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INTRODUÇÃO
David Paulo Succi Junior — Doutorando e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Relações
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graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas”. Professor Titular da Unesp. Pesquisador
PQ CNPq. Pesquisador Fapesp (2017/21557-4). Coordenador-Executivo do IPPRI/Unesp.
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como o foi na Argentina. Ainda que na década de 1990 houvesse certa des-
confiança das forças armadas em relação aos interesses estadunidense no
envolvimento dos militares neste tipo de operação (Santos 2004), a função
GLO e o papel interventor das forças armadas que legitimava a mobilização
militar no âmbito doméstico não foi questionado. Desde a década de 1990,
recorreu-se frequentemente ao emprego de militares em operações de se-
gurança pública — entre janeiro de 1992 e junho de 2018, foram realizadas
132 operações de GLO no país (Brasil 2020). Houve um esforço de institu-
cionalizar estas operações através da legislação infraconstitucional. Neste
sentido, além da Constituição de 1988, que manteve a garantia da lei e da
ordem entre as funções das forças armadas, em 1991, a Lei Complementar
69 limitou a prerrogativa de requisitar a atuação castrense no interior das
fronteiras nacionais ao presidente da República. Esta primeira norma foi
posteriormente substituída pela Lei Complementar 97 de 1999, a qual de-
terminou que a atuação militar neste tipo de operação deve ocorrer apenas
quando os instrumentos destinados à segurança pública forem considera-
dos esgotados. Esta segunda lei foi alterada duas vezes. Em 2004, pela Lei
Complementar 117, e em 2010, pela Lei Complementar 136. A primeira es-
tabeleceu que os mecanismos de segurança pública são considerados esgo-
tados quando o chefe do Executivo Federal ou Estadual assim os reconhe-
cerem, enquanto a segunda incluiu ao conjunto de funções militares ações
preventivas e repressivas contra crimes transfronteiriços e ambientais.
Soma-se ainda a este conjunto de normas o Decreto 3897, de 2001, que
fixou as diretrizes para o planejamento, coordenação e execução das opera-
ções de GLO e a Lei 13.491, de 2017, que, por pressões das forças armadas,
transferiu para a Justiça Militar a responsabilidade de julgar soldados que
cometerem crimes dolosos contra a vida de civis durante operações mili-
tares. Destaca-se ainda que, em 2005, foi criado o Centro de Instrução de
Operações de Garantia da Lei e da Ordem, destinado ao adestramento e
produção de doutrina militar voltada à atuação em operações domésticas.
Reafirmando a institucionalização destas funções, em 2013, o Ministério
da Defesa publicou um documento que estabeleceu orientações para o pla-
nejamento e emprego das forças armadas nas ações de GLO.
Por tanto, pode-se observar que, independentemente das alterações
conjunturais de ameaças e dos grupos considerados inimigos internos,
manteve-se inalterado o papel interventor das forças armadas no Brasil.
Por fim, destacamos que, ao passo que no Brasil há uma constante reafir-
mação do papel interventor, na Argentina houve mudanças vistas como o
tensionamento do papel militar consolidado no consenso básico em maté-
ria de defesa. É representativo, neste sentido, o estabelecimento, em 2011,
de dois programas de proteção de fronteira: o Fortín II, do Ministério da
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CONCLUSÕES
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NOTAS
1. Termo em inglês que se refere a desfocar.
2. Uma série de operações domésticas desenvolvidas pelas forças armadas
não envolvem o uso da violência. Neste artigo sempre que mencionarmos
operações militares internas nos referimos às ações em que há a possibili-
dade ou uso efetivo da força.
3. A expressão “novas ameaças” refere-se a questões não necessariamente no-
vas, mas que no contexto do pós-Guerra Fria passaram a ser consideradas
ameaças aos Estados e suas sociedades, entre as quais estão: narcotráfico,
tráfico de armas, terrorismo, degradação ambiental, migrações e pobreza
extrema (López 2003).
4. Mantivemos a ortografia e grafia original, tanto no nome da revista quan-
to na citação
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RESUMO
O presente artigo busca compreender a divergência do padrão de emprego das for-
ças armadas brasileiras e argentinas entre 1990 e 2018. Neste período, os militares
argentinos foram treinados e utilizados exclusivamente para defesa contra amea-
ças externas oriundas de outros Estados, enquanto as Forças Armadas brasileiras
foram empregadas essencialmente para lidar com problemas internos, relaciona-
dos a atores não-estatais. Questionamos três principais explicações consolidadas
na literatura: 1) as missões militares são respostas pragmáticas a uma realidade
objetiva; 2) o direcionamento das forças armadas para o interior das fronteiras do
Estado corresponde à falência do controle político sobre as instituições militares;
3) operações militares domésticas resultam de pressões externas. Consideramos
que estas perspectivas não respondem ao nosso problema de pesquisa e propomos
lidar com esta lacuna através do conceito de papel social, definido como o conjunto
de expectativas sociais sobre as práticas militares. Argumentamos que a divergên-
cia observada na atribuição de missões aos instrumentos de defesa na Argentina e
no Brasil pode ser entendida através das dinâmicas históricas de ruptura e conti-
nuidade do papel militar nesses países.
ABSTRACT
The current paper aims to understand the divergence in the patter of deployment
of the Brazilian and Argentine armed forces between 1990 and 2018. During this
period, the Argentine military was trained and used exclusively to the defense
against external threats from other states, while the Brazilian Armed Forces were
mainly deployed to tackle internal issues related to non-state actors. We ques-
tion three main explanations consolidated in the literature: 1) military missions
are pragmatic responses to an objective reality; 2) the armed forces mobilization
within the state’s borders corresponds to the failure of political control over mi-
litary institutions; 3) domestic military operations results from external pressure.
We consider that these perspectives do not answer our research problem and we
propose to tackle this gap through the concept of social role, defined as the set of
social expectations about military practices. We argue that the divergence obser-
ved in the missions assigned to the defense instruments in Argentina and Brazil
can be understood through the historical dynamics of disruption and continuity
in the military role.
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