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AUG∴ RESP∴ LOJ∴ SIMB∴ RESNASCIMENTO E JUSTIÇA

Nº 179 – OR∴ MANHUAÇU-MG


Carlos Roberto Sousa das Silva Bastos - Apr∴ M∴
Placet 32697

A CORDA DE OITENTA E UM NÓS


Um Pequena Análise Histórica, Semiótica e Esotérica

MANHUAÇU – MG
2022
CARLOS ROBERTO SOUSA DA SILVA BASTOS

Trabalho apresentado em cumprimento parcial às exigências para


Elevação ao Segundo Grau Maçônico

AUG∴ RESP∴ LOJ∴ SIMB∴ RESNASCIMENTO E JUSTIÇA – Nº 179 – OR∴ MANHUAÇU-MG


2022
“Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende,
isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria
linguagem, você atinge o seu coração.”
Nelson Mandela.
SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO................................................................................. 5
II - OBJETO E DESENVOLVIMENTO .......................................................8
II. a) Descrição e Posicionamento ........................................................8
II. b) Origem.........................................................................................8

II. c) Elementos Intrínsecos...................................................................9

II. d) Confecção da Corda......................................................................9

II. e) Laços...........................................................................................10

II. f) Laços e o Lemniscata (Infinito ou Oito Deitado ...........................11

II. g) Número 81 (3⁴) ...........................................................................11

II. h) O Primeiro Nó (ou Laço 1) ...........................................................12

II. i) Quarenta ao Norte Quarenta ao Sul ............................................12

II. j) Borlas..........................................................................................12

III – CONCLUSÃO ................................................................................14

IV – REFERÊNCIAIS ..............................................................................15
A CORDA DE OITENTA E UM NÓS
Um Pequena Análise Histórica, Semiótica e Esotérica

I – INTRODUÇÃO

Ao longo do processo civilizatório humano, o emprego de alegorias,


símbolos, metáforas, fábulas e outras figuras linguísticas foram e são comuns na
transmissão dos conhecimentos e experiências entre gerações. Com as alegorias
metafóricas e simbólicas em especial, constroem-se narrativas, atribuindo sentido
diversos da coisa tangível.
Para cumprir seus objetivos, a Maçonaria1, desde de seu surgimento
junto aos operativos Pedreiros Livres ingleses, apropria-se a Maçonaria das técnicas
figurativas de linguagem. Os rituais, paramentos, símbolos, alegorias remetem-nos a
todo instante à meditação sobre o profundo ensinamento incrustados nas imagens,
figuras, obras de artes, adornos, signos, ícones e palavras dispostos com justa e prefeita
precisão em nossos Templos. O ensino maçônico busca especialmente na figura
linguística alegórica, narrativas metafóricas e simbólicas visuais, reunindo conjuntos
simbólicos - em regra apropriados das ferramentas existentes nas oficinas dos obreiros
antigos - para instruir seus membros nos diversos ramos do conhecimento humano.
Mas a Maçonaria não foi a primeira e a única a instrumentalizar figuras
de linguagem no ensino. O emprego das alegorias simbólicas e metafóricas remontam à
antiguidade. Em cavernas encontramos hoje desenhos simbolizando o dia a dia do
homem primitivo. Os egípcios a empregavam em sua mitologia para tentar explicar
fenômenos sociais, culturais e atmosféricos2; na Grécia Antiga, de onde obtivemos as
bases de nossos conhecimentos filosóficos e políticos modernos, usaram
exaustivamente as figuras de linguagem em seus ensinamentos3. Da mesma forma,
temos os romanos empregando figuras alegóricas para descrever o psicológico humano,
a natureza, a sociedade de sua época.
Talvez o personagem antigo mais conhecido entre nós a empregar a
figura linguística da alegoria metafórica e ensinar seus seguidos seja Jesus de Nazaré4.
Em passagens do Novo Testamento Jesus usa a parábola para se comunicar com o povo

1
A Maçonaria é uma Ordem iniciática, universalista, que procura, através dos seus trabalhos rituais, iluminar a consciência e elevar
o espírito com vista ao aperfeiçoamento moral e intelectual dos seus membros e, por essa via, ajudar a construir uma sociedade
mais justa e perfeita. ARNAUT, Antônio, Introdução à Maçonaria, Imprensa da Universidade de Coimbra; Coimbra, pág 72.
2 Os egípcios empregavam mitos como da deusa da guerra Sekhmet para demonstrar que o conflito bélico levaria ao fim da
humanidade.
3 Um exemplo é a Alegoria da Caverna, onde Platão debate a condição humana e a saída do homem da ignorância e sua passagem
gradativa ao conhecimento do mundo real.
4 As metáforas de Jesus costumam ser simples na forma e profundas no conteúdo. Algumas são expressões extremamente densas,
concisas e cheias de sabedoria, inseridas no meio de um discurso mais longo. Exemplo: "Pois onde estiver o cadáver aí se juntarão
os abutres" (Mt 24, 28) ou "segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos" (Mt 8,22) e ainda "os últimos serão os primeiros
e os primeiros serão os últimos" (Mt 20, 16). Costumam ser frases taxativas, peremptórias, provérbios populares, sem margem a
resposta. Outras se desenvolvem de maneira mais alinhavada, em forma de parábolas, a linguagem por excelência do profeta de
Nazaré (Alfredo J. Gonçalves, CS, superior provincial dos missionários carlistas e assessor das pastorais sociais,
https://www.revistamissoes.org.br/2010/06/as-metaforas-de-jesus/).

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de forma simples, pois entendia que deveria atingir homem médio de igual forma ao de
maior cultura. Vemos no Livro Cristão as metáforas da “água em vinho”, “o filho
pródigo”, “do semeador”, dentre outras.
Figuras de linguagem não estão somente na escrita. Encontrá-la-emos
em obras de artes como estátuas, quadros, músicas. Um exemplo moderno de narrativa
alegórica está no quadro Guernica, de Pablo Picasso, cuja pintura retrata o terror da
Guerra Civil Espanhola e projeta-nos todo sofrimento e desespero do povo.
Em nossas Lojas, especialmente em nossos Templos, encontramos um
complexo semiótico com enorme conteúdo cognitivo voltado para uma programação
neurolinguística associativa5 dos iniciados.
O esoterismo6 maçônico exige o uso da linguagem figurada e da
semiótica para instruir seus membros como meio para ocultação dos segredos da
Maçonaria. A natureza discreta7 de nossa Sublime Ordem exige ferramentas para
manter seus mistérios e são nos símbolos, metáforas, fábulas, alegorias que os mantém
ocultos dos profanos e apresentados aos Obreiros.
Assim, alegorias8, em especial, são facilitadoras do ensino e da
aprendizagem quando permitem criar uma narrativa partindo de símbolos que são
desvendados a um universo restrito de indivíduos iniciáticos, enquanto são ocultados
do profano. Por meio dos símbolos, fábulas, metáforas e demais figuras de linguagem
é possível ilustram na mente do instruendo informações complexas. São ferramentas de
comunicação onde se busca tornar visual novos conhecimentos forçando a imaginação
associativa à utilidade do objeto tomado figurativamente. Diferente do símbolo,
também muito usado em nosso ensino maçônico, a alegoria é uma história que exige
interpretação enquanto o primeiro é por si suficiente, algo pronto e acabado.
É bom nunca esquecer que as alegorias, símbolos e outros não podem
e não devem ser interpretadas subjetivamente pelo exegeta. Este, deve buscar nos
diversos ramos do conhecimento humano a interpretação de seu sentido real. Não se
pode esperar do Maçom sua interpretação subjetiva pura de todo arcabouço semiótico
maçônico. Isto seria algo próximo à psicanálise e não ao processo de transmissão de
conhecimento acumulado.

5 A Programação Neurolinguistica (PNL) pode ser definida como um conjunto de técnicas que ensina a entender os processos
internos das pessoas através da identificação dos padrões de linguagem verbal e não verbal. PNL e, basicamente, comunicação do
indivíduo consigo mesmo, com as outras pessoas e com os acontecimentos. FURTADO, Chandler; PNL e Maçonarias; em
https://pt.scribd.com/document/122471898/PNL-e-Maconaria.
6 Esoterismo diz-se do ensino que, em certas escolas da Grécia antiga, destinado a discípulos particularmente qualificados,
completava e aprofundava a doutrina. Afirma-se ser o método de ensino originário de Aristóteles e comum nos ensinamentos
ministrados a círculo restrito, iniciáticos e fechado a ouvintes externos. Dicionário Michaelis On-Line.
7
Optamos pelo adjetivo “Discreto” e não “Secreto”. Este parece ser o entendimento moderno para a Maçonaria. A Maçonaria não
é secreta, mas discreta, reservada em suas ações. O que é secreto ao profano são seus reais segredos cujo ensino esotérico se volta
somente e exclusivamente aos iniciados.
8 Vamos assumir com a etimologia do termo aquilo que o dicionarista Houaiss (2007, p. 146) trata como o modo de expressão
representar pensamentos, ideias sob a forma figurada; acentua também como derivado do grego allégoría, que é formado de állos
“outro” + agoreúó: “falar numa assembleia, falar em público, discorrer oralmente em público”. Alegoria, também como dizer outra
coisa além do sentido literal das palavras ou “significação encoberta”.

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Nosso objeto de estudo neste trabalho, A Corda de 81 Nós, não pode


ser analisada puramente com um olhar simplista, desconsiderando a a filosofia, teologia,
psicologia, numerologia, matemática e todas demais áreas de conhecimento que
fundamentaram sua apropriação e emprego na ornamentação de nossa Loja. A Corda
de 81 Nós, é uma das mais empolgantes, complexas, controversas, mas acima de tudo,
belas narrativas alegóricas que ornamentam nossos Templos Maçônicos.

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II - OBJETO E DESENVOLVIMENTO

O Dicionário de Termos Maçónicos diz-nos que Corda de Oitenta e Um


Nós é a corda que circunda a Loja, que simbolizam a União e a Fraternidade que deve
existir entre todos os Maçons à face da Terra. É deste conceito que partimos para
analisar esta complexa alegoria.
Em nosso Manual de Aprendiz Maçom, Instrução Grau 1, R∴E∴A∴A∴,
p 34, traz: “Pendentes da corda de 81 Nós nos cantos da loja ou representadas nos
quatros cantos do Pavimento Mosaico, vemos quatro BORLAS, colocadas nos pontos
extremos da mesma para lembrar as quatro virtudes cardeais: TEMPERANÇA, JUSTIÇA,
CORAGEM E PRUDÊNCIA, que -diz nossa tradição – sempre foram praticadas por nossos
antigos irmãos”.
Partiremos destas referências.

II. a) Descrição e Posicionamento em Loja


A Corda de Oitenta e Um Nós, isto no R.: E.: A.: A.:, inicia-se no Or∴,
em um Nós central sobre o Delta, estendendo-se ao Sul e ao Norte com quarenta nós
equidistantes de cada lado, encerrando seu alongamento junto à parede do Oc∴,
terminando em duas borlas que pendem aos lados da porta da entrada do Templo. Deve
Corda de Oitenta e Um Nós ficar acima das Colunas Zodiacais. É indicado ser a corda
grossa, confeccionada de fibras naturais, sendo mais empregado no Brasil o sisal9. Seus
laços, em forma de oito deitado, símbolo esotérico do infinito (lemniscata da
matemática), não devem estar apertados ou por demais frouxos.
É de grande importância o respeito ao posicionamento, confecção,
espessura, alinhamento do nosso objeto de estudo no Templo para que a narrativa
alegórica seja explorada a contento. Por vezes, vemos a Corda de Oitenta e Um Nós
pintada ou em gesso nas paredes dos Templos. Mesmo não sendo vedado, há prejuízo
na narrativa pretendida pintar ou escupir a alegoria.

II. b) Origem
Historicamente, a simbologia da Corda, ainda sem os Oitenta e Um
Nós, remonta às Oficinas dos primeiros Maçons Operativos. O M∴ M∴ Pedro Junk,

9 Os primeiros materiais para confecção de cordas devem ter sido trepadeiras, cipós, peles de animais, cabelos, junco, cânhamo,
tendões e tripas. Inicialmente, elas devem ter sido utilizadas para confeccionar abrigos, leitos em árvores e atar coisas a serem
transportadas, e deve ter se passado um longo tempo até que os nossos ancestrais percebessem o seu valor no desenvolvimento
de artefatos de caça, pesca, ataque e defesa. (https://opontodentrocirculo.com/2017/03/30/a-corda-de-81-nos-uma-visao-
operativa)

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membro da Loja Estrela de Morretes, 3159-GOB-PR10, traz-nos um referencial histórico


da incorporação da Corda de Oitenta e Um Nós à semiótica maçônica:
“A origem do simbolismo da Corda – despido do
número de 81 nós – está nos canteiros de obra da Maçonaria Operativa
quando o espaço da construção era delimitado por uma corda grossa (às
vezes até uma corrente de ferro) presa por anéis de metal em estacas
fincadas na terra. A proteção limítrofe circundava todo o canteiro até a sua
entrada que era marcada por duas estacas maiores (postes – paliçadas) que
delimitavam a entrada e saída do espaço. Geralmente junto à banda Norte
do acesso por dentro do canteiro havia um pardieiro onde um zelador
guardava as ferramentas ocupadas no trabalho. Havia também um na
banda Sul que abrigava outro zelador responsável pela fiscalização dos
trabalhos (wardens = zeladores; origem dos Vigilantes Especulativos).
Como na Maçonaria Moderna a Loja simboliza um
canteiro de obras especulativo (Oficina), o Rito Escocês Antigo e Aceito
revivendo esse costume haurido do passado inseriu no simbolismo dos seus
Templos uma corda circundando todo o espaço em alusão àquela que
demarcava o recinto de trabalho dos operários da pedra. Assim, devida essa
origem, a corda deve circundar toda a Loja, salvo o espaço destinado para
a sua entrada (porta).”

A alegoria somente ganhou todos seus elementos no segundo decênio


do século XVIII. Oitenta e Uns Nós como símbolo agregado à Corda teria surgido, em 23
de agosto de 1723 “por ocasião da instituição da primeira palavra semestral em cadeia
da união, quando, na casa “Folie-Titon” em Paris, tomou posse Louis Phillipe de
Orleans, como Grão-mestre da Ordem Maçónica na França. Naquela solenidade
estavam presentes 81 irmãos, e a decoração da abóbada celeste apresentava 81
estrelas”, segundo José Castellani, em seu livro “Cartilha do Aprendiz”, da Editora A
Trolha.
Como vemos, a crível a origem remota da Corda de Oitenta e Um Nós
nascer, sem os Nós, nas atividades operativas das guildas de Pedreiros na Idade Média.
Com a evolução da Maçonaria Operativa para Especulativa11, passa-se a empregar a
corda, agregando-se a ela os Nós, nas Lojas Maçônicas como elemento alegórico voltado
ao ensino de seus membros. Assim como nos canteiros dos Obreiros medievais, a Corda
de Oitenta e Um Nós contorna, delimita, toda Oficina Maçônica moderna. Dentro das
delimitações das construções medievais, desenvolviam-se os trabalhos, fincando ao
Norte um zelador responsável pela guarda das ferramentas de trabalho e ao Sul outro
zelador responsável pela fiscalização. Aqui, apropriada pela especulação maçônica,
abstraímos a origem histórica de nossos Primeiro e Segundo Vigilantes em Lojas.

10 http://iblanchier3.blogspot.com/2019/04/corda-de-81-nos.html
11 Pode-se, sucintamente, afirmar que aMaçonaria moderna surgiu na Inglaterra, com a formação da Grande Loja de Londres (1717),
primeira potência maçônica, reunindo membros de diversas lojas (ou corporações), dando daí em diante sua organização
administrativa e formulação de ritos e normas, com a Constituição de Anderson (1723). Guardando muita similitude com as
corporações de pedreiros medievais (praticantes da chamada Maçonaria operativa), daí a palavra maçom significar pedreiro-livre, a
Maçonaria moderna se desenvolveu como uma fraternidade masculina fechada a iniciados, assegurando aos seus membros
sociabilidade, proteção, segurança e espaço de livre-pensamento no contexto da era monárquica do Antigo Regime. SILVA, Marco
José Diniz; HISTÓRIA DA MAÇONARIA: Memória Coletiva, Escrita, Histórica e Legitimação de uma Potência no Ceará; ISSN: 2177-
5648 OPSIS (Online), Catalão-GO, v. 18, n. 2, p. 286-303, jul./dez. 2018.

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II. c) Elementos Intrínsecos


O complexo alegórico simbólico presente e incrustado na Corda de
Oitenta e Um Nós é riquíssimo e vemos por impossível seu esgotamento neste modesto
trabalho. Os elementos presentes na alegoria são vários e o exegeta se socorre na
numerologia, filosofia, História, psicologia, astrologia, matemática e vários outros ramos
do conhecimento humano. Um tanto Perfunctório, superficial, buscaremos extrair
alguns, e certamente não todos, ensinamentos encrustados nesta alegoria. As fibras, a
junção correta destas, os nós individual e coletivamente considerados, a correta
amarração destes, a extensão, as borlas, cada elemento semiótico guarda valorosos
significados intrínsecos.

II. d) Confecção da Corda


A confecção da Corda de Oitenta e Um Nós, esotericamente, ensina a
importância do homem se desgarrar das egoísticas vaidades e unirem-se em busca de
um fim maior. Uma fibra de sisal é fraca por sua natureza e rompe-se facilmente à
menor torção. Mas quando unida a outras e outras fibras em feixe, ganha espessura e
forma um todo forte e resistente; fibras unidas formam um todo forte, a Corda. Assim
como as fibras isoladas, os homens individualmente considerados são fracos e pouco
resistentes aos tensionamentos do Mundo. Unidos em torno de objetivos comuns e em
comunhão fraterna de ideias, tornam-se os homens fortes, resistentes, inquebrantáveis,
e com isto, é atingindo o escopo primário da Maçonaria12.

II. e) Laços
As laçadas13 da Corda de Oitenta e Um Nós são leves, laçadas não
frouxas ou apertadas, mas ajustadas de forma a permitir, esotericamente, a passagem
da energia e não amarrar as força que unem fraternamente os Maçons. Estas laçadas,
simbolizam a eternidade, longevidade e principalmente o amor fraterno e a união entre
os Maçons, fazendo-nos todos IIr∴. É importante que os laços não sejam apertados, pois
indicariam estrangulamento e a interrupção da fraternidade que deveria existir entre
todos os Maçons. Nunca devemos, portanto, tensionar em demasia a corda,

12 Esta metáfora muito se aproxima à Fábula do Feixe de Varas de Esopo: “Era uma vez um pai cujos os filhos viviam brigando entre
si. Tentou ensiná-los a evitar aquelas discussões, mas em vão. Um dia, chamou-os todos e mostrou-lhes um feixe de varas. Disse-
lhes: - Dou um prêmio a quem conseguir quebrar este feixe de varas. Cada um dos filhos experimentou, curvando o feixe nos
joelhos, no pescoço, sem conseguir quebrá-lo. Por fim, o pai desamarrou o feixe e partiu as varas, uma a uma. Ele lhes falou: - Se
vocês se mantiverem unidos, ninguém ousará lutar contra vocês. Se se separarem estão perdidos. Moral da História - "A união
faz a força."
13 Devemos evitar falar “nós”, e optarmos por “laços” para não programar o cérebro a associar o nó a uma amarração. “Nós” atam,

apertam, impedem, sufocam, impedem a passagem da energia (esotericamente). Apesar da alegoria se chamar Corda dos 81 “Nós”,
em nossas oratórias devemos buscar a expressão “laço” – exemplo: “... os laços presentes na Corda de 81 Nós...” - para impedir a
formação no psicológico do instruendo de algo que amarra, impede o fluxo, ao contrário do que se pretende com a alegoria que é
a união entre os maçons.

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transformando-os os laços em nós apertados, o que estrangularia a Ordem. Não


podemos, todavia, afrouxar por demais as laçadas, pois estaríamos enfraquecendo a
união entre os IIr∴. Eis o Equilíbrio.

II. f) Laços e o Lemniscata (Infinito ou Oito Deitado)


Os laços remetem-nos a um oito deitado (∞). Este é o símbolo do
infinito, também chamado de lemniscata. O lemniscata é carregado de simbolismo
esotérico, teológico, matemático, filosófico, místico. O Lemniscata, significa a reflexão
sobre a eterna e constante recriação e repetição das coisas existentes no Universo em
um fluxo contínuo e inexorável, com equilíbrio dinâmico, harmônico, prefeito e rítmico
entre os polos opostos. Este fluxo contínuo, rítmico, perfeito, harmônico e dinâmico
deve ser buscado pelo homem em seu crescimento, sabendo sempre ser a infinitude das
coisas no Universo maior em tempo e espaço que todas as vontades humanas. O homem
é pequeno frente a toda criação e de nada lhe serve sua vaidade.

II. g) Número 81 (3⁴)


O número 8114 de laços da Corda carregam simbolismo profundo
quando estudado isoladamente ou quando considerado como resultado de equações
exponenciais de base 3. É 81 um número cabalístico estudado pelos Judeus há séculos.
É o número “perfeito da perfeição". Oitenta e Um é resultado do número 3 elevado à
quarta potência, também é o resultado do 9 elevado ao quadrado (9x9 ou 9²) que por
sua vez é o resultado de 3 ao quadrado (3x3 ou 3²). O número 3 é encontrado no terno
pitagórico sustentado em três números naturais15. É o número do Divino, da Trindade:
O Pai, O Filho e O Espírito Santo. A teologia encontra o número 316 em todas as religiões.

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Perceba que optamos a escrita quando estamos nomeando o numeral da Corda de Oitenta e Um Nós e o numero
quando falamos do numeral aritmético.
15 Em matemática, nomeadamente em teoria dos números, um terno pitagórico (ou trio pitagórico, ou ainda tripla pitagórica) é
formado por três números naturais a, b e c tais que a²+b²=c². O nome vem do teorema de Pitágoras que afirma que se as medidas
dos lados de um triângulo retângulo são números inteiros, então são um terno pitagórico. Se (a,b,c) é um terno pitagórico, então
(ka,kb,kc) também é um terno pitagórico, para qualquer número natural k. Um terno pitagórico primitivo é um terno pitagórico em
que os três números são primos entre si. Os primeiros ternos pitagóricos primitivos são (3, 4, 5), (5, 12, 13), (7, 24, 25), (8, 15, 17),
(9, 40, 41), (11, 60, 61), (12, 35, 37), (13, 84, 85), (16, 63, 65), (20, 21, 29). (https://pt.wikipedia.org/wiki/Terno_pitag%C3%B3rico)
16Esse número sugere um universo formado por uma base tripla, que parte da noção de que na origem de tudo existe uma trindade
de deuses: (Pai, Filho, Espírito Santo, Brhama Vixenu e Xiva, Osíris, Isis, Hórus etc), dando origem às realidades universais. Da
mesma forma, são três os formadores da raça humana (os filhos de Noé) Sem, Cam e Jafet), assim como são três as ferramentas
com as quais o Criador constrói o universo: a luz, o som e o número e três as manifestações da Divindade antes de dar a si mesmo
uma condição de Existência Positiva: Aun, Aun Soph e Aun Soph AUR. Essas três manifestações se derramam pelos quatros mundos
da formação primordial, que são conhecidos como os mundos de Atziloth, Briah, Yetzirah e Assiah. Assim, o modelo três por quatro
é um arquétipo bastante presente na intuição dos profissionais da construção civil e a ele foi integrada a tradição cabalística que se
associa a esse número. Na tradição cabalística, a trindade se revela nas três primeiras séfiroths da Árvore da Vida ( Kether, Chokmah
e Binah), que são as primeiras manifestações da divindade no mundo da realidade positiva. Elas se expressam através da luz, do
som e do número, que segundo essa tradição, são os elementos com quais Deus faz o mundo. Destarte, como o universo é
construído através das combinações do Nome Inefável (o Tetragramaton) formado pelas letras IHVH (IAVÉ), que resulta no número
12, temos uma base trina multiplicada por quatro, como formulação básica da estrutura do universo. Por isso temos toda a mística
do povo de Israel em torno desse número. As doze tribos de Israel, os doze signos do Zodíaco, os doze apóstolos de Cristo, os doze
profetas do Velho Testamento (seis maiores e seis menores) os doze livros da constituição do reino de Israel, que são o Pentateuco
(5), Josué (1), Juízes (1), Samuel (2) Reis (2) e assim por diante. Na física atômica pode ser feita uma analogia com as leis fundamentais
de formação da matéria universal que são a relatividade, a gravidade e a termodinâmica. Essa base tríplice, que geometricamente

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Um Pequena Análise Histórica, Semiótica e Esotérica

Três, foram os companheiros que assassinaram Hiram Abiff e 81 anos seria a idade de
Hiram ao ser morto. Estamos, em nossos trabalhos em Loja, acostumados com o 3:
ferramentas do AP∴ M∴ são 3 ; são 3 malhetes presentes em Loja e 3 são os lados do
Delta; três MM∴ MM∴ governam a Loja; os toques, os passos, a marcha, os pontos, na
idade do Apr∴ M∴. O 3 está presente em alegorias, símbolos e rituais maçônicos. Não é
à toa a última e importante instrução do primeiro grau se dedicar tão longamente ao
número 317. Assim, os Oitenta e Um Nós presentes na Corda têm em si a remissão ao
número do equilíbrio, do Divino, da concordância.

II. h) O Primeiro Nó (ou Laço 1)


O primeiro dos Oitenta e Um Nós está sobre o Altar do V∴ M∴ e acima
do Delta simbolizando a unidade, indivisibilidade, o Deus Criador, princípio e
fundamento do Universo. Simboliza a concórdia e amizade. O laço central é o primeiro,
número 118 (um), dos Oitenta e Um Nós da corda que se projeta ao Norte e ao Sul do
Templo, sendo Quarenta de cada lado. Nó central dá início; origina.

II. i) Quarenta ao Norte e Quarenta ao Sul


Abstraído o laço central, os quarenta restantes estão projetados
equidistantes ao Oc∴ de cada lado do Templo, ao Norte e ao Sul, simbolizando a União
e o Amor Fraternal que deve existir entre os Maçons de todo Universo. Os Quarenta Nós
lembram-nos das mudanças radicais que estão sujeitos o Mundo e o homem. Foram 40
dias de dilúvio que extirpou a iniquidade para reflorescer o homem no Divino; por 40
anos o povo Hebreu peregrinou pelo deserto e purgou-se até chegar à Terra Prometida;
Jesus jejuou por 40 dias no deserto da Judeia e preparou-se para cumprir a profecia do
Antigo Testamento; 40 dias permaneceu na Terra o ressuscitado Cristo Jesus; 40 dias
penitenciais a quaresma, culminando no renascimento Pasqual. Em todas passagens, o
40 prepara para uma grande mudança precedida pelo processo de aceitação, meditação
e preparo físico e mental para a chegada do novo. Devemos estar sempre ciente que
provações estão presentes na vida e superá-las, leva à mudança e esta é inevitável.

se firma sobre um triângulo equilátero, resulta num universo tridimensional (altura, profundidade, largura). Por outro lado, como
o universo é constituído por quatro elementos fundamentais (terra, ar, fogo, água), projetado em quatro direções (norte, sul, leste,
oeste), isso significa que a sua conformação pode ser representada pelo número três na sua quarta potência, que resulta no número
81, número sagrado, que na tradição cabalística é representado pelos 72 anjos que servem diante do trono de Deus (os
semanphores), mais os 9 Elohins, mestres construtores do universo. ANATALINO, João; A Cabala e a Corda de 81 Nós; O Malhete;
hospedado em http://omalhete.blogspot.com/2016/04/a-cabala-e-corda-de-81-nos.html;
17“É de toda conveniência que o Maçom Especulativo não se desinteresse desta parte do ensino iniciático, máxime se tiver o
legítimo desejo de compreender qualquer coisa da arquitetura da Idade Média e da Antiguidade e, em geral, das grandes obras
concebidas e executadas pelas Ordens de Companheiros Construtores”.
18O Ritual de Aprendiz do R∴E∴A∴A∴ ensina: “O número UM, a unidade, é o primeiro dos números, mas, a unidade só existe pelos
outros números. Todos os sistemas religiosos orientais começaram por um ser “primitivo”. Conquanto esta abstração não tenha,
positivamente, uma existência real, tem, contudo, um lado positivo, que o torna susceptível de uma existência definida: é o que
os antigos dominavam de “Pathos”, isto é, o desejo ou a ação de sair do “absoluto”, a fim de entrar no real – considerado por nós
concreto. A Unidade só é compreendida por efeito do número DOIS; sem este, ela torna-se idêntica ao Todo, isto é, identifica-se
com o próprio número”.

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II. j) Borlas nas Laterais da Porta
Por fim, a Corda de Oitenta e Um Nós chega à parede Oc∴ da Of∴ e
termina em duas borlas, uma de cada lado da porta, simbolizando a Justiça (ou
equidade) e a Prudência (ou a moderação). Em nosso P∴ de Apr∴, vemos 4 borlas
significando a temperança, a justiça, a coragem e a prudência. Ao iniciado nos Segredos
Sublimes, é esperada a coragem prudente em suas ações e justiça com temperança em
suas decisões. As borlas também tem seu fundamento na teologia cristã, onde
encontramos no Livro da Lei Cristão, as borlas identificando o Povo do Deus Hebreu.
Como bem nos ensina o Grão Mestre da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, M∴ M∴
Sérgio Quirino Guimarães “Na Bíblia Sagrada, especificamente no Livro Números (Nm
15:37-41), Deus determina a Moisés, que o povo faça no canto de suas vestes borlas,
franjas (adorno pendente de fios de lã) e presas com um cordão azul. Tal ordem
destinava a lembrar a este povo que a Deus pertencia, bem como lembra-los de seus
mandamentos e praticá-los. Na época a tinta azul era cara, difícil de achar, pois era
tirada de um molusco. Desta forma, o Criador Supremo demonstrou a todos o quão
precioso era aquele povo. Na época dessa passagem Bíblica, quem usava as borlas
eram reis, era um sinal de nobreza. Deus usou um símbolo para que todos
contemplassem que cada filho de Israel era seu próprio filho, o filho de todos os Reis”.
Esotericamente o encerramento da Corda de Oitenta e Um Nós em duas borlas ao lado
das portas e não em amarrações as unindo, significa que a Maçonaria e o Maçom devem
estar abertos a novas ideias e não se fecham ao conservadorismo ortodoxo tóxico de
verdades inexoráveis que impede a evolução racional do homem e da humanidade. A
Sublime Ordem é progressista pela sua natureza de origem iluminista e não se fecha ao
mundo, mas deste traz ideias e debates edificantes que contribuirão para a melhoria de
seus membros.

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A CORDA DE OITENTA E UM NÓS
Um Pequena Análise Histórica, Semiótica e Esotérica

III - CONCLUSÃO
Longe de esgotar o tema tão rico e empolgante em seus simbolismos,
vimos ser a Corda de Oitenta e Um Nós uma alegoria formada de grande número de
insígnias simbólicas com enorme conteúdo esotérico, teológico, psicológico, cabalístico,
numerológico, matemático.
O simbolismo Maçônico não deve ser confundido como mera
ornamentação de nossas Oficinas. Para o profano é tolerada esta percepção, mas nunca
ao Maçom.
Desde suas origens mais remotas a Ordem socorre-se e apropria-se de
símbolos e alegorias para ilustrar seus ensinamentos esotéricos.
A Corda de Oitenta e Um Nós faz parte do conjunto semiótico da
Maçonaria e tem sua origem, ainda sem os Nós, nas delimitações com cordas que os
construtores da guildas de pedreiros medievais faziam em suas obras. Apropriada pela
Maçonaria Especulativa, aparece nos Templos desde o século XVIII.
A Corda de Oitenta e Um Nós agregada conjunto alegórico amplo e
constrói uma narrativa complexa cuja União Justa e Perfeita entre indivíduos é a gênesis
da formação de um todo; livres de seus individualismos egoísticos, os Maçons devem
estar entrelaçados continuamente pelo Amor Fraterno - não deixando estes laços
frouxos ou estranguladores -, deixando sempre permeabilizar pelas novas ideias os
trabalhos e debates em nossas OOf∴, não permitindo que o tensionamento destes
debates estrangule os laços de Amizade, elevando o homem Maçom à prudência
corajosa no julgamento comedido das diversas demandas que lhes são apresentadas ao
longo da vida. Longe de pura ornamentação, a alegoria é carregada de ensinamentos
presentes em várias instruções do Primeiro Grau, não sendo à toa estar circundando
todo Templo e o painel do Apr∴ Maç∴ no R∴E∴A∴A∴.
V∴ M∴, P∴ Vig∴, S∴ Vig∴, meus IIr∴ MM∴, CC∴ e AApr∴, espero não
ter sido enfadonho e os terem cansado.

T∴ F∴ A∴

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A CORDA DE OITENTA E UM NÓS
Um Pequena Análise Histórica, Semiótica e Esotérica

IV - REFERÊNCIAS

- O Manual de Aprendiz Maçom, Instrução Grau 1, REAA;


- ARNAUT, Antônio, Introdução à Maçonaria, Imprensa da Universidade de Coimbra;
Coimbra,
- Alfredo J. Gonçalves, CS, superior provincial dos missionários carlistas e assessor das
pastorais sociais, https://www.revistamissoes.org.br/2010/06/as-metaforas-de-jesus;
- FURTADO, Chandler; PNL e Maçonarias; em
https://pt.scribd.com/document/122471898/PNL-e-Maconaria;
- CASTELLANI, José; Cartilha do Aprendiz, 4ª Edição; Rio de Janeiro, Editora A Trolha;
- Dicionário Michaelis On-Line;
- A Corda de 81 Nós: Uma Visão Operativa; em
https://opontodentrocirculo.com/2017/03/30/a-corda-de-81-nos-uma-visao-
operativa;
- SILVA, Marco José Diniz; HISTÓRIA DA MAÇONARIA: Memória Coletiva, Escrita,
Histórica e Legitimação de uma Potência no Ceará; ISSN: 2177-5648 OPSIS (Online),
Catalão-GO, v. 18, n. 2, p. 286-303, jul./dez. 2018;
- ANATALINO, João; A Cabala e a Corda de 81 Nós; O Malhete; em
http://omalhete.blogspot.com/2016/04/a-cabala-e-corda-de-81-nos.html.
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