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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

ARTHUR COUTINHO DE ARAÚJO PEREIRA

SISTEMAS DE DRENAGENS EM OBRAS DE CONTENÇÕES DE TALUDES

JOÃO PESSOA
2017
ARTHUR COUTINHO DE ARAÚJO PEREIRA

SISTEMAS DE DRENAGENS EM OBRAS DE CONTENÇÕES DE TALUDES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenação do Curso de Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Federal da
Paraíba como pré-requisito para obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: DSc. Fábio Lopes Soares

JOÃO PESSOA
2017
P436s Pereira, Arthur Coutinho de Araújo

Sistemas de drenagens em obras de contenções de taludes./ Arthur


Coutinho de Araújo Pereira. – João Pessoa, 2017.

56f. il.:

Orientador: Prof. Dr. Fábio Lopes Soares.

Monografia (Curso de Graduação em Engenharia Civil) Campus I -


UFPB / Universidade Federal da Paraíba.

1. Drenagem 2. Taludes 3. Contenções 4. Eficiência 5. Solo grampeado


I. Título.

BS/CT/UFPB CDU: 2.ed. 626.81/.84043)


AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, autor da minha fé, pela graça imerecida e por todos os seus feitos.

Agradeço aos meus amados pais e meus heróis, Francisco e Marília, fundamentais nessa
conquista.

Sou extremamente grato aos meus irmãos, Allan e Alex, pelos conselhos valiosos.

A minha família pelo marcante suporte.

Aos meus amigos, capazes de converter uma árdua jornada numa caminhada mais leve, minha
gratidão.

Ao Prof. Fábio Lopes Soares, pelos conhecimentos fornecidos, suporte, compreensão e pela
orientação deste trabalho.

Aos professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pelos ensinamentos que serão
úteis não só para a vida profissional, mas, sem dúvida, para a pessoal.

A Pedro, Anderson, Sr. João e Sr. Joaquim pela atenção e suporte, necessários para o
cumprimento dos experimentos feitos neste trabalho.
RESUMO

Em obras de contenção de taludes, sejam rodoviários ou não, a presença de água no maciço


deve ser levada em consideração, tal que seus efeitos sejam minimizados e eliminados, pois
seu acúmulo é um dos principais fatores condicionantes das instabilidades de taludes,
podendo ocasionar algumas manifestações patológicas, tanto no aço quanto no concreto,
aumentando os custos de manutenção, diminuindo a segurança do maciço, e até
comprometendo a estabilidade do talude. Para isso, além das considerações hidrogeológicas,
definidas em termos de posição do lençol freático e as direções preferenciais de fluxo, as
contenções de taludes devem ser dimensionadas levando em conta a força hidrostática das
águas ou desviando seu fluxo. Com isso, se faz necessário uma implementação de um sistema
de drenagem bem dimensionado e executado de forma apropriada, quando necessário,
tomando medidas convenientes para a dissipação de energia, capaz de atender com eficiência
e de forma econômica, do mesmo modo que é extremamente importante a previsão de um
acompanhamento periódico para esse sistema. Essas soluções para o manejamento adequado
dos fluxos das águas presentes nos maciços de solo podem ser possíveis com a utilização de
dispositivos de drenagens superficiais, tendo como exemplo, a execução de escadas
hidráulicas, barbacãs, drenos sub-horizontais, e drenagens profundas. Este trabalho tem como
objetivo apresentar e discutir as drenagens mais eficientes para determinadas obras de
contenção de maciços de solo com a visão da metodologia executiva de cada um dos métodos,
levantando alguns casos de obras cuja a solução se deu por meio de sistema de drenagem.
Também são desenvolvido experimentos visando comparar a eficiência entre diferentes
dispositivos drenantes.

Palavras-Chave: Drenagem, Taludes, Contenções.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10
1.1 Objetivo ......................................................................................................................... 11
1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 11
1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 11
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 12
2.1 Importância dos sistemas de drenagem ......................................................................... 12
2.2 Influência da chuva ........................................................................................................ 13
2.3 Tipos de drenagens ........................................................................................................ 15
2.3.1 Escadarias hidráulicas ................................................................................................ 15
2.3.2 Drenagem por eletro-osmose ..................................................................................... 16
2.3.3 Drenagem superficial com manta de concreto flexível.............................................. 18
2.3.4 Drenos profundos ....................................................................................................... 19
2.3.5 Drenos de paramento ................................................................................................. 22
2.4 Execução de solo grampeado ........................................................................................ 23
3 CASOS DE OBRAS...................................................................................................... 26
3.1 Estabilização de deslizamento na Itália Central ............................................................ 26
3.2 Utilização de túneis e galerias de drenagem para estabilização do escorregamento de
massa de taludes junto à usina Henry Borden .......................................................................... 27
3.3 Estabilização de encostas através de drenagem profunda: caso de estabilização com
túnel de drenagem na rodovia dos imigrantes .......................................................................... 30
3.4 Caso de ruptura de talude associada a problemas de drenagem superficial .................. 36
4 EXPERIMENTOS DESENVOLVIDOS ...................................................................... 39
4.1 Caracterização ............................................................................................................... 39
4.2 Instalação e execução .................................................................................................... 43
5 RESULTADOS ............................................................................................................. 46
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 50
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Curvas de correlação para acumuladas de 6 a 8 dias ............................................ 14


Figura 2- Representação de diversos dispositivos de drenagem superficial ........................... 15
Figura 3- Exemplo de projeto de descida d’água .................................................................... 16
Figura 4- Esquema de funcionamento de drenagem por eletro-osmose. ................................. 17
Figura 5- Rolo portátel de manta flexível. ............................................................................... 18
Figura 6- Drenagem superficial utilizando manta flexível. ..................................................... 19
Figura 7- Dreno Sub-horizontal, DHP. ................................................................................... 20
Figura 8- Tubos de PVC usados como drenos. ........................................................................ 21
Figura 9- Detalhe de barbacã. ................................................................................................. 22
Figura 10- Representação de execução de concreto projetado. .............................................. 24
Figura 11- Detalhe de execução de concreto projetado. ......................................................... 25
Figura 12- Volumetria de trecho de túnel ................................................................................ 27
Figura 13- Corte longitudinal .................................................................................................. 27
Figura 14- Planta da região..................................................................................................... 28
Figura 15- Posições dos túneis ................................................................................................ 29
Figura 16- Diagrama mostrando a relação entre a posição do nível d'água e os
deslocamentos horizontais........................................................................................................ 30
Figura 17- Planta da região..................................................................................................... 31
Figura 18- Leitura do tassômetro. ........................................................................................... 32
Figura 19– Leitura dos piezômetros. ....................................................................................... 33
Figura 20- Planta do túnel de drenagem. ................................................................................ 35
Figura 21- Corte da seção transversal da galeria ................................................................... 35
Figura 22 - Seção transversal do talude .................................................................................. 37
Figura 23- Vista do fundo da canaleta de drenagem, onde houve a infiltração da água que
deu origem a ruptura. ............................................................................................................... 38
Figura 24- Canaleta sem manutenção, coberta pela vegetação .............................................. 38
Figura 25- Tubos de PVC utilizado como drenos, confeccionados: perfurado à esquerda e
ranhurado à direita. ................................................................................................................. 39
Figura 26- Recobrimento dos drenos com tela. ....................................................................... 40
Figura 27- Esquema de escoamento de geotêxtil ..................................................................... 41
Figura 28 - Geocomposto drenante utilizado .......................................................................... 41
Figura 29- Geocomposto drentante com uma face obstruída por argamassa ......................... 42
Figura 30- Gecomposto drentante com duas faces obstruída por argamassa......................... 43
Figura 31- Amostra de material utilizado em experimento ..................................................... 43
Figura 32- Vista superior da configuração de espaçamento dos drenos. ............................... 44
Figura 33- (a) Preencimento parcial do tonel. (b) Cobrimento total dos drenos com solo. ... 44
Figura 34- Representação de corte lateral no tonel, mostrando configuração vertical dos
drenos. ...................................................................................................................................... 45
Figura 35- Recipientes dispostos na saída de cada dispostivo. ............................................... 45
9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Volume drenado em cada dispositivo. ..................................................................... 46


Tabela 2- Volume drenado em cada dispositivo, com geocomposto drenante obstruído numa
das faces. .................................................................................................................................. 46
Tabela 3- Volume drenado em cada dispositivo, com geocomposto drenante obstruído nas
duas faces. ................................................................................................................................ 47
10

1. INTRODUÇÃO

Em períodos de chuva intensa, no Brasil, ocorre a maioria dos acidentes relacionados


aos maciços de solo, como escorregamentos e erosões, por exemplo. Isso se deve ao fato de
que a chuva atua como principal agente não-antrópico na deflagração de escorregamentos no
país. Esses eventos possuem inúmeras consequências, as quais, geralmente, trazem grandes
prejuízos ambientais, sociais e econômicos, chegando até a inviabilizar a continuidade de
determinados empreendimentos nessas áreas ou em proximidades. A influência da água é
vista de várias maneiras, como na diminuição da coesão aparente do solo, na redução das
tensões resistentes do maciço e na origem de pressões neutras que, se não observadas, podem
causar rupturas. A presença de águas de infiltração e percolação nos solos causa
inconvenientes e problemas para os mais variados tipos de obras de engenharia civil.
O orçamento de uma obra de drenagem é, na maior parte, muito pequeno comparado
ao montante total do orçamento da obra. Executar um projeto de qualidade e investir numa
drenagem que possibilite o escoamento adequado das águas pluviais para o sistema de
drenagem permite o funcionamento dos empreendimentos mesmo na ocorrência das chuvas.
Para evitar que aconteçam problemas maiores, que dependendo do deterioramento pode-se
culminar a um grande sulco ou ravina, e até acidentes, que podem acarretar em prejuízos
incalculáveis e até vidas humanas, é necessário ter um olhar diferenciado para a drenagem,
sem menosprezar sua relevância, o mesmo servindo para a impermeabilização dos taludes,
sejam artificiais ou naturais.
É de extrema importância ter alternativas de dispositivos para se executar um sistema
de drenagem, o que, por consequência, acaba tendo maior diversidade nos métodos de
execução, cada um podendo ter vantagens e desvantagens. Quando são consideradas as
particularidades de cada tipo de drenagem e presumidas dificuldades de acesso e execução de
determinada drenagem, a eficiência da obra pode ser elevada e os custos reduzidos.
11

1.1 Objetivo

1.1.1 Objetivo Geral

Realizar uma revisão bibliográfica e analisar os sistemas de drenagens mais utilizados


nas obras de contenção de taludes, observando aspectos executivos, aplicações, também
atentando para suas particularidades, vantagens e desvantagens.

1.1.2 Objetivos Específicos

 Verificar capacidade de drenagem entre diferentes dispositivos;


 Analisar eficiência dos dispositivos.
12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo, ressalta-se a importância dos sistemas de drenagens, tal como a


influência das chuvas na estabilidade dos taludes. Também serão abordados conceitos e
classificações necessários a um melhor entendimento por parte do leitor no que se refere aos
tipos de sistemas de drenagem, suas aplicações e particularidades.

2.1 Importância dos sistemas de drenagem

Nos últimos anos, observa-se um ritmo acelerado de urbanização de áreas


anteriormente consideradas rurais, criando consideráveis alterações no ciclo hidrológico
natural desencadeando situações alarmantes e que, muitas vezes, trazem ameaças ao
desenvolvimento do habitat humano. Todos esses acontecimentos podem ganhar, ainda mais,
proporções se não tomadas as devidas ações. Tal omissão pode ser refletida através de:
subdimensionamento dos dispositivos interceptores de águas pluviais, as sarjetas de passeio e
sumidouros de grades, sujeitando inundações; comportamento hidráulico deficiente das redes
de drenagem pluvial, devido a entupimentos e obstruções das secções de escoamento ou ao
subdimensionamento, com decorrente entrada em carga de coletores e inundação dos pontos
baixos das bacias drenadas, e; não aproveitamento integral da capacidade de transporte dos
sistemas de drenagem enterrados, de acordo com Marques, A. S et al.
Os estudos da estabilização de taludes estão interligados com seus tipos de contenção
se tornam necessários, cada vez mais, devido aos grandes desastres ocasionados pelos
deslizamentos de terras. Infelizmente, a projeção que se tem é da continuação desses
escorregamentos, devido ao processo contínuo de desmatamento, urbanização e chuvas.
Portanto a prevenção se torna cada vez mais necessária, principalmente em áreas de maior
risco.
Nos projetos de estabilização é de extrema importância atuar sobre os mecanismos
instabilizadores, contendo a causa com obras ou soluções de alto efeito, o que, além de
economizar em tempo, diminui efetivamente em custo e aumenta segurança.
Como exemplo, a corrida de massa se caracteriza pela afluência de grande quantidade
de material para a drenagem. A parte argilosa deste material se mistura com a água formando
um líquido viscoso (lama), com alta plasticidade que flui para as partes baixas. Pela sua
velocidade e densidade elevadas possuí alto poder destrutivo e extenso raio de ação. Desta
13

forma a fonte do material que aflui para a drenagem são escorregamentos que ocorrem a
montante. Estão associados a índices pluviométricos elevados. São movimentos que se
assemelham a avalanches, com grande volume de materiais.
Segundo FERRAZ et al. (2017), a drenagem é, na maior parte, a intervenção mais
importante para a estabilização de um talude, sendo intrínseca às obras de contenções e de
proteção superficial, pois asseguram a redução dos esforços que a obra resistirá, devido à ação
da água. Com isso, um comportamento satisfatório de uma estrutura de contenção não pode
ser obtido sem a utilização de sistemas eficientes de drenagem, que podem ser superficiais ou
internos.
A drenagem, seja ela superficial ou profunda, também é considerada uma alternativa
dentre muitos métodos utilizados para a estabilização de taludes, paralelo a, por exemplo, uma
possível diminuição da inclinação do talude. De acordo com Carvalho et al. (1991), os
problemas associados a deficiências do sistema de drenagem superficial provocam infiltrações
nos taludes, motivando saturação e, consequentemente, erosão que podem promover
escorregamentos.
Em vista disso, a falta ou a não devida atenção para com essas obras em taludes,
denominadas de “complementares”, como sistemas de drenagem, revestimento vegetal e
proteção superficial, pode vir a prejudicar, ou até mesmo provocar a ruína total de todo o
conjunto de obras. Sendo assim, é despertada a importância que deve ser dada às obras
“complementares” de taludes, em especial no que diz respeito aos sistemas de drenagem.

2.2 Influência da chuva

Épocas chuvosas com elevado índice pluviométrico têm se tornado verdadeiros


tormentos para a população. Nesses períodos são quando as encostas ficam mais suscetíveis a
escorregamentos, devido ao aumento do excesso de poro-pressão que reduz a resistência do
solo ao cisalhamento, de acordo com DUTRA (2013).
Segundo BASTOS (2014), a percolação de água em encostas pode reduzir a
resistência do maciço, dado: pelo desenvolvimento de poro-pressões ao longo de superfícies
potenciais de ruptura; pela redução da coesão aparente, através da saturação dos solos não-
saturados; pelo aumento do peso do material, e; pela ação erosiva interna (piping) e externa.
Deve-se levar em conta, também, as chuvas precedentes, pois essas se mostram muito
importantes na deflagração dos movimentos de massa, segundo VICTORINO (2015), pois
14

sabe-se que grandes volumes de chuva tendem a motivar escoamentos superficiais, enquanto
que chuvas de menor intensidade e duração, sendo mais prolongadas, em sua maior parte
tendem a favorecer a infiltração, reduzindo o nível de sucção natural e elevando a umidade
do solo atingindo justamente a estabilidade dos taludes. É possível a visualização, na Figura
1, da correlação entre as chuvas diárias com a chuva acumulada de João Pessoa, desenvolvida
por SOARES e RAMOS FILHO (2014), que podem ser utilizadas no monitoramento das
chuvas acumuladas para a prevenção aos escorregamentos na cidade de João Pessoa.
A influência da água pode ser direta, com o acúmulo de água junto à face interna da
contenção, ou indireta, causando a diminuição da resistência ao cisalhamento do maciço
devido ao acréscimo das pressões intersticiais. Sabe-se que grande parte dos acidentes em
obras de contenção está relacionada ao acúmulo de água no maciço, ainda mais quando há
existência de uma linha freática no maciço, aumentando consideravelmente o empuxo total.
O acúmulo de água, por deficiência de drenagem, tem condições de chegar a dobrar o empuxo
atuante.

Figura 1- Curvas de correlação para acumuladas de 6 a 8 dias


Fonte: SOARES e RAMOS FILHO (2014).
15

2.3 Tipos de drenagens

2.3.1 Escadarias Hidráulicas

A necessidade de retirada da água da valeta de proteção de corte caixa coletora de um


bueiro de greide ou para a sarjeta pode acontecer, na prática, devido às seguintes
particularidades: quando o aumento da capacidade de vazão obriga a construção de seção com
grandes dimensões; quando o terreno a montante da valeta apresentar um talvegue secundário
bem definido ocasionando a concentração de água num único local; quando o perfil
longitudinal da valeta apresentar-se sinuoso com vários pontos baixos, obrigando, para que
haja em escoamento contínuo, grandes profundidades da valeta. Nesses casos, o dispositivo de
saída d´água da valeta de proteção de corte para a plataforma é comumente denominado
descida d’agua ou escada hidráulica. Essas descidas d´água em geral são construídas em
degraus, como mostra a Figura 2.

Figura 2- Representação de diversos dispositivos de drenagem superficial


Fonte: CARVALHO (1991).
16

A ausência desse sistema faz com que haja infiltração de água por sua base, resultando
numa condição crítica de teor de umidade do solo em toda a extensão. Observa-se que nos
casos de rupturas e de processos erosivos em taludes de solo, apesar da consciência da
importância dos sistemas de drenagem para este tipo de obra, nem sempre tem sido tomados
os devidos cuidados nos processos de projeto, de execução e de manutenção de sua
funcionabilidade ao longo do tempo.
Não levando para o âmbito do dimensionamento, mas na finalidade de representar os
tipos de escadarias hidráulicas, pode ser visto um exemplo de projeto de descidas d’água na
Figura 3.

Figura 3- Exemplo de projeto de descida d’água


Fonte: DNIT (2006).

2.3.2 Drenagem por eletro-osmose

Os métodos de drenagem comuns são inoperantes em solos com coeficientes de


permeabilidade compreendidos entre 10−5e 10−7 cm/s. Quando isso ocorre, utiliza-se o
método por eletro-osmose, no qual dois eléctrodos são instalados num solo saturado e, após a
passagem de corrente elétrica entre ambos, a água contida nos vazios percola no sentido do
ânodo para o cátodo, podendo ser drenada e esgotada através de uma bomba, como pode ser
visto na Figura 4.
17

Figura 4- Esquema de funcionamento de drenagem por eletro-osmose.


Fonte: BOLÇA E RIBEIRO (2017).

Normalmente, este sistema é muito utilizado quando se necessita fazer um


rebaixamento no nível do lençol freático, mas também pode ser muito útil em situações que
18

necessite da drenagem de um talude, embora que neste último caso seja pouco utilizado no
Brasil. Entretanto, sabe-se que uma de suas limitações é o débito bastante baixo.

2.3.3 Drenagem superficial com manta de concreto flexível

Trata-se de uma manta envolta em uma argamassa especial, que através de


componentes aceleradores, que ao entrando em contato com a água, transforma-se em uma
fina camada de concreto, disponível em rolos portáteis, vide Figura 5. Esse material tem sido
utilizado em um diversificado número de obras em 45 países, e mais recentemente no Brasil.

Figura 5- Rolo portátel de manta flexível.


Fonte: CONCRETE CANVAS BRASIL (2012)

Este material, que é uma manta de cimento flexível, quando hidratado endurece,
formando uma camada de concreto impermeável e à prova de fogo, leva cerca de 24 horas
para endurecer e 48 horas - o que demonstra a rapidez na aplicação - para ficar totalmente
pronta, vem ganhando espaço e sendo adotado como a escolha mais eficiente quando
comparada às soluções clássicas utilizadas para revestimentos nas áreas de infraestrutura. É
imprescindível destacar que a manta não pode ser empregada com função estrutural, mas pode
ser utilizada para revestimento. A manta possui diversas aplicações, como exemplo: proteção
contra erosão em encostas em ferrovias e rodovias; revestimento de encostas, dutos e valas de
drenagem; revestimento de diques e cobertura de superfícies que demandem
impermeabilização como bacias de contenção e vinhaça, bem como terminais e refinarias do
19

setor de óleo e gás. Na Figura 6, pode-se ver a aplicação da manta flexível numa vala de
drenagem.

Figura 6- Drenagem superficial utilizando manta flexível.


Fonte: CONCRETE CANVAS BRASIL (2012).

Outro diferencial, claramente observado, é a facilidade no transporte para locais que


possuem difícil acesso, executado em áreas que não permitem uma concretagem tradicional,
cujo acesso de betoneira e equipamento pesado seja inviável, já que a manta de concreto é
vendida em rolos portáteis de 1,10 m de largura, até 10 m², ou a granel, com 1,10 m de largura
até 200 m, e vem em três espessuras : CC5 – 5 mm de espessura; CC8 – 8 mm de espessura,
e CC13 – 13 mm de espessura. Há outras vantagens, como: durabilidade, economia de custos.

2.3.4 Drenos Profundos

Drenos profundos são dispositivos utilizados para rebaixar o lençol freático, em cortes
em solo ou rocha, evitando que a ação das águas subterrâneas possa afetar a resistência do
material do subleito e/ou pavimento, prejudicando o desempenho deste. Quanto à forma
construtiva, pode-se utilizar tubos ou não, de acordo com DNER/ PR (2005).
Uma alternativa conveniente para a preservação de taludes e encostas seria a utilização
de uma biomanta visando a ação instantânea contra o efeito de processos de deslocamento de
partículas finas do solo e agentes erosivos, que reduzem e danificam a capacidade do sistema
de drenagem superficial de proteção ou ainda proporcionam a instabilidade geomecânica
destes locais, segundo LINHARES (2011).
20

São determinados a drenar maciços (taludes de corte/aterro) ou encostas naturais,


tendo em vista reduzir a pressão neutra, evitando assim que as condições de saturação
presentes no solo comprometam a estabilidade dos maciços; são empregados tubos de PVC
perfurados ou ranhurados, com diâmetro – comumente executado - de 50mm, mas que
depende de um adequado dimensionamento, cravados nos taludes após perfuração com
equipamento apropriado. São dispositivos complementares a outros dispositivos; o objetivo é
conceder estabilidade ao maciço. Pela incoveniência de operação dos equipamentos de
perfuração, a primeira linha de drenos é implantada 1,0 m acima da plataforma de
terraplenagem. Não só o diâmetro, mas também o número de drenos e comprimentos
dependem de estudos hidrológicos e geotécnicos.
Segundo BASTOS (2006), os “drenos sub-horizontais profundos”, conhecidos por
DHP, resultam da perfuração sub-horizontal de tubos plásticos drenantes, geralmente com
diâmetro de 50 a 100 mm executada com uma inclinação de 5° a 10° para cima, visto na
Figura 7. Na perfuração é introduzida uma tubulação de PVC rígido, geralmente com
diâmetro de 38 a 50 mm, constituída por trecho filtrante, envolvido por geotêxtil ou tela de
nylon.

Figura 7- Dreno Sub-horizontal, DHP.


Fonte: CUNHA et al. (1991).

Vale ressaltar que, com o aumento da extensão do trecho perfurado na direção da face
do talude, causa um aumento na eficiência da drenagem, já observada em casos práticos.
Estes tubos podem ter somente microrranhuras em torno de 0,4 mm, sem recobrimento
por manta ou tela, ou perfurações recobertas por manta geotêxtil ou por tela de nylon. De
acordo com SOLOTRAT(2015), visando comparar o tipo de tubo drentante que pode ser
usado no DHP, foi realizado um estudo comparativo entre o “dreno Geotécnica” e o “dreno
21

ranhurado”, sendo o primeiro, o dreno executado pela empresa Geotécnica S.A, precursora na
execução de serviços geotécnicos no Brasil. O “dreno Geotécnica” resulta de se executar
perfurações de 12,5 mm diametralmente opostas a cada 60 milímetros, duas a duas
ortogonais, em tubo PVC de 50 mm. São cobertas por duas camadas de tela de nylon, malha
30. Para um comprimeto de 50 cm resulta numa área perfurada de 20,44 cm². O “dreno
ranhurado” resulta da execução de rasgos de 0,4 mm com 35 mm de extensão a cada 19 mm,
sem envolvimento por qualquer tipo de tela. Resulta em 50 cm numa área perfurada de 3,36
cm². Observa-se que no “dreno ranhurado” as ranhuras são somente executadas na parte
superior do tubo, vide Figura 8.

Figura 8- Tubos de PVC usados como drenos.


Fonte: SOLOTRAT (2015).

Em caso de depósitos de solos oriundos de antigos deslizamentos das partes mais altas
das encostas, também conhecidos como colúvios, tem-se como consequência a instabilidade
sob chuvas intensas, principalmente as persistentes, quando o lençol d´água no interior dos
mesmos se eleva, segundo LACERDA e SANDRONI (1985). O corte desses materiais agrava
sua condição de estabilidade, e só deve ser feito, independente da solução de projeto, ligado a
implantação de um sistema de drenagem que conserve nível do lençol d´água baixo, e de
preferência distante da região do corte. Comumente, faz-se necessário o corte de colúvios em
obras rodoviárias e mesmo urbanas. Como uma medida de estabilização da parte restante do
colúvio um eficiente sistema de drenagem profunda, composto por drenos sub-horizontais
perfurados, atende de forma eficiente, porém, quando são massas de colúvio extensas
22

permanecem vulneráveis a movimentos lentos sob chuvas intensas ou persistentes, ainda com
drenagem próxima da cortina. Com isso, o empuxo, com o tempo, pode crescer
consideravelmente e chegar a, pelo menos, valores que correspondem ao repouso.

2.3.5 Drenos de Paramento

Drenos de paramento são peças que promovem o efetivo fluxo às águas que infiltram
no talude e que chegam ao paramento. Para sua instalação, feita na parte posterior e
convizinha, faz-se o uso do barbacã ou dreno linear contínuo, este último sendo um
geocomposto.
O barbacã é produto da escavação de uma cavidade, geralmente com as dimensões de
20 x 20 x 20 cm, que é complementada com material arenoso, tendo um tubo de PVC
drenante como saída, iniciando no interior do talude com inclinação descendente próxima de
5° partindo para fora do revestimento da contenção, como pode ser visualizado no detalhe da
Figura 9.

Figura 9- Detalhe de barbacã.


Fonte: FARIA (2014).

O dreno linear contínuo é resultado da instalação, numa escavação, de calha plástica


drenante coberta por uma manta geotêxtil comercialmente chamada “PVD” ou “dreno
fibroquímico”, instalado continuamente ao longo da direção vertical, da crista até o pé do
talude, surgindo na canaleta de pé. É muito comum encontrar drenos compostos pela pela
23

associação de dois filtros geotêxteis a um núcleo rígido em georrede, ou não menos utilizada
entre um geotêxteil e uma geomembrana, para evitar que seus canais sejam obstruídos pelo
solo ou por alguns resíduos. A georrede por sua vez possui uma estrutura tridimensional com
grande volume de vazios, propiciando grandes vazões apesar da pequena seção transversal.
Segundo PALMEIRA et al.(2005), para um desempenho satisfatório em um sistema
filtro-drenante de um talude ou obra de contenção, um geotêxtil deve atender aos seguintes
critérios:
• Critério de retenção;
• Critério de permeabilidade;
• Critério anti-colmatação;
• Critério de sobrevivência;
• Critério de durabilidade.

O critério de retenção visa a garantir que o geotêxtil irá reter as partículas de solo,
evitando mecanismos de erosão interna (piping) no maciço. O critério de permeabilidade visa
a garantir que o geotêxtil possua elevada permeabilidade, de modo que a água flua livremente
através, ou ao longo, do seu plano, não gerando poropressões no sistema ou nas suas
vizinhanças. O critério anti-colmatação visa a garantir condições para que o geotêxtil não seja
colmatado. Os critérios de sobrevivência e durabilidade visam atender a condições que
garantam que o geotêxtil não seja danificado durante a sua instalação e que o mesmo dure por
um período não inferior à vida útil da obra.
No entanto, na literatura, muitos trabalhos relatam que reforços de geotêxteis não
tecidos podem cumprir duas funções simultâneas: reforço e drenagem interna, de acordo com
Fourie et al. Com isso, o resultado da infiltração de água da chuva em solos finos, o
desenvolvimento de pressões neutras internas, pode ser eliminado ou atenuado. Assim, solos
finos reforçados com geotêxteis não tecidos possuem um grande potencial de compor
estruturas permanentes, resultando, inclusive em períodos chuvosos, em estruturas estáveis.

2.4 Execução de solo grampeado

Este item tem o objetivo de explicitar a forma de aplicação do concreto componente


nas obras de solo grampeado, a obra mais reportada nos congressos de estabilidade de taludes
e obras de contenções e por ser – também - a opção mais utilizada em João Pessoa, onde é
24

comum encontrar uma grande quantidade de escavações na formação barreiras, na parte mais
elevada, sem presença de lençol freático. Também será fundamental para associação e
entendimento da situação comumente encontrada num processo da execução da contenção,
que posteriormente será abordada.
O sistema de drenagem numa contenção do tipo solo grampeado objetiva oferecer um
fluxo organizado para as águas internas ou externas que a ele converge, mais comumente, nos
dias atuais, fazendo o uso do já consolidado dreno linear.
Durante a execução, devem ser conferidas e ajustadas as posições dos drenos previstos
na fase do projeto para assim, extrair o melhor desempenho do sistema de drenagem
projetado.
O concreto projetado, aplicado no painel de solo grampeado, é o resultado da mistura
de cimento, pedrisco, areia, água e aditivos, podendo ainda ser adicionados microssílica,
fibras ou outros componentes ao traço, conduzidos por ar comprimido desde o equipamento
de projeção até o local será aplicado, através de um mangote, há um bico de projeção, que
também tem a função de acrescentar água. Esta mistura é lançada pelo ar comprimido, em
grande velocidade, na superfície que se deseja moldar, vide Figura 10.

Figura 10- Representação de execução de concreto projetado.


Fonte: SOLOTRAT (2015).

As peças podem receber ferragens convencionais, telas eletrossoldadas ou fibras,


conforme a necessidade do projeto, podendo ser vista na Figura 11. Existem duas maneiras
de se obter o concreto projetado, que segundo a ABNT 14026/1997 são: processo por via
seca, no qual somente os agregados podem se apresentar úmidos e a maior parte da água é
adicionada no mangote ou no bico de projeção e processo por via úmida, no qual todos os
25

ingredientes, incluindo a água, são misturados antes de serem introduzidos no equipamento de


projeção.

Figura 11- Detalhe de execução de concreto projetado.


Fonte: SOLOTRAT (2015).

A maneira com que se aplica o concreto é extremamente importante na qualidade do


serviço. Neste trabalho, é usual ter dois especialistas: o bombeiro e o mangoteiro. O bombeiro
está sempre junto à bomba de projeção, ajustando-a conforme os desgastes ocorrem e
verificando a correta alimentação do volume de ar do compressor. O mangoteiro é
responsável por aplicar o concreto, em movimentos contínuos, usualmente circulares,
dirigidos ortogonalmente à superfície a uma distância de 1 metro e, também, por regular a
água, tendo a sensibilidade para perceber oscilações características de vazão e pressão do ar.
26

3 CASOS DE OBRAS

Nesta secção, apresenta-se alguns casos de obras em que as causas e/ ou soluções


foram dadas, respectivamente, por uma deficiência / ausência do sistema de drenagem e por
uma análise e dimensionamento de um sistema de drenagem.

3.1 Estabilização de deslizamento na Itália central

Os taludes das regiões adriáticas da Itália central não são muito estáveis, devido aos
solos que, em sua maioria, são argilosos e muito suscetíveis a variações de umidade. O
fenômeno coloca em risco muitas cidades e aldeias, das quais possuem um valor histórico e
artístico, tendo sido construídas na Idade Média em torno de fortificações ou castelos situados
nos altos das serras, conforme BIANCO (1988).
Por conta das alterações antrópicas, associadas às condições hidrogeológicas, os
escorregamentos aumentaram. Mas um fato interessante foi a estabilização do deslizamento
de Montelupone, próximo à Ancona, onde arquivos históricos registraram este deslizamento a
partir do final do século XVII, tendo como solução a implantação de túneis de drenagem para
estabilização do movimento. Antecipadamente à definição da obra de estabilização, foram
feitas investigações geológico-geotécnicas e implantado um sistema de monitoramento
composto por inclinômetros e piezômetros, sendo possível identificar a estratigrafia e
natureza do subsolo local, composto por: maciço rochoso calcário argiloso do plioceno
embutido entre camadas arenosas finas, sendo mais frequente na parte superior; e do talude,
que inclui um estrato silto-argiloso moderadamente grosso, onde a circulação de água
subterrânea é grande; e outro estrato muito heterogêneo onde argilas moles e siltes
prevalecem. O deslizamento chegou a uma profundidade de aproximadamente 30 metros
prejudicando metade da cidade.
BIANCO (1988) desenvolveu que a característica geológica típica de regiões do meio-
adriático são depósitos de taludes em cima de um maciço rochoso do plioceno. O regime
hidrológico é alimentado por uma precipitação pluviométrica de próximo a 1000 mm/ano, e
depende da baixa permeabilidade do talude argiloso e do maciço rochoso do plioceno. Estas
características hidrogeológicas dão início à instabilidade geral da região.
Com o conhecimento das condições geológicas e da variação do nível do lençol -
freático indicado pelos piezômetros instalados, no ano de 1980, deu-se início os trabalhos
27

corretivos necessários, e foi solução escolhida para estabilizar a grande massa escorregada
através de um rebaixamento do lençol freático foi dada por um sistema de túnel de drenagem.

Figura 12- Volumetria de trecho de túnel


Fonte: BIANCO (1988)

Figura 13- Corte longitudinal


Fonte: BIANCO (1988).

3.2 Utilização de túneis e galerias de drenagem para estabilização do escorregamento


de massa de taludes junto à usina Henry Borden

De acordo com Yassuda (1988), as obras emergenciais de estabilização de uma


significativa massa de solo e rocha que se movimentava em direção à barragem de
28

Tablachaca, região andina do Peru, numa encosta que tinha de 37° e 45º com a horizontal,
com uma largura entre 200 e 300 m, ao longo de um desnível superior a 300 m, apresentou
movimentações. Essa massa considerável era uma ameaça ao funcionamento da barragem, a
qual era encarregada por aproximadamente metade da energia do Peru. Notou-se que túneis e
galerias de drenagem possuem alta eficiência na estabilização de encostas, principalmente em
quando as encostas são muito extensas, porém ainda são pouco utilizados. Assim, incentiva-se
que a técnica seja mais empregada. Foram executadas cortinas atirantadas, berma junto ao pé
do talude, drenagem superficial e dois túneis principais com galerias transversais. No
arqueamento dos túneis, foram instalados drenos radiais, com comprimentos de 20 metros.
Visando a complementação da drenagem dos túneis, foram executados drenos horizontais
profundos a partir da superfície do talude, com comprimentos não superiores a 90 metros,
sendo possível a visualização planta da região em questão na Figura 14.

Figura 14- Planta da região


Fonte: YASSUDA (1988).
29

Foi executado um corte no pé da encosta, de um talude de 60% de inclinação e 40


metros de altura, durante as obras da usina, que trouxe à ativa uma antiga região de
escorregamento, pois a escavação sucedeu num período de alta precipitação, desencadeando
assim um movimento compondo-se de, aproximadamente, 500.000 m³ de material.
Através de túneis abertos em meio ao material em processo de escorregamento e furos
executados com sonda rotativa, a partir do fundo das galerias, esse movimento foi
integralmente controlado através de drenagem. É visto, na Figura 15, a disposição dos túneis e
perfurações, e um corte geológico transversal do corpo do talude.

Figura 15- Posições dos túneis


Fonte: VARGAS (1996).

Alguns pontos de referência foram instalados em várias linhas horizontais e


executadas sondagens para monitoramento do nível da água junto a cada um desses pontos
para extrair informação quantitativa referente ao movimento de terra e os fatores que são
30

determinantes para sua velocidade, segundo TERZAGHI (1960). Para o mesmo, a drenagem
possui uma eficiência tão grande na paralisação de movimentos deste tipo que seria necessário
apenas um rebaixamento de 3 metros do lençol freático para que o movimento que
anteriormente avançada na razão máxima, por dia, de 30 cm fosse praticamente eliminado,
como pode-se ver na Figura 18.
Para neutralizar a infiltração de água pela superfície do talude, pois a maioria da
quantidade de água que abastecia o lençol freático do talude emanava da própria rocha
fissurada, foi executada uma rede de valas superficiais de drenagem e ainda uma cobertura
por uma pintura asfáltica.

Figura 16- Diagrama mostrando a relação entre a posição do nível d'água e os deslocamentos horizontais.
Fonte: GUIDICINI e NIEBLE (1976).

3.3 Estabilização de encostas através de drenagem profunda: caso de estabilização


com túnel de drenagem na Rodovia dos Imigrantes

A Rodovia dos Imigrantes, construída na década de 70, faz a ligação da cidade São
Paulo com o litoral paulista, atravessando o planalto através dos municípios de São Bernardo
e Diadema, cruzando a represa Billings, numa extensão de 30,5 quilômetros, até a altura da
interligação com a Via Anchieta, trecho caracterizado por ter um relevo abrupto e acidentado,
separando duas importantíssimas províncias geomorfológicas: Planalto Paulista e a Baixada
Litorânea, de acordo com Hessing (1976). Podendo ser vista, na Figura 17, a planta da região.
No período que se estende de outubro a março, considerada como a época das chuvas,
há deslizamentos naturais dos solos saturados pelas águas de infiltração, deixando cicatrizes
visíveis à longa distância e arrastando a vegetação superficial. Há relatos que durante as
31

estações chuvosas de 1974 e 1975, ocorreram inúmeros deslizamentos nas encostas adjacentes
à rodovia, causando muitos acidentes nas obras, sendo necessário: recuperação de obras
danificadas, implantação de grande número de obras de proteção e estabilização de taludes e
adequações nos projetos.
Segundo a Vecttor Projetos (1998 e 1999), a área do VA-19 é caracterizada por um
terreno com vegetação de médio porte e presença de blocos rochosos, de morfologia
suavizada, com alguns indícios de uma significativa contribuição humana para tal
conformação. Esta ação pode ter sido oriunda de pequenas terraplenagens durante a
construção da rodovia, em seus acessos temporários.
O nível d’água obtido pelas sondagens é bastante instável, mas mostrou-se mais
elevado nos trechos com maior espessura de solo residual.
Com apoios das torres em concreto armado, o viaduto VA-19 é formado por quatro
pilares, que ligados à superestrutura, formam um pórtico, apresentando uma plataforma final
de aproximadamente 45 metros de extensão.

Figura 17- Planta da região


Fonte: BASTOS (2006).
32

Em cada torre há uma fundação que é formada por um conjunto de quatro tubulões
(um para cada pilar). Foi constatada uma abertura de juntas dos tabuleiros adjacentes aos
apoios, por volta da década de 80 e foram instalados inclinômetros, com até 40 metros de
profundidade, piezômetros e pinos de convergência em anéis de tubulões. A escolha por
instalar tais instrumentos em grandes profundidades aponta que já se sabia que os
movimentos observados na encosta não estavam apenas associadas ao talude, que possui
espessuras de 4 metros a 8 metros neste local, mas alcançavam maiores profundidades. Com
dois tassômetros, instalados juntos aos tubulões, foi possível se ter algumas leituras, a partir
de novembro de 1991. Uma possível execução de tratamento de reforço do maciço de
fundação com colunas de solo-cimento, considerando as leituras destes dois tassômetros, foi
proposta para a rodovia. No segundo semestre de 1993 foi instalado mais um tassômetro,
tendo outras instalações seguintes. A Figura 18 mostra a leitura obtida num dos tassômetros:

Figura 18- Leitura do tassômetro.


Fonte: BUREAU (2003).

Segundo a projetista, 55 colunas de CCP teriam sido executadas em torno de cada um


dos quatro tubulões, porém estas intervenções não estabilizaram a encosta, como também não
reduziram a velocidade de sua movimentação. Foram levantadas outras duas proposições de
obras de estabilização, apresentadas pela projetista, mas que não chegaram a serem
33

executadas. Uma proposta seria a execução de duas extensas faixas de tratamento do maciço
com colunas de CCP, e a outra seria prevê um sistema de galerias subterrâneas de drenagem
constituidas por cerca de 280 m com dimensões da ordem de 3,50 x 3,50 m, com drenos
perfurados a partir do seu interior. Com a concessionária ECOVIAS a frente da concessão da
rodovia, em 1999, foram realizados estudos intensos e novos inclinômetros, medidores de
nível d’água, clinômetros e pinos de recalque foram instalados. Interpretando os dados da
instrumentação foi possível observar uma movimentação lenta e profunda do maciço, muito
abaixo da camada superficial do talude, vide Figura 19.

Figura 19– Leitura dos piezômetros.


Fonte: BUREAU (2003).

Soluções estruturais como reforços, CCP, estacas, entre outras, ou até atirantamento
foram desconsideradas para promover a estabilização definitiva do maciço, com base nos
estudos feitos e na caracterização da movimentação da encosta, já que, por conta dos enormes
esforços e a da considerável profundidade da massa a ser estabilizada, soluções como essas
seriam impraticáveis.
As grandes massas de solo e rocha em condições semelhantes às encontradas nesta
rodovia, só poderiam ser estabilizadas, de forma segura, por meio de dois tipos de soluções:
executando grandes obras de retaludamento ou instalando um sistema de drenagem profunda.
34

Levando em consideração as características topográficas, geológicas e de cobertura vegetal


existente, a primeira solução seria totalmente inviável, podendo ocasionar danos ambientais
de grande repercussão e permanentes. Com isso, a única intervenção viável e eficiente para
estabilizar a encosta foi implantar um robusto sistema de drenagem profunda, capaz de
rebaixar o N.A em vários metros, em toda a área próxima aos apoios.
Duas alternativas de projeto foram levantadas: uma por poços de grande diâmetro
interligados, e outra por túnel de drenagem. Uma grande quantidade de drenos perfurados a
partir do túnel ou dos poços, sendo a agua recolhida escoada por gravidade ate cotas inferiores
da encosta, faria a drenagem propriamente dita do maciço, nas duas alternativas.
Com fundamento nos custos, análise dos aspectos técnicos e de impacto ambiental
entre as duas opções, a alternativa em túnel de drenagem foi escolhida. Desenvolvido pelo
Escritório Técnico Figueiredo Ferraz, o projeto original do túnel de drenagem, que pode ser
visto na Figura 20, era baseado na execução de um túnel ramificado com 3,8 m de diâmetro e
280 m de extensão. O túnel consiste num trecho principal de 130 metros, referente aos túneis
1 e 2, e duas ramificações: a primeira à direita, leste, com cerca de 100 metros, identificado
como túnel 3, e a segunda à esquerda , oeste, com cerca de 50 metros, sendo o túnel 4. Tendo
em vista a necessidade da movimentação de equipamentos de escavação, em cada ramificação
foi escavada uma câmara de maior diâmetro, com cerca de 4,20 metros, sendo o suficiente
para operação e manobra das máquinas.
Com a permissão da ECOVIAS, a empresa responsável pela execução da obra,
resolveu fazer uma redução do diâmetro do túnel para 3,40 metros, em função da utilização de
equipamentos de perfuração capazes de operar em túnel desse diâmetro. O túnel é composto
por cinco drenos dispostos radialmente no teto, vide Figura 21, com comprimento de 15
metros cada, a cada 10 metros (longitudinalmente).
35

Figura 20- Planta do túnel de drenagem.


Fonte: VECTTOR PROJETOS (2000).

Figura 21- Corte da seção transversal da galeria


Fonte: A. H. TEXEIRA CONSULTORIA E PROJETOS (2000)
36

3.4 Caso de ruptura de talude associada a problemas de drenagem superficial

Observam-se ocorrências de rupturas de taludes, geralmente deflagradas por conta do


aumento do teor de umidade dos solos, nos períodos do ano de maior pluviosidade, fato que
se aplica em diversos locais do Brasil, cuja consequência predominante em muitos tipos de
solos é o decrescimento da parcela de resistência ao cisalhamento proporcionada pela sucção.
Independentemente de muitas das ocorrências estarem associadas, também, a locais
cujas execuções dos taludes foram feitas com inclinações incorretas ou até mesmo que as
medidas para evitar a ação da água não tenham sido tomadas, cada vez mais, tem-se casos
registrados indicando que as rupturas em locais onde, ao que tudo indica, foram consideradas
e tomadas as precauções em referência à proteção dos taludes e à inclinação. havendo a
suspeita de que a origem de muitos deles possam estar vinculados a deficiências no sistema de
drenagem do talude.
Foi desenvolvida uma pesquisa que compreendeu a coleta de informações no local do
evento, um talude localizado na rodovia MG-353, no bairro Quintas das Avenidas em Juiz de
Fora - MG, que apresentou ruptura após um período chuvoso, e feita a realização de ensaios
de laboratório com os solos provenientes desses locais e a execução de análises de
estabilidade de taludes. Na seção transversal do talude, do ponto médio da cunha de ruptura, é
possível notar que a parte superior do mesmo é constituída por uma camada de latossolo
vermelho amarelo (Solo A) de espessura aproximada de 1,20 metros localizada acima de uma
camada de solo saprolítico de coloração rósea claro (Solo B), vide Na Figura 22.
37

Figura 22 - Seção transversal do talude


Fonte: FERRAZ et al. (2017).

O rompimento do talude se deu na parcela inferior do talude, abaixo da berma, e teve


como agentes preponderantes alguns problemas na canaleta de drenagem. Um fato alarmante
foi percebido, que as obras referentes aos sistemas de revegetação vegetal e drenagem não
haviam sido executadas em suas totalidades, dando força para que a principal suspeita do
motivo da ruptura tenha sido a infiltração de água pela base da canaleta de drenagem da
berma, tendenciada pela síntese de alguns fatores, como: desenvolvimento de um
“reservatório de água” dentro da canaleta e, também, a ausência de revestimento no fundo da
mesma, no trecho onde aconteceu a ruptura, como é possível a visualização na Figura 23.
Com isso, a formação da cunha de ruptura observada no talude através da infiltração
de água proporcionou uma elevação acentuada do teor de umidade do solo, principalmente no
volume de solo adjacente à canaleta inacabada.
Apesar da principal causa desta ocorrência ter sido o não acabamento da execução do
sistema de drenagem superficial do talude, são observados outros problemas localizados em
pontos onde aparentemente esta foi corretamente implantado.
38

Figura 23- Vista do fundo da canaleta de drenagem, onde houve a infiltração da água que deu origem a ruptura.
Fonte: FERRAZ et al. (2017).

Com relação a esses casos, os levantamentos de campo tem mostrado que, em muitas
das ocorrências, a fundamental causa do desencadeamento destes problemas está ligada com a
não execução dos serviços de manutenção dos sistemas de drenagem, para que, com isso,
possam mantê-los intactos, desobstruídos e operantes. Na Figura 24 é possível a visualização
de um dos locais que tem apresentado problemas, onde o local a vegetação havia invadido e
tomado toda a canaleta.

Figura 24- Canaleta sem manutenção, coberta pela vegetação


Fonte: FERRAZ et al. (2017).
39

4 EXPERIMENTOS DESENVOLVIDOS

4.1 Caracterização

Analogamente ao estudo comparativo descrito anteriormente, realizado pela


SOLOTRAT, foi comparado a capacidade de drenagem entre um tubo PVC perfurado, um
tubo PVC ranhurado e um geocomposto drenante (também chamado de dreno linear), esse
último já consolidado e amplamente utilizado em drenagens nas estruturas de contenção do
tipo solo grampeado, totalizando três opções para composição de um sistema de drenagem.
Diferentemente à observação feita em estudos prévios, esses dispositivos de drenagem
foram dispostos na vertical, simulando uma aplicação num painel de solo grampeado, por
exemplo. Os drenos, perfurado e ranhurado, vide Figura 25, resultam da instalação de tubos
plásticos de PVC rígido com diâmetro de 50 mm.

Figura 25- Tubos de PVC utilizado como drenos, confeccionados: perfurado à esquerda e ranhurado à direita.
Fonte: Produção do autor

Estes tubos, além de tampados no topo para evitar a contribuição direta, também
receberam um recobrimento por manta / tela geotêxtil. O dreno perfurado resulta de se
executar perfurações de 6,0 mm diametralmente opostas a cada 60 milímetros, duas a duas
ortogonais. Também são cobertos por duas camadas de tela de nylon, malha 30, visto na
Figura 26.
40

Figura 26- Recobrimento dos drenos com tela.


Fonte: Produção do autor

Para um comprimento de 45 cm tem-se uma área perfurada de 4,24 cm². O dreno


ranhurado resulta da execução de rasgos de 0,4 mm com 35 mm de extensão a cada 17,5 mm,
envolvido da mesma forma que o dreno perfurado, com duas camadas de tela de nylon, em 45
cm de extensão, tendo uma área perfurada de 3,53 cm².
O geocomposto drenante é um sistema de drenagem planar. É feito por adesão termal
um núcleo de drenagem tri-dimensional de mono-filamentos extrudidos entre dois geotêxteis
não tecidos que também podem trabalhar nas funções de separação ou proteção camadas. O
núcleo de drenagem de tridimensional do tapete tem uma configuração de “W” de canais
paralelos longitudinais. Como no experimento, se tratando de uma simulação e tendo o espaço
de trabalho reduzido, não foi instalado o coletor, já que na saída dos dispositivos estavam os
recipientes para leitura do volume drenado.
Esse geossintético é considerado a evolução tecnológica dos drenos tradicionais, onde
combina-se um núcleo altamente drenante (que substitui a brita), para permitir o rápido
escoamento da água com um filtro (que substitui o geotêxtil) para inibir a passagem do solo
permitindo a passagem da água, conforme pode ser visto na Figura 27, sendo ambos
fabricados com material sintético.
41

Figura 27- Esquema de escoamento de geotêxtil


Fonte: COSTA et al. (2015)

A grande vantagem é ter um só produto com os benefícios dos dois sistemas. Além
disso, são usados para aplicações não só de drenagem, mas filtração, separação, proteção,
reforço, controle de erosão, entre outras.
Mas apesar do geotêxtil funcionar como um filtro que impede que as partículas de solo
adentrem ao núcleo, e, consequentemente, impedindo perda da eficácia do dreno pelo
entupimento do sistema, o mesmo não é válido ou garantido para camadas de concreto que
possam se aglomerar na superfície do geotêxtil, ocasionando uma redução significativa na
eficácia do dreno.

Figura 28 - Geocomposto drenante utilizado


Fonte : Elaborada pelo autor.
42

O geocomposto é leve e flexível para drenagem, cujo núcleo drenante é constituído


por uma geomanta tridimensional com espessuras de 10 ou 18 mm. Esta geomanta é fabricada
a partir de filamentos de polipropileno ou poliamida (nylon), tendo índice de vazios em torno
de 95%.
Como visto, anteriormente, na revisão bibliográfica, na execução de certas contenções
de taludes, como exemplo o solo grampeado, se faz uso de concreto projeto, com a aplicação
in loco, fazendo muitas vezes com que os dispositivos de drenagem fiquem obstruídos e
percam sua capacidade de captação, tornando-o um dreno “cego”, como assim é chamado.
Visando uma simulação do que é comum ocorrer em campo, foi projetada uma camada de
argamassa, no traço 1:1 em volume, numa das faces do dreno linear, assim comprometendo
uma parcela de sua captação, conforme Figura 29 e Figura 30. Em sua instalação no tonel, o
dreno foi disposto com a face projetada em comum à parede do tonel, análogo à situação
encontrada em obra.

Figura 29- Geocomposto drentante com uma face obstruída por argamassa
Fonte: Produção do autor
43

Figura 30- Gecomposto drentante com duas faces obstruída por argamassa
Fonte: Produção do autor

4.2 Instalação e Execução

O tonel foi preenchido com material natural extraído de terreno, vide Figura 31, no
qual estava se executando uma obra de contenção do tipo solo grampeado.

Figura 31- Amostra de material utilizado em experimento


Fonte: Produção do autor
44

Observa-se que, para não favorecer a captação de algum dos drenos, o tonel foi divido
de forma igual para todos, resultando em aberturas feitas espaçadas em 120°, de eixo a eixo,
podendo ser visto na Figura 32.

Figura 32- Vista superior da configuração de espaçamento dos drenos.


Fonte: Produção do autor

O preenchimento com solo foi feito em camadas, compactando a cada 10 cm,


procurando-se aproximar ao estado do solo quando coletado e assentando o mesmo, Figura
33(a), atingindo uma altura de 56 cm com relação ao fundo do tonel, possível para encobrir os
drenos, como é possível visualizar na Figura 33(b).

Figura 33- (a) Preencimento parcial do tonel. (b) Cobrimento total dos drenos com solo.
Fonte: Produção do autor
45

Passada esta etapa, foi adicionada a água, chegando a uma altura entre solo e
lâmina d’água de 20 cm, vide Figura 34, resultando num volume de, aproximadamente, 50
litros. É importante ressaltar que tal volume foi acrescentado no centro do tonel, evitando,
assim também, que a captção fosse tendenciada para algum dreno. Outro cuidado,
devidamente considerado, foi com relação à forma e vazão que a água foi inserida, tal que não
houvesse remoção de parte do solo devido à intensidade, no local de despejo.

Figura 34- Representação de corte lateral no tonel, mostrando configuração vertical dos drenos.
Fonte: Produção do autor

Na Figura 35, pode-se ver que para recolhimento e aferição dos volumes drenados em cada
dispositivos, foram colocados recipientes graduados, nos quais eram feitas as leituras de até
500 ml.

Figura 35- Recipientes dispostos na saída de cada dispostivo.


Fonte: Produção do autor
46

5 RESULTADOS

Após a realização de todos os procedimentos descritos nos itens anteriores, foi


quantificado o volume captado em cada dreno, vide Tabela 1. Nota-se que do volume
inicialmente inserido no tonel, aproxidamente, 29,8 litros foram absorvidos pelo solo,
anteriormente seco.

Tabela 1- Volume drenado em cada dispositivo.


Fonte: Produção do autor
Dreno Volume Drenado
(l)
Tubo PVC Ranhurado 4,125
Tubo PVC Perfurado 6,850
Geocomposto Drenante 9,200

Em outro momento, desta vez simulando a camada de concreto projetado numa das
faces, foi quantificado o volume captado em cada dreno. Do volume inicialmente inserido no
tonel, aproximadamente, 30,6 litros foram absorvidos pelo solo, como pode-se observar na
Tabela 2.

Tabela 2- Volume drenado em cada dispositivo, com geocomposto drenante obstruído numa das faces.
Fonte: Produção do autor
Dreno Volume Drenado
(l)
Tubo PVC Ranhurado 3,900
Tubo PVC Perfurado 7,300
Geocomposto Drenante 8,400

Aplicando-se argamassa nas duas faces, buscando a simulação da pior situação


provável, o volume inicialmente inserido no tonel, aproximadamente, 34,3 litros foram
absorvidos pelo solo. Percebe-se, através da Tabela 3, uma queda de desempenho do dreno
ranhurado, quando comparado com comportamentos anteriores.
47

Tabela 3- Volume drenado em cada dispositivo, com geocomposto drenante obstruído nas duas faces.
Fonte: Produção do autor

Dreno Volume Drenado


(l)
Tubo PVC Ranhurado 0,430
Tubo PVC Perfurado 7,500
Geocomposto Drenante 8,100

Observando os dados e o fluxo drenado no terceiro experimento, o dreno linear,


novamente, teve o melhor desempenho, porém menor com relação as outras situações,
perdendo cerca de 12% de sua capacidade total.
48

6 CONCLUSÃO

De acordo com a proposta inicial do trabalho, o levantamento dos sistemas de


drenagem foi fundamental para diferenciar as aplicações dos diferentes métodos atentando
para as peculiaridades de cada sistema.
Com isso, é possível concluir que em vários casos, nos quais foram adotados as
soluções de estabilização através de sistemas de drenagem, foram extraídas boas respostas e
obtidos excelentes desempenhos, mesmo nas situações em que estavam em questão diferentes
países, com diferentes configurações de solo, entre outras distinções.
Portanto, é imprescindível dar a merecida atenção para os sistemas de drenagem, pois,
dependendo da situação abordada, dimensões das massas de solo a serem estabilizadas, e do
nível de instabilidade já alcançado, esses sistemas não mais serão considerados
“complementares” numa obra de contenção de talude, mas passarão a ocupar a posição de
principais responsáveis pela estabilização da massa de solo.
Com relação aos experimentos, o primeiro mostrou que o geocomposto drenante levou
vantagem quando comparado entre os três drenos, com diferença bastante expressiva de
volume captado comparado com os outros dispositivos, tubos PVC (ranhurado e perfurado),
chegando a sozinho captar 45,6 % do volume total despejado, tendo uma eficiência maior que
o dobro do PVC ranhurado e 34% a mais que o PVC perfurado.
Feita a simulação, obstruindo uma face do geocomposto drenante com uma camada de
argamassa, o geocomposto drenante ainda permaneceu em vantagem quando comparado com
os outros dois drenos, com diferença, desta vez, não tanto expressiva de volume captado
comparado com os outros dispositivos, tubos PVC (ranhurado e perfurado). A contribuição do
PVC perfurado ainda permaneceu superior ao dreno ranhurado, esse apresentando uma queda
no desempenho.
No terceiro experimento, observou-se um desempenho anormal do tubo PVC
ranhurado, no qual teve, num dado momento, parte de suas aberturas obstruídas,
provavelmente devido a espessura e granulometria do material próximo ao dreno,
apresentando um baixo volume drenado. Isto alerta a necessidade de outros experimentos,
visando a otimização da espessura dos rasgos, como a alteração do espaçamento, procurando
um melhor desempenho.
49

O geocomposto drenante teve excelente desempenho sob todas as condições impostas


nos experimentos, porém vale ressaltar que seu material tem elevado coeficiente de
permeabilidade.
O desenvolvimento do experimento forneceu dados que permitiram quantificar e
comparar a eficiência dos drenos. As análises ficaram restritas aos três drenos, deixando como
sugestão para um trabalho futuro o desenvolvimento de experimentos comparando a
eficiência de outros tipos de dispositivos, variando os espaçamentos dos rasgos.
Com relação à espessura da camada aplicada na simulação de concreto projetado, em
muitos casos, em obras de solo grampeado, é comum observar o dreno linear totalmente
envolvido, chegando a uma situação de não drenar. Com isso, fica a sugestão de uma
verificação quanto ao comportamento da água infiltrada com a camada, conferindo se há o
aparecimento de fissuras na camada, possivelmente desenvolvidas no manuseio e instalação
da configuração do tonel.
50

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Anexo 1 – Tabela com os tipos de problemas encontrados em taludes relacionados as formas


de suas ocorrências e principais causas responsáveis pelo ocorrido. Fonte: MARANGON
(2009).

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