Texto Neurociências e Aprendizagem
Texto Neurociências e Aprendizagem
Texto Neurociências e Aprendizagem
NEUROCIÊNCIAS E APRENDIZAGEM
Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira1
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Texto extraído da tese de doutorado da autora e publicado pela Editora Pimenta Cultural.
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Crescer e aprender pressupõe não só ter garantida a integridade funcional do
cérebro e de suas múltiplas atividades complexas, como a linguagem (verbal, corporal,
musical), a atenção e a memória, mas, acima de tudo, garante a flexibilidade adaptativa
necessária para modular funções e conexões mediante os diferentes desafios do mundo.
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A neurociência compreende o estudo do sistema nervoso e suas ligações com
toda a fisiologia do organismo, incluindo a relação entre cérebro e
comportamento. O controle neural das funções vegetativas – digestão,
circulação, respiração, homeostase, temperatura-, das funções sensoriais e
motoras, da locomoção, reprodução, alimentação e ingestão de água, os
mecanismos da atenção e memória, aprendizagem, emoção, linguagem e
comunicação, são temas de estudo da neurociência (VENTURA, 2010,
p.123).
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Neuroplasticidade é qualquer modificação do sistema nervoso que não seja periódica e que
tenha duração maior que poucos segundos. Ou ainda a capacidade de adaptação do sistema
nervoso, especialmente a dos neurônios, às mudanças nas condições do ambiente que
ocorrem no dia a dia da vida dos indivíduos, um conceito amplo que se estende desde a
resposta a lesões traumáticas destrutivas até as sutis alterações resultantes dos processos
de aprendizagem e memória. (BORELLA; SACCHELLI, 2009, p. 162)
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(...) o hemisfério esquerdo é responsável pelas funções de análise,
organização, seriação, atenção auditiva, fluência verbal, regulação dos
comportamentos pela fala, praxias, raciocínio verbal, vocabulário, cálculo,
leitura e escrita. É o hemisfério dominante da linguagem e das funções
psicolingüísticas. O hemisfério direito é responsável pelas funções de síntese,
organização, processo emocional, atenção visual, memória visual de objetos e
figuras. O hemisfério direito processa os conteúdos não-verbais, como as
experiências, as atividades de vida diária, a imagem das orientações espaço-
temporais e as atividades interpessoais (FONSECA, [s.d.], apud KAUARK,
2008, p. 266).
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Dessa forma, de acordo com Russo (2015), a neurociência contribui para que os
profissionais de educação entendam melhor os processos cognitivos e metacognitivos
envolvidos na aprendizagem e nas dificuldades de aprendizagem dos estudantes,
possibilitando que os profissionais de educação, principalmente os docentes
universitários que lidam com estudantes com dificuldades de leitura e de compreensão
possam se instrumentalizar para trabalhar com novas metodologias de ensino,
intervindo ativamente no processo de aprendizagem de seus estudantes.
No córtex cerebral, que é dividido em quatro regiões: lobo frontal, que está
envolvido com o planejamento e com o movimento voluntário; o lobo
parietal, com as sensações da superfície corporal e percepção espacial; o lobo
occipital, com a visão; e o lobo temporal, com a audição, a percepção visual e
a memória. Os processos mentais constituem os fundamentos da percepção,
da atenção, da motivação, da ação, do planejamento e do pensamento, além
da própria aprendizagem e memória (SQUIRE E KANDEL, 2003, apud
RUSSO, 2015, p. 49).
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A atenção dividida é importante nos momentos em que o sujeito precisa prestar
atenção em dois ou mais estímulos simultaneamente para realizar uma atividade. O ser
humano faz isso muitas vezes ao dia, por exemplo: verificar e-mail enquanto assiste à
aula, conversar enquanto dirige. Como afirma Russo, “a atenção dividida seria a
possibilidade de o indivíduo manter sua atenção em estímulos diferentes para executar
duas ou mais tarefas distintas simultaneamente” (RUSSO, 2015, p. 51).
A atenção alternada é utilizada quando o sujeito precisa prestar atenção em
estímulos diferentes, mas não ao mesmo tempo e, sim de forma alternada, como por
exemplo, ao ler uma receita culinária e depois executá-la, mas, ao executá-la,pode
retornar à leitura da receita quando necessitar lembrar-se de algo. Neste caso, o foco de
atenção pode ser alternado entre diferentes atividades que apresentem diferentes níveis
de compreensão. Russo colabora com o assunto, afirmando que: “a atenção alternada
consistiria na capacidade de o indivíduo ora manter o foco de atenção em um estímulo
ora em outro” (RUSSO, 2015, p. 51).
A atenção sustentada é utilizada durante um período de aula, por exemplo,
durante uma atividade que exige a manutenção do foco por um período contínuo de
tempo sem distrações. Segundo Russo (2015, p. 51), “a atenção sustentada refere-se à
capacidade do indivíduo de manter sua atenção em um estímulo, ou sequência de
estímulos, durante o tempo necessário para executar a tarefa”.
A atenção seletiva é utilizada na sala de aula, quando o estudante consegue se
concentrar na voz do professor, mesmo com distrações, como barulhos e conversas
paralelas entre os colegas estudantes. Este tipo de atenção é um ato consciente de se
concentrar e evitar distrações oriundas de estímulos externos ou internos. Para Russo “a
atenção seletiva leva o indivíduo a responder de maneira seletiva a determinados
estímulos e a inibir aqueles que são irrelevantes” (RUSSO, 2015, p. 51).
A atenção concentrada é utilizada quando o sujeito estuda, dirige ou executa
uma tarefa que exige a concentração em um determinado estímulo, enquanto exclui os
demais à sua volta. De acordo com Russo, “a atenção concentrada é a capacidade de
selecionar apenas uma fonte de informação, dentre outra que se encontram ao redor num
determinado momento, e manter o foco nesse estímulo,alvo ou tarefa no decorrer do
tempo” (RUSSO, 2015, p. 51).
A atenção, nos seus diferentes tipos de classificação, tem uma importância
fundamental para a aprendizagem, pois para reter a informação é necessário que se
tenha atenção ao que foi lido, escrito, falado, sentido ou ouvido em relação à
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informação. A memória depende da percepção e da atenção pra que possa cumprir seu
papel que é, segundo Russo (2015, p. 54), “a aquisição, formação, conservação e
evocação das informações.” A autora classifica a memória em memória imediata, de
trabalho e de longo prazo:
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As funções executivas organizam as capacidades perceptivas, mnésicas e
práxicas dentro de um contexto, com a finalidade de: eleger um objetivo;
decidir o início da proposta; planejar as etapas de execução; monitorar as
etapas, comparando-as com o modelo proposto; modificar o modelo, se
necessário; avaliar o resultado final em relação ao objetivo inicial (Cypel,
2006). Tais processos não estão presentes apenas durante um processamento
cognitivo, mas são requeridos também em decisões pessoais, e interações so-
ciais, envolvendo, entre outros aspectos, desejo e motivação (LEZACK et al.,
2004, apud CORSO, 2013, p. 24).
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Memória de Trabalho
► Lembrar-se de um número de telefone tempo suficiente para discá-lo;
► Lembrar-se de ter colocado sal na comida, antes de ajudar o filho a encontrar o
sapato;
► Ler um texto e manter na mente as informações, conectar informações de um
parágrafo para o outro, para conseguir interpretá-lo;
► Fazer um problema de aritmética com várias etapas, acompanhar os movimentos e
decidir um próximo passo em um jogo de damas, seguir instruções com várias etapas
sem pistas;
► Também ajuda nas interações sociais, como planejar e atuar em uma cena, revezar
em atividades de grupo;
Controle Inibitório
► Controla e filtra nossos pensamentos e impulsos para resistir às tentações, distrações
e hábitos e parar e pensar antes de agir;
► Envolve a atenção seletiva, focada e mantida, priorização e ação;
► Impede-nos de fazer qualquer coisa que venha à nossa cabeça;
► Nos afasta dos devaneios, faz com que possamos esperar a nossa vez, por ex: “frear
a nossa língua” e controlar nossas emoções, mesmo quando estamos com raiva, agitados
ou frustrados;
Flexibilidade Mental
► Permite-nos encontrar erros e corrigi-los, rever as formas de fazer as coisas
conforme as novas informações, considerar algo a partir de uma nova perspectiva;
► Capacidade de mudar agilmente as engrenagens e ajustá-las para atender as
prioridades.
► Autocontrole e persistência são ativos, a rigidez não é.
► Tentar estratégias diferentes quando estão resolvendo um conflito
Alguns componentes de F.E como atenção seletiva, flexibilidade cognitiva e
planejamento atingem a sua maturidade mais tardiamente se comparadas às demais
habilidades de funções executivas. Há grandes diferenças individuais na capacidade de
as crianças organizarem essas habilidades em desenvolvimento. As habilidades de
funções executivas continuam a amadurecer até o início dos 30 ou 40 anos.
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Metacognição
Subestratégias de Controle
Planejamento previsão das etapas, a escolha de estratégias De acordo com
em relação ao objetivo da tarefa. Nela são Célia Ribeiro
considerados os resultados de cada ação; são (2003), a
as tarefas reconhecidas na gestão do metacognição em
pensamento e consistem em organizar a forma ação, ou seja, o
como as informações serão tratadas, o autocontrole
estabelecimento de um objetivo, uma cognitivo, diz
determinação dos recursos disponíveis, a respeito às
seleção dos procedimentos a seguir para reflexões pessoais
alcançar a meta desejada e a programação do sobre a organização
tempo e esforço e a planificação da
ação antes do início
Regulação ligada às intervenções que se fazem depois que
da tarefa
ou se detectaram, no planejamento, as atividades
(planejamento), aos
supervisão que necessitam de uma monitorização, ou seja,
ajustamentos que
consiste em controlar o processo para o
se fazem enquanto
objetivo da tarefa.
se realiza a tarefa
Por meio da observação de como o estudante
(regulação) e às
utiliza a regulação da tarefa, pode-se entender
revisões
seu processo de aprendizagem e fazer as
necessárias à dos
devidas intervenções.
resultados obtidos
Avaliação ligada à vigilância daquilo que se faz para a (avaliação).
verificação dos progressos e à avaliação da Entretanto, esses
conformidade e da pertinência das etapas processos não são
seguidas, dos resultados obtidos. lineares e recorrem
entre si.
REFERÊNCIAS
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CORSO, Helena Vellinho et al. Metacognição e Funções Executivas: Relações entre
os Conceitos e Implicações para a Aprendizagem.Brasília: Psicologia: Teoria e
Pesquisa. jan-mar 2013, v. 29 n. 1, p. 21-29
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