Sexualidade e Trabalho
Sexualidade e Trabalho
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sought from the labor law, as one of the ways of effecting recogni-
tion and dignity.
1 Introdução
Embora seres humanos não sejam iguais, pertencemos a uma
comunidade que deve nos assegurar uma gama igual de direitos.
Esta igualdade é assegurada por lei. As instituições devem igualar
eventuais diferenças, e o Estado deve ser o garantidor da igualdade
e isonomia de tratamento (Arendt, 2011).
Entretanto, na nossa sociedade, mesmo que muitos avan-
ços sejam verificados, observamos que qualquer comportamento
sexual que fuja da heteronormatividade ainda é discriminado. No
ambiente de trabalho, local no qual buscamos nosso sustento e pas-
samos um terço de nosso dia, essa discriminação é ainda mais per-
versa, pois muitas vezes não há opção para saída. Por isso, a impor-
tância de que o estudo e a defesa do direito à autodeterminação
sexual sejam também objeto do direito do trabalho.
Após discorrer brevemente sobre o direito à autodetermina-
ção sexual, falaremos sobre conceitos necessários ao entendimento
da questão, a partir do “genderbread person”, imagem frequen-
temente utilizada para explicar as diferenças entre identidade de
gênero, expressão de gênero, sexo biológico e orientação sexual.
Após, utilizando conceitos de Axel Honneth e sua teoria do
reconhecimento, trataremos especificamente da importância deste
reconhecimento no ambiente do trabalho para a formação da iden-
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tidade e dignidade do sujeito. Assim, trabalharemos como a inclu-
são social pode e deve se dar também a partir da ótica do direito do
trabalho, sendo uma importante forma de efetivação de reconhe-
cimento e dignidade.
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sufixo -ismo para indicar doença e, portanto, tratamento. Em 1993,
a Classificação Internacional de Doenças (CID) não considera mais
a homossexualidade como doença, deixando de considerá-la como
algo que deve ser tratado e pode ser curado.
Portanto, o uso sufixo -dade substituiu o sufixo -ismo, reconhe-
cendo que se trata de uma característica da sexualidade e nada tem
a ver com doença, crime ou pecado. Devemos falar de homossexu-
alidade, bissexualidade e não de homossexualismo e bissexualismo.
Quando tratamos da sexualidade humana, conforme falaremos
abaixo, diversas combinações de características são possíveis, e muitas
vezes não são excludentes. Por isso criou-se a figura do “gender-
bread” ou “biscoito sexual”, em português, uma espécie divertida
de gráfico para mais fácil entendimento. Aproveitou-se a semelhança
fonética entre as palavras inglesas “ginger” (gengibre) e “gender”
(gênero) e criou-se a imagem de “genderbread person”. Esta imagem
tem sido utilizada para explicar as diferenças entre identidade de
gênero, expressão de gênero, sexo biológico e orientação sexual.
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2.1 Sexo biológico
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sua orientação é heterossexual ou heteroafetiva. As pessoas que se
atraem por ambos os sexos são chamadas bissexuais ou biafetivos.
Alguns consideram, ainda, os assexuais, que seriam aqueles
indivíduos que não sentem atração sexual, e os pansexuais – pessoas
cuja identificação com o outro independe de seu gênero, orienta-
ção, papel e identidade sexual.
O termo “orientação sexual” tem sido preferencialmente uti-
lizado nos últimos anos, e não mais “opção sexual”, pois “opção”
dá a ideia de que o(a) homossexual escolheu sentir o desejo que
sente e, portanto, poderia ter optado por ser heterossexual. Se fosse
uma questão de opção, heterossexuais também poderiam escolher
sentir desejo por pessoas do mesmo sexo, o que pode ou não acon-
tecer. Por isso, o correto é dizer e utilizar “orientação sexual”.
Não nascemos com uma orientação sexual já definida, ao
longo da vida nos identificamos com diferentes formas de vivenciar
nossos desejos de uma forma mais fixa ou mais flexível, conforme
as experiências vividas por cada um(a).
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ou feminino segundo ditames convencionais que determinavam o
agir de homens e mulheres ou a partir da “oposição” entre eles.
Quando a identidade sexual é diferente do sexo biológico com
o qual a pessoa nasceu, diz-se que a pessoa é transexual, indepen-
dentemente de sua orientação sexual2.
As orientações sexuais também expressam o desejo e o prazer
e podem aparecer na vida de um indivíduo de muitas maneiras,
não precisam ser fixas e inevitáveis. O padrão cultural demanda
uma conexão entre o sexo do corpo (homens e mulheres), a
identidade e a orientação do desejo para o sexo oposto, ou seja,
homens devem desejar mulheres e vice-versa (Sousa Filho, 2009,
p. 59-77). Entretanto, “comportamento e identidade são compo-
nentes da orientação sexual que não caminham necessariamente
na mesma direção” (Simões; Facchini, 2009, p. 31). O desejo, a
afeição, o comportamento e o modo como as pessoas se percebem
também são em certo nível fruto das convenções, contingências e
constrangimentos sociais.
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convencionalmente estabelecidos para os homens e para as mulhe-
res ou a partir da “oposição” entre os gêneros.
Gênero é uma categoria de análise social e, assim como a sexu-
alidade, é concebido como uma produção da cultura. Essa constru-
ção, baseada na desigualdade entre o masculino e feminino e na
visão da heterossexualidade como “natural” ou “normal”, perma-
nece sendo a linha mestra do modo como as pessoas devem viver
suas experiências. Utiliza-se o gênero e sexualidade dos indivíduos
para hierarquizá-los.
Criam-se modelos “ideais” (atualmente o modelo ideal de
sexualidade considerada saudável é entre adultos, dotados de iden-
tidade de gênero conforme o sexo biológico, monogâmico. Cria-se
ainda uma expectativa social sobre o comportamento das pessoas
que associa o masculino à atividade sexual e o feminino à passi-
vidade sexual). Tais modelos operam de forma a estigmatizar os
outros modelos de sexualidade que diferem deles.
Assim, dizemos que a sexualidade é também uma construção
social, mas defendemos que o sujeito, no exercício da sua sexualidade,
deve poder exercer suas escolhas ao longo de sua trajetória sexual, não
como alguém que está sob o comando irracional de instintos, impul-
sos, e nem como alguém que simplesmente se sujeita aos discursos
sobre sexualidade. No exercício da sexualidade a pessoa, como sujeito
sexual, está permanentemente interpelada por diferentes discursos e
distintos contextos intersubjetivos, devendo ser um agente autônomo
inclusive para lidar com os muitos discursos sobre o sexo, que, por
vezes, são até contraditórios (Paiva, 2008, p. 65).
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égide da homogeneidade social, são postos à margem dos direitos.
Nos fala ainda que um Estado democrático deve objetivar a busca
da igualdade entre seus cidadãos. A força da maioria, em sentido
contrário, impõe seus pensamentos e não aceita oposição. Assim, o
império da maioria fragiliza o ideal de igualdade, fundamental aos
governos democráticos, pois, ao mesmo tempo em que aumenta a
força dos poderes que eram naturalmente fortes, debilita os fracos,
não podendo haver igualdade em um Estado que privilegie a maio-
ria e no qual o governo se exerça para e pelos mais fortes, deixando
alguns à margem (a minoria fragilizada) (Martins Filho, 2013).
Humberto Ávila conceitua igualdade como a relação entre
dois ou mais indivíduos a partir de um critério que serve a uma
finalidade, usualmente comparativa. Para tanto, deve-se definir
uma medida baseada em critérios objetivos, caso contrário se tra-
taria de uma “correlação espúria”. Tal comparação, contudo, não
pode ser aleatória. Há de se relacionar diretamente com a finali-
dade que a justifique. Assim, se a comparação deve ser motivada, a
diferenciação também precisa ser embasada (critério e finalidade),
sob pena de ser considerada inconstitucional justamente por ferir o
princípio da igualdade (Ávila, 2008, p. 63-65).
No nosso sistema jurídico igualdade não é somente tratar todos
igualmente. No Brasil, segue-se a igualdade aristotélica, na qual se
deve tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na
medida de suas desigualdades, conforme o filósofo Aristóteles. Sem
tratarmos os desiguais consoante sua desigualdade, não poderemos
garantir a igualdade de oportunidades, e negaremos os direitos a
quem fugir do estereótipo do que for considerado normal.
Para Konrad Hesse (1998, p. 332-333), o conceito de igual-
dade jurídica material fundamenta-se em vários fatos jurídicos e,
com isso, surge a obrigatoriedade do tratamento igual, sem levar
em conta as características pessoais, como cultura, religião etc.
Contudo, a igualdade formal não revela garantia ao tratamento
justo, motivo pelo qual buscamos, também, a formatação de um
conceito de igualdade material. É arbitrário e inconstitucional
qualquer tipo de diferenciação que tome por base uma caracte-
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rística não essencial, ou seja, não prevista como essencial para o
exercício de um determinado direito.
A não discriminação é um desdobramento do princípio de
igualdade, que proíbe a discriminação negativa entre as pessoas. O
princípio da igualdade verifica-se perante a verificação ou não da
discriminação (Rios, 2008, p. 24). A não discriminação é a igual-
dade de tratamento.
Nas palavras de Otávio Brito Lopes, “a discriminação é a antí-
tese da igualdade. Em outras palavras, a negação do princípio de
que todos são iguais perante a lei”. Afirma ainda que o princípio
da igualdade é primordial para um Estado de Direito democrático
e justo. A discriminação é a aplicação de regras diferentes a situ-
ações semelhantes, ou quando se aplicam as mesmas regras a duas
situações distintas3.
Existem tentativas de formalização do conceito, como o
artigo 1º da Convenção n. 111 da OIT, promulgada no Brasil pelo
Decreto n. 62.150, de 19 de janeiro de 1968, que traz o seguinte
conceito de discriminação:
a) toda distinção, exclusão ou preferência, com base em raça, cor,
sexo, religião, opinião política, nacionalidade ou origem social, que
tenha por efeito anular ou reduzir a igualdade de oportunidade ou
de tratamento no emprego ou profissão;
b) qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha por
efeito anular ou reduzir a igualdade de oportunidade ou tratamento
no emprego ou profissão, conforme pode ser determinado pelo
País-membro concernente, após consultar organizações represen-
tativas de empregadores e de trabalhadores, se as houver, e outros
organismos adequados.
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mento jurídico do princípio fundamental da dignidade da pessoa
humana. No 2º artigo, afirma que as pessoas devem exercer seus
direitos sem sofrer nenhuma distinção4.
A Constituição brasileira de 1988, no mesmo diapasão, elencou
princípio de não discriminação entre os fundamentais para a confor-
mação do Estado Democrático de Direito a ser moldado no Brasil.
Em seu art. 1º, entre os fundamentos da República Federativa do
Brasil, consagra: “III – a dignidade da pessoa humana; IV – o valor
social do trabalho”. Elenca, ainda, entre os objetivos fundamentais
da República (art. 3º, incisos I, III e IV), “a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, a redução das desigualdades sociais
e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” [grifo nosso].
O caput do art. 5º da Lei Maior, por sua vez, determina que
todos devem ser iguais perante a lei, “sem distinção de qualquer
natureza”, e aponta como garantia fundamental o princípio da
igualdade. E, em seu inciso XLI, prevê que a “lei punirá qualquer
discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais”.
Adiante no art. 7º, incisos XXX, XXXI e XXXII, proíbe-
-se diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; discrimi-
nação no tocante a salários e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência; e distinção entre trabalho manual, técnico
ou intelectual ou entre os profissionais respectivos.
A legislação infraconstitucional também garante ao trabalha-
dor que não haja restrições para o seu acesso ao trabalho, a menos
que estas sejam apenas de requerimentos específicos para o desen-
volvimento da função. Na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), o art. 373-A (inserido na CLT pela Lei n. 9.799, de 26 de
maio de 1999) trata da proibição à publicação de anúncios dis-
criminatórios para emprego; à motivação discriminatória para a
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recusa de emprego, promoção ou dispensa; e à utilização de variá-
vel discriminatória para fins de remuneração, formação e ascensão
profissional. Se não observado o dispositivo, haverá aplicação de
multa administrativa (Lima, 2009).
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Em relação ao reconhecimento do direito e o desenvolvimento
da autoconsciência da pessoa enquanto sujeito de direito, a segunda
forma de reconhecimento, Honneth afirma que no surgimento do
direito moderno há uma nova forma de reconhecimento, e o sis-
tema jurídico deve combater privilégios e considerar os interesses
de todos os participantes da comunidade. Os sujeitos de direito
precisam estar em condições de desenvolver sua autonomia, com o
fito de decidir racionalmente sobre questões morais (direitos fun-
damentais). Destarte, a luta por reconhecimento deveria então ser
vista como uma pressão, sob a qual o sujeito só se perceberia como
pessoa de direito quando emerge uma forma de proteção jurídica
contra a invasão da sua esfera da liberdade. Ao se reconhecer como
pessoa portadora de direitos, adquire moral e uma existência digna.
O reconhecimento jurídico (a segunda esfera do reconhecimento)
cria as condições que permitem ao sujeito desenvolver autorres-
peito (Saavedra; Sobottka, 2008).
No direito há o respeito, a autonomia, apenas quando se reco-
nhece o outro. O respeito demonstra que o indivíduo está inse-
rido na comunidade, e é visto como sujeito de direito, autônoma e
moralmente imputável ao desenvolver o autorrespeito (Salvador;
Honneth, 2011, p. 191).
O terceiro modo de reconhecimento é um meio social no qual
o ser humano se individualiza, se diferencia dos demais (Saavedra;
Sobottka, 2008).
A avaliação social seria determinada pelo sistema moral dado
por esta autocompreensão social. Esta esfera de reconhecimento
está ligada à vida em comunidade de um modo tão veemente
que a capacidade e o desempenho dos integrantes da comunidade
somente poderiam ser avaliadas intersubjetivamente em relação ao
outro (Saavedra; Sobottka, 2008).
Para Honneth, uma pessoa sente-se valorizada ao perceber
que suas capacidades individuais não são mais avaliadas de forma
coletivista. Entretanto, existe um processo de luta constante,
porque nesta nova forma de organização social há, além da busca
individual por autorrealização, a busca de um sistema de avaliação
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social. É uma luta por reconhecimento. Grupos sociais precisam
desenvolver a capacidade de influenciar a vida pública para que sua
própria concepção de vida boa encontre reconhecimento social e
assim sirva também com referência moral para autocompreensão
cultural e moral da comunidade (Saavedra; Sobottka, 2008).
Em artigo que relaciona trabalho ao reconhecimento, Honneth
afirma que após séculos de precarização do trabalho, e a realidade
do expressivo número de trabalhadores que apenas trabalha com
o intuito de subsistir, além de outra parcela que labora em condi-
ções extremamente insalubres, e ainda a crescente terceirização,
fica difícil falar sobre conceito emancipatório de trabalho, de tra-
balho humano. Informa ainda que a Teoria Crítica, desiludida ao
longo dos anos, se antes colocava sua esperança na humanização e
emancipação do trabalho, a este voltou as costas, dedicando-se à
integração política e aos direitos de cidadania (Honneth, 2008).
Afirma também que a despeito do segundo lugar que a Teoria
Crítica dá atualmente ao trabalho, para a sociedade ainda a identi-
dade da pessoa passa pelo trabalho. Existe, por outro lado, o estigma
negativo para aqueles que não têm emprego. O trabalho possui um
sentido normativo, um dever ser. Assim, não pode ser apenas um
local onde se garanta a subsistência mas também um lugar onde o
indivíduo se satisfaça individualmente (Honneth, 2008).
Logo, o trabalho precisa estar organizado e dotado de sentido
para que gere o reconhecimento social. O autor critica Hegel por
ver o trabalho apenas como dotado de normas estritamente for-
muladas em relação ao conflito capital X trabalho, e não dotado de
sentido moral. Nos estudos do jovem Hegel, Honneth encontrou
um conceito de reconhecimento, além de observar que Hegel prevê
que ocorreriam conflitos no mercado capitalista, quando ocorresse
acúmulo de capital em poucas mãos. Para solucionar tal dilema,
deveria haver uma estrutura que previsse a remuneração do tra-
balho do indivíduo não apenas financeiramente. Surge daí a ideia
do reconhecimento. O trabalho deve possuir um salário mínimo,
mas o desempenho das atividades deve gerar o reconhecimento da
contribuição para o bem geral (Honneth, 2008).
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Mas é em Durkheim que Honneth encontra uma visão do tra-
balho dotado de sentido. Embora, como em Hegel, Durkheim estude
as estruturas da organização capitalista do trabalho, ele observa que
o trabalho organizado gera a solidariedade, um sentimento de per-
tencimento social. Só a compensação financeira não é o suficiente. O
trabalho gera no indivíduo um sentimento de pertinência social.
Embora não utilize o conceito de reconhecimento, em
Durkheim, da divisão do trabalho surgem relações nas quais os
atores sociais desenvolvem uma solidariedade (denominada por ele
de orgânica) nas quais os indivíduos reciprocamente se reconhecem
e se sabem interdependentes. Para que as relações de trabalho gerem
formas orgânicas de solidariedade, os trabalhadores partem de um
esforço comum e cooperativo para o bem de todos. Para o seu tra-
balho fazer sentido, ele deve ser executado com qualidade, para que
o homem sinta que é útil para a sociedade (Honneth, 2008).
Na sociedade moderna, a solidariedade está vinculada à con-
dição de relações sociais simétricas de estima entre indivíduos
autônomos e à possibilidade de os indivíduos desenvolverem a sua
autorrealização. Para que os atores sociais possam desenvolver um
autorrelacionamento positivo e saudável, eles precisam ter a chance de
desenvolver a sua concepção de vida boa sem sofrerem desrespeito
(Saavedra; Sobottka, 2008).
Conflitos surgem do desrespeito a qualquer uma das formas de
reconhecimento. Uma mobilização política somente se dá quando o
desrespeito expressa a visão de uma sociedade. Então a lógica é essa:
desrespeito, luta por reconhecimento e mudança social. A eticidade,
conjunto de práticas e valores que formam uma estrutura intersub-
jetiva de reconhecimento recíproco, gera identidades. A identidade
dos indivíduos é formada pela socialização, pela eticidade inserida
em valores e obrigações (Salvador; Honneth, 2011, p. 192).
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trabalhador, bem como pelos seus direitos de personalidade. A vio-
lação destes implica violação de direito e obrigação trabalhista e do
contrato de trabalho, autoriza a rescisão contratual pelo empregado
e pelo empregador e a postulação da indenização patrimonial e
moral consequente. Logo, a proteção à dignidade moral do empre-
gado, aos seus direitos de personalidade, estão presentes no conte-
údo do contrato de trabalho (Castelo, 1999, p. 215-216).
O trabalho é um dos maiores valores para o ser humano, não
só porque permite sua subsistência mas porque o insere na socie-
dade. Todo homem tem o direito de exercer uma atividade útil,
a si, à sua família, e à sociedade como um todo, mediante justa
remuneração (Moraes Filho, 1975, p. 35-39).
O nosso ordenamento prestigia o valor do trabalho em vários
dispositivos. O valor social do trabalho está explícito já no primeiro
artigo da Carta Magna, no inciso IV. Enquanto direito social, está
regrado no art. 6º da CR/1988 que o trabalho deverá ser prote-
gido e resguardado pelo Estado. O art. 170 da Constituição ainda
estabelece que a ordem econômica se fundará na valorização do
trabalho humano, com o fito de assegurar ao cidadão existência
digna, conforme os ditames da justiça social. Ressaltando ainda a
importância do trabalho está o art. 193 da nossa Constituição, que
dispõe que a ordem social está baseada no primado do trabalho, e
tem como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Tais dispositivos
demonstram a importância que o trabalho tem na Constituição
Federal (Hainzenreder Júnior, 2009, p. 38).
Indispensável para o ser humano, porque, além de assegurar
uma existência justa, é por intermédio do trabalho que recebemos
o reconhecimento de nossa existência (Vogt, 2004, p. 51). Sua
importância ultrapassa a esfera patrimonial. O trabalho apresenta
uma importante função como alicerce da constituição do sujeito e
sua rede de significados. Apresenta um sentido simbólico, relacio-
nando-se com a subjetividade e identidade do trabalhador (Eberle;
Soboll; Cremasco, 2009, p. 128).
O sujeito só consegue se realizar no campo social por intermé-
dio do trabalho. De maneira que o trabalho e sublimação encontram
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no trabalho operador fundamental para a saúde mental e na constru-
ção da identidade. É nele que as competências se afirmam e se reali-
zam os projetos de vida (Eberle; Soboll; Cremasco, 2009, p. 129).
Para Márcia Guedes o desempenho de uma atividade pro-
fissional contribui para a construção da identidade do indivíduo.
Quando uma pessoa não vê seu esforço reconhecido, ou, pior, é
impedida de desenvolver seu profissionalismo, gera-se uma crise de
identidade (Guedes, 2010, p. 172).
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de desenvolver uma estima positiva de si mesmo (Saavedra;
Sobottka, 2008).
O desrespeito atua como um freio social que pode levar à
paralisia do indivíduo ou de um grupo social. Mostra o quanto o
ator social é dependente do reconhecimento social. O ser humano
está vinculado em uma complexa rede de relações e é dependente
estruturalmente do reconhecimento dos outros indivíduos. A
experiência do desrespeito é a base motivacional da luta por reco-
nhecimento porque essa tensão afetiva só pode ser superada quando
o ator social estiver em condições de voltar a ter uma participação
ativa e sadia na sociedade (Saavedra; Sobottka, 2008).
Quando alguém é discriminado por sua opção sexual ou
sua identidade de gênero, sua relação com o outro, seja superior,
seja colega, fica perturbada. O olhar do outro sobre si é refletido
por meio de agressões, verbais ou até mesmo físicas, que signi-
ficam julgamento negativo. A discriminação minimiza a chance
de reconhecimento, pois as atitudes negativas vão de encontro ao
reconhecimento do outro como pessoa digna. Mesmo os colegas
que não participam diretamente do assédio agem de forma a negar
o sofrimento e injustiça, isso quando não julgam que a vítima
“merecia” o destrato. Os julgamentos negativos proferidos causam
rompimento de relações e vínculos com outros (colegas e chefes)
(Eberle; Soboll; Cremasco, 2009, p. 131-132).
Luis Fernando Barzotto (2010, p. 20) afirma que o reconheci-
mento é um ato livre e imediato de afirmação e “reconhecer o outro
como pessoa é afirmar o valor ou a dignidade inerente à condição de pessoa”.
Ao falar sobre a dignidade da pessoa humana, afirma que esta é
“valor inerente à identidade humana, exige reconhecimento.
Ingo Sarlet (2009, p. 32-33) também escreve uma breve pas-
sagem sobre o reconhecimento. Inicia dizendo que a dignidade
da pessoa humana, por se tratar de um valor de todas as pessoas,
só faz sentido na coletividade. A ordem jurídica deve cuidar para
que todos recebam igual consideração. A consideração e reconhe-
cimento recíproco da dignidade no âmbito da comunidade pode
ser definida como uma espécie de “ponte” que liga os indivíduos.
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3.3 A importância da não discriminação
no ambiente de trabalho
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das relações particulares do trabalhador, principalmente das rela-
ções familiares. As más condições do meio ambiente de trabalho
também fazem com que, além de acidentes, o trabalhador corra
riscos na esfera mental, ao desenvolver doenças psicossomáticas.
Ainda, ocorrem problemas psíquicos como ataques de ansie-
dade, de pânico, depressão, dificuldade de concentração, insônia,
perda de memória e tonturas. A vítima pode também sentir pal-
pitações e taquicardias que, se não tratadas, podem conduzir a um
infarto. Pode acarretar-se ainda o enfraquecimento do sistema
imunológico, reduzindo as defesas do corpo, o que o deixa susce-
tível a infecções e viroses (Hirigoyen, 2002, p. 161).
Ao discutirmos relações de emprego, deve-se ter sempre em
mente que, em relação ao empregador, o trabalhador é hipossufi-
ciente e, por tal razão, devemos sempre ter em vistas o princípio
da proteção, principalmente ao tratarmos de discriminação. Por
se tratar do lugar de onde se tira a subsistência sua e da família, o
empregado muitas vezes se sujeita a condições que não aceitaria
em outras situações. Como elo mais fraco da cadeia produtiva, o
trabalhador precisa da proteção legal. O Estado deve cuidar das
condições e do ambiente de trabalho.
4 Considerações finais
A sociedade é composta por uma rica gama de identidades
complexas e distintas. O Estado Democrático de Direito deve
desenvolver políticas baseadas em tolerância e respeito a fim de
garantir a todas as minorias seu direito à vida digna e livre condu-
ção desta dentro do contexto social.
Qualquer prática que segregue algum indivíduo por causa
de sua sexualidade deve ser enfrentada, e a discriminação só será
superada quando promovermos meios para que os sujeitos exer-
çam seu direito à autonomia de sua sexualidade. Essa luta se dá
com a valorização e reconhecimento do protagonismo, apesar dos
discursos heteronormativos produzidos no âmbito da família, da
comunidade religiosa, da escola, da rede de amigos ou das diversas
instituições sociais.
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Após análise do tema, foi possível verificar que é possí-
vel, a partir dos valores constitucionais e da aplicação dos prin-
cípios, avançar na proteção do indivíduo, independentemente de
sua orientação sexual. Mais ainda, demonstrou-se que é dever
do empregador garantir ao seu empregado homo ou transexual
a igualdade de tratamento e respeito que devem ser dispensadas a
qualquer trabalhador de sua empresa.
Esse dever de respeito ao princípio da dignidade da pessoa
humana não é apenas um dever de não fazer, mas também de efe-
tivar condutas positivas e preventivas a fim de proteger a dignidade
do trabalhador. Portanto, é dever da empresa prevenir o surgi-
mento de situações de discriminação com conscientização inclu-
sive dos colegas e até mesmo clientes e parceiros comerciais.
Referências
300 Boletim Científico ESMPU, Brasília, a. 16 – n. 50, p. 279-304 – jul./dez. 2017
Eberle, André Davi; Soboll, Lis Andrea P.; Cremasco, Maria
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