aparelhos, é importante que a velocidade de
caldo não diminua a menos de 1 m/s, sendo preferível ficar acima de 1,50 m/s.
Caso contrário, o coeficiente de transmissão de calor seria pior na segunda-
-feira de manhã, o aquecedor ficaria sujo mais rapidamente e a temperatura do
caldo cairia mais depressa durante a semana.
Inversamente, com velocidades muito altas o percurso do aquecedor provo-
ca uma perda de carga considerável, que se torna rapidamente prejudicial. Por
isso não se ultrapassám 2 a 2,25 m/se as velocidades melhores e mais econô-
micas ficam entre 1,5 e 2 m/s.

PERDAS DE CAR~A

o cálculo da perda de carga do caldo durante a passagem nuÍn aquecedor


é determinado pelas seguintes considerações: .

1.° A viscosidade cinemática do caldo, v = 7Jg, é de cerca de 0,5 a 1


'lU
. 10"6
m2/s, às temperaturas de aquecimento (40 a 100°C) (cf. p.1138):
510 E.HUGOT

v = viscosidade cinemática, em m2/s;


fi = viscosidade absoluta, em kg . s/m2;
'tU = peso específico,em kg/m3;
g = 9,81 m/s2.
2.° O número de Reynolds, R = UD ,número sem dimensões (cf.p.1136)
é de cerca de 50 000 a 200 000. O escoa~ento é, portanto, agitado (com menos
de R = 2 320, escoamento laminar;. com mais de R = 3 000, escoamento
agitado) .
U = velocidade do caldo nos tubos, em m/s;
D = diâmetro dos tubos, em m.
3.° O coeficiente de resistência À (ci. p. 1138) é bastante. variável, depen-
dendo do estado do tubo. Quando. ~ste ~ novo ou está limpo, pode ser conside- .

rado como liso. Então À, número sem dimensões, é de cerca de 0;016 a 0,020.
Assim que o tubo fica com incrustações ou sujo, deve ser considerado como
rugoso e À varia de 0,025 a 0,100. Pode-se supor que no fim-de-semana chegue
freqüentemente a 0,05.
Como as perdas de carga são, geralmente, utilizadas -para o cálculo das
bombas, é melhor basear-se nos valores de Àde fim-de-semana.
4. ° E possível considerar a perda de cat"ga ocasionada pela mudança de
direção de 180°, ocorrida em cada circulação, como equivalente ao compri-
mento de 1 m de tubo (fornecido aproximadamente pela fórmula de Borda-
-Camot) .
Neste caso, a perda de carga é dada por:

Jp
'tU
= À.-.
2g
U
2
.-DL (31.19)

Llp = perda de carga no conjunto do aquecedor, em kg/m2;


L = comprimento equivalente total de percurso no aquecedor, tendo
em consideração~a observação (4.°)
com: L = n(/+ 1)
n = número de circulações do aquecedor;
I = comprimento unitário dos tubos, em m.
Adotando o valor de fim-de-semana para À e os valores médios para as
outras expressões:

Jp = 0,05 x 2 1xO~~8X U2 X n(/;- 1) # 2,5U2. n(/ ;- 1) kg/m2 (31.20) a

Desejando exprimir Llp em metros de coluna de água, é preciso dividir os


kg/m2 por 1000. Tem-se, portanto:

J = U,0025U2. ng + 1) (31.21)

.~
r
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA Sl1

J = perda de carga, provocada pelo percurso no aquecedor, em m de


altura de água;
U = velocidade do caldo nos tubos, em m/s;
n = número de circulações do aquecedor;
1 = comprimento de cada tubo, em metros;
D = diâmetro interno dos tubos, em metro.
MARGEM DE TEMPERATURA

A aplicação dos cálculos de aquecedores mostra que, quando não se desejam


instalar ~uperfícies excessivas de' aquecimento, é conveniente observar uma certa
margem entre a temperatura T do vapor de aquecimento e a temperatura t
desejada para o caldo quente quando sai do aquecedor.
Tendo em vista a economia, é preciso esforçar-se para limitar a temperatura
t a ser atingida, para que se t~nha:

QUADRO31.1
Margem de temperatura a ser observada nos aquecedores

Vapor de aquecimento Margem de temperatura


Vapor de escape T-t = Sa 8°C
do 1.0 corpo T - t = 10 ~. 12 "
dos outros corpos T - t = 15 ,,20 "

Caso contrário, o excedente de superfície necessário para obter um caldo


mais quente não corresponderia mais ao aumento de temperatura alcançado.
Como o aquecimento se efetua geralmente por estágios, pelo menos na
série principal, por meio do vapor de sangria dos vários corpos do múltiplo-
'-efeito, e termina pelo vapor de escape, chega-se a uma série com um número
razoável de aquecedores com superfície ótima.

CALCULO DUMA SERIE DE AQUECEDORES

Dados. - Supõe-se:
Moagem da usina 100 TCH
Peso de caldo misto produzido 1 000 kg/TC
Densidade do caldo misto 1,05
Temperatura do caldo frio 30°C
Contrapressão 0,5 kg/ cm2
Quádruplo-,efeito com 4 corpos iguais de 720 m2cada.
Também se supõe que este quádruplo-efeito funcione conforme a seguinte
escala de temperaturas:
512 E. HUGOT

Temperatura T Calor latente r


Vapor de escape 111 °C 532 kcal/kg
do 1.° corpo 102°C 538 ..
" 2.° 92 °C 544 "
" 3.° 80°C 551 "
" 4.° 55 °C 566 "

e que a esta eS,calacorrespondam, para os diversos corpos, as seguintes capaCi-


dades de evaporação (cf. p..630) :
Superfície Capacidade Evaporação o
do corpo de evaporação total
em m' em kg/m'/h em kglh
- - -
1.° corpo 720 x 38 = 27 360
2.° " 720 x 32 = 23 040
3.° " 720 x 24 = 17280
4.° " 720 x 22 = 15 840

Escolha dos estágios de aquecimento. - Utilizar-se-ãoda melhor maneira


as possibilidades de cada corpo retirando-se de cada um o vapor que pode
fornecer, além daquele necessárib ao corpo seguinte. Supõe-se que não haja
sangria para os cozimentos.
Entretanto, o excedente do 3.0 corpo sobre o 4.0 não será utilizado, pois não
vale a pena. Considera-se que, neste caso, os 2 últimos corpos fornecem, cada
um, 16500 kgjh de vapor.
AQUECEDOR N.o 1. - Portanto, o excedente do 2.0 corpo é de:
23 040 -16 500 = 6 540 kgjh.
Utilizando-onum aquecedorsobre o caldo frio, este caldo pode ser levado
a uma temperaturati de:

6540 = 100 000 X 0,9(t1 - 30)


544 x 0,95
Donde:

ti = 67°C.
N.o 2. -
AQUECEDOR Por seu lado, crI.o corpo dispõede:
27 360 - 23 040 = 4 320 kgjh
e pode, portanto, aquecer os caldos que saem do aquecedor n. ° 1 até uma tem-
peratura t2 de:
4 320 = 100000 X 0,9(t2 - 67)
538 x 0,95
Donde:

t2 = 91°C.

1
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 513

AQUECEDORN.o 3. - Falta, portanto, aquecer os caldos de 91°C a' 103 ou


105° C com o vapor de escape.
Cálculo das superfícies de aquecimeuto. - Escolhem-seos aquecedores
necessários na série de aquecedores de 75m2, com 14 circulações de 13 tubos
de aço inoxidável de 35,6 X 38 mm do quadro 31.2 (p. 521).
O volume de caldo a ser aquecido é de:
100000
v= - ,n, = 952401/h.
Como estes aquecedores permitem uma vazão de 46 600 l/h para uma
velocidade de caldo de 1 m/s, a velocidade de circulação para uma vazão de
95240 l/h de caldo será de:
95 240
U = 46 600 = 2,04 m/s.
E uma velocidade muito alta, porém aceitável, quando não se pensa em
aumentar a tonelagem da usina. É conveniente procurar velocidades de cerca -
de 1,60 a 1,90 m/s, para deixar um pouco mais de margem a um possível
aumento. A dificuldade principal, com uma velocidade de 2 m, é a perda de
carga, que pode obrigar à instalação duma 2.a bomba após os 2 ou 3 primeiros
aquecedores, para evitar as rupturas das tampas dos corpos.
AQUECEDOR N.o 1 SOBRE o 2.° CORPO. - O coeficiente de transmissão do
1.° aquecedor. é (fórm. 31. 13) :
k1 = T(5 + U) = 92(5 + 2,04)= 648 kcal/m2/oC/h.
E sua superfície (fórm. 31. 4) :

S1 = pc
k1
. C TT-t1- to = 100000648x 0,9. C 92
92-67
- 30
ou:
- 100000 x 0,9 x 2 3 log 62 = 319,4 x 0,39445= 126m2
S1 - LAO , 25

Utilizam-se 2 aquecedores de 75 m2 = 150 mil, que possibilitarão uma


margem de segurança.
Normalmente, obter-se-ia, no lugar dos 67°C exigidos, uma temperatura t1
(fórm. 31.3):
648><150
t1 = 92 - (92 - 30) e- 90000

648><150
l'oge - 90 000 =- O4343
, .648 x 150 = -
,..,..,..,..,.. O46904
, = I ,53096
648><150
e 90 000 = 0,3396
t1 = 92 - (62 x 0,3396)= 92 - 21 = 71 oCo

~
514 E. HUGOT

De fato, é prudente não utilizar a margem de segurança estabelecida e


contar apenas com os 67°C inicialmente adotados.
AQUECEDORN.° 2 SOBRE O 1.° CORPO.- Do mesmo modo, tem-se:
k2 = 102(5+ 2,04)= 718kcalfm2
rC/h.

S2 -
- 90000
TIS .L 102-91
102- 67 = 90000
718
x 2,3 . log 35
11-
= 288,3 x 0,50267=
.
145m2

Utilizam-se 2 aquecedores de 75 m2, idênticos aos 2 precedentes.


AQUECEDORES
N.o 3 SOBREO VAPORDE ESCAPE.- Do mesmo modo, tem-se:
k3 = 111(5+ 2,04) = 781 kcalfm2rC/h.

S = 90000 . [ 111 - 91 = 90000 x 2,3 . I 20 = 265 O39794 = 105 2


3 781 111 - 103 781 og 8 x , m
Para completar a padronização, utilizar-se-ão ainda 2 aquecedores de 75
m2. É provável que apenas um dos dois seja suficiente para alcançar 102°C na
segunda e na terça-feira, o outro para a quarta e a quinta-feira, e os dois juntos
para terminar a semana. Deste modo, obtém-se uma série homogênea e com boa
margem, o que é importante para o fornecimento de tubos de substituição.
OBSERVAÇÃO 1. :- No lugar de partir de novo para cada estágio com a
temperatura de aquecimento estabelecida para o estágio precedente, é possível,
a cada vez, calcular a temperatura que será fornecida pela superfície de a<}ueéi-
mento escolhida e recomeçar com esta temperatura para to. A precisão dos cál-
culos de aquecimento não o justifica. .

OBSERVAÇÃO 2. - Nossa fórmula (31. 13) corresponde a uma média pru-


dente. Mesmo no fim-de-semana, obtêm-se, às vezes, melhores coeficientes de
transmissão. Estando suficientemente seguro deste coeficiente, é possível modifi-
car a 2.a expressão desta fórmul~ com um fator mais favorável, por exemplo
1,1 ou 1,2.
OBSERVAÇÃO 3. - Para evitar o perigo de privar o corpo de evaporação
seguinte duma parte do vapor de que necessita, é preciso não adotar uma
margem demasiada na escolha das superfícies de aquecedores ou fechar a vál-
vula de vapor para não ultrapassar uma temperatura determinada.
OBSERVAÇÃO 4. - Quando a contrapressão é suficiente (a partir de cerca
de 700 g/ cm2), é possível atingir 103°C com o vapor do 1.° corpo, sem utili-
zar o vapor de escape. Neste caso, é bom prever no último aquecedor uma
admissão de vapor de escape regulada por um regulador Arca, ou outro, abrindo
o vapor de escape quando a temperatura do caldo cai a 101 ou 102°C.
OBSERVAÇÃO 5. - Certos aquecedores podem ter a vantagem de possuir
duas admissões de vapor: 2.° e 1.° corpos, ou 1.° corpo e vapor de escape, por
exemplo. No início da semana, pode-se utilizar o vapor menos quente; à medida
que o aquecedor fica sujo e não fornece mais a temperatura exigida, passa-se ao
vapor mais quente.
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 515

TEMPERATURA FINAL

Evita-se ultrapassar 105°C no último aquecedor. Webre (TSJ, abril 1951,


p. 25) acredita que, quanto mais a temperatura alcançada for elevada, tanto
mais se corre o risco de que as ceras, fundidas a estas temperaturas, se emulsio-
nem com a ebulição que se produz na chegada ao tanque flash que precede o
clarificador. Neste caso, sua eliminação torna-se muitó difícil.

DEFINIÇÃO DA SUPERFíCIE DE AQUECIMENTO

A superfície de aquecimento dum aquecedor é a superfície interna dos tubos.


Esta convenção não é universal, mas é generalizada na França e é lógica, por-
que é o coeficiente de transmissão da parede do tubo ao caldo, que é o menor;
a transmissão do vapor à parede externa do tubo é bem mais fácil. Portanto, é a
superfície de separação tubo-caldo que define a capacidade do aquecedor e é
ela que melhor a mede.
A superfície das chapas tubulares entre os tubos não será considerada.
Entretanto, certos fabricantes, mesmo sem considerá-Ia, têm-na em conta numa
certa medida, ao calcular a superfície por meio do comprimento externo dos
tubos, fora das chapas tubulares. É o sistema adotado pelos fabricantes franceses.
Os fabricantes ingleses (Perk, XI C. ISSCT, p. 599) e americanos
(Sp. and M., 9.a ed., p. 162) calculam a superfície de aquecimento pelo diâmetro
externo dos tubos.' É importante saber que, para tubos de 31 X35 mm, a
diferença entre as duas superfícies ultrapassa 11 % .

SUPERFíCIE TOTAL NECESSÁRIA

Qual é a superfície total de aquecimento dos aquecedores necessária numa


usina de açúcar de cana comum, com defecação ou sulfitação?
NoelDeerr (p. 273) calcula 4 m2 por TCH.
Tromp (p. 360),3 a 4 m2/TCH.
Na Africa do Sul (ISJ, 1933, p. 243), as instalações variam de 2 a 9 m2/
TCH; 4 m2 é considerado uma medida padrão. Màis recentemente (43.° C.
SASTA, p. 177): 7 m2/TCH, incluindo o aquecedor antes da evaporação.
Em Cuba (FAS, abril 1940, p. 30), calculavam-se 3,5 m2/TCH para uma
velocidade de cáldo de 1,80 m/s. .

Em Porto Rico, a média de todas as usinas para a safra de 1948 (TSJ, 1950,
p. 53) dá 3,3 m2, com os valores extremos de 2 e 5,1 m2/TCH.
Desejando efetuar um aquecimento por etapas, com sangria de pelo menos
2 corpos, é preciso calcular:
4,5 a 6 m2/TCH para a série normal,
e:
1 a 1,5 m2/TCH a mais, no caso de cal agem fracionada e aquecimento duplo,
ou;
1,5 a 2m2/TCH para o caldo secundário, no caso da clarificação composta.
516 E. HUGOT

o acréscimo dum aquecedor-condensador aumenta consideravelmente estes


valores.

CONSTRUÇÃO DOS AQUECEDORES

o cilindro que contém o feixe tubular é prolongado em cada extremidade


por cabeçais, divididos em compartimentos por meio de separações.
Com exceção do 1.° compartimento de entrada, onde chega o caldo, e
do último, de saída, ambos no cabeçal superior, para os aquecedores verticais,
cada compartimento contém 2 circulações: uma de entrada e uma de saída. Se
as circulações são com 10 tubos, por exemplo, haverá 20 para cada comparti-
mento, ou seja, 10 de entrada e 10 de saída. Na figura 31.2 está o corte dos
cabeçais superior e inferior, vistos de cima e mostrando como se efetua a
circulação.
Geralmente, o cilindro é de chapa. Os cabeçais eram, antigamente, de ferro
fundido, porém são muito mais resistentes em aço fundido. As tampas superior e
inferior também devem ser de aço, devendo resistir às pressões exercidas pelas
perdas de carga, correspondentes a velocidades altas nas séries compridas.
Quando os tubos alcançam ou ultrapassam 4 m, a diferença de dilatação
entre tubos e cilindro (este é sempre menos quente que os tubos) poderia trazer
Corte do cabeçal superior
(visto de cima)

Entrada
de caldo
------

0 Tubos nos quais o caldo sobe


E& Tubos nos quais o caldo desce
Corte do cabeçal inferior
(visto' de cima)

FIG. 31.2. - Circulação do caldo num aquecedor.


MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 517

aborrecimentos, sendo melhor separar o cilindro em 2 partes, através de. uma


junta de dilatação. Certos fabricantes chegam a 4,5 m sem junta,. porém os tubos
se deformam em arco e se desgastam mais rapidamente por ocasião da desin-
crustação.
A Fives-Lille Cail não ultrapassa 3,9 m.
Para evitar efeitos eletrolíticos, as chapas tubulares, ou espelhos, devem,
preferivelmente, ser do mesmo metal que os tubos.
Mais freqüentem ente, os tubos são de latão, sendo este metal composto de,
por exemplo: 70% de Cu - 29% de Zn - 1% de Sn. Na França, emprega-se,
muitas vezes, o latão U-Z 36 = 64% de Cu e 36% de Zn. Às vezes, também
são de cobre; ou, melhor ainda, de aço inoxidável, com duração maior. Para.
o latão, os diâmetros mais freqüentes são:
32 X 35 34,8 X 38 41,8 X 45 46 X 50 mm
e, para o aço inoxidável, geralmente 35 ou 35,6 X 38,1 mm.
Não é lógico conservar. diâmetros diferentes tão próximos e a adoção dum
diâmetro padrão único seria mais conveniente, como 34,8 X 38,1 mm, acon-
selhado pela Fives-Lille Cai!.
Para este diâmetro externo de 38 mm, as espessuras aconselhadas são:
Latão 1,6 mm
Cobre 1,6 "
Aço 2 "
Aço inoxidável 1,2 "
Cada aquecedor deve estar munido de 2 termômetros, de leitura fácil e
imediata, indicando as temperaturas de entrada e de saída do.caldo.
Aconselha-se (44.° C. SASTA, 1970, p. 60) o aço inoxidável n.O 304 (18%
Cr, 8% Ni) para os tubos dos aquecedores e do múltiplo-efeito: custam apenas a
metade do preço do cobre, resistem à incrustação e duram bem mais de 12 anos.
Os tubos de aço inoxidável são aconselháveis para um aquecedor novo,
porém, quando se substitui um jogo de tubos num aquecedor usado, não deve
ser empregado: adaptam-se menos ao mandrilamento nos espelhos já gastos.
Os tubos de substituição devem ser de latão ou de cobre e sempre se substitui
todo o jogo de uma vez.
-
Aquecedores horizontais e verticais. É costume inglês construir os aque-
cedores com o eixo horizontal. Os franceses fabricam-nos com o eixo vertical.-
Esta última disposição geralmente permite instàlá-los e agrupá-Ios mais facil-
mente. Por outro lado, os aquecedores horizontais devem ter um coeficiente de
transmissão superior: Buchanan (SASTA, 40.° C., 1966, p. 94) avalia esta
diferença em 13 a 28 %, dependendo do estado de limpeza das superfícies de
aquecimento (28 % para superfícies limpas, 13% para superfícies incrustadas),
ou seja, uma média de cerca de 20%. Os aquecedores com diâmetro superior a
1,20 m são, geralmente, horizontais.
518 E.HUGOT

Gases incondensáveis

Os aquecedores aquecidos com o vapor de escape, geralmente, possuem um


simples tubo para gases incondensáveis, comunicando-se com a atmosfera. É
suficiente deixar este tubo levemente aberto.
Pelo contrário, os aquecedores que utilizam sangria necessitam dum tubo
bastante largo para os gases incondensáveis. A saída dos gases deve ser feita
com a diminuição de pressão de 1 estágio, quando o aquecedor é colocado
perto da evaporação (os gases incondensáveis dum aquecedor que emprega vapor
do 1.0 corpo devem, então, chegar à parte superior do 2.0 corpo) e, com a dimi-
nuição de 2 estágios, se <>aquecedor é afastado (L o ao 3.0 corpos).
Os gases incondensáveis devem ser tomados tanto na parte superior como
na inferior da calandra. O tubo de saída que serve a parte inferior deve ficar a 10
cm do fundo, para não aspirar a água condensada.
O tubo dos gases incondensáveis deve ter uma seção de, no mínimo, 1 em2
por 10m2 de superfície de aquecimento.

Águas condensadas

Deve-se prever um número suficiente de orifícios de expulsão das águas


condensadas do aquecedor, para que a velocidade de escoamento da água não
ultrapasse 1 ml s.
Vapor
Os tubos de vapor devem ser previstos para que a velocidade do vapor não
ultrapasse 30 m/s.
. A entrada de vapor deve ser colocadaaproximadamentea 114 do compri-
mento do tubo na parte superior, tratando-se dum aquecedor"vertical (Perk, IX
C. ISSCT,p. 597). Esta posição evita as vibrações excessivas e as rupturas de
tubos e facilita o escoamento do vapor condensado ao longo dos tubos.
Provas de pressão
Efetuam-se provas de pressão nos aquecedores, de acordo com a pressão
prevista:
Lado do vapor a 1,5 ou 3 kg/cmZ
" "caldo " 5,.
É conveniente exigir esta prova como um mínimo para o lado do caldo,
para que os cabeçais do 1.0 aquecedor da série não cedam sob a pressão
ocasionada pelas perdas de carga acumuladas, quando a velocidade de circulação
do caldo alcança valores elevados.

PRESSÁO SOBRE OS FUNDOS

A pressão sobre as tampas inferiores e os fundos dos aquecedores calcula-se


da seguinte maneira: lev~-se em consideração a altura de elevação do caldo
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 519

entre a saída do aquecedor e o nível final de recalque; somam-se a altura do


caldo no aquecedor, á perda de carga nos aquecedores situados a seguir e
supõe-se que a pressão ocasionada pela perda de carga no aquecedor considera-
do seja igual à metade da perda de carga total para este aquecedor.
Geralmente, a diferença de densidade entre caldo e água não é considerada
e a altura de caldo sobre o fundo é comparada à altura dum tubo.
EXEMPLO.- Calcular a pressão exercida sobre o fundo do 1.° aquecedor
(evidentemente o mais carregado) duma série de 3 aquecedores com 12 cir-
culações de 19 tubos de 31 X 34 mm, aquecendo 100 000 l/h de caldo.
Altura de recalque do caldo acima da saída dos aquecedores: h = 2 m.
Comprimento dos tubos de cada aquecedor: 1 :... 3,700 m.
Solução. - Seção de passagem do caldo nos aquecedores:

s = 19 x 7T X 0,312 = 1 43 dm2
4 '
Vazão de caldo:

Q = 100 000 = 27,8 l/s.


3600

Velocidade do caldo nos aquecedores:

U= ~~4~ = 19,4dm/s = 1,94m/s.


Perda de carga em cada aquecedor (fórm. 31.21):
1942
J = 0,0025 x 0'031
, x 12(3,7+ 1) = 17 m
Pressão exercida_sobre o fundo do 1.° aquecedor:
Perda de carga no tubo de recalque (a ser calculada) 1 m
Altura de recalque acima dos aquecedores 2 "
" "caldo no aquecedor 3,70 "
Perda de carga nos 2 últimos aquecedores = 17 X 2 34 "
" " " média no 1.°, aquecedor = 17 : 2 8,50 "

49,20 m
Desejando calcular a pressão de recalque que a bomba alimentadora deve
fornecer para atravessar os aquecedores, ter-se-ia:
Altura de recalque da bomba aos 'aquecedores 4,50 m
" " " dos aquecedores ao nível final 2 "
Perda de carga no tubo de recalque (bomba aos aque-
cedores + -aquecedores ao recalque final) 1,50 "
Perda de cargas nos 3 aquecedores = 17 X 3 51 "

S9 m
520 . E. HUGOT

Observa-se que as altas velocidades de circulação levam a pressões consi-


deráveis para as seções de tubos normalmente utilizadas pelos fabricantes fran-
I
ceses. Os aquecedores e suas bombas devem ser previstos considerando estas
pressões.

AQUECEDOR-CONDENSADOR

No capítulo 33 (cf. p. 616), ver-se-á que a economia de vapor é maior


à medida que a sangria se efetua num corpo mais avançado no múltiplo-efe:to.
Se o vapor vem do último corpó utilizado, a economia é total, porque este
vapor, indo ao condensador, seria perdido.
Por outro lado, ao utilizá-Io, facilita-se a tarefa do condensador, diminuindo
o peso de vapor a ser condensado.
Assim, às vezes, instala-se entre o último corpo e o condensadorum aque-
cedor, denominado aquecedor.;.condensador, na tubulação de vapor que vai ao
vácuo.
Este aquecedor pode receber apenas caldo frio, porque a temperatura de
caldo quente que ele pode fornecer é limitada pela do vapor, isto é, pela tempera-
tura de vapor correspondente ao vácuo do condensador (50 a 60°C). Nestas con-
dições, é difícil observar uma margem econômica de temperatura entre o vapor e o ~
~
caldo quente, o que. leva ao emprego de superfícies grandes, e, portanto, o
aparelho se toma cardo :Ê preciso levar igualmente em consideração o compri-
mento necessário de tubulação suplementar de caldo, às vezes bastante extenso.
O aquecedor-condensador é calculado como um aquecedor comum. Quando
é instalado, representa sozinho cerca de 3 m2/TCH.

SÉRIE DE AQUECEDORES

Adiante é fornecida a série de aquecedores da Fives-Lille Cail. Evidente-


mente, podem-se mandar faZer aquecedores com tubos de um diâmetro qualquer,
porém a série indicada é a série padrão aconselhada.
Todos estes aquecedores são munidos com tubos iguais:
Diâmetro externo 38 mm
Comprimento total 3 900 "
comprimento de aquecimento entre espelhos 3 835 "
.1,6 "
!li
cobre 1,6 " !li

Espessura 2 "
IIJ
aço
I
aço inoxidável
rmo 1,2 "
a::
QuADRO 31.2 >
Z
c:::
Série dos aquecedores Fives-Lille Cail >
t""
~
40 50 60 75 120 150 200
>
Superfície de aquecimento nominal, em m! 100
~
(;)
Diâmetro interno, em mm 730 825 860 880 980 , 110 1 190 1 310 ~
:I:
>

14 14 14 14 14 14 14 14
~
Número de circulações
>
~
Tubos por circulação 7 9 11 13 12 de 18 21 26 35
2 de 17 g
~
Número total de tubos 98 126 154 182 250 294 364 490

51,61 63.08 74.55 102.40 102,42 149,09 200,70


Superfície de aquecimento 52,83 64.57 76,31
real 'para tubos, latão 41,09 104,82 123,27 152,61 205,44
{ aço inox. 40.14
42.03 54,04 66,05 78,06 107,23 126,10 156,12 210,17

0.8171 0,9987 1,1803 1,6212 1,9066 2,3605 3,1777


Seção de passagem em dm! latão 0,6658 0.8560 1,0463
para tubos 1,2365 1,6985 1,9974 2,4730 3,3290
{ aço 0.6355 0,8959
aço inox 0,6968 1,0949 1,2940 1,7775 2,0903 2,5880 3,4839

294 360 425 584 686 850 1,144


Hectoíitros/hora de caldo latão 240 308 377 445 611 719 890 1,198
com v = 1 m/s para tubos 323 394 466 640 753 932 1,254
{ aço
aço inoi. 25I
279 UI
N
....
522 E. HUGOT

A superfície de aquecimento real, dependendo da espessura, é indicada em


função do metal escolhido para os tubos.
A vazão Q' em hl/h de caldo para uma velocidade de caldo V' é deduzida
da vazão Q, fomecida para uma velocidade V = 1 m/s, multiplicando-se
esta por V' : Q' = Q X V'.
32
FILTRAÇÃO

A decantação separa os caldos tratados em duas camadas ou duas partes:


a) O caldo clarificado, que fica na superfície;
b) O lodo, acumulado no fundo.
O caldo clarificado é enviado à fabricação, ou seja, mais freqüentemente,
diretamente à evaporação. O lodo deve ser primeiramente filtrado, para separar
do caldo o precipitado contido, juntamente com os sais insolúveis formados e o
bagacilho arrastado.

CONDIÇOES PARA UMA BOA FILTRAÇÁO

A filtração é uma operação difícil de ser regulada e que exige cuidados.


Para reunir as melhores condições à sua realização, é preciso observar vários
pontos:
1.° .Temperatura. - A viscosidade dos caldos e, sobretudo,. a das gomas
e das ceras que a superfície filtrante deve reter diminui com o aumento da
temperatura. É, portanto, conveniente filtrar o caldo a alta temperatura. Traba-
lha-se, preferivelmente, acima de 80°C.
2.° Reãção. - Os caldos alcalinos são mais facilmente filtrados que os
caldos ácidos ou neutros. Geralmente acrescentava-se cal ao lodo, antes de
filtrá-Io, deixando-o com um pH de 8 a 8,5. Isto era necessário com filtros-
-prensa, porém não com os filtros rotativos a vácuo.
524 E.HUGOT

TIPOS DE FILTROS

Na fabricação do açúcar, utilizavam-se os seguintes tipos de filtros:


Filtros-prensa;
Filtros mecânicos;
Filtros rotativos contínuos a vácuo.
Os dois primeiros tipos de filtros desapareceram das usinas que empregam
defecação ou sulfitação, sendo substituídos pelo último. Entretanto, os filtros-
-prensa ainda são o sistema padrão de filtração das usinas que empregam a
carbQnataçãopara a filtração dos caldos, após a 1.a e a 2.a carbonatação. Serão
brevementé examinados.

A. FUtros.prensa
. ' ,

DESCRIÇÃO. - Um filtro-prensa (fig. 32. 1) é éomposto por uma série


de placas (fig. 32.2) separadas por quadros com a mesma espessura. Placas e
quadros são independentes uns dos outros e móveis, correndo sobre duas barras-
-suporte, podendo ser apertados por meio dum parafuso ou por pressão hi-
dráulic~ '

Quando a pressão se estabelece e o filtro está "apertado". os orifícios a e b,


situados nas orelhas das placas e dos quadros, formam um tubo contínuo., Pelos
co~dutos a chega o caldo a ser filtrado. Entre todos os quadros e todas as placas

-- -
~, - .
11~1 ~
ii1+~ ! 1 '

=-!" .~
:r
"".o-?,
~
><

~
I"€'
("'t
;<,;q
",
00':

,~"~
o...
""
o'
00 ~ o'
,..
":~o;...h.;',_'r..~i:...
"" ""'<, ,o," "
'~'\
o
~
.o,

.
. 'o' ,~
"

FIO.:.i2.1.- Filtros-prensa(Fives-Lillecan)
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 525

são intercaladas lonas de filtro ou telas filtrantes. O caldo entra no quadro, atra-
vessa a lona e sai pelos canais c (fig. 32.3), após ter deixado atrás da lona,
no interior do quadro, ~s matérias em suspensão contidas.
A massa formada por estas matérias, quando todo o espaço disponível é
preenchido, é chamada de torta.
PLACA.- A placa é formada por uma moldura lisa e uma parte central
menos grossa com ondulações ou desenhos em relevo, entre os quais o caldo
pode escorrer, apesar da pressão da bomba, que força a lona contra a placa.
QUADRO.- O quadro apresenta a mesma moldura e seu interior é vazio.
A espessura dos quadros e das placas é de cerca de 30 a 40 mm. Quanto
maior for a espessura, mais tempo será necessário à torta para se formar.
Quadros e placas são sempre de ferro fundido.
Q

Placa

-----

Quadro

FIG. 32.2. - Placa e qU<idrode filtro-prensa.


526 E.HUGOT

o número de placas móveis é cerca de 40 a 45, havendo uma placa a


menos que os quadros.
Quadros e placas são sustentados por duas fortes barras de aço, que ao
mesmo tempo servem de suporté e absorvem o esforço de tensão produzido pela
pressão exercida para apertar as placas entre as duas armações das extremidades. ~
As torneiras colocadas em cada J?laca comunicam-se com uma calha longitu-
dinal, pela qual o caldo claro filtrado 'Se escoa.
CICLO. - São necessários cerca de 30 a 60 minutos para abrir, esvaziar,
limpar, armar e prensar novamente um filtro-prensa.
A filtração propriamente dita leva 90 a 120 minutos.
A lavagem com água e vapor dura cerca de 30 minutos, donde se calcula a
duração do ciclo:
Abertura e montagem cerca de 45 minutos
Filtração " ,,105 "
Lavagem " " 30 "

Ciclo 180 minutos


(

SUPERFÍCIEFILTRANTE.- A superfície filtrante é igual à superfície útil


pela qual passam os caldos turvos através das lonas intercaladas. Sua expressão
é a seguinte:
S = 2NHL (32.1)
Lonas Placas Quadros
S =
Superfície filtrante do filtro-
-prensa, em m2;
N = número de quadros do filtro-
Caldo--
a ser
-prensa; I
filtrado
H = altura interna do quadro, em m;
L = largura interna do quadro,
-emm.
DIMENSÕESHABITUAIS. - A dimensão
mais freqüente corresponde ao filtro-prensa
com 40, 42 ou 45 quadros de 1 m X 1 m.
Estas dimensões são as dimensões ex-
ternas do quadro. A superfície filtrante
correspondente é de cerca de 0,90 m X
0,90 m, ou seja, 1,62 m2 para um quadro e
!
Caldo filtrado
70 m2 para um filtro. A superfície bruta FIG. 32.3. - Funcionamento dum )
das placas, neste caso 2 m2,..não intervém filtro-prensa.
na filtraçã(,).

PRESSÃO DE FILTRAÇÃO. - A velocidade de filtração depende da pressão


exercida sobre o caldo no interior do filtro. Esta pressão é fornecida pela bomba
de recalque do lodo.

1
MANUAL DA ENGENHARIA AçuCAREIRA 527

Normalmente é de 3 a 4 kgjcm2. Pode diminuir até 2 kgjcm2, nos casos


mais favoráveis, e pode aumentar até 4,5 kgjcm2, no momento da lavagem e
nos casos desfÍivoráveis. .

CAPACIDADE OOS FILTROS-PRENSA. - A superfície filtrante necessária por


TCH varia de acordo com o método de.carbonatação adotado e com a lavagem
mais ou menos completa da torta (cf. p. 528).
Noel Deerr (p. 306) e Tromp (p. 392) calculam, respectivamente, as se-
guintes superfícies, em m2jTCH.

QUADRO32. 1
Superfície de filtros-prensa necessária

Noil Deerr Tromp


1.8 carbonatação de Haan 8 6 a 8
1.8 carbonatação comum 10 a 13 9 a li
2.8 carbonatação 4 a 5 4 a S
Filtração do xarope 3 a 4 4 a S

Tromp aconselha adotar valores menores, quando se utiliza o Kieselguhr,


porém, desconhecendo a qualidade dos caldos a serem tratados, é prudente usar
valores superiores.
INDICE DE FILTRAÇÃO. - Na India (ISl, outubro 1965, p. 304), calculam-
-se cerca de 40 a 50 litros de c~do filtrado por m2jhora.
PESO DE TORTA PRODUZIDO. - Os filtros-prensa fornecem éerca de 4 a 5
kg de torta, peso seco, por m2 de superfície filtrante e por hora. A densidade da
torta é de cerca de 1,4 .
TORTA.- Quando a filtração é boa, a torta é "seca" e porosa; quando é
deficiente, é semilíquida e "lodosa".
UMIDADE. - Seu teor de água depende, evidentemente, deste estado. Quan-
do a torta é boa, isto é, "seca'~,é de cerca de 50 a 60%, quando é lodosa, chega
a 70%.
TEOR EM AÇÚCAR. -
Antes da lavagem, o teor de água da torta correspon:"
de ao seu teor de caldo. Assim também, seu teor de açúcar provém unicamente
do caldo: contendo 70% de caldo (ou sej:a,cerca de 55 a 60% de água), seu
teor de açúcar será de 10% do teor do caldo do qual provém. Por isso,é vanta-
joso filtrar apenas o lodo proveniente de caldo pobre e substituir, igualmente, o
caldo da torta pela água, ao efetuar a lavagem, do modo mais perfp.ito possível.
PESODATORTA.- O peso da torta obtida atinge 6 a 12% do peso da cana,
numa fabricação empregando a carbonatação.
. .
PERDADE AÇÚCARNA TORTA.- Con:. uma lavagem~eficiente, é possível
diminuir a' perda de açúcar na torta a 1% de torta ou a menos, ou seja,0,05 a
0,15 % de cana, ou ainda 0,5 a 1,2% do açúcar contido na cana.
528 E.HUGOT

Lava~em da torta. - Interrompe-se o recalque do caldo no filtro-prensa


. quando a torta está completamente formada, o que se constata pela diminuição
de caldo clarificado nas torneiras das placas. Entretanto, a lavagem é melhor
quando é interrompida pouco antes, isto é, quando ainda existe umacâvidade
na torta.
Neste momento, o
caldo que impregna a
torta e constitui mais
da metade de seu peso
é o caldo proveniente
da carbonatação, ge-
ralmente. com 12 a
15% de açúcar.
Procurá-se deslo-
cá-Io, extraindo-o com
água ou vapor. Esta
operação é denomina-
da "lavagem". Pode
ser efetuada de duas
--
Agua maneiras:
a) Lavagem sim-
ples: O caldo é sim-
plesmente substituído
2 pela águ;1: percorre o
mesmo trajeto no fil-
J 3) 5)
tro e sai pelas tornei-
ras de caldo.
FIG.32.4. - Lavagemmetódica. b) Lavagem me-
tódica: Observou-se
(fig. 32.2) que, além da passagem de caldo a,. instalada .t1aorelha de trás, os
quadros e as placas possuíam uma passagem b, na orelha da frente. .

Por outro lado, as placas pares são diferenciadas das placas ímpares alter-
nando torneiras curtas com torneiras compridas. Isto facilita o manuseio destas
torneiras, o ,qual, caso contrário, seria incômodo.
As placas pares comunicam-se com a passagem b.
A lavagem metódica processa-se, portanto, da seguinte maneira: a água
chega pela passagem b e as torneiras de caldo clarificado de todas as placas pares
são fechadas (por exemplo, todas as torneiras compridas ). A água entra pelas
placas pares, atravessa as lonas e as tortas próxÍn;1ase sai pelas torneiras abertas
das placas ímpares (fig. 32.4).
Este processo fornece resultados melhores que o precedente.
Os fabricantes franceses. fornecem os filtros-prensa com passagens de água
b que se comunicam com o interior de todas as placas, a fim de:
1.0 permitir a lavagem simples, utilizando a passagem b;
2.o manter a possibilidade de intercâmbio das placas.
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 529

Portanto, é necessário fechar o pequeno canal de comunicação em todas as


placas pares, por exemplo. É mais conveniente usar uma massa de vedação, que
pode ser removida facilmente, do que massa de fundição.
LIMITE DA LAVAGEM.- Quando, no fim da filtração, a água substitui o
caldo para efetuar a lavagem, o Brix do caldo clarificado que se escoa pelas
torneiras continua inicialmente o mesmo: é o caldo contido na torta que escorre,
expelido pela água. Em seguida, o Brix cai bruscamente:. é a água que chega. De
acordo com a superfície de filtração, a lavagem é, então, interrompida quando
o Brix chega a 3° (neste caso há uma grande perda de açúcar na torta), ou a
2°, ou a 1°. Não há vantagem em ir a menos de 1°: arrastar-se-iâm mais .impu-
rezas que açúcar.
Como a água de lavagem da torta é alcalina, evita-se misturá-Ia ao caldo,
reservando-a, preferivelmente, à preparação do leite de cal.
Após a lavagem, força-se a saída da água retida na torta, passando-se vapor
no filtro.
LAVAGEM FORA DO FILTRO. - A torta também pode ser lavada fora do
filtro-prensa. A torta cai num recipiente em que é diluída com água quente a
60°C, na proporção de 90% de seu peso. É misturada e refiltrada. A segunda
filtração é rápida e fornece uma torta contendo apenas 1 a 2% de açúcar.
DIFICUIpADESDE FILTRAÇÃO. - Quando a filtração é difícil e a torta lo-
dosa, isto pode ser devido à cera contida no caldo, a qual, tornando-se sólida a
cerca de 66°C, se deposita sobre as lonas novas, qúando o caldo quente entra
no filtro. Este fenômeno pode ser evitado, passando-se vapor no filtro-prensa,
antes de introduzir o caldo.
Se a torta continua lodosa, pode ser melhorada com o aumento da quanti-
dade de bagacilho. Isto pode ser feito pela introdução direta do bagacilho,
separado com uma peneira especial, no caldo a ser filtrado, ou com a substituição
das chapas perfuradas do separador de bagacilho por chapas com perfurações
maiores.
KI!!SELGUHR. - Para melhorar a filtração, pode-se empregar o Kieselguhr
E um depósito silicoso, extraído em minas na África do Norte ou na América do
Norte e proveniente de diatomáceas mortas. A forma extremamente fina destes
seres minúsculos concede a seus restos silicosos propriedades filtrantes.
O Kieselguhr é misturado ao caldo a
ser filtrado. Tromp (p. 393) fala de 400
a 500 g por m2 de superfície filtrante e
. 2,20m -1I
por hora. I
Lonas filtrantes. - As lonas para a
filtração são tecidos de 3lgodão, de linho 150 --f
e algodão; de cânhamo e algodão, de
juta ou de paka ou de nylon, tendo este
último uma duração muito superior. ~J
Esta lona,muitas vezes,já vem com a
largura necessária, sendo cortada na FIG. 32.5. - Lona para filtro-prensa,
usina, de acordo com. o comprimento 1 m X 1 m (sanforizado).

34
530 E. HUGOT

desejado, ou já é entregue pronta. Geralmente, a lona é fornecida sem o lustro


de acabamento e com garantia de não encolher. Entretanto,' é conveniente
prever uma largura e um comprimento um pouco maiores. Foram dadas (fig.
32 . 5) as dimensões a serem adotadas para lonas de filtro-prensa de 1 m X 1 m.
As faixas reforçadas contornam a lona nos pontos em que o perigo de rasgar é
maior. Estas faixas são aconselháveis, pois duplicam sua duração, sem duplicar
seu preço. Nunca devem ser sobrepostas, porque qualquer espessura maior leva
a vazamentos no ponto de contato entre o quadro e a placa.
Uma lona de filtro pesa cerca de 800 a 1000 g por m2, conforme a quali-
dade, excluindo os reforços.

B. Filtros rotativos contínuos a vácuo

o filtro mais típico e difundido é o filtro Oliver-Campbell. Será descrito


a seguir.
DESCRIÇÃO. - Compõe-se dum tambor girando em volta dum eixo hori-
zontal (fig. 32.6) e mergulhando parcialmente no líquido a ser filtrado. A peri-
feria forma a superfície filtrante: esta é dividida em 24 seções independentes,
cada uma das quais ocupan-
do 15° da circunferência e
estendendo-se sobre todo o
'I>3 <-fi comprimento do tambor.
...o~ ,
~'I> ~~0 ..
t-~ ~
Cada uma destas seções é
r (9,:? ligada individualmente. a
~ a;'b' . ~ . uma tubulação de vácuo
~ g \~ 'Ó por um pequeno tubo me-
f5
C/)
§ \\
\;\ ~ ~ tálico, que chega
ttibuidor situado
a um dis-
em uma
Desprend1- ~
mento da ~o
;-::.
/
~I """
. p das e:ctremidades.
pOSSUi do eixo e
3 setor~s dIferentes:
torta 5 / .
I a) o 1.°, comumcando-
-:)"
%

Q ,
f. ?j
. '-
.-s: com a a!mosfera, mas
nao com o vacuo;
b) o 2.°, comunicando-
-se com um espaço em que
há um vácuo fraco, de cerca
de 25 a 35 cm de mercúrio;
FIG. 32.6. - Esquema de funcionamento dum filtro
rotativo contínuo a vácuo. c) o 3.°, comunicando-
-se com um espaço em que
há um vácuo um pouco maior, de cerca de 35 a 50 cm.
A parede externa do tambor' é formada por chapas de cobre ou aço inoxi-
dável com perfurações muito finas, cobrindo as 24 seções (figs. 32.7 e 8).
FUNCIONAMENTO. - Quando o filtro gira, a seção que vai entrar no
líquido a ser filtrado se comunica, neste instante, com o vácuo fraco. Ocorre
.uma aspiração do líquido, que entra pelas pequenas perfurações. Porém, estas
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 531

se obstruem imediatamente com pedaços de bagaço e matérias em suspensão.


Evidentemente, o primeiro caldo, que passa assim, é mal filtrado e muito turvo:
é denominado "caldo filtrado turvo" e vai para um recipiente especial.
Desta maneira, guamecida com uma pequena camada, constituindo o início
da torta, a seção passa a seguir ao setor do vácuo forte. Com efeito, é necessário'
aumentar a aspiração, porque a resistência exercida pela torta aumenta com
sua espessura. Porém, o caldo que passa é então filtrado mais eficientemente por
meio de suas próprias impurezas e pelo bagaço que contém, os quais constituem,
por' si só, a superfície filtrante necessária, ao acumular-se sobre o tambor. Este
caldo é o "caldo filtrado claro" e passa para um outro recipiente. A torta toma-se
cada vez mais gros~a, até que a seção emerge do líquido. O e.x;cesso de caldo
levado à sua superfície reflui para o tanque, enquanto o caldo. contido na massa
da. torta formada continua a ser aspirado para o interior do compartimento ou
da seção do tambor.

FIG. 32:7. - Filtro OIiver-CampbelI de 8' X I1t \Vlsto do lado dos


pulverizadores e das rampas).
532 E. HUGOT

A seção passa, então, na: frente de várias rampas de pulverizadores p, que


pulverizam água quente sobre a torta. E o início da lavagem. O vácuo aspira
lentamente a água. Os fabricantes afirmam que esta lavagem é prevista para que
a agua tenha justamente o tempo necessario de atravessar a torta e extrair o
caldo, enquan~o percorre a última fração da volta. Realmente, a extração do
açúcar é muito eficiente e, no entanto, o Brix do caldo filtrado claro é apenas
levemente inferior ao do caldo filtrado turvo.
Apos a pulverização, a lavagem continua e é completada por meio das
rampas r, que pulverizam água sobre a torta, à medida que sua superfície seca
com a aspiração da água.
Após a última rampa, começa a secagem: a água é aspirada para o interior,
sem ser renovada externamente.
Pouco antes de entrar novamente no líquido, a seção chega, finalmente, a
um raspador, forinado por uma faixa rígida de correia de borracha, a qual se
encosta levemente na chapa perfurada. No momento em que a seção a atinge,
o distribuidor interrompe o vácuo que mantinha a torta contra a chapa. Ime-

FIG. 32.11. - Filtro Oliver-Campbell (visto do lado da secagem e da queda da torta. Sobre
a válvula distribuidora observam-se os orifícios de adaptação dos tubos de aspiração dos
vácuos pequeno e grande).
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 533

diatamente, O simples contato do raspador separa-a em um só bloco e esta cai


num transportador helicoidal ou na correia, que a leva para fora do prédio
(fig.32.9).
No pátio, a torta cai num reboque. Assim que estiver cheio, este é levado
por um trator para distribuí-Ia nas plantações, sendo substituído de imediato
por outro vazio.
Chapa perfurada. - As chapas perfuradas que cobrem as seções são de
cobre, latão ou aço inoxidável, tendo 100 ou 115 perfurações por cm2 de 0,5 mm
de diâmetro.
As chapas de cobre possuem uma espessura de 0,45 mm, 1 mm entre os
centros das perfurações e 23 % de passagem (vazio % da superfície total). Na
série francesa são designados &D 0,5S. A largura. das faixas é de 324 mm (Oliver)
ou 345 mm (Eimco).
Seu desgaste é mínimo e podem ser utilizadas t:m várias safras seguidas.
Porém, como são frágeis, convém envolvê-Ias, durante a entres safra, com uma
lona protetora, fixada ao tambor por meio de correias, para evitar choques,
estragos causados por intempéries etc.
AGITADOR.- Para evitar que o lodo, ao chegar ao tanque do filtro, se
deposite, é mantido em movimento por meio dum agitador, oscilando em volta do
eixo do filtro e movido por um pequeno motor especial.
Para evitar o rompimento das partículas ou pegueoQS flocos de lodo" o
rnristuradorê alimentado, por graVidade, com bagacinho (TSJ, março 1~69,
p. 28).

FIG.-32.9. - Filtro Oliver-CampbelI. Queda da torta.

MOTOR.- O movimento de rotação do tambor do filtro é ocasionado por


um pequeno motor elétrico de cerca de 2 CV.
534 E. HUGOT

VELOCIDADE. - A velocidade d~te. motor é constante e geralmente é de


1 450 rpm. Impulsiona o filtro por meio de correia e redutor duplo com engre-
nagens sem fim. Um pequeno dispositivo permite regular, por meio dum volante,
a relação de velocidade da correia trapezoidaL Assim, a velocidade de rotação
do tambor pode ser regulada entre um. máximo de uma volta em 3 n:rinutos
e um mínimo de uma V9lta em 10 minutos. Isto significa que a escala de
regulagem permite a variação da velocidade entre extremos situados numa
relação de cerca de 1 a 3.
Na Louisiana (TSJ, março 1969, p. 31 ),acredita-se que, mesmo duplicando
a velocidade, o teor de filtração apenas aumenta na proporção de 1 a 1,4.
TORTA.- A torta obtida apresenta um aspecto bom, seco e poroso, porém
ainda contém 75 a 80%, de água. .
Por cau~a do bagacilho acrescentado ao lodo para facilitar a filtração, é
preciso calcular cerca de 3 a 4 kg de. torta para 100kg de cana.
A espessura da torta é variável, porém geralmente de cerca de 1 centímetro.
Na Louisiana.(TSJ março 1969, p. 27}, constatou-se que o esgotamento era
ótimo para uma espessura de torta de 6" a 7 mm, porque a lavagem é . mais
eficiente para esta espessura.
O filtro fornece cerca de 60 a 70 kg de torta por m2 e por hora, ou,
mais exatamente, 123 kg/m2/hora por cm de espessura de tona.
PERDA DE AÇÚCAR. - A torta contém 0,5 a 3% de açúcar, geralmente 1
a 2 %. Isto corresponde a uma perda de açúcar de aproximadamente 0,2 a 0,8 %,
ou uma média de 0,5 % do açúcar da cana. I
VELOCIDADEDE FILTRAÇÃO.- B possível calcular 200 a 400 Í de caldo
por m2 de superfície e por hora. Na clarificàção composta, 200 a 250 I/m2/h é
suficiente; na clarificação simples, é preciso chegar até 250 a 300 J/m2/h.
Porém, as bo~bas para os caldos filtrados serão calculadas para 480 -a 500
I/m2/h (TSJ, março 1969, p. 28).
Capacidade. - A superfície de filtro julgada necessária varia de acordo
com o país. Calcula-se:
Média EJCtremol
Em Cuba (pAS, abril 1940, p. 31) 0,30 m1jTCH
Em Porto Rico (TSJ, 1950, p. 53) 0,59 " 0,20 a 2,20 'rtrçH
Em Nátal (47.° C. SASTA, p. 91) 0,64 " 0,33 " 1 ,;
Em Queensland (42.° C. QSSCT, p. 328) 0,55 "
Nas Filipinas (FAS, 1931, p.269) 9,44
No Havaí (FAS, 1936, p. 54) 0,83 0,67 " 1 "

De um modo geral, calcula-se 0,60 m2/TCH, no hemisfério americano.


Acreditamos que, mesmo com caldos refratários, 0,30 m2/TCH é suficiente.
Empregando o "Rapifloc" (ci. p. 537), Dorr-Oliver acredita que 0,35
m2/TCH, no lugar de 0,60 m2/TCH, é o suficiente. B possível chegar até
0,25 m2/TCH.
. PROPORÇÃODE CALDOFILTRADOTURVO.- Para 100 de caldo fornecido
pelo filtro, é preciso calcular que fornece:
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCARElRA 535

30 a 60% de caldo filtrado turvo


70 ,,40% "" "claro.
Estes dois caldos filtrados reunidos podem conter 2 a 12% de matérias
,sólidas em suspensão (TSJ, julho 1950, p. 25).
Emprego dos caldo~ filtrados. -Muitas vezes, é difícil decidir como
proceder com estes dois caldos filtrados.
a) O caldo filtrado turvo poderia ser enviado ao tanque do~filtro ou ao
precedente. Porém, isto dilui o lodo e não é aconselhávt:l.. É preciso enviar o
caldo filtrado turvo ao clarificador. Na clarificação composta, há a escolha de
reconduzi-Io para antes do clarificador primário ou antes do secundário. A pri-
meira solução é preferível.
~) O caldo filtrado claro do filtro infelizmente não possui nem o brilho
e nem a transparência do caldo clarificado do clarificador. É acinzentado e
ainda um pouco turvo. Não é indicado enviá-Io à fabricação com os caldos
clarificados primários. Assim, é normalmente reconduzido para antes do clari-
ficador primário.
Na clarificação simples e, mUitas vezes, na clarificação composta, observa-se
que estes dois caldos filtrados são reunidos e enviados juntos para antes do clari-
ficador. É este o inconveniente deste tipo de filtros: sobrecarregam o setor de
decantação. Quando este trabalha perto do limite de sua capacidade, é inconve-
niente aumentar o volume dos caldós e, conseqüentemente, sua velocidade de
circulaçfu> no clarificador com uma fração representando, aproximadamente:
Clarificação simples 12 a 20%
" Clarificador primário 10 " 12"
composta
{ " secundário 10 " 15"

Uma solução consiste em clarificar novamente estes dois caldos filtrados


num pequeno clarificador' especial, após aquecimento e nova calagem. Assim
obtém-se um caldo muito claro e lodo grosso, enviado ao Oliver (TSJ, abril
1951, p. 26). Também podem' ser passados nurp. separador ct:ntrífugo, modelo
Westfalia.
Lavagem. - Pela razão já indicada (p. 531), a quantidade de água
de lavagem que passa ao caldo filtrad.o claro representa apenas uma pequena
parte da água enviada ao filtro, cerca de 20 a 25 %. A maior parte fica na
torta. Portanto, é preciso estabelecer a quantidade de água a ser usada na
lavagem conforme a diluição do caldo filtrado claro e não conforme a quantidade
em si.
A eficiência dá lavagem é mais importante que. a quantidade de água em-
pregada. Na África do Sul (ISJ, 1941, p. 183), uma usina, utilizando 100 de
água de lavagem para 100 de t~rta, obteve 0;3 % de polarização na torta, en-
quanto uma outra, empregando a metade, obteve 0,4% .Geralmente, utiliza-se
100 a 150 de água para 100 de torta.
Preferivelmente, esta água deve estar a 75 ou 80°C. Webre (TSJ, abril
1951, p. 26) acredita que pode ser conveniente não ultrapassar 60°C, para não
536 E. HUGOT

haver perigo de arrastar as ceras contida~ na torta, porém não somos da


mesma opinião por uma razão similar àquela demonstrada por Honig para a
embebição quente (d. "Ceras", p. 349).
No Irã, calcUla-se para a quantidade de água de lavagem 1,38% do peso
de cana.
Na Louisiana-(TSJ, março 1969, p. 34), estima-se em 82°C a temperatura
mínima da água de lavagem e entre 88 e 90°C a temperatura ótima, sob
uma pressão de 3 a 4 kg/ cm2.
A lavagem pode chegar até 0,2 % de polarização na clarificação composta,
ou 0,3 % na: clarificação simples. Esta vantagem é, porém, bastante duvidosa,
porque, para chegar -a estes números, há o perigo de diminuir pela lavagem
a pureza do caldo filtrado a proporções tais que, finalmente, ocorrem perdas.
Durante a lavagem, o arrasto duma parte das impurezas solúveis realmente
ocasiona uma queda de pureza entre o caldo a ser filtrado e o caldo filtrado
claro, proveniente do primeiro. Está diferença é, geralmente, de 2 a 4°. Também
se assinala (Perk, SASTA, 1960) que a pureza do caldo filtrado não deve ser
inferior em mais de 1,5 pontos à do caldo clarificado.
Numa lavagem bem efetuada, a diferença de Brix entre estes dois caldos é
de 12 a 15%.
Retenção. - Denomina-se "retenção" a proporção de matérias sólidas
extraídas pelo filtro % das matérias sólidas contidas no lodo.
Esta retenção, às vezes, é muito baixa, menos de 50%.
Ora, o filtro deve extrair a totalidade das matérias sólidas vindas dos
clarificadores, senão estas se acumulam. Portanto, se a retenção é de 50%,
isto significa que os dois caldos filtrados mantêm em circulação, - entre clarifi- [.
cadores e filtros, uma quantidade de matérias em suspensão igual àquela expulsa
com a torta. É evidente que isto significa uma sobrecarga considerável para os
clarificadores, diminuindo muito sua capacidade e aumentando o risco das
partículas mais finas passarem à fabricação, juntamente com o caldo clarificado
do clarificador.
Experiências efetuadas em Queensland (lSJ, 1940, p. 386) mostraram que
a retenção variava de 48 a 88%; sua média era de 70%. A conclusão destes
ensaios revelava que era fácil alcançar 75 a 80%, o que representa um grande
progresso sobre 50%:
1.° Aumentando a proporção de bagacinho no lodo. Aconselhava-se para
isto empregar na peneira de bagaço uma tela com um mínimo de 32 malhas
("mesh") por decímetro.
2.° Diminuindo a velocidade de rotação do filtro. É conveniente que a
velocidade não seja superior a 1 volta em 6 ou 8 minutos. Sendo possível, manter
a velocidade mínima, que é de cerca de 1 volta 'em 10 ou 11 minutos.
Experiências mais recentes de Foster (QSSCT, 1954,p. 143) demonstram,
entretanto, que esta velocidade não exerce muita influência, sob a condição
de que a proporção de bagacinho seja suficiente e que haja uma grande con-
centração das matérias sólidas do lodo na alimentação do filtro.
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 537

Em Maurício, calcula-se (Houareau, S.T.A.S.M., 1960) que a concen-


tração ótima de matérias insolúveis no lodo é de cerca de 6%. Se esta proporção
chega a 12 %, a retenção cai a 60 %. Se a proporção diminui a 4 %, a retenção
diminui igualmente. Para uma proporção ótima de 6%, a adição de bagacinho
deve chegar a cerca de 60 % do peso de matérias insolúveis e a retenção pode
ultrapassar 80 % .
Dimensões. - O diâmetro do tambor dos filtros Oliver-Campbell é, geral-
mente, de 8 pés = 2,44 m. Entretanto, há filtros de 10' no México, 12' na
Austrália, 14' na África do Sul.
QUADRO 32.2

Superfície dos filtros Oliver, em m!

Diâmetro Comprimento
Em Em 4,5' 6' 9' 12' 14' 16' 18' 20'
pés m = 1,37m ~I,83m =2,74m =3,66m =4,27m =4,88m =5,49m =6,10m
8' 2,44 10,50 14 21 28 32,70 37,36
10' 3,05 35 40,86 46,70 52,53 58,37
12' 3,66 42 49 56 63 70
14' 4,27 73.54

Filtração "Rapifloc". -
Em 1961, Dorr-Oliver patenteou um novo sistema
de filtração, por ele denominado "Rapifloc". Este sistema (fig. 32.10) consiste
em acrescentar um coagulante, o "Separan AP. 30", fabricado por Dow Che-
mical, Midland, Michigan, numa proporção de cerca de 1,5 g por Te. A adição
efetua-se num recipiente especial, chamado coagulador, justamente antes do en-
vio ao filtro. Este pode ser um filtro Oliver comum, havendo apenas neces-
Rapifloc'
. Bagacinho

Ladrão

Para a evaporaçao
FIG. 32.10. - Rapifloc.
538 E.HUGOT .I

sidade de modificações peque-


Tambor nas: é coberto com uma tela
porosa de polipropileno estam-
pada, cobrindo as chapas per-
furadas, e é munido com uma
nova válvula distribuidora e um
dispositivo de lavagem da tela,
entre o lugar em que a torta se
desprende e aquele em que o
tambor entra no líquido a ser
Transpor- filtrado (fig. 32.11).
tador de
torta Este novo sistema forneCe
um caldo filtrado claro, que
Tanque pode ir diretamente à evapora-
ção, evitando, assim: 1.° a so-
brecarga dos setores de Clarifi-
FIG. 32.11. - Filtração Rapifloc. Lavagem da tela. cação e de filtração, ocasionada
pela recirculação dos caldos fil-
trados; 2.° uma permanência prolongada desta fração do caldo neste setor com
as perdas subseqüentes por inversão.
A capacidade do filtro toma-se maior e, de acordo com os fabricantes,
quase dupla. De cerca de 100 kg de torta (com 80% de umidade) por m2/hora
passou a 170 ou 200 kg/m2/h. A torta realmente é bem mais consistente.
Sob este ponto de vista, o "Rapifloc" é acons~lhável, quando o aumento de to-
nelagem da usina ultrapassa a capacidade do filtro ou dos filtros existentes; este
sistema permite aproveitar os já existentes.
Pode-se obter um certo aumento da capacidade pela substituição das chapas
perfuradas com 0,5 mm por chapas com perfurações de 4 a 5 mm.
As necessidades de água de lavagem aumentam de cerca de 2 1/s; o
Brix do caldo filtrado é um pouco mais baixo, porém a pureza aumenta de
cerca de 1 ponto. A perda de sacarose na torta não diminui.
A tela dura cerca de 1 a 3 meses, quando é de Dàcron, 2 a 6 meses,
sendo de polipropileno.
O consumo d~ Separan AP. 30 varia, conforme os casos, de 1 a 5g por
TC. Normalmente,1,5 a 2 g/TC são suficientes (RAM, janeiro 1965, p. 39).
DIFICULDADES. - Às vezes,;pode ser difícil esticar a tela ou mantê-Ia esti-
cada sobre o tambor: após 1 ou 2 dias de uso toma-se frouxa e forma ondulações ~
no ponto do descarregamento da torta. Consegue-se uma tensão melhor colocando
o filtro sob vácuo, durante a montagem: a tela estica-se mais facilmente e continua
esticada, enquanto se fixam as amarras.
Para que a lavagem seja eficiente e não leve à obstrução das telas, é nece~
sário que a água de lavagem esteja a 80 ou 90°C, sob uma pressãc;>de 4 kg/cml,
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 539

e que chegue ao tambor num ângulo de cerca de 110° (isto é, conforme um


plano inclinado de 20° em relação à vertical e contra o movimento da tela).
Pode-se calcular um gasto de água de 1,4' 1/s por metro de comprimento do
tambor (RAM, Janeiro 1965, p. 38).
Filtro EimcobeIt. - É um filtro muito parecido com o Rapifloc, o qual,
aliás, o precedeu.
O tambor do filtro é envolvido por uma tela tecida com malhas finas de
polipropileno, a qual passa sobre. um rolo de expulsão, em volta dum rolo de
alinhamento da tela, dum outro de tensão e volta ao tambor. Neste lugar, as duas
partes, que se encontram, são fechadas com um laço de fio metálico e um
zíper. Dois tubos perfurados, que molham a tela após o rolo de expulsão,
mantêm-na limpa, sendo a água de lavagem recolhida numa calha, donde pode
ser retirada, recirculada ou utilizada para a' embebição. Sua polarização é de
cerca de 0,2 %. Além disso, um terceiro tubo perfurado molha a tela por baixo,
justamente antes do rolo de expulsão, ajudando a desprender a torta.
A tela pode durar 4 a 5 meses,
Mistura-se Separan AP. 30 diluído a' 0,5 % ao lodo, que já recebeu
bagacinho. Uma boa dosagem corresponde a 2 g de Separan por TC; com
5 g/TC,Rabe constatou, na África do Sul (SASTA, 38.° c., abril 1964, p. 111),
que a torta não se segurava mais no filtro; com 1 g/TC o caldo filtrado é turvo e
a tela fica entupida.
É importante que a água de lavagem esteja no mínimo a 80°C e sob uma
pressão de 2,8 kg/cm2, caso contrário, a lona fica entupida.
A transformação dum filtro Eimco em "Eimcobelt" duplica sua capacidade.
O caldo filtrado é suficientemente claro para ser enviado diretamente à
evaporação. <

Pod~-se calcular uma capacidade de cerca de 100 a 120 kg/m2/h de torta


(QSSCT, 32.°, p. 43). Esta vazão não pode ser reduzida a menos de 60 e
nem ultrapassar 150 kg/m2/h sem inconvenientes.
EFICIÊNCIA.- Os filtros "revestidos", Rapifloc ou Eimcobelt, possuem
uma alta retenção: deixam as matérias em suspensão no caldo filtrado a 0,03
ou 0,05 %, em comparação com cerca' de 0,80% p':ira os filtros não revestidos
(Q.B.S.E.S., 65.° rep., p. 78).
Acessórios dos filtros rotativos contínuos a vácuo
1.° BOMBADE AR. - Os compradores dos filtros contíimos, muitas vezes,
desejam evitar a pequena instalação de vácuo que acompanha o filtro. Porém, o
vácuo não deve ser tomado sobre a coluna central, ou sobre uma coluna de
vá'cuo de evaporação, ou sobre os cozedores:
a) A quantidade de ar que entra no filtro é considerável e perturba o
vácuo, ao qual este é ligado.
b) As condições necessárias a estes dois vácuos são muito diferentes.
. c) O filtro não trabalha sempre ao mesmo tempo que a evaporação ou os
cozedores.-
540 E. HUGOT !
Portanto, o filtro é fornecido com uma pequena bomba de ar e um pe-
queno wndensador barométrico.
O condensador é um pequeno recipiente ci-
lindrico-cônico, ao qual se liga um separado r de
água. A coluna barométrica possui um diâmetro de
50 a 75 mm.
~
Ãs vezes, estas pequenas bombas de ar são
substituídas por ejetores a vapor, ocupando menos
espaço e sendo mais econÔmicos (d. p. 924).
Neste caso, um ejetor com 1 estágio é largamente
suficiente para assegurar o vácuo máximo neces-
sário.
Porém, a solução mais indicada é a bomba
FIG. 32.T2. - tJomba devácuode ar com anel líquido. Um excelente modelo fran-
"Nash" CL. 702 para filtrocês é a bomba Neyrpic "Hydro", modelo NE, para
rotativo. vácuos pequenos. Este modelo alcança seu rendimen-
to ótimo com vácuos de 500 a 550 mm de mercúrio
e custa apenas cerca de 70% do preço das bombas "Hydro" modelo B para
vácuos grandes, destinadas ao múltiplo-efeito e aos cozedores. Uma outra bomba
de vácuo com anel líquido muito generalizada é a Nash (fig. 32.12). Nash acon-
selha estas bombas para as seguintes capacidades, calculadas em m3/h de ar
aspirado por m2 de superfície de filtro:
Filtro tipo Oliver comum 12,8 m3/h/m2
"Rapifloc" 31 a 32 "
Na Louisiana (TSJ, março 1969, p. 28), calculam-se 15 a 18 m3/h/m2 de
superfície filtrante, para um vácuo de 50 cm.
Estas bombas ocupam pouco lugar, não necessitam fundações importantes,
podem ser instaladas no piso dum andar e exigem apenas uma pequena quanti-
dade de água de esfriamento e pouca fiscalização e manutenção.
Os dois vácuos, o pequeno, que varia de 25 a 40 cm, geralmente 30 cm, e o
grande, de 40 a 50 cm, geralmente 45 cm, mantêm o vácuo necessário por
meio de dois reguladores com diafragma.
2.0 PENEIRADE BAGACINHO. - Os filtros do tipo Oliver geralmente exe-
cutam uma filtração conveniente somente quando se acrescenta uma certa quan-
tidade de bagacinho ao lodo. Este é obtido por peneiramento e é constituído por
fibras com cerca de 3 cm de comprimento e pedaços com cerca de 1 mm3. A
mistura destas duas matérias contribui para o melhoramento da filtraçãb das
outras matérias em suspensão que formam o lodo. Principalmente as fibras for-
mam a mistura filtrante, ao guarnecer as malhas das telas.
Quantidade necessária. - Os fabricantes calcula--n (FAS, janeiro 1948,
p. 40) cerca de 7 kg de bagacinho por TC moída.
Em Cuba (lSJ, 1943,p. 165), também se calculam 6 a 7 kg de bagacinho
por TC, com 48% de umidade.

~
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 541

Na Louisiana (1'5J, março 1969, p. 28): 6 a 10 de bagacinho % de torta


úmida.
Em Queensland (MSIRI, 1959, p. 80): 4,5 kgjTC.

.~
'~gaço
~
~,~ peneira

--c:- . ,
d--;.- :
§ §t~"

FIG.--32.13 .~ Peneira vibmtória


Bagacinho
"Rotex"
~

)
Ld

para bagaci~
~ ~~-\

~~~
Sarda do
'- ~'" bagaço
grosso

FIG. 32.14. - Clarificação composta. (à direita); filtro Oliver (à esquerda); ciclone (no
meio) e condensador (em cima, à esquerda).
542 E.HUGOT

Na África do Sul (ISJ, 1941, p. 183): 5 a 14 kgjTC. Mais recentemente


(Perk, SASTA, 1960): .15 kg;TC.
Em Maurício (MSIRI, 1962, p. 92), como a média era 4,2 kgjTC, H. F:
Wiehe assinala a obtenção dum resultado melhor com 6,5 kgjTC, sendo que a
perda de açúcar na torta diri:1inuíapela metade.
Como se vê, esta quantidade é bastante variável e depende da facilidade
de filtração do caldo. Conseguimos chegar a zero, obtendo assim mesmo uma
extração excelente de açúcar. Geralmente, é possível basear-se em 3 a 6 kgjTC.
. Para obter a quantidade de bagacinho necessária a um filtro, tratando todo
o lodo da usina, é preciso peneirar 25 a 60% da quantidade total de bagaço da
usina. Na clarificação composta, 25 a 35 % são perfeitamente suficientes.
Instalação. - Por baixo do condutor de bagaço instala-se uma peneira
vibratória (fig. 32.13), preferivelmente enfre os dois primeiros chutes de baga-
ço das caldeiras. Uma comporta, como aquelas que alimentam as caldeiras, deixa
cair o bagaço sobre a peneira, a qual deixa passar o bagacinho e devolve o
bagaço restante aos dois chutes próximos.
Porém, na maioria dos casos, não se emprega este aparelho pequeno, substi-
tuindo, simplesmente, numa certa extensão (2 a 4 m), o fundo do condutor de
bagaço por uma chapa com perfurações de 5 mm. É conveniente colocá-Ia numa
seção ascendente do transportador.
Um ventilador aspira o bagacinho da peneira ou do chute situado debaixo
do fundo perfurado do condutor através duma tubulação de chapa galvanizada
e o deixa cair num ciclone, situado em cima do misturador (cf. figo 32. 14), pelo
qual passa o lodo, que vai ao filtro. Uma pequena comporta permite regular a
vazão de bagaço do ventilador.
Peneira. - No caso da peneiravibratória, as 4 medidas principais de telas
empregadas são as seguintes:

QUADRO32.3
Telas metálicas para peneiras de bagacinho

N.D inglês Número de malhas Proporção em peso


por dm de bagacinho fornecido
8 mesh 32 100
10 " 40 90
12 " 48 60
14 " 56 2S

As telas empregadas são tanto mais finas quanto mais o bagaço for difícil
de ser filtrado, sob a condição de que a quantidade de bagacinho fornecida seja
suficiente. As malhas mais largas que as do n.O 12 efetuam uma filtração menos
perfeita; sendo possível, é melhor utilizar o n.o 14.
Capacidade da peneira. - Uma peneira com 32 malhas por decímetro
fornece 60 a 80 kg de bagacinho por metro quadrado e por hora.
MANUAL DA ENGENHARIA AÇUCAREIRA 543

Em Queensland (MSIRI, 1959, p. 80), calcula-se 0,04 m2/TCH, com tela


de 32 malhas' por dm. ConstatQll-Se também (QSSCT, 37.°, p. 255) que pe-
neiras com 16 malhas por dm (4 mesh) podem ser usadas e fornecem uma
proporção de bagacinho inferior àquela fornecida pela peneira de 32 malhas (8
mesh). Fornecem 130 kg/m2/h de bagacinho, no caso das peneiras horizontais
fixas, sem sucção, e 820 kg/nÍ2/h,no caso em que a sucção se faça através da
peneira.
. Geralmente, instala-se uma peneira com 0,05 m2/TCH, ou seja,5 dm2 por
TCH.
Oliver fornece 4 tamanhos de peneira:-
QUADRO32.4
Série das peneiras Oliver

510 x 1 220mm = 0,62m2


1 015 x - 2 130" = 2,16 "
1 015 x 3 050" = 3,10 "
1 .520 x 3 050" = 4,65 "

VENTILADOR.- Em Cuba, calcula-se (ISl, 1943, p. 165) que, para um


tubo de aspiração de 75 m de comprimento, com 3 curvas, necessitam-se 6 a
7 m3 de ar por kg de bagacinho a ser transportado.
-
Potência total necessária. A potência total necessária a tQda a instalação,
filtro e acessórios, corresponde a um número de cavalos-vapor representado apro-
ximadamente pela superfície de filtração do filtro, calculada em metros quadrados.
Para um filtro de 28 m2, por exemplo, são necessários:
Motor do filtro 2,5 CV
Bomba de ar seco 12 "
2 bombas centrífugas para os caldos filtrados 3 "
Transportador helicoidal de torta 2 "
Peneira de bagacinho 1 "
Ventilador de bagacinho 5 "
Misturador lodo~bagaço. 0,5 "

26 CV

Operação dum filtro contínuo. ~ A temperatura do lodo a ser filtrado é


muito importante. É preciso ter cuidado para que não diminua a menos de
80°C e, preferivelmente, deve ser mantida acima de 85°C, sendo melhor
90°C.
Enquanto esta temperatura for observada, o tambor continua limpo, após
a queda da torta.
No fim-de-semana, sua superfície será limpa com um jato de vapor, servindo-
-se dum dispositivo do próprio filtro. Sem tomar esta precaução, as aberturas do
544 E. HUGOT

tambor ficariam entupidas ou os compartimentos ficariam obstruídos com o lodo


seco. Na Africa do Sul,aconselha-se (lSJ, 1941, p. 182) a limpeza com vapor a
cada 12 horas.

FILTRAÇÁO DOS XAROPES

A filtração dos xaropes efetua-se normalmente com tipos de filtros especiais.


Os seguintes são os principais, todos provénientes de licenças norte-americanas.
Indicamos para cada um, uma medida da superfície de filtração necessária:
a) Herfilco, fabricado na França 3 a 4 m2/TCH
b) Niagara, fabricado na Holanda 2 " 3 "
c) Auto-filtre Suchar (Fives-Lille Cai!) 3" 4 "
d) Fas-flo (Fives-Lille Cail) 2 ,,3 "

Você também pode gostar