Orientação de Pais Seminario

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O desenvolvimento humano implica num caminho que vai da dependência do meio e da


família, em direção a uma maior independência. Assim, estas, questões emocionais
apresentadas pelas crianças podem ter estreita relação com a dinâmica familiar.
importância do meio, caracterizado inicialmente pela família, para o desenvolvimento
emocional. As estratégias de intervenção podem variar desde consultas terapêuticas pontuais
com a criança e familiares, até casos em que se observa a necessidade de uma psicoterapia
mais demorada ou intensa.

Intervenções no âmbito da criança: a psicoterapia infantil e a orientação de pais


Nota-se a valorização do papel da família como promotora de saúde entre seus membros ou
também de perturbações, com autores que argumentam que disfunções na família podem
ocasionar sintomas nos seus integrantes (DOLTO, 1980; MANNONI, 1980; WINNICOTT, 1971;
ARZENO, 1995; GOMES, 1998; ZORNIG, 2001).
Há situações em que a linguagem verbal torna-se insuficiente para comunicar algo e os
comportamentos assumem esta função de comunicação. Apesar de não culpabilizar os pais,
Dolto (1980, p. 24) considera que “os pais e filhos de tenra idade são dinamicamente
participantes, indissociados pelas suas ressonâncias libidinais inconscientes”.
Arzeno (1995) propõe a inclusão da entrevista familiar diagnóstica no psicodiagnóstico infantil
ao compreender que “o sintoma da criança é o emergente de um sistema intra-psíquico que
está, por sua vez, inserido no esquema familiar também doente” (Arzeno, 1995, p. 167). Este
procedimento oferece elementos para contra-indicar o tratamento individual, quando: não há
condições de mudança da patologia familiar e a criança seria considerada como a única
culpada pela disfunção; a melhora pode ocasionar descompensação de outro membro da
família; os pais reforçam, de forma inconsciente, a sintomatologia do filho (Arzeno, 1995).
Nos casos em que a “doença” da família emerge via sintoma da criança, defende-se a inclusão
de outro terapeuta que se encarrega dos pais (Ferro, 1995) e para Zornig (2001), não é possível
excluir os pais da análise de seus filhos, já que “o sintoma da criança desenrola-se nos
interstícios do discurso parental”.
Ao se buscar atendimento para o filho, os pais podem esperar críticas e acusações, devido ao
alto valor dado pela sociedade ao atendimento infantil e aos cuidados parentais adequados,
“culpados em relação a um dano real ou imaginário causado à criança, mas também com um
sentimento de vergonha em relação ao que expor” (Halton e Magagna, 1994, p. 117). Percebe-
se, então, a importância dos pais continuarem a explorar as dificuldades em relação à criança
após a indicação da terapia individual desta.
De acordo com Motta (2008), nas propostas de intervenções com os pais de crianças em
psicoterapia, o psicólogo, ao desenvolver o trabalho de orientação de pais, exerce a função de
conter angústias, tanto as da criança quanto a dos pais. Ao terem suas angústias contidas pelo
terapeuta, isto é, ao terem suas angústias ameaçadoras ou turbulentas transformadas em
apaziguamento e compreensão (insight), os pais podem, por identificação com o terapeuta,
desempenhá-la junto ao filho. (MOTTA, p. 122)

Isto é, por meio da intervenção com os pais, estes podem desenvolver a função de conter as
angústias dos filhos, inicialmente desempenhada pelo terapeuta. Entretanto, para que isto
ocorra, os pais já devem ter constituído uma condição mental que possibilite tal processo e,
em caso negativo, a psicoterapia para estes pode colaborar para o desenvolvimento da
capacidade de contenção e compreensão. Há situações em que a orientação de pais mostra-se
suficiente para um bom caminhar da psicoterapia da criança. Todavia, dadas suas naturais
limitações, há situações em que outras estratégias devem ser indicadas. O profissional
responsável pelo atendimento da criança deve ser capaz de perceber estas demandas e
realizar os encaminhamentos necessários.

CASO CLINICO
caso clínico em que filha e mãe eram atendidas, respectivamente, em psicoterapia infantil e
orientação de pais no ambulatório de psicoterapia de crianças de um hospital
universitário. Por meio do atendimento da filha, ficou clara a relação entre os sintomas dela e
a dinâmica familiar, com posterior encaminhamento da mãe, para a orientação de pais. Os
conteúdos apresentados pela mãe referiam-se as suas questões individuais, próprias da
psicoterapia individual.
Trata-se de recortes do atendimento de Renata, uma menina de 8 anos de idade, a segunda
filha de Cristina e Mauro. Marina, a irmã mais velha, tem 15 anos e Felipe, o caçula, 10 meses.

Quando começou, nesse ambulatório, a psicoterapia atual, Renata tinha 7 anos, com Cristina
grávida de Felipe. Antes efetuara, no mesmo serviço, outras duas psicoterapias, cada uma com
a duração de dois anos. Cristina havia feito psicoterapia no ambulatório de adultos,
interrompida em função das regras deste último serviço. Marina também fora atendida em
psicoterapia de adolescentes, mas desistiu. Percebe-se que, por iniciativa materna, quase toda
família nuclear inseria-se nos diversos atendimentos disponibilizados pela instituição.

A queixa atual de Renata era de ser uma criança “terrível”. A mãe atribuía essa “rebeldia” ao
problema de absorção de frutose que a filha possuía. Renata sempre foi “boa de boca” e
gulosa; comia escondido até o que não podia e passava mal (sic), questão presente no início da
psicoterapia.

Na hora de jogo, Renata brincou de “casinha” e de fazer “comidinhas”. O tema central


relacionava-se com a dinâmica mãe-filha, com inversão de papéis, isto é, a criança dava muitas
ordens para a terapeuta, que precisava arrumar a casa, limpar e varrer as sujeiras. Envolvia-se
rapidamente em um mundo de fantasias e faz-de-conta, demonstrando bom vínculo com a
terapeuta. Hipotetizava-se que Renata não tinha espaço para brincar em sua casa.

Em uma sessão, pediu para desenhar uma casa e, apesar do uso da régua, argumentou que
estava feia e torta, que não desenhava direito. Pediu ajuda para a terapeuta e desenharam,
juntas, uma casa, enfeitava com árvore e flores e com um prédio vizinho. Renata pediu que a
terapeuta desenhasse um castelo e encantou-se com o desenho, colorindo-o para ressaltar o
lugar onde podia fantasiar e elaborar angústias.

Nas entrevistas iniciais com a mãe, destacou-se a necessidade de encaminhá-la para


orientação de pais, dada sua relação simbiótica e de dependência com Renata. A mãe afirmava
que a filha era muito pegajosa e grudada nela e que a psicoterapia era muito importante para
Renata, pois ela, como mãe, não conseguia lidar sozinha com a filha, percebida doente e fraca,
que precisava de ajuda.

Mauro era, segundo a mãe, um pai ausente. Era pedreiro e, no começo da psicoterapia, viajava
muito. Cristina relatou brigas com o marido e, muitas vezes, os filhos presenciavam estas
discussões. Renata dormia na cama da mãe, quando o pai viajava. Faltavam regras e limites
tanto para Renata, como para a família. Ao longo do atendimento, descobriu-se que não
existiam portas na casa dessa família, que denota uma confusão, que se apresenta no plano
concreto da casa, de limites, entre interno e externo, público e privado.
No decorrer do atendimento, Renata demonstrou curiosidade com relação à família da
terapeuta. Queria saber onde morava, quantos anos ela tinha, se possuía irmão, filhos e
namorado e no desenho da família ideal, desenhou a terapeuta, o namorado desta e ela
própria.
Brincava constantemente de escolinha” e, geralmente a terapeuta era a professora, que tinha
que passar lições difíceis” para a criança. Renata repetia e escrevia muitas vezes o alfabeto e
os numerais. Percebeu-se que Renata sabia identificar as letras, mas não conseguia juntá-las
para formar sílabas e palavras. Ficava bastante angustiada e desistia de tentar ler as palavras
das lições”. Parecia que seu mundo interno estava desintegrado.

Posteriormente, a terapeuta decidiu desenhar o nome de Renata com letras com carinhas”,
mãozinhas” e perninhas”, brincando com seu nome. Após observar por alguns instantes,
Renata disse: “É meu nome! Ficou lindo!” e agradeceu-a. Parecia que, dessa forma, a
terapeuta conseguiu ajudá-la a juntar partes suas que estavam separadas, atribuindo-lhe
sentidos. Nas brincadeiras de matemática, demonstrava muita dificuldade em somar os
números, tentava resolver as continhas” e desistia.

Quanto ao atendimento de Cristina, observou-se grande dificuldade em centrar-se em


questões relativas à Renata. Trazia questões relacionadas à outra filha, à sua história de vida e
relacionamento conjugal. O atendimento foi marcado por faltas, quase no mesmo número que
as sessões efetivamente realizadas. Teve o bebê e, após pouco mais de um mês, ingressou em
um trabalho no período noturno, visto que o marido não estava colaborando financeiramente
com a manutenção da casa. Imaginava que teria a colaboração dele com as crianças, mas sem
esta, ficava sobrecarregada.

Às vezes, Cristina trazia o bebê na consulta e relatava cansaço e esgotamento e questionava se


poderia já inserir Felipe em algum atendimento. Relatava de forma dissociada situações de
grande sofrimento, sem transparecer a emoção que naturalmente permearia a vivência
descrita. Parecia dedicar-se à família, buscar saídas para as situações enfrentadas, sem,
contudo, conseguir escolher os melhores caminhos.

Relatou situações de intensa violência conjugal, com troca de agressões físicas entre o casal,
presenciadas pelos filhos, que tentavam separá-los. Após o episódio em que o marido, pela
primeira vez, iniciou a troca de agressões físicas, Cristina decidiu se separar.
Por meio do atendimento de mãe e filha, no mesmo serviço, com eventuais discussões em
conjunto, pode-se constatar a importância de um olhar para a família como um todo. A
orientação de pais, focada apenas na criança, mostrava-se insuficiente para esta mãe, que
trazia suas questões pessoais para o setting, nem sempre pertinentes à relação mãe e filha.
Acreditava-se, contudo, na necessidade de acolhimento destes conteúdos e caminhava-se no
limiar entre orientação de pais e psicoterapia da mãe.

Tal como apontado por Motta (2008), para que os pais possam beneficiar-se da orientação de
pais, devem ter alcançado um determinado grau de desenvolvimento emocional e ter uma
capacidade de continência das angústias da criança, pouco observado em Cristina. Com isso o
atendimento buscava fornecer-lhe espaço para seus pensamentos e angústias, para, então,
habilitá-la a aproveitar mais profundamente da orientação, focada na filha.

Ressalta-se que o simples encaminhamento da mãe para a psicoterapia de adultos, em outro


serviço, não seria suficiente para abarcar as questões apresentadas por ela, que exigiam um
olhar mais amplo para a família, aspecto que contribuía para a psicoterapia de Renata. A
instituição, por meio de seus diferentes serviços, configurou-se como uma acolhida para esta
mãe, que sozinha se sentia desamparada e fraca, precisando de ajuda e, assim, o contato entre
as psicoterapeutas de mãe e filha, com discussões em conjunto, colaborou para ampliação da
compreensão da dinâmica familiar e do alcance do trabalho realizado.

Reflexões sobre a orientação de pais: objetivos e limites (com um olhar psicanalítico)


A família é responsável pelo acolhimento e sustentação do desenvolvimento, sem os quais,
sintomas e desajustes podem surgir na criança. Estes motivam encaminhamentos para
intervenções para trabalho das questões emocionais. Podem-se citar algumas modalidades de
encaminhamento como a psicoterapia infantil, a orientação de pais, a psicoterapia do casal ou
da família como um todo, com as últimas propostas já que, por vezes, somente a psicoterapia
da criança é insuficiente para melhora do quadro.

Quanto à orientação de pais, a partir de uma vertente pautada na psicanálise e no


desenvolvimento emocional, considera-se que esta tem a função de acolher os pais em suas
angústias, propiciar maior compreensão acerca da criança, do seu funcionamento mental, da
relação pai-mãe-filho, das suas queixas, da evolução e do tratamento lúdico.

Não tem, contudo, por objetivo “dar conselhos”, estabelecer padrões de comportamento ou
um “guia de normalidade”. Busca utilizar “o conhecimento psicanalítico sobre as bases
essenciais de estruturação e constituição do psiquismo, assim como do desenvolvimento
psíquico saudável e suas características a favor do desenvolvimento infantil” (MOTTA, 2008, p.
122).

Contudo, nem todos os pais podem acolher suficientemente os filhos. Por não terem
desenvolvido uma condição mental que permita o uso benéfico do processo de orientação,
alguns pais necessitam de um espaço psicoterapêutico próprio para lidarem com questões
individuais.

A partir de um estudo teórico-clínico, pautado nos pressupostos de Eizirik (2003) e Turato


(2003) para a pesquisa qualitativa em Saúde e Ciências Humanas, procura-se refletir sobre as
relações entre os sintomas da criança, a dinâmica familiar e limites e alcances da orientação de
pais na psicoterapia psicodinâmica infantil. Para tanto, fez-se a revisão teórica acima descrita,
optando-se por apresentar um caso clínico de filha e mãe atendidas, respectivamente, em
psicoterapia infantil e orientação de pais no ambulatório de psicoterapia de crianças de um
hospital universitário.

Considerações Finais

A família é o espaço de acolhimento e saúde, conforme defende Winnicott (1971), mas nem
sempre as famílias apresentam as condições para um bom desenvolvimento de seus
integrantes, como observado no caso de Renata (filha) e Cristina (mãe). Os sintomas trazidos
por Renata refletiam aspectos da dinâmica familiar, havendo inclusive uma ligação inadequada
da mãe para com uma criança da idade dela. Além disto, os sintomas que Renata apresentava
no contexto escolar eram reproduzidos nas sessões. Compreendeu-se que a psicoterapia da
criança deveria ser aliada, conforme o proposto por autores como Halton e Magagna (1994),
Zornig (2001) e Motta (2008), à orientação de pais.

Para que esta orientação pudesse ajudar no processo lúdico da criança, é importante que os
pais possam se desenvolver emocionalmente, trabalhando com questões da dinâmica mãe-
pai-filho. Quando isto não foi feito, compreende-se que o foco no próprio adulto e nas suas
vivências pessoais é necessário.

Ao se iniciar a orientação de Cristina, percebeu-se que suas angústias iam além da


preocupação com a filha em psicoterapia e remetiam à sua vida pessoal, à relação com o
companheiro. Assim, houve a necessidade de também se estender o olhar para estas questões
pessoais da mãe, apesar de o espaço inicialmente ofertado não estar dirigido para a
contemplação destas dificuldades.

Pôde-se perceber que algumas dificuldades de ordem emocional na criança estavam


relacionadas com uma dinâmica familiar inadequada para um desenvolvimento emocional
saudável. Nestes casos, além da psicoterapia da criança é necessário o encaminhamento da
família para outras formas de atendimento e, no caso estudado, apenas foi possível o
encaminhamento inicial da mãe para orientação de pais. Na orientação, ora a mãe expressava
conteúdos relativos à filha e à dinâmica mãe-filha, ora trazia conteúdos individuais dela
própria, apesar de, em tese, a orientação de pais não se propor a ser um espaço para a
apresentação e para a elaboração de questões individuais próprias da psicoterapia individual.
Acredita-se, entretanto, que o acolhimento destas questões era a escolha pertinente para
promoção do desenvolvimento emocional tanto da mãe, como da filha.

Ao se refletir sobre a ilustração clínica trazida neste artigo, reafirma-se a ligação entre os
sintomas da criança e a dinâmica familiar. Com isso pode haver um aprofundamento do
conhecimento, por parte dos psicoterapeutas infantis, não só do psiquismo da criança, mas
também da família e da sua dinâmica. Entende-se que, no caso apresentado, houve uma
integração entre o trabalho desenvolvido pela psicoterapeuta da criança e o trabalho da
psicoterapeuta responsável pela orientação de pais, com um olhar cuidadoso para o
funcionamento familiar, que colaborou para a compreensão dos psicodinamismos da criança e
para melhores resultados no processo psicoterapêutico.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-34822012000200003

Grupos de orientação de pais: estratégias para intervenção

Esse trabalho relaciona-se à prevenção de problemas de desenvolvimento, pois se dirige a pais de


crianças que apresentam queixas escolares ou de comportamento inscritas para tratamento
psicoterapêutico no Serviço de Psicologia Aplicada vinculado à Universidade Federal de Sergipe. Neste
artigo é apresentado um levantamento de queixas referidas por mães que frequentaram um grupo de
orientação, cuja finalidade foi atender a essa população, analisando-a segundo a teoria bioecológica de
Bronfrenbrenner. Seis mães participaram de oito encontros nos quais foram discutidos temas
relacionados às queixas e a aspectos do desenvolvimento infantil, além de sessões lúdicas com seus
filhos. Os resultados obtidos das entrevistas iniciais e finais e dos registros das sessões revelaram que as
mães identificaram melhora nas queixas apresentadas, relacionando-a a alterações em seus próprios
comportamentos face às temáticas trabalhadas no grupo de orientação.

http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/5093

Análise dos efeitos de um treino parental sobre comportamentos de crianças com


TDAH: comparação entre setting terapêutico e ambiente domiciliar

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