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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS PENAIS

EUDER DE BRITO DIAS

A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA APÓS 13 ANOS DE EXISTÊNCIA NA


MELHORIA DO ATENDIMENTO E ASSISTÊNCIA AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA POR PARTE DO PODER PÚBLICO

PORTO ALEGRE
2019
EUDER DE BRITO DIAS

A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA APÓS 13 ANOS DE EXISTÊNCIA NA


MELHORIA DO ATENDIMENTO E ASSISTÊNCIA AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA POR PARTE DO PODER PÚBLICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do
grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Prof.ª. Dra. Vanessa Chiari Gonçalves

PORTO ALEGRE
2019
AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família por tudo que me proporcionou e por todos os instrumentos
que me foram dados para que esse dia se tornasse possível. Hoje, vejo-me como uma pessoa
feliz em mais um sonho que realizo em terminar este trabalho. Minha mãe, Eva Teresinha de
Brito, a qual cumpriu e cumpre um papel fundamental em minha vida, pois, de fato, carrega um
sentimento valoroso e um ímpeto inacreditável, que poucos detêm. Eu, meus irmãos e minha
irmã fomos forjados para superar as dificuldades, embora, às vezes, dê vontade de desistir. Sei
o quanto precisamos desse descanso, mas seguir em frente é necessário. Que toda busca se
concentre em fazer o melhor para si e para o todo.
Não posso aqui me furtar o dever de homenagear o exemplo que tive na pessoa do
meu irmão mais velho Clemilson Luiz de Brito Dias, que desde sempre me mostrou os
caminhos certos a seguir e exemplo de dedicação tanto no trabalho quanto nos estudos, obrigado
meu irmão por ser esse exemplo de homem, no sentido mais amplo da palavra.
No início dessa longa caminhada de formação na graduação, tive uma equipe de
serviço a qual me proporcionou por diversos momentos focar nos estudos, segurando o serviço
para que eu pudesse principalmente passar no vestibular e adentrar na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Essa equipe comandada pelo então capitão Rodrigo Shoenfeldt, hoje major
da Brigada Militar ainda contava com outro exemplo de homem e profissional que tive o prazer
de conviver nessa vida, o então 1º Sargento Carlos Alberto Nogueira Insaurrauld, hoje no
descanso merecido da reserva remunerada, espero que em breve o senhor possa sentir essa
felicidade formando agora suas filhas meu amigo. O soldado Rogerio Caetano Fernandes o qual
por diversos dias e noites me repassou a sabedoria da sua experiencia profissional escutando
por muitas vezes minhas lamurias e angustias e sempre me incentivando e por fim e não menos
importante o Soldado Joao Antônio Santos da Silva o qual é exemplo de profissional, homem
e pai, quem me dera chegar um dia a ser perto do que você é meu amigo, colega meu irmão. Eu
não estaria aqui realizando esses agradecimentos em um trabalho de conclusão de curso de
graduação em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade federal sem vocês terem feito parte
da minha vida, talvez na época mais complicada da minha vida. Essa equipe de inteligência do
Batalhão de Operações Especiais ficará para sempre na minha memória e faço aqui essa
homenagem e agradecimento a todos vocês.
Agradeço também ao meu grande amigo, colega de profissão estudos e irmão que a
vida me deu, Bruno Zanini Rodrigues, o qual por diversas noites e dias de trabalho sempre me
incentivou com diversas conversas e conselhos, obrigado meu amigo você é um exemplo de
homem, profissional e pai.
Agradeço a minha orientadora, Prof.ª. Dra. Vanessa Chiari Gonçalves, aos professores
Pablo Rodrigo Alflen da Silva, pelas suas excelentes aulas e dedicação que sempre manteve
para com todos, aliado a um grande conhecimento. Agradeço a Prof. Dra. Ana Paula Motta
Costa, que nos mostrou o Direito Penal com uma outra face e possibilidade, sendo uma pessoa
dotada de uma grande firmeza e humildade. Agradeço, também a Prof. Dra. Roberta Camineiro
Baggio e ao Prof. Dr. Daniel Mitidiero por suas aulas empolgantes e repletas de ensinamentos,
não só didáticos, mas de ensinamentos para nossa evolução como seres humanos. Sou grato por
esses professores que são verdadeiros protagonistas do ensino e possuem um grande grau de
empatia com aqueles que buscam o conhecimento e são interrompidos por causas adversas.
Por fim, agradeço aqui e agora de forma especial ao meu falecido tio Pedro Pereira de
Brito o qual mais que meu tio foi um pai, grande amigo e a pessoa com certeza que mais apostou
na minha vitória nessa vida! Obrigado meu tio. E claro a pessoa que faz eu ter foça para seguir
sempre confiante e não esmorecer nas dificuldades, todas minhas conquistas são para você meu
filho Matheus Oliveira Dias, o pai TE AMA!
Agradeço a Deus por fazer todo esse progresso possível.
RESUMO

A Lei Maria da Penha veio com o intuito de resguardar e amparar as mulheres de todos os tipos
de violência, buscando ações e mecanismos que visam coibir a violência de gênero. Desta
forma, a partir da necessidade de cessar os delitos dessa natureza, tornando-a realmente eficaz,
implantaram-se políticas públicas no combate à violência doméstica contra a mulher, as quais
ampliaram e introduziram serviços especializados, bem como articularam serviços em prol das
mulheres vítimas de violência. Objetivou-se com o presente trabalho monográfico, analisar no
contexto acadêmico a discussão acerca da referida lei diante da realidade social no cotidiano da
sociedade contemporânea, visto que a Lei Maria da Penha além da punição do agressor, visa à
adoção de políticas públicas de prevenção à violência doméstica, além de dar a assistência
necessária para a vítima, para o agressor e seus dependentes. A técnica utilizada foi a pesquisa
bibliográfica, sendo assim, foram realizadas leituras e análises críticas em doutrinas, artigos e
jurisprudências que se manifestam sobre o tema. Não obstante esta ser uma questão histórica e
cultural, é indiscutível a necessidade de erradicar a violência doméstica contra a mulher. Desta
forma, apesar do avanço após a implantação da Lei Maria da Penha, ainda se fez necessária a
adoção de medidas que a tornassem realmente eficaz, para tanto, através de políticas públicas,
adotaram mecanismos de criminalização do agressor e medidas integradas visando à prevenção,
proteção e assistência às mulheres em situação de violência.
Palavras-chave: violência doméstica; políticas públicas; efetividade.
ABSTRACT
Maria da Penha Law has been created in order to support and protect women from all kinds of
violence, seeking actions and mechanisms that aim to stop gender-based violence. This way,
from the need to stop this type of crime and in order to make it really effective, public policies
to combat domestic violence against women have been set up, which expanded and introduced
specialized services for women victims of violence. This work aims to analyze in the academic
context, the discussion of this law toward the social reality in the daily life of the contemporary
society. Maria da Penha Law, besides the punishment for the aggressor, aims for the adoption
of public policies for the prevention of domestic violence, giving the necessary assistance to
the victim, to the offender and their dependents. The technique used is the bibliographical
research, thus, critical reading and critical analysis have been carried out based on doctrines,
articles and jurisprudence which are related to the subject. Although this is a historical and
cultural issue, the need to eradicate domestic violence against women is unquestionable. This
way, despite some progress after the implementation of Maria da Penha Law, it was still
necessary to adopt measures to make it really effective. Therefore, through public policies,
criminalization mechanisms for the aggressor and integrated measures have been adopted,
aiming for the prevention, protection and assistance to women in situations of violence.
Keywords: domestic violence, public policies, effectiveness.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CE – ESTADO DO CEARÁ
OEA – ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS
CEJIL - CENTRO PELA JUSTIÇA E O DIREITO INTERNACIONAL
CLADEM - CÔMITE LATINO-AMERICANO E DO CARIBE PARA DEFESA DOS
DIREITOS DA MULHER
COPEVID - A COMISSÃO PERMANENTE DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
E FAMILIAR CONTRA A MULHER
STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ADI – AÇÃO DECLARATORIA DE INCONSTITUCIONALIDADE
STJ – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
DEAMs - DELEGACIAS ESPECIALIZADAS DE ATENDIMENTO À MULHER
CNDM - CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER
SEDIM - SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS DA MULHER
SPM-PR - SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA MULHERES DA
PRESIDENCIA DA REPUBLICA
CDH - COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVA
CSPCCO - COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO
PCdoB – PARTUDO COMUNISTA DO BRASIL
POP - PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO
CNJ - CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
TJ-RS – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
COMAG - CONSELHO DA MAGISTRATURA
JECRIMs - JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
JVDFM - JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS
MULHERES
SINAN - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO
IGP - INSTITUTO GERAL DE PERÍCIAS
CNMP - CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA MULHER E SUA PROTEÇÃO....... 10
2.1. A LEI MARIA DA PENHA E AS MEDIDAS PROTETIVAS NELA PREVISTAS . 15
2.2. DAS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL ................................................................................................................................ 17
2.3. MEDIDAS PROTETIVAS PARA VÍTIMAS NÃO MULHERES............................. 21
2.4. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ............................................................. 22
2.4.1. CRIMES DE DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE
URGÊNCIA ........................................................................................................................ 26
3. MEDIDAS POSITIVAS IMPLEMENTADAS PELO PODER PÚBLICO .................... 27
3.1. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ..... 28
4. PATRULHA MARIA DA PENHA ............................................................................... 30
4.1. CAPACITAÇÃO DO EFETIVO DA PATRULHA MARIA DA PENHA ................. 33
5. JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES
(JVDFM). ............................................................................................................................ 35
5.1. OS JULGAMENTOS DOS CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NOS
JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES
(JVDFM). ............................................................................................................................ 39
5.2. A ESTRUTURA DE PROFISSIONAIS NOS JUIZADOS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES (JVDFM)................................... 42
6. DELEGACIA ESPECIALIZADA DE ATENDIMENTO À MULHER ........................ 44
6.1. FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DE RISCO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ..... 49
6.2. ÍNDICES DE REGISTROS NAS DELEGACIAS ESPECIALIZADAS DE
ATENDIMENTO Á MULHER ........................................................................................... 50
7. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 52
ANEXOS ......................................................................................................................... 55
1. ANEXO “B” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018 ............................ 55
(MODELO DE CERTIDÃO DE VÍTIMA EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE) 55
1.2. ANEXO “C” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018 ........................ 56
(MODELO DE CERTIDÃO DE RECUSA DE ATENDIMENTO) .................................. 56
1.3. ANEXO “D” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018 ........................ 57
(MODELO DE CERTIDÃO DE NÃO LOCALIZAÇÃO DE VÍTIMA) ........................... 57
1.4. ANEXO “E” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018 ......................... 58
(MODELO DE CERTIDÃO DE FISCALIZAÇÃO DE MPU COM RETORNO DE
COMPANHEIRO (A) AO LAR) ...................................................................................... 58
1.5. ANEXO “F” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018 ......................... 59
(MODELO DE CERTIDÃO DE TÉRMINO DE ACOMPANHAMENTO À VÍTIMA) ... 59
2. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO ....................................................... 60
2.1. VISITA DA PATRULHA MARIA DA PENHA.................................................... 60
2.2 ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIA DE FEMINICÍDIO ................................... 61
2.3. ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER ................................................................................ 62
2.4. ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIA DE AMEAÇA/INJÚRIA/DIFAMAÇÃO .. 63
3. FORMULÁRIO NACIONAL DE AVALIAÇÃO DE RISCO VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ...................................................... 64
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 69
8

1. INTRODUÇÃO

A Constituição Federal Brasileira foi promulgada no ano de 1988, sendo esta a norma
suprema de todo o Ordenamento Jurídico Brasileiro. Nela determina-se que todos os cidadãos
devem ser tratados sem distinções e de forma igualitária. Entretanto, devido à cultura patriarcal
intrínseca na Sociedade Brasileira, está ainda cultiva um sentimento de inferioridade da mulher
em relação ao homem.

Isso porque ao longo dos séculos foi repassada à mulher a ideia que ela precisa ser
protegida, não obstante, ao homem foi transmitido que ele deve ser o protetor. Esta ideia
proliferou-se e vem perdurando ao longo dos anos. Da mesma forma que transmitiram à mulher
que ela deve ater-se ao lar, à família e às atividades domésticas, tornando-a refém da realidade
social em que está inserida, ao homem remanesceu a função de executar o trabalho externo
voltado ao sustendo da família.

Desta forma, a partir dos papéis impostos pela sociedade, foi criada a identidade social
dos homens e das mulheres. A mulher tornou-se submissa ao homem e esse sentimento de
submissão, juntamente com o de inferioridade, fez com que originasse a violência doméstica.
Essa violência, constitui uma problemática que atinge toda a população independente da classe
social, da raça ou etnia.

Diante da forte pressão dos movimentos feministas e Internacionais, resultaram


acordos e tratados em prol das mulheres, tendo em vista que a sociedade não obtinha êxito em
erradicar o problema da violência doméstica. A fim de remediar a situação, após a intervenção
internacional, foi inserida no Ordenamento Jurídico Brasileiro a Lei nº 11.340/06, mais
conhecida como Lei Maria da Penha. Esta Lei apresentou-se dotada de características
protetivas, visando efetivar a igualdade prevista na Constituição Federal e, de fato, proteger às
vítimas de violência doméstica, dando mais celeridade ao processo investigatório e instituindo
novos procedimentos e medidas inovadoras no combate a violência doméstica, vez que aquelas
estão expostas a diversas formas de violação de seus direitos.

Para tanto, visando amparar e resguardar as mulheres de todas as formas de violências


a Lei buscou mecanismos e ações com o intuito de coibir a violência doméstica. Desta forma,
através da presente pesquisa bibliográfica orientada pelos métodos hermenêutico e hipotético-
9

dedutivo, analisar-se-á a efetividade da Lei Maria da Penha no combate à violência contra a


mulher.

A Lei 11.340/06 prevê uma série de medidas protetivas às mulheres em situação de


violência doméstica e familiar, as quais visam a assegurar a integridade física e psicológica das
vítimas. Entretanto, ainda que a possibilidade de concessão dessas medidas caracterize
importante inovação no combate à violência doméstica contra a mulher no Brasil, elas não têm
sido suficientes para reduzir consideravelmente esse tipo de violência. O silêncio e a falta de
medidas eficazes do poder Público, fazem com que as agressões contra mulheres dentro do
ambiente doméstico não diminuam.

Dessa forma, a violência doméstica e familiar contra a mulher deve ser analisada em
diversos segmentos, não apenas suas consequências, mas também nas causas que levam à
ocorrência de tantos casos no Brasil. Assim, o presente trabalho tem por escopo analisar a
eficácia da Lei 11.340/06, analisando os órgãos públicos que tratam e atendem diretamente as
vítimas de violência doméstica, sendo eles: A Brigada Militar, Polícia Civil e Poder Judiciário.
10

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA MULHER E SUA PROTEÇÃO

A evolução da mulher perante a sociedade representa o próprio avanço dos direitos


conquistados por ela no decorrer da história. No Brasil, até a criação do código penal, no ano
de 1940 a única proteção destinada as vítimas mulheres, eram em relação aos crimes sexuais,
não sendo citada a violência doméstica. A proteção nesse contexto, não era exatamente para a
mulher, mas sim, pela honra de sua família.

A mulher era considerada um ser sem voz e sem vez, pois sequer podia votar ou
estudar, o que a impedia de ser atuante na sociedade, estando sempre subordinada ao marido
ou ao pai, o chefe da família. Marco Aurélio Marsiglia Treviso (apud FERNANDES, 2010, p.
01) sustenta que:

isto demonstra que havia um perfeito paradoxo enraizado junto à sociedade, uma vez
que a presença da mulher era, na verdade, a história de sua ausência, já que sempre
foi tratada como uma pessoa subordinada ao marido, ao pai, sem direito de voz e,
ainda, marcada pelo regime de incapacidade jurídica.

No período Colonial de 1500 até 1822 ,e ainda hoje, o sistema que reinava no país era
o patriarcal. Naquele tempo,enquanto os homens dominavam a leitura, a escrita e o poder da
tomada de decisões, as mulheres eram destinadas aos afazeres domésticos, ao casamento,
totalmente submissas e obedientes aos pais, maridos ou irmãos.
Neste período, as mulheres não eram tratadas como pessoas plenamente capazes,
porque necessitavam permanentemente de proteção, em virtude da sua fraqueza de
entendimento, fraqueza esta, que era gerada em razão da total subordinação a que eram
submetidas.
Os tipos penais que protegiam a mulher, na época, eram relacionados a sua
religiosidade, posição social, castidade e sexualidade, sendo que a pena era elevada em razão
da classe social dos envolvidos. No entanto, ao mesmo tempo em que a mulher era protegida
em razão da sexualidade, era autorizado o seu homicídio caso cometesse adultério, nos termos
do Código Filipino1, sendo o homem casado licitamente autorizado a matar a mulher e adúltero,
salvo se o marido fosse peão e o adúltero de maior qualidade (FERNANDES, 2010).

1
As Ordenações Filipinas, ou Código Filipino, é uma compilação jurídica que resultou da reforma do código
manuelino, por Filipe II de Espanha (Felipe I de Portugal), durante o domínio castelhano. Ao fim da União Ibérica
(1580-1640), o Código Filipino foi confirmado para continuar vigendo em Portugal por D. João IV.
11

Já o período do Brasil Imperio que foi de 1822 até 1889, foi marcado como início do
reconhecimento dos direitos das mulheres, com o direito ao acesso dos estudos, apenas para
então chamado 1º grau e com disciplinas diferentes das ensinadas aos homens. O ensinamento
destinado às mulheres era baseado em atividades voltadas para o lar, como corte e costura em
vez de instrução de leitura, escrita ou matemática. (CABRAL, 2008).
No tocante ao Direito Penal, foi publicado o Código Criminal do Império do Brasil,
no ano de 1830, no qual passou a ser considerado como agravante da pena o impedimento da
defesa em razão da superioridade de sexo. Também não podia ser executada a pena de morte
em gestantes, nos termos do artigo 43 do referido código: “Na mulher prenhe não se executará
a pena de morte, nem mesmo ela será julgada, em caso de merecer, se não quarenta dias depois
do parto” (BRASIL,1830).
Em relação à sexualidade da mulher, foi mantida a proteção à reputação da vítima,
estando presente, tal preocupação, nos tipos de crime de estupro, havendo referência às
mulheres virgens, às mulheres honestas e às prostitutas. Dessa forma, percebe-se que o
importante era realmente, naquela época, a desonra que a mulher havia praticado e não a
violência que ela havia sofrido. Segundo Lavorenti (2007, p. 190):

a exigência constitucional de um Código Penal assentado na equidade não impediu


que as mulheres fossem classificadas em honestas ou desonestas de acordo com seu
recato sexual. Também se verifica, como regra, que o casamento escoimava a mácula
decorrente da ofensa à honra da mulher que era vitimada por crime contra sua
liberdade sexual. Assim, o casamento subsequente ao delito reconstruía o atributo da
honestidade da mulher e restaurava sua honra – implicando o reverso que, diante da
inexistência do casamento, tivéssemos o binômio criminoso/desonrada, reforçando
o estereótipo em desfavor da mulher.

No período Imperial as mulheres começaram a ser inseridas na sociedade, dando


início aos estudos e adentrando no mercado de trabalho, mesmo que suas funções primordiais
fossem a de mãe e de esposa, e sua proteção condicionada à sua moral. Com a revolução
Industrial, as mulheres ingressaram no mercado de trabalho, como operárias de indústrias,
trabalho que até então era somente exercido pelos homens, contribuindo para o
desenvolvimento econômico.
No Código Civil de 1916, foi adotado um sistema no qual a mulher casada tornava-se
relativamente capaz para os atos da vida civil, sendo que a mulher viúva e a solteira, que
adquirissem maior idade aos 21 anos, mantinham sua capacidade plena. Segundo Cabral (2008,
p. 40):
12

o Código Civil de 1916 para as mulheres em quase nada revolucionou, pois acabou
confirmando a tendência conservadora do Estado e da Igreja, e consagrou a
superioridade do homem, dando o comando unido da família ao marido, e delegando
a mulher casada a incapacidade jurídica relativa, equiparada aos índios, aos pródigos
e aos menores de idade. [...] Devido ao Código Civil o marido se constituiu o chefe
da sociedade conjugal e o administrador exclusivo dos bens do casal, tendo somente
ele o direito de fixar o domicílio da família, do qual se a mulher dele se afastasse por
qualquer motivo poderia ser acusada de abandono de lar, com perda do direito à
alimentos e à guarda dos filhos.

Outra importante conquista deste período foi o direito das mulheres de votar, embora
este direito somente fosse obrigatório para as mulheres que exercessem função pública
remunerada, conforme pode ser observado nos artigos 108 e 109 da Constituição da República
dos Estados Unidos doBrasil:

Art. 108 - São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos,


que se alistarem na forma da lei.
[...]
Art. 109 - O alistamento e o voto são obrigatórios para os homens e para as mulheres,
quando estas exerçam função pública remunerada, sob as sanções e salvas as
exceções que a lei determinar (BRASIL, 1934).

No período conhecido como ‘Estado Novo’ do Presidente Getúlio Vargas surgiu o


Código Penal, que foi modificado no ano de 1984 e permanece em vigor até os dias de hoje.
Neste código, a violência sexual deixou de ser tratada como uma violência que atentava a honra
e a honestidade das famílias, passando a preocupar-se com os costumes.
Por outro lado, a Constituição de 1967, em seu artigo 142, § 1º, passou também a
igualar homens e mulheres dispondo sobre o voto e o alistamento obrigatórios para ambos,
referindo, ainda que:

Art. 142 - São eleitores os brasileiros maiores de dezoito anos, alistados na forma da
lei.
§ 1º - o alistamento e o voto são obrigatórios para os brasileiros de ambos os sexos,
salvo as exceções previstas em lei. (BRASIL, 1967).

A Constituição Federal de 1988 incluiu, como um dos seus principais princípios, o


princípio da dignidade da pessoa humana, sendo ela homem, mulher, criança ou idoso, senão
13

vejamos: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana; [...]” (BRASIL,1988).
Ainda, a Constituição de 1988 dispôs de modo enfático sobre o pricípio da igualdade
entre homens e mulheres em direitos e obrigações, explicitandoe ressalvando no (CR, art. 5.º,
I), não deixando de fora as relações no âmbito familiar (CR, art. 226, §5.º). Do mesmo modo impõe
ao poder público que crie mecanismos para coibir a viôlência doméstica nas relações familiares e
assegurar assistencia à familia (CR, art 226,§8.º):

Art.5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição; [...] (BRASIL, 1988).
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado:
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente
pelo homem e pela mulher.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

Uma medida importante de proteção às mulheres, tomada após a promulgação da


Constituição de 1988 foi a ratificação da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher. A Convenção de Belém do Pará, que complementou a
Convenção antes mencionada, trouxe uma definição de violência doméstica:

Art. 1 - Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher
qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada
(BRASIL, 1994).

Outra definição foi trazida por Cabral (2008, p. 134), que afirma que “a violência
doméstica contra a mulher é toda aquela que tenha ocorrido dentro da família ou unidade
domestica ou em qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ou haja
convivido no mesmo domicílio, na comunidade e perpetrada por qualquer pessoa, na
comunidade, local de trabalho, estabelecimentos educacionais de saúde ou qualquer outro
lugar, e mesmo aquela perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes onde quer que
ocorra”.
14

A lei 10.886, de 17 de junho de 2004, incluiu no artigo 129 do Código Penal o


parágrafo nono, tipificando a “violência doméstica”, e o parágrafo décimo, como qualificadora
do crime aumentando a pena, conforme segue:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um
ano. Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
dias; II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou
função; IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o
trabalho; II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou
função; IV - deformidade permanente;
V - Aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito
anos. Lesão corporal seguida de
morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstância se evidenciam que o a gente não quis o
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze
anos. [...]
Violência Doméstica
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-
se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
[...]

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as


indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) (BRASIL, 2004).

Um ano depois, a Lei 11.106/05 elevou as penas em razão de vínculo familiar ou


afetivo com o agente, retirando expressões que remetiam à honra da mulher de alguns artigos
do Código Penal. Ainda, esta lei, revogou a causa de extinção da punibilidade referente ao
casamento da vítima nos crimes sexuais.

Como inovação da proteção da mulher e prevenção da violência exercida contra ela,


surgiu a Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha. Esta lei foi incluída no
15

ordenamento jurídico como forma não apenas de punir o agressor, mas também para
acompanhar a vítima durante o processo, protegendo-a e também buscando a recuperação do
agressor. Dessa forma:

rompeu com o tradicional processo penal e criou um processo dotado de efetividade


social, para proteger a mulher e prevenir a violência. Extrapolou a noção de que o
processo objetiva apurar a verdade e possibilitar a aplicação da pena. [...] Assim, o
processo por violência doméstica passou a ser constituído de forma multidisciplinar,
transformado e renovado, para romper o ciclo de violência doméstica
(FERNANDES, 2010).

Assim, a Lei Maria da Penha surgiu com o intuito não de punir o agressor, mas de
proteger a mulher vítima de violência no âmbito doméstico e familiar, buscando também
recuperar o agressor a fim de que possa retornar ao núcleo familiar e conviver harmonicamente
com sua família.

2.1. A LEI MARIA DA PENHA E AS MEDIDAS PROTETIVAS NELA PREVISTAS

A Lei Maria da Penha2 traz algumas medidas protetivas que visam proteger a vítima e
salvaguardar o agressor, determinando a prática ou não de determinados comportamentos,
como por exemplo não se aproximar da mulher agredida, mantendo um limite mínimo de
distância entre eles.

A violência doméstica e familiar contra a mulher é tratada pela Lei Maria da Penha,
lei nº 11.340/06, sendo sancionada no dia 07 de agosto de 2006, a qual tem este nome em
homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que lutou por 20 anos, para ver seu agressor,
que era seu ex-marido, professor universitário e economista, na cadeia. O casal residia em
Fortaleza (CE), possuindo três filhas oriundas da união. Maria da Penha sofreu diversas
agressões durante o tempo em que estiveram juntos, chegando a ser vítima de duas tentativas
de homicídio, na qual em uma delas restou paraplégica, por um disparo de arma de fogo
efetuado pelo seu companheiro, já na segunda tentativa, foi vítma de uma descarga elétrica
também provocada pelo seu companheiro enquanto Maria da Pena tomava banho. Seu
companheiro era um homem muito violento e possuía uma relação tumultuada com Maria da
Penha e as filhas, em razão de temer represálias ainda maiores ela nunca reagiu. Segundo Dias

2
Maria da Penha Maia Fernandes é uma farmacêutica brasileira que lutou para que seu agressor viesse a ser
condenado. Maria da Penha tem três filhas e hoje é líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres, vítima
emblemática da violência doméstica.
16

(2015, p. 21):
como nenhuma providência foi tomada, chegou a ficar com vergonha e a pensar: se
não aconteceu nada até agora, é porque ele, o agressor, tinha razão de ter feito aquilo.
Ainda assim, não se calou. Em face da inércia da Justiça, escreveu um livro, uniu-se
ao movimento de mulheres e, como ela mesma diz, não perdeu nenhuma oportunidade
de manifestar sua indignação.

Mesmo tendo sido condenado pela Justiça local, em 1998 o réu ainda não havia sido
preso, desfrutando de todos os recursos cabíveis contra a decisão prolatada contra ele. Assim,
em razão da falta de efetividade do sistema em relação à violência doméstica e familiar contra
as mulheres, foi motivada a apresentação de denúncia à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), tendo sido a primeira vez que tal
organização acatou uma denúncia desta natureza.

Considerando a denúncia apresentada, no dia 16 de abril de 2001, através do Centro


pela Justiça e o Direito Internacional – CEJIL, juntamente com o Comitê Latino-Americano e
do Caribe para defesa dos Direitos da mulher – CLADEM3. Foi publicado o Relatório nº 54 de
2001, pela Comissão Interamericana, onde informava que a ineficácia judicial, a impunidade e
a impossibilidade de a vítima obter uma reparação mostra a falta de cumprimento e
compromisso de reagir adequadamente ante a violência doméstica claramente demostrada no
processo. (FERNANDES, 2010)

Apesar de, por quatro vezes, a Comissão ter solicitado informações ao governo
brasileiro, nunca recebeu nenhuma resposta. [...] O relatório nº 54 da OEA, além de impor o
pagamento de indenização no valor de 20 mil dólares, em favor de Maria da Penha,
responsabilizou o Estado Brasileiro por negligência e omissão frente à violência doméstica,
recomendando a adoção de várias medidas, entre elas, simplificar os procedimentos judiciais
penais a fim de que possa ser reduzido o tempo processual.

A negligência do Estado restou evidenciada através da punição do agressor de Maria


da Penha, o qual foi preso somente dezenove anos e seis meses depois dos fatos, tendo sido lhe
imposta uma pena de dez anos e seis meses de prisão, da qual cumpriu apenas dois, ficando
detido de 2002 até 2004.

3
CLADEM/Brasil – Comitê Latino-Americano e do Caribe para defesa dos Direitos da Mulher; CEPIA –
Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação; CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria; IPE –
Instituto para a Promoção de Equidade e THEMIS – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero
17

Mesmo perante a injustiça e ineficácia do poder público, Maria da Penha tirou forças
para escrever um livro4, contanto com detalhes as diversas agressões sofridas e a inercia do
Poder Judiciário do Brasil perante a violência doméstica por ela sofrida.

2.2. DAS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NO CÓDIGO DE PROCESSO


PENAL

O Código de Processo Penal prevê a aplicação de medidas cautelares diversas da


prisão, indicando que a prisão antes do julgamento do processo é uma medida que somente deve
ser tomada quando outra não puder ser aplicada, nos termos dos artigos 282, §6º, do referido
código, “Art. 282 - As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas

observando-se a: [...] § 6o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar (art. 319)” (BRASIL,2011).

Há casos, geralmente nos crimes com previsão de pena menor, para os quais não é
necessária a decretação de prisão, enquanto durar o processo. Nestes casos podem ser aplicadas
medidas cautelares diversas da prisão, que servem para controlar e vigiar o acusado. Conforme
Avena (2015, p. 940) que:

de acordo com o art. 282, § 2º, do Código de Processo Penal, as medidas cautelares
serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no
curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante
requerimento do Ministério Público. Já o § 4º, do mesmo dispositivo, tratando da
desobediência a estas cautelares, preceitua que, no caso de descumprimento de
qualquer das obrigações impostas, o juiz de ofício

A Lei 12.403/11 alterou o artigo 319 do Código de Processo Penal, nele incluindo nove
medidas, elencadas em seus incisos, ficando sua redação da seguinte forma:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:


I - Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz,
para informar e justificar atividades;

4
Maria da Penha Maia Fernandes, Sobrevivi... posso contar.
18

II - Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por


circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante
desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - Proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - Proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
V - Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI -Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica
ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais;
VII - Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - Fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
IX - Monitoração eletrônica. (BRASIL,2011).

A Lei Maria da Penha, possui as chamadas medidas protetivas, que possuem a


finalidade de proteger as vítimas de violência doméstica e familiar, assim como assegurar a
persecução penal e estão previstas nos artigos 22 e 23 da Lei 11.340/06.

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I -
suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II - afastamento
do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas
condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato
com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c)
frequentação de determinados lugares afim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida; IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V -
prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§1ºAs medidas referidas neste artigo não impede a aplicação de outras previstas na
legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o
exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.
§2ºNa hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições
mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas
protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando
o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação
19

judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência,


conforme o caso.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz
requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput
e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
Processo Civil).
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: I -
encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de
proteção ou de atendimento; II - determinar a recondução da ofendida e a de seus
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; III - determinar o
afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos
filhos e alimentos; IV - determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de
propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes
medidas, entre outras: I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor
à ofendida; II – proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,
venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III -
suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; IV - prestação de caução
provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática
de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos
incisos II e III deste artigo.

As medidas cautelares são, providências urgentes, com as quais se busca evitar que a
decisão da causa, ao ser obtida, não mais satisfaça o direito da parte e não realize, assim, a
finalidade instrumental do processo, consistente em uma prestação jurisdicional justa,
pressupondo o periculum in mora e o fumus boni iuris.

Após muito se discutir sobre as medidas de proteção da Lei Maria da Penha, o


COPEVID5 firmou o entendimento de que tais medidas possuem natureza híbrida, e que podem
ser deferidas pelo juízo através do Boletim de Ocorrência. Ainda, a medida pode perdurar
durante todo o andamento do processo criminal, inclusive durante o cumprimento da pena. Caso
a vítima da violência doméstica decida não representar criminalmente contra o agressor, a
medida protetiva poderá ter a duração de seis meses (COPEVID, enunciado 04/2011).
Assim como para todas as medidas cautelares, para a aplicação de medidas protetivas
em favor da vítima, nos termos da lei 11.340/06, são exigidos os requisitos do fumus commissi
delicti e o periculum libertatis.
Na explicação de Avena (2015, p. 947) periculum in mora (perigo da demora)

5
Comissão Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (COPEVID) foi criada
pelo Grupo Nacional de Direitos Humanos (GNDH), do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG).
20

evidencia – se quando caracterizado os riscos à sociedade, à efetividade do processo e à


aplicação da pena que podem decorrer da liberdade plena do agente, assim entendida não apenas
a liberdade em si, como também a liberdade sem restrições de qualquer natureza. Já o fumusboni
iuris (fumaça do bom direito): é requisito preenchido através de indícios suficientes de autoria
e na prova da existência do crime.
Entretanto esse entendimento é muito bem aplicado ao Processo Civil, não podendo
ser usado por analogia no Processo Penal. Trata-se de um erro jurídico acharmos que para
decretar uma prisão cautelar é necessário o fumusboni iuris, sendo que o delito é exatamente o
contrario do bom direito, para o Processo Penal é recomendado usar o fumus commissi delicti,
a fumaça da prática de um fato punível e ao contrário de usarmos o periculum in mora no
Processo Penal é recomendado o uso do periculum libertatis que significa a liberdade do
acusado gera perigo a vítima ou a sociedade. (LOPES, 2016).
Da mesma forma, os casos em que pode ser decretada a prisão preventiva estão
previstos no artigo 313 do Código de Processo Penal. A legislação possibilita que as medidas
cautelares diversas da prisão sejam aplicadas para os crimes cuja pena seja igual ou inferior a
quatro anos, se tratar-se de crime que envolva violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, pessoa enferma ou pessoa com deficiência, senão vejamos:

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão
preventiva:
I - Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4
(quatro)anos;
II - Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em
julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto – Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência;
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida
sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes
para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (BRASIL,
2011).

Dessa forma, havendo descumprimento das medidas protetivas deferidas em favor da


vítima de violência doméstica e familiar, poderá ser decretada a prisão preventiva do agressor,
de forma a salvaguardar os direitos da mulher e disciplinar o agressor em relação às
consequências do descumprimento da lei.
21

2.3. MEDIDAS PROTETIVAS PARA VÍTIMAS NÃO MULHERES

Uma crítica muito forte que é feita contra a Lei Maria da Penha é em relação ao
princípio da igualdade. Muitos afirmam que o homem ficou vulnerável e desprotegido na
hipótese de ser vítima de violência doméstica.

A referida Lei destina-se, precipuamente, a dar uma resposta repressiva à chamada


violência de gênero. No entanto, em certa medida discute-se a supressão de direitos
fundamentais, qual seja, a negação de isonomia 6.

Contudo, essas avaliações não levam em consideração que além de tratar iguais os
iguais, devem ser tratados desiguais os desiguais, de acordo com suas desigualdades.

Ademais, o homem não teve sua proteção excluída, nem sua dignidade perdida, pelo
contrário, continua sendo protegida no âmbito penal. A proteção do homem que for vítima de
violência doméstica reside no direito de solicitar o afastamento do agressor do lar, medida
prevista no artigo 69, parágrafo único, da Lei dos Juizados Especiais Criminais; possui direito
a uma audiência que possibilite a realização de acordo com o agressor, pedindo a reparação; o
agressor poderá usufruir dos benefícios da transação penal e da suspensão condicional do
processo.

Todas estas medidas podem ser tomadas, conforme a Lei 9.099/95, sendo que, caso a
violência sofrida for de médio ou de maior potencial ofensivo, o procedimento é o mesmo
previsto para a mulher e podem ser aplicadas as medidas cautelares elencadas no artigo 319 do
Código de Processo Penal. Ainda, o homem possui os mesmos direitos constitucionais e no
âmbito do Direito Civil e penal do que a mulher.

Pode se afirmar que as normas foram criadas apenas para as mulheres vítimas porque
jamais se julgou necessário aprimorá-las para a vítima homem. Se necessário fosse, já se teria
buscado alterar o sistema, inclusive pelos mesmos grupos de juristas e instituições que alegaram
a inconstitucionalidade da Lei Maria da Penha.

6
Implica em tratar de igual forma e com os mesmos direitos, todos que estejam em igualdade de condições e
situações.
22

[...] De forma equilibrada, a Lei estabeleceu mecanismos por demais óbvios para o
enfrentamento da violência contra a mulher. Inconstitucional era o sistema anterior,
sabidamente discriminatório e prejudicial ao gênero feminino porque desconsiderava
as peculiaridades desse tipo de violência, bem como os tratados internacionais que
regiam a matéria. Somente uma cultura patriarcal arraigada pode sustentar críticas a
uma Lei que, por tão lógica, parece já ter nascido tardiamente (DE LIMA, 2011, p.
288).

Ao apontar a inconstitucionalidade de Lei 11.340/06, especificamente do Art. 417, tem


sido utilizado o exemplo de uma filha que é agredida pelo pai, sofrendo lesões corporais.
Responderia o Pai pelo crime do Art. 129 do Código Penal, com a nova pena prevista pelo Art.
44, da Lei Maria da Penha, sem direito a qualquer instituto despenalizador da Lei 9.099/95,
sendo a Ação Pública Incondicionada. No entanto, se a referida agressão do mesmo Pai fosse
contra um filho homem, o Pai responderia pelo mesmo delito, no entanto, neste segundo caso
a Ação Penal seria Pública Condicionada à representação, com a possibilidade da suspensão
condicional do processo. (LOPES, 2016).

2.4. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

Pode-se entender por medidas protetivas àquelas garantias dadas pelo Estado, em
especial a jurisdicional, para que a mulher possa agir livremente, sem temer o seu agressor.

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha foram criadas diante da


necessidade da existência de mecanismos no intuito de reduzir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, conforme expresso em seu artigo1º:

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do§ 8do art.226daConstituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar (BRASIL,2006).

7
O STF, ao julgar o HC 106.212/MS, em 24/03/11 declarou a constitucionalidade do Art.41 da Lei 11.340/06.
23

A violência doméstica e familiar é a ação (fazer algo) ou omissão (não fazer alguma
coisa) baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial, o que também está descrito no artigo 5º da Lei Maria da Penha.
Deve ser levado em consideração que a violência contra a mulher não ocorre somente em
ambiente familiar, ela também pode ocorrer no ambiente da unidade doméstica ou em qualquer
relação íntima de afeto na qual o agressor conviva com a vítima, conforme especificam os
incisos I e III do artigo 5º da Lei11.340/06:

I- No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio


permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
III- Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação (BRASIL, 2006).

Nesse contexto enquadram-se as mulheres que se encontrem no âmbito doméstico,


mesmo que não tenham vínculo familiar com o agressor, assim, como ocorre na relação entre
empregados domésticos e entre eles e os moradores da residência, quando haja uma razoável
estabilidade nessa relação. Assim, uma empregada doméstica que esteja integrada ao contexto
familiar do patrão pode ser vítima, para os fins desta lei, quando venha, por exemplo, sofrer
violência sexual, moral ou de qualquer tipo, praticadas por seu patrão.

A Lei Maria da Penha traz uma série de medidas que se destinam a proteção dos
interesses pessoais ou patrimoniais da vítima, sendo possível o afastamento do agressor do lar
em que convive com ela, fixação de limite mínimo de distância, restrição à posse de armas, etc.,
medidas estas que tornam possível a prisão do agressor, mesmo em casos de pouca gravidade,
assim como, permite que ele seja preso em caso de descumprimento de qualquer das medidas
que lhe for imposta. Assim, considerando os efeitos trazidos pela lei, visto que ela se refere tão
somente à mulher, é importante frisar quem pode ser tratado como sujeito passivo nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher.

O entendimento pacifico dos tribunais e da doutrina, no que refere o expresso no


parágrafo único do artigo 5º da Lei11.340/06 que as relações ali referidas independem de
orientação sexual, assim como o artigo 2º da mesma lei refere que “toda mulher,
independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional,
idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana [...]”, o título da lei
24

expressa que esta é destinada a coibir a violência que ocorre no âmbito doméstico, contra a
mulher.

Esta foi a primeira referência, no âmbito infraconstitucional, às famílias constituídas


por pessoas do mesmo sexo, reconhecendo e protegendo, também, vítimas de violência
doméstica, advinda de relações homoafetivas. Ou seja, traz a ideia de que a família não é
constituída por imposição da lei, mas sim, por vontade dos seus próprios membros. [...] Como
é assegurada proteção legal a fatos que ocorrem no ambiente doméstico, e com o julgamento
com cunho vinculante, realizado pelo STF8, reconhecendo as uniões homoafetivas como
entidade familiar e a resolução do Conselho Nacional de Justiça 9, impedindo que seja negado
o acesso ao casamento e o conceito legal de família abarcado pela Lei Maria da Penha. Assim,
toda relação de parentesco, de afinidade, de socio afetividade ou de afeto, em eficácia ou
rompida, tenha havido ou não coabitação ou prática de relações sexuais, todo e qualquer
relacionamento desta natureza está protegido pela Lei Maria da Penha. Ainda, Maria Berenice
Dias (apud PORTO, 2019, p. 69) assevera que:

Como o elemento identificador da família está em sua origem – um vínculo afetivo –


neste conceito é preciso inserir as famílias formadas por pessoas do mesmo sexo. As
pessoas LGBTI - lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais.

O assunto também foi objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.277 e da


Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, as quais foram julgadas
conjuntamente, em razão do assunto conexo de que tratavam, sendo reconhecida, de forma
unanime, a constitucionalidade da união estável havida entre casais do mesmo sexo, havendo
interpretação, nos termos da Constituição Federal, para que não haja qualquer impedimento, no
artigo 1.723 do Código Civil, para o reconhecimento de uniões desta natureza.

No julgamento, pontuou-se que o sexo da pessoa não deve ser usado como fator de
desigualação jurídica e que a expressão “família”, utilizada pela Constituição Federal
não se limita a formação de casais heteroafetivos, devendo-se reconhecer a união
homoafetiva como família segundo as mesmas regras e consequências da união
heteroafetiva (BRASIL. STF, 2011).

8
STF, ADI 4.277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Brito, j. 05/05/2011.
9
CNJ, Resolução 175/2013
25

Assim, pode-se afirmar que o conceito de família não se refere apenas aos casais
heterossexuais, sendo que a partir do reconhecimento da união estável de pessoas do mesmo
sexo, as uniões homoafetivas passaram a ser tratadas como unidade familiar. Considerando esta
nova definição, os conflitos envolvendo uniões entre pessoas que possuem a mesma orientação
sexual, onde a vítima é um travesti, transexual, gay ou uma mulher, passaram a ser tratados
como violência doméstica.

Buscando garantir efetivamente o direito à vida da mulher sem violência, a Lei Maria
da Penha lista algumas medidas protetivas de urgência, que poderão ser concedidas pelo Juiz,
a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, de acordo com o artigo 19 da
referida Lei:

Art. 19 As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a


requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1 As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público,
devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2 As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e
poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que
os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.
§ 3 Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida,
conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se
entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio,
ouvido o Ministério Público (BRASIL, 2006).

Para que possa agir o Juiz precisa ser provocado e após a provocação ele poderá
acrescentar outras medidas àquelas requeridas, a fim de proteger da melhor forma a vítima.

A adoção de providências está condicionada à vontade da vítima. Ainda que a mulher


proceda ao registro da ocorrência, é dela a iniciativa de pedir proteção por meio de medidas
protetivas. Só assim é formado expediente para deflagrar a concessão de tutela provisional de
urgência. Mas, a partir do momento em que a vítima requer medidas protetivas, pode o Juiz agir
de ofício, adotando medidas outras que entender necessárias, para tornar efetiva a proteção que
a Lei promete à mulher.

Os casos de violência doméstica clamam por aplicação de medidas eficazes, urgentes


e objetivas de repressão e prevenção, compatíveis com cada tipo de situação que abarque este
tipo de violência. Existem diversas medidas elencadas no artigo 22, voltadas àquele que pratica
26

a agressão, e, ainda, várias outras não especificadas que o Estado Juiz poderá deferir de ofício,
dentro do seu poder, observada a interpretação das normas.

Será necessário que o intérprete esteja atento aos casos que evidenciem a necessidade
da aplicação dos princípios e métodos que regem a interpretação das normas, com
ênfase para o princípio da proporcionalidade e a ponderação de bens e valores,
buscando aplicar a dose certa do remédio cautelar no caso concreto, para que não
ocorram desnecessários excessos (DE SOUZA, 2009, p.125).

O magistrado deve ser coerente e humano em suas decisões, de forma a aplicar as


medidas protetivas que forem necessárias para cada tipo de situação ocorrida.

2.4.1. CRIMES DE DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE


URGÊNCIA

Ao se falar em descumprimento de medida protetiva de urgência, encontradas no Art.


22 da Lei Maria da Penha nº11.340/06, já era de entendimento pacifico dos tribunais e doutrina
que não caberia o crime de desobediência, Art. 330, do Código Penal, nos casos em que as
medidas protetivas fossem descumpridas pelo autor da violência doméstica, baseado na decisão
da 6ª turma do STJ. Resp. 1374.653-MG, tendo como relator o Min. Sebastião Reis Junior,
julgado em 11/03/2014.

Acontece que, com a entrada em vigor da lei 13.641/18, a qual incorporou o Art. 24 –
A, na lei Maria da Penha, ficou agora tipificado a conduta criminosa ao descumprir as medidas
protetivas de urgência, do Art. 22 da lei Maria da Penha. Com pena prevista de 03 (três) meses
a 02 (dois) anos de detenção, ficando claro aqui que a norma veio com o preceito primário e
com o preceito secundário, ou seja, tipificando a conduta no Art. 22 e dando a pena no Art. 24-
a da lei 11.340/06.

Dessa maneira, nota-se que caso haja o descumprimento da medida protetiva de


urgência, além de ser possível a decretação da prisão preventiva, nos termos do art. 313, III, do
Código de Processo Penal, após a Lei 13.641/2018 o agressor pode, ainda, responder por
CRIME, previsto e tipificado no art. 24-A da Lei Maria da Penha.
27

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência
previstas nesta Lei:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.

§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que


deferiu as medidas.

§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder


fiança.

§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.

A inclusão do Art. 24-A, pela Lei 13.641/18, foi a última atualização realizada na lei
Maria da penha, até a data atual. Todas as atualizações realizadas desde sua sanção, 13 anos
atrás, vieram com o intuito de efetivar as medidas de proteção as vítimas de violência doméstica
e desta forma tutelar alguns direitos historicamente renunciados as mulheres, conforme a
evolução relatada anteriormente dos direitos das mulheres. A lei Maria da Penha trouxe algumas
medidas afirmativas e orientações que o poder público deve seguir visando a melhoria do
atendimento as vítimas de violência doméstica, visando a não revitimização da mulher e
proporcionalmente não só um atendimento adequado a vítima, mas também um
acompanhamento, tanto psicológico como estrutural.

3. MEDIDAS POSITIVAS IMPLEMENTADAS PELO PODER PÚBLICO

A violência contra a mulher no âmbito doméstico, tem aumentado de forma


significativa nos últimos anos na sociedade Brasileira. Mesmo com a vinda da Lei Maria da
Penha, já ficou constatado de forma clara que mesmo com a Lei oriunda do poder legislativo é
necessário que o Estado promova e adote, com muita força, políticas públicas visando a
conscientizar e suprir as necessidades da sociedade, principalmente no tocante a parte física e
psicológica das vítimas de violência doméstica.

Com a promulgação da Lei Maria da Penha, tornou se necessária a criação de órgãos,


instrumentos, procedimentos e principalmente capacitação dos agentes já existentes, na rede de
proteção de vítima de violência doméstica, os quais, atendem direta e indiretamente a vítima,
após sofrer a agressão até o fim do processo. Essa capacitação visa a, primeiramente, evitar a
revitimização melhorando o atendimento e acompanhamento da vítima desde a agressão
28

sofrida, passando pelo atendimento policial militar via 190, chegando à Delegacia de Polícia
Civil especializada, Ministério Público até chegar ao Poder judiciário.

3.1. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Antes de citar as ações Brasileiras ou as específicas do Estado do Rio Grande do Sul,


ressalta-se que, internacionalmente, inúmeros eventos aconteceram para incentivar a
formulação e a implementação de políticas públicas que tratassem das violências de gênero. A
Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a Década da Mulher (1975-1985) e, ao longo
da referida Década, realizou conferências mundiais sobre as mulheres em 1975, 1980 e 1985,
com o tema de Igualdade, Desenvolvimento e Paz, avaliando avanços e desafios no campo das
políticas para mulheres. Uma destas conferências promovidas pela ONU foi a IV Conferência
Mundial sobre as Mulheres, realizada em Pequim, China, em setembro de 1995, que foi
considerada como um divisor de águas sobre a questão central das políticas de gênero
(CALAZANS, 2011). A conferência de Pequim teve como marco fundamental a mudança na
orientação predominante das proposições da ONU sobre a temática. De políticas e ações para
mulheres, o foco passou para as desigualdades de gênero, levando em consideração que toda a
estrutura da sociedade e todas as relações entre homens e mulheres dentro da sociedade
deveriam ser reavaliadas.

Nesse sentido, a comunidade internacional, ali reunida, foi mobilizada para que os
esforços dedicados para combater a condição desigual de vida entre homens e mulheres
ocorressem de maneira transversal entre os diversos organismos institucionais e da sociedade
civil. Em outras palavras, a transversalidade asseguraria que a perspectiva de gênero estivesse
presente em todas as atividades governamentais, como nas políticas de desenvolvimento, nas
pesquisas, na legislação, na alocação de recursos e, finalmente, no planejamento,
implementação e monitoramento de todos os programas e políticas públicas do Estado (ONU,
2001).

No Brasil, os primeiros arranjos institucionais que tentaram responder às demandas


das mulheres foram a criação do Conselho da Condição Feminina, no Estado de São Paulo, em
1983, e a criação da Delegacia de Defesa da Mulher, no mesmo Estado, em 1985. A partir de
1985, foram criadas também as Casas-Abrigo e de Acolhida, bem como Delegacias
Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), subordinadas à Polícia Civil, em outras
unidades federativas (SANTOS, 2008). Em âmbito Nacional, o Conselho Nacional dos Direitos
29

da Mulher (CNDM), vinculado ao Ministério da Justiça, foi implantado ainda em 1985, no


Governo Sarney, para promover políticas que visassem a eliminar a discriminação contra a
mulher e assegurar sua participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do País.
Posteriormente, no final do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, foi
criada a Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher (SEDIM), também vinculada ao Ministério
da Justiça (CUNHA, 2018). A partir da criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher,
em meados da década de 1980, com as reivindicações dos movimentos feministas e articulações
como o chamado Lobby do Batom, desde a Assembleia Constituinte, a temática específica
sobre a mulher passou a estar presente nas agendas de alguns órgãos do Governo, como o
Ministério do Trabalho e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (CONTERATTO; 2016).

Entretanto, apenas a partir de março de 2003, com a criação, no primeiro Governo


Lula, da Secretaria Especial de Políticas Para Mulheres, subordinada diretamente à Presidência
da República (SPM-PR) e com status de Ministério, é possível dizer que a estruturação das
políticas para mulheres começou a ocorrer de forma mais ampla. O Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher, que, desde 1985, teve suas funções e atribuições bastante modificadas,
deixou de pertencer ao Ministério da Justiça em 2003, passando a integrar a estrutura da
Secretaria Especial de Políticas Para Mulheres (SPM-PR), contando, em sua composição, com
representantes da sociedade civil e do Governo. Isso ampliou significativamente o processo de
controle social sobre as políticas públicas para as mulheres.

Paralelamente, houve mudanças na esfera jurídico-legal, com a introdução de diversas


leis, como a da Lei Maria da Penha (Lei Federal n.º 11.340/2006) em 2006. Em 2015,
impulsionada pelo trabalho de movimentos sociais e feministas, entrou em vigor a Lei Federal
n.º 13.104/2015, que alterou o Código Penal e incluiu o feminicídio como homicídio
qualificado. (CONTERATTO, 2016).

Além de lançar um plano nacional com diretrizes a serem seguidas por todos os entes
federativos, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2004; 2008; 2013), a Secretaria
Especial de Políticas Para Mulheres (SPM-PR) criou a Política Nacional de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres (2007) e o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra
a Mulher (2007), compreendendo a ação conjunta dos diversos setores envolvidos no combate,
na prevenção, na assistência e a na garantia de direitos das mulheres. Salienta-se que o Rio
30

Grande do Sul foi o último Estado da Federação a assinar o Pacto, o que ocorreu somente em
201110.

4. PATRULHA MARIA DA PENHA

Já em contrapartida, o Estado do Rio do Grande do Sul foi pioneiro no Brasil na criação


do Programa Patrulha Maria da Penha, o qual, posteriormente, foi recebido e colocado em
prática em todas as Polícias Militares do Brasil. No ano de 2012, a Brigada Militar criou o
programa no âmbito da instituição policial gaúcha, visando ao combate à violência doméstica
e acompanhamento da vítima, buscando, dessa forma, uma maior efetivação da Lei Maria da
Penha, que na época completava seis anos de existência.

“No Rio Grande do Sul, uma viatura decorada de lilás circula pelas ruas há um ano.
É a “Patrulha Maria da Penha”, projeto apoiado pelo Banco Mundial que une a
Brigada Militar, a Polícia Civil, o Instituto Geral de Perícias e a Superintendência de
Serviços Penitenciários para levar mais proteção às mulheres. Os policiais (homens e
mulheres) que circulam nela foram treinados para cumprir um dos principais
elementos da Lei Maria da Penha as medidas protetivas de urgência, que têm de se
dar em até 48 horas após a agressão. O trabalho dos policiais é mostrar às mulheres
as alternativas à agressão. Nas visitas, as mulheres também ficam sabendo como obter
a separação e a guarda dos filhos. [...] Os policiais também visitam o agressor para
orientá-lo em relação às medidas e suas consequências. No final de cada encontro, a
Patrulha elabora um relatório que, nos casos mais graves, pode dar mais subsídios ao
inquérito policial. (ONU, 2013)” (Textos e Contextos, p. 404,2014).

Para Nadine Anflor (COMPROMISSO E ATITUDE 11, 2013), ex-coordenadora das


Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher e atual chefe de Polícia Civil do Estado
do Rio Grande do Sul, a expectativa que gira em torno da Patrulha Maria da Penha é a de
fiscalizar os casos que chegam até a Delegacia da Mulher e poder diagnosticar àqueles que
devem ser priorizados. “Quando a mulher pedir socorro, esperamos que a Patrulha tenha
condições de apontar que ali há uma reincidência de violência, para que se acenda uma luz de
emergência” afirma.

10
O Governo do Estado do Rio Grande do Sul contou com uma Secretaria Estadual de Políticas Para as Mulheres
(SPM-RS) de 2011 até o início de 2015. A extinção da SPM-RS foi uma das primeiras medidas tomadas pelo
governador eleito em 2014, José Ivo Sartori – Lei n.º 14.672 de 1.º de janeiro de 2015, para fins de corte de gastos.
Desde então, a manutenção e articulação entre os serviços não tem sido incentivada, conforme demonstrou o estudo
de Conteratto, Martins e Leal (2017).
11
Programa de cooperação entre o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Senado Federal,
a Câmara dos Deputados e o Governo Federal, por meio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência
da República e o Ministério da Justiça, visando compromisso e atitude de todos com a lei Maria da Penha.
31

A atuação efetiva da Patrulha Maria da Penha, na rede de proteção às vitímas de


violência doméstica, vem se adaptando com o passar dos anos, visando a sempre melhor atender
e acompanhar as vitímas. Atualmente, a Patrulha Maria da Penha tem sua atuação regulada pela
Brigada Militar, através da Nota de Instrução12 nº2.23/2018, a qual visa padronizar a atuação
em todo âmbito da Estado do Rio Grande do Sul, dando as diretrizes a serem seguidas pelas
Patrulhas Maria da penha. A nota de instrução determina que as Patrulhas atuarão nos casos em
que houver sido deferida a medida protetiva de urgência e o despacho do magistrado
responsável pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher solicitando o
acompanhamento do caso específico pelo efetivo da Patrulha Maria da Penha. Preste atenção
que, nesse ciclo, participam diversos orgãos do Poder Público, formando assim uma rede de
proteção contra a violência doméstica, conforme prevê o art. 1º, §1º da lei 11.340/06:

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.
(...)
§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos
das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-
las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

Saliento aqui que ainda não existem Juizados de Violência Doméstica e Familiar
Contra a Mulher em todos os Municípios do Estado do Rio Grande do Sul, o que, de forma
alguma, impossibilita a existência e atuação da Patrulha Maria da Penha naquele Municipio,
ficando a competência para as Varas Criminais, conforme prevê no Art. 33. lei 11.340/06:

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar


contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.

12
Integra a doutrina institucional, com o escopo de consignar a normatização das ordens do comando sobre
determinado tema, de maneira particularizada, tanto na esfera administrativa como operacional.
32

Após o despacho do magistrado competente, a Patrulha Maria da Penha realiza visitas


as vitímas indo diretamente em suas residências já com cadastro atualizado devido ao pouco
tempo do registro da ocorrência policial realizada junto a uma Delegacia Especializada,
emitindo um relatório mensal acompanhado sempre de certidões comprovando a atual situação
da vítima. Além do relatório mensal, o efetivo da Patrulha Maria da Penha possui cinco tipos
de certidões13 diferentes, sendo elas do tipo: a primeira de não localização da vítima, a segunda
de quando é identificado que a vítima está em situação de vunerabilidade14,a terceira é
confeccionada mediante a recusa de atendimento por parte da vítima, a quarta certidão é a de
fiscalização de medida protetiva de urgência com o retorno do companheiro para o lar e a quinta
e última, mas não menos importante que as demais, é a confeccionada por término do
acompanhamento dessa vítima. Sendo assim, o acompanhamento no caso concreto pelo efetivo
da Patrulha Maria Penha se inicia no despacho do magistrado competente e pode terminar de
duas maneiras, ou no momento que expira o prazo da medida protetiva de urgência e o
magistrado entende não ser necessário a renovação ou quando o Poder Judiciário fica
convencido que o caso está realmente resolvido, usando o relatório e as certidões como
instrumento de assessoramento, e a vítima se sentindo totalmente segura a retornar suas
atividades cotidianas longe do medo da violência doméstica, (BRIGADA MILITAR. 2019).
No dia 06 de abril de 2016, foi aprovado pela Comissão de Direitos Humanos e
Legislação Participativa (CDH), o Projeto de Lei do Senado 547/2015, da Senadora Gleisi
Hoffman, que institui o Programa Patrulha Maria da Penha e busca a nacionalização do
programa. O projeto foi apresentado na Câmara dos Deputados em 21 de março de 2017 e está
com a nomenclatura de PL7181/17, tendo sua última movimentação na câmara em 24 de abril
de 2019 na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO), tendo
o texto sido aprovado, com emenda, tendo como relatora a Dep. Perpétua Almeida (PCdoB-
AC), (BRASIL, 2019).
A Senadora justifica o projeto referindo que, mesmo havendo várias formas de proteção
às mulheres em situação de violência, as estatísticas ainda demonstram que os autores das
agressões continuam praticando atos violentos mesmo havendo medidas protetivas em favor da
vítima. Argumenta, ainda, que diversos Municípios Brasileiros têm utilizado a Patrulha Maria
da Penha como forma de proteger as vítimas de violência doméstica já identificadas pelos

13
As certidões estão nas páginas de nº 55 a 59.
14
é a característica de quem ou do que é vulnerável, ou seja, frágil, delicado e fraco. A vulnerabilidade é uma
particularidade que indica um estado de fraqueza do ser humano, nesse caso citado a vítima de violência doméstica.
33

órgãos de Segurança Pública e Poder Judiciário havendo redução dos casos de violação às
medidas protetivas (BRASIL, 2019).

4.1. CAPACITAÇÃO DO EFETIVO DA PATRULHA MARIA DA PENHA

A Brigada Militar, como já foi dito anteriormente, pioneira na implementação do


Programa Patrulha Maria da Penha, visou, além de buscar a efetivação da lei Maria da Penha,
também a qualificação do efetivo que iria atuar nas Patrulhas, seguindo, dessa forma, como
reproduz a lei 11,340/06 no seu título III, da assistência à mulher em situação de violência
doméstica e familiar:

Art. 8º (...) Inc. IV - a implementação de atendimento policial especializado para as


mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do
Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados
no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;

Sendo assim, o comando da instituição Policial Militar formulou um curso de


capacitação para o efetivo que fosse atuar na Patrulha Maria da Penha com 30 horas de duração
e caderno de disciplinas todo voltado ao atendimento das vítimas de violência doméstica, sendo
somente então possível o Militar com aprovação no curso e preenchidos os requisitos listados
no titulo 03 de execução, item 6 da Nota de Instrução nº2.23/2018, atuar diretamente em
contato com a vítma:

6) Seleção para o Curso da Patrulha Maria da Penha


O Policial Militar para integrar a Patrulha Maria da Penha deve preencher os seguintes
requisitos:
a) Ser voluntário(a);
b) Policial Militar da ativa;
c) Estar no mínimo no comportamento bom;
d) Estar apto(a) para o serviço, condições físicas e psíquicas;
e) Não estar respondendo procedimento investigativo administrativo, que enseje
pena de demissão;
f) Não possuir registro policial e/ou administrativo como autor (a) ou coautor (a)
da prática de crimes de violência contra mulher;
g) Aptidão e desenvoltura para a comunicação com o público.
34

Além das disciplinas ministradas no curso, a Brigada Militar disponibiliza também aos
integrantes da Patrulha Maria da Penha o caderno de diretrizes no atendimento e procedimento
a serem executados nas mais diversas situações com nome de Procedimento Operacional Padrão
(POP, nº4.2)15, respeitando, desta forma, a solicitada capacitação prevista na Lei Maria da
Penha. A Brigada Militar, desde o ano de 2012, com o início do programa no Estado do Rio
Grande do Sul, já realizou vinte e cinco cursos e possui a previsão de mais cinco turmas no mês
de Dezembro do corrente ano, chegando ao número de mil e dezoito Policiais Militares já
formados, estando todos aptos a executar o serviço diário na Patrulha Maria da Penha.
(BRIGADA MILITAR. 2019).

Conforme prevê a Nota de Instrução16 nº2.23/2018, o efetivo da patrulha deve ser


composto por, no mínimo, dois Policiais Militares, sendo, necessariamente, que um dos dois
seja do sexo feminino e com uma viatura bem caracterizada com slogans do Programa Maria
da Penha visando evitar qualquer receio ou represália por parte da população, devido o maior
índice de atendimentos serem em bairros de classe baixa, onde, infelizmente, predomina a
incidência de crimes, principalmente o Tráfico de Entorpecentes. Desde a implementação do
programa pela Brigada Militar no Estado do Rio Grande do Sul, já foram atendidas setenta e
nove mil trezentos e setenta (79.370) vítimas de violência doméstica sendo realizadas pelas
patrulhas cento e sete mil e quinhentas e sete (107.507) visitas em todo o Estado do Rio Grande
do Sul, sendo que, dos 497 municípios existentes, a Brigada Militar possui guarnições de
Patrulha Maria da Penha em 45 municípios, os quais possuem o maior número de violência
doméstica registrada mediante pesquisa dos Órgãos de Segurança Pública, visando focar nas
localidades com maior índice de ocorrências. Desde o início do programa, nenhuma vítima de
violência doméstica acompanhada pela Patrulha Maria da Penha foi vítima de feminicídio, o
que comprova a efetivação da medida diretamente no resultado. As informações citadas acima

15
O procedimento operacional padrão, nº 4.2 está na página de nº 60.
16
A Nota de Instrução integra a doutrina institucional, com o escopo de consignar a normatização das ordens do
comando sobre determinado tema, de maneira particularizada, tanto na esfera administrativa como operacional.
35

foram repassadas pela Adjuntoria de Polícia Comunitária do Estado Maior da Brigada Militar17.
(BRIGADA MILITAR. 2019).

Não são em todas as unidades da Brigada Militar que são formadas as guarnições de
Patrulha Maria da Penha, como por exemplo as unidades com atividade específica, como por
exemplo: Batalhão de Operações Especiais, Batalhão Ambiental e Batalhão de Aviação, sendo
sim previstas nos quadros de efetivo de todas as unidades chamadas operacionais, as que
possuem efetivo que atendem ao chamado da população via canal 190, atualmente 41 unidades
da Brigada Militar possuem a Patrulha Maria da Penha atendendo as vítimas de violência
doméstica.

5. JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS


MULHERES (JVDFM).

A Lei 11.340/06 trouxe diversas medidas visando a erradicação da violência doméstica


e, mais do que isso, trouxe também a criação de serviços especializados com a finalidade de
que a punição, proteção, assistência e prevenção possam ser aplicadas integralmente nos casos
de violência doméstica. Já no seu primeiro artigo da lei, fica instituído a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra as mulheres (PASINATO, 2011).

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.

Se olharmos as diferenças do Juizado Especializado, criado no primeiro artigo da lei,


com as varas não especializadas, se nota que a principal diferença são as equipes de atendimento
multidisciplinar, integradas por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e
de saúde, o que trás a idéia não só de punição ao agressor da violência e sim o acompanhamento
da vítima, dos filhos e também do próprio autor da violência doméstica. No Art. 30 da lei

17
A Coordenação de Polícia Comunitária está estabelecida na 3ª Seção do Estado Maior da Brigada Militar sendo
formada por uma equipe de Adjuntoria de Polícia Comunitária, onde ocorrem as atividades de Coordenação,
Normatização, Avaliação, Ensino e Treinamento de Programas, sob responsabilidade do Estado-Maior.
36

11.340/06, fica destacada a importância da equipe multidisciplinar focar suas atenções às


crianças e adolescentes inseridos no contexto da violência doméstica, sejam eles por vítima ou
por presenciarem as violências sofridas pela mãe (BRASIL, 2006, art. 1º, 29º e 30º).

Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem
a ser criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser
integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.

Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições


que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz,
ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em
audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e
outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial
atenção às crianças e aos adolescentes.

Além das políticas públicas criadas pelo Poder Executivo, o Poder Judiciário também
se mostra engajado no combate a violência doméstica criando encontros para debater o assunto,
gerando, assim, uma reflexão mais ampla sobre o tema. Atualmente, temos eventos anuais para
a discussão da Lei, como a Jornada Lei Maria da Penha e o Fórum Nacional de Violência
Doméstica (Fonavid), com capacidade de criar enunciados que permitam uma implementação
mais efetiva e eficaz dos Juizados de Violência doméstica e Familiar contra as mulheres,
encontros organizados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Veja, nesses casos, como a
violência doméstica é algo que necessita de uma rede de proteção na qual não é só de encargo
do Poder Executivo, e sim, de todos os poderes. Recentemente, foi criada a Política Nacional
Judiciária do Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (BRASIL, 2017).
Nesse viés, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), fazendo jus a sua
competência, criou nove Juizados Especializados, conforme prevê a Lei Maria da Penha, e as
distribuiu em oito comarcas com sede nos seguintes Municípios: Rio Grande, Pelotas, Porto
Alegre (2), Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Santa Maria. Destas nove
Varas, apenas a primeira de Porto Alegre, inaugurada em 28/03/2008, através da Resolução
663/08, e somente seis anos depois criou a 2ª vara na capital em 24/03/2014, conta com uma
equipe multidisciplinar especializada, isto é, uma equipe que atenda exclusivamente à Vara de
violência doméstica ao invés de ser responsável por atender às demandas de outras Varas do
Fórum Municipal. A criação da 2ª Vara na Capital foi uma decisão que partiu do Conselho da
Magistratura (COMAG) do TJ-RS, tendo em vista o grande volume de demandas que
tramitavam na 1ª Vara de Porto Alegre (cerca de 23 mil processos, dos quais aproximadamente
37

17 mil aguardavam julgamento)18. Todos os Juizados acima citados realizam suas atividades
conforme o previsto no “Manual de rotinas e estruturação dos Juizados de Violência Doméstica
e Familiar Contra a Mulher” (CNJ, 2011). Mais uma das iniciativas do Conselho Nacional de
Justiça afim de uniformizar os procedimentos e atendimento dos Juizados Especiais criados
com a Lei 11.340/06. Os Juizados que não contam com a equipe multidisciplinar especializada,
usam das articulações dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra as Mulheres com
as Redes de Enfrentamento à Violência Doméstica 19 de seus respectivos Municípios, sendo de
primordial importância os Centros de Referência para Mulheres15, que existem em todos os
municípios do Estado do Rio Grande do Sul dentre outros centros de ajuda, muito mais
divulgados e participativos após a institucionalização das Redes de Atendimento e
Enfrentamento às violências contra as mulheres (BRASIL, 2011).
Com a ideia de que para implementar a Política Nacional de Enfrentamento a
Violência Doméstica seria necessário um engajamento de todos os poderes e, ainda assim, a
ajuda de outras entidades, em 2010, foi criado o conceito das “Redes de Atendimento e
Enfrentamento as Violências Contra as Mulheres” a qual destaca claramente a importância do
papel de cada entidade em sua área de atuação, sendo ela no combate à violência ou na
prevenção e garantia de direitos das mulheres. A Rede de Enfrentamento é composta por
formuladores, fiscalizadores e executores de políticas voltadas para as mulheres, centros de
educação e reabilitação aos agressores, Universidades, Órgãos Federais, Estaduais e Municipais
responsáveis pela garantia de direitos, serviços de Segurança e Defesa Civil, rede de
atendimento e serviços especializados e não especializados para as mulheres (BRASIL, 2011).
Em consonância à Rede de Enfrentamento, a SPM-PR lançou, em 2013, o programa ―Mulher,
Viver sem Violência, objetivando integrar e ampliar os serviços públicos existentes voltados às
mulheres em situação de violência (CONTERATTO, 2016).
O Governo do Estado do Rio Grande do Sul contou com uma Secretaria Estadual de
Políticas Para as Mulheres (SPM-RS) de 2011 até o início de 2015. A extinção da SPM-RS foi
uma das primeiras medidas tomadas pelo Governador eleito em 2014, José Ivo Sartori – Lei n.º
14.672 de 1.º de janeiro de 2015, para fins de corte de gastos. Desde então, a manutenção e

18
A Coordenação CAPITAL TERÁ 2º JUIZADO DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. Agência de Notícias
da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Disponível em:
http://www2.al.rs.gov.br/noticias/ExibeNoticia/tabid/5374/Default.aspx?IdMateria=291446 Acesso em 14 ago
2019.
19
diz respeito à atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais, não-governamentais e a
comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção e de políticas que garantam o
empoderamento das mulheres e seus direitos humanos
38

articulação entre os serviços não tem sido incentivada. Um dos aspectos abordados pela Lei
Maria da Penha, assim como pelos Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres elaborados
pelas Secretarias de proteção as mulheres dos Estados da Federação é a necessidade da gestão
e atuação interdisciplinar inspirada pela temática, que consistem em propostas, as quais deram
fundamentação as políticas de proteção as mulheres. (CONTERATTO, 2016). O conceito de
gestão intersetorial/interdisciplinar é difundido como ―transversalidade, que é a elaboração de
uma matriz estratégica que oriente uma nova visão de competências políticas, institucionais e
administrativas que garantam a responsabilização dos diversos Agentes Públicos sobre as
assimetrias de gênero (BANDEIRA, 2004).
Assim sendo, a transversalidade une na responsabilidade os órgãos do governo federal
e dos entes federativos e, para que isso ocorra, faz-se necessário que a agenda contra a
desigualdade de gênero esteja presente institucionalmente na rotina desses Órgãos. Portanto,
seja por meio de diretorias, secretarias ou áreas técnicas, deve haver em cada órgão a
consciência de ―que homens e mulheres não possuem os mesmos problemas e necessidades,
mas devem possuir os mesmos direitos (BRASIL, 2011, p. 6).
A atuação das equipes multidisciplinares nos serviços dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar Contra as Mulheres permite abordar os problemas de maneira intersetorial
e combinada, pois além de realizar um exame físico e psicológico da vítima de violência,
proporciona além de um atendimento humanizado e qualificado, o encaminhamento das
mulheres vítimas à programas de atendimento psicológico, de saúde, de trabalho ou de
assistência social, conforme cada situação demandar e o desejo e vontade de cada mulher. Essa
é a importância do encaminhamento das mulheres vítimas de violência doméstica que estão em
processo judicial buscando uma medida protetiva para a Rede de Atendimento. Nessa
perspectiva, a multidisciplinaridade possibilita uma interação entre as disciplinas de atenção à
violência doméstica, não anulando a especificidade de cada uma, e sim refletindo os limites e
possibilidades de cada área (GOMES, 2009).
A institucionalização da multidisciplinaridade e intersetorialidade na atuação e gestão
dos serviços de atendimento à violência doméstica, por meio da criação das Redes de
Atendimento e Enfrentamento às mulheres em situação de violência, representa uma inovação
institucional governamental. A inovação institucional está relacionada, nesse caso, ao
envolvimento de organismos do Poder Executivo, Judiciário e Legislativo no combate a esse
tipo de violência, potencializando a articulação de parcerias, a formulação de políticas públicas
e programas em conjunto, e o monitoramento destas políticas e programas através de um
39

Protocolo de Fluxos.

5.1. OS JULGAMENTOS DOS CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NOS


JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS
MULHERES (JVDFM).

A Lei Maria da Penha atribuiu aos Tribunais de Justiça Estaduais e do Distrito Federal
a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres e a esses a
responsabilidade para que as mulheres em situação de violência doméstica e familiar tenham
acesso a seus direitos, conforme consta no Art. 14 da lei 11.340/06.

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da


Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União,
no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e
a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra
a mulher.

Antes da Lei Maria da Penha e da criação dos JVDFM, os crimes de violência


doméstica e familiar eram processados pelos Juizados Especiais Criminais (JECRIMs), que,
pela definição legal, processam e julgam crimes de menor potencial ofensivo, conforme Lei
9.099/95. Os crimes advindos das Delegacias de Defesa das Mulheres eram, em sua maioria,
julgados nesses Juizados. A atenção jurídica à violência doméstica por meio dos JECRIMs era
considerada inadequada por diversos juristas e por feministas, pois de forma alguma amparava
a mulher vítima de violência (PASINATO, 2011; DIAS, 2019; AZEVEDO, 2011).

Desde a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres,


os crimes de violência doméstica deixaram de serem julgados nos JECRIMs, que
institucionalmente falando, continuaram existindo com sua atenção voltada aos crimes de
menor potencial ofensivo, com essa quebra de paradigma, a Lei Maria da Penha estabelece que
a violência doméstica não se enquadra em crimes de menor potencial ofensivo e não deve ser
tratada como tal, dando um foco muito maior para complexidade que o crime de violência
doméstica necessita. Maria Berenice Dias (2019) reforça que, a partir do momento em que a
lesão corporal leve foi considerada de pequeno potencial ofensivo, a violência intrafamiliar e
contra a mulher praticamente deixou de ser punida, pois os conflitos passaram a ser
solucionados judicialmente de forma descrita como consensual, seguindo a rotina do JECRIMs,
40

o qual visa a conciliação entre o agressor e a vítima, em forma de acordo o qual na maioria das
vezes acaba em prestação de serviços comunitários ou pagamento de cestas básicas.
(AZEVEDO, 2011).

Enquanto Azevedo (2011) acredita que não há um consenso sobre o significado das
implantações dos JECRIMs para o combate à violência de gênero, PASINATO (2011)
considera que a atuação dos JECRIMs quanto à desigualdade de gênero é:

―Responsável pela discriminação das mulheres no acesso à justiça, além de


representar um retrocesso na luta pelos direitos das mulheres, suscitando interessantes
questões a respeito do funcionamento do Sistema de Justiça Criminal Brasileiro, da
democratização da justiça e dos sentidos atribuídos a direitos e cidadania‖
(PASINATO, 2004, p.2).

A discriminação da violência doméstica pelas instituições políticas transparece nas


mulheres agredidas ou ameaçadas que elas poderiam facilmente sofrer violências institucionais;
sentirem-se desamparadas pelo Estado; e assumirem o fato de que suas integridades físicas não
têm valor algum, criando uma sensação de impunidade aos agressores, o que de fato acarretou
um aumento gigantesco nos crimes de violência doméstica no Brasil. Foi somente a partir da
Lei Maria da Penha que foi instituído um aumento da pena máxima em abstrato, se a lesão for
praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, que passou a ser punido com três meses a três anos de detenção
(AZEVEDO, 2011).

A criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres, mais


do que o aumento da pena, trouxe como principal acréscimo à vítima a recepção e o atendimento
de quem procura nessas instituições um acolhimento de pessoas capacitadas, ou seja, com
conhecimento sobre as especificidades da violência baseada no gênero, sobre os serviços
especializados no atendimento a mulheres para fazer encaminhamentos adequados às suas
necessidades e, por fim, preparados para oferecer atenção e orientação às vítimas de forma
respeitosa e não preconceituosa (PASINATO, 2011).

Os Juizados Especializados são a etapa mais importante para efetivação da Lei Maria
da Penha de fato. Com o advento da Lei 11.340/2006, os assuntos referentes à violência contra
a mulher passaram por três etapas jurídicas distintas, que são as seguintes: 1ª) da publicação da
41

Lei (07.08.06) até 21.09.06 ainda aplicava-se a legislação anterior; 2ª) a partir de 22.09.06, data
de vigência da Lei Maria da Penha; 3ª) depois da criação dos JVDFM (em cada Estado, por lei
estadual, e no Distrito Federal e Territórios pela União – art.14). Gomes e Bianchini (2006).

Do viés jurídico, a grande inovação trazida pelos Juizados Especializados foi a união,
em um só Juizado, da competência ―cível e criminal para conhecer e julgar ―as causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. De acordo com o
artigo 33 da Lei 11.340/2006, enquanto não estruturados os Juizados específicos, as varas
criminais podem acumular as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, sendo que será
garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das
causas referidas.

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar


contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o
processo e o julgamento das causas referidas no caput.

Seguindo, no artigo 34 da Lei Maria da Penha, ressalta-se que a assistência judiciária


e curadoria podem ser acessadas para a implementação dos Juizados (BRASIL, 2013).

A Lei Maria da Penha deixa uma margem reduzida para a conciliação entre agressor e
vítima, pois exige que a mulher vítima de agressão doméstica oficialize sua queixa por meio de
inquérito policial e processo judicial (AZEVEDO, 2011).

Por muitas veses, a falta de capacitação dos profissionais que participam, desde o
registro da ocorrência policial até o processo nos Juizados Especializados, acabam fazendo com
o que muitas mulheres desistam de seguir no processo, vindo tudo isso a implicar, conforme
explica Azevedo (2011), na recusa à concessão de medidas protetivas de urgência e prisões
preventivas, que dependem da discricionariedade do/a Juiz/a – valendo-se das relações
domésticas e familiares da vítima – para decidir sobre a necessidade da segregação cautelar do
indivíduo acusado. a contribuição do Sistema Jurídico para a perpetuação da desigualdade de
gênero. Existem alguns limites, dentro da doutrina jurídica, que dificultam o enfrentamento à
42

violência contra a mulher. Alguns desses limites relacionam-se a escassa eficácia secundária
das normas que combatem apenas no papel a violência doméstica, já que muitos feminicídios
ocorrem com as vítimas já estando com uma medida protetiva expedida pelo Estado, e também
pelo fato que a punição ao agressor quase nunca resolve o problema de forma satisfatória para
a vítima. Em relação aos casos que envolvem conflitos de gênero, os papeis sociais são sempre
referenciados às instituições família e casamento e aos aspectos definidores desses papeis
sociais nessas instâncias: sexualidade feminina e trabalho masculino. (2008 apud AZEVEDO,
2011).

Muitas vezes, os/as Juízes/as se valem desses papéis definidores para compreender as
narrativas de réu e acusado, ou agressor, e vítima, como sugere Fachinetto (2012). Para esta
última autora, as narrativas sobre um fato ou sobre determinada pessoa são variadas, múltiplas,
não coerentes e não lineares. A multiplicidade de versões para a mesma história, que partem
dos agentes, dos réus, das testemunhas e das vítimas, são histórias em disputa, e não há como
dissociar tais histórias sobre a vida social das suas práticas e dos seus significados sociais, tão
complexos (FACHINETTO, 2012). A violência de gênero e a violência contra a mulher podem
passar por um processo de ressignificação nos momentos de julgamentos, onde ocorrem a
banalização da violência, a valorização das instituições da família e do casamento em
detrimento aos direitos das mulheres, invisibilizando o problema da violência (SANTOS,
2010).

5.2. A ESTRUTURA DE PROFISSIONAIS NOS JUIZADOS DE VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES (JVDFM).

A estrutura de profissionais considerada ideal para as varas especializadas é disposta


em dois grupos: o primeiro, com até 2.000 processos em trâmite; e o segundo, com 2.000 a
5.000 processos. De acordo com o Manual (CNJ, 2010), propõe-se ao primeiro grupo que tenha:
1 Juiz, 1 assessor de Juiz, 1 diretor de secretaria/escrivão, 2 servidores do cartório, 2 Oficiais
de Justiça, 2 profissionais da equipe multidisciplinar (sendo 1 Psicólogo e 1 Assistente Social),
e 2 profissionais da equipe de execução (sendo 1 servidor e 1 psicólogo), (CNJ, 2010).

Para as instituições que se enquadram dentro do segundo grupo, com mais processos,
sugere-se que as varas possuam: 1 Juiz, 1 assessor de Juiz, 1 diretor de secretaria/escrivão, 4
43

servidores do cartório, 5 Oficiais de Justiça, 2 profissionais da equipe multidisciplinar (sendo 1


Psicólogo e 1 Assistente Social), e 3 profissionais da equipe de execução (sendo 1 servidor, 1
assistente social e 1 psicólogo) (CNJ, 2010).

Os profissionais das equipes multidisciplinares, em sua maioria não estão vinculados


diretamente aos Juizados Especializados, e sim, como se fosse uma espécie de serviço
voluntário, como por exemplo: Vara Especializada e equipe multidisciplinar do Fórum, não
sendo exclusivamente atuantes no Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra as
Mulheres; Vara Especializada e Voluntariado, e aqui se pega as pessoas integrantes de diversas
políticas públicas voltadas contra a violência doméstica; Vara Especializada e Centro de
Referência a Mulher; Vara Especializada e Estudantes das mais diversas universidades. O cargo
de Escrivão não existe efetivamente nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra as
Mulheres no Rio Grande do Sul. Analisando o primeiro artigo da Lei Nº 14.496/2014, que não
criou os cargos de Escrivão para as varas desse grupo, apenas do outro. Ou seja, as varas
especializadas precisam “pegar emprestado” de outras varas do foro os Escrivães para que
desempenhem, da melhor forma possivel, suas atividades. Em paralelo aos Escrivães, as
equipes multidisciplinares também não são encontradas nas Varas Especializadas, com exceção
a 1ª Vara de Porto Alegre, como já mencionado anteriormente. Nos outros casos, são usados os
profissionais vinculados ao Foro todo e não somente a Vara Especializada como,
principalmente, Psicólogas e Assistentes Sociais, o que acaba gerando um encaminhamento por
parte das Varas Especializadas às vítimas e não um atendimento satisfatório já no Juizado.

Outro ponto relevante são as salas de acolhimento, as quais são espaços preparados
para o acolhimento da vítima já na primeira audiência no Juizado Especializado, depois do
trâmite do Inquérito Policial. O primeiro contato da vítima com o Poder Judiciário será na
chamada “Audiência de Acolhimento” e, enquanto a vítima espera a audiência, ou após, na sala
de acolhimento já lhe é prestado a assitência psicológica e da Assistente Social. A Audiência
de Acolhimento não é a Audiência Preliminar. A Audiência Preliminar imposta pela Lei Maria
da Penha, no seu Art. 16:

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que
trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e
ouvido o Ministério Público.
44

O Espírito da Lei, nesse caso, é o de evitar que as mulheres em situação de violência


tenham que comparecer à Delegacia no caso de retratação, exigindo que esta seja realizada
perante um Juiz. Em caso de lesão corporal, a Audiência Preliminar não é necessária, pois o
processo passa a ser considerado de Ação Penal Pública Incondicionada (LOPES, 2016). As
Audiências de Acolhimento, no entanto, são realizadas para qualquer crime disposto na Lei
Maria da Penha, inclusive os de lesão corporal. Olhe a importância desse primeiro contato da
vítima com o Poder Judiciário, sendo que, para os casos passarem a ser da esfera da Justiça
Criminal, cabe às mulheres selecionarem as condutas passíveis de criminalização, apesar de
serem cometidas por homens com os quais estas, via de regra, têm relações de afeto novas ou
antigas (ALIMENA, 2010). Carla Alimena (2010) explica que várias dessas denúncias são atos
difíceis, emotivos e com significados singulares. Não existe uma história igual a outra no
Juizado; cada uma das histórias parece conter fragmentos inapreensíveis da vida íntima das
partes (ALIMENA, 2010, p. 131).

As vítimas procuram por resultados dos mais variados possíveis quando chegam aos
Juizados especializados, algumas querem organizar seus relacionamentos, buscando ajuda de
um terceiro, uma autoridade (patriarcal) para legitimar os limites impostos na prática, pelas
mulheres, as próprias demandantes, em suas vidas privadas e no lar (ALIMENA, 2010, p. 131).
Outras mulheres, contudo, buscam respostas como o afastamento do lar e separação de seu(a)
parceiro (a) íntimo(a) (ALIMENA, 2010).

6. DELEGACIA ESPECIALIZADA DE ATENDIMENTO À MULHER

Com o passar dos anos e a violência doméstica tomando uma proporção gigantesca no
contexto da Sociedade Brasileira, se acrescenta a esse aumento a complexidade do fato devido
ao envolvimento entre as partes envolvidas nos crimes, foi ficando cada vez mais óbvio que
seria necessário uma atitude, uma mudança na visão sobre esses fatos que por muitas vezes
acabavam ficando invisíveis as autoridades Policiais e Judiciárias do Brasil. Apesar de todas as
políticas visando erradicar a violência doméstica, a Sociedade Brasileira ainda cultiva valores
que estimulam a violência doméstica. Uma das principais razões que ocorre a inferiorização da
mulher, principalmente no ambiente doméstico é em decorrência da desigualdade sociocultural
existentente no Brasil. O patriarquismo ainda muito existente na Sociedade Brasileira estimula
ao homem ver a si mesmo como sendo mais forte e superior a mulher:
45

Ditados populares, repetidos de forma jacosa, absolveram a violência doméstica: “em


briga de marido e mulher ninguém mete a colher”; “ele pode não saber por que bate,
mas ela sabe por que apanha”. Esses, entre outros ditos repetidos como brincadeira,
sempre esconderam uma certa conivência da sociedade para com a violência
doméstica. Talvez o mais terrível deles seja: “mulher gosta de apanhar”, engano
gerado pela dificuldade que elas têm de denunciar o seu agressor. Seja por medo, por
vergonha, por não ter para onde ir, por receio que não conseguir se manter sozinha e
sustentar os filhos, o fato é que a mulher resiste em buscar a punição de quem ama ou,
ao menos, um dia amou. (DIAS, 2007, p. 15, grifo do autor).

Já na década de 80, era visível que para tentar conter o aumento da violência contra a
mulher era necessário uma mudança no trajeto da Segurança Pública. Sendo assim, em 06 de
agosto de 1985, no Estado de São Paulo, foi criado o primeiro Órgão Público, voltado
diretamente a defesa dos direitos e garantias individuais das mulheres no Brasil, o pioneiro
Estado de São Paulo serviu de exemplo e acabou por extimular a espalhar pelo Brasil inteiro as
Delegacias Especializadas de Atendimento as Mulheres. Entretanto, a aceitação nesse período
de uma delegacia com intuito de ajudar não era algo fácil de incutir na Sociedade Brasileira que
vivia um momento de transição na política do País, saindo de uma Ditadura Militar, em que os
Órgãos Policias eram muitas vezes usados como local de tortura, e caminhando para uma
democracia, a qual tinha por base a Constituição Federal, promulgada 03 anos depois da
primeira Delegacia da Mulher ser instituída no Brasil, a qual teria como principal fundamento
a garantia dos direitos individuais do cidadão:

No começo da história brasileira, a polícia se apresentou consolidada na repressão por


conta de uma lacuna temporal de autoritarismo militar, previamente à Constituição
Federal de 1988. Nesta época, o controle de direitos e garantias individuais, bem como
o emprego da polícia, como força pública para o enfrentamento à legalidade do poder
instituído, exibiu uma reputação de policiamento repressivo. Consolidou-se, então,
uma ideia de polícia afastada da comunidade. (GERHARD, 2014, p. 42).

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a polícia adotou um novo


modelo voltado à prevenção dos crimes e a garantia da Ordem Pública e, nesse viés, não se tem
dúvida de que o crime que mais vitimiza a mulher na Sociedade Brasileira é a violência
doméstica.

Desde então, a conjuntura brasileira detectou uma nova prática, sendo irrefutável o
respeito aos Direitos Humano, onde o poder despótico foi abortado até preponderar a
prevenção e a democracia. Diante dessa nova concepção de Estado, a própria policia
46

inicia um ciclo de transição, onde busca seu aperfeiçoamento, qualificando seu efetivo
a fim de trabalhar com ações proativas e preventivas, respeitando os princípios
fundamentais e os Direitos Humanos, com o objetivo de deixar de ser percebida como
uma polícia truculenta e de prevalecimento, mas como uma policia cidadã e de
proximidade. (GERHARD, 2014, p. 45).

No Estado do Rio Grande do Sul, a primeira Delegacia Especializadas de Atendimento


à Mulher (DEAM) foi criada em 1988, bem antes da homologação da lei 11.340/06 a Lei Maria
da Penha, o que se faz perceber como a violência doméstica já era enxergada no final da década
de 80 e, somente quase 30 anos depois, foi criada uma legislação própria para combater esse
mal intrínsico na Sociedade Brasileira. Atualmente, no Estado do Rio Grande do Sul, existem
22 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher e 21 postos de atendimento vinculados
a Delegacias de Polícia Civil, entretanto, com espaço e equipe qualificada para atendimento a
mulher que for até a Delegacia vítima de violência doméstica. A maioria das mulheres ficam
constrangidas em relatar os seus problemas e a violência doméstica sofrida para policiais do
sexo masculino nas Delegacias, por isso a própria Lei Maria da Penha no seu Art. 12-A, fala
das equipes especializadas para tratamento diferencial nas Delegacias da Mulher, o que em
todos os cargos facilita a conversa e as informações sobre o crime a ser investigado (BLAY,
2003. p. 88).

Art. 12 - A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos


de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão
prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de
equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves
contra a mulher.

Entre as diretrizes das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, podemos


citar a profissionalização das equipes, de técnicas de gestão e de ação operativa; a prevenção,
por dissuasão ou método investigativo; educação e cidadania, contato com o público usuário
sobre o funcionamento dos serviços disponíveis e seus funcionamentos e investigação, uma
ação investigatória conjunta entre Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério Público, Poder
Judiciário e Administração Penitenciária. Segundo a norma técnica de padronização das
DEAMs, os princípios básicos da Lei Maria da Penha, que orientam as Delegacias
Especializadas são os seguintes: Princípio da primazia dos direitos humanos, Princípio da
igualdade, da não discriminação e do direito a uma vida sem violência, Princípio do
47

atendimento integral, Princípio da celeridade, Princípio do acesso à justiça. (O Conselho


Nacional dos Direitos da Mulher, 2019).

As principais funções desempenhadas pelas Delegacias Especializadas pode-se citar a


garantia de proteção policial à vítima, a comunicação dos fatos narrados pela vítima ao
Ministério Público e ao Poder Judiciário; o encaminhamento das vítimas aos serviços de
assistência social e ao Instituto Médico Legal para realização do Exame de Lesão Corporal;
fornecimento de transporte quando houver risco de vida; acompanhamento para busca de
pertences na residência da vítima, no caso de o agressor ainda estiver no local e informação
sobre os direitos das mulheres e os serviços de apoio disponíveis (DIAS; 2019).

Segundo Marques e Santos (2018), os profissionais de saúde, sejam eles médicos,


enfermeiros ou técnicos de enfermagem, que durante o atendimento a uma vítima em situação
de violência doméstica podem fazer a notificação para o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN) e orientar a vítima a fazer denúncia na Delegacia de Polícia Especializada
mais próxima.

A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, recebeu mais destaque após o


ano de 2006 com a entrada em vigor da lei 11.340, Lei Maria da Penha. A lei determina que o
pedido da medida protetiva solicitada pela vítima, seja encaminhada ao Juiz, pela Autoridade
Policial, dentro do prazo de 48 horas. Ao recebê-lo, o Juiz também deverá decidir em 48 horas,
sendo assim dentro de um prazo de no máximo 96 horas a vítima já estará protegida pela medida
protetiva solicitada. Ainda, a medida protetiva de urgência poderá ser requerida por intermédio
do Ministério Público, da Defensoria Pública, como também, pela própria vítima, sem a
necessidade de advogado.

A autoridade policial deve tomar as providências legais cabíveis (art. 10) no momento
em que tiver conhecimento de episódio que configura violência doméstica. Igual
compromisso tem o Ministério Público de requerer a aplicação de medidas protetivas
ou a revisão das que já foram concedidas, para assegurar proteção à vítima (art. 18,
III, art. 19 e §3.º). Para agir o juiz necessita ser provocado. A adoção de providências
de natureza cautelar está condicionada à vontade da vítima. Ainda que a mulher
proceda ao registro da ocorrência, é dela a iniciativa de pedir proteção em sede de
tutela antecipada. (DIAS, 2007, p. 79). A autoridade policial tem o prazo de 48 horas
para encaminhar ao juizado de violencia domestica, ou vara criminal com
competencia para atender estas ocorrencias, a solicitação de medidas protetivas de
urgencia formulada pela vitima (Lei Maria da Penha, Art 12, §1º). (DIAS, 2019, p.
218).
48

A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Porto Alegre, situada no


Palácio da Policia, possui uma estrutura voltada para o melhor atendimento possível da mulher
vitima que chega até o local, normalmente numa condição de total desamparo e abalo
emocional. Muitas das vezes, conduzidas por uma guarnição da Brigada Militar que atende a
vítima via canal de atendimento 190, mas por muitas vezes, a vítima cansada de sofrer violência
doméstica e sofrer calada chega à Delegacia Especializada sozinha ou acompanhada dos
próprios filhos, na maioria das vezes, menores de idade. A vítima não necessita estar
acompanhada de advogado, pois lhe é garantido o acesso ao serviço da Defensoria Pública ou
Assistência Judiciária gratuita conforme Art. 28 da lei Maria da Penha:

Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o


acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos
termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e
humanizado.

Mesmo assim, se tomado seu depoimento, realizado o registro da ocorrência, tomados


os termos de representação juntamente com o pedido de medida protetiva de urgência sem a
presença de um advogado ou de um Defensor Público, nada disso irá causar nenhum tipo de
nulidade dos atos narrados. A Delegacia Especializada de Porto Alegre, conforme prevê a Lei
Maria da Penha possui uma área reservada para que a vítima seja ouvida e sempre disponibiliza
uma policial do sexo feminino para que acompanhe e escute a vítima nesses relatos, essa policial
é qualificada pela Instituição Polícia Civil, para que melhor atenda as vítimas nesss casos,
conforme consta o Art. 10-A e 10-A, §2º,I da lei Maria da Penha. (DIAS; 2019).

Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o


atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores -
preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados.

§2º, I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual
conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de
violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência
sofrida;

Na Delegacia Especializada de Porto Alegre, a sala de espera onde as vítimas


aguardam serem atendidas existe em uma das paredes brancas, fotografias da Exposição
Retratos da Penha, que retrata vítimas de violência doméstica que denunciaram os seus
agressores e conseguiram reestruturar as suas vidas. Além disso, cartazes espalhados com frases
de incentivo, como “Amo a mulher que eu me tornei porque eu lutei para ser ela” ou “Seja sua
49

própria heroína”. Na mesma sala de espera existe também um playground destinado aos filhos
das vítimas que por muitas vezes acompanham elas a Delegacia Especializada. Todos esses
detalhes estão voltados a atender a saúde física, psíquica e principalmente emocional da vítima
que tomou coragem de ir até a Delegacia Especializada, conforme consta no Art. 10-A, §1º, I
da Lei Maria da Penha:

I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a


sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar;

A Delegacia Especializada ainda é responsável por encaminhar a vítima ao Instituto


Geral de Perícias (IGP), conforme leciona Gerhard (2014), onde foi criada a Sala Lilás, a qual
tem como objetivo o atendimento especializado e exclusivo à mulher. Antes da sua
implantação, as mulheres que se submetiam a realizar Exame de Corpo de Delito, muitas vezes,
necessitavam aguardar atendimento juntamente com o agressor. Desta maneira, foi criado um
ambiente privativo e acolhedor, no qual a vítima aguarda pelo atendimento dos profissionais
em um ambiente reservado e exclusivo.

O Instituto Geral de Perícias (IGP) preconcebeu a “Sala Lilás”, que é um espaço


diferenciado, privativo e acolhedor dentro do departamento ou posto médico legal que
humaniza mais o atendimento da mulher que necessita realizar exames periciais por
conta de agressões sofridas por violência doméstica, estupro, entre outros crimes.
(GERHARD, 2014, p. 82, grifo do autor).

6.1. FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DE RISCO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A Delegacia Especializada, desde 17 de dezembro de 2018, começou a implementar


no atendimento à vítima o preenchimento do Formulário de Avaliação de Risco de Violência
doméstica20, criado pelo Conselho Nacional do Ministério público o qual surge em razão dos
projetos capitaneados no âmbito do Conselho. Traz perguntas, cujas respostas contribuem na
identificação do grau de risco em que a vítima mulher se encontra para prevenir e enfrentar
crimes no contexto da violência contra a mulher, o formulário tem auxiliado magistrados a
concederem medidas protetivas de urgência contra os agressores. O formulário contribuí para

20
O formulário Nacional de avaliação de Risco de Violência doméstica segue na pag. 65.
50

um diagnóstico individualizado da situação da vítima porque pode mensurar o grau de


periculosidade do agressor.

A avaliação de risco deverá ser aplicada a todos os casos de violência doméstica e


familiar contra as mulheres que deverão ser consideradas independentemente de classe, raça,
cor, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião conforme Art.
2º, Lei Maria da Penha. A avaliação de risco também deverá ser aplicada às vítimas diretas ou
sobreviventes dos casos de tentativas de feminicídio. Sempre que estiverem presentes, a
avaliação deverá ser aplicada às vítimas indiretas da violência. O documento apresenta duas
partes que devem ser integralmente preenchidas. Na primeira parte, encontram-se 19 perguntas
e uma escala de classificação da gravidade de risco, todas as 19 perguntas da primeira fase serão
preenchidas pela vítima, nada consta que a policial não possa ajudar a vítima. A segunda parte
consiste em perguntas destinadas a avaliar as condições físicas e emocionais da mulher e
condições objetivas para prevenção do agravamento da violência em curto prazo. Nessa fase,
as perguntas são preenchidas pelo profissional qualificado que estiver atendendo a vítima da
violência.

A avaliação de risco deverá ser realizada no primeiro contato que a mulher estabeleça
com um serviço – seja uma Delegacia de Polícia, Centro de Referência, Serviço de Saúde ou
através das equipes multidisciplinares de Promotorias, Defensorias ou Juizados/Varas
Especializadas, a aplicação deve ser realizada durante o atendimento e a mulher deverá ser
informada sobre o uso do instrumento, sua finalidade e a importância em registrar as respostas
para cada pergunta. (CNMP, 2019).

6.2. ÍNDICES DE REGISTROS NAS DELEGACIAS ESPECIALIZADAS DE


ATENDIMENTO Á MULHER

Durante o ano de 2018, somente na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher


de Porto Alegre, foram 9.374 mulheres registrando boletim de ocorrência. Nesse mesmo ano,
de acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 4.200 mulheres sofreram ameaças no âmbito
doméstico ou familiar, ocorrendo 3.816 casos de lesão corporal constatadas mediante Exame
de Lesões Corporais, sendo 266 casos de estupro, 70 mulheres sofreram tentativa de feminicídio
sendo ainda 22 crimes de feminicídio consumados na Capital. (Secretaria de segurança pública
do RS, 2019).
51

Já no corrente ano, até o final do mês de outubro, somente na Delegacia Especializada


no Atendimento à Mulher de Porto Alegre foram registrados 3.061 casos de ameaças sofridas
pelas mulheres no âmbito doméstico ou familiar, ocorrendo 2.554 casos de lesão corporal
constatadas mediante Exame de Lesões Corporais, sendo 185 casos de estupro, 47 tentativas de
feminicídio sendo ainda 06 crimes de feminicídios consumados na Capital. (Secretaria de
segurança pública do RS, 2019).
52

7. CONCLUSÃO

A violência doméstica está intrínseca na Sociedade Brasileira desde sua formação e


esse talvez seja o principal fator para tamanha a dificuldade dos Órgãos Públicos em diminuir
os expressivos números registrados de agressões a mulheres no âmbito doméstico e familiar. A
violência doméstica está presente não só no Brasil, mas também nos lares de todos os países do
mundo e o Brasil é um dos que mais sofre com esse problema com altíssimos índices de
violência doméstica registrados ano após ano.

A Lei Maria da Penha traz um rol de agressões consideradas violência doméstica, a


morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Ainda o rol
trazido por esta não é de forma nenhuma exaustivo, desta maneira, além da violência física,
psicológica, sexual, patrimonial e moral, elencadas no rol de formas de violência doméstica,
devem haver outras.

A história da Sociedade Brasileira é marcada pelo processo de inferiorização e


discriminação feminina, haja vista que a desigualdade de gêneros, na qual a mulher é
considerada inferior ao homem, se deve à cultura patriarcal inserida nas entranhas de nossos
antepassados os quais viam as mulheres como seres inferiores. Sendo assim, a violência
doméstica passou desapercebida durante muitos anos, sendo de forma velada e silenciosa aceita
historicamente pela Sociedade Brasileira, quase como se fosse um direito consuetudinário do
marido sobre a esposa as quais se mantinham inertes a essa relação de submissão das mulheres
perante os homens.

As legislações que tinham como objetivo a proteção da mulher vítima de violência


doméstica, se arrastaram no passar dos anos, quase como que se não evoluíssem acompanhando
o desenvolvimento da sociedade. O Ordenamento Jurídico Brasileiro, teve apenas algumas
frágeis e singelas evoluções no que se tratava de violência doméstica. Levando em consideração
a inércia da legislação quando se olhava o resultado da aplicação da lei, os Órgãos
Internacionais pressionaram, quase que obrigando o Brasil a adotar medidas necessárias para
finalmente simplificar os procedimentos judiciais, bem como alcançar o objetivo esperado em
um tempo processual reduzido, visando a punição efetiva do agressor e a proteção e assistência
da vítima.
53

Em razão da forte pressão das Entidades Internacionais, principalmente pela Comissão


Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, além da pressão
dos movimentos feministas da Sociedade Brasileira, o Brasil cumpriu os compromissos
assumidos nos Tratados e Convenções Internacionais dos quais é signatário e criou a lei
11.340/06 Lei Maria da Penha.

A Lei Maria da Penha trouxe diversas inovações, visando disponibilizar ferramentas


para erradicar a violência doméstica na Sociedade Brasileira, dentre elas, uma das principais,
foi a inaplicabilidade da Lei nº 9.099/95, ao excluir a Lei nº 11.340/06 do âmbito dos Juizados
Especiais Criminais, visto que a violência doméstica não constituí crime de menor potencial
ofensivo, buscando de imediato uma proteção maior as mulheres que desde então não precisam
se conciliar com os agressores, visando agora sim à efetiva proteção da mulher.

Entretanto, apesar das inovações trazidas pela Lei Maria da Penha, e passados agora
13 anos da homologação, é notório através dos estudos e números demonstrados, que a estrutura
dos Órgãos Públicos ainda é precária em muitos aspectos o que faz, apesar de 13 anos passados,
com que a Lei não seja efetiva como deveria, no combate à violência a mulher. No entanto, para
a Lei ficar cada vez mais efetiva, percebe-se que é necessário que todos os integrantes do Poder
Público e em especial os Órgãos da Segurança Pública e Poder judiciário ajam de forma
integrada e conjunta, com o objetivo de atingir a qualidade de vida e a segurança que é
necessária a todos, em especial nesse caso as vítimas de violência doméstica.

Visando essa efetividade da Lei Maria da Penha no caso concreto, implantaram-se


diversas políticas públicas com o objetivo de prevenir e coibir os atos de violência contra a
mulher. O Instituto Geral de Perícias criou a Sala Lilás, visando o atendimento exclusivo e
especializado da mulher. Enquanto a Superintendência de Serviços Penitenciários criou o
programa Metendo a Colher, o qual tem como objetivo conscientizar os agressores presos,
enquadrados na Lei Maria da Penha, para cultivar a política da não agressão. A Polícia Militar
implantou a Patrulha Maria da Penha, fiscalizando as medias protetivas e auxiliando às vítimas
e fazendo que o Poder Judiciário tome conhecimento da situação antes da reiteração da
violência. Desta maneira, a Patrulha Maria da Penha realiza visitas regulares nas casas das
vítimas de violência e presta o atendimento necessário após a violência sofrida deixando as
vítimas mais seguras com a presença dos policiais e inibindo a ação do agressor, trazendo, dessa
forma, uma vida sem medo a vítima.
54

O Conselho Nacional do Ministério Público, ao disponibilizar à sociedade o


Formulário Nacional de Risco e Proteção à Vida (FRIDA), o instrumento foi criado para
prevenir e enfrentar crimes praticados no contexto de violência doméstica e familiar contra a
mulher, buscando cada vez mais um conhecimento prévio do risco podendo assim as
autoridades tomarem decisões cada vez mais rápidas visando a proteção e integridade física das
vítimas de violência doméstica. O Conselho Nacional de Justiça que desenvolve Jornadas para
debates sobre a violência doméstica, no mínimo uma vez a cada ano desde 2007 visando debater
e procurar melhorias para enfrentar da melhor forma a violência doméstica. Nas jornadas, são
desenvolvidas resoluções das quais servem de orientação aos magistrados na hora de tomarem
decisões nos casos de violência doméstica. A Polícia Civil com a implementação de postos de
atendimento à mulher nas regiões onde não existem as Delegacias Especializadas.

Note a quantidade de ações desenvolvidas apenas pelos Órgãos Públicos sem nem
citarmos aqui os desenvolvidos por Organizações Não Governamentais, Fundações, Entidades
Filantrópicas sem fins lucrativos e diversas Instituições e Empresas Privadas que apoiam e
combatem a violência doméstica com políticas de educação e conscientização.

Todavia, apesar de todo o avanço legislativo citado e das diversas ações aderidas pelo
Estado e Entidades Privadas, visando à garantia dos direitos das mulheres vítimas de violência
doméstica, os números de violência doméstica não param de aumentar no Rio Grande do Sul e
no Brasil, demostrando que mesmo com todo o empenho é necessário cada vez mais
engajamento de toda a sociedade visando erradicar a violência doméstica no Brasil efetivando
de vez a Lei Maria da Penha.
55

ANEXOS

ANEXO “B” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018


(MODELO DE CERTIDÃO DE VÍTIMA EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
BRIGADA MILITAR
CRPO XXX/OPM
PATRULHA MARIA DA PENHA
CERTIDÃO DE VÍTIMA EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE

NOME DA VÍTIMA: ________________________________________________________

NOME DO ACUSADO: ______________________________________________________

OCORRÊNCIA Nº: _________________________________________________________

Certifico que aos ___ dias do mês de ______________ do ano de ______, compareci
juntamente com o (a) ________________ no logradouro________________, nº ___________,
bairro ______________, telefone________________ e constatei que a mesma encontra-se em
situação de vulnerabilidade pelas seguintes situações:_____ ___________________________

Relatar minuciosamente a situação vivenciada pela vítima.

Foi confeccionado Boletim de Atendimento nº. ________________.

_________________________________
Assinatura da Vítima
__________________________________ _________________________________
Nome do Militar Estadual Fiscalizador Nome do Militar Estadual Testemunha

XXXXXXXXXXXXXXX – Cel QOEM


Chefe do Estado Maior da Brigada Militar
56

1.2. ANEXO “C” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018


(MODELO DE CERTIDÃO DE RECUSA DE ATENDIMENTO)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
BRIGADA MILITAR
CRPO XXX/OPM

PATRULHA MARIA DA PENHA


CERTIDÃO DE RECUSA DE ATENDIMENTO POR PARTE DE VÍTIMA DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

Certifico que aos ___ dias do mês de __________ do ano de ______, compareci
juntamente com o (a) ME _____________________________ no logradouro
________________________________________________________________, nº _______,
bairro ________________, telefone________________ endereço residencial da Senhora
_______________________________________________________________, informando
que a mesma se RECUSA a receber atendimento por parte da Patrulha da Maria da Penha
pelos seguintes motivos:

___________________________________________________________________________
Imprescindível relatar o motivo da vítima e colher sua assinatura

Foi confeccionado Boletim de Atendimento nº. ________________.

_________________________________
Assinatura da Vítima
__________________________________ _________________________________
Nome do Militar Estadual Fiscalizador Nome do Militar Estadual Testemunha

XXXXXXXXXXXXXXXX – Cel QOEM


Chefe do Estado Maior da Brigada Militar
57

1.3.ANEXO “D” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018


(MODELO DE CERTIDÃO DE NÃO LOCALIZAÇÃO DE VÍTIMA)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
BRIGADA MILITAR
CRPO XXX/OPM

PATRULHA MARIA DA PENHA


CERTIDÃO DE NÃO LOCALIZAÇÃO DA VÍTIMA

Certifico que aos ____ dias do mês de _____________, do ano de ______, compareci
juntamente com o (a) ME ______________________________________, no logradouro
___________________________________, nº ______, bairro ______________________,
endereço residencial da Srª ______________________________________________ que
havia solicitado Medida Protetiva de Urgência conforme ocorrência nº _________________ e
ao chegar ao local foi constatado que:

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Foi confeccionado Boletim de Atendimento nº:________________________.

________________________________ ________________________________
Nome do Militar Estadual Fiscalizador Nome do Militar Estadual Testemunha

XXXXXXXXXXXXXXX – Cel QOEM


Chefe do Estado Maior da Brigada Militar
58

1.4.ANEXO “E” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018


(MODELO DE CERTIDÃO DE FISCALIZAÇÃO DE MPU COM RETORNO DE
COMPANHEIRO (A) AO LAR)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
BRIGADA MILITAR
CRPO XXX/OPM

PATRULHA MARIA DA PENHA


CERTIDÃO DE FISCALIZAÇÃO DE MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA
COM RETORNO DO COMPANHEIRO (A) AO LAR

Certifico que aos ____ dias do mês de ____________ do ano de ______, compareci
juntamente com o (a) ME _________________________________, no logradouro
_______________________________________________________________, nº _____,
bairro _____________, telefone ________________ endereço residencial da Srª
______________________________________________________________, que havia
solicitado Medida Protetiva de Urgência, conforme ocorrência nº
_______/_______/________ e ao chegar ao local foi constatada na sua residência a presença
de seu companheiro (a), Sr (ª) __________________________________________________.

A vítima foi indagada e disse que _______________________________________________


___________________________________________________________________________
Foi confeccionado Boletim de Atendimento nº ________________.

_________________________________ _______________________________
Assinatura da Vítima Assinatura do Companheiro (a)

________________________________ ________________________________
Nome do Militar Estadual Fiscalizador Nome do Militar Estadual Testemunha

XXXXXXXXXXXXXXXX – Cel QOEM


Chefe do Estado Maior da Brigada Militar
59

1.5.ANEXO “F” DA NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 2.23/EMBM/2018


(MODELO DE CERTIDÃO DE TÉRMINO DE ACOMPANHAMENTO À VÍTIMA)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
BRIGADA MILITAR
CRPO XXX/OPM

PATRULHA MARIA DA PENHA


CERTIDÃO DE TÉRMINO DE ACOMPANHAMENTO À VÍTIMA

Certifico que aos ___ dias do mês de ______________ do ano de ______, compareci
juntamente com o (a) _____________________________ no
logradouro_______________________________________________________________, nº
___________, bairro ____________, telefone________________ endereço residencial da
Senhora ______________________________________________________________ e foi
relatado que a mesma NÃO necessita mais do atendimento da Patrulha da Maria da Penha
pelos seguintes motivos:

___________________________________________________________________________

Foi confeccionado Boletim de Atendimento nº ________________.

_________________________________
Assinatura da Vítima

_________________________________ _______________________________
Nome do Militar Estadual Fiscalizador Nome do Militar Estadual Testemunha

XXXXXXXXXXXXXXXX – Cel QOEM


Chefe do Estado Maior da Brigada Militar
60

2. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO


2.1.VISITA DA PATRULHA MARIA DA PENHA
Atualizado em Agosto de 2018
PROVIDÊNCIAS PM
1. Estabelecer o roteiro de visitas, priorizando primeiro os casos mais graves;
2. Consultar previamente dados das vítimas, agressores e os endereços, minimizando riscos e
imprevistos quanto à segurança da patrulha;
3. Informar à SOp a localização da patrulha no início e término de cada uma das visitas;
4. Em viatura caracterizada com logotipo da Patrulha Maria da Penha efetuar a visita na
residência ou outro local designado pela vítima, em horário apropriado;
5. Ao chegar ao local da visita:
a. Verificar as condições de segurança do local e no entorno;
b. Identificar-se como Patrulha Maria da Penha;
c. Averiguar se a Medida Protetiva de Urgência (MPU) está sendo devidamente cumprida
pelo agressor;
d. Esclarecer dúvidas e fornecer informações adequadas à vítima e a seus familiares;
e. Efetuar a prisão do agressor, apresentando na Delegacia de Atendimento à Mulher, onde
houver, ou Delegacia de Polícia, quando flagrado em local não permitido pela MPU;
f. Orientar o Agressor caso ainda não tenha sido intimado da MPU, das consequências do
não cumprimento da MPU;
6. Deparando-se com ocorrência de flagrante agressão à vítima:
a. Prender o agressor, dando-lhe voz de prisão;
b. Providenciar atendimento médico à vítima;
c. Coletar provas, instrumento do crime, evidências e nome das testemunhas do fato, se
houver;
d. Preservar o local, se necessário;
e. Conduzir e apresentar o agressor na DEAM/DP e após conduzir para Exame de Corpo de
Delito.
7. Realizadas as visitas do dia, registrá-las em um único BA;
8. Lavrar a respectiva certidão, nos termos do modelo constante na Nota de Instrução Patrulha
Maria da Penha;
9. Remeter as Certidões e BA ao OPM, que imediatamente deverá encaminhar ao Poder
Judiciário, e, havendo eminente risco à integridade física da vítima ou ameaça de morte, indicar
a necessidade da decretação da prisão preventiva do agressor.
OBSERVAÇÕES
1. Verificar e informar na Certidão, a sua percepção da condição de saúde física e psicológica
da vítima diante do abalo emocional, extrema vulnerabilidade ou trauma;
2. Encontrando o agressor em local não permitido pela MPU, caso não tenha sido judicialmente
intimado, registrar o fato na respectiva Certidão.
PRÁTICAS A SEREM EVITADAS
1. Repassar informações sobre as vítimas a terceiros, revitimizando-a;
2. Durante as visitas utilizar vocabulário inadequado, adotar conduta imprópria como o uso de
óculos escuros e cruzar os braços;
3. Comentar sobre temas políticos, religiosos, institucionais, evitando julgamentos pessoais.
61

2.2 ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIA DE


FEMINICÍDIO

Atualizado em Março de 2019


PROVIDÊNCIAS PM
1. Tomar ciência de como se deram os fatos e confirmar a prática do delito;
2. Ao identificar a vítima do gênero feminino (mulher, travesti) considerar a hipótese de
que a violência perpetrada seja em decorrência de gênero.
3. Identificar os envolvidos:
a. Se o autor não é identificado ou está foragido, mesmo após envidados todos os
esforços para sua identificação e captura:
1) Preservar e isolar o local, evitando alterar a circunstâncias que se deram os fatos,
mesmo que em beneficio da dignidade na vitima (baixar saia, levantar calças, etc);
2) Acionar a Polícia Civil;
3) Lavrar BA, conforme POP específico.
b. Se o autor é identificado e está no local:
1) Prender o autor;
2) Preservar e isolar o local, evitando alterar a circunstâncias que se deram os fatos,
mesmo que em beneficio da dignidade na vitima (baixar saia, levantar calças, etc);
3) Acionar a Polícia Civil;
4) Informar à SOp do deslocamento para a DP.
OBSERVAÇÕES
1. Comunicar a Polícia Civil, aguardando seu comparecimento no local do crime e, tão
logo a mesma chegar, realizar a entrega da ocorrência mediante BA;
2. Aguardar a chegada da perícia e finalização dos trabalhos, mesmo que a Polícia Civil
demore em chegar à ocorrência.
PRÁTICAS A SEREM EVITADAS
1. Não preservar o local do crime;
2. Alterar a cena do crime em benefício da dignidade da vitima;
3. Não aguardar chegada da Polícia Civil ou a finalização da perícia;
4. Não formalizar em BA os dados de acionamento da equipe de investigação da Polícia
Civil (a data, a hora e o nome do policial civil que recebeu a comunicação da ocorrência; o
tempo de espera da chegada da equipe da Polícia Civil e/ou da própria perícia).
62

2.3. ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIA DE


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER
Atualizado em Agosto de 2018
PROVIDÊNCIAS PM
1. Despacho de ocorrência Maria da Penha pela Sala de Operações (SOp);
2. A SOp deve efetuar consulta dos dados da vítima, agressor e do endereço verificando a
existência de Medida Protetiva de Urgência deferida pelo Poder Judiciário para comunicar aos
policiais da guarnição diminuindo os riscos à guarnição;
3. Ao chegar ao local da ocorrência:
a. Informar à SOp a chegada da guarnição ao local;
b. Verificar as condições de segurança do local da ocorrência e no entorno;
c. Identificar-se e averiguar os fatos;
d. Manter a vítima em distância adequada e segura em relação ao agressor;
e. Verificar com a vítima a existência de Medida Protetiva de Urgência (MPU) e as condições
impostas pelo Poder Judiciário, em caso positivo, fazer cumpri-las;
f. Informar à vítima dos seus direitos definidos na Lei Maria da Penha;
4. Deparando-se com ocorrência de flagrante agressão à vítima, do gênero feminino:
a. Prender o agressor, dando-lhe voz de prisão;
b. Providenciar atendimento médico à vítima e ao agressor;
c. Coletar provas, instrumentos do crime, evidências e nome das testemunhas, se houver;
d. Preservar o local, se necessário;
e. Informar à SOp o deslocamento para a DEAM/DP;
f. Conduzir e apresentar o agressor na DEAM/DP;
5. Não presente o agressor, não querendo a vítima registrar a ocorrência na DEAM ou DP, desde
que a mesma não necessite de Medida Protetiva de Urgência, poderá lavrar o COP, mencionando
a negativa e colhendo a assinatura da vítima no verso;
6. Havendo necessidade de conduzir o agressor e a vítima, a guarnição deve, preferencialmente,
efetuar a condução do agressor em viatura distinta da que conduzir a vítima;
7. Garantir proteção policial à ofendida;
8. Em se tratando de vítima, menor de idade, conduzir e apresentar à DECA/DP, conforme POP
específico;
9. Se a vítima necessitar de atendimento médico e baixa hospitalar, o policial militar deverá, na
qualidade de comunicante, registrar a ocorrência na DEAM/DP;
10. Havendo necessidade de remover a vítima e seus familiares do local para assegurar a sua
integridade física ou a resguardar de reincidência de agressão, a guarnição deve comunicar tal
fato à DEAM ou DP no registro da ocorrência policial.
OBSERVAÇÕES
1. Caso a vítima seja pessoa portadora de deficiência, adotar procedimento adequado para sua
condução;
2. Considerar as condições de saúde físíca e psicológica da vítima que apresente abalo
emocional, vulnerabilidade social ou choque traumático, adotando as medidas adequadas na
solução do caso;
3. Encontrando agressor em local não permitido pela MPU, caso não tenha sido judicialmente
intimado, registrar o fato na respectiva certidão.
PRÁTICAS A SEREM EVITADAS
1. Deixar de informar à ofendida os seus direitos em relação à aplicação da Lei Maria da Penha;
2. Realizar julgamentos pessoais sobre o fato.
63

2.4. ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIA DE


AMEAÇA/INJÚRIA/DIFAMAÇÃO

Atualizado em Agosto de 2018


PROVIDÊNCIAS PM
1. Tomar ciência dos fatos e confirmar a prática do delito;
2. Identificar os envolvidos:
a. Se o autor não é identificado, e a vítima está presente:
1) Lavrar o BO-COP, colhendo a manifestação da vítima;
2) Lavrar BA.
b. Se o autor é identificado:
1) Prender o autor;
2) Apreender os instrumentos ou objetos usados na prática do crime, se houver;
3) Questionar o ofendido se ele deseja representar contra o autor do fato.
a) Se o ofendido manifestar interesse em representar contra o autor do fato, questionar
o autor se ele se compromete a comparecer em juízo;
(1) Se o autor assumir o compromisso de comparecer em juízo, lavrar o BO-TC;
(2) Se o autor não assumir o compromisso de comparecer em juízo:
(a) Informar à SOp o deslocamento para a DP;
(b) Lavrar BA, conforme POP específico;
b) Se o ofendido manifestar interesse em não representar contra o autor do fato ou
decidir posteriormente:
(1) Lavrar BO-COP e dar ciência ao ofendido de que, mesmo manifestando o seu
interesse em não exercer, naquele momento, o direito de queixa contra o autor do fato, para os
fins previstos nos arts. 103 e 38, do Código Penal e Código de Processo Penal, respectivamente,
ainda pode exercer esse direito no prazo de 06 (seis) meses, a contar da data do fato, sendo certo
que seu silêncio acarretará a extinção de punibilidade, na forma do art. 107, inc. IV, do Código
Penal.
OBSERVAÇÕES
1. Certificar-se que o ofendido não é funcionário público em exercício da função ou que o ato foi
cometido em razão dela, caso contrário também se caracteriza o crime de desacato;
2. Distinguir se as expressões verbais usadas pelo autor caracterizam ameaça, injúria ou difamação.
3. Descrever no boletim de ocorrência os meios utilizados e/ou as expressões verbais para o
cometimento do crime por parte do autor;
4. Colher a manifestação do ofendido e o compromisso de comparecimento do autor em juízo;
5. Adotar tratamento específico para criança ou adolescente;
6. Realizar tratamento específico para mulher em caso da Lei Maria da Penha.
PRÁTICAS A SEREM EVITADAS
1. Não esclarecer ao ofendido que não deseje representar ou deseje decidir posteriormente, que ele
pode exercer esse direito no prazo de 06 (seis) meses, a contar da data do fato, sendo certo que seu
silêncio acarretará a extinção da punibilidade;
2. Não destacar ao ofendido a importância de sua presença na audiência no JECrim, com vistas à
responsabilização do autor do fato;
3. Deixar de descrever os meios utilizados para o cometimento do crime por parte do autor.
64

3. FORMULÁRIO NACIONAL DE AVALIAÇÃO DE RISCO VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
Identificação das Partes
Delegacia de Polícia: _______________________________________________________
Nome da vítima:___________________________________________ Idade: __________
Escolaridade:______________________________________________________________
Nacionalidade: ____________________________________________________________
Nome do(a) agressor(a):______________________________________ Idade:__________
Escolaridade:________________________________________________________________
Nacionalidade:_______________________________________________________________
Vínculo entre a vítima e o(a) agressor(a): _____________________________________________
Data: ________/________/________
Bloco I - Sobre o histórico de violência
1- O(A) agressor(a) já ameaçou você ou algum familiar com a finalidade de atingi-la?
( ) Sim, utilizando arma de fogo
( ) Sim, utilizando faca
( ) Sim, de outra forma
( ) Não

2- O(A) agressor(a) já praticou alguma(s) destas agressões físicas contra você?


( ) Queimadura
( ) Enforcamento
( ) Sufocamento
( ) Tiro
( ) Afogamento
( ) Facada
( ) Paulada
( ) Nenhuma das agressões acima

3- O(A) agressor(a) já praticou alguma(s) destas outras agressões físicas contra você?
( ) Socos
( ) Chutes
( ) Tapas
( ) Empurrões
( ) Puxões de Cabelo
( ) Nenhuma das agressões acima

4- O(A) agressor(a) já obrigou você a fazer sexo ou a praticar atos sexuais contra sua
vontade?
( ) Sim
( ) Não
65

5- O(A) agressor(a) já teve algum destes comportamentos?


( ) disse algo parecido com a frase: “se não for minha, não será de mais ninguém”
( ) perturbou, perseguiu ou vigiou você nos locais em que frequenta
( ) proibiu você de visitar familiares ou amigos
( ) proibiu você de trabalhar ou estudar
( ) fez telefonemas, enviou mensagens pelo celular ou e-mails de forma insistente
( ) impediu você de ter acesso a dinheiro, conta bancária ou outros bens (como documentos
pessoais, carro)
( ) teve outros comportamentos de ciúme excessivo e de controle sobre você
( ) nenhum dos comportamentos acima listados

6- Você já registrou ocorrência policial ou formulou pedido de medida protetiva de


urgência envolvendo essa mesma pessoa?
( ) Sim
( ) Não

7- As ameaças ou agressões físicas do(a) agressor(a) contra você se tornaram mais


frequentes ou mais graves nos últimos meses?
( ) Sim
( ) Não

Bloco II - Sobre o(a) agressor(a)

8- O(A) agressor(a) faz uso abusivo de álcool ou de drogas?


( ) Sim, de álcool
( ) Sim, de drogas
( ) Não
( ) Não sei

9- O(A) agressor(a) tem alguma doença mental comprovada por avaliação médica?
( ) Sim e faz uso de medicação
( ) Sim e não faz uso de medicação
( ) Não
( ) Não sei

10- O(A) agressor(a) já descumpriu medida protetiva anteriormente?


( ) Sim
( ) Não
66

11- O(A) agressor(a) já tentou suicídio ou falou em suicidar-se?


( ) Sim
( ) Não

12- O(A) agressor(a) está desempregado ou tem dificuldades financeiras?


( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei

13- O(A) agressor(a) tem acesso a armas de fogo?


( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei

14- O(A) agressor(a) já ameaçou ou agrediu seus filhos, outros familiares, amigos, colegas
de trabalho, pessoas desconhecidas ou animais de estimação?
( ) Sim. Especifique: ( ) filhos ( ) outros familiares ( ) outras pessoas ( ) animais
( ) Não
( ) Não sei

Bloco III - Sobre você

15- Você se separou recentemente do(a) agressor(a) ou tentou se separar?


( ) Sim
( ) Não

16- Você tem filhos?


( ) Sim, com o agressor. Quantos?
( ) Sim, de outro relacionamento. Quantos?
( ) Não

16.1. Se sim, assinale a faixa etária de seus filhos. Se tiver mais de um filho, pode assinalar
mais de uma opção:
( ) 0 a 11 anos
( ) 12 a 17 anos
( ) A partir de 18 anos

16.2. Algum de seus filhos é pessoa portadora de deficiência?


67

( ) Sim, Quantos?
( ) Não

17- Você está vivendo algum conflito com o(a) agressor(a) em relação à guarda do(s)
filho(s), visitas ou pagamento de pensão?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não tenho filhos com o(a) agressor(a)

18- Seu(s) filho(s) já presenciaram ato(s) de violência do(a) agressor(a) contra você?
( ) Sim
( ) Não

19- Você sofreu algum tipo de violência durante a gravidez ou nos três meses posteriores
ao parto?
( ) Sim
( ) Não

20- Se você está em um novo relacionamento, percebeu que as ameaças ou as agressões


físicas aumentaram em razão disso?
( ) Sim
( ) Não

21- Você possui alguma deficiência ou é portadora de doenças degenerativas que


acarretam condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental?
( ) Sim. Qual(is)? __________________________________________________________
( ) Não

22- Com qual cor/raça você se identifica:


( ) branca ( ) preta ( ) parda ( ) amarela/oriental ( ) indígena

Bloco IV - Outras Informações Importantes

23- Você considera que mora em bairro, comunidade, área rural ou local de risco de
violência?
( ) Sim
68

( ) Não
( ) Não sei

24- Você se considera dependente financeiramente do(a) agressor(a)?


( ) Sim
( ) Não

25- Você quer e aceita abrigamento temporário?


( ) Sim
( ) Não

Declaro, para os fins de direito, que as informações supra são verídicas e foram prestadas por
mim, ______________________________________________________________________
Assinatura da Vítima/terceiro comunicante:
______________________________________________

PARA PREENCHIMENTO PELO PROFISSIONAL:


( ) Vítima respondeu a este formulário sem ajuda profissional
( ) Vítima respondeu a este formulário com auxílio profissional
( ) Vítima não teve condições de responder a este formulário
( ) Vítima recusou-se a preencher o formulário
( ) Terceiro comunicante respondeu a este formulário
69

REFERÊNCIAS

ADJUNTORIA de Polícia Comunitária - Maria da Penha. Brigada Militar. Disponivel em: <
https://intranet.bm.rs.gov.br/Estrutura/PoliciaComunitaria/MraPenha.aspx>. Acesso em 15
out. 2019.

ALIMENA, Carla. A tentativa do impossível: femininos e criminologias. Rio de Janeiro:


Editora Lumen Juris, 2010.

AVENA, Norberto. Processo penal: esquematizado. 7. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense; São
Paulo: Ed. Método, 2015.

BASTOS, Tatiana Barreira. Violência doméstica e familiar contra a mulher: análise da Lei
Maria da Penha (Lei 11.340/2006): um diálogo entre a teoria e a prática. 2. ed. Porto Alegre:
Verbo Jurídico, 2013.

BLAY, Eva. Violência contra a mulher e políticas públicas. Estudos Avançados, v. 17, n. 49,
p. 87-98, set./dez. 2003.

BRASIL. Constituição de 05 de outubro de 1988. Constituição da República Federativa do


Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui
cao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 10 set. 2019.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de janeiro de 1967. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm>. Acessado em:
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