Gastroenterite Eosinofilica
Gastroenterite Eosinofilica
Gastroenterite Eosinofilica
DOI: http://dx.doi.org/10.18571/acbm.164
RESUMO
ABSTRACT
1 Introdução
Mesmo que a doença receba em seu nome gastroenterite, ela pode afetar todo o TGI, do
esôfago ao reto. A GE pode ser enquadrada no grupo de patologias conhecidas como desordens
gastrointestinais eosinofílicas, esse grupo de doenças tem por característica a presença de
infiltração rica em eosinófilos, na ausência de outras causas para eosinofilia dentro do TGI (LEAL
e NARCISO-SCHIAVON, 2014).
A infiltração em camadas ou de locais distintos dentro do trato gastrointestinal torna as
manifestações clinicas inespecíficas, variando desde dor abdominal, náuseas, vômitos e diarreia,
perda de peso e obstrução intestinal exigindo que o diagnóstico seja realizado através de exclusão
de várias patologias associadas a eosinofilia do TGI (FAJARDO e CASTILLO, 2013; JIMENEZ
et al., 2011).
O diagnóstico de GE é realizado com uma alta suspeição clinica, demonstração histológica
de infiltrado eosinofílico no TGI e afastamento de outras causas conhecidas para a eosinofilia
periférica (SERNA HIGUERA et al., 2002), há de se observar que a distribuição irregular da
doença, assim como a possível presença de formas sem infiltração da mucosa, podem gerar falsos
negativos frequentes nas amostras de biópsia, acarretando possíveis subdiagnósticos, sendo
recomendado múltiplas biopsias no esôfago, estômago e intestino, mesmo que a mucosa tenha um
aspeto normal, para obtenção da confirmação diagnostica de gastroenterite eosinofílica (LIMA et
al., 2012).
O tratamento da GE é realizado através do uso de corticosteroides e imunossupressores,
tendo em vista os mecanismos imunoalérgicos associados a doença. O uso de dieta é recomendado
visando evitar exacerbação da patologia devido irritação da mucosa ou processos alérgicos, sendo
os corticoides a primeira escolha no tratamento medicamentoso, por possuírem boa resposta e
tolerância, em casos mais raros e graves com obstrução intestinal pode ser necessário a utilização
de procedimentos cirúrgicos para resolução do quadro (GARIBAY-VARGAS et al., 2014;
FAJARDO e CASTILLO, 2013).
O prognóstico para os pacientes com gastroenterite eosinofílica é favorável mesmo que
comumente haja exacerbação clinica, não há ocorrência de sequelas graves, que acarreta em
diminuição da expectativa de vida (SERNA HIGUERA et al., 2002).
2 Relato de caso
JJB, 74 anos, masculino, aposentado, natural de São José de Ubá - RJ, procurou
atendimento queixando-se de dor abdominal difusa e de forte intensidade (7 em uma escala de 1 a
10), associada a quadros de diarreia liquidas e com presença de muco, falta de apetite e perda
ponderal de 12 kg em 7 meses. Em uso recorrente de Imosec para controle do quadro de diarréia.
Hipertenso, quadro de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) há aproximadamente 10 anos, etilista e
tabagista, paciente nega qualquer tipo de alergia.
Na admissão paciente encontrava-se em bom estado geral, emagrecido, hipocorado +/+4,
acianótico, anictérico, hidratado, ausência de adenomegalias, abdome flácido e indolor a palpação,
com ruídos hidroaéreos positivo, presença de cicatriz mediana, sem visceromegalias, membros
inferiores com edema +/+4.
Os exames laboratoriais iniciais demonstraram um hemograma com presença de 9.600
Leucócitos com eosinofília (9%). Solicitado exames complementares. Na endoscopia digestiva
alta (EDA) foi observado gastrite enantematosa leve de antro e atrofia de mucosas de 1º e 2º porção
duodenal que pode ser observada na figura 1, realizada biópsia que demonstrou ser uma duodenite
eosinofílica focal com grupamentos de infiltração eosinofílicas, perfazendo mais de 20 eosinófilos
por campo de aumento.
A B
Figura 1: (A) Endoscopia digestiva alta do estomago demonstrando gastrite enantematosa leve
de antro. (B) Endoscopia digestiva alta do duodeno demonstrando atrofia na 1º e 2º porção.
3 Discussão
A Gastroenterite Eosinofílica afeta qualquer faixa etária, mas tem uma maior incidente nos
adultos entre a terceira e quinta década de vida, tendo predominância no sexo masculino, com uma
incidência de 1 a 30 doentes/100.000 (CIANFERONI e SPERGEL, 2015), ainda que com etiologia
desconhecida, em cerca de 70% dos pacientes há alguma história de alergia, sendo relatado na
literatura a não associação com alergia para a ocorrência da patologia (TROIANI et al., 2010),
Neste relato o paciente estava com idade superior ao pico de incidência, e negava alergias.
A Gastroenterite Eosinofílica pode ser dividida em três formas conforme sua apresentação
histopatológica segundo a classificação de Klein, sendo a predominantemente mucosa (57,5% dos
casos), predominantemente muscular (30% dos casos) ou predominantemente serosa (12,5% dos
casos) (MORETTI et al., 2006; LIMA et al., 2012), sua clínica comumente se apresenta como dor
abdominal, diarreia, vômitos, emagrecimento, anemia, ascite e obstrução intestinal. Quando se
dividem os sintomas conforme a camada acometida é observada acometimento do tecido mucoso:
náuseas, vomito, diarreia, dor abdominal, ulceração, perda de proteínas, síndrome de má-absorção,
emagrecimento e anemia, sendo a mais comumente diagnosticada. A camada muscular observa-
se obstrução intestinal, náuseas, vômitos, dor e distensão abdominal. Enquanto o acometimento da
camada serosa se traduz em presença de ascite com uma excelente resposta aos corticosteroides
(SOUZA et al., 2000; FAJARDO e CASTILLO, 2013; TALLEY et al. 1990). No presente relato
o paciente apresentou junto a uma eosinofilia um quadro de dor abdominal, diarreia e
emagrecimento, acompanhando desta forma os quadros clínicos comuns da patologia com
acometimento do tecido mucoso.
Seu diagnóstico é difícil e requer uma alta suspeição devido à variação da apresentação
clinica, a presença de eosinofilia periférica está ausente em aproximadamente 20% dos pacientes,
Acta Biomedica Brasiliensia / Volume 9/ nº 1/ Abril de 2018. www.actabiomedica.com.br 166
ISSN: 2236-0867
4 Conclusão
5 Referências
JIMÉNEZ, Rodríguez B. et al. Eosinophilic gastroenteritis due to allergy to cow’s milk. J Investig
Allergol Clin Immunol. 2011; Vol. 21(2): 150-152.
MORETTI, Marcelo Pasquali et al. Gastroenterite eosinofílica: um relato de caso. ACM arq.
catarin. med; 35(4): 104-107, out.-dez. 2006.
TALLEY NJ, Shorter RG, Phillips SF, Zinsmeister AR. Eosinophilic gastroenteritis: a
clinicopathological study of patients with disease of the mucosa, muscle layer and subserosal
tissues. Gut 1990; 31: 54-58.