Avaliação Da Aplicação Da Lei de Georreferenciamento de Imóveis Rurais Na Mesorregião Do Extremo Oeste Baiano

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA

CENTRO DAS HUMANIDADES


CURSO DE GEOGRAFIA

RONIVON PEREIRA RODRIGUES

AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DA LEI DE


GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS NA
MESORREGIÃO DO EXTREMO OESTE BAIANO

Barreiras
2015
RONIVON PEREIRA RODRIGUES

AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DA LEI DE


GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS NA
MESORREGIÃO DO EXTREMO OESTE BAIANO

Monografia apresentada ao curso de graduação


em Geografia do Centro das Humanidades da
Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB),
como requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Pablo Santana Santos

Barreiras
2015
RONIVON PEREIRA RODRIGUES

AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DA LEI DE


GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS NA
MESORREGIÃO DO EXTREMO OESTE BAIANO

Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel em


Geografia, Centro das Humanidades, Universidade Federal do Oeste da Bahia.

Aprovado em 11 de Dezembro de 2015.

Banca Examinadora

Pablo Santana Santos – Orientador _______________________________________


Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Professor Adjunto da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).

Janes Terezinha Lavoratti – Membro______________________________________


Doutora em Geografia pela Universidade de Córdoba/Espanha.
Professora Adjunta da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).

Prudente Pereira de Almeida Neto – Membro_______________________________


Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) e Instituto Summer.
Professor Associado da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB)
A toda minha família.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ser uma inspiração maior, que possibilita
que todas as coisas aconteçam na minha vida.
Ao apoio da minha família, em especial, a minha mãe Idalina ao meu pai
Raimundo minhas irmãs e irmão Ilda, Tatiana e Rafael.
A minha amada esposa Andreza pelo apoio, palavras de incentivo,
compreensão e carinho no dia-a-dia e nos momentos que mais precisei.
Aos meus queridos e amados sobrinho e sobrinhas Lucas Matheus, Amanda
(que também é afilhada), Anne Keterine, Luna, Iasmin Nayra Liz e Rafaela pelos
gestos de carinho e afeto de cada um.
As minhas tias, tios, primos e primas pelo carinho e as vezes puxões de orelha,
especialmente, tia Gemina e Erika e Ericarla.
Ao meu orientador, Pablo Santos, pela amizade e disposição, apoio e incentivo
durante todo o curso e nas orientações de monografia.
Aos muitos colegas e amigos de graduação e de profissão por estarem
presentes desde o inicio desta longa jornada, em especial, aqueles de maior
convívio: Gilsinei Pereira, Rodrigo Lima, Bruno Pansiere, Ueliton Basilio, Uilque
Santana, Diego Cruz, Marlito Machado, Valdenice Silva, Catarina Araújo e João
Paulo Rodrigues.
Ao corpo docente do curso de Geografia e outros professores que contribuíram
para minha formação, em especial, a Janes Lavoratti, Paulo Baqueiro, Luiz
Carvalho, Marcelo Latuf.
Enfim, a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram e incentivaram
para que eu alcançasse essa conquista.
“A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”.
Aristóteles
RODRIGUES, Ronivon Pereira. AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DA LEI DE
GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS NA MESORREGIÃO DO
EXTREMO OESTE BAIANO. 119f. 2015. Monografia (Graduação em Geografia).
Centro das Humanidades, Universidade Federal do Oeste da Bahia, Barreiras - BA,
2015.

RESUMO

O presente estudo apresenta às discussões inerentes as questões agrárias no país


desde o período colonial até os dias atuais, discutindo os principais marcos
legislativo e suas consequências, no modo de distribuição e ocupação de terra que
culminaram em uma realidade conflituosa centrada na desigualdade, evidenciado,
sobretudo, pelos diferentes tipos de cadastros de terras adotados no país, que
devido a problemas nas suas implantações, não cumpriram efetivamente seus
objetivos, acarretando assim, na necessidade de regulamentação dessas falhas,
dando origem a Lei 10.261/2001, chamada Lei do Georreferenciamento, que
delineou a implantação do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR), e, que por
meio do emprego das técnicas de Cartografia e Geodésica representou a
implantação de um cadastro de terras com limites georreferenciado, conferindo-lhes
precisão e confiabilidade nas informações. Ante o contexto brasileiro é apresentada
ainda, a situação agrária na Mesorregião do Extremo Oeste da Bahia (MOB), que foi
proveniente de processos também marcados por desigualdades no acesso e
distribuição da terra, atrelada ainda à introdução de novos fatores políticos e
econômicos, a partir da década de 1970, trazendo um novo modelo de agricultura à
região, baseada na utilização de vastas áreas e emprego de tecnologia as quais
proporcionaram uma nova dinâmica na questão fundiária, principalmente, devido ao
aumento da existência de imóveis com áreas acima de 1.000 ha. Diante deste
panorama, a presente pesquisa teve por objetivo avaliar o processo de
georreferenciamento e certificação de imóveis rurais, delineadas pela implantação
do CNIR, efetuadas até o dia 31 de Outubro de 2015 na MOB. Para tanto, o estudo
foi realizado em duas etapas: a pesquisa bibliográfica referente ao tema e o recorte
espacial abordado e a realização de consulta aos bancos de dados do INCRA, os
quais possuem informações acerca de todas as certificações realizadas no país até
o dia 31 de Outubro de 2015, com enfoque, no recorte espacial correspondente aos
municípios que compõem a MOB. Por meio dos resultados obtidos foram possíveis
mensurar o quantitativo e a área ocupada pelos imóveis rurais certificados na MOB,
assim como, conhecer os respectivos valores que estas corresponderam no cenário
estadual, e também sua distribuição pelos municípios que a compõe, podendo inferir
que o processo de certificação nos municípios da MOB se mostrou diferenciado,
sendo este, reflexo dos acontecimentos ora descritos, causando em especial, a
ocupação por grandes imóveis rurais nas áreas correspondentes aos chapadões
tidos como importante fronteira agrícola do país.

Palavras-chave: Cadastro de terras, Georrereferenciamento, Mesorregião do


Extremo Oeste da Bahia, INCRA.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Órgãos e instituições ligados à administração territorial rural e seus


respectivos cadastros ................................................................................. 37
Figura 2. Exemplo de codificação de vértice ............................................................. 42
Figura 3. Modelos de marcos, segundo o tipo de material (A) Marco de concreto e
(B) Marco de ferro. ..................................................................................... 42
Figura 4. Etapas para Certificação de Imóveis Rurais segundo a 1ª e 2ª NTGIR ..... 47
Figura 5. Procedimentos a serem seguidos para certificação no SIGEF .................. 60
Figura 6. Consulta pública, por órgão e Oficias de registros aos dados do SIGEF. .. 60
Figura 7. Municípios que compõem mesorregião do Extremo Oeste Baiano. ........... 61
Figura 8. Imóveis rurais certificados, em acordo a 1ª e 2ª NTGIR até dia 31/10/2015,
na MOB. ..................................................................................................... 97
Figura 9. Imóveis rurais certificados, em acordo a 3ª NTGIR (SIGEF) até dia
31/10/2015, na MOB. ................................................................................. 99
Figura 10. Assentamentos rurais e Quilombos cujo limite é reconhecido pelo INCRA
até dia 31/10/2015, na MOB. .................................................................... 102
Figura 11. Todos os Assentamentos rurais, Quilombos e Imóveis rurais certificados
pelo INCRA até dia 31/10/2015, na MOB. ................................................ 103
Figura 12. Ocorrência de sobreposição de imóveis rurais certificados em áreas de
PA e Quilombo ......................................................................................... 106
Figura 13. Áreas certificadas no interior do condomínio da Fazenda Estrondo. ..... 108
Figura 14. Áreas certificadas no interior da Fazenda Santa Maria. ......................... 109
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Evolução populacional da MOB, entre 1872 e 2010. ................................ 66


Gráfico 2. Número de Imóveis rurais certificados na MOB por ano........................... 88
Gráfico 3. Área total dos imóveis rurais certificados na MOB entre 2004 e 2015 ..... 89
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Os prazos para o georreferenciamento conforme o tamanho do imóvel. . 49


LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número de imóveis rurais declarados, por freguesia, nos Registros


Eclesiásticos de Terras do Oeste, entre 1857 – 1862. ............................. 72
Tabela 2. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de
Santíssimo Sacramento e Santa Anna do Angical, entre 1857 – 1859. ... 73
Tabela 3. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de São
Francisco das Chagas da Barra do Rio Grande, em 1858. ...................... 73
Tabela 4. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de
Santa Anna do Campo Largo, entre 1857 – 1859. ................................... 74
Tabela 5. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de São
José da Carinhanha (1858). ..................................................................... 74
Tabela 6. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de
Santa Rita do Rio Preto, entre 1857 – 1860. ............................................ 75
Tabela 7. Quantidade de estabelecimentos rurais dos municípios da MOB, 1920. .. 76
Tabela 8. Quantidade e área dos estabelecimentos rurais na MOB (1920 – 1980). . 77
Tabela 9. Áreas incorporadas ao agronegócio na MOB, entre 1970 e 1980. ............ 79
Tabela 10. Identificação de grandes áreas suspeita de grilagem na MOB. .............. 80
Tabela 11. Quantidade e área dos estabelecimentos rurais na MOB entre 1980 -
2006. ........................................................................................................ 81
Tabela 12. Apuração dos dados estatísticos da SNCR dos municípios da MOB. ..... 82
Tabela 13. Número de imóveis certificados por unidade da Federação, até 31 de
outubro de 2015. ...................................................................................... 87
Tabela 14. Quantidade e área ocupada por imóveis rurais na MOB conforme as
NTGIR. ..................................................................................................... 91
Tabela 15. Área média, em hectares, dos imóveis rurais certificados na MOB (2004 –
2015). ....................................................................................................... 92
Tabela 16. Quantidade de imóveis rurais e área certificada, em hectares, por
município da MOB. ................................................................................... 93
Tabela 17. Quantidade de área ocupada por tipo de empreendimento nos municípios
da MOB. ................................................................................................... 95
Tabela 18. Características e localização dos Projetos de Assentamento da MOB. 100
Tabela 19. Ocorrência de certificações com sobreposição entre as NTGIR. .......... 104
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

.ods Planilha OpenDocument


1ª Primeira
2ª Segunda
3ª Terceira
4º BEC 4º Batalhão de Engenharia de Construção
ADA Ato Declaratório Ambiental
Aiba Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia
ANOTER Associação dos Órgãos Estaduais de Terra
APP Área de Preservação Permanente
ART Anotação de Responsabilidade Técnica
Assocafé Associação dos Produtores de Café da Bahia
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CAFIR Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais
CAR Cadastro Ambiental Rural
CCIR Certificado de Cadastro de Imóvel Rural
CEFIR Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais
Cigex Centro de Imagens e Informações Geográficas do Exército
CNIR Cadastro Nacional de Imóveis Rurais
CNS Código Nacional de Serventia
CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
CPAC Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados
CPF Cadastro de Pessoas Físicas
CRC Comitê Regional de Certificação
CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
CRI Cartório de Registro de Imóveis
DSG Diretoria de Serviço Geográfico do Exército
DVD Digital Versatile Disc (Disco Digital Versátil)
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FUNAI Fundação Nacional do Índio
GERA Grupo Executivo da Reforma Agrária
GPS Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global)
GNSS Global Navigation Satellite System (Sistema de Navegação por
Satélite)
ha hectare
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBRA Instituto Brasileiro de Reforma Agrária
ICMBio Instituto Chico Mendes de Biodiversidade Biológica
ICP Infraestrutura de Chaves Públicas
IN Instruções Normativas
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
Inic Instituto Nacional de Imigração e Colonização
Inter Instituto de Terras
ITR Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural
LA Limites Artificiais
LN Limites Naturais
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
Mirad Ministério Extraordinário para o Desenvolvimento e a Reforma
Agrária
MOB Mesorregião do Extremo Oeste Baiano
NE Norma de Execução
NTGIR Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais
PA Projeto de Assentamento
PDRS Xingu Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu
PNRA Plano Nacional de Reforma Agrária
PPP Posicionamento por Ponto Preciso
PRODECER Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para Desenvolvimento
dos Cerrados
RBMC Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo
RIBAC Rede INCRA de Bases Comunitárias do GPS
RFB Receita Federal do Brasil
RL Reserva Legal
RTK Real Time Kinematic (Cinemático em Tempo Real)
SAD69 South American Datum, 1969.
SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
SERFAL Secretaria Extraordinária de Regularização Fundiária na Amazônia
Legal
SGB Sistema Geodésico Brasileiro
SGL Sistema Geodésico Local
SHP Shapefile
SIG Sistema de Informações Geográficas
SIGEF Sistema de Gestão Fundiária
SIRGAS 2000 Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas
Siscar Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural
SIT Sistema de Informações Territoriais
SNCR Sistema Nacional de Cadastro Rural
SR Superintendência Regional
SSR Serviço Social Rural
Supra Superintendência de Reforma Agrária
TCU Tribunal de Contas da União
TCT Termo de Cooperação Técnica
TI Terras Indígenas
SIAPA Sistema Integrado de Administração Patrimonial
SPU Secretaria de Patrimônio Público da União
STT Sistema de Tributação da Terra
UC Unidade de Conservação
UMC Unidades Municipais de Cadastramento
UTM Universal Transversa de Mercator
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
2. LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA: DAS
SESMARIAS À CONSTITUIÇÃO DE 1988 ............................................................ 17
2.1. As Sesmarias ................................................................................................... 17
2.2. Lei das terras de 1850 ...................................................................................... 20
2.3. Estatuto da Terra.............................................................................................. 25
2.4. Constituição de 1988 ........................................................................................ 28
3. ATUAÇÃO DO INCRA E A LEI 10.267/2001 ......................................................... 32
3.1. Criação do INCRA ............................................................................................ 32
3.2. Antecedentes da criação da Lei nº 10.267/2001 ............................................... 34
3.3. Criação da Lei nº 10.267/2001 ......................................................................... 36
3.3.1. Implantação do CNIR. .............................................................................. 36
3.3.2. Normativa para o Georreferenciamento e Certificação de imóveis rurais . 38
3.3.3. Etapas e normas para o Georreferenciamento ........................................ 40
3.3.4. Etapas e normas para a Certificação ....................................................... 46
3.3.5. Prazos para o Georreferenciamento. ....................................................... 49
3.3.6. Outros delineamentos da Lei ................................................................... 50
3.3.7. Problemas nas análises de certificação ................................................... 52
3.3.8. Criação da 3ª NTGIR: O SIGEF ............................................................... 55
4. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................... 61
4.1. Aspectos Geoambientais .................................................................................. 62
4.2. Inicio da ocupação territorial ............................................................................. 63
4.3. Formação Politico-administrativa ...................................................................... 67
4.4. Aspectos socioeconômicos .............................................................................. 69
4.5. Formação Fundiária ......................................................................................... 72
5. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 84
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 86
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 111
REFERENCIAS ........................................................................................................ 113
14

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, as discussões inerentes à questão agrária sempre estiveram


atreladas a fatores de cunho histórico, social, econômico e político. Em virtude dos
arranjos e relações destes fatores no decorrer da formação fundiária do país,
ocorreu o surgimento e aumento das disparidades socioeconômicas e inúmeros
problemas dela emanados.
A situação foi agravada ao longo do tempo e do imenso território brasileiro
devido, sobretudo, à precária legislação agrária atrelada à inexistência de
mecanismos que possibilitassem ao Estado conhecer a realidade do campo no país,
contribuindo assim, para consolidação de uma situação agrária caótica e que, por
conseguinte, ocasionou numerosos problemas em torno da distribuição de terras no
Brasil.
Haja vista a dimensão e complexidade que os problemas alcançaram,
surgiram ao longo do tempo, ferramentas e órgãos governamentais visando coletar,
armazenar e gerenciar informações acerca das propriedades rurais do país,
originando assim, diferentes tipos de cadastros de terra, estes cujo principal objetivo
é ser um instrumento empregado para subsidiar tecnicamente as tomadas de
decisões de natureza políticas e administrativas acerca das questões agrárias.
No que tange ao papel do Estado neste sentido, ainda no império, este
passou a adotar mecanismos que atendesse a tais necessidades. Todavia, os
resultados, em especial, advindos da adoção de diferentes cadastros de terra desde
então não foram suficientes para abarcar efetivamente o país por completo, devido
às dificuldades técnicas na implantação e gerenciamento aliado ao conflito de
interesses, especialmente, dos grandes proprietários de terras.
Assim, surgiram ao longo da história fundiária do país muitas tentativas de
implantação de diferentes cadastros de terras entre os quais são destacados, dada
sua importância a nível nacional, os Registros Eclesiásticos (ou paroquiais) de
Terras, na década de 1850 e o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), a partir
da década de 1960, sob responsabilidade do recém criado Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Mesmo com importante contribuição nas
suas vigências, ambos, devido serem de natureza declaratória aliada à falta de
15

tecnologia e padronização na obtenção dos dados, que possibilitassem a verificação


da precisão e veracidade das informações obtidas, apresentavam significativas
falhas e omissões em seus respectivos banco de dados.
Desta forma, diante da necessidade de aperfeiçoar o cadastro de terras no
país, e com intuito de abolir os problemas existentes até então, foi criado por meio
da lei 10.267/2001, conhecida como a lei do georreferenciamento, o Cadastro
Nacional de Imóveis Rurais (CNIR).
O CNIR é fruto dos avanços técnicos da Cartografia e Geodésia, ferramentas
as quais foram empregadas objetivando acabar com as lacunas e imprecisões das
informações contidas nos cadastros de terras ora existentes, além de ser a
ferramenta necessária para obtenção de informações sistematizadas e atualizadas
periodicamente da real situação fundiária brasileira.
Neste contexto, assim como ocorreu em muitas outras áreas e regiões do
país, a dinâmica fundiária na Mesorregião do Extremo Oeste Baiano (MOB) foi
baseada em uma distribuição de terras discrepante, entre os diferentes agentes
interessados no acesso e usufruto das mesmas ao longo de sua formação e
consolidação fundiária.
Logo, devido as suas características de apropriação ao longo do tempo, as
questões inerentes a terras sempre causou o acirramento e conflito dos diferentes
interessados pela ocupação territorial rural na MOB, seja em tempos pretéritos ou
ainda na atualidade.
Assim se faz necessário à investigação de qual forma tal processo reflete nas
caraterísticas da apropriação fundiária atualmente existente na MOB, que por sua
vez, são contempladas pelas ações inerentes a Lei de georreferenciamento.
Dada às circunstâncias, o presente estudo tem por objetivo avaliar o processo
de georreferenciamento e certificação de imóveis rurais, delineadas pela
implantação do CNIR, efetuadas até o dia 31 de Outubro de 2015 na MOB.
Para tanto, determinou-se ainda como objetivos específicos, que
corroboraram para contemplar objetivo principal:
 Caracterizar o surgimento e dinâmica temporal das posses e da propriedade
fundiária na Região Oeste da Bahia;
 Quantificar o número e área de imóveis rurais certificados na MOB até o dia
31 de Outubro de 2015 na MOB;
16

 Analisar a distribuição e implicação espacial das certificações de imóveis


rurais nos municípios que compõe a MOB.

Desta forma, espera-se que as discussões do presente trabalho contribuam


para o entendimento da complexidade envolta às questões agrárias da MOB, ao
abordar a temática de forma suscita, apresentando os principais elementos e
agentes responsáveis pelo processo de surgimento e expansão dos imóveis rurais
de grandes extensões na região. Sendo também preocupação do mesmo, analisar
as mudanças na legislação e sua contribuição para o atual cenário agrário.
A presente pesquisa está organizada de modo a trazer desde as discussões
teóricas referentes ao tema do acesso a terra e suas problemáticas, relacionando-a
com o histórico da formação da MOB e um diagnóstico da situação da estrutura
fundiária atual, posterior a regulamentação da lei de georreferenciamento e seus
impactos na delimitação de imóveis rurais nos municípios que a compõem. Assim,
este trabalho tem-se por divisão os seguintes capítulos:
No primeiro capítulo faz-se a introdução e contextualização acerca do tema
apontando, de forma breve, as problemáticas, motivações, objetivos, hipóteses que
corroboraram para elaboração deste estudo, além dos benefícios esperados com a
realização do trabalho para sociedade como um todo.
No segundo capítulo é realizada a análise quanto às formas de acesso e
legislação, relativos às terras públicas e privadas no país, levando-se em
consideração o recorte temporal que vai do período colonial à Constituição Federal
de 1988 e seus desdobramentos que avançam sobre a década de 1990.
O terceiro capítulo aborda o surgimento e o papel do INCRA no processo de
regularização fundiária além de discutir as diretrizes delineadas pela Lei
10.267/2001.
O quarto capítulo abarca a caracterização dos aspectos naturais, históricos e
político-administrativos da mesorregião do Extremo Oeste Baiano.
O quinto capítulo corresponde aos materiais e métodos, que objetiva
apresentar às etapas da pesquisa, das fases e metodologia necessárias para
elaboração do presente trabalho, além dos mecanismos que foram adotados para a
avaliação da Lei 10.267/2001 na MOB.
Por fim, são realizadas as considerações, reflexões e indicações para futuras
pesquisas referentes ao tema trabalhado no decorrer desta pesquisa.
17

2. LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA


BRASILEIRA: DAS SESMARIAS À CONSTITUIÇÃO DE 1988

A discussão da questão fundiária no Brasil está centrada nas disparidades


existentes na distribuição de terras no campo. Sendo esta, uma consequência da
frágil política agrária adotada no país desde os primórdios do seu processo de
colonização, sendo continuada ou agravada no decorrer dos regimes políticos
posteriores e que atualmente ainda provoca consideráveis reflexos na distribuição
de terras no país como um todo (ALCÂNTARA FILHO e FONTES, 2009).
O problema agrário brasileiro foi agravado devido, sobretudo, pela
inexistência, falha ou demora na regulamentação de questões relativa à posse e
domínio de terras no país ao longo do seu processo de formação territorial.
Diante do exposto, o presente capítulo busca o entendimento a respeito do
processo de apropriação do território agrário brasileiro emanado da regulamentação
jurídica que permeia desde o papel do estado, com as terras devolutas até a origem
da figura jurídica da posse da terra. Apresenta e discute também marcos legislativo
e mecanismos governamentais que busca regularizar as questões intrínsecas a este
processo assim como as tentativas de criar e implantar o cadastro rural no país.

2.1. As Sesmarias

Atualmente o Brasil possui uma das piores distribuições de terra no mundo,


sendo este um problema de origem histórica, iniciando mais precisamente ainda no
período colonial fomentado pelo modo de ocupação do território pela Coroa
Portuguesa, em especial, pela adoção do sistema de Sesmarias (SILVA, 2008).
De modo geral, o sistema de Sesmarias privilegiavam poucas pessoas com a
posse de grandes parcelas de terra, sendo adotado no país logo após a chegada
dos Portugueses em terras brasileiras.
A implementação do regime de sesmarias no Brasil foi feita através da
instituição das Capitanias Hereditárias (1534) e dos Governos Gerais
(1548). Concomitante a esse processo, constituiu-se também a ocupação
de terras públicas, em áreas de difícil acesso ou não exploradas pelos
sesmeiros. O sistema perdurou por quase todo o período do Brasil Colonial,
até ser suspenso por D. Pedro em 1822 (ESTEVES, 2010, p. 10).
18

No Brasil, as Sesmarias foram glebas de terras concedidas pela Coroa


Portuguesa a quem se dispusessem a cultivá-las, dando em troca um sexto da
produção, na forma de dízimo (INCRA, 2010). Em geral, estas glebas eram extensas
áreas de terras dado a uma única pessoa – sesmeiros – que por sua vez, deveriam
ser cristãos e escolhidos por um donatário de Capitania Hereditária (SILVA, 2008).
No referido sistema era realizada apenas a concessão das terras, que ainda
pertenciam ao rei de Portugal. Aos sesmeiros era concebido apenas o direito à
posse da gleba de terra “fato é que não era a terra que o soberano doava, mas os
benefícios e o usufruto dela” (SILVA, 2008, p.36).
O sesmeiro ainda possuía deveres a serem realizados em nome da Coroa
Portuguesa, visto que, “a concessão da sesmaria era condicionada por algumas
obrigatoriedades, como o aproveitamento da terra e a demarcação, sendo que o seu
não cumprimento implicava em devolução à Coroa” (ESTEVES, 2010, p. 10).
Aquele que por algum motivo não cumprisse as obrigatoriedades relacionadas
com sua gleba de terra, poderia arrenda-la a outra pessoa que assumisse tais
tarefas. Porém, em caso de nenhum tipo de aproveitamento da gleba estava prevista
o confisco da mesma pela Coroa Portuguesa. Sendo este ato que deu origem a
expressão “terras devolutas” no país (COMPARATO, sd).
Apesar do rigor da lei de concessão das sesmarias, orientadas pelas
Ordenações Manuelinas, na prática, por falta de funcionários no período, existia
pouca fiscalização por parte da Coroa Portuguesa no que concerne ao comprimento
de tais obrigatoriedades, acarretando no surgimento de grandes propriedades
improdutivas pertencentes aos sesmeiros (NOZOE, 2014).
Cabe salientar que o modelo de Sesmaria adotado no Brasil não era inédito, o
mesmo foi trazido pela Coroa Portuguesa que já o tinha utilizado no século XIV, uma
vez que, o sistema aqui adotado é similar à:

Lei de Sesmarias que data de 1375, [adotado] quando ocorreu a retomada


das terras aos muçulmanos em Portugal. Através desse instrumento
jurídico, a propriedade fundiária estava condicionada ao uso produtivo das
terras (ESTEVES, 2010, p. 22).

Enquanto em Portugal o intuito da lei foi de ocupar terras pertencentes à


Coroa de forma produtiva, no Brasil, foi um meio de garantir que a distribuição de
terras fosse realizada de forma patrimonialista, haja vista que, foi um sistema cujo
não se distinguia o interesse público do privado (COVOLAN e GONZALEZ, 2008).
19

No Brasil, a adoção deste sistema abarcavam ainda outros interesses da


Coroa Portuguesa, na relação metrópole para com a sua colônia, que eram:

A expansão comercial europeia dos séculos XV e XVII, que deu o aspecto


de economia de exploração e, por outro lado, a especificidade das
possessões portuguesas, que trouxeram consigo determinadas normas
reguladoras da propriedade de terras (ESTEVES, 2010, p. 28).

Tais objetivos ficaram latentes, visto que, neste período houve uma intensa
exploração dos recursos naturais disponíveis no país, inicialmente, com a extração e
exportação para o continente Europeu do Pau-Brasil, e, posteriormente, a partir do
final do século XVI com a consolidação da exploração agrícola em grande escala de
cana-de-açúcar e já no século XVIII com a exploração de ouro e diamantes, que
servia excepcionalmente aos interesses comerciais da Coroa (FERNANDES, 2014).
Este cenário trouxe como consequência inevitável à implantação
desordenada do sistema latifundiário no território brasileiro, e acabou saindo do
controle da Coroa Portuguesa, que mesmo sem obter muito sucesso, procurou inibir
as concessões de sesmarias no país.

As autoridades metropolitanas, advertidas dos maus resultados do sistema


aqui implantado, procuraram, a partir de fins do século XVII [limitar] a área
de cada sesmaria: cinco léguas quadradas pela carta régia de 27 de
dezembro de 1695, em seguida reduzidas a três pela carta régia de 7 de
dezembro de 1697; o que ainda representava uma grande superfície,
equivalente a 12.000 hectares. Em 3 de março de 1702, outra carta régia
veio condicionar a legitimidade de cada data de terra à efetiva demarcação
de sua área (COMPARATO, p. 03, sd).

Além da determinação do tamanho máximo de concessão, a Carta Régia de


27 de Dezembro de 1695, também apontou a obrigação do pagamento de foro pelos
sesmeiros, até então, os mesmos tinham que pagar apenas o dízimo sobre sua
produção agrícola. Quanto ao valor, as sesmarias “tiveram estipulados foros que
variavam de 600 réis a 4 mil-réis anuais, porém, parece que a grande maioria
variava entre 1 mil-réis e 2 mil-réis” (SILVA, 2008, p. 60). Não eram mencionados na
mesma, os critérios adotados para a cobrança, havia apenas a menção que seria
em função da “grandeza e bondade da terra” (SILVA, 2008, p. 60).
Mesmo com tais intervenções, o processo de ocupação por meio da posse já
havia se consolidado no país, e tais medidas não surtiram os efeitos desejados.
O modelo só foi cessado quando o governo, por meio da resolução n°. 76 de
17 de julho de 1822, determinou a suspensão da concessão de todas as sesmarias
futuras até a Assembleia Geral e Legislativa. Porém, já havia se criado e
20

consolidado no país uma sociedade latifundiária, monocultora e escravista


(ESTEVES, 2010).
Posteriormente a este período, já com o Brasil independente de Portugal, foi
promulgada a Constituição de 1824. Todavia, não se observou nenhuma lei
infraconstitucional com intuito de regulamentar à formação da propriedade no país,
sendo esta um reflexo da grande instabilidade política social, não apenas no país,
mas, também nas suas relações internacionais, em especial, em torno da proibição
do tráfico negreiro pela Inglaterra (COVOLAN e GONZALEZ, 2008).
De modo contundente o país ficou inerte, em relação a leis que
regulamentassem o acesso a terra por quase três décadas, contribuindo para
aumentar o caos instalado até então.

Esses quase trinta anos entre a derrubada do regime sesmarial e a


instituição de uma nova Lei ficaram conhecidos como “Império de posses”
ou “fase áurea do posseiro”, pois, não havendo nenhum tipo de
normatização e regulamentação de terras, a posse tornou-se a única forma
de aquisição de terras. Nesse período aumenta-se paulatinamente o
número de posseiros, de grandes propriedades e também marca a
formação das oligarquias rurais no Brasil (ALCÂNTARA FILHO e FONTES,
2009, p. 66).

Posteriormente a este período, no início da década de 1850, em virtude da


conjuntura social no país, em especial, quanto ao possível acesso dos negros
recém-libertos às terras no país, foi criada uma lei pela qual a terra passou a ter
valor monetário. Assim, acabou legitimando o acesso à terra de pessoas com certo
poder aquisitivo e dificultou o acesso daqueles sem dinheiro para comprá-las ou em
muitos casos dos que tinham apenas a posse da terra (COMPARATO, sd).
Alavancados pela dinâmica socioeconômica do país, o acesso a terra passa a
ter outras regras, regidas pela criação e implantação da Lei de Terras de 1850.

2.2. Lei das terras de 1850

Em virtude dos problemas na distribuição de terras até então, conforme


descritos anteriormente, na década de 1850, o governo procurou ordenar o acesso
às terras no campo por meio da aprovação da Lei nº 601, de 18 de setembro de
1850, conhecida como Lei das Terras. Logo, no 1º artigo da referida lei, a terra que
até então era um bem público, apenas com o direito de posse pelos sesmeiros e
posseiros, tornou-se um bem econômico dotado de valor e seu acesso dado de
21

forma particular, exclusivamente, por meio de compra e venda (FERNANDES,


2014).
A referida lei foi à primeira tentativa de realizar a regularização fundiária no
país – mesmo que já tardiamente – por meio da intervenção do Estado, uma vez
que, entre os dispositivos mencionados na mesma, estavam ainda, à proibição de
ocupar áreas públicas, tidas como devolutas, pois, assim eram consideradas as
terras pertencentes ao país, províncias ou municípios e ainda aquelas que não
estivessem ocupadas, tituladas ou que não tivesse cumprido as determinações de
aproveitamento determinado pela lei que regiam as sesmarias ou outras concessões
do Governo Geral ou Provincial (COVOLAN e GONZALEZ, 2008).
Na prática, tais medidas reforçaram o poder dos latifundiários já existentes, ao
tornar ilegais as posses, principalmente àquelas exercidas por pequenos produtores,
sem condições financeiras para regularizá-las e ainda aumentou a disparidade
socioeconômica do acesso a terra, em virtude da necessidade de comprá-la para ter
a posse e usufruto à mesma (ESTEVES, 2010).
Segunda a referida lei, havia a possibilidade da regularização das terras dos
pequenos produtores. Entretanto, se aplicava somente para aqueles que tenham se
apossado das terras pertencente a algum sesmeiros, que por sua vez, não tivesse
cumprido com as suas devidas obrigações.

No caso de posse da terra, esta deveria estar cultivada, ou com algum


princípio de cultura e morada habitual do posseiro, ainda que as condições
anteriormente assumidas por este, enquanto sesmeiro, não se tivessem
cumprido adequadamente (COVOLAN e GONZALEZ, 2008, p. 5.816).

Tais características atreladas às mudanças no cenário agro econômico do


país no período, como a mudança da cana-de-açúcar para o café, como principal
produto agrícola de exportação do país, agravaram as diferenças no campo, por
consequência, dificultou ainda mais o acesso a terra, sobretudo, por parte dos
pequenos produtores que em muitos casos tinham apenas a posse das terras em
que estavam instalados, não possuindo qualquer tipo de titulo que assegurasse
perante a lei que as terras eram suas de fato (COMPARATO, sd).
É neste período que se inicia de fato a preocupação efetiva na demarcação
dos limites das propriedades rurais. Com intuito de separar as terras devolutas, de
posse do poder público (nacional, provincial ou municipal) das terras privadas,
entendida como aquelas com presença de produção agropecuária de alguma
22

natureza, fizeram-se necessário à demarcação de todas as propriedades rurais da


época, sendo determinada que fosse de iniciativa do próprio proprietário e as
informações registradas junto ao respectivo vigário da paróquia que a propriedade
estivesse localizada, surgindo assim os Registros Eclesiásticos (ou paroquiais) de
Terras. Já a demarcação das terras devolutas ficou a cargo do próprio governo, a
serem realizadas posterior ao prazo inicial de 5 anos dado aos proprietários privados
(COVOLAN e GONZALEZ, 2008; SILVA, 2008; FERNANDES, 2014).
Os Registros Eclesiásticos de Terras representou além da inserção da
obrigatoriedade de demarcação a necessidade de registro da mesma.

O registro da terra (propriedades, terras comunais, terras de mineração,


posses e sesmarias), passa ser realizado junto às paróquias. O Vigário de
cada Freguesia do Império era responsável por receber as declarações de
registros de terras e proceder o seu registro, assim como detinha o poder de
contestação das declarações (ESTEVES, 2010, pag. 12).

Na prática, a dita demarcação dos limites da propriedade era apenas de


caráter descritivo, com informações pouco precisas no que concerne ao
conhecimento do tamanho total da área e sua respectiva localização (SILVA, 2008).
Com relação à possibilidade de regularização de áreas obtidas por meio dos
sistemas de sesmarias, a qual se tinha apenas posse da propriedade, a Lei das
terras não limitava o tamanho máximo das posses que poderiam ser “legalizadas”,
fortalecendo o grande latifundiário. Foi autorizada ainda venda de lotes de terras
devolutas cujo objetivo foi subsidiar a vinda e a permanência de novos colonos às
áreas de produção, baseada, sobretudo, na vinda de imigrantes para substituir a
mão-de-obra escrava recém liberta no país (COVOLAN e GONZALEZ, 2008).
Outra medida que acabou fomentando a existência dos grandes latifúndios no
período, foi à abolição do imposto territorial contido no seu anteprojeto, de 1843.
Porém, retirado da Lei de terras, fazendo com que as grandes propriedades não
fossem totalmente cultivadas, com a existência de áreas reservadas para futura
expansão da produção ou ainda para especulação imobiliária (FERNANDES, 2014).
Por não ter o efeito prático desejado, a Lei de Terras foi regulamentada pelo
decreto nº 1.318, de 30 de janeiro de 1854, o qual:

Serviu para dar os mecanismos necessários à execução da lei. Sendo


assim, este regulamento representava a mediação da lei com a execução
prática da mesma. Neste regulamento afloraram em sua completude as
contradições entre a lei e a prática, entre o que a lei propunha e o poder real
de sê-la efetivada na prática (FERNANDES, 2014, p. 20).
23

O referido decreto além determinar as normas a serem seguidas para


demarcação e registro de terras particulares e públicas, o seu artigo 16, faz a
primeira referência em lei, para obrigatoriedade de apresentação de mapas e
memorial descritivos da área medida, sobre isto se determina que “Estes mappas
serão acompanhados de memoriaes, contendo as notas descriptivas do terreno
medido, e todas as outras indicações, que devem ser feitas em conformidade do
Regulamento Especial das medições” (BRASIL, 1854). Tal obrigação estava
circunscrita à medição das Terras Públicas, buscando assim, aliar as descrições da
área existentes com a parte gráfica da mesma.
As significativas mudanças na forma de apropriação das terras acabaram por
provocar o acirramento de algumas questões sociais no campo, pois, potencializava
a posse e título dos grandes latifundiários em detrimento do marginalismo da posse
realizada pelo pequeno produtor, que em sua maioria era colono ou tinha apenas a
posse da terra (posseiro).
Outro fator que inibiu maior abrangência da lei foi à falta de regras explícitas
no que concerne a posse de terras devolutas, visto que, o governo só iniciou o
processo de demarcação de suas terras –devolutas – após o prazo estipulado por lei
para que as propriedades privadas fossem demarcadas, fato que não foi cumprido
conforme as diretrizes da lei por ambos (SILVA, 2008).
Além das questões ora mencionadas, a Lei de Terras foi fundamental para
garantir a venda de lotes (terras devolutas) para os imigrantes, cujo objetivo imediato
era incorporar mão-de-obra necessária e barata para as grandes fazendas
produtoras de café e de outros produtos, para continuarem as atividades de
exportação “que se expandiam, qual seja, de forma móvel, predatória, e pelo
apossamento de terras devolutas não demarcadas” (FERNANDES, 2014, p. 18).
Haja vista sua implantação e desdobramentos:

O que se pode concluir diante da Lei de Terras é que essa foi uma espécie
de divisor de águas em relação à territorialização do Brasil, tanto na
legitimação da propriedade privada e do latifúndio como na demarcação de
terras devolutas no país. Desse modo, toda e qualquer propriedade no
Brasil deve ter como marco inicial a regulamentação da propriedade
expedida em 1850 ou comprada da Coroa portuguesa, caso contrário é
terra devoluta, ou seja, passível de desapropriação (ALCÂNTARA FILHO e
FONTES, 2009, p. 66).
24

No período subsequente entre a proclamação da República, em 1889 até


1964 (Estatuto da Terra), o problema da legitimação de posses foi posto em plano
secundário.
Neste período a principal discussão foi em torno de uma emenda à
Constituição de 1891, conhecida também como “Emenda Júlio de Castilhos” a qual
propunha a mudança de uma das principais questões no domínio das terras
devolutas no país. Em questão estava se as mesmas ficariam sob domínio dos
estados (tendência federalista ou descentralizadora) ou da União (tendência
centralizadora). Por fim, foi aprovada a emissão de propriedade por parte dos
estados e não mais como função da União, que ficara responsável pela
regularização fundiária apenas nas áreas fronteiriças do país (FERNANDES, 2014).
Ainda no período da República Velha viu-se surgir, em especial, nas regiões
Norte e Nordeste do país, a prática do coronelismo, a qual representava um dos
reflexos imediatos da descentralização das terras devolutas.
O coronelismo representou o pacto entre grandes latifundiários com
representantes políticos locais e estaduais, em troca do apoio eleitoral do partido no
poder, cujo emanava favores políticos tais como nomeação de juízes de direito e
delegados de polícia, que fossem da confiança dos coronéis (COMPARATO, sd).
Tais coronéis detinham ainda poder absoluto em seu favor nas questões
agrárias de seu interesse, levando plena vantagem politicas e jurídicas em possíveis
disputas com posseiros, sendo que, quando necessário, ainda possuíam a seu
serviço uma verdadeira tropa de pistoleiros, os quais atuavam como autêntico
exército particular: os famosos jagunços (COMPARATO, sd).
A vigência da Lei de Terras de 1850 chegou ao fim na revolução de 1930,
impulsionada principalmente pelo crescente acirramento das disputas em âmbito
político-legislativo entre União e Estados em torno das terras devolutas, além do
crescimento e efervescência dos movimentos sociais no campo, especialmente as
ligas camponesas no nordeste, resultado das contradições agudas e a crescente
violência apresentadas no campo brasileiro (FERNANDES, 2014).
Semelhante ao que aconteceu no término da vigência das sesmarias, com o
fim da lei de terras de 1850, houve um lapso temporal, neste caso entre as décadas
de 1930 e 1960, sem que o país dispusesse de uma lei específica para as questões
agrárias, contribuindo mais uma vez para aumentar o cenário de caos no campo
brasileiro.
25

2.3. Estatuto da Terra

Inicialmente, há de se ressaltar que a aprovação de uma lei tida como


progressista para época, em especial, dada as circunstancia da instalação do
governo militar no início da década de 1960, ocorreu em vista de fatores no cenário
externo e interno do Brasil, sua aprovação “veio como resposta a duas ordens de
fatores: de um lado os movimentos sociais no campo estancados pelo golpe de
março de 1964; e, de outro, à pressão norte-americana pela adoção de um
programa de reformas para o campo” (FERNANDES, 2014, p. 39).
Assim, enquanto internamente no país houve uma ruptura no crescimento dos
movimentos sociais que buscavam uma maior igualdade social, inclusive na
distribuição de terras no campo, havia ainda a pressão exercida externamente pelos
Estados Unidos aos países latino americanos para conter qualquer movimento
revolucionário, haja vista a Revolução Cubana, em 1959. Para tanto se defendia, por
meio do Pacto de Cidade Del Leste (1961) a diminuição das desigualdades
econômicas, sociais e políticas existentes nestes países com intuito de inibir
possíveis revoltas das massas. No campo, a reforma agrária foi o instrumento
indicado para efetivar essas mudanças de cunho socioeconômico (SILVA, 2008).
Em meio às turbulências vividas no país, em 30 de Novembro de 1964,
durante o governo do então presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, instituiu-se a primeira lei de Reforma Agrária no Brasil, por meio da Lei nº
4.504 conhecida como também como Estatuto da Terra, que surge no momento em
que há um significativo aumento das disputas por terras no país em vista das
discrepâncias na sua distribuição. O referido estatuto buscou conceituar o campo, no
que tange à criação de termos e classificação atrelados ao tamanho da propriedade,
a determinação dos possíveis níveis de produtividade e ainda caracterizar o uso
social da terra (ALCÂNTARA FILHO e FONTES, 2009).
No âmbito geral, o estatuto trouxe importantes mudanças com relação à
regulação da propriedade da terra no período. Todavia, “tais mudanças foram
insuficientes para subverter ou quebrar a conformação da forma de ocupação das
terras que foi herdada de períodos anteriores” (FERNANDES, 2014, p. 6).
Mesmo não abarcando todos os problemas existentes no período, a lei
possuiu um caráter inovador para a legislação existente até então, sobretudo, ao
introduzir novos conceitos relacionados à questão agrária, a despeito disto no Artigo
26

114, do anteprojeto da referida lei, foi estabelecido à garantia da propriedade


privada. Porém, incluiu-se também uma limitação “a propriedade tem, antes de tudo,
uma função social e não poderá ser exercida contra o interesse coletivo”
(FERNANDES, 2014, p. 27). Fator este, que atrelado ao conceito de produtividade
das propriedades rurais, abriu precedentes para a desapropriação de grandes
latifúndios improdutivos em prol dos projetos de Reforma Agrária no país.
Neste caso, a discussão mais relevante foi em torno do conceito de função
social da terra devido à possibilidade, em termos práticos, da desapropriação de
grandes áreas tidas como improdutivas em prol do cumprimento da referida função
social da mesma, que nos termos da lei significa:

§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social


quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela
labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho
entre os que a possuem e a cultivem.

Com tal definição buscou-se harmonizar características econômicas, sociais e


naturais entre a propriedade da terra e suas relações para com aquele que a ocupa
e faz uso em função do sustento de si e de sua família.
Neste sentido houve também mudanças significativas no que concerne aos
interesses de expansão, atrelada em muitos casos à especulação imobiliária e
reservas de expansão de grandes latifundiários e ainda a inserção do debate em
torno da Reforma Agrária no país ao qual, segundo conceitua o 1º paragrafo do 1º
artigo da lei é “o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da
terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos
princípios de justiça social e ao aumento de produtividade” (BRASIL, 1964, p. 01).
Na prática, não houve logo de imediato, a aprovação do Estatuto da Terra
para melhor distribuição de terras no país, haja vista que, “no decorrer da atuação
do governo militar, houve uma diluição da reforma agrária e uma inversão de
prioridades, sendo que, a desapropriação por interesse social foi deixada em
segundo plano com relação às atividades de zoneamento, cadastro e tributação”
(FERNANDES, 2014, p. 41). Motivadas por esses fatos, o governo da época
aprovou posteriormente ao Estatuto da Terra, novas leis e decretos com finalidades
de ajustes ao mesmo.
27

Neste contexto, o Decreto nº 59.456, de 4 de novembro de 1966 instituiu o I


Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), que na realidade, por falta de vontade
política, nunca saiu efetivamente do papel (ESTEVES, 2010).
No período que se estende ao longo da década de 1970. Apesar de serem
criados órgãos voltados para implantação da reforma agrária, a exemplo do INCRA,
os governantes estavam mais preocupados com a colonização da Amazônia, em
especial, na ocupação das margens da Transamazônica (BR-230) do que a
implantação da reforma agrária de fato (FELICIANO, 2003).
Em contrapartida a esta realidade, com intuito de aperfeiçoar as informações
sobre a situação jurídica e de uso dos imóveis rurais a Lei nº 4.947, de 06 de Abril
de 1966, delegou ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), a
obrigatoriedade da emissão do Certificado de Cadastro do Imóvel Rural (CCIR1), que
passou a ser exigido para uma série de ações (ESTEVES, 2010).
Neste panorama ainda houve regulamentação e implantação do Cadastro
Rural, criado pelo artigo 46 do Estatuto da Terra e que sofreu uma modificação por
meio da Lei nº 5.868 de 12 de Dezembro de 1972. Com o cadastro foi possível
aprimorar o Sistema de Tributação da Terra – STT, por intermédio do Imposto sobre
a Propriedade Territorial Rural – ITR e a implantação do Sistema Nacional de
Cadastro Rural – SNCR. Em todas as situações supracitadas, a implantação destes
mecanismos visou promover a integração e sistematização da coleta, pesquisa e
tratamento de dados referentes ao uso e posse de terras no país, contemplando
também o cadastro de terras públicas (ESTEVES, 2010).
No que tange aos esforços para promover a ligação entre as questões de
cadastro e de registro do imóvel, foi regulamentado pelas leis Nº 6.015, de 31 de
Dezembro de 1973, que faz menção aos registros públicos, inclusive o de imóveis
rurais, abarcando as diretrizes do imóvel e do (a) proprietário (a) para realização de
registro, averbação, hipotecas, dentre outros procedimentos.
Apesar de tais medidas contribuírem significantemente para melhorar
aspectos como a descrição do imóvel, o sistema de demarcação e registro ainda
1
O CCIR é um documento expedido pelo INCRA que confere o cadastro do imóvel rural. É
requisitado para as ações de desmembramento, hipoteca, arrendamento e venda, assim como pra
partilhas amigável ou judicial (sucessão causa mortis) nos termos da Lei 4.947 (06/04/1966) e
modificado pela Lei 10.267 (28/08/2001). É também exigido para o financiamento agrícola junto às
instituições bancárias, exceto nas situações previstas na Resolução do Banco Central nº 3.618
(30/09/2008) para os beneficiários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf), passando a exigir-se a apresentação da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP)
(ESTEVES, 2010, p. 21).
28

apresentavam falhas “como a inconsistente informação gráfica e falta de


coordenação com o registro de imóveis nos cartórios, possibilitando a existência de
duplicidade de matrículas, sobreposição de áreas e registros de imóveis com origem
duvidosa” (ESTEVES, 2010, p. 13).
Mesmo aumentando a atualização periódica dos dados cadastrais dos
imóveis rurais, por meio do CCIR e o crescente interesse por parte do Estado na
regularização fundiária do país, a legislação e meios técnicos do período ainda
deixavam lacunas significativas ao falharem quanto à existência de duplicidade de
informações e também por falta de uma regulamentação mais incisiva
(FERNANDES, 2014).
Devido ao cenário de falta de implantação de politicas públicas voltadas para
Reforma Agrária no país, o Decreto nº 97.766, de 10 de outubro de 1985, instituiu o
II PNRA do país. Todavia, o mesmo tinha metas utópicas com propósito em destinar
43 milhões de hectares voltado para o assentamento de 1,4 milhão de famílias até
1989. Para tanto, no mesmo decreto foi criado o Ministério Extraordinário para o
Desenvolvimento e a Reforma Agrária (Mirad) cuja meta era obter tais resultados.
Na prática, em 1989 os números alcançados pelo plano eram muito aquém das
metas estabelecidas com apenas 69.778 famílias assentadas em pouco mais de 3,7
milhões de hectares em todo país (FELICIANO, 2003).
Em virtude de uma nova conjuntura política no Brasil em 5 de outubro de
1988, encerrou-se oficialmente o regime militar, com a promulgação de uma nova
Constituição Federal, com poucas alterações no tocante às questões agrárias.

2.4. Constituição de 1988

A promulgação da Constituição de 1988 não provocou mudanças


significativas aos problemas inerentes às questões agrárias até então existentes.
Nota-se apenas um pequeno aperfeiçoamento em relação aos objetivos
determinados em legislações passadas, em especial, no que já era previsto no
Estatuto da Terra que buscava atingir um nível mais elevado de justiça social pelo
acesso a terra. Contudo, tal objetivo esbarrou na forma conservadora pelo qual foi
proposto. Assim, algo que representaria um importante avanço não chegou ao
objetivo esperado (COMPARATO, sd).
29

Esta percepção foi devido ao fato de temas como política agrícola e fundiária
e sobre reforma agrária estarem no capítulo de Título VII, o qual tratou de assuntos
pertinentes a Ordem Econômica e Financeira, e não no capítulo de Título VIII, o qual
debateu assuntos inerentes a Ordem Social. Desta forma, tem-se que “para os
autores da Constituição em vigor, a questão fundiária diz respeito exclusivamente à
vida econômica, nada tendo a ver com a desigualdade social” (COMPARATO, sd, p.
05) atribuindo outra conotação para a questão além do acesso a terras no país.
Outra pequena modificação presente na Constituição de 1988 diz respeito às
terras pertencentes à União, que é tratada no seu art. 20, Inciso II sendo definidas
como todas "as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das
fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à
preservação ambiental" (CONSTITUIÇÃO 1988). Isto representou mais clareza
quando comparada com a Constituição de 1967, o qual descreve terras devolutas da
União “a porção de terras devolutas tidas como indispensáveis à defesa do território
nacional ou essencial ao seu desenvolvimento econômico.” (CONSTITUIÇÃO 1967).
Logo, foi inserido entre as duas constituições nas terras devolutas as áreas militares,
vias federais de comunicação e áreas de preservação ambiental (FERREIRA, 2013).
Ainda a respeito das terras devolutas, estas passaram segundo o artigo 188,
a atenderem à questão fundiária, devendo seu uso ser compatível com a política
agrícola e com o respectivo PNRA, em vigor na ocasião:

A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a


política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com
área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica,
ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional.
§ 2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as
concessões de terras públicas para fins de reforma agrária (BRASIL, 1988).

Assim, além da possibilidade da implantação da reforma agrária ser advinda


da desapropriação de imóveis rurais considerados como improdutivos foi
incorporada mais esta possibilidade na distribuição de terras por este instrumento.
Com a finalidade de regulamentar os dispositivos constitucionais relativos à
Política Agrária Nacional, especialmente no que tange a Reforma Agrária, foi
sancionada a Lei nº 8.629, de 25 de Fevereiro de 1993, que ficou conhecida como
“Lei Agrária”.
30

Na referida lei houve a alterações de alguns conceitos relativos à


classificação do imóvel rural em função de sua dimensão, já presentes
anteriormente no Estatuto da terra (1964), aperfeiçoando assim, as denominações
minifúndio e o latifúndio relacionando-os à mensuração de área denominada de
módulos rurais, que variam de acordo com as características de cada região no país
(FELICIANO, 2003).
A referida lei entende o módulo rural conforme preconiza o art. 4º, incisos III e
II, do Estatuto da Terra, que o relaciona ao conceito de propriedade familiar que é:

O imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua


família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a
subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada
para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a
ajuda de terceiros (BRASIL, 1964).

Baseando-se neste conceito, as propriedades rurais foram reclassificadas em:

Minifúndio – dimensão menor que o módulo rural fixado para o município;


Pequena propriedade – dimensão entre 1 e 4 módulos rurais; Médias
propriedades – dimensão entre 5 e 15 módulos rurais; Grandes
propriedades – dimensão superior a 15 módulos rurais. O tamanho de um
módulo rural varia, de acordo com a região ou área do território brasileiro,
entre 5 a 110 hectares (MORISSAWA, 2008, p. 110).

A principal finalidade dos termos presentes na lei foi caracterizar, por meio do
módulo rural, as diferentes realidades do campo brasileiro.
Outra caracterização das propriedades rurais presente no estatuto é referente
aos níveis de produtividade das mesmas. Foram traçadas as unidades mínimas de
produção em vista da quantidade de módulos rurais, a fim de caracterizar as
propriedades em produtivas ou improdutivas (FELICIANO, 2003).
Mesmo com a nova legislação voltada às questões agrárias, a ineficácia ou
falta de adoção da mesma, fez com que a partir da segunda metade da década de
1990, iniciasse a preocupação de aprimorar o cadastro de terras no Brasil de
maneira que o mesmo fosse consistente e que abarcasse a realidade da questão
agrária no país (FERNANDES, 2014).
Dentro deste contexto, dois fatos ocorridos no ano de 1997 foram
fundamentais para que SNCR, gerido pelo INCRA fosse reformulado buscando as
melhorias necessárias, sendo eles: “a Carta de Belém e a auditoria realizada pelo
Tribunal de Contas da União (TCU) nas atividades realizadas pelo INCRA, entre
1994 e 1997, apontando diversas falhas em seu cadastro” (ESTEVES, 2010, p. 13).
31

A auditoria realizada objetivou avaliar a forma pela qual a política fundiária


estava sendo implantada pelo INCRA, sendo solicitada pela Comissão de Agricultura
e Política Rural da Câmara dos Deputados.
Com base na auditoria, o TCU apontou uma série de irregularidades no
cadastro do INCRA, tais como:

Serviço precário e descontínuo por parte das Unidades Municipais de


Cadastramento (UMCs); ausência de documentação comprobatória das
informações declaratórias; baixa abrangência dos imóveis cadastrados; falta
de padronização nas plantas cartográficas de imóveis com mais de mil
hectares; fiscalização ineficaz dos dados cadastrais de área passíveis de
desapropriação baseada nos cadastros, com a possibilidade de movimentos
sociais indicarem as terras a serem adquiridas (ESTEVES, 2010, p. 14).

Além de identificar os erros mencionados no SNCR, único cadastro rural do


INCRA em vigência até então, o relatório gerado pela auditoria recomendou ao MDA
e ao INCRA que fossem tomadas todas as providências necessárias para criação de
um novo cadastro rural baseado em informações georreferenciadas, com intuito de
minimizar os diversos problemas encontrados, em especial, no que concerne a
duplicidade de áreas registradas presentes no cadastro (ESTEVES, 2010).
O relatório apresentou ainda:

A necessidade de elaboração de um cadastro único de imóveis rurais


constituídos por dados do INCRA, Secretaria da Receita Federal, FUNAI,
IBAMA, IBGE e órgãos estaduais de terra. Além disso, o TCU sugeriu o
levantamento dos imóveis sujeitos à desapropriação, trabalhando em
conjunto com os cartórios de títulos e os institutos de terras estaduais, se
ainda necessário (ESTEVES, 2010, p 14).

Também com este intuito, a “Carta de Belém”, que é a denominação do


documento final resultado do Congresso Brasileiro sobre Cadastro Rural, promovido
pela Associação dos Órgãos Estaduais de Terra (ANOTER), entre 8 a 11 de Abril de
1997 na cidade de Belém – PA, ainda apresentou a proposta de unificação dos
diversos Cadastros de Imóveis Rurais vigentes no país. O documento foi entregue
ao MDA em busca de soluções dos problemas apontados na mesma (ESTEVES,
2010).
O desdobramento destes documentos foi à reformulação imediata da Lei de
Registros Públicos (Lei 6.015/1973), que, por conseguinte, levou à obrigatoriedade
da implantação de um novo cadastro de terras no país.
Este arcabouço subsidiou a criação e implantação da Lei 10.267, a qual suas
atribuições e especificidades serão debatidas no próximo capítulo.
32

3. ATUAÇÃO DO INCRA E A LEI 10.267/2001

Devido às características do processo de ocupação no campo no país


supracitadas, ficou latente o acirramento dos vários interessados na busca pelo
acesso a terra, criando assim problemas sociais e conflitos no campo.
Este panorama é resultado, sobretudo, da forma pelo qual se deu a
apropriação de terras no país e, que foi em grande parte possibilitado pela falta de
controle dos órgãos públicos sobre as questões agrárias no Brasil que vem se
perpetuando desde o início de sua história.
Diante de tais circunstâncias foram criados ao longo da história do país vários
órgãos e legislação com intuito de regulamentar a política agrária, surgindo neste
contexto o INCRA e suas respectivas atribuições no ordenamento fundiário, sendo
ele o principal incumbido pela execução do que é preconizada lei 10.267/2001, que
por sua vez, tem o objetivo de obter as informações precisas dos imóveis rurais do
país como nunca se fizera antes.

3.1. Criação do INCRA

Durante o regime militar no Brasil (1964 – 1985), a Reforma Agrária foi


considerada uma das prioridades governamentais, apesar de não ter se tornado
realidade no decorrer deste período houve a criação e extinção de vários órgãos e
autarquias voltadas a este objetivo.
Neste contexto, a história do INCRA, criado neste período e com este intuito,
remonta à década de 1960, quando por meio da Lei delegada nº 11, de 11 de
Outubro de 1962 foi criada a Superintendência de Reforma Agrária (Supra) que era
subordinada ao Ministério da Agricultura e que no ato de sua criação absorveu as
atribuições do então Instituto Nacional de Imigração e Colonização (Inic), criado em
1954 e do Serviço Social Rural (SSR), criado em 1955 (INCRA, 2010).
Posteriormente, o Estatuto da Terra (1964) extinguiu a Supra em detrimento
da criação do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (Ibra), Instituto Nacional de
Desenvolvimento Rural (Inda) e o Grupo Executivo da Reforma Agrária (GERA)
todos com intuito de dar o suporte necessário à implantação da Reforma Agrária e
projetos de colonização no país (INCRA, 2010).
33

Até o início da década de 1970 estes órgãos tiveram pouca efetividade nas
funções que lhes foram atribuídas.
Diante deste contexto em 9 de julho de 1970, pelo Decreto-Lei nº 1.110, foi
criado o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que foi
vinculado também ao Ministério da Agricultura e sendo constituído pela junção do
INDA, GERA e IBRA extintos pelo referido decreto (FERNANDES, 2014).
Apesar das múltiplas alterações, assim como seus antecessores, o INCRA
teve pouca atuação logo após ser criado. Nas décadas posteriores, o INCRA ainda
passou por uma série de modificações na sua estrutura e vinculação ministerial.
A primeira alteração neste sentido foi por meio do Decreto nº 91.214, de 30 de
Abril de 1985, em que foi criado o Ministério da Reforma e do Desenvolvimento
Agrário (MIRAD), o qual, posteriormente, o INCRA foi incorporado, pelo Decreto-Lei
nº 2.363, de 21 de Outubro de 1987, no referido decreto houve a extinção do INCRA
em detrimento da criação do Instituto de Terras (Inter).
Por consequência do não cumprimento das metas estabelecidas no I PNRA
do país, a Medida Provisória nº 29, de 15 de janeiro de 1989, extinguiu o MIRAD e o
Decreto Legislativo nº 02, de 29 de Março de 1989, revogou os termos do Decreto-
lei nº 2.363/87, reestabelecendo o INCRA que passou a ser vinculado diretamente à
Presidência da República (FELICIANO, 2003).
Por fim, em 14 de janeiro de 2000, o Decreto nº 3.338 criou o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), órgão ao qual o INCRA passou e está vinculado
até hoje.
Quanto às suas atribuições, conforme descrito por Rosalen (2011), o INCRA é
uma autarquia federal responsável por implementar a política de reforma agrária,
além de realizar o ordenamento fundiário nacional de forma a contribuir para o
desenvolvimento sustentável do meio rural.
O INCRA tem por missão principal:

Promover a reforma agrária de maneira justa e sistematizada, a médio e


longo prazo, manter e gerir o cadastro nacional de imóveis rurais,
administrar terras públicas, além de identificar e registrar, demarcar e titular
terras destinadas a assentamentos e comunidades tradicionais quilombolas
(KOKAY, 2014, p. 02).

Sendo este arcabouço institucional que assegura ao INCRA a realização das


atividades de cadastro em todo país, fator determinante para implantação e
atualização do cadastro rural no país, tal como é delineado pela Lei 10.267/2001.
34

3.2. Antecedentes da criação da Lei nº 10.267/2001

Em virtude da realidade em que se encontrava cadastro rural oficial do país, o


SNCR, com várias falhas e omissões de informações acerca dos imóveis
cadastrados, viu-se a necessidade de regulamentação imediata do mesmo.
Neste sentido, o estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
realizado na década de 1990, constatou a existência no Brasil de mais de 4.560.000
imóveis com situação regular ou ainda irregular, devido à existência de múltiplos
cadastros no período. Logo, o número real de imóveis rurais no país era um dado
praticamente impossível de ser apurado corretamente, pois, outros fatores como
divergências conceituais quanto à definição de imóveis rurais e as inúmeras
mudanças de titularidades que acontecem no dia a dia em todo país, também
dificultavam a aquisição de tais informações de forma precisa (AUGUSTO, 2006).
Quanto à indefinição na apuração da quantidade real de imóveis existentes no
país, segundo o estudo, isto foi ocasionado, sobretudo, por uma questão conceitual
entre o INCRA, os Cartórios de Registro de Imóveis (CRI) e o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Assim, até a primeira década de 2000, a definição dos CRI, considera para
fins de registro, a unidade imobiliária, ou seja, cada matrícula como sendo um imóvel
independente. Em contrapartida, o INCRA considerava até então, que para fins de
cadastro no SNCR, a possibilidade de um imóvel rural ser constituído por mais de
uma matrícula (AUGUSTO, 2006).
O problema é similar quando analisada a estrutura fundiária do país, que é
realizada a partir dos dados de duas fontes de levantamento: do IBGE, por meio dos
censos agropecuários e das estatísticas cadastrais do INCRA, também pelo SNCR.
Em ambos os casos, os resultados apresentados não correspondem a uma
realidade precisa, especialmente, por serem dados elaborados, levando-se em
consideração apenas declarações dos proprietários ou posseiros, gerando assim,
indefinições em torno da área, situação jurídica da propriedade e ainda por não
contar com a conferência ou qualquer outro mecanismo de cruzamento de dados
com as informações existentes nos CRI (ESTEVES, 2010).
Estas e outras falhas no momento da declaração fazem com que “em muitos
casos, a preocupação do declarador com os impostos a pagar, terras improdutivas,
35

grilagem e interesse em obter crédito rural podem levar a uma declaração de área
superior ou inferior à realidade” (CNA, 2012, 05).
Além dos problemas citados anteriormente, outro existente, nas duas formas
de apuração, é também quanto à definição conceitual do objeto estudado, uma vez
que, o INCRA tem para fins de cadastro um conceito, enquanto o IBGE, para fins de
levantamento estatístico possui outro.
Quanto à definição do que seja o objeto de estudo, o IBGE define-o como:

Estabelecimento, também conhecido como unidade de exploração, é


utilizado pelos censos agropecuários do IBGE desde 1950, quando o
Recenseamento Geral contemplou os Censos Demográfico e Agrícola. Foi
definido como todo terreno de área contínua, independente do tamanho,
formado por uma ou mais parcelas, subordinado a um único produtor onde
existisse o cultivo do solo com culturas permanentes ou temporárias,
criação de animais, silvicultura ou reflorestamento e extração de produtos
vegetais. As áreas confinantes sob uma única administração, utilizadas
segundo diferentes condições legais (áreas próprias, arrendadas ou
ocupadas) foram consideradas como um único estabelecimento (ESTEVES,
2010, p. 04).

Em contrapartida o INCRA define como objeto de cadastro o imóvel rural cujo


tem o conceito advindo do Estatuto da Terra:

O imóvel rural corresponde à terminologia utilizada pelo INCRA e também


para fins tributários. Com a Lei 4.054 de 1964 (Estatuto da Terra), é definido
em seu artigo 4º como uma área contínua que se destina à exploração
extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, seja através de planos
públicos ou de iniciativa privada. O Artigo 46 definiu o imóvel rural como
uma categoria operacional com propósitos cadastrais e tributários que
passa a ser adotado no Cadastro Rural de 1967 e pelas ações executadas
pelo INCRA (ESTEVES, 2010, p. 18).

Tal imprecisão sempre causou discrepâncias na totalização do número e área


dos imóveis rurais no país pelas autarquias citadas, isto, em parte, reflete a falta de
controle dos órgãos governamentais para com o assunto e causa divergências
também na realização de outras atividades como, por exemplo, na tributação do
Imposto Territorial Rural (ITR) e no planejamento de politicas públicas que visam o
acesso igualitário a terra, caso da implantação da reforma agrária.
Como mencionado anteriormente, esta realidade foi um dos motivos para a
adoção de um cadastro rural unificado, neste caso, em especial, no que concernem
as relações entre INCRA e os CRI do país, visto que, o IBGE continua a adotar seu
conceito próprio em seus levantamentos estatísticos.
36

3.3. Criação da Lei nº 10.267/2001

Emanada de necessidades tais como: o reconhecimento real e preciso dos


limites dos imóveis rurais públicos e privados no país, regularização da malha
fundiária, combate mais efetivo da grilagem de terras, acabar com os chamados
vazios territoriais e os registros múltiplos de um mesmo imóvel rural foi criado um
cadastro unificado para todas as propriedades rurais no país, sendo as diretrizes
para tanto, definidas pela Lei nº 10.267, de 28 de Agosto de 2001, conhecida como
Lei do Georreferenciamento (GREGORIO e DALFORNO, 2012).
A referida lei e seus decretos regulamentadores possuem como principal
intuito acabar com os inúmeros problemas em torno do cadastro de terras no país.

3.3.1. Implantação do CNIR.

A Lei do Georreferenciamento ao modificar a Lei nº 5.868/1972 (lei que criou


o SNCR), criou o Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR), fazendo assim, a
ligação necessária, por meio da certificação do imóvel rural, entre o cadastro oficial
de terras e os registros de imóveis dos CRI de todo o país. Além disto:

A implantação do CNIR implica em: 1) operacionalizar um cadastro fundiário


de maior precisão e atualizado regular e periodicamente; 2) reconhecer
detalhada e institucionalmente a posse ilegal de terras; 3) cruzar dados com
a Secretaria da Receita Federal, aumentando a efetividade do Imposto
Territorial Rural; e 4) subsidiar tecnicamente a elaboração de políticas
públicas de desconcentração fundiária (ESTEVES, 2010, p. 20).

Desta forma, a implantação do CNIR abarcou as necessidades cadastrais, de


implantação da política agrária do INCRA, assim como, aprimorou os mecanismos
de outros órgãos que dependem de informações acerca dos imóveis rurais, em
especial, da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), responsável pela
cobrança do ITR, que a partir de então, passou a realizar o cálculo com maior
exatidão devido à possibilidade de cruzamento de informações contidas no CNIR
(BARROS, 2011).
Antes da sua criação, os órgãos e instituições ligados à administração
territorial rural não eram articuladas entre si, consequentemente, não existia um
cadastro rural único. Isto só contribuiu para originar os problemas ora citados. A Lei
37

de Georreferenciamento propôs a integração de todos os cadastros rural unicamente


no CNIR (BARROS e CARNEIRO, 2013).
Ressalta-se que antes da implantação do CNIR, além do cadastro rural do
INCRA, o SNCR, havia ainda outro cadastro rural ativo no país, se trata do Cadastro
Fiscal de Imóveis Rurais (CAFIR), criado em 1992 e gerido pela RFB para fins
tributários, além deste, outros órgãos e autarquias ligados às questões rurais que
também possuíam bancos de dados próprios segundo seus respectivos interesses.
Neste contexto, ainda existem no país o cadastro das áreas ambientais como
Reserva Legal (RL) e Área de Proteção Permanente (APP), realizado por meio do
Ato Declaratório Ambiental (ADA) gerido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); o Cadastro de Terras Indígenas, da
Fundação Nacional do Índio (FUNAI) gerenciado pelo Sistema de Informações
Territoriais (SIT) do Governo Federal e o cadastro de terras públicas, de
responsabilidade da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) com uso do cadastro
denominado de Sistema Integrado de Administração Patrimonial (SIAPA).
Com o CNIR, conforme mostrado pela Figura 1, houve a proposta de
unificação de todas as informações dos cadastros ora citados em um único.

Figura 1. Órgãos e instituições ligados à administração territorial rural e seus respectivos cadastros
Fonte: Barros (2011)
38

Por exercer uma função centralizadora das informações rurais do país, o


CNIR é um cadastro fundiário destinado a servir aos mecanismos de controle e
fiscalização sobre a propriedade rural de diversas naturezas, e também, é tido como
instrumento de auxílio à promoção da reforma agrária, exigindo assim, uma profunda
análise crítica do significado de sua utilização, devido ao fato do mesmo não está
completamente implantado (ESTEVES, 2010).

3.3.2. Normativa para o Georreferenciamento e Certificação de imóveis rurais

Além de criar o CNIR, a Lei do Georreferenciamento e seus decretos


regulamentadores, estabeleceram os métodos e ferramentas de gerenciamento a
serem adotados para as demarcações e descrições precisas dos imóveis rurais no
país, integrando-as aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e tendo como
meta principal promover a atualização cadastral dos quase 5 milhões de imóveis
rurais reconhecidos até então pelo SNCR (ESTEVES, 2010).
A principal vantagem na adoção deste tipo de tecnologia para subsidiar o
CNIR está na possibilidade de identificação de erros e omissões nos dados
existentes do SNCR (ainda em vigência) como: apontar fraudes, ambiguidades e
problemas correlatos existentes nos CRI, além de ser a forma de padronizar os
trabalhos para obtenção e atualização dos dados que integram o cadastro de terras
do Brasil (BARROS, 2011).
A partir de então, os imóveis rurais que venham a compor o CNIR, devem ser
obrigatoriamente certificados pelo INCRA, procedimento pelo qual é necessário o
georreferenciamento do imóvel rural, que é necessária:

Nos casos de desmembramento, parcelamento ou remembramento de


imóveis rurais, a identificação prevista na alínea a do item 3 do inciso II do
§ 1 o alínea a do item 3 do inciso II do 1 será obtida a partir de memorial
descritivo, assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices
definidores dos limites dos imóveis rurais, geo-referenciadas ao Sistema
Geodésico Brasileiro e com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA,
garantida a isenção de custos financeiros aos proprietários de imóveis rurais
cuja somatória da área não exceda a quatro módulos fiscais (BRASIL, 1973,
23).

Apesar da lei de Georreferenciamento prevê a aplicação também em imóveis


urbanos, as análises do presente trabalho serão restritas à aplicação em imóveis
39

rurais, haja vista que, somente estes fazem parte do banco de dados que compõe o
CNIR.
Com intuito de delinear as diretrizes e demais especificações necessárias às
etapas de georreferenciamento e certificação dos imóveis rurais, o INCRA adotou
como referência as definições publicadas pela Norma Técnica para
Georreferenciamento de Imóveis Rurais (NTGIR), a qual teve sua 1ª edição,
determinada pela Portaria INCRA/P/nº1.101 de 17 de Novembro de 2003 com o
propósito de orientar os profissionais que atuam nas atividades de demarcação,
medição e georreferenciamento de imóveis rurais (BRASIL, 2003).
Desde então, com finalidade de revisar, atualizar e sanar imprecisões foram
publicadas outras 2 edições de NTGIR: a 2ª NTGIR, publicada pela
Portaria/INCRA/P/Nº69 de 22 de Fevereiro de 2010 e revisada em 16 de Setembro
do mesmo ano, pela Portaria/INCRA/P/Nº578 e ainda 3ª NTGIR publicada pela
Portaria/INCRA/P/Nº486 de 23 de Novembro de 2013, vigente atualmente no país.
Além das NTGIR, o INCRA normatiza os atos necessários para o pleno
funcionamento da Lei do georreferenciamento por meio de portarias, Instruções
Normativas (IN) e Notas de Execução (NE).
Com a finalidade de atender as especificações da lei, decretos e demais atos
regulamentadores, o INCRA ficou responsável por montar a estrutura necessária à
execução das atividades preconizada pelas NTGIR.
Para tanto, inicialmente foi realizado o cadastro dos profissionais habilitados a
realizar serviços de georreferenciamento de imóveis rurais e, por seguinte, poderiam
requerer a certificação da parcela referente ao levantamento efetivado e ainda criou
os Comitês Regionais de Certificação (CRC), para análise dos processos.
Esta estrutura foi organizada por meio da Portaria/INCRA/P/Nº 514, de 01 de
Dezembro de 2005, a qual criou o Cadastro Nacional do Profissional Credenciado
cujo objetivo é de sancionar o credenciamento de profissionais aptos a realizar
atividades inerentes ao Georreferenciamento de imóveis rurais (GOMES, 2008).
A partir do credenciamento, o profissional obtém as suas credenciais,
composta por 3 ou 4 algarismos alfanuméricos, que é único para cada credenciado
no país, sendo esta a condição necessária para geração dos códigos presentes em
cada um dos vértices que venham a compor a poligonal referente ao imóvel, objeto
georreferenciado por tal profissional. Ressalta-se que apenas profissionais
credenciados pelo INCRA podem requerer a certificação do imóvel (GOMES, 2008).
40

A referida portaria ainda criou para cada uma das 30 Superintendências


Regionais (SR) do INCRA no país os CRC que é formado por servidores do Serviço
de Cartografia e do Serviço de Cadastro de cada uma das SR. Tais servidores
passaram então a acumular suas atribuições no CRC conjuntamente aos
respectivos serviços que já realizavam (BARROS, 2011).
Os CRC possuem por objetivo analisar e atestar publicamente que a poligonal
e o memorial descritivo, objetos do pedido de certificação, não se sobrepõe a
nenhuma outra poligonal constante no cadastro georreferenciado do INCRA, além
de sancionar que os serviços de georreferenciamento de imóveis rurais executados
pelo profissional credenciado, estão em conformidade com os requisitos
especificados pela respectiva NTGIR em vigência (BRASIL, 2010).
Além destes, a portaria também criou, em nível central, o Comitê Gestor de
Certificação e Credenciamento, o qual tem a atribuição de:

I. Coordenar, normalizar, acompanhar, fiscalizar e manter o serviço de


credenciamento de profissionais habilitados a executarem serviços de
georreferenciamento de imóveis rurais, em atendimento ao que preconiza a
Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais [...];
II. Coordenar, normalizar, acompanhar e fiscalizar as atividades de
certificação de peças técnicas de imóveis rurais, desenvolvidas pelos
Comitês Regionais de Certificação, visando o atendimento da Lei 10.267 de
2001.

Assim ficou constituída a estrutura necessária para abranger todas as etapas


de georreferenciamento e certificação dos imóveis rurais no país.

3.3.3. Etapas e normas para o Georreferenciamento

Para fins de padronização das atividades de georreferenciamento pelos


credenciados em todo país, o INCRA, por meio das NTGIR’s e demais atos próprios,
estabelecem respectivamente as normativas e diretrizes aplicáveis aos serviços
desta natureza, que é realizado por meio do levantamento e materialização dos
limites legais, feições e atributos que compõem o imóvel rural (BRASIL, 2003).
Ao realizar o georreferenciamento de um imóvel rural, o trabalho do
credenciado é divido em 3 etapas distintas, as quais correspondem: (a) Etapa pré-
campo ou planejamento; (b) Etapa de execução do levantamento e medição; e, (c)
Etapa de processamento de dados e confecção das peças técnicas.
41

A primeira etapa, correspondente ao planejamento, consiste na rigorosa


análise documental do imóvel rural a ser georreferenciado. Os documentos são
compostos por aqueles de natureza cartorária, neste caso, basicamente a
matrícula/transcrição (podendo haver mais de uma) que compõem o imóvel rural e
os documentos emitidos pelo INCRA, a exemplo, do CCIR (se houver). Nesta etapa
também é realizada conjuntamente com o(s) proprietário(s) confinante(s) ou seu(s)
representante(s) legal(is), a prévia identificação dos vizinhos e o reconhecimento
dos limites do imóvel, visando garantir assim, que não haja nenhum erro na etapa de
levantamento e medição, quando realizada pelo credenciado (GOMES, 2008).
Nesta etapa identificam-se ainda eventuais vértices já certificados de imóveis
vizinhos, neste caso é preconizada pelas NTGIR’s que “vértices comuns a dois ou
mais imóveis rurais devem manter, ao final dos serviços, as suas respectivas
localizações descritas pelo mesmo par de coordenadas” (BRASIL, 2010, p. 19), ou
seja, é recomendando que na hipótese da existência de algum imóvel vizinho já
certificado, no momento da montagem do processo de certificação sejam adotadas
as coordenadas dos referidos vértices, a exceção para tal recomendação é em
casos de discordâncias na determinação do limite dos imóveis rurais em questão.
Na etapa de levantamento e medição cujo intuito é obter o perímetro do
imóvel rural, são coletadas todas as coordenadas dos vértices que compõem o
mesmo, neste caso, vértice é tido como “todo local onde a linha limítrofe do imóvel
muda de direção ou onde existe interseção desta linha com qualquer outra linha
limítrofe de imóveis contíguos ou servidões de passagem” (BRASIL, 2010, p. 13).
As linhas de servidões de passagem, neste caso, dizem respeito à existência
de possíveis linhas de transmissão, oleoduto, estradas, entre outras que possam ter
seu trajeto dentro dos limites do imóvel rural. Sendo necessária, quando ocorrerem,
a identificação da faixa de domínio das mesmas, conforme a respectiva legislação.
Quanto ao tipo, os vértices são classificados de quatro formas distintas: a)
Tipo M (ocupado e materializado), a materialização deste tipo de vértice deve seguir
padronização própria; b) Tipo P (ocupado, mas não materializado); c) Tipo V (não
ocupado e nem materializado); e, d) Tipo O (paralelo a eixo levantado).
Os dois primeiros tipos de vértices são obtidos na etapa de levantamento e
medição, já o uso dos demais atende às demandas específicas cujos vértices são de
difícil acesso, tais como: serras inacessíveis, encostas íngremes de morro, áreas
com cobertura vegetal protegida por lei e área alagadiças, entre outras. Os vértices
42

nestas condições podem ter as coordenadas determinadas por outros meios, como
Cartas Topográficas. Porém, é necessária prévia autorização do CRC da região em
que o imóvel esteja localizado (GOMES, 2008).
Uma vez utilizado, conforme mostrado na Figura 2, cada vértice deve ser
identificado individualmente por um código único formado pela sequência das iniciais
do credenciado, tipo do vértice e o número sequencial (segundo o tipo de vértice)
que jamais devem se repetir.

Figura 2. Exemplo de codificação de vértice


Fonte: INCRA, 2013

No decorrer da etapa de campo todo o vértice do tipo “M”, estando situado no


limite do perímetro do imóvel rural, deve ser materializado antes do processo de
medição, respeitando as respectivas dimensões conforme a NTGIR vigente.
A materialização deste tipo de vértice é feita por meio de implantação no local
de marcos que podem ser, conforme mostrado pela Figura 3, feitos de concreto,
ferro e ainda outras formas como mourões e palanques, sobre o qual se deve fixar
uma placa identificadora com a codificação do vértice ali utilizado, sua implantação é
de responsabilidade do detentor do imóvel. Posteriormente à materialização de
vértices deste tipo é que se faz o rastreio das coordenadas correspondente ao
mesmo (GOMES, 2008).

(A) (B)
Figura 3. Modelos de marcos, segundo o tipo de material (A) Marco de concreto e (B) Marco de ferro.
Fonte: INCRA, 2003
43

A materialização deste tipo de vértice com estes materiais procura assegurar


que o mesmo não sofra adversidades por força da ação de agentes tais como fogo,
erosão, ação de terceiros e assim por diante.
Nesta etapa há ainda a confirmação quanto aos tipos de limites que o imóvel
rural possua, sendo estes classificados em dois grandes grupos:

Limites Artificiais (LA): Cerca, muro, estrada, vala, canal, linha ideal e limite
artificial não tipificado; e,
Limites Naturais (LN): Corpo d’água ou curso d’água, linha de cumeada,
grota, crista de encosta, pé de encosta e limite natural não tipificado
(BRASIL, 2013, p. 22).

Concomitante ocorre à identificação, nas peças técnicas das informações de


cada um dos confrontantes do imóvel rural, os quais o INCRA considera como sendo
todos bens imóveis, que possuem registro ou não (quando se tratando de outros
imóveis rurais) ou ainda outros tipos de confrontantes que são: Faixa de domínio de
rodovias e ferrovias, Logradouros públicos, Cursos d’água públicos, Corpos d’água
públicos, Terrenos de marinha, Terrenos reservados ou terrenos marginais, Áreas
devolutas e Áreas com registro desconhecido (BRASIL, 2010).
No que tange as especificações do levantamento a serem realizados, na 1ª e
2ª NTGIR, é preconizado que todo o georreferenciamento e os cálculos dele
resultante (determinações de distância, área e azimute) fossem realizados no plano
de projeção UTM (Universal Transversa de Mercator).
Quanto ao Referencial Planimétrico (datum horizontal), inicialmente na 1ª
NTGIR foi adotado o SAD 69 (South American Datum, 1969) e a partir da 2ª NTGIR
passou a ser obrigatória a adoção do Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas (SIRGAS2000). Já o Referencial Altimétrico (datum vertical) deve ser
referenciado ao nível zero do marégrafo de Imbituba – SC. Tais exigências estão em
consonância às normativas do IBGE no que concerne a padronização de serviços
desta natureza (GOMES, 2008).
Quando executado, o georreferenciamento dos vértices do perímetro do
imóvel rural devem ter suas coordenadas referenciadas ao Sistema Geodésico
Brasileiro (SGB), sendo necessário ainda que, o levantamento atenda aos padrões
de precisão e acurácia na execução segundo determina à respectiva NTGIR vigente
(GOMES, 2008).
A precisão de cada um dos vértices das divisas do imóvel foi determinada
pela Portaria 954, de 09 de Novembro de 2002, a qual leva em consideração fatores
44

como: quantidade, posição e geometria dos satélites disponíveis no momento do


levantamento, desvios padrões dos eixos X, Y e Z de cada par de coordenadas
obtida. Levando-se em consideração tais fatores a precisão posicional final obtida no
levantamento deve ser inferior ou igual a 50 cm. (BRASIL, 2002).
Para realização das atividades inerentes ao georreferenciamento, há
possibilidade de uso de diferentes tipos levantamento e, por conseguinte, de
aparelhos, os quais podem ser destacados os do tipo Topográfico (L1) e/ou
Geodésico (L1/L2).
É determinada pelas NTGIR, que independente do método adotado pelo
credenciado no momento do georreferenciamento, só será válido para certificação,
os métodos que possibilitem soluções baseadas em fase portadora e assim,
possibilite a correção diferencial na etapa de pós-processamento (GOMES, 2008).
Quanto aos tipos de levantamento possíveis, na 1ª e 2ª NTGIR, os mesmos
podem ser classificados em:
o Levantamento por Métodos Convencionais são aqueles cujo levantamento
é obtido por utilização de medições angulares, lineares e de desníveis. É
realizada a partir de equipamentos tais como: Estações totais, Teodolitos,
Medidores Eletrônicos de Distâncias (MEDs) e Níveis. No geral, são pouco
utilizadas;
o Levantamento por receptores GNSS, que consiste no uso do Global
Navigation Satellite System – GNSS, o qual engloba o Sistema de
Posicionamento Global – GPS e os demais sistemas do mesmo gênero. A
utilização do referido método possibilita a determinação das coordenadas dos
vértices em acordo ao SGB. Equipamentos incluídos nesta categoria são
denominados, popularmente, como: GPS Geodésico, GPS Geodésico de
dupla frequência, GPS Geodésico L1/L2, GPS RTK, entre outros.

Quando adotado, o levantamento por receptores GNSS, pode-se adotar


variados tipos de posicionamento, dentre os quais: relativo estático, relativo estático
rápido, relativo semicinemático (stop and go), relativo cinemático, Posicionamento
por Ponto Preciso (PPP), cinemático em tempo real (RTK), entre outros.
O uso deste tipo de tecnologia implica ainda na indispensável obtenção de
coordenadas de bases apropriadas, pertencentes ao SGB, os quais devem ser
oriundos exclusivamente de:
45

a) estações ativas receptoras de sinais de satélites do GNSS, da [Rede


Brasileira de Monitoramento Contínuo/ Rede INCRA de Bases Comunitárias
do GPS] RBMC/RIBAC homologadas pelo IBGE;
b) redes geodésicas estaduais estabelecidas a partir do rastreamento de
sinais de satélites de posicionamento e homologadas pelo IBGE;
c) estações ativas receptoras de sinais de satélites do GNSS ou passivas,
pertencentes a outros órgãos públicos ou empresas privadas, desde que
homologadas pelo IBGE (BRASIL, 2010, p. 30-31).

A observação e cumprimento integral de tais especificações visam à obtenção


de dados precisos, acurados e confiáveis acerca do imóvel rural, objeto do
georreferenciamento em todas as etapas que componha o mesmo.
Após a conclusão do levantamento e medição o credenciado, deve realizar o
processamento e o tratamento de dados advindos deste, cuja finalidade é obter o
valor mais fidedigno possível da realidade, segundo a precisão do levantamento.
Para tanto se faz uso do respectivo software do fabricante do aparelho
utilizado, que é dotado de algoritmos próprios, possibilitando a combinação de
observáveis (fase da portadora e código), busca de ambiguidades e apresenta
capacidade de processar a(s) fase(s) da(s) portadora(s) da observável utilizada.
Nesta etapa são elaboradas ainda, as peças técnicas obrigatórias da 1ª e 2ª
NTGIR, sendo elaborados os seguintes documentos: Planta planimétrica (arquivo
gráfico), memorial descritivo do imóvel; Tabela de Dados Cartográficos, com as
informações de coordenadas e precisões de cada vértice que compõe o perímetro;
Planilhas de cálculo de área; e o Relatório Técnico, que descreve minuciosamente
todas as etapas e metodologia adotada no georreferenciamento do imóvel rural
(GOMES, 2008).
É confeccionada também uma declaração de respeito aos limites, que deve
ser assinada pelo proprietário do imóvel, objeto dos serviços, pelo responsável
técnico do georreferenciamento e todos os respectivos proprietários ou responsáveis
legal dos imóveis vizinhos. A referida declaração é considerada um documento de
natureza pública devendo ser registrada no Cartório de Títulos e Documentos da
mesma comarca em que o imóvel rural esteja registrado (BRASIL, 2002).
Ao findar todas as etapas ora descritas, é feita a junção de todos os
documentos cartorários, cadastrais e os elaborados pelo credenciado no decorrer
das etapas do georreferenciamento, e assim é formando um processo pelo qual se
solicita a certificação dos serviços de georreferenciamento do imóvel rural ao
respectivo CRC da região que o imóvel esteja localizado.
46

3.3.4. Etapas e normas para a Certificação

Após todas as etapas descritas no subcapitulo anterior, que culmina no


processo de georreferenciamento, o mesmo está apto a ser protocolado, com intuito
de obtenção da certificação do imóvel rural em questão.
Quanto à documentação necessária para se requerer a certificação do imóvel
rural, na 1ª e 2ª NTGIR, era indispensável que o processo para tal finalidade fosse
composto pelos seguintes documentos e peças técnicas:

1) Documentação Analógica:
a) Requerimento Certificação – assinada pelo proprietário e Responsável
Técnico – com firma reconhecida;
b) Contrato Social, quando for o caso ou Procuração Pública;
c) Certidão matrícula/Transcrição de inteiro teor, original ou autenticada;
d) ART com comprovante de pagamento;
e) 3 vias da Planta topográfica;
f) 3 vias do(s) Memoria(is) descritivo(s)
g) Planilha de Cálculo de Área;
h) Tabela de dados Cartográficos;
i) Declaração de Reconhecimento de Limites, Declaração de Respeito de
Divisas (Registrada no respectivo Cartório de Títulos e Documentos
Comarca Registro Imóveis);
j) Cópia CCIR vigente, quitado, quando houver;
k) Monografia do vértice de base; e,
l) Cópia Carteira Identidade/CPF; quando jurídica, também a procuração.
2) Documentação meio Digital:
a) Relatório Técnico;
b) Planta (formato DWG, DGN ou DXF) e Memorial (is) Descritivo (s);
c) Relatórios de Processamento do (s) Levantamento (s) bem como dos
ajustamentos, seja qual for o equipamento técnico;
d) Arquivos nativos e Rinex (Estação Total ou GPS);
e) Planilhas de Cálculo de Área e Tabela de Dados Cartográficos; e,
f) Monografia do vértice de base. (BRASIL, 2010, p. 58-59)

Quando reunidos, tais arquivos deveriam ser entregues nas próprias SR (na
sala da cidadania) ou enviados via correio para a respectiva SR no qual o imóvel
rural estivesse localizado. Quando o pedido fosse formalizado, era gerado um
número do protocolo de Requerimento de Certificação, com o qual o credenciado e o
proprietário ou seu representante legal do imóvel rural poderiam consultar as
informações acerca do andamento do seu processo via internet, por meio do site do
INCRA <http://certificacao.incra.gov.br/Certifica/> específico para esta finalidade.
Toda documentação analógica deveria ser impressa em folhas apropriadas,
constando a assinatura do credenciado responsável pelo levantamento e também
enviados em meio digital, por meio de uma mídia de Disco Digital Versátil (DVD),
contendo todos os dados espaciais, descritivos e relatórios gerados (GOMES, 2008).
47

Quando vigentes, na 1ª e 2ª NTGIR depois de protocolado, conforme


mostrado na figura 4, à documentação e demais peças técnicas do imóvel rural
objeto do requerimento passava, nos respectivos CRC em que foram protocolados,
por variadas etapas de análise objetivando a certificação do imóvel rural em
questão.

Figura 4. Etapas para Certificação de Imóveis Rurais segundo a 1ª e 2ª NTGIR


Fonte: BARROS, 2011.

Cabe salientar que a etapa denominada como “início” no fluxograma do


pedido de certificação representa a conclusão dos trabalhos de georreferenciamento
e montagem das peças técnicas pelo credenciado e em caso de incompletude no
que tange a falta de algum dos documentos exigidos e/ou peças técnicas
obrigatórias ou ainda irregularidade na análise cartográfica, no que concerne a
48

existência de possíveis sobreposições às imóveis já inclusos no banco de dados, o


respectivo credenciado, responsável pelo processo era notificado, sendo que o
mesmo deveria providenciar as medidas necessárias para sanar o entrave até que o
mesmo estivesse apto a ser certificado (BARROS, 2011).
A referida notificação era realizada por meio do site supracitado, por envio de
e-mail para o credenciado e proprietário ou seu representante legal do imóvel rural e
ainda pelo serviço postal, por meio de correspondência com Aviso de Recebimento
(AR). Depois de notificado, o credenciado possuía um prazo de 60 dias para reenvio
da correção do(s) erro(s) apresentado(s), em caso de descumprimento deste prazo o
processo de certificação poderia ser arquivado (GOMES, 2008).
Quando o processo do pedido de certificação atendesse todas as exigências
previstas pela NTGIR em vigência, os CRC emitiam o documento de certificação
que “é o documento expedido pelo INCRA assegurando que os limites da
propriedade rural não se sobrepõem a outros imóveis e que a execução do
georreferenciamento está de acordo com as especificações técnicas legais” (INCRA,
2012, sp). No caso dos imóveis rurais certificados pela 3ª NTGIR, são gerados
apenas planta e memorial descritivo, conforme serão detalhados nos próximos
subcapítulos.
Todas as atividades de análise dos processos de certificação, realizado pelos
CRC possuem como diretriz, além das especificações da respectiva NTGIR em
vigência, as determinações próprias regulamentadas por meio das NE, no caso da
1ª NTGIR não houve nenhuma NE especifica, a 2ª NTGIR a NE nº92, com a
atualização da referida NTGIR houve a adoção da nova NE nº96 e, por fim a 3ª
NTGIR com a NE nº107.
Para realização das atividades inerentes ao georreferenciamento e
certificação dos imóveis rurais no país foi estabelecida ainda prazos para
cumprimento dos mesmos, baseando-se, os escalonamentos de prazos segundo o
tamanho total de cada imóvel rural, o qual foi estabelecido como forma de
organização dos trabalhos em função do grande número de imóveis rurais existentes
no país.
49

3.3.5. Prazos para o Georreferenciamento.

Objetivando abarcar a certificação de todos os imóveis rurais no país de


forma organizada de modo a não sobrecarregar os trabalhos nos CRC, devido ao
número de processos em análise, foram definidos prazos para realização da
certificação dos imóveis conforme as faixas de tamanho total da área do imóvel,
objeto da certificação, sendo os prazos estabelecidos inicialmente pelo Decreto nº
4.449, de 30 de outubro de 2002, que posteriormente foi alterado pelos Decretos nº
5.570, de 31 de Outubro de 2005 e o Decreto 7.620, de 21 de Novembro de 2011
(GREGORIO e DALFORNO, 2012).
A obrigatoriedade iniciou em 29 de Janeiro de 2003, para toda a área igual ou
acima de 5.000 ha, o qual foi dado o período de 9 meses para certificação dos
imóveis na referida faixa de tamanho, posteriormente, no dia 31 de Outubro de 2003
iniciou o prazo para os imóveis rurais entre 1.000 ha e 5.000 ha que se estendeu até
20 de novembro de 2008, a partir de então, a determinação passou a ser para os
imóveis com mais de 500 ha (GOMES, 2008).
Os demais prazos foram estipulados pelo Decreto 7.620, alterou os prazos
para certificação dos imóveis rurais, conforme mostrado pelo Quadro 1, que ficou
disposto da seguinte maneira:

Quadro 1. Os prazos para o georreferenciamento conforme o tamanho do imóvel.


Tamanho dos imóveis rurais Prazo
Imóveis com área maior a 500 hectares Até 20 de novembro de 2011
Imóveis com área entre 250 e menos de 500 hectares Até 20 de novembro de 2013
Imóveis com área entre 100 e menos de 250 hectares Até 20 de novembro de 2016
Imóveis entre 25 e menos de 100 hectares Até 20 de novembro de 2019
Imóveis com área inferior a 25 hectares Até 20 de novembro de 2023
Fonte: Elaborado pelo autor com base no Decreto nº 7.620, de 21 de dezembro de 2011.

Apesar da menção dos prazos para georreferenciamento dos imóveis estarem


dispostos pela categorização dos mesmos, levando em consideração faixas de
tamanho dos imóveis rurais, nada impede que o proprietário a qualquer momento
possa realizar o georreferenciamento e requerer o pedido de certificação,
independente do tamanho do imóvel em questão.
50

Cabe ressaltar ainda que possíveis atrasos no que tange a não realização do
georreferenciamento conforme as respectivas datas delineadas para certificação do
imóvel rural, segundo preconiza a Lei de Georreferenciamento, não caracteriza
nenhuma irregularidade, transgressão ou conduta desabonadora ou gere algum tipo
de multa para o proprietário (AUGUSTO, 2006).
Entretanto, imóveis rurais não certificados após os prazos determinados,
acarreta na impossibilidade da realização de registro, averbações da matrícula ou
transcrição correspondente ao imóvel pendente de certificação. Quaisquer outras
intenções de ações que modifique os limites do imóvel de alguma forma como
desmembramento, remembramento, entre outros, só será possível após a conclusão
do georreferenciamento e a respectiva certificação (AUGUSTO, 2006).
Salienta-se que em meios práticos, a lei não obriga nenhum proprietário de
imóvel rural a realizar o georreferenciamento, pois, a mesma não prevê sansões
diretas àquele que não a cumpre. Tecnicamente, a realização da descrição do
imóvel conforme determina a lei, configura apenas um “ônus” imposto pela norma
(AUGUSTO, 2006).
Outras consequências diretas para o proprietário do imóvel sem o
georreferenciamento é a impossibilidade de alienar (por venda ou doação), parcelar,
realização de sucessão de partilha (caso o imóvel seja objeto de espólio) e ainda
não pode atualizar o CCIR, que, por conseguinte, impossibilita a obtenção de
financiamento bancário junto às instituições financeiras.

3.3.6. Outros delineamentos da Lei

A Lei de Georreferenciamento ainda trouxe significativas alterações na


legislação fundiária existente, em particular, na Lei dos Registros Públicos (Lei
6.015/1973), ao determinar no seu artigo 176, parágrafo 3, que todos os registros
públicos de terras para fins de compra, venda, desmembramento, parcelamento ou
remembramento devem ser feitos de forma que a área correspondente tenha seus
vértices georreferenciados em relação ao SGB, com precisão posicional definida
pelo INCRA (ESTEVES, 2010).
Outras ações que gere qualquer tipo de alteração nos limites, e, por
conseguinte, no registro do imóvel rural junto ao CRI, como em casos de alienação,
51

venda, arrendamento e hipoteca, também é obrigatório enviar ao cartório uma planta


e memorial do imóvel georreferenciado, conforme prevê a lei (FERNANDES, 2014).
Devido ao seu caráter regulamentador quanto à posse e titularidade dos
imóveis rurais, o CNIR é uma importante ferramenta para identificação do
apossamento fraudulento de terras devolutas, por meio das grilagens. Para tanto, o
CNIR está intrinsicamente atrelada às outras ações do INCRA, anterior a sua
instalação, visando à identificação de áreas em condição irregulares cadastradas no
SNCR. Neste sentido ressalta-se que o CNIR foi emanado das propostas das
Portarias de nº 558/1999 e 596/2001 as quais:

Visam, respectivamente, recadastramento utilizando notificações para


imóveis com área total igual ou superior a 10 mil hectares em todo país, e
recadastramento também utilizando notificações para imóveis com área
maior ou igual a 5 mil hectares até 9.999 hectares, em 68 municípios -
selecionados de acordo com os que apresentaram maiores irregularidades
na primeira fase de recadastramento, dada pela Portaria nº 588/1999
(REYDON et al, 2006, p. 62).

Devido à realização do georreferenciamento, onde se obtém uma área do


imóvel rural mais fidedigna e certificada, os mecanismos para identificação e
controle destas áreas, principalmente àquelas com suspeitas de grilagem, tornou-se
mais eficientes com a implantação do CNIR.
Os resultados do georreferenciamento de imóveis rurais ainda foram
integrados a outras exigências dos órgãos ambientais, como em caso de cadastro e
regularização ambiental do imóvel rural.
Neste tocante, a Lei nº 12.651, de 25 de Maio de 2012, comumente chamada
de “Novo Código Florestal” criou o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que tornou
obrigatório o registro público eletrônico das informações ambientais, como áreas de
remanescentes de vegetação nativa, uso restrito, consolidadas, Áreas de
Preservação Permanentes (APP) e de Reserva Legal (RL), existentes nos imóveis
rurais, informados no respectivo órgão ambiental estadual e integrados ao Sistema
Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar).
Entretanto, mesmo não sendo obrigatório o georreferenciamento do imóvel
rural para realização do CAR, uma vez que, o serviço tenha sido realizado, este
pode ajudar na identificação das áreas de RL, APP e as demais, além de ser
importante para a correta identificação destas áreas, de modo a não ultrapassar os
limites do imóvel rural, em especial, nas áreas maiores.
52

3.3.7. Problemas nas análises de certificação

Devido a problemas estruturais do INCRA atrelados aos normativos, existem


dificuldades no cumprimento integral das regras de georreferenciamento pelos
credenciados. Os procedimentos de análise dos pedidos de certificação,
principalmente na vigência da 1ª NTGIR, foram alvo de duras críticas, motivadas,
sobretudo, pela demora na análise dos processos e certificação dos mesmos.
Os principais problemas identificados nos CRC foram inexperiência e o
tamanho do corpo técnico voltados para as atividades de análises dos processos de
certificação, que se mostraram insuficientes perante a grande demanda em algumas
SR, atrelada ainda ao pequeno número e despreparo de muitos dos profissionais
credenciados ao executar os serviços de georreferenciamento, que acarretavam na
dificuldade do cumprimento das exigências técnicas e documentais contempladas na
NTGIR. Tais problemas ocasionavam um longo período de espera entre o protocolo
do pedido e a emissão da respectiva certificação (BARROS, 2011; GREGORIO e
DALFORNO, 2012).
Diante desta realidade, o INCRA, em diversos momentos, revisou e alterou os
procedimentos para o georreferenciamento e certificação dos imóveis rurais,
tentando sanar os referidos problemas. Neste contexto, a primeira medida adotada
para dar maior celeridade às análises dos diversos pedidos de certificação
acumulados nos CRC do país foi à publicação da 2ª NTIGIR, conjuntamente com a
NE INCRA/DF/Nº92 de 22 de Fevereiro de 2010, que estabeleceu as novas
diretrizes e procedimentos a serem adotados pelo INCRA, na certificação de imóveis
rurais a partir de então (GREGORIO e DALFORNO, 2012).
Todavia, tais intervenções não alcançaram os resultados almejados, assim,
ainda no ano de 2010, o INCRA publicou a 2ª NTGIR atualizada, além da NE
INCRA/DF/Nº96 de 15 de Setembro de 2010, que substituiu integralmente a anterior.
As principais alterações, em especial, entre as duas NE, em questão foram:

Mudança na composição do Comitê de Certificação. Enquanto o primeiro


documento exige que um dos membros do Comitê seja ligado ao serviço de
cadastro, o segundo dispensa essa exigência. Outra questão importante de
se destacar é que os imóveis não cadastrados no SNCR poderiam seguir no
processo de certificação enquanto estão sendo cadastrados. Na segunda
norma de execução isso não é mais possível, pois, a análise das peças
técnicas só é realizada se o imóvel for cadastrado no SNCR (BARROS,
2011, p. 69).
53

Mesmo com tais modificações adotadas nas diretrizes das atividades de


georreferenciamento e análise de certificações, não foi alcançando o efeito
esperado. Assim, outras tentativas foram realizadas para diminuir o grande número
de processos de certificação em andamento no país.
Haja vista a situação, o INCRA adotou medidas práticas para reduzir o
quantitativo de processos de certificação de algumas SR pelo país, e em alguns
momentos, recorreu à realização de mutirões, em muitos casos, com apoio de vários
órgãos e instituições estaduais pelo Brasil, concretizando assim, de forma
condensada, a análises de quantidades expressivas de processos de certificação
em curtos períodos de tempo, em torno de uma ou duas semanas. Apesar de ter sua
importância, tal medida era apenas paliativa aos problemas enfrentados nos CRC e
ao crescente aumento dos processos acumulados pelo país (BARROS e
CARNEIRO, 2012).
O mais significativo destes esforços no período foram duas medidas: a
primeira foi um convênio firmado entre o Ministério do Exército e o INCRA, realizado
por meio da Portaria Interministerial 121, de 1º de junho de 2011; este convênio
possibilitou a contratação de técnicos civis pelo exército brasileiro, que passou a
receber e desempenhar as atividades semelhante aos CRC com a finalidade de
agilizar as análises de processos advindos de várias SR de todo o País. No exército,
tais atividades ficaram na responsabilidade da Diretoria de Serviços Geográficos
(DSG), concomitante a isto, houve ainda o anúncio de novas contratações de
funcionários técnicos por parte também do INCRA, o que pouco aconteceu
(GREGORIO e DALFORNO, 2012; INCRA, 2013).
O referido convênio foi concretizado no dia 21 de Setembro de 2010, com a
assinatura de um Termo de Cooperação Técnica (TCT) entre a Diretoria de Ciência
e Tecnologia do Exército Brasileiro, por meio da DSG e o INCRA, com intuito de
acelerar a análise dos processos de Certificação de Imóveis Rurais no país (INCRA,
2013).
Os trabalhos desenvolvidos pelo referido convênio ficou concentrado no
Centro de Imagens e Informações Geográficas do Exército (Cigex), pertencente à
DSG em Brasília – DF, em pouco mais de dois anos de convênio, entre Novembro
de 2011 e Fevereiro de 2013, a DSG/Cigex concluiu a análise de 8.757 processos
de certificação, advindos principalmente das SR da Bahia, Goiás, Minas Gerais, São
Paulo, Paraná, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Marabá –
54

PA, devido ao fato que estas SR representavam, naquele momento, as que mais
possuíam algum tipo de problema, acarretando no atraso das análises (INCRA,
2013).
Cabe salientar que entre o total de análises do período, 3.458 processos
culminaram em certificações dos respectivos imóveis rurais, enquanto em 5.299
processos foram identificados algum tipo de erro, ocasionando notificações de
pendências feitas ao proprietário ou responsável legal do imóvel e credenciado
responsável pelo processo (INCRA, 2013).
Os resultados satisfatórios obtidos pelo TCT entre Exército e INCRA levaram
a prorrogação dos trabalhos desenvolvidos na DSG/Cigex até Dezembro de 2013, e
devido o levantamento do INCRA naquele ano, teria identificado uma demanda de
analisar mais 16 mil processos em todo país, que acabou não sendo toda analisada
em função da adoção da 3ª NTGIR (INCRA, 2013).
A segunda medida foi à publicação em 26 de novembro de 2012, da NE nº
105, que simplificou os procedimentos a serem adotados nas análises dos
processos de certificação e que, por conseguinte, alavancou o número de imóveis
rurais certificados no país desde então (INCRA, 2013).
Segundo o próprio INCRA a adoção da NE nº 105, foi um sucesso:

Para se ter uma ideia do dinamismo empreendido ao processo a partir da


alteração do marco legal, entre 27 de novembro e 31 de dezembro de 2012,
ou seja, em apenas 27 dias, foram emitidas [no país] 3.036 certificações
(representando 4,8 milhões de hectares), contra 6,6 mil (ou 18,8 milhões de
hectares) no período de 11 meses, de janeiro a 26 de novembro de 2012
(INCRA, 2013, sp).

Mesmo obtendo bons resultados com a parceria DSG/Cigex do Exército e


pela adoção da NE nº 105, a situação nos CRC do país era frágil diante da sua
capacidade de análise em detrimento do grande volume de processos de
certificação. Situação provocada por carências estruturais e de pessoal empenhados
nas atividades dos CRC.
Devido a tal conjuntura o INCRA e MDA passaram então, a planejar e
desenvolver uma ferramenta cuja análise das certificações fosse realizada de forma
rápida e eficiente, sem demandar tanto tempo dos servidores, como até então era
necessário.
55

3.3.8. Criação da 3ª NTGIR: O SIGEF

Devido aos problemas referidos, que acarretavam em morosidade nas


análises dos processos enviados aos CRC, fez com que o INCRA estabelecesse
esforços para solucionar tal empecilho. Desta conjuntura surgiu à proposta de um
sistema digital rápido e eficiente que atendesse a todos os procedimentos de
certificação dos imóveis rurais. Assim, no dia 23 de Novembro de 2013 entrou em
vigor a 3ª NTGIR, que por força das alterações delineadas na mesma, criou o
Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), uma ferramenta eletrônica desenvolvida pelo
MDA/INCRA e cujo principal objetivo foi de subsidiar de forma eficaz, a governança
fundiária do território nacional (INCRA, 2013).
Desde que implantado, o SIGEF passou a realizar as etapas de recepção,
validação, organização, regularização e disponibilização das informações
georreferenciadas de limites de imóveis rurais públicos e privados do país, tudo isto
realizado por meio de envio, via internet, das informações necessárias e com a
obtenção da certificação, a partir de então, somente pela emissão de duas peças
técnicas: planta e memorial descritivo do imóvel rural em questão (INCRA, 2013).
A maior vantagem do SIGEF em relação às NTGIR anteriores é que as
etapas de certificação do imóvel rural são realizadas de forma ágil e a geração das
peças técnicas supracitadas é feita quase que de forma simultânea ao seu envio,
desde que, o mesmo não apresente nenhuma sobreposição a outros imóveis rurais
já certificados presentes no banco de dados do INCRA (sejam aqueles provenientes
do próprio SIGEF ou de NTGIR anteriores) ou ainda áreas como Projetos de
Assentamento (PA), Terras Indígenas (TI), Quilombos e Unidades de Conservação
(UC) também presentes no referido banco de dados.
A ferramenta foi fruto de uma parceria entre a Câmara Técnica de
Ordenamento Territorial para Regularização Fundiária e Gestão Ambiental do Plano
de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRS Xingu), que contou com
a coordenação de desenvolvimento realizado pela Secretaria Extraordinária de
Regularização Fundiária na Amazônia Legal (SERFAL) do MDA e as especificações
técnicas apontadas pelo INCRA, contribuindo com conhecimentos para finalização
do projeto de certificação automatizada que passou a ser realizada por meio da
plataforma e-Certifica.
56

A implantação do SIGEF representou um importante avanço para que o


INCRA conseguisse atender toda a demanda por certificações no país, além disto, o
SIGEF passou a gerenciar outras atribuições do INCRA, que também foram
simplificadas e automatizadas. Neste contexto as atribuições do INCRA realizadas
pelo SIGEF foram:

1. Credenciamento de profissional apto a requerer certificação;


2. Autenticidade de usuários do sistema com certificação digital, seguindo
padrões da Infraestrutura de Chaves Públicas (ICP-Brasil);
3. Recepção de dados georreferenciados padronizados, via internet;
4. Validação rápida, impessoal, automatizada e precisa, de acordo com os
parâmetros técnicos vigentes;
5. Geração automática de peças técnicas (planta e memorial descritivo),
com a possibilidade de verificação de autenticidade online;
6. Gerência eletrônica de requerimentos relativos a parcelas: certificação,
registro, desmembramento, remembramento, retificação e cancelamento;
7. Possibilidade de inclusão de informações atualizadas do registro de
imóveis (matrícula e proprietário) via internet, permitindo a efetiva
sincronização entre os dados cadastrais e registrais;
8. Gestão de contratos de serviços de georreferenciamento com a
administração pública, com acesso para órgãos públicos, empresas,
responsáveis técnicos e fiscais; e,
9. Pesquisa pública de parcelas certificadas, requerimentos e credenciados
(BRASIL, 2013, sp).

Desta forma, o SIGEF absorveu integralmente as atividades de certificação


dos imóveis rurais particulares, realizado até então por analistas dos CRC e ainda
gerencia a governança daqueles públicos. Outro importante avanço foi à
possibilidade real de sincronização entre a certificação dos imóveis rurais e as
atividades de registro do imóvel, realizada pelos oficiais de registro dos CRI, que
passaram a ter acesso direto e em tempo real dos imóveis certificados via SIGEF.
Além do SIGEF a 3ª NTGIR trouxe outras modificações substanciais para
atividades de georreferenciamento, certificação e a aproximação destes ao registro
de imóveis rurais no país. Neste contexto, ressalta-se que o INCRA deixou de adotar
o conceito de imóvel rural preconizado pela Lei nº 4.504/ 1964 (Estatuto da Terra)
em detrimento da adoção de um novo conceito, comum aos CRI, que foi o de
parcela certificada, neste caso, o referindo-se ao conceito presente no parágrafo 5º
do artigo 176, da Lei nº. 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) que foi incluído pela Lei
nº. 11.952, de 25 de junho de 2009, o qual pode ser entendido:

O imóvel rural a ser considerado nos serviços de georreferenciamento é


aquele objeto do título de domínio, bem como aquele passível de titulação.
Será atribuída uma certificação a cada parcela (imóvel) e esta será descrita
em matrícula própria no registro de imóveis. (BRASIL, 2013, p.07).
57

Desta forma, o conceito delineou as novas exigências preconizadas para as


atividades de georreferenciamento e certificação, fazendo a ligação necessária para
as atividades de registro nos CRI de todo o país, ao considerar que cada matrícula
ou transcrição a partir de então, também para fins cadastrais, compõe um imóvel
rural distinto.
Concomitante a publicação da 3ª NTGIR, houve também a publicação de
manuais específicos para as atividades de georreferenciamento e certificação,
sendo eles: a) Manual Técnico de Limites e Confrontações; b) Manual Técnico de
Posicionamento; e, c) Manual para Gestão da Certificação.
Na prática estes manuais representam apenas a separação e atualização dos
conteúdos presentes nos mesmos daqueles já existentes, em capítulos específicos
da 1ª e 2ª NTGIR com finalidades semelhantes.
A modificação mais importante presente no Manual Técnico de Limites e
Confrontações foi à inserção do já mencionado novo conceito de imóvel rural que,
por conseguinte, alterou o objeto do georreferenciamento e posterior certificação do
mesmo. Neste sentido, enquanto nas NTGIR anteriores havia possibilidade de
realização do georreferenciamento e certificação de um imóvel rural composto por
mais de uma matrícula/transcrição, passou a ser necessário a partir de então,
realização das referidas atividades de forma distinta, para cada uma das
matrículas/transcrições, quando este fosse o caso do imóvel rural (INCRA, 2013).
O Manual Técnico de Posicionamento trouxe mudanças significativas nas
diretrizes sobre o tema quando comparado as existentes nas NTGIR anteriores.

Em comparação com as edições anteriores da NTGIR, este manual traz


mudanças significativas, dentre elas podemos destacar a possibilidade de
utilização de novos métodos de posicionamento; menor detalhamento de
especificações técnicas (atribuindo esta tarefa ao credenciado); utilização
do Sistema Geodésico Local (SGL) para o cálculo de área; apresenta a
formulação matemática para cálculos utilizando topografia clássica e amplia
a possibilidade de utilização de métodos de posicionamento por
sensoriamento remoto (BRASIL, 2013, p.06).

Para as etapas que compõe o georreferenciamento foi inserido um novo


método de posicionamento, que possibilita o uso de Base Cartográfica existente,
para obtenção, exclusivamente, de coordenadas cujos vértices sejam inacessíveis
(BRASIL, 2013).
58

Outra mudança significativa neste sentido, presente no Manual Técnico de


Posicionamento é quanto aos padrões de precisão, que a partir da 3ª NTGIR foram
determinados conforme o tipo de limite do imóvel rural.

Os valores de precisão posicional a serem observados para vértices


definidores de limites de imóveis são:
a) Para vértices situados em limites artificiais: melhor ou igual a 0,50 m;
b) Para vértices situados em limites naturais: melhor ou igual a 3,00 m; e,
c) Para vértices situados em limites inacessíveis: melhor ou igual a 7,50 m
(BRASIL, 2013, p.06).

O Manual para Gestão da Certificação determina quais ações realizadas no


SIGEF que serão necessárias à análise dos CRC, neste caso, correspondem às
solicitações de desmembramento, remembramento, retificação, cancelamento e
sobreposição com polígonos não certificados pelo SIGEF. Todas estas ações
poderão ser solicitadas pelo credenciado via SIGEF. Prevê ainda as sanções
administrativas em caso de identificação de erros ou falhas pelo credenciado.
Houve mudança também na maneira de obtenção da certificação que passou
a ser realizada exclusivamente pela internet, no site <https://sigef.incra.gov.br> com
a realização de autenticação do usuário por meio de certificados digitais, adotando-
se como padrão a Infraestrutura de Chaves Públicas - ICP Brasil.
Este sistema utiliza dispositivos do tipo cartão inteligente (smartcard) ou
token, que funcionam como uma espécie de chave, cuja combinação única, que é
reconhecida por uma espécie de 'fechadura virtual', presente no sistema do site
citado, que por sua vez, autentica o acesso do usuário, devidamente cadastrado
anteriormente, no próprio site do SIGEF.
Os profissionais que já eram credenciados anteriormente à 3ª NTGIR tiveram
seus cadastros migrados de forma automática para esta nova forma de requerer
certificação. Os novos credenciamentos eram realizados diretamente no novo
sistema. Além dos credenciados, possuem acesso ao sistema de forma similar,
porém, com cadastros próprios e distintos, os oficiais de registro dos CRI, analistas e
gestores do próprio INCRA, além de analistas e profissionais com competências
afins de outros órgãos e autarquias como ICMBio, Funai, INDE, entre outras
(BRASIL, 2013).
Quanto à certificação dos imóveis rurais, a mesma foi simplificada ao envio de
apenas uma peça técnica: a planilha eletrônica a qual é acompanhada com o
número da respectiva ART do serviço de georreferenciamento do imóvel rural.
59

A peça técnica em questão trata-se de um arquivo do tipo Planilha


OpenDocument (.ods) desenvolvida no software Calc, pertencente ao pacote de
aplicativos com código aberto e gratuito denominado de LibreOffice. O modelo
utilizado com a finalidade de certificação de imóveis rurais é disponibilizado no site
do SIGEF e o seu preenchimento reúne todas as informações do imóvel rural com
os respectivos dados do georreferenciamento do mesmo. Sua elaboração é de
exclusiva responsabilidade do credenciado.
Para a perfeita utilização da planilha eletrônica é necessário que no
computador ou máquina similar utilizada, seja instalado o pacote de aplicativos do
LibreOffice (a edição dos dados da planilha eletrônica em outro software que não
seja o seu nativo torna inválido todos dados contidos na mesma) e ainda a
“extensão SIGEF” que trata-se de um complemento pelo qual é possível fazer a
verificação se os dados preenchidos na planilha estão em acordo aos padrões de
recepção de informações do SIGEF, mesmo sem está conectado à internet.
Quanto ao preenchimento os dados acerca do imóvel rural georreferenciado,
o mesmo é divididos na planilha em abas (ou folhas) de dois tipos:

a) Uma única aba de Identificação, para entrada de dados textuais de


classificação do serviço, identificação de pessoa e imóvel;
b) Uma ou mais abas de Perímetro, para os dados geoespaciais e
parâmetros de georreferenciamento (vértices, coordenadas, precisões,
limites, entre outros) (BRASIL, 2013, p.06).

Na aba de identificação deve constar a natureza do serviço de


georreferenciamento (Particular ou Contrato com a Administração Pública);
Identificação do detentor (Nome completo e CPF); e, identificação da área
(Denominação, situação jurídica, natureza da área, CCIR, Código de serventia do
cartório (CNS), matrícula/transcrição e município(s) de localização).
Na aba de perímetro, que varia de acordo ao número de perímetros da área
(pode ser mais de um, por exemplo, se a propriedade for seccionada por alguma
estrada) deve conter a denominação e o número da parcela; o tipo de coordenadas
(UTM ou geográfica); a codificação do vértice, com suas respectivas coordenadas,
altitude, sigmas, método de posicionamento, tipo de limite e informações do
confrontante (no caso de imóvel registrado CNS, matrícula e a denominação do
imóvel vizinho, em caso de estrada, rio, córrego, entre outros o nome do mesmo).
Após cumprir todas as etapas ora descritas, conforme mostrado na Figura 5,
o credenciado submete a planilha eletrônica, fruto do georreferenciamento a análise
60

no banco de dados do SIGEF, que em caso de nenhum impedimento (sobreposição)


a referida parcela é certificada e inclusa no banco de dados do SIGEF.

Figura 5. Procedimentos a serem seguidos para certificação no SIGEF


Fonte: INCRA, 2013.

O banco de dados do SIGEF ainda permite, conforme mostrado na Figura 6,


consultas de variadas informações acerca dos imóveis certificados no banco de
dados por vários interessados como o cidadão, órgão e oficias de registros. As
consultas são via site e acerca das parcelas certificadas, requerimentos criados
(cancelamento, retificação, desmembramento, remembramento, etc), estatísticas
dos imóveis certificados no tocante à quantidade de imóveis certificados e área total,
ambos realizados por Unidades Federativas, além ter acesso aos documentos
relativo à NTGIR e manuais regulamentadores do SIGEF.

Figura 6. Consulta pública, por órgão e Oficias de registros aos dados do SIGEF.
Fonte: INCRA, 2013.

Desta forma é composto o atual mecanismo para certificação e


gerenciamento de informações dos imóveis rurais no país.
61

4. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A Mesorregião do Extremo Oeste Baiano (MOB) corresponde a uma divisão


politico-administrativa do IBGE que, conforme mostrado na Figura 7, é composta por
24 municípios: Angical, Baianópolis, Barreiras, Brejolândia, Canápolis, Catolândia,
Cocos, Coribe, Correntina, Cotegipe, Cristópolis, Formosa do Rio Preto, Jaborandi,
Luís Eduardo Magalhães, Mansidão, Riachão das Neves, Santa Maria da Vitória,
Santa Rita de Cássia, Santana, São Desidério, São Félix do Coribe, Serra Dourada,
Tabocas do Brejo Velho e Wanderley.

Figura 7. Municípios que compõem mesorregião do Extremo Oeste Baiano.

A MOB possui por limítrofes o estado do Piauí (ao Norte), de Minas Gerais (ao
Sul), de Goiás e Tocantins (a Oeste) e com municípios baianos, pertencentes à
mesorregião do Vale São – Franciscano da Bahia (a Leste).
Possui uma área de 116.614,563 km2 (20,65% do estado da Bahia) e segundo
o censo demográfico de 2010, possui 579.253 habitantes (4,11% da população do
estado da Bahia) (BRASIL, 2012).
62

4.1. Aspectos Geoambientais

Ao longo de seu vasto território a MOB possui uma grande abundância de


ecossistemas com variados tipos de solos, clima, relevo e altitudes. De modo geral,
seu território pode ser dividido em duas regiões distintas a “Região dos Gerais”
composta por amplas áreas de chapadas (Chapadões Ocidentais da Bahia), com o
predomínio do bioma Cerrado. Está localizada na porção oeste da MOB já a outra
corresponde às “bordas” das referidas chapadas cuja área é a Transição entre o
Cerrado para a Caatinga, estendendo-se por toda sua porção leste (BRASIL, 2010).
No caso da região dos Gerais a área é constituída por:

Terras planas, de altitude mais elevadas (variando entre ±1.000 e 600 m


acima do nível do mar), dotadas de Latossolos Amarelos e Neossolos
Quartzarênicos, ambos ácidos e de boa drenagem, onde predominam o
embasamento de rochas areníticas vinculadas ao aquífero do Urucuia e
fauna e flora típicos de cerrado. São platôs ricos em biodiversidade e de
fundamental importância como áreas de recarga do lençol freático. Em meio
à predominância de formações arbustivas relativamente densas, destacam-
se as veredas (SAMPAIO, 2012, p. 02-03).

Atrelado a tais características a MOB possui uma quantidade considerável de


nascentes de rios, riachos, entre outros, principalmente nas bordas da chapada,
localizada nas proximidades da Serra Geral do Goiás tais cursos d’água possuem
seu escoamento voltado para direção leste da região, formando os principais rios da
margem esquerda do rio São Francisco tais como o rio Grande, rio Preto, rio
Corrente e rio Carinhanha (Souza et all, 2010).
A vegetação é típica de cerrado, na porção oeste. Além de áreas de tensão
ecológica a exemplo da Floresta Estacional (BRASIL, 2010).
O tipo climático da MOB, segundo classificação de Köppen, é o tropical com
estação seca de Inverno (Aw) apresentando duas estações bem definidas, uma
chuvosa, que vai entre os meses de novembro a abril, e uma seca, entre os meses
de maio e outubro. Possui características pluviométricas que variam entre o úmido
até o semiárido, com um índice hídrico oscilando entre 713,9 e 1273,9 mm/ano,
valores estes, que tendem a aumentar na direção Leste para Oeste (BAHIA, 2011).
Cabe salientar ainda que entre os municípios da MOB, cinco estão localizados
na região do Semiárido, sendo os municípios de Santana, Coribe, Serra Dourada,
São Felix do Coribe, Brejolândia (BRASIL, 2010).
63

4.2. Inicio da ocupação territorial

Devido a grande distância em relação ao litoral da província, presença de


índios “selvagens” – aos olhos dos colonizadores – entre outras dificuldades para
explorar o interior das capitanias, nos primeiros séculos de colonização do Brasil o
chamado “Além São Francisco2” era de pouco interesse econômico para a Coroa
Portuguesa. Fazendo assim com que a política de expansão em direção a este,
também denominado de Sertão do São Francisco, ficasse inerte ou esporádica até
meados do século XVII (CARVALHO, 1999).
Está realidade começa a ganhar novos contornos ainda no século XVII
quando a ocorrência de um conjunto de fatores políticos e econômicos tais como a
expansão da criação de gado bovino para o interior das províncias, pressão à Coroa
Portuguesa ocasionado por conflitos causados pela invasão Holandesa nas
adjacências do litoral da colônia juntamente com a procura de novas áreas para
plantação de cana-de-açúcar e a descoberta de ouro na província das Minas Gerais
trouxeram uma nova perspectiva de colonização para a região (BRANDÃO, 2009).
Este novo arranjo político-econômico do período potencializou a expansão
para o oeste na província da Bahia fazendo com que as áreas adjacentes ao rio São
Francisco e, posteriormente, seus afluentes ganhasse notória importância
econômica para Coroa Portuguesa, iniciando então de fato a colonização da região
(SAMPAIO, 2012).
Quando as expedições portuguesas chegaram à região a mesma já era
povoada por diversas tribos indígenas as quais se destacam os povos Acroás
(chamados também de Acroá, Acoroazes e Coroados) e os Xakriabá (chamados
também de Chicriabá, Criabá, Chicriabus e Chacriabá), cuja ocupação se estendia
desde o rio Rico (hoje chamado de rio Correntina) até aos limites do atual estado do
Piauí; os Aricobés, que viviam área correspondente hoje ao município de Angical e
parte de Cotegipe; os Craós, na área da bacia do Alto Rio Preto, atual Formosa do
Rio Preto; e ainda os Xerentes, que habitavam as áreas adjacentes a Serra do
Boqueirão e a foz do Rio Preto, no atual município de município de Mansidão e
Wanderley (BARROS, 1919 apud CARVALHO, 2009).

2
Território Baiano socialmente construído na margem esquerda do Rio São Francisco, formado por
35 munícipios, que compõem a Região Econômica Oeste da Bahia, vulgarmente denominada Além
São Francisco, numa referência de quem se posiciona do lado direito do grande rio, desde o litoral
(Neves, 2012, p. 36).
64

A chegada dos primeiros colonizadores da região, da MOB, deu-se no início


do século XVII, por meio das expedições ao longo dos afluentes do Rio São
Francisco, e, por consequência, os povos indígenas que aqui habitavam tiveram
suas terras invadidas e tomadas a força, com a resistência dos mesmos, por meio
de combates contra os colonizadores este cenário fez com que a população
indígena da época fosse bastante reduzida. Porém, não chegaram a ser
exterminados, muitos foram escravizados e/ou evangelizados por missionários
jesuítas e capuchinhos (SAMPAIO, 2012).
Entre os pioneiros das campanhas expedicionária na região neste período
destacam-se Domingos Afonso Sertão (o Mafrense) e Francisco Dias D'Ávila
Caramuru, este último, neto de Garcia D'Ávila, o Conde da Torre, principal
responsável por colonizar o interior da província da Bahia expulsando, exterminando
e escravizando os índios que encontrasse pelo caminho (BRANDÃO, 2009).
A partir de então as áreas adjacentes às margens dos principais rios da
região como o rio Preto, Grande e das Éguas foram sendo ocupadas por diversas
fazendas, voltadas à criação de bovinos e a agricultura, em especial, com o cultivo
de cana-de-açúcar e cultivos para subsistência das famílias ali instaladas
(MENEZES, 2014). Por conseguinte, muitas destas fazendas deram inicio as
primeiras povoações da região, que posteriormente viriam a se tornar as cidades da
atual MOB.
Neste contexto destacam-se as povoações iniciadas na porção norte da
região, em especial, às margens do rio Preto, o qual teve o inicio de povoação por
colonos portugueses no século XVII, em torno das Fazendas Cana-Brava e Várzea
Formosa (área da atual Formosa do Rio Preto) pertencente ao Sr. João Amado
Viana, dono de opulenta riqueza em Portugal e possuidor de inúmeros escravos, o
mesmo chegou a cultivar em suas fazendas trigo e cana-de-açúcar além de manter
a criação de bovinos. Outras fazendas instaladas à jusante das supramencionadas
deram origem a povoação do arraial de Santa Rita do Rio Preto (atual Santa Rita de
Cássia) o qual se destacava também pelo cultivo de cana-de-açúcar e a criação de
gado bovino (IBGE, 2007).
A área no entorno da foz do rio Grande, no século XVII, foi cooptada pela
imensa sesmaria de Antônio Guedes de Brito, o qual mandou construir um curral
pertencente à Casa da Torre, de Dias D’Ávila, que por sua vez, foi implantado nas
barrancas do encontro do Rio Grande com rio São Francisco. Dai então, dando
65

inicio, em 1670, a povoação na Fazenda da Barra do Rio Grande do Sul, que


posteriormente viria a ser a vila e o hoje o município de Barra (NEVES, 2012).
Com o passar dos anos foram sendo ocupados outros locais ao longo deste
rio. Neste contexto, o inicio da povoação, que posteriormente se tornou a cidade de
Barreiras teve seu surgimento oriundo das fazendas voltadas à agropecuária e o
porto instalado nas áreas adjacentes ao último ponto navegável do Rio Grande.

Em 1850, em razão do comércio que os primeiros povoadores vindos das


margens do São Francisco faziam com os municípios do Norte do Estado
de Goiás pelo rio Grande [...] habitava uma casinha junto ao pôrto, em
terreno da fazenda Malhada, de propriedade do coronel José Joaquim de
Almeida, o barqueiro Plácido Barbosa, tido como o pioneiro do município,
que, juntamente com o seu patrão, Francisco José das Chagas, morador a
meia légua dali, se ocupava de receber e descarregar as barcas chegadas,
cujas mercadorias fazia seguir em tropas de animais para localidades
vizinhas do Estado de Goiás ou para as fadas da Ribeira. Vem a seguir uma
fase de progresso, a princípio, e até o ano de 1880, bastante lenta. Nessa
época era a povoação um lugarejo com apenas 20 casebres de taipa ou
adôbe. A grande abundância, nas matas locais, da mangabeira, de cuja
seiva se faz a borracha, foi fator definitivo de crescimento e de uma nova
atividade econômica, pela qual o acanhado povoado pôde progredir mais
rapidamente e obter logo no ano seguinte, 1881, a criação de sua freguesia
(FERREIRA, 1958, p. 65).

Nas proximidades desta povoação, em 1706, os padres capuchinhos


fundaram a Missão do Aricobé, entregue posteriormente aos franciscanos
(BRANDÃO, 2005). Desta prosperidade surgiram ainda ao longo do século XIX
outras povoações que posteriormente deu origem as cidades como Cristópolis,
Baianópolis, Catolândia dentre outras.
Outro importante rio, o qual surgiu outras povoações importantes no cenário
regional, foi no rio Corrente e seus afluentes. A colonização desta porção da região
se deu por meio do “descobrimento das minas de ouro do rio das Éguas,
primitivamente chamado Rio Rico, em terras de Correntina, se deu no século XVIII.
Em 1791, o padre Anacleto Pereira dos Santos, explorou aqueles sítios, em busca
de ouro” (IBGE, 2007, sp) a noticia deste feito se espalhou rapidamente atraindo a
vinda de muitas pessoas, inclusive vários sertanistas da Bahia. Surgindo, assim, o
primitivo povoado com núcleos de criação para o abastecimento das minas auríferas
instaladas na região, que posteriormente veio a ser tornar a cidade de Correntina
(BRASIL, 2010).
Não muito distante da atual cidade de Correntina, na margem esquerda do rio
Corrente, deu-se inicio na década de 1840 o aparecimento de algumas casas
motivado pela instalação de um porto e pela exploração do ouro nas proximidades,
66

dedicando-se posteriormente à agricultura. O local foi crescendo impulsionado


principalmente pela realização de transações comerciais além do crescimento do
próprio porto vindo a torna-se posteriormente em arraial e hoje na atual cidade de
Santa Maria da Vitória (IBGE, 2007).
Outra importante povoação nascida às margens do rio Corrente teve seu
crescimento em 1901, em torno da Fazenda São Félix, que desenvolvia atividades
agropecuárias, pertencente a Leônidas de Araújo Castro que se instalou na margem
direita do Rio Corrente, onde já existiam algumas casas construídas com adobe de
barro e outras de taipa e que posteriormente se tornou arraial e hoje é a atual São
Félix do Coribe (IBGE, 2007).
No tocante ao contingente populacional desde a realização do primeiro censo
na região em 1827 ate o ano de 2010, conforme mostrado no Gráfico 01, tem-se
registrado o crescimento populacional dos municípios que compõe a MOB, com
exceção de 1900 em que houve um decréscimo populacional.

Evolução populacional da MOB


700.000

579.253
600.000
495.716
500.000 450.221
População

400.000 345.927
279.332
300.000
212.863
202.863
200.000 171.280
150.265
94.321
100.000 63.993

0
1872 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Ano

3
Gráfico 1. Evolução populacional da MOB, entre 1872 e 2010 .
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do IBGE: 1872, 1900, 1920, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, 2010.

A partir de 1900 houve um aumento gradativo da população residente na


área, com notório crescimento populacional a partir da década de 1980 devido a
mudanças no cenário socioeconômico.

3
Devido à configuração territorial de cada município no período dos respectivos Censos demográfico,
considerou-se no cálculo: em 1820, a população do município de Barra do Rio Grande; e, entre 1820
– 1950 a população do município de Carinhanha.
67

4.3. Formação Politico-administrativa

No tocante as questões politico-administrativas, historicamente a área


correspondente ao Além São Francisco, o qual engloba toda área da atual MOB, foi,
no período imperial, objeto de disputa entre as províncias de Pernambuco e Bahia.
Há de salientar que por conta dos mecanismos de administração territorial pela
então província de Pernambuco, a área do Além São Francisco também era
denominada de Comarca de São Francisco (BRANDÃO, 2009).
A formação territorial da região iniciou-se em 1534 quando por determinação
do Rei de Portugal D. João III, ocorreu à primeira “divisão” do Brasil colonial em
Capitanias Hereditárias. Neste contexto, toda área do Além São Francisco foi
incorporado ao território da capitania de Pernambuco, a qual foi doada aos cuidados
do fidalgo Português Duarte Coelho, decisão registrada por carta de doação datada
de 10 de março de 1534 (CARVALHO, 1999; NEVES, 2012).
Assim permaneceu até década de 1820 quando a região ainda era de
domínio da província de Pernambuco “cujos limites territoriais viriam a acompanhar a
margem esquerda do rio São Francisco até o rio Carinhanha, ao sul, fronteira com
outra capitania, a de Minas Gerais” (Brandão 1927apud Carvalho, p. 33, 2009).
Todavia, ao longo da referida década de 1820, por sansões do Governo
Imperial ao Governo da capitania de Pernambuco, pela participação dos mesmos na
Confederação do Equador (1824) acarretou na perda de território da capitania
(BRANDÃO, 2010).
As mudanças fizeram com que o então município de Barra do Rio Grande
fosse entre o período de 1824 e 1827 anexado à província de Minas Gerais. A
disputa pelo controle do seu território finalmente terminou:

No findar do primeiro terço do século XIX, a anexação da Comarca do São


Francisco à Província da Bahia (1827) trouxe estabilidade político
administrativa para o atual Oeste, além de dar contornos definitivos ao
território baiano. Tal situação inaugurou um novo quadro da realidade
regional, ainda que os efeitos não tenham sido sentidos de imediato
(BRANDÃO, p 36, 2010).

Além de Barra do Rio Grande, no mesmo período o governo determinou a


criação de novas vilas no Além São Francisco as quais se destacavam ainda Sancta
Rita do Rio Preto e Campo Largo cuja função de suas instalações foi à defesa das
68

“fronteiras da capitania” contra o ataque dos indígenas às fazendas de gado ali


instaladas (NEVES, 2012).
Desta forma, salienta-se que o atual município de Barra (ex–Barra do Rio
Grande) foi o primeiro município da região (quando da sua criação o mesmo ainda
era território da província de Pernambuco) e de sua fragmentação territorial surgiram
os novos municípios o qual culminou na atual configuração politico-administrativa da
MOB (BRANDÃO, 2010).
Após o município de Barra, a emancipação de novos municípios se deu de
forma lenta ao longo do tempo, até os últimos anos da década de 1950, quando o
atual território da MOB era formado por 8 municípios, com suas respectivas
emancipações: Cotegipe (ex-Campo Largo), em 1820; Carinhanha, em 1832; Santa
Rita de Cássia (ex-Santa Rita do Rio Preto), em 1840; Santa Maria da Vitória (ex-
Porto de Santa Maria da Vitória do Rio Corrente), em 1880; Correntina (ex-Vila de
Nossa Senhora da Glória do Rio das Éguas), em 1886; Santana (ex-Santana dos
Brejos), em 1890; Angical (ex-Santana de Angical), em 1890; e, Barreiras, em
1891(IBGE, 2007; BRANDÃO, 2010; GÓES, FONTES e SILVA, 2012).
Depois de quase 7décadas sem nenhuma mudança politico-administrativa na
região, houve a emancipação de 12 novos municípios, conforme destacado por
Vieira (2007), impulsionado principalmente pela Constituição Federal de 1946 e
outros fatores políticos. Assim, no período de 1958-1962 foi emancipando os
municípios: Cocos e Coribe, em 1958; Formosa do Rio Preto, em 1961; Baianópolis,
Brejolândia, Canápolis, Catolândia, Cristópolis, Riachão das Neves, São Desidério,
Serra Dourada e Tabocas do Brejo Velho, em 1962 (IBGE, 2007; BRANDÃO, 2010;
GÓES, FONTES e SILVA, 2012).
Após este boom de emancipação municipal, só ocorreu novas fragmentações
após o regime militar, sendo criados em 1985, os municípios de Jaborandi,
Mansidão e Wanderley; em 1989, foi criado o município de São Félix do Coribe; e,
em 2000, foi criado Luís Eduardo Magalhães (GÓES, FONTES e SILVA, 2012).
Sendo está a atual configuração da MOB nos dias de hoje e o recorte espacial
para as análises aqui propostas.
69

4.4. Aspectos socioeconômicos

O modelo de exploração econômica adotado na região entre o início de sua


colonização, no século XVII até o início do século XIX era baseada, sobretudo, na
prática da agricultura de subsistência e na pecuária extensiva. Tal realidade fazia
com que sua economia não representasse muita expressão para outras regiões da
Bahia ou do Brasil no período colonial (BRASIL, 2010).
Todavia, este cenário começa a modificar quando, impulsionado por eventos
ocorridos em outras províncias do país no início do século XIX, como descoberta de
novas áreas de mineração de ouro e diamante, respectivamente, nas capitanias de
Minas Gerais e Goiás trazem uma nova dinâmica populacional e econômica para
região resultando em um grande fluxo de pessoas e mercadorias, principalmente em
torno da navegação nos rios da região. A partir de então o crescimento das
pequenas povoações ao longo dos rios tiveram seu ritmo acelerado surgindo assim,
vários povoados e vilas, que posteriormente tornaram-se freguesias (cidades) cuja
principal finalidade era de funcionarem como entreposto comercial de produtos
comercializados nas áreas supramencionadas (TAVARES, 2001).
Outro fator determinante para mudança nas relações econômicas da região
ocorreu na década de 1880 com o início da extração da borra da mangabeira,
utilizada para fabricação de borracha (FELÍCIO, 2012).
A referida atividade impulsionou a vinda de um grande contingente de
imigrantes principalmente para então povoado de São João das Barreiras, atual
cidade de Barreiras. Todavia, no início do século XX houve o declínio deste tipo de
extrativismo ocasionando a estagnação econômica da região, que passou
novamente a depender exclusivamente das atividades agropecuárias de
subsistência (FELÍCIO, 2012).
Assim permanece até início da década de 1950, quando devido às mudanças
no cenário político-econômico do país, em especial a construção de Brasília (1960)
provocou consideráveis impactos na área da atual MOB. A partir deste período
houve importantes investimentos da iniciativa pública e privada na região que, por
conseguinte, também foi à base necessária para sua reestruturação agrícola a partir
da década de 1970 (SAMPAIO, 2012).
Entre a década de 1950 e 1970 houve a instalação de um importante conjunto
de obras de infraestrutura na região, as quais se destacam a construção da Usina
70

Hidroelétrica de Correntina, em 1952 pela Odebrecht. Na década seguinte, em 1969


há instalação na cidade de Barreiras do 4º Batalhão de Engenharia de Construção
(4º BEC) incumbido da construção das rodovias federais BR-242 (trecho Barreiras –
Ibotirama) e BR-020 (trecho Brasília – Barreiras). Neste período o município de
Barreiras recebe ainda a instalação de agências bancárias, sobretudo do Banco do
Brasil, em 1947 e o projeto de colonização e irrigação denominado Perímetro
Irrigado Barreiras – São Desidério, em 1970, realizado pela Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) (SANTOS FILHO e RIOS
FILHO, 2008; SOUZA, 2012).
Outro fator que impulsionou a dinâmica econômica na região foi o início de
pesquisas agrícolas voltadas para correção de fatores que provocavam a baixa
fertilidade dos solos e ainda a produção de materiais genéticos que fossem
adaptados às condições naturais do cerrado. Pesquisas que culminaram
posteriormente na implantação de lavouras comerciais em grande escala,
principalmente, nos municípios de Barreiras e Formosa do Rio Preto possibilitado
devido à implantação por parte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), no ano de 1975, do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados
(CPAC) atual Embrapa Cerrados (SAMPAIO, 2012).
Os resultados deste conjunto de intervenções são apontados como a principal
responsável pelas profundas mudanças do ponto de vista socioeconômico,
ambiental e político ocorridos na região após a década de 1970. Tais fatores
corroboraram para chegada à região de inúmeros produtores rurais, oriundos de
diversos estados do país e que conjuntamente aos fatores e características naturais
pré-existentes na área, impulsionaram a implantação e a expansão de grandes
áreas com agricultura comercial e mecanizada baseada, em especial, na produção
de grãos nas áreas de chapadas do Cerrado da MOB, com maior destaque
inicialmente ao cultivo de soja e milho e, mais recentemente, outros como o algodão
e o café (MENDOÇA, 2006; SOUZA, 2012).
O desenvolvimento da agricultura nestes moldes na região foi possibilitado
quando o Governo - sobretudo o Federal – direcionou massivos investimentos na
região de cerrados do país e que, por conseguinte, abrangeu também a MOB. Os
investimentos estavam relacionados ao suporte estatal na implantação e
desenvolvimento de infraestrutura e pesquisas científicas voltadas à agricultura
simultânea a adoção de políticas econômicas que culminou em investimentos da
71

iniciativa privada e como consequência trouxe uma nova perspectiva de ocupação


do solo que alterou significantemente a forma que era realizada até então,
provocando um novo dinamismo da lógica da ocupação desta região (SANTOS,
VALE e LOBÃO, 2012).
Na década de 1980, a Embrapa divulgou um estudo indicando o potencial
agrícola do Cerrado baiano. O referido estudo foi voltado, sobretudo, para a
implantação da produção de grãos destinada à exportação, que por sua vez foi o
responsável pela introdução e desenvolvimento do modelo capitalista de base
agroindustrial na região realizada, sobretudo, por imigrantes sulistas e grandes
empresas multinacionais, como Bunge e Cargil que passaram a se instalar em
grandes propriedades na região com intuito de praticar a agricultura tecnificada
(Dallacqua, 2007).
Outro grande incentivo governamental ocorrido no período foi à implantação do
Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados
(PRODECER) que foi um convênio entre Brasil e Japão para o desenvolvimento de
pesquisas voltado à agricultura no Cerrado brasileiro abarcando também a área da
MOB (BRANDÃO, 2010).
No caso da região, deve-se enfatizar principalmente a importância do
PROCEDER II (1985 – 1993), visto que, “suas ações foram direcionadas às terras
da Região Oeste da Bahia, além de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul
e Goiás” (SANTOS FILHO e RIOS FILHO, 2008, p. 5).
Estas ações foram responsáveis por imensuráveis mudanças de ordem
econômica, demográfica e no modo de ocupação das terras da região,
principalmente na porção Oeste da MOB que teve seu território incluído entre os
mais importantes do país na produção agrícola de grãos (GÓES, FONTES e SILVA,
2012).
O referido cenário foi propiciado pelos citados eventos políticos administrativos
atrelados aos recursos naturais presentes na região, como o índice de pluviosidade,
solo, altitude, topografia plana e luminosidade propiciaram as condições favoráveis e
necessárias ao desenvolvimento da agricultura nestes moldes, e assim, corroborou
para que a exploração se ampliasse cada vez mais, chegando ao patamar atual
(SILVA, 2011; AIBA, 2012).
72

4.5. Formação Fundiária

No que concerne ao histórico da formação fundiária da região, as primeiras


informações oficiais acerca dos imóveis rurais e seus respectivos proprietários são
provenientes dos Registros Eclesiásticos (ou paroquiais) de Terras, este que foi o
primeiro cadastramento fundiário geral no Brasil, determinado pelo Decreto Imperial
nº. 1.318, de 30 de janeiro de 1854, que regulamentou a Lei das Terras o qual
também teve abrangência na área da atual MOB (NEVES, 2012).
Os registros ora mencionado foi realizado na região entre os anos de 1857 e
1860 sendo arquivados em 7 livros de registro de terras nas 5 freguesias instaladas
até então. Na ocasião, foram declaradas 2.151 propriedades distribuídas pelas
freguesias, conforme mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Número de imóveis rurais declarados, por freguesia, nos Registros Eclesiásticos de Terras
do Oeste, entre 1857 – 1862.
Nº do Nº de
Freguesias Período
Livro declarações
4.650 Santíssimo Sacramento e Santa Anna do Angical 1857 380
4.659 São Francisco das Chagas da Barra do Rio 1858 237
4.660 Grande 1858 120
4.683 1858 – 1859 396
Santa Anna do Campo Largo
4.684 1857 – 1859 392
4.690 São José da Carinhanha 1859 – 1860 127
4.793 Santa Rita do Rio Preto 1857 – 1860 499
Total 2.151
Fonte: Neves (2012).

Baseando-se nas informações obtidas nos livros de registro foi possível


identificar a existência de concentração de terras por parte de alguns proprietários
no que diz respeito à quantidade de propriedades declaradas. Não sendo possível
definir, no entanto a real extensão de cada propriedade, uma vez que:

Embora apenas alguns declarantes informassem as dimensões das


respectivas unidades agrárias. Em geral, os titulares apresentavam seus
domínios como “posses de terras”, em razão de as possuírem sem o formal
de partilha do espólio do qual herdara ou adquirira um ou mais quinhões.
Talvez este costume tenha favorecido a multiplicação de posses ilícitas no
século XX, em todo o Oeste da Bahia (NEVES, p. 77-78, 2012).

De modo geral as propriedades eram dimensionadas em “léguas” o qual não


se tem uma padronização na área correspondente as unidades agrárias.
Quando analisada a titularidade das propriedades rurais declaradas, levou-se
em consideração para se definir os primeiros grandes proprietários da MOB, a
73

metodologia de Neves (2012) o qual identificou aqueles titulares com 4 ou mais


propriedades declaradas.
Neste contexto, na freguesia do Santíssimo Sacramento e Santa Anna do
Angical teve 380 propriedades registradas, sendo que 37 (9,74%) delas foram
declaradas por apenas 8 proprietários, conforme mostrado na Tabela 2.
Entre as propriedades localizadas na freguesia destacam-se as pertencentes
à família Almeida, em especial, as declaradas por José Joaquim de Almeida
considerado o principal fundador da freguesia no início do século XVIII (FERREIRA,
1958).

Tabela 2. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de Santíssimo


Sacramento e Santa Anna do Angical, entre 1857 – 1859.
Nome dos proprietários Números de registros
Patrício Domingues do Passo 6
Manoel Joaquim de Lima 5
José Joaquim de Almeida e familiares 5
Antônio Pádua Costa e outros 5
João Xavier da Cunha 4
Joaquim Pereira da Costa 4
Maurício José de Souza 4
Pedro Nery Prado 4
Fonte: Neves (2012).

Na freguesia de São Francisco das Chagas da Barra do Rio Grande as


declarações foram realizadas em 2 livros de registro que contabilizaram 357
registros, entre os quais, conforme mostrado na Tabela 3, um total de 24 (6,72%)
registros foram realizado em nome de 5 proprietários.
Com destaque especial aos registros em nome do Coronel Antônio Mariani e
filhos e de Carlos Mariani. A família Mariani foi entre o fim do século XVIII e inicio do
século XIX uma das famílias mais importantes da região devido a sua opulenta
riqueza, posses de terras e representação política na província (FERREIRA, 1958).

Tabela 3. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de São Francisco das
Chagas da Barra do Rio Grande, em 1858.
Nome dos proprietários Números de registros
Coronel Antônio Mariani e filhos 7
Faustino Martins Soares 5
Theobaldo José de Carvalho 4
Fausto Ferreira Leite 4
Carlos Mariani 4
Fonte: Neves (2012).
74

Na freguesia de Santa Anna do Campo Largo as declarações também foram


realizadas em 2 livros, que tiveram 788 registros dos quais, conforme mostrado na
Tabela 4, um total de 32 (4,06%) registros foram realizados por 6 pessoas.
Na referida freguesia destaque-se dos demais declarantes os irmãos
Francisco José de Oliveira e Fernando José de Oliveira que realizaram somente
nesta freguesia um total de 15 registros.

Tabela 4. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de Santa Anna do
Campo Largo, entre 1857 – 1859.
Nome dos proprietários Números de registros
Francisco José de Oliveira 9
Fernando José de Oliveira 5
Leandro Gonçalves de Brito 5
Manoel Cardoso de Sirqueira 5
Ângela da Cunha e Figueiredo 4
Joaquim Antônio Ferreira de Magalhães 4
Fonte: Neves (2012).

Na freguesia de São José da Carinhanha foram realizadas 127 registros,


entre os quais, conforme mostrado na Tabela 5, um total de 35 (27,55%) registros
foram realizados por 8 proprietários.

Tabela 5. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de São José da
Carinhanha (1858).
Nome dos proprietários Números de registros
Gregório Moreira da Trindade 6
Manoel dos Santos Moreira 5
Agostinho Martins dos Santos Fonseca 4
Francisco Moreira das Neves 4
Hermenegildo Alves Brandão 4
Irineu Pereira de Castro 4
Luís Pereira Pinto 4
Órfãos Bruno, Pedro e Cecília 4
Fonte: Neves (2012).

A freguesia de Santa Rita do Rio Preto teve 499 registros, entre os quais,
conforme mostrado na Tabela 6, um total de 103 (20,64) registros foram realizados
por 19 declarantes.
Destaque mais uma vez para Francisco José de Oliveira que também possuiu
declarações nesta freguesia, além da freguesia de Santa Anna do Campo Largo,
fazendo assim com que ele tenha sido o que mais declarou terras em sua posse
neste período.
75

Tabela 6. Proprietários que declararam 4 ou mais imóveis rurais na freguesia de Santa Rita do Rio
Preto, entre 1857 – 1860.
Nome dos proprietários Números de registros
Serafim Ferreira Dias 8
Antônio Siríaco do Bomfim Beltrão 7
Benedito José da Silva 7
Bonifácio José Dias 6
Urseiro Alves Ribeiro 6
Francisca de Paula e Sá 6
Joaquim Aires de Souza Jacó 6
Manoel José de Oliveira 6
Estevão Alves Gurgeis 5
Francisco José de Oliveira 5
João Alves Ferreira 5
João Francisco da Silva 5
Luís de França Lustosa 5
Maria Rita da Silva 5
José M. Cavalcante 5
Alberto Ferreira Dias 4
Inácio Belformim Rodrigues 4
José Marques de Carvalho 4
Pedro Ribeiro de Souza 4
Fonte: Neves (2012).

Diante das informações obtidas foi possível, por meio da verificação da


frequência de propriedades registradas em nome de uma única pessoa ou família,
identificar nas freguesias, que ora formavam a MOB, uma considerável
concentração fundiária em poder de poucos proprietários.
Posteriormente aos Registros Eclesiásticos a melhor sequencia de
informações acerca da estrutura fundiária dos municípios integrantes da MOB foram
obtidos por meio dos dados dos Censos geral e agropecuário realizados no Brasil
nos anos de 1920, 1940, 1960, 1970, 1980, 1996 e 2006.
Neste contexto, o Censo Geral do Brasil de 1920 identificou no estado da
Bahia 65.181 estabelecimentos rurais, dos quais 1.781 (2,73%) estabelecimentos
rurais estavam localizados nos municípios da MOB, cuja distribuição municipal é
mostrada pela Tabela 7.
Cabe ressaltar que no referido censo foram identificados os nomes do
proprietário e do estabelecimento rural, além de sua respectiva área. Todavia, a
publicação dos resultados foi realizada de duas formas: a) relação nominal de todos
os estabelecimentos rurais e seus respectivos proprietários, por município; e, b) O
quantitativo total da área de todos os estabelecimentos rurais por faixas de tamanho
dos mesmos, considerando-se para tanto todos os estabelecimentos rurais de cada
município.
76

Tabela 7. Quantidade de estabelecimentos rurais dos municípios da MOB, 1920.


Município Nº de estabelecimentos
Angical 162
Barreiras 294
Campo largo 176
Carinhanha 339
Correntina 175
Sant’Anna dos Brejos 273
Santa Maria 187
Santa Rita do Rio Preto 175
Total 1.781
Fonte: BRASIL, 1920.

Por meio da relação nominal dos estabelecimentos rurais foi possível


identificar a existência de alguns proprietários que informaram possuírem 4 ou mais
imóveis neste período os quais destacam-se devido a influência econômica, social e
política para a MOB no período o coronel Antônio Balbino de Carvalho e família, cujo
o filho Antônio Balbino de Carvalho Filho ocupou importantes cargos políticos no
estado e no país entre as décadas de 1930 e 1950 (FERREIRA, 1958).
A família Balbino possuía a Fazenda Gamelleira, no município de Angical; as
Fazendas Villa Dulce, Maravilha e Carahybas no município de Barreiras; e, a
Fazenda Porteiras, no município de Campo Largo (BRASIL, 1920).
Destaque ainda para família Rocha, em especial, ao coronel Antônio Geraldo
Rocha (cunhado do coronel Antônio Balbino de Carvalho) e sua esposa Custódia
Mariani Rocha (descendente da família Mariani de Barra do Rio Grande) e seu
sobrinho Francisco Rocha, que foi deputado federal pela Bahia nas décadas de
1920 e 1930.
O coronel Antônio Geraldo Rocha possuía no período as Fazendas Itacolomy
e Atoleiro, no município de Angical e a Fazenda São José em Campo Largo. Já
Francisco Rocha possuía as Fazendas Canna Brava, Canóa, Bôa Vista e Alto Alegre
no município de Barreiras (BRASIL, 1920).
A partir de então, no período compreendido entre as décadas de 1920 e 1980
os dados referentes à estrutura e dinâmica fundiária da região, conforme é mostrada
na Tabela 8, evidencia um cenário com alterações sutis ao longo deste período.
77

Tabela 8. Quantidade e área dos estabelecimentos rurais na MOB (1920 – 1980).


Características dos estabelecimentos rurais
Ano ≤ 100 ha 100 – 1.000 ha ≥ 1.000 ha Total
Quant. Área Quant. Área Quant. Área Quant. Área
1920 1.184 555 331 6.765 91 332.410 1.606 339.730
1940 7.075 155.540 758 141.701 42 54.3434 7.875 351.584
1950 7.920 168.944 791 210.413 85 448.734 8.796 828.091
1960 12.448 241.936 1.046 271.347 71 291.276 13.565 804.559
1970 21.934 473.847 1.454 421.764 70 234.733 23.458 1.130.344
1980 29.410 572.419 4.568 1.140.374 638 3.255.250 34.616 4.968.043
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do IBGE 1920, 1940, 1950, 1960, 1970 e 1980.

Conforme os resultados dos censos do período nos municípios da MOB são


possíveis identificar algumas poucas alterações significativas na dinâmica fundiária
entre as décadas de 1920 e 1970, com destaque neste período ao aumento de
quantidade e área ocupada por estabelecimentos rurais de até 100 ha, entre as
décadas de 1920 e 1940 estes passaram respectivamente de 555,00 ha para
155.540,00 ha de área ocupada, representando um aumento de 1.118,92%
concomitantemente houve também o aumento da quantidade de estabelecimentos
rurais nesta faixa que passou de 1.184 para 7.075 estabelecimentos rurais
correspondendo a um aumento de 497,55% no período.
Outra alteração relevante na composição fundiária dos estabelecimentos
rurais nesta faixa foi entre a década de 1960 e 1970 a qual ocorreu um novo
aumento significativo na quantidade e área ocupada pelos mesmos passando de
12.448 para 21.934 estabelecimentos rurais respectivamente em 1960 e 1970
correspondendo a 76,21% de aumento. Já a área ocupada passou respectivamente
de 241.936,00 ha para 473.847,00 ha representando um aumento de 95,86% na
década.
Entre os estabelecimentos rurais situados na faixa entre 100 ha até 1.000 ha
a alteração mais significativa ocorreu também entre as décadas de 1920 e 1940
quando a quantidade passou respectivamente de 331 para 758 estabelecimentos
rurais com variação de 129,00% e simultaneamente a área ocupada por estes
passou respectivamente de 6.765,00 ha para 141.701,00 ha representando um
aumento de 1.994,62% no período.
A dinâmica em torno dos estabelecimentos rurais acima de 1.000 ha houve
pouca variação no quantitativo total, a exceção foi em 1940 quando houve omissões

4
No censo de 1940, houve a apuração da quantidade total de área ocupada por imóveis acima de
1.000 ha apenas em 2 municípios que compunha a MOB naquele momento.
78

na quantificação dos estabelecimentos rurais desta faixa nesta década. Entre a


década de 1950 e 1960 houve um decréscimo na quantidade e área ocupada por
estabelecimentos rurais desta faixa, neste período houve também a redução na
quantidade total que passou de 85 para 71 estabelecimentos rurais respectivamente
em 1950 e 1960 representando uma variação de -16,47%. Com relação à área
ocupada, à mesma passou respectivamente de 448.734,00 ha para 291.276,00 ha
representando uma variação de -35,09%. no período.
A questão fundiária na MOB passou por profundas mudanças a partir da
década de 1970, em especial, nos municípios localizados na área do Chapadão
Ocidental, que teve sua dinâmica influenciada por fatores, sobretudo, políticos e
econômicos que culminaram na integração destas áreas como nova fronteira
agrícola do estado e do país, consequentemente iniciaram-se diversas ações que
culminaram no desenvolvimento da monocultura de grãos voltados para exportação.
Este novo panorama acarretou na rápida ocupação de grandes extensões de terra
(BRASIL, 2010b).
Nesta nova conjuntura, pode-se afirma que:

A privatização das terras do oeste baiano, nos anos setenta, pelas grandes
empresas para as atividades agro pastoris, choca-se com o sistema
tradicional de ocupação dos gerais baseado na prática secular de
aproveitamento estacional das pastagens. As imensas áreas de terras eram
de domínio do Estado, e muitas efetivamente em mãos de milhares de
posseiros e criadores, que delas usufruíam em regime de condomínio para
criação de rebanho de pequenos e grandes animais (BRASIL, 2010b, p. 33).

As mudanças ocorridas neste período trouxeram consigo significativas


mudanças para região, sendo que a de maior impacto foi à incorporação de
extensas áreas de Cerrado para formação de áreas agricultáveis da nova fronteira
agrícola.
Neste sentido, segundo estudo realizado por Ivo (1983) no novo e rápido
processo de incorporação de áreas ao agronegócio no estado da Bahia destaca-se
as áreas situadas na porção Oeste do estado, sobretudo, de forma expressiva, as
microrregiões do "Chapadão do Alto Rio Grande" e “Chapadões do Rio Corrente”, as
quais tiveram um grande crescimento das áreas destinadas às propriedades rurais
entre as décadas de 1970 e 1980, conforme mostrado pela Tabela 09.
79

Tabela 9. Áreas incorporadas ao agronegócio na MOB, entre 1970 e 1980.


Total de área de
5 Variação de área
Microrregião estabelecimentos (ha)
1970 1980 Total (ha) %
Chapadões do Alto Rio Grande 966.516,00 3.603.860,00 2.637.344,00 272,87
Chapadões do Rio Corrente 566.965,00 1.375.622,00 808.657,00 142,63
Total 1.533.481,00 4.979.482,00 3.446.001,00 224,72
Fonte: Ivo (1983), com adaptações

Diante dos resultados fica nítido que as mudanças ocorridas na MOB no


período aconteceram de forma distinta entre as regiões dos Chapadões do Alto Rio
Grande cujas áreas foram prioritariamente destinadas à agricultura em detrimento
das áreas dos Chapadões do Rio Corrente que teve uma menor área ocupada no
primeiro momento da introdução da agricultura nestes moldes na região.
Este novo panorama foi fator determinante para o aumento das disparidades
no campo da MOB haja vista que quando comparado à relação entre os pequenos e
grandes imóveis rurais, levando em consideração que mesmos com pequenas
diferenças na apuração total os resultados obtidos por Ivo (1983) são próximos dos
resultados apresentados na apuração dos censos de 1970 e 1980.
O aumento da área total no período foi impulsionado principalmente pelo
aumento da quantidade e das áreas ocupadas pelos estabelecimentos rurais acima
de 1.000 ha que entre 1970 e 1980 passou de 70 para 638 estabelecimentos rurais,
representando um aumento de 811,43% e a área ocupada passou de 234.733,00 ha
para 3.255.250,00 ha representando um aumento de 1.286,79% no período.
Os estabelecimentos rurais na faixa entre 100 ha e 1.000 ha também
apresentaram variação na quantidade que passou de 1.454 para 4.568
estabelecimentos rurais representando aumento de 214,17% e a área ocupada que
saltou de 421.764,00 ha para 1.140.374,00 ha com variação de 170,38% no período.
Já a quantidade de estabelecimentos rurais com área menor que 100 ha
passaram no mesmo período de 21.934 para 29.410 estabelecimentos rurais com
uma variação de 34,08% e a área passou respectivamente de 473.847,00 ha para
572.419,00 ha variação que representou 20,80% no período.
5
A metodologia adotada pela autora para o tratamento dos dados foi as Microrregiões Homogêneas,
criadas de acordo com o dispositivo do Decreto nº 67.647, de 23 de novembro de 1970, que
estabelece a Divisão Regional do Brasil para fins estatísticos (IVO, 1983). Neste caso as
microrregiões da atual MOB, correspondem aos municípios:
Chapadões do Alto Rio Grande: Angical, Baianópolis, Barreiras, Brejolândia, Catolândia, Cotegipe,
Cristópolis, Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves, Santa Rita de Cássia, São Desidério e
Tabocas do Brejo Velho;
Chapadões do Rio Corrente: Canápolis, Cocos, Coribe, Correntina, Santa Maria da Vitória, Santana e
Serra Dourada.
80

Diante dos resultados fica evidente que as alterações na composição dos


estabelecimentos rurais acima de 1.000 ha no período foram o principal responsável
pelas mudanças significativas na estrutura fundiária da MOB a partir de 1970.
Impulsionado principalmente pelas rápidas modificações no cenário fundiário
neste período surgiu outros problemas decorrentes deste processo, com destaque a
grilagem de terras na MOB. Segundo aponta estudo do INCRA (1999) a prática foi a
responsável pelo surgimento de gigantescos imóveis rurais na região, conforme
mostrado na Tabela 10.

Tabela 10. Identificação de grandes áreas suspeita de grilagem na MOB.


Proprietário Imóvel Município Área (ha)
Delfim S/A Crédito Fazendas Estrondo e Santa Formosa do Rio Preto 444.306
Imobiliária Rita e Santa Rita de Cássia
Companhia de Fazendas Mato Grosso, Gentio do Ouro, 124.865
Empreendimentos Pindorama e Caldeirão, Central e Baianópolis.
Industriais – CEI Conjunto Água Clara Peri.
CanaBrava Santa Maria, Gleba Tapuio. Formosa do Rio Preto 139.143
Agropecuária
Júlio Carvalho Fazendas Mocambo e Santa Rita de Cássia e 110.000
Fernandes Filho Alegre Formosa do Rio Preto
Total 818.314
Fonte: INCRA, 1999.

Além dos imóveis citados houve tantos outros casos cujas áreas individuais
foram menores. Porém, quando somadas representam uma quantidade significativa
de áreas ocupadas na MOB por meio desta prática que provocou ao longo deste
processo inúmeros conflitos resultando em ameaças, mortes e expulsões de
agricultores tradicionais de suas terras (MENEZES, 2014).
Há de se ressaltar que o processo de grilagem de terras continua a existir na
MOB, com foco nas áreas consideradas propicias à expansão das atividades
voltadas ao agronegócio. Neste contexto,

Na Comunidade de Couro de Porco (atual Arrojelândia) [em Correntina].


Nesta comunidade, se encontra um dos conflitos mais expressivos da
região Oeste da Bahia, que tem como principais protagonistas os membros
da referida comunidade e a empresa Italiana Planta 7 Empreendimentos
Rurais (mas não só ela), atuante no ramo de reflorestamento, fruticultura e
mineração. Embora os entrevistados afirmem que a referida empresa quase
nada planta na área grilada de 217 mil hectares de terra no município de
Correntina, muito possivelmente se utilize desta área para finalidades outras
e estranhas à produção (SOUSA SOBRINHO, 2012, p. 14).

Esta prática provocou e vem provocando profundos distúrbios na questão


fundiária da MOB com reflexo direto nas alterações na sua estrutura fundiária e
81

provocando inúmeros problemas socioeconômicos ao seccionar o modo secular de


apropriação de terras.
Devido à conjuntura de fatores e eventos ocorridos a partir da década de
1970 a estrutura fundiária da MOB consolidou a tendência de concentração de terras
nas décadas de 1990 e 2000, que conforme mostrado na Tabela 11, o processo
iniciado nas décadas anteriores só cresceu posteriormente.

Tabela 11. Quantidade e área dos estabelecimentos rurais na MOB entre 1980 - 2006.
Características dos estabelecimentos rurais
Ano ≤ 100 ha 100 – 1.000 ha ≥ 1.000 ha Total
Quant. Área Quant. Área Quant. Área Quant. Área
1980 29.410 572.419 4.568 1.140.374 638 3.255.250 34.616 4.968.043
1996 32.883 640.318 4.117 1.095.183 995 4.057.822 33.878 4.698.140
2006 37.746 761.970 3.886 1.088.911 1.113 4.553.958 42.745 6.404.839
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do IBGE 1980, 1996 e 2006.

A partir da década de 1980, houve um crescimento modesto na quantidade e


área ocupada por estabelecimentos rurais com até 100 ha, em 15 anos (1980 –
1996) estes passaram respectivamente de 29.410 para 32.883 estabelecimentos
rurais ocorrendo assim um crescimento de 11,81% com relação à área ocupada
passou respectivamente de 572.419,00 ha para 640.318,00 ha representando uma
variação de 11,86% no período.
Posteriormente, entre 1996 e 2006 a variação na quantidade também foi
modesta passando, respectivamente de 32.883 para 37.746 estabelecimentos rurais
correspondendo a uma variação de 14,79% enquanto a área ocupada passou de
640.318,00 ha para 761.970,00 representando 19,00% de variação no período.
Já os estabelecimentos rurais entre 100 ha e 100 ha tiveram sucessivas
retrações no período passando de 4.568 para 4.117 respectivamente entre 1980 e
1996 correspondendo à variação de -9,87% e a área ocupada passou de
1.140.374,00 ha para 1.095.183,00 ha correspondendo à variação de -3,96% no
período. Já entre 1996 e 2006 a variação foi respectivamente de 4.117 para 3.886
na quantidade de estabelecimentos rurais cuja variação foi de -5,61% e com relação
à área ocupada à mesma passou respectivamente de 1.095.183,00 ha para
1.088.911,00 ha com variação de -0,57% na década.
Os estabelecimentos rurais acima de 1.000 ha teve variação entre 1980 e
1996 na quantidade total de 638 para 995 estabelecimentos rurais correspondendo a
82

55,96% de variação enquanto a área ocupada passou respectivamente de


3.255.250,00 ha para 4.057.822,00 ha com variação de 24,65% no período.
Na década posterior, entre 1996 e 2006 as variações foram em torno da
quantidade que passou respectivamente de 995 para 1.113 estabelecimentos rurais
representando uma variação de 11,86% enquanto a área ocupada passou
respectivamente de 4.057.822,00 ha para 4.553.958,00 representando uma variação
de 12,23% no período.
Apesar de apresentar menores índices de crescimento quando comparados
com o período entre as décadas de 1970 e 1980 as décadas que sucederam estas
não apresentou nenhum indício de diminuição da grande disparidade na relação de
quantidade e respectivas áreas ocupadas entre os estabelecimentos rurais menores
que 100 ha e aqueles cujas áreas são superiores a 1.000 ha localizados na MOB.
Os dados sistematizados de todos os municípios da MOB mais atualizado é
os da apuração do SNCR, realizada pelo INCRA tendo como base o ano de 2013 e
conforme mostrado pela Tabela 12.

Tabela 12. Apuração dos dados estatísticos da SNCR dos municípios da MOB.
Município Quant. Área (ha) Área municipal (ha) %
Angical 1.857 169.793,4 152.827,7 111,10
Baianópolis 1.299 437.269,3 334.256,1 130,82
Barreiras 2.193 1.013.355,8 785.922,5 128,94
Brejolândia 1.156 157.408,5 274.472,4 57,35
Canápolis 1.156 33.200,4 43.721,8 75,94
Catolândia 291 41.867,1 64.256,8 65,16
Cocos 2.169 1.506.852,1 102.2736,5 147,34
Coribe 2.218 332.932,6 247.850,6 134,33
Correntina 4.851 1.368.363,2 1.192.167,6 114,78
Cotegipe 782 434.906,2 419.582,7 103,65
Cristópolis 475 109.521,1 104.310,5 105,00
Formosa do Rio Preto 2.252 1.747.990,7 1.630.386,4 107,21
Jaborandi 2.281 1.240.830,7 954.513,0 130,00
Luís Eduardo Magalhães 463 227.299,9 394.106,9 57,67
Mansidão 297 192.085,8 317.743,0 60,45
Riachão das Neves 1.531 1.401.679,6 567.301,8 247,08
Santa Maria da Vitória 2.908 232.125,8 196.684,2 118,02
Santana 1.588 174.474,5 182.016,5 95,86
Santa Rita de Cássia 1.278 490.332,5 597.776,8 82,03
São Desidério 2.742 2.468.106,0 1.515.700,5 162,84
São Félix do Coribe 1.143 145.347,4 94.933,5 153,10
Serra Dourada 2.768 157.824,9 134.663,2 117,20
Tabocas do Brejo Velho 761 114.715,6 137.574,0 83,38
Wanderley 707 190.854,7 295.951,3 64,49
MOB 39.166 14.389.138 11.661.456,3
Fonte: INCRA, 2013, organizado pelo autor.
83

Os resultados obtidos pela referida apuração foram somente referentes ao


quantitativo e a área total que os imóveis rurais ocupam nos respectivos munícipios
da MOB.
Quando analisada os valores relativos à área total, os resultados apresentam
um cenário discrepante da realidade uma vez entre os 24 municípios da MOB em 15
deles a área total ocupada por imóveis rurais apuradas foram maiores que a própria
respectiva área territorial municipal.
O caso mais discrepante é do município de Riachão das Neves cuja área
ocupada, segundo a apuração é 1.401.679,60 ha. Porém, a área territorial do
município, segundo o IBGE, é de 567.301,8 ha, ou seja, há uma diferença de
834.377,80 ha que representa 147,08% a mais da área do próprio município.
Outros municípios que apresentaram expressivas variações em torno da área
total ocupadas por imóveis rurais quando confrontadas com a área territorial total
foram os municípios de São Desidério, São Félix do Coribe e Cocos cujas
respectivas áreas apuradas extrapolaram respectivamente 62,84%, 53,10% e
47,34%.
Além destes, outros municípios que também apresentaram áreas apuradas
que extrapolaram a área municipal foram os municípios de Coribe, Baianópolis,
Jaborandi, Barreiras, Santa Maria da Vitória, Serra Dourada, Correntina, Angical,
Formosa do Rio Preto, Cristópolis e Cotegipe.
Em contrapartida os municípios de Luís Eduardo Magalhães e Brejolândia
apresentaram os menores valores percentuais de ocupação da área municipal com
apenas 60,45%, 57,67% e 57,35 de seus respectivos territórios.
Neste sentido os municípios de Santana, Tabocas do Brejo Velho, Santa Rita
de Cássia, Canápolis, Catolândia, Wanderley e Mansidão também apresentaram as
áreas totais ocupadas por imóveis abaixo das respectivas áreas territoriais
municipal.
De modo geral, a área total ocupada por imóveis rurais apurada na MOB foi
maior do que a sua própria área territorial. Foi apurada em todos os municípios uma
área total de 14.389.137,80 ha enquanto a somatória destes mesmos área oficial
dos municípios é de 11.661.456,30 ha representando uma variação de 23,39% de
área além da sua própria área.
84

5. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado em duas etapas de pesquisa, as quais


corresponderam: (i) pesquisa bibliográfica referente ao tema e o recorte espacial
abordado; e, (ii) Consulta aos bancos de dados do INCRA, os quais possuem
informações acerca de todas as certificações realizadas no país até 31/10/2015,
com enfoque, no recorte espacial correspondente aos municípios que compõem a
MOB.
Para concepção da primeira etapa da pesquisa, correspondente à pesquisa
bibliográfica, foi realizada consulta de fontes secundárias, em especial, por meio da
leitura de livros, artigos científicos, monografias, dissertações e teses acerca da
temática, além da consulta de documentos textuais, estatísticos e cartográficos
(sobretudo arquivos vetoriais) referentes à área abordada.
A referida etapa contemplou a pesquisa com reflexões acerca do histórico da
legislação relativa à formação da estrutura fundiária no Brasil, o papel do INCRA nas
questões inerentes a estrutura fundiária e ordenamento da mesma ao longo do
tempo por meio dos cadastros de terras, as diretrizes delineadas pela Lei
10.267/2001 além do atual panorama e formação político-administrativa da MOB.
Assim, tais aspectos da pesquisa corroboraram para que os objetivos da pesquisa
fossem contemplados.
Na segunda etapa, foram realizadas consultas das informações acerca dos
imóveis rurais certificados nos bancos de dados do INCRA, no presente estudo foi
adotado como intervalo temporal as certificações realizadas entre o dia 26/04/2004,
quando se iniciou os procedimentos no país até o dia 31/10/2015, determinada como
data limite das analises apresentadas.
As consultas foram realizadas em duas fontes distintas do INCRA: A primeira
por meio do sítio eletrônico < http://certificacao.incra.gov.br/Certifica/> para as
certificações realizadas pela 1ª e 2ª NTGIR; e, a segunda por meio do sítio
eletrônico <https://sigef.incra.gov.br/> para as certificações conforme as
especificações da 3ª NTGIR, que correspondem ao SIGEF.
As informações obtidas nos bancos de dados do INCRA hospedados nos
sítios eletrônicos supracitados foram compiladas em uma planilha, no software Excel
85

2010 com a identificação das seguintes informações de cada imóvel rural certificado:
CCIR, número do processo de certificação (quando oriundo da 1ª e 2ª NTGIR),
denominação do imóvel, nome do proprietário, área total certificada, município de
localização, número da certificação e a data da certificação.
Concomitante a obtenção das informações supramencionadas foi realizado o
download das poligonais, no formato shapefile, de todos os imóveis rurais
certificados até a data limite deste estudo. Tais informações são armazenadas e
disponibilizadas para acesso público no sitio eletrônico do acervo fundiário do
INCRA < http://acervofundiario.incra.gov.br/>.
No referido site foram obtidas as informações acerca dos imóveis rurais
certificados pela Lei 10267/2001, diferenciando os de natureza privada (provenientes
da 1ª, 2ª e SIGEF) e os públicos (Projetos de assentamento, Quilombos, Terras
Indígenas e Glebas Federais) nesta etapa foram adquiridos tais informações para
todo o território nacional.
Após a aquisição das poligonais com as informações acima descritas foram
realizadas, no software ArcGIS 9.3, a seleção das poligonais de imóveis certificados
dentro da área de interesse da pesquisa.
Inicialmente, utilizando um arquivo shapefile contendo os limites dos
municípios baianos em 2010, disponibilizado pelo IBGE, foi realizado no software
ArcGIS 9.3, com uso da ferramenta “select by attributes”, a seleção dos municípios
que compõe a mesorregião e também a criação de arquivo com o recorte municipal
para cada município que a compunha.
Foram ainda utilizados, para organização e manipulação de informações
tabulares e a produção de gráficos o software Microsoft Excel 2010; o software
ArcGIS 9.3, para edição das informações vetoriais por meio da padronização,
recorte das informações segundo a área de interesse regional e municipal (quando
necessário) e na elaboração do layout dos mapas apresentados.
A avaliação quanto à percentagem total das áreas certificadas foi realizada
comparando o somatório das áreas dos imóveis já certificadas em relação à área
rural de cada município que compõem a MOB, estes dados foram obtidos no sítio
eletrônico <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/areaterritorial/area.shtm> do
IBGE.
86

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Cabe salientar inicialmente que mesmo com a implantação do SIGEF, por


meio da 3ª NTGIR, no dia 23 de novembro de 2013 os processos com análises já
iniciadas em conformidade com a então 2ª NTGIR continuaram a ser analisado nos
CRC de todo o país. Todavia, as referidas análises foram diminuindo gradativamente
perante a finalização dos respectivos processos de certificação ou solicitação de
arquivamento do processo pelo credenciado, proprietário ou responsável legal do
imóvel rural para realização da respectiva certificação via SIGEF.
Analisando os resultados obtidos a nível nacional, entre 26 de abril de 2004
até o dia 31 de outubro de 2015 foi realizado no país 204.607 certificações de
imóveis rurais cuja distribuição pelos 26 estados e o Distrito Federal, é mostrada na
Tabela 13. Destes, 74.082 imóveis rurais (36,21%) foram advindos de processos
analisados conforme a 1ª e 2ª NTGIR e 130.525 imóveis rurais (63,79%)
provenientes do SIGEF.
Quanto à área total no período foram certificados 195.550.302,5828 ha sendo
que 103.756.995,4928 ha (53,06%) são oriundos de processos da 1ª e 2ª NTGIR e
91.793.307,09 ha (46,94%) provenientes do SIGEF.
Neste cenário destacam-se pela quantidade total de imóveis certificados os
estados de São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul
respectivamente com 34.633, 27.963, 22.498, 22.355 e 21.781 certificações cada.
Quanto ao total de área certificada destacam-se os estados de Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Amazonas, Goiás e Pará respectivamente com 46.060.400,86
ha, 24.582.140,89 ha, 15.928.776,09 ha, 14.914.665,19 ha e 14.042.867,92 ha
certificadas em cada estado.
No mesmo período, o estado da Bahia teve um total de 10.544 imóveis rurais
certificados (5,15% do país), sendo que 3.920 (37,18%) foram advindos da 1ª e 2ª
NTGIR e 6.624 (62,82%) obtidos pelo SIGEF.
A área total certificada no estado foi de 12.499.833,1942 ha (6,39% do país)
distribuídos em 7.336.947,1042 ha (58,70%) advindos da 1ª e 2ª NTGIR e
5.162.886,09 ha (41,30%) do SIGEF.
87

Tabela 13. Número de imóveis certificados por unidade da Federação, até 31 de outubro de 2015.
Imóveis Certificados
Estado 1ª e 2ª NTGIR 3ª NTGIR Total
Quant. Área (ha) Quant. Área (ha) Quant. Área (ha)
Acre 270 1.376.713,8011 349 1.359.624,98 619 2.736.338,7811
Alagoas 46 54.594,0994 165 75.529,29 211 130.123,3894
Amazonas 190 2.799.142,8680 830 13.129.633,22 1.020 15.928.776,0880
Amapá 36 40.173,9929 201 4.566.133,57 237 4.606.307,5629
Bahia 3.920 7.336.947,1042 6.624 5.162.886,09 10.544 12.499.833,1942
Ceara 954 600.719,6159 445 170.242,49 1.399 770.962,1059
Distrito Federal 480 68.755,7257 377 24.514,43 857 93.270,1557
Espírito Santo 385 346.942,0785 706 126.140,73 1.091 473.082,8085
Goiás 8.206 9.480.481,1698 14.292 5.434.184,02 22.498 14.914.665,1898
Maranhão 1.804 3.433.185,5318 4.489 4.714.761,94 6.293 8.147.947,4718
Minas Gerais 6.137 5.502.374,2518 16.218 4.893.681,00 22.355 10.396.055,2518
Mato Grosso do Sul 12.162 18.821.224,9148 9.619 5.760.915,98 21.781 24.582.140,8948
Mato Grosso 10.110 27.931.800,5157 17.853 18.128.600,34 27.963 46.060.400,8557
Pará 1.671 4.887.697,7180 3.498 9.155.170,20 5.169 14.042.867,9180
Paraíba 399 124.453,0325 468 102.888,63 867 227.341,6625
Pernambuco 151 140.856,8379 441 150.102,32 592 290.959,1579
Piauí 1.215 3.337.062,2222 1.673 2.179.287,15 2.888 5.516.349,3722
Paraná 3.225 1.661.209,3322 9.792 1.379.677,36 13.017 3.040.886,6922
Rio de Janeiro 151 121.000,2223 665 154.731,94 816 275.732,1623
Rio Grande do Norte 420 266.468,6677 973 307.480,62 1.393 573.949,2877
Rondônia 1.140 2.329.428,8884 1.425 2.894.351,73 2.565 5.223.780,6184
Roraima 30 27.166,1894 1.253 2.185.538,66 1.283 2.212.704,8494
Rio Grande do Sul 2.701 2.349.907,4790 6.182 1.470.166,84 8.883 3.820.074,3190
Santa Catarina 674 402.034,6467 2.769 446.926,15 3.443 848.960,7967
Sergipe 87 61.441,4354 212 41.124,42 299 102.565,8554
São Paulo 14.161 5.550.362,2932 20.472 1.972.606,70 34.633 7.522.968,9932
Tocantins 3.357 4.704.850,8583 8.534 5.806.406,29 11.891 10.511.257,1483
Total 74.082 103.756.995,4928 130.525 91.793.307,09 204.607 195.550.302,5828
Fonte: INCRA, 2015, organizado pelo autor.
88

Entre os 10.544 imóveis rurais certificados na Bahia 5.245 (49,74%) imóveis


rurais estão localizados na MOB, dos quais 2.689 (51,27%) imóveis rurais foram
certificados pela 1ª e 2ª NTGIR e 2.556 (48,73%) são provenientes do SIGEF. As
certificações ocorreram entre os anos de 2004 a 2015, conforme distribuição anual
que é mostrada no gráfico 2.

Número total de imóveis rurais certificados na MOB por ano


1.800 1.709
1.600
Número de imóveis rurais

1.400
1.200
1.000 925
861
800
600
318 396
400 298 322 261
200 54 85
2 14
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Ano
1ª e 2ª NTGIR 3ª NTGIR
Gráfico 2. Número de Imóveis rurais certificados na MOB por ano
Fonte: INCRA, 2015, organizado pelo autor

Salienta-se que a partir do ano de 2013 houve simultaneamente certificações


via 2ª NTGIR e SIGEF. Diante desta circunstancia, o ano de 2013 totalizou 861
certificações nos municípios da MOB, das quais 763 (88,62%) certificações foram
provenientes da 2ª NTGIR e 98 (11,38%) certificações do SIGEF. No ano de 2014
das 1.709 certificações 166 (9,71%) certificações foram advindas da 2ª NTGIR e
1.543 (90,29%) certificações obtidas via SIGEF. Já no ano de 2015, até 31 de
outubro, das 925 certificações realizadas na MOB 10 (1,08%) certificações foram
provenientes da 2ª NTGIR e 915 (98,92%) certificações advindas do SIGEF.
As certificações de imóveis rurais localizados na MOB oriundas da 1ª e 2ª
NTGIR representou a grande maioria do total de certificações realizado pela SR-05,
responsável pela análise das certificações no estado da Bahia.
Nos 4 primeiros anos de realização de análises (2004 – 2007) os resultados
foram relativamente modestos, com apenas 155 imóveis rurais certificados neste
período. A partir de então, a quantidade de certificações apresentou crescimento nos
anos de 2008 e 2009 com 318 e 396 certificações, respectivamente.
89

Nos 3 anos seguintes (2010 – 2012) houve variações abaixo da registrada em


2009 e o ápice de certificações do período aconteceu no ano de 2013, quando foram
realizadas 763 certificações.
Após a implantação do SIGEF as quantidades de certificações realizadas pela
análise da 2ª NTGIR diminuíram drasticamente sendo registrando apenas 166 e 10
certificações para os anos de 2014 e 2015, respectivamente.
Em contrapartida o SIGEF apresentou bons resultados no quantitativo de
certificações de imóveis localizados na MOB desde que foi implantando. No ano de
2013, em pouco mais de 1 mês de sua vigência foram certificados 98 imóveis rurais.
Seu ápice foi alcançado no ano de 2014 com 1.543 certificações, representando boa
parte dos processos cuja análise estava em andamento no CRC da SR-05.
No que tange à área total dos 12.499.833,1942 ha certificados no estado da
Bahia, um total de 7.649.572,1427 ha (61,20%) estão localizados nos municípios da
MOB dos quais 5.254.013,4190 ha (68,68%) foram certificados por processos
advindos da 1ª e 2ª NTGIR e 2.395.558,7237 ha (31,32%) provenientes do SIGEF.
Entre 2004 e 2015, conforme é mostrado no Gráfico 3, houve consideráveis
variações no quantitativo de área certificada anualmente na MOB, principalmente,
em função da quantidade total de imóveis rurais certificados respectivamente em
cada ano além das mudanças nas variações de faixas de tamanhos dos imóveis
rurais que passaram a necessitar de georreferenciamento e certificação.

Área total de imóveis rurais certificados na MOB, por ano


2015 832.015,1962
2014 1.867.341,8980
2013 1.213.887,1880
2012 358.234,4677
Ano

2011 493.109,3705
2010 473.537,8605
2009 797.447,9565
2008 910.085,5302
2007 331.295,3788
2006 282.015,6448
2005 69.019,1217
2004 21.582,5298
0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000
Área (ha)
1ª e 2ª NTGIR 3ª NTGIR

Gráfico 3. Área total dos imóveis rurais certificados na MOB entre 2004 e 2015
Fonte: INCRA, 2015, organizado pelo autor.
90

Quando comparada a composição da área total certificada a partir da


implantação do SIGEF, constatou-se que no ano de 2013 dos 1.213.887,1880 ha
certificados na MOB, 1.151.179,6548 ha (94,83%) foram provenientes de
certificações da 2ª NTGIR e 62.707,5332 ha (5,17%) do SIGEF. No ano de 2014
quando foram totalizados 1.867.341,8980 ha certificados 339.927,1987 ha (18,20%)
foram advindos da 2ª NTGIR enquanto 1.527.414,6993 ha (81,80%) alcançados via
SIGEF. Já no ano de 2015, também até 31 de outubro, dos 832.015,1962 ha
certificados 26.578,7050 ha (3,19%) foram provenientes da 2ª NTGIR e
805.436,4912 ha (96,81%) certificados via SIGEF.
Quando analisada especificamente as certificações provenientes da 1ª e 2ª
NTGIR no período. Observa-se que apesar de terem sido poucos os imóveis rurais
certificados nos 4 primeiros anos (2004 – 2009) o quantitativo de área foi
consideravelmente grande isto devido principalmente ao fato de se tratarem, na
média, de certificações de imóveis rurais com grandes áreas.
Entre os anos de 2008 e 2009 apesar do número absoluto de certificações do
ano de 2009 ter sido maior do que em 2008 a quantidade de área certificada no ano
de 2008 foi 112.637,5737 ha maior em relação ao obtido no ano posterior, sendo um
indicativo que houve aumento no tamanho dos imóveis certificados na MOB.
Nos 3 anos seguintes houve variações diretamente relacionadas ao números
de imóveis certificados respectivamente em cada ano.
O ápice de área certificada também foi alcançado no ano de 2013, quando
1.151.179,6548 ha foram certificados, ultrapassando ineditamente a marca de
1.000.000 de hectares certificados em um só ano na MOB.
Com a implantação do SIGEF a quantidade de área certificada pela 1ª e 2ª
NTGIR passou a diminuir sendo registrados 339.927,1987 ha e 26.578,7050 ha
certificados em 2014 e 2015, respectivamente.
A adoção do SIGEF representou assim como no número de certificações um
crescimento vertiginoso da área certificada até então alcançando o novo recorde de
1.527.414,6993 ha certificados no ano de 2014.
Os resultados entre as certificações originadas da 1ª e 2ª NTGIR e do SIGEF
também apresentaram consideradas variações quando comparado à composição
das certificações provenientes das respectivas NTGIR, segundo as faixas de
tamanho dos imóveis rurais conforme mostrado na Tabela 14.
91

Tabela 14. Quantidade e área ocupada por imóveis rurais na MOB conforme as NTGIR.
Características dos imóveis rurais
NTGIR ≤ 100 ha 100 – 1.000 ha ≥ 1.000 ha Total
Qnt. Área Qnt. Área Qnt. Área Qnt. Área
1ª e 2ª 48 2.557,8 1.312 682.162,9 1.329 4.569.292,7 2.689 5.254.013,4
3ª 233 11.581,6 1.810 769.147,9 513 1.614.829,2 2.556 2.395.558,7
Total 281 14.139,4 3.122 1.451.310,8 1.842 6.184.121,9 5.245 7.649.572,1
Fonte: INCRA, 2015, organizado pelo autor.

Os imóveis rurais com até 100 ha apresentou as maiores variações na


quantidade e área total ocupada entre as certificações provenientes da 1ª e 2ª
NTGIR e o SIGEF, em relação ao quantitativo passou respectivamente de 48 para
233 certificações representando 385,42% de aumento e a área passou,
respectivamente de 2.557,7828 ha para 11.581,5846 ha variação de 352,80% entre
ambas.
Já as certificações cujas áreas possuem entre 100 ha e 1.000 ha entre a 1ª e
2ª NTGIR e o SIGEF no que tange a quantidade variaram, respectivamente de 1.312
para 1.810 certificações representando 37,96% de aumento enquanto a área
ocupada variou respectivamente de 682.162,8859 ha para 769.147,9070 ha
representando 12,75% de variação entre ambas.
Em contrapartida os imóveis rurais com áreas acima de 1.000 ha houve entre
a 1ª e 2ª NTGIR e o SIGEF a redução na quantidade e na área certificada, neste
contexto o quantitativo passou respectivamente de 1.329 para 513 certificações
representando variação de -61,40% e em relação à área certificada à mesma
passou, respectivamente de 4.569.292,7503 ha para 1.614.829,2321 ha
representando uma variação de -64,66% no período.
No panorama geral, o quantitativo entre a 1ª e 2ª NTGIR e o SIGEF passou
respectivamente de 2.689 para 2.556 certificações com variação de -4,95% entre
ambos já a área certificada sofreu uma alteração mais significativa passou
respectivamente de 5.254.013,4190 ha para 2.395.558,7237 ha de área certificada
correspondendo a -54,41% de variação entre ambos.
A dinâmica em torno das certificações ocorridas na MOB fica mais detalhada
quando foi obtida a área média anual dos imóveis rurais certificados segundo as
respectivas NTGIR no período analisado.
Os resultados alcançados, conforme mostrado na Tabela 14, evidencia que
os imóveis rurais certificados na MOB no período são, em geral, de grande
extensão.
92

Tabela 15. Área média, em hectares, dos imóveis rurais certificados na MOB (2004 – 2015).
1ª e 2ª NTGIR 3ª NTGIR
Ano
Área total Quant. Área média Área total Quant. Área media
2004 21.582,5298 2 10.791,2649 - - -
2005 69.019,1217 14 4.929,9373 - - -
2006 282.015,6448 54 5.222,5119 - - -
2007 331.295,3788 85 3.897,5927 - - -
2008 910.085,5302 318 2.861,9042 - - -
2009 797.447,9565 396 2.013,7575 - - -
2010 473.537,8605 298 1.589,0532 - - -
2011 493.109,3705 322 1.531,3956 - - -
2012 358.234,4677 261 1.372,5459 - - -
2013 1.151.179,6548 763 1.508,7545 62.707,5332 98 639,8728
2014 339.927,1987 166 2.047,7542 1.527.414,6993 1.543 989,8994
2015 26.578,7050 10 2.657,8705 805.436,4912 915 880,2585
Geral 5.254.013,4190 2.689 1.953,8912 2.395.558,7237 2.556 937,2295
Fonte: INCRA, 2015, organizado pelo autor.

Devido, em especial, aos prazos estipulados pela legislação para


georreferenciamento e certificação levando em consideração o tamanho dos imóveis
rurais as certificações advindas da 1ª e 2ª NTGIR apresentaram a média de área
dos imóveis rurais maiores do que aqueles oriundos de certificações via SIGEF.
A média acima de 3.500 ha dos imóveis rurais apresentada nos 4 primeiros
anos de realização de certificações (2004 – 2007) representam, sobretudo, a
demanda por certificações de imóveis acima dos 10.000 ha existentes na MOB.
Os valores médios a partir de então tiveram tendência de diminuírem, com
exceção dos anos de 2013, 2014 e 2015, que por conta da implantação da NE nº
105 e do SIGEF foi realizada certificações de grandes áreas ainda pendentes.
Em contrapartida, os valores médios das áreas certificadas pelo SIGEF
tiveram uma significativa diminuição, sendo este resultado da simplificação do
processo de certificação além da própria metodologia do SIGEF ao passar a
considerar que cada imóvel rural corresponda a uma única matrícula.
Quando analisado a situação individual de cada município que compõe a
MOB no que tange ao número total e suas respectivas áreas certificadas, conforme
mostrado na Tabela 16, fica evidente que o processo de certificação de cada
município da MOB é diferenciado, sendo este reflexo dos processos históricos e
socioeconômicos de cada um que, por conseguinte, trouxe reflexos do modo de
ocupação das suas respectivas áreas rurais.
93

Tabela 16. Quantidade de imóveis rurais e área certificada, em hectares, por município da MOB.
1ª e 2ª NTGIR 3ª NTGIR Total
Município
Quant. Área Quant. Área Quant. Área
Angical 6 3.870,2331 29 35.447,8598 35 39.318,0929
Baianópolis 91 175.915,8971 48 65.338,2364 139 241.254,1335
Barreiras 282 394.392,6640 317 178.091,0516 599 572.483,7156
Brejolândia 24 94.121,1362 10 7.088,4801 34 101.209,6163
Canápolis 2 6.422,2363 1 1.000,7641 3 7.423,0004
Catolândia 8 7.490,4460 10 8.886,0564 18 16.376,5024
Cocos 103 492.040,0206 132 283.784,4402 235 775.824,4608
Coribe 8 21.639,6610 59 38.848,5206 67 60.488,1816
Correntina 273 706.380,4089 170 200.544,5490 443 906.924,9579
Cotegipe 47 186.423,2710 42 47.924,1424 89 234.347,4134
Cristópolis 5 14.091,1661 13 15.318,8716 18 29.410,0377
Formosa do Rio Preto 465 782.113,1697 504 508.059,0364 969 1.290.172,2061
Jaborandi 233 538.885,7383 245 210.380,1801 478 749.265,9184
LEM 260 299.583,0317 176 75.419,0816 436 375.002,1133
Mansidão 16 57.286,7794 45 92.277,4040 61 149.564,1834
Riachão das Neves 121 228.553,4976 224 182.593,3200 345 411.146,8176
Santa Maria da Vitória 3 3.211,9180 19 13.140,5474 22 16.352,4654
Santana 1 323,0994 28 14.962,8897 29 15.285,9891
Santa Rita de Cássia 48 133.159,2958 87 99.735,8311 135 232.895,1269
São Desidério 642 986.601,7358 305 220.228,4679 947 1.206.830,2037
São Félix do Coribe 2 2.788,0000 32 11.937,4639 34 14.725,4639
Serra Dourada 4 14.495,0452 7 14.407,1606 11 28.902,2058
Tabocas do Brejo Velho 19 30.034,3838 16 29.449,9672 35 59.484,3510
Wanderley 26 74.190,5840 37 40.694,4016 63 114.884,9856
Total 2.689 5.254.013,4190 2.556 2.395.558,7237 5.245 7.649.572,1427
Fonte: INCRA, 2015, organizado pelo autor

No cenário regional destacam-se pelo grande número de certificações


provenientes da 1ª e 2ª NTGIR os municípios de São Desidério, Formosa do Rio
Preto, Barreiras, Correntina e Luís Eduardo Magalhães respectivamente com 642,
465, 282, 273 e 260 imóveis rurais certificados correspondendo a 71,48% das
certificações da MOB no período. Já os municípios de Serra Dourada, Santa Maria
da Vitória, Canápolis, São Félix do Coribe e Santana com 4,3, 2, 2 e 1 imóveis rurais
certificados foram os munícipios com menores quantidades de certificações,
representando apenas 0,45% do total de certificações.
Em relação à área total certificada pela 1ª e 2ª NTGIR os municípios de São
Desidério, Formosa do Rio Preto, Correntina, Jaborandi e Cocos respectivamente
com 986.601,7358 ha, 782.113,1697 ha, 706.380,4089 ha, 538.885,7383 ha e
492.040,0206 ha foram os que apresentaram as maiores áreas absolutas
94

certificadas representando juntos 66,73% de toda área certificada na MOB no


período. Em contrapartida os municípios com as menores áreas certificadas foram
Canápolis, Angical, Santa Maria da Vitória, São Félix do Coribe e Santana
respectivamente com 6.422,2363 ha, 3.870,2331 ha, 3.211,9180 ha, 2.788 ha e
323,0994 ha que correspondendo juntos a 0,32% do total de áreas certificadas.
Se considerado apenas as certificações obtidas via SIGEF o destaque no que
tange a maior quantidade de certificações são os municípios de Formosa do Rio
Preto, Barreiras, São Desidério, Jaborandi e Riachão das Neves respectivamente
com 504, 317, 305, 245 e 224 imóveis certificados representado 62,40% do total de
certificações na MOB em detrimento dos municípios com menor quantidade de
imóveis certificados que foram Cristópolis, Brejolândia, Catolândia, Serra Dourada e
Canápolis respectivamente com 13, 10, 10, 7 e 1 imóveis certificados representando
juntos 1,60% do total.
No quesito área os resultados advindos do SIGEF apresentaram-se maiores
nos municípios de Formosa do Rio Preto, Cocos, São Desidério, Jaborandi e
Correntina respectivamente com 508.059,0364 ha, 283.784,4402 ha, 220.228,4679
ha, 210.380,1801 ha e 200.544,5490 ha representando 59,40 de toda área
certificada enquanto as menores áreas totais certificadas foram nos municípios de
Santa Maria da Vitória, São Félix do Coribe, Catolândia, Brejolândia e Canápolis
respectivamente com 13.140,5474 ha, 11.937,4639 ha, 8.886,0564 ha, 7.088,4801
ha e 1.000,7641 ha representando 1,21% da área total.
Comparando as variações na quantidade e área certificadas entre 1ª e 2ª
NTGIR e o SIGEF merecem destaques com as maiores variações na quantidade de
certificações os municípios de Santana e São Félix do Coribe que tiveram uma
variação de 2.700% e 1.500%, respectivamente. Já as maiores variações negativas
foram registradas nos municípios de São Desidério e Brejolândia cuja variação na
quantidade de áreas certificadas foi de -52,49% e -58,33%, respectivamente.
No tocante à área certificada as maiores variações positivas foram nos
municípios de Santana e Angical cuja variação foi de 4.531,05% e 815,91%
respectivamente. Já as maiores variações negativas foram nos municípios de
Canápolis e Brejolândia com -84,42% e -92,47%, respectivamente.
Esta relação fica mais detalhada quando analisada os respectivos percentuais
que as áreas totais certificadas representam para cada município da MOB, conforme
mostrada na Tabela 17.
95

Tabela 17. Quantidade de área ocupada por tipo de empreendimento nos municípios da MOB.
Área total (ha)
Município Urbana6 Certificada PA e Quilombo7 Total ocupado Área total
Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % municipal
Angical 959,3538 0,63 39.318,0929 25,73 46.225,9149 30,25 86.503,3616 56,61 152.827,7
Baianópolis 567,7965 0,17 241.254,1335 72,18 - - 241.821,9300 72,35 334.256,1
Barreiras 1.1142,4968 1,42 572.483,7156 72,84 8.023,6023 1,02 591.649,8147 75,28 785.922,5
Brejolândia 116,0861 0,04 101.209,6163 36,87 11.108,7245 4,05 112.434,4269 40,96 274.472,4
Canápolis 383,9187 0,88 7.423,0004 16,98 - - 7.806,9191 17,86 43.721,8
Catolândia 120,1472 0,19 16.376,5024 25,49 - - 16.496,6496 25,68 64.256,8
Cocos 807,5125 0,08 775.824,4608 75,86 - - 776.631,9733 75,94 102.2736,5
Coribe 519,7236 0,21 60.488,1816 24,41 26.832,63 10,83 87.840,5352 35,45 247.850,6
Correntina 852,5674 0,07 906.924,9579 76,07 24.604,1372 2,06 932.381,6625 78,20 1.192.167,6
Cotegipe 930,1808 0,22 234.347,4134 55,85 24.092,6321 5,74 259.370,2263 61,81 419.582,7
Cristópolis 446,7302 0,43 29.410,0377 28,19 - - 29.856,7679 28,62 104.310,5
Formosa do Rio Preto 1045,4351 0,06 1.290.172,2061 79,13 5.043,7204 0,31 1.296.261,3616 79,50 1.630.386,4
Jaborandi 518,2580 0,05 749.265,9184 78,50 - - 749.784,1764 78,55 954.513,0
Luís Eduardo Magalhães 5915,2537 1,50 375.002,1133 95,15 5.233,2593 1,33 386.150,6263 97,98 394.106,9
Mansidão 372,8377 0,12 149.564,1834 47,07 20.345,8614 6,40 170.282,8825 53,59 317.743,0
Riachão das Neves 874,9885 0,15 411.146,8176 72,47 24.990,75 4,41 437.012,5561 77,03 567.301,8
Santa Maria da Vitória 2367,9342 1,20 16.352,4654 8,31 - - 18.720,3996 9,51 196.684,2
Santana 2047,7912 1,13 15.285,9891 8,40 6.365,7730 3,50 23.699,5533 13,03 182.016,5
Santa Rita de Cássia 791,7947 0,13 232.895,1269 38,96 74.651,3665 12,49 308.338,2881 51,58 597.776,8
São Desidério 531,3992 0,04 1.206.830,2037 79,62 9.141,1658 0,60 1.216.502,7687 80,26 1.515.700,5
São Félix do Coribe 584,0094 0,62 14.725,4639 15,51 8.676,3592 9,14 23.985,8325 25,27 94.933,5
Serra Dourada 972,4027 0,72 28.902,2058 21,46 2.209,5086 1,64 32.084,1171 23,82 134.663,2
Tabocas do Brejo Velho 318,6974 0,23 59.484,3510 43,24 2.085,7531 1,52 61.888,8015 44,99 137.574,0
Wanderley 623,3543 0,21 114.884,9856 38,82 20.197,6341 6,82 135.705,974 45,85 295.951,3
MOB 33.810,6696 0,29 7.649.572,1427 65,60 319.828,7924 2,74 8.042.949,1855 68,97 11.661.456,3
Fonte: INCRA, 2015 e IBGE, 2010, Organizado pelo autor.

6
Consideram-se áreas urbanas aquelas delimitadas pelo IBGE, no ano de 2010, correspondentes aos setores urbanos de sedes distritais (cidades e vilas).
7
Apenas o município de Wanderlei a área total representa a existência de PA (7.118,2509) e Quilombo (13.079,3832 ha).
96

Considerando a relação da área total de cada município, excetuando suas


áreas urbanas, e assim obtendo sua respectiva área rural ocupada por áreas
governamentais como PA, quilombo ou já certificada por imóveis rurais particulares
foi possível identificar na MOB municípios com baixos e altos índices de área
territorial já ocupada por imóveis rurais de alguma natureza.
Neste contexto, o maior destaque é para Luís Eduardo Magalhães cuja área
urbana ocupa 1,50% da área municipal concomitantemente 95,15% da área do
município já foi certificada e ainda possui 1,33% de área ocupada por PA,
totalizando assim 97,98% de todo o município ocupado de alguma forma.
Em se tratando apenas do total de área certificadas outros municípios de
destaque cujos índices são superiores a 75% da área territorial municipal total já
certificada são os municípios de São Desidério, Formosa do Rio Preto, Jaborandi,
Correntina e Cocos respectivamente com 79,62%, 79,13%, 78,5%, 76,07% e
75,86% de áreas municipais já certificadas.
Outros municípios com índices entre os 50% e 75% da área municipal
certificada são os municípios de Barreiras, Riachão das Neves, Baianópolis e
Cotegipe respectivamente com 74,26%, 72,62%, 72,35 e 56,07 representado
também significativos percentuais já certificados.
Em oposto, há municípios que apresentaram índices de certificação abaixo de
20% da área total municipal, sendo os municípios nesta condição são Canápolis,
São Félix do Coribe, Santana e Santa Maria da Vitória respectivamente com
16,98%, 15,51%, 8,4% e 8,31% da área municipal já certificada.
No que tange as áreas ocupadas por PA e quilombo o destaque é para os
municípios de Angical e Santa Rita de Cássia cuja área ocupada por estes
correspondem a respectivamente 30,25% e 12,49 da área municipal.
Levando em consideração que a obrigatoriedade da realização do
georreferenciamento e posterior certificação sejam até o momento voltado para
áreas entre 100 e 500 hectares, os altos percentuais de áreas já ocupadas em
alguns municípios, principalmente os provenientes de certificações de imóveis rurais
demostra a continuação da estrutura fundiária atrelada à existência de grandes
propriedades em detrimento de pequenas propriedades na MOB.
Quando analisada a espacialização dos imóveis rurais certificados aqueles
provenientes da 1ª e 2ª NTGIR, conforme mostrado pela Figura 8, é possível
vislumbrar os contrastes existentes entre os diferentes municípios da própria MOB.
97

Figura 8. Imóveis rurais certificados, em acordo a 1ª e 2ª NTGIR até dia 31/10/2015, na MOB.
98

Visualmente é nítida a concentração de imóveis rurais certificados na porção


Oeste da MOB, correspondente às áreas de chapadas, sendo este, em especial, um
reflexo das alterações no modo de ocupação agrário ocorrido a partir da década de
1970 na referida área pelo qual devido a fatores naturais, políticos e econômicos
houve o crescimento vertiginoso da quantidade de imóveis rurais ocupando grandes
áreas em detrimentos da porção Leste da MOB que não foi abarcada por este
processo na mesma proporção e que apresentou uma densidade de áreas
certificadas menor, com exceção de alguns municípios em áreas pontuais.
Diante do panorama as áreas certificadas ocuparam principalmente todo o
município de Luís Eduardo Magalhães, a porção Norte e Sudoeste de Formosa do
Rio Preto além das porções Centro-Oeste dos municípios de Riachão das Neves,
Barreiras, São Desidério, Correntina, Jaborandi e Coco as quais concentraram
grande maioria das certificações advindas da 1ª e 2ª NTGIR na MOB.
Além destes, destacaram-se ainda a porção Central e Sul do município de
Baianópolis, a porção Noroeste de Cotegipe, porções Sul dos municípios de
Mansidão e Santa Rita de Cássia e porção Leste do município de Brejolândia estas
áreas também concentram uma quantidade razoável de imóveis rurais certificados
no período.
As demais áreas e municípios da MOB enquanto vigência da 1ª e 2ª NTGIR
apresentaram quantidades e espacialização heterogêneas das certificações
ocorridas no período.
Em contrapartida a distribuição espacial dos imóveis certificados por meio do
SIGEF, conforme mostrado pela Figura 9, ocorreram, de forma geral, mais
heterogênea, abarcando assim todos os municípios da MOB.
A exceção foram alguns municípios que apresentaram concentração de
grandes áreas certificadas, ocorrendo na porção Oeste de Formosa do Rio Preto e
Sul de Mansidão. Os demais municípios apresentaram uma melhor distribuição dos
imóveis rurais certificados.
Nesse contexto, alguns municípios que no decorrer da vigência das 1ª e 2ª
NTGIR tiveram poucas certificações, com a implantação do SIGEF apresentaram
significativo aumento na quantidade de imóveis rurais e de áreas certificadas
destacando-se os municípios localizados na porção Leste da MOB. Salientando que,
em geral, estas certificações correspondem a imóveis rurais de menor tamanho
quando comparado com aqueles provenientes da 1ª e 2ª NTGIR.
99

Figura 9. Imóveis rurais certificados, em acordo a 3ª NTGIR (SIGEF) até dia 31/10/2015, na MOB.
100

No que tange as áreas públicas ou de interesse coletivo na MOB não existem


demarcadas nenhuma Terras Indígena (TI) ou terras devolutas da união, atualmente
denominadas de Glebas Federais.
Foi identificada somente a existência de Projetos de Assentamento (PA) cujas
características são mostradas na Tabela 18.

Tabela 18. Características e localização dos Projetos de Assentamento da MOB.


Nome PA Município Cap. Fam. Área (ha) Criação
Angical I Angical e Cotegipe 996 927 53.650,4601 26/06/1986
Faz. Reunidas Pai João Coribe e Feira da Mata 414 250 11.069,7657 12/05/1987
Faz. Porto Bonito Correntina 127 126 24.604,1372 12/05/1987
Senhor do Bonfim Santa Rita de Cássia 200 200 21.565,1513 03/12/1987
Pedra Branca São Félix do Coribe 60 0 2.383,9301 20/07/1992
Rumo Novo São Félix do Coribe 66 62 4.750,2755 06/09/1995
Pai João Foagro Coribe 134 134 10.492,9287 30/11/1995
Cacimba Coribe 137 38 4.274,3050 25/07/1996
Rio de Ondas LEM e Barreiras 300 242 12.272,5753 30/12/1996
Rio Grande II Cotegipe 180 175 6.798,6885 31/12/1997
Vale Verde Brejolândia e Sítio do Mato 440 439 27.270,2289 11/03/1998
Tainá São Desidério 40 33 2.317,3289 30/07/1998
Jacarandá Santana 249 246 6.365,7730 30/12/1998
Rio Branco Riachão das Neves 250 246 18.559,7493 20/11/2000
Castelo Riachão das Neves 60 58 3.947,8429 28/12/2000
Antônio Conselheiro II Santa Rita de Cássia 300 297 13.294,1124 30/03/2000
Ponta d'agua Coribe 120 80 4.397,6069 03/10/2001
Nova Terra Formosa do Rio Preto 51 50 5.043,7204 16/12/2002
Lagoa da Onça Serra Dourada e Sitio do Mato 115 82 4.952,4055 29/11/2002
Faz. Bom Sucesso e Outras São Félix do Coribe 20 20 1.542,1536 06/11/2003
São Francisco de Assis Cotegipe 186 181 7.981,6565 21/01/2003
Carlota Riachão das Neves 75 75 2.483,1578 02/08/2004
Arco Verde Santa Rita de Cássia 60 58 3.818,1058 02/08/2004
Campo Alegre Wanderley 118 115 7.118,2509 04/08/2004
Nova Esplanada I Mansidão 159 148 10.115,6649 09/12/2004
Nova Esplanada CAPEFE Mansidão 161 136 9.872,4801 14/12/2004
Ilha da Liberdade Barreiras 30 29 984,2863 21/09/2004
Beira Rio Santa Rita de Cássia 129 126 9.906,2821 15/12/2005
Primavera CAPEFE Santa Rita de Cássia e Mansidão 129 127 9.204,8938 18/03/2005
Beira Rio II Cotegipe 32 32 1.887,7419 19/12/2005
Vitória São Desidério 29 27 1.784,5631 19/12/2005
Fazenda Serra Grande Coribe e Feira da Mata 58 57 4.747,8543 19/09/2006
Fazenda Reunidas Esplanada Santa Rita de Cássia 63 60 4.370,2300 23/08/2006
Dom Ricardo Santa Rita de Cássia 182 177 12.850,3075 14/09/2010
Caxiado São Desidério 46 38 1.771,5129 26/10/2010
Senhor do Bonfim Tabocas Do Brejo Velho 39 39 2.085,7531 04/12/2012
Oscar Niemeyer São Desidério 40 0 2.269,1727 25/09/2014
Águas Claras São Desidério 24 0 998,5882 03/08/2015
Total 5.819 5.130 333.803,64
Fonte: INCRA, 2015
101

Se levando em consideração o tamanho total da MOB e da área total, até


então, ocupada por imóveis rurais particulares há uma quantidade e área ocupada
muito pequena por PA na MOB, consequentemente o número de famílias
beneficiadas por estes também relativamente baixos.
Há ainda, com todos os tramites de reconhecimento e demarcação concluído
a existência de um único quilombo na MOB que é a comunidade de Riacho da
Sacutiaba e Sacutiaba no município de Wanderley cuja área ocupada é de
13.079,3832 ha correspondendo a 4,42% da área municipal total.
Quanto à espacialização dos PA e quilombo pela MOB, conforme mostrada
na Figura 10, há de se destacar inicialmente que a grande maioria dos mesmos está
localizada nos municípios da porção Leste da MOB, havendo poucos localizados
nas áreas de chapadas da porção Oeste da região, onde, conforme já mencionado,
há um predomínio dos imóveis rurais particulares.
Existem ainda alguns municípios que não possuem nenhum PA caso dos
municípios de Baianópolis, Canapólis, Catolândia, Cristópolis, Cocos, Jaborandi e
Santa Maria da Vitória.
Quando analisado o cenário com todas as áreas particulares e públicas
certificadas, conforme mostrado na Figura 11, pode-se inferir que há um grande
adensamento na quantidade de imóveis rurais particulares certificados nos
municípios que estão localizados na porção Oeste da MOB, principalmente por
serem consideradas mais produtivas devido ao emprego de tecnologias e
características ora mencionadas.
Todavia, já existe uma nítida expansão destas áreas certificadas no sentido
da porção Leste da MOB, em especial, contemplando os municípios de Santa Rita
de Cássia, Mansidão, Cotegipe, Wanderley e Baianópolis. A referida expansão
representa, sobretudo, a incorporação recente de grandes áreas nos processos
produtivos e econômicos da MOB.
Já as áreas públicas principalmente as de interesse coletivo caso dos PA e
dos quilombos representam apenas uma pequena área ocupada na MOB e mesmo
quando ocupadas, representam áreas cujo interesse de expansão das atividades
agrícolas em grande escala é menor ou inexistente sendo este um fator que
evidencia as desigualdades existentes no campo da região.
102

Figura 10. Assentamentos rurais e Quilombos cujo limite é reconhecido pelo INCRA até dia
31/10/2015, na MOB.
103

Figura 11. Todos os Assentamentos rurais, Quilombos e Imóveis rurais certificados pelo INCRA até
dia 31/10/2015, na MOB.
104

Diante do panorama apresentado, quando analisada as peculiaridades em


torno do processo de certificação de imóvel rural na MOB foi possível identificar a
existência de imóveis rurais certificados via SIGEF sobrepostos a áreas já
certificadas pela 1ª e 2ª NTGIR além de imóveis rurais certificados pela 1ª, 2ª e 3ª
NTGIR com consideráveis áreas de sobreposição sobre os PA e quilombo.
Desta forma, o INCRA o qual foi incumbido à responsabilidade de gerir o
banco de dados dos imóveis rurais fere o principal fundamento preconizado pela
legislação e normativas que regimentam os procedimentos de georreferenciamento
e certificação de imóveis rurais no país já que tal situação está em desacordo com
parágrafo 5º do artigo 176 da Lei 6.015/73 o qual determina que é de
responsabilidade do INCRA certificar que a poligonal objeto do memorial descritivo
não se sobrepõe a nenhuma outra constante de seu cadastro georreferenciado.
O motivo de ocorrência das sobreposições de áreas certificadas via SIGEF
em áreas já certificadas pela 1ª e 2ª NTGIR é devido ao fato do SIGEF ainda não
dispor da funcionalidade de desmembramento disponível. Desta forma, para realizar
a referida ação, quando se tratando de imóveis rurais já certificados pelas NTGIR
anteriores, a mesma é realizada por meio do “pedido de sobreposição de área” caso
haja o deferimento do mesmo é gerada novas poligonais das respectivas áreas
desmembradas, posteriormente, tais poligonais são inclusas no banco de dados.
Todavia, quando isto ocorre não há a retirada da parcela certificada pela 1ª ou
2ª NTGIR do acervo fundiário do INCRA acarretando assim na existência de áreas
certificadas sobrepostas.
Foram identificados 60 imóveis rurais certificados via SIGEF nestas condições
os quais possuem uma área total de 67.573,8060 ha certificados. As ocorrências
foram distribuídas em alguns municípios da MOB, conforme mostrado na Tabela 19.

Tabela 19. Ocorrência de certificações com sobreposição entre as NTGIR.


Município Quant. Área (ha)
Barreiras 4 776,5731
Cocos 4 10.402,7080
Correntina 8 14.134,4823
Cristópolis 1 1.163,9556
Formosa do Rio Preto 29 16.577,9284
Jaborandi 2 714,7723
Luís Eduardo Magalhães 5 1.225,9651
Riachão das Neves 3 5.366,0469
Santa Rita de Cássia 4 17.211,3743
Total 60 67.573,8060
Fonte: INCRA, 2015, organizado pelo autor.
105

Houve ainda, conforme mostrado pela Figura 12, casos em que imóveis rurais
certificados por meio 1ª e 2ª NTGIR e do SIGEF apresentaram sobreposição em
áreas de diferentes PA e do quilombo na MOB.
Foram identificadas 3 ocorrências deste fato em áreas de PA. Os casos
envolvendo imóveis rurais certificados oriundos do SIGEF aconteceram no PA Beira
Rio II, localizado no município de Cotegipe e cuja área total é de 1.887,7419 ha,
neste caso as fazendas Jacarandá, Jacarandá I e JLS ocupam 800,6756 ha no
interior dos limites do PA representando assim 42,41% de área com sobreposição
no mesmo.
Outro caso também envolvendo imóveis rurais certificados via SIGEF foi no
PA Rio Branco, localizado no município de Riachão das Neves e com área total de
18.559,7493 ha, neste caso, a Fazenda Itaqui ocupa 9.030,9804 ha no seu interior, o
que representa 48,66% da área total do mesmo.
No caso do PA Tainá com área de 2.317,3289 ha localizado no município de
São Desidério este apresentou sobreposição com áreas certificadas pela 1ª e 2ª
NTGIR sendo a Fazendas Largo, Fazenda Terra Nova e Fazenda São José que
ocupam 1.491,5879 ha do referido PA, representando assim 64,37% da área total do
mesmo.
Cabe salientar que em nenhum dos PA e respectivos imóveis rurais
envolvidos nas referidas sobreposições as áreas dos imóveis rurais estão totalmente
inseridos no interior dos mesmos, tão pouco estes imóveis rurais fazem parte das
áreas desapropriadas para implantação deles, estando assim certificados de forma
irregular.
No caso do Quilombo, a comunidade de Riacho da Sacutiaba e Sacutiaba
situado no município de Wanderley e que ocupa uma área total de 13.079,3832 ha o
mesmo apresentou sobreposição com a Fazenda Amazonas, Fazenda Rodrigo e
Tabatinguinha e Fazendas Conceição que ocupam juntas 3.414,5542 ha do interior
do quilombo, representando assim 26,11% da sua área total.
Neste caso, a fazenda Conceição é apontada como uma das fazendas que
originaram a área total do quilombo e já foram registrados conflitos entre as
comunidades quilombolas lá instaladas com proprietários de imóveis rurais nas
áreas circunvizinhas.
106

Figura 12. Ocorrência de sobreposição de imóveis rurais certificados em áreas de PA e Quilombo


107

Outro fato relevante é que quando analisada a publicação do INCRA


denominada o “Livro Branco da Grilagem de Terras (1999)”, especialmente, no que
tange aos casos mencionados do surgimento na década de 1970 de grades
propriedades com suspeita de grilagem localizados na MOB constatou-se que entre
as fazendas e proprietários citados na referida publicação atualmente possuem
áreas certificadas a Fazenda Estrondo e Fazenda Santa Maria, ambas situadas no
município de Formosa do Rio Preto.
No caso da Fazenda Estrondo, conforme mostrado na Figura 13, dos 444.306
ha de área mencionados no livro verificou-se que 270.729,8981 ha foram
certificados na forma de condomínio pertencentes a vários proprietários. Da área
total 184.594,6434 ha (68,18%) foram provenientes de certificações da 1ª e 2ª
NTGIR e 86.135,2547 ha (31,82%) foram advindos do SIGEF.
No que tange ao número de certificações foram realizadas 133 processos de
certificações dos quais 70 (52,63%) foram provenientes de processos da 1ª e 2ª
NTGIR e 63 (47,37%) via SIGEF.
As certificações, as quais remetem aos próprios proprietários e posteriores
sócios da empresa proprietária da Fazenda Estrondo na década de 1970, foram
realizadas por 24 proprietários, que são todas pessoas jurídicas e constatou ainda a
existência de 12 proprietários, que são pessoas físicas em outras situações.
Entre as pessoas jurídicas, os maiores proprietários são a Delfin Rio S/A -
Crédito Imobiliário Ltda que possui 48.028,7451 ha (17,74%) com 51 imóveis rurais
certificados, a Companhia Melhoramentos do Oeste da Bahia que possui
34.505,4907 ha (12,75%) com 12 imóveis rurais certificados e a Vitória da Confiança
Atividades Agrícolas de Participações S/A que possui 14.281,4773 ha (5,28%) com 7
imóveis rurais certificados.
As certificações realizadas por pessoas físicas no interior da Fazenda
Estrondo, as quais totalizaram 47.759,3722 ha (17,64%) com 13 imóveis rurais
certificados representam, sobretudo, áreas cuja posse é objeto de disputa judicial
com um histórico de violência contra aqueles que as ocupam e que vão de encontro
aos interesses dos administradores do condomínio. Por tais motivos o nome dos
detentores das áreas certificadas nestas condições foi preservado.
Cabe salientar ainda que todas as certificações via SIGEF, as quais totalizam
8 certificações são objeto de pedidos de cancelamento realizado pelos
administradores do Condomínio Estrondo.
108

Figura 13. Áreas certificadas no interior do condomínio da Fazenda Estrondo.

No caso da Fazenda Santa Maria, mostrada pela Figura 14, segundo o livro
do INCRA supracitado a mesma possuía na década de 1970 uma área de 139.143
ha. Todavia, foram certificados 146.585,2132 ha dos quais 11.638,5026 ha (7,94%)
foram provenientes da 1ª e 2ª NTGIR e 134.946,7106 ha (92,06) de certificações via
SIGEF.
Para tanto, foram realizadas 61 certificações das quais 20 (32,79%) foram
advindas da 1ª e 2ª NTGIR e 41 (67,21%) oriundas do SIGEF.
Entre os atuais detentores o que apresentou maior área certificada com
64.759,2446 ha (44,18%) por meio de 8 imóveis rurais certificados foi a Canabrava
Agropecuária Ltda, sendo que todas as certificações da mesma foram advindas do
SIGEF.
Puderam-se identificar ainda outras áreas que correspondem a certificações
cuja Canabrava Agropecuária Ltda contesta junto ao INCRA e que ocupam
109

67.188,1174 ha (45,84%) e são referentes a 14 certificações, sendo que 1


proveniente da 1ª e 2ª NTGIR e 13 certificações via SIGEF .
As demais áreas que ocupam 13.805,1447 ha (9,42%) resultantes de 37
imóveis rurais certificados representam lotes com áreas variando entre 50 ha e
1.000 ha vendidos pela Canabrava Agropecuária Ltda á vários outros proprietários.

Figura 14. Áreas certificadas no interior da Fazenda Santa Maria.

Desta forma, em se tratando das fazendas supracitadas mesmo com suspeita


de suas respectivas áreas serem oriundas de grilagem as mesmas foram
certificadas pelo INCRA, não sendo possível, porém, determinar com exatidão a
situação jurídica de cada uma.
Posteriormente ao georreferenciamento e certificação dos imóveis rurais a Lei
10.261/2001 aponta ainda a necessidade da realização de averbação das
informações certificados (mapa e memorial) junto ao oficial do CRI em que a mesma
esteja circunscrita. Todavia, com relação à situação de registro e averbação
110

cartorária o sistema ainda não dispõe de informações claras e precisas a este


respeito uma vez que os cartórios da MOB ainda não estão realizando o repasse
das informações para alimentar o banco de dados do CNIR.
Mesmo as certificações advindas do SIGEF cujo este procedimento foi
simplificado e todo informatizado é pouco as áreas certificadas que possuem a
confirmação de registro concomitantemente no CRI e no banco de dados do INCRA.
Nesta situação foram identificados apenas 24 imóveis rurais (0,46%) cujo
registro no CRI foi informado ao INCRA, sendo que estes ocupam 10.454,5889 ha
(0,14%) e está localizado nos municípios Cotegipe, Formosa do Rio Preto, São
Desidério e Wanderley.
Os CRI da MOB também não dispõem de mecanismos que ofereçam a
possibilidade de se realizar consultas diretamente nos mesmos acarretando na
inviabilização de análises de natureza registral dos imóveis rurais certificados na
MOB no período analisado.
111

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo conjunto de características e finalidade do georreferenciamento e


certificação dos imóveis rurais, que visam ordenar em definitivo as questões de
obtenção de informações precisas e atualizadas da questão fundiária do país houve
uma melhora substancial acerca da obtenção e disponibilização de informações do
cenário agrário no país.
Apesar de não está totalmente implantado o CNIR apresentou bons
resultados obtidos no tocante as etapas de georreferenciamento e certificação de
imóveis rurais no Brasil como um todo. Todavia, seu cadastro ainda apresenta
alguns erros e inconsistência presentes em cadastros de terras anteriores, caso da
ocorrência de algumas sobreposições que acarreta em duplicidade de informações
além da sua proposta de integração com outros bancos de dados de informações do
meio rural ainda não ter sido completamente efetivada.
No caso da MOB, foi constatada uma expressiva quantidade de imóveis rurais
certificados em relação ao estado da Bahia e no contexto regional até na data limite
do presente estudo, pode-se atrelar esta realidade como reflexo do próprio modo de
ocupação dos Cerrados brasileiro e baiano, que corresponde à boa parte da MOB,
cuja dinâmica, em especial, a partir da década de 1970 contribuiu para o aumento e
a consolidação de grandes latifúndios na região e assim ocupando principalmente as
terras na área dos chapadões voltadas a partir de então para produção em grande
escala.
Todavia, houve a constatação que este processo aconteceu de forma
heterogênea na MOB fazendo com que alguns municípios, principalmente, os
localizados na porção Leste não tenha sido abarcada por tais processos na mesma
intensidade e que atualmente possibilita a existência de realidades distintas na
própria MOB, acarretando em desigualdades ainda presentes.
A situação ora mencionada trouxe reflexo direto no quantitativo, área ocupada
e espacialização das certificações ocorridas na MOB no período haja vista que as
áreas consideradas mais produtivas já foram quase que totalmente certificadas e se
considerado o tamanho médio das certificações até então realizadas pode-se inferir
que os imóveis rurais abaixo de 100 ha, os quais representam as pequenas
112

propriedades na MOB estão, sobretudo, localizados nas áreas de menor ou nenhum


interesse de implantação da agricultura nestes moldes.
As desigualdades estão nítidas quando constatada que há um grande déficit
de ações governamentais voltadas para os pequenos produtores ou ainda aqueles
que não possuem acesso a terra, no caso refletindo na quantidade de Projetos de
Assentamento e também quilombos que se mostraram de pequenas proporções se
levado em consideração o tamanho total da MOB em detrimento do total de área
ocupada e de famílias beneficiadas e ainda suas respectivas localizações que
também seguem o padrão de localização das propriedades abaixo de 100 ha.
Apesar de está ainda em curso alguns municípios, a exemplo de, Luís
Eduardo Magalhães, São Desidério e Formosa do Rio Preto, Jaborandi e Correntina
por apresentarem índices de ocupação acima dos 75% evidencia a existência de
concentração de terras em torno de grandes propriedades.
113

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