Exortacao Apostolica Amoris Laetitia Capitulo VI Perspectivas Pastorais

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 40

Capítulo VI

ALGUMAS PERSPECTIVAS
PASTORAIS (n.199-258)

AMORIS LAETITIA
SOBRE O AMOR NA FAMILIA
Os debates sinodais apontaram a
necessidade de desenvolver novos caminhos
pastorais...

A elaboração das propostas mais práticas e


eficazes caberá às diferentes comunidades,
que tenham em conta:

- a doutrina da Igreja
- as necessidades e desafios locais

O Papa não pretender apresentar aqui uma


pastoral da família, mas apenas alguns dos
principais desafios pastorais. (AL 199)
1. ANUNCIAR HOJE O EVANGELHO
DA FAMILIA
As famílias cristãs são, pela graça do
sacramento nupcial, os sujeitos principais da
pastoral familiar, sobretudo oferecendo «o
testemunho jubiloso dos cônjuges e das
famílias, igrejas domésticas».

Igreja quer chegar às famílias, com o desejo


de «acompanhar todas e cada uma delas a
fim de que descubram a saída melhor para
superar as dificuldades que encontram no
seu caminho». (AL 200)
Não basta inserir uma genérica preocupação
pela família nos grandes projetos pastorais...
requer-se «um esforço evangelizador e
catequético dirigido à família», que a
encaminhe nesta direção. (AL 200)

Exige-se de toda a Igreja uma conversão


missionária: não se contentar só com um
anúncio puramente teórico e desligado dos
problemas reais das pessoas».
A pastoral familiar é resposta às
expectativas mais profundas da pessoa
humana: a sua dignidade e plena
realização na reciprocidade, na comunhão
e na fecundidade.

Não se trata apenas de apresentar uma


normativa, mas de propor valores,
correspondendo à necessidade deles...
A evangelização da pastoral familiar deve
denunciar, os condicionalismos culturais,
sociais, políticos e econômicos, bem como o
espaço excessivo dado à lógica do mercado,
que impedem uma vida familiar autêntica,
gerando discriminação, pobreza, exclusão e
violência.

Para isso, temos de entrar em diálogo e


cooperação com as estruturas sociais, bem
como encorajar e apoiar os leigos que se
comprometem, como cristãos, no âmbito
cultural e sociopolítico». (AL 201)
«A principal contribuição para a pastoral
familiar é oferecida pela paróquia, que é uma
família de famílias, onde se harmonizam os
contributos das pequenas comunidades,
movimentos e associações eclesiais».

A par duma pastoral especificamente


voltada para as famílias, há necessidade
duma «formação mais adequada dos
presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas,
catequistas e restantes agentes pastorais».
Nas respostas às consultas promovidas em
todo o mundo, ressaltou-se que os ministros
ordenados carecem, habitualmente, de
formação adequada para tratar dos
complexos problemas atuais das famílias;
para isso, pode ser útil também a experiência
da longa tradição oriental dos sacerdotes
casados. (AL 202)

Os seminaristas deveriam ter acesso a uma


formação interdisciplinar mais ampla sobre
namoro e matrimonio, não se limitando à
doutrina.
É importante que as famílias acompanhem
todo o processo do Seminário e do
sacerdócio, pois ajudam a revigorá-lo de
forma realista.

«A presença dos leigos e das famílias,


particularmente a presença feminina, na
formação sacerdotal, favorece o apreço
pela variedade e complementaridade das
diferentes vocações na Igreja». (AL 203)
Há a necessidade de formar agentes leigos de
pastoral familiar, com a ajuda de
psicopedagogos, médicos de família, médicos
de comunidade, assistentes sociais,
advogados de menores e família,
predispondo-os para receber as contribuições
da psicologia, sociologia, sexologia e até
aconselhamento. Os profissionais,
particularmente aqueles que têm experiência
de acompanhamento, ajudam a encarnar as
propostas pastorais nas situações reais e nas
preocupações concretas das famílias.
Os cursos de formação destinados
especificamente aos agentes pastorais são
necessários.

Tudo isto em nada diminui, antes integra, o


valor fundamental da direção espiritual, dos
recursos espirituais inestimáveis da Igreja e
da Reconciliação sacramental. (AL 204, 211)
2. GUIAR OS NOIVOS NO CAMINHO DE
PREPARAÇAO PARA O MATRIMONIO

Os Padres sinodais afirmaram, de várias


maneiras, que é preciso ajudar os jovens a
descobrir o valor e a riqueza do matrimonio.

Aprender a amar alguém não é algo que se


improvisa, nem pode ser o objetivo dum breve
curso antes da celebração do matrimonio. (AL
205)

É muito importante a preparação próxima e


remota ao sacramento do matrimonio.
A exigência dum maior envolvimento de toda
a comunidade, privilegiando o testemunho
das próprias famílias, e a exigência ainda
duma radicação da preparação para o
matrimonio no caminho da iniciação cristã,
sublinhando o nexo do matrimonio com o
batismo e os outros sacramentos.

É necessário lembrar a importância das


virtudes. Dentre elas, resulta ser condição
preciosa para o crescimento genuíno do
amor interpessoal e da castidade.
São muito uteis os grupos de noivos e as
palestras que interessam os jovens. (AL 208)

Na preparação próxima para o matrimonio


evidenciou-se a necessidade de programas
específicos que sejam verdadeira experiência de
participação na vida eclesial e aprofundem os
vários aspectos da vida familiar.

Trata-se duma espécie de «iniciação» ao


sacramento do matrimonio, que lhes forneça os
elementos necessários para poderem recebê-lo
com as melhores disposições e iniciar com uma
certa solidez a vida familiar. (AL 207)
A preparação da celebração litúrgica

A preparação próxima do matrimonio tende a


concentrar-se nos convites, na roupa, na festa
com os seus inumeráveis detalhes que
consomem tanto os recursos econômicos
como as energias e a alegria. (AL 212)

Na preparação mais imediata, é importante


esclarecer os noivos para viverem com grande
profundidade a celebração litúrgica, ajudando-
os a compreender e viver o significado de
cada gesto. (AL 213)
Às vezes, os noivos não percebem o peso
teológico e espiritual do consentimento, que
ilumina o significado de todos os gestos
sucessivos. (AL 214)

Frequentemente, o celebrante tem a


oportunidade de se dirigir a uma assembleia
formada por pessoas que participam pouco na
vida eclesial ou pertencem a outra confissão
cristã ou comunidade religiosa. Trata-se, pois,
duma preciosa ocasião para anunciar o
Evangelho de Cristo. (AL 216)
3. ACOMPANHAR NOS PRIMEIROS
ANOS DA VIDA MATRIMONIAL

Os primeiros anos de matrimonio são um


período vital e delicado... O matrimonio é uma
questão de amor: só se podem casar aqueles
que se escolhem livremente e se amam. A união
é real, irrevogável e consagrada pelo
sacramento. (AL 217)

Por outro lado, os esposos tornam-se senhores


da sua própria história, um projeto que deve ser
levado para frente conjuntamente. (AL 218)
Habitualmente ajuda sentar-se a dialogar para
elaborar o seu projeto concreto com os seus
objetivos, meios, detalhes.

Em cada nova etapa da vida matrimonial, é


preciso sentar-se e negociar novamente os
acordos, de modo que não haja vencedores
nem vencidos, mas ganhem ambos. No lar, as
decisões não se tomam unilateralmente, e
ambos compartilham a responsabilidade pela
família; mas cada lar é único e cada síntese
conjugal é diferente. (AL 220)
Uma das causas que leva a rupturas
matrimoniais é ter expectativas demasiado
altas sobre a vida conjugal.

Cada matrimonio é uma «história de


salvação» rumo a perfeição e plenitude. É
possível a mudança, o crescimento, o
desenvolvimento das potencialidades boas
que cada um traz dentro de si. (AL 221)
O acompanhamento deve encorajar os
esposos a serem generosos na
comunicação da vida. A escolha da
paternidade e da maternidade responsáveis
(Humanae Vitae, Familiaris Consortio, Gaudium
et Spes) pressupõe a formação da
consciência.

Os filhos são um dom maravilhoso de Deus,


uma alegria para os pais e para a Igreja.
Através deles, o Senhor renova o mundo.
(AL 222)
Alguns recursos

Depois da celebração do sacramento o casal


deve ser acompanhado pela pastoral. Aqui
tem grande importância:
- Presença de casais com experiência
- Importância da espiritualidade familiar
(oração, Eucaristia dominical, a confissão
frequente, retiros, direção espiritual, estudos,
etc.)
- Solidariedade nas situações concretas da
vida
- Criar hábitos bons para superar a rotina
- Movimentos familiares (AL 223-230)
4. ILUMINAR CRISES, ANGUSTIAS E
DIFICULDADES

1. O desafio das crises

A história duma família está marcada por crises


de todo o gênero. Quando se assume o
matrimonio precisa saber também superar
obstáculos. A crise superada amadurece o
casal ou a família. (AL 232-233)

Para se enfrentar uma crise, é necessário estar


presente! Não se isolar ou resistir. (AL 232-234)
Há crises comuns que costumam verificar-se
em todos os matrimônios:

- a crise ao início quando é preciso aprender a


conciliar as diferenças
- a crise da chegada do filho, com os seus novos
desafios emotivos
- a crise de educar uma criança, que altera os hábitos
do casal
-a crise da adolescência do filho, que exige muitas
energias, desestabiliza os pais...
-a crise do «ninho vazio», que obriga o casal a fixar de
novo o olhar um no outro
- a crise causada pela velhice dos pais dos cônjuges
(AL 235)
A estas crises, vêm juntar-se as crises
pessoais com incidência no casal,
relacionadas com dificuldades econômicas,
laborais, afetivas, sociais, espirituais. E
acrescentam-se circunstâncias inesperadas,
que podem alterar a vida familiar.

Há situações próprias da inevitável


fragilidade humana, a que se atribui um
peso emotivo demasiado grande. Por
exemplo, a sensação de não ser
completamente correspondido,
os ciúmes, as diferenças que podem surgir
entre os dois, a atração suscitada por outras
pessoas, os novos interesses que tendem a
apoderar-se do coração, as mudanças
físicas do cônjuge e tantas outras coisas
que, mais do que atentados contra o amor,
são oportunidades que convidam a recriá-lo
uma vez mais.

«A difícil arte da reconciliação, que requer o


apoio da graça, precisa da generosa
colaboração de parentes e amigos, e,
eventualmente, até duma ajuda externa e
profissional».
Cada crise é como um novo «sim» que
torna possível o amor renascer reforçado,
transfigurado, amadurecido, iluminado. A
partir duma crise, tem-se a coragem de
buscar as raízes profundas do que está a
suceder, de voltar a negociar os acordos
fundamentais, de encontrar um novo
equilíbrio e de percorrer juntos uma nova
etapa. Com esta atitude de constante
abertura, podem-se enfrentar muitas
situações difíceis. (AL 236-238)
2. Velhas feridas

As feridas dos passado criam muitas vezes


dificuldades nas famílias. A própria infância e
a própria adolescência mal vividas são terreno
fértil para crises pessoais que acabam por
afetar o matrimonio. Se todos fossem pessoas
que amadureceram normalmente, as crises
seriam menos frequentes e menos dolorosas.

Às vezes ama-se com um amor egocêntrico


próprio da criança: tudo deva girar à volta do
próprio eu...
Uma relação mal vivida com os seus pais e
irmãos, que nunca foi curada, reaparece e
danifica a vida conjugal. Então é preciso fazer
um percurso de libertação, que nunca se
enfrentou.

Quando a relação entre os cônjuges não


funciona bem, antes de tomar decisões
importantes, convém assegurar-se de que
cada um tenha feito este caminho de cura da
própria história. (AL 239-240)
3. Acompanhar depois das rupturas
e dos divórcios

É preciso reconhecer que há casos em que a


separação é inevitável, mas deve ser considerado
um remédio extremo, depois que se tenham
demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis.
Por isso descobrimos que «se revela
particularmente urgente um ministério dedicado
àqueles cuja relação matrimonial se rompeu».
A comunidade local e os pastores devem
acompanhar estas pessoas com solicitude,
sobretudo quando há filhos ou é grave a sua
situação de pobreza». (AL 241-242)
1.Quanto às pessoas divorciadas que vivem
numa nova união, que fazem parte da Igreja,
que «não estão excomungadas» evitando
qualquer linguagem e atitude que as faça
sentir discriminadas e promovendo a sua
participação na vida da comunidade.

Cuidar delas não é um enfraquecimento da


sua fé e do seu testemunho sobre a
indissolubilidade do matrimonio; antes, ela
exprime precisamente neste cuidado a sua
caridade». (AL 243)
2. Um grande número de Padres «sublinhou a
necessidade de tornar mais acessíveis, ágeis e
possivelmente gratuitos os procedimentos para
o reconhecimento dos casos de nulidade». Os
dois documentos recentes sobre tal matéria do
Papa Francisco, levaram a uma simplificação
dos procedimentos para uma eventual
declaração de nulidade matrimonial.

Isto implica a preparação de pessoal suficiente,


composto por clérigos e leigos, que se dedique
de modo prioritário a este serviço eclesial. (AL
244)
3. Os Padres sinodais puseram em
evidência também «as consequências da
separação ou do divórcio sobre os filhos,
em todo o caso vítimas inocentes da
situação». Eles são a primeira
preocupação, que não deve ser ofuscada
por nenhum outro interesse ou objetivo.

É irresponsável arruinar a imagem do pai


ou da mãe com o objetivo de monopolizar
o afeto do filho. (AL 245-246)
4. Algumas situações complexas

1. Os matrimônios mistos requerem uma


atenção específica.

Os matrimônios entre católicos e outros


batizados “apresentam, na sua fisionomia
particular, numerosos elementos que convém
valorizar e desenvolver quer pelo seu valor
intrínseco quer pela ajuda que podem dar ao
movimento ecumênico”. (AL 247)
2. Os matrimônios com disparidade de
culto constituem um lugar privilegiado de
diálogo inter-religioso (...).

Enfrentam desafios peculiares os casais e


as famílias, nos quais um dos cônjuges é
católico e o outro não-crente.

Em tais casos, é necessário tornar


possível a educação dos filhos na fé
cristã. (AL 248)
3. Outro caso é o de pessoas que contraíram
uma união matrimonial estável, num tempo
em que pelo menos uma delas ainda não
conhecia a fé cristã. Os bispos são chamados
a exercitar, nestes casos, um discernimento
pastoral apropriado ao seu bem espiritual. (AL
249)

4. As pessoas com tendência homossexual.


cada pessoa, independentemente da própria
orientação sexual, deve ser respeitada na sua
dignidade e acolhida com respeito. (AL 250)
Quanto aos projetos de equiparação ao
matrimonio das uniões entre pessoas
homossexuais, que não existe fundamento
algum para assimilar ou estabelecer
analogias, nem sequer remotas, entre as
uniões homossexuais e o desígnio de Deus
sobre o matrimonio e a família.

É inaceitável que os organismos


internacionais condicionem a ajuda
financeira aos países pobres à introdução
de leis que instituam o “matrimonio” entre
pessoas do mesmo sexo». (AL 251)
5. As famílias monoparentais. Seja qual for a
causa, o progenitor que vive com a criança
deve encontrar apoio e conforto nas outras
famílias que formam a comunidade cristã,
bem como nos organismos pastorais
paroquiais.

Além disso, estas famílias são muitas vezes


afligidas pela gravidade dos problemas
econômicos, pela incerteza dum trabalho
precário, pela dificuldade de manter os filhos,
pela falta duma casa. (AL 252)
5. QUANDO A MORTE CRAVA
O SEU AGUILHÃO

A morte faz parte da vida familiar! Não


podemos deixar de oferecer a luz da fé para
acompanhar as famílias que sofrem em tais
momentos. Abandonar uma família atribulada
por uma morte seria uma falta de
misericórdia. (AL 253)

A viuvez é uma experiência particularmente


difícil! Deve ser acompanhada pela família e
pela Igreja. (AL 254)
Consola-nos saber que não se verifica a
destruição total dos que morrem, e a fé
assegura-nos que o Ressuscitado nunca
nos abandonará.

Os nossos entes queridos não


desapareceram nas trevas do nada: a
esperança assegura-nos que eles estão
nas mãos bondosas e vigorosas de Deus.
(AL 255-256)
Uma maneira de comunicarmos com os
seres queridos que morreram é rezar por
eles. A Bíblia e a Igreja nos dá os
fundamentos para isso (2Mc 12,44-45; Ap 6,
9-11) (AL 257)

A morte precisa ser preparada! O caminho é


crescer no amor para com aqueles que
caminham conosco, até ao dia em que «não
haverá mais morte, nem luto, nem pranto,
nem dor» (Ap 21, 4). Assim como Jesus
entregou o filho que tinha morrido à sua
mãe (cf. Lc 7, 15), assim também procederá
conosco. (AL 258)

Você também pode gostar