A Educação Jesuítica e o Metodo de Ensinar No Ratio Studiorum

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A EDUCAÇÃO JESUÍTICA E O MÉTODO DE ENSINO RATIO STUDIORUM

Dalete de Souza Salles Borges


Márcia Regina do Nascimento Sambugari
UFMS/CPAN

RESUMO: Neste trabalho são tecidas reflexões acerca da colonização e do ensino


jesuítico implementado no Brasil, a partir da pesquisa bibliográfica que centrou no
estudo de obras e artigos que tratam da História do Brasil e a História da Educação.
Aborda-se a história da chegada dos primeiros portugueses, e posteriormente a educação
jesuítica observando quais eram os objetivos dos jesuítas inicialmente na qual estavam
voltadas a dedicarem-se a catequização e a conversão dos gentios, dos colonos e outros
membros da colônia, atingindo a formação da burguesia urbana, constituída,
principalmente pelos filhos dos donos de engenho. O método Ratio Studiorum que teve
grande influência na educação jesuítica, no qual apresentava trinta conjuntos de regras,
tratava-se de um manual com indicações de responsabilidade, do desempenho, da
subordinação e do relacionamento dos membros dos colégios da Companhia de Jesus de
professores e alunos, sendo também um manual de organização e administração escolar.
Estas normas ordenavam as instituições de ensino de uma única maneira, o Ratio
Studiorum seria a base comum que serviria de suporte de trabalho dos jesuítas. Seus
preceitos vão além de um simples método de estudo, queriam assegurar aquilo que
entediam como “progresso de uma civilização”, atingindo valores e formas de
comportamento de comprovada eficácia na vida de uma sociedade. Constatou-se com
esse estudo que a educação dos jesuítas priorizava somente a elite da época excluindo
mulheres, negros e pobres do sistema de ensino, tendo contribuído para o fortalecimento
das estruturas de hierarquização dos privilégios para um pequeno grupo. Incutiram a
ideia de exploração de uma classe sobre a outra e a escravidão como um caminho
normal e necessário para o desenvolvimento, tendo a educação o papel de ajudar a
perpetuar as desigualdades entre os grupos sociais.

PALAVRAS CHAVE: Jesuítas; formação escolar; Ratio Studiorum.

INTRODUÇÃO
Nossa sociedade foi marcada grandemente pela colonização portuguesa em que
pessoas, costumes e a fé receberam grande influência. Os portugueses em busca de
poder político e econômico chegaram a nosso país em 1500 deixando grandes marcas na
nossa sociedade pela exploração do povo e das nossas riquezas.
O espírito aventureiro do povo português permitiu à burguesia comercial
portuguesa ampliar seus mercados e riquezas, e à nobreza sedenta de terras desenvolver

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novas tecnologias de navegação, construir suas caravelas, avançar oceano adentro e
estruturar um império colonial.
Segundo Fausto (2002), trabalhando para a Espanha, um navegador genovês
chegou à América. Os portugueses não viram com bons olhos essa notícia. Reuniram-se
em Tordesilhas e em 1494, assinaram um tratado alterando o espaço de exploração, a
partir desse tratado parte da terra do Brasil que ainda não tinha sido explorada
pertenceriam a Portugal.
Em função de aumentarem o poder, os portugueses organizaram-se em uma
expedição que saiu de Lisboa em nove de março de 1500, chegando em 22 de abril do
mesmo ano. Quem estava sob o comando era Pedro Álvares Cabral, possuindo 13
navios e 1.500 pessoas entre soldados, tripulantes e religiosos.
Fausto (2002) enfatiza a chegada dos portugueses aqui, não sendo esse
movimento um descobrimento.
[...] antes do chamado descobrimento aqui viviam outras pessoas, uma
população ameríndia e, se considerarmos que o conceito de educação
remeteu a uma abrangência incalculável; teremos necessariamente que
considerar que antes da Companhia de Jesus, existiam outras
educações, portanto, outras histórias da educação. “Quando os
europeus chegaram à terra que viria a ser Brasil, encontraram uma
população ameríndia bastante homogênea em termos culturais e
linguísticos, distribuída ao longo da costa e na bacia dos Rios Paraná –
Paraguai” (FAUSTO, 2002, p. 37, grifos do autor).

Para Cunha (1980) a colonização brasileira, constitui-se uma economia


complementar da Metrópole.
Tal como outros países, Portugal pretendeu impor a exclusividade do
comércio com as colônias, através de uma administração centralizada,
mantendo forte controle fiscal sobre as operações internas e externas
(CUNHA, 1980, p. 23).

Com as realizações das expansões marítimas e das colônias, em busca de


ascensão uma nova classe busca outros caminhos para aumentarem e acumularem
capital econômico. Para Cunha (1980):
[...] colonização aparece para “intensificar a acumulação (primitiva)
de capital que acabaria por acelerar o processo de formação dos
Estados nacionais centralizados e de emergência da economia
capitalista, tendo na industrialização seu veio maior” (CUNHA,
1980, p. 19).

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Saviani (2013) assinala que Pedro Álvares Cabral, ao chegar no Brasil,
encontrou um povo que já habitavam há séculos essa terra, viviam em comunidade e
para sua alimentação faziam uso da pesca, caça coleta de frutos, plantavam alimentos
como a mandioca e o milho. Nesse sentindo essa população vivia com uma determinada
forma de organização e a educação também estava presente nesses locais.
Com efeito, havia, ali, uma educação em ato, que se apoiava sobre três
elementos básicos: a força da tradição, constituído como um saber
puro orientador das ações e decisões dos homens; a força da ação, que
configurava a educação como um verdadeiro aprender fazendo; e a
força do exemplo, pelo qual cada indivíduo adulto e, particularmente,
os velhos ficavam imbuídos da necessidade de considerar suas ações
como modelares, expressando em seus comportamentos e palavras o
conteúdo da tradição tribal. As ideias educacionais coincidiam,
portanto, com a própria prática educativa, não havendo lugar para a
mediação das ideias pedagógicas que supõem a necessidade de
elaborar em pensamento as formas de intervenção na prática
educativa. Nessas condições havia, pois, educação, mas não havia
pedagogia (SAVIANI, 2013, p. 38-39).

A cultura era transmitida oralmente no contato direto com os outros, crianças e


adultos, não existiam separações, aprendiam o que era necessário para sua
sobrevivência, sendo transmitidas dos mais velhos para os mais novos suas tradições.
Essa forma de organização não foi respeitada pelos europeus que aqui chegaram,
trazendo seu modelo de educação, formas específicas de intervenção na pratica
educativa, o que Saviani (2013) chamou de “pedagogia brasílica”.
Em 1500 chegaram ao Brasil os primeiros portugueses, e conforme Saviani
(2013), nesse ano o país entra para a história da chamada civilização ocidental e cristã.
Essa chegada trouxe grandes mudanças na cultura e educação dos povos que aqui
viviam, o Brasil foi colonizado deixando grandes marcas na política, cultura
organização de sociedade e na educação do povo brasileiro.
A história da educação brasileira iniciou em 1549 quando os jesuítas chegaram
ao país, sob o comando do Padre Manoel Nobrega, que procurou criar hábitos para
inserir no contexto indígena e assim manipulá-los.
Segundo Nunes (1992), nossa história da educação no Brasil colonial ficou dois
séculos sob a incumbência da missão jesuítica fundada por Inácio de Loiola, na qual
recebeu o nome de Companhia de Jesus. A instituição tinha um caráter ambíguo,
domesticar os índios para aceitarem a dominação dos portugueses, e também se

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colocavam a serviços da igreja com a missão de evangelizar e catequizar. A junção
entre a coroa portuguesa e os jesuítas se manteve até o final do governo de D. João, com
sua morte e a ascensão de D. José ao trono português essa união começou a apresentar
rupturas e os rumos da educação começaram a mudar.
Quando analisamos a história da educação brasileira é necessário pontuar a
educação católica, em especifico, a participação dos padres jesuítas nesse processo, pois
foram os mesmos os responsáveis pela educação do nosso país no período colonial. Para
Ferreira JR (2010) não há como não considerar a influência e a importância da educação
jesuítica para a educação atual, durante os estudos e ensino da história da Educação
brasileira, ao preparar uma aula, ministrar palestra ou escrever um texto relacionada a
essa temática, sempre suscitam reflexões acerca do período educacional originado no
século XVI.
Destacamos que essa pesquisa, de cunho bibliográfico, buscou refletir acerca do
modelo de educação, e considerando que a temática é vasta, pontuamos alguns fatos
ocorridos na época. Portanto trouxemos algumas questões que consideramos mais
relevantes no parâmetro educacional, a fim de colaborar no esclarecimento de fatos
importantes e contextualizar a educação na época.

EDUCAÇÃO JESUÍTICA
Em 1534 na França foi fundada a companhia de Jesus, que pretendiam
catequizar a população, para barrar o crescimento da Reforma Protestante e o
crescimento do Luteranismo na Europa. Então no dia 27 de setembro foi aprovada pelo
papa III a companhia de Jesus de 1540.
A Ordem dos Jesuítas não foi, entretanto, criada só com fins
educacionais; ademais, parece que no começo não figuravam esses
entre os propósitos, que eram antes a confissão, a pregação e a
catequização. Seu recurso principal eram os chamados “exercícios
espirituais”, que exerceram enorme influência anímica e religiosa ente
os adultos. Todavia pouco apouco a educação ocupou um dos lugares
mais importantes, senão mais importante, entre as atividades da
Companhia. A Companhia, como se sabe, é composta de membros,
que têm há um tempo, caráter regular e secular, são membros de uma
ordem religiosa com estatutos e autoridades próprias e do mesmo
passo são sacerdotes ordenados que exerçam todas as funções dos
demais sacerdotes (LUZURIAGA, 1975, p. 118-119).

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Tentando impedir o avanço do protestantismo a Companhia de Jesus utilizou
de meios para disseminar a fé católica convertendo os pagãos, os jesuítas chegam ao
Brasil impondo um sistema de ensino baseado no catolicismo.
Para entendermos como foi sendo implantada a educação jesuítica, precisamos
conhecer à história da chegada dos primeiros portugueses e como foi sua organização
para chegarem nessa terra, especificamente a atuação dos jesuítas com sua educação
católica, quais foram os únicos responsáveis pela instrução em nosso país no período
colonial.
A companhia de Jesus foi arquitetada por Inácio de Loyola, chegando ao Brasil
nove anos depois da chegada das primeiras caravelas, sendo trazidos pelo Primeiro
governado geral, Tomé de Souza vindo com seis missionários jesuítas, sob a chefia de
Manoel de Nóbrega.
Quando os jesuítas chegaram ao Brasil, iniciou-se o processo de catequização,
escolarização e aculturação dos indígenas, o processo educacional com colaboração dos
jesuítas, conforme já mencionado deu início em março de 1549, quando chegaram os
primeiros jesuítas perceberam que não seria possível ensinar a fé católica sem que os
indígenas soubessem ler e escrever, juntamente com Tomé de Souza governador Geral,
foi construída a Escola elementar brasileira em Salvador.
Ao difundir o projeto educacional, os portugueses também exploravam e se
beneficiavam das riquezas do Brasil, sendo responsáveis também por um sistema
administrativo, se beneficiando das terras indígenas.
Segundo Saviani (2013), em 1549 chegou ao Brasil o primeiro governador
geral, trazendo com ele os primeiros padres jesuítas, composto por quatro padres e dois
irmãos que estavam sendo chefiados por Manuel da Nóbrega. Vieram com a missão que
converter os índios a fé católica. Para poder cumprir esse objetivo os jesuítas foram
criando colégios e seminários em várias regiões do país.
No início Brasil colônia, a coroa Portuguesa, ligada ao sistema mercantilista,
tendo seus interesses voltados para produção de riquezas, precisou de meios e homens
para dar início a exploração que buscava a expansão colonial. “[...] aumentava as
responsabilidades atribuídas à Companhia de Jesus, uma vez que a ela cabia a
significativa responsabilidade da aculturação sistemática dos nativos pela fé católica,
pela catequese e pela instrução” (ROCHA, 2010, p. 33).

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Segundo Ferreira Jr. (2010) é impossível negar a influência da educação
jesuítica para nossa educação atual, pois quando falamos da história da educação
brasileira, sempre suscitam reflexões acerca do contexto educacional originado no
século XVI.
A atuação educacional dos jesuítas com os indígenas ampliou as fronteiras da
Coroa Portuguesa e produziu mão de obra necessária, com o apoio dos colonizadores. O
processo educacional esteve em conjunto ao processo de aculturação.

MÉTODO EDUCACIONAL JESUÍTICO – O RATIO STUDIORUM


O Ratio Studiorum foi um método de ensino criado por Inácio de Loyola para
direcionar as ações educativas dos padres jesuítas, nas atividades educacionais, na
colônia e na metrópole. Era uma coletânea de regras e prescrições práticas minuciosas
que deveriam ser seguidas pelos padres jesuítas.
O Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Jesus, mais conhecido pela
denominação de Ratio Studiorum, foi o método de ensino, que estabelecia o currículo, a
orientação e a administração do sistema educacional a ser seguido, instituído por Inácio
de Loyola para direcionar todas as ações educacionais dos padres jesuítas em suas
atividades educacionais, tanto na colônia quanto na metrópole, ou seja, em qualquer
localidade onde os jesuítas desempenhassem suas atividades. O Ratio Studiorum não era
um tratado sistematizado de pedagogia, mas sim uma coletânea de regras e prescrições
práticas e minuciosas a serem seguidas pelos padres jesuítas em suas aulas. Portanto, era
um manual prático e sistematizado que apresentava ao professor a metodologia de
ensino a ser utilizada em suas aulas.
Conforme Ribeiro (1998), no Brasil os jesuítas conceberam um plano de
estudo, tomando por base o Ratio Studiorum, ou seja, um plano de estudos, buscando
atender a diversidade de interesses e capacidades. Iniciavam pelo aprendizado da língua
portuguesa, incluindo a doutrina cristã, a escola de e ler e escrever, posteriormente
continuava em caráter opcional, o ensino orfeônico e de música instrumental, e uma
bifurcação tendo em um dos lados, o aprendizado profissional e agrícola e, de outro,
aula de gramática e viagem de estudos a Europa.
Saviani (2013) assinala que durante o período da missão jesuítica no Brasil, a
Companhia de Jesus iniciou a elaboração de um plano de estudos a ser implantado nos

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colégios da Ordem em todo mundo, o qual ficou conhecido com Ratio Studiorum.
Fundamentava-se por um método padronizado, responsável pela sistematização do
ensino, sendo o primeiro sistema organizado de educação católica que previa um
currículo único para os estudos, sendo dividido em graus, propunha uma educação
integral do homem e pressupunha o domínio das técnicas elementares de leitura, escrita
e cálculo.
O plano de estudos foi constituído:
[...] por um conjunto de regras cobrindo todas as atividades dos
agentes diretamente ligados ao ensino. Começava pelas regras do
provincial, passava pelas do reitor, do prefeito de estudos, dos
professores de modo geral e de cada matéria de ensino, chegava às
regras da prova escrita, da distribuição de prêmios, do bedel, dos
alunos e concluía com as regras das diversas academias (SAVIANI,
2013, p. 55).

Entendemos que o Ratio Studiorum, quando efetuado no Brasil, foi adaptado


apara atender as necessidades especifica encontrado na colônia.
Para Saviani (2013), a educação colonial no Brasil foi marcada por fases
distintas, a primeira fase foi elaborada por Manoel de Nóbrega.
O plano iniciava-se com o aprendizado do português (para os
indígenas); prosseguia com a doutrina cristã, a escola de ler e escrever
e, opcionalmente, canto orfeônico e música instrumental; e culminava,
de um lado, com o aprendizado profissional e agrícola e, de outro
lado, com a gramática latina para aqueles que se destinavam à
realização de estudos superiores na Europa (Universidade de
Coimbra). Esse plano não deixava de conter uma preocupação realista,
procurando levar em conta as condições especificas da colônia.
Contudo, sua aplicação foi precária, tendo cedo encontrado oposição
no interior da própria Ordem jesuítica, sendo finalmente suplantado
pelo plano geral de estudos organizado pela Companhia de Jesus e
consubstanciado no Ratio Studiorum (SAVIANI, 2013, p. 43).

A segunda fase que vai de 1570 até 1759 foi marcada pela organização e
consolidação da organização jesuítica que estava centrada no Ratio Studiorum.O Plano
do Ratio Studiorum era elitista, destinando-se aos filhos dos colonos, não sendo
permitindo aos indígenas e negros; universalista, já que deveria ser adotado por todos os
jesuítas independente do lugar no qual estivessem. O plano iniciava-se com o curso de
humanidades e continuava com os cursos de filosofia e teologia, posteriormente os
filhos da elite iam para Europa.

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O plano contido no Ratio era de caráter universalista e elitista.
Universalista porque se tratava de um plano adotado indistintamente
por todos os jesuítas, qualquer que fosse o lugar onde estivessem.
Elitista porque acabou destinando-se aos filhos dos colonos e
excluindo os indígenas, com que os colégios jesuítas se converteram
no instrumento de formação da elite colonial. Por isso os estágios
iniciais previstos no Plano de Nóbrega (aprendizado de português e
escola de ler e escrever) formar suprimidos. O novo Plano começava
com o curso de humanidades. Denominado no Ratio de “estudos
inferiores”, correspondentes ao atual curso de nível médio. Seu
currículo abrangia cinco classes ou disciplinas: retórica; humanidades;
gramática superior; gramática média; e gramática inferior. A formação
prosseguia com os cursos de filosofia e teologia, chamados de
“estudos superiores”. O currículo filosófico era previsto para a
duração de três anos, com as seguintes classes ou disciplinas: 1º ano:
lógica e introdução às ciências; 2º ano: cosmologia psicologia, física e
matemática; 3º ano: psicologia, metafisica e filosofia moral. O
currículo teológico tinha a duração de quatro anos, estudando-se
teologia escolástica ao longo dos quatro anos; teologia moral durante
dois anos; Sagradas Escrituras também por dois anos; e língua
hebraica durante um ano (SAVIANI, 2013, p. 56-57).

O Ratio Studiorum foi muito importante no desenvolvimento da educação


moderna, contribuindo grandemente para formação de um plano de estudos. O Ratio
auxiliou na atuação dos jesuítas, direcionando o percurso para que a aprendizagem
ocorresse de forma eficaz, sendo que sua oficialização ocorreu no ano de 1599.
Segundo Franca (1952), o Ratio Studiorum passou por algumas análises,
sofrendo críticas e sugestões. Posteriormente foi aprovada sua versão definitiva em
1599, que, na visão do autor, plano não foi obra de um único homem, mas uma
experiência única e importante na história da Pedagogia. O plano consistia em
especificações e determinações práticas que deveriam guiar cuidadosamente as aulas
dos padres jesuítas, um manual apresentando para o professor qual a metodologia que
deveria ser utilizar em suas aulas.
O autor apresenta ainda que o Ratio Studiorum era um manual no qual continha
467 regras que orientava os métodos de ensino e como os professores deveriam
organizar suas aulas. Conforme Saviani (2013), elas estavam divididas em:
A) Regras do provincial, em número de 40.
B) Regras do reitor ( 24).
C) Regras do prefeito de estudos superiores (30).
D) Regras comuns a todos os professores das faculdades (20).
E) Regras particulares dos professores das faculdades
superiores, num total de 49, assim distribuídas: a) Regras do

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professor de escritura (20); b) Regras do professor hebreu
(5); c) Regras do professor de teologia (14); Regras do
professor moral, isto é, de casos de consciência (10).
F) Regras do professor de filosofia, num total de 27, a saber: a)
Regras do professor de filosofia (20); b) Regras de filosofia
moral (4); Regras do professor de matemática (3).
G) Regras do prefeito de estudos inferiores (50).
H) Regras dos exames escritos (11).
I) Normas para a distribuição de prêmios (13).
J) Regras comuns aos professores das classes inferiores (50).
K) Regras particulares dos professores das classes inferiores
(59); a) Regras do professor de retórica (20); b) Regras do
professor de humanidades (10); c) Regras do professor de
gramática superior; d) Regras do professor de gramática
média (10); e) Regras do professor de gramática inferior (9).
L) Regras dos estudantes da Companhia (11).
M) Regras dos que repetem a teologia (14).
N) Regras do bedel (7).
O) Regras dos estudantes externos (15).

P) Regras das academias, num total de 47, assim distribuída: a)


Regras gerais (12); b) Regras do prefeito (5); c) Regras da
Academia de Teologia e Filosofia (11); d) Regras do prefeito
da Academia de Teologia e Filósofos (4); e ) Regras da
Academia de Retórica e Humanidades (7); f) Regras da
Academia dos Gramáticos (8) (SAVIANI, 2013,P. 54).

A Companhia de Jesus encerrou suas atividades na Colônia Brasileira no ano


de 1759, através do Decreto de 3 de setembro de 1759, no qual foi promulgado pelo Rei
D. José, assim Marquês de Pombal expulsou a Companhia de Jesus, apreendendo para a
coroa portuguesa todos os bens que os jesuítas foram adquiridos enquanto eram os
únicos responsáveis pela transmissão da educação no Brasil.
Quando Marquês de Pombal assinou o decreto havia no Brasil 670 membros da
Companhia de Jesus, entre eles noviços e estudantes, sendo levados para Portugal 417,
os que ainda não haviam recebido ordens ou noviços foram persuadidos a deixarem a
ordem religiosa.
Os jesuítas permaneceram com os únicos educadores no Brasil por 210 anos,
organizaram um sistema de ensino fundados na propagação da religião e da cultura
europeia, ampliando seus colégios e seminário pelo Brasil, a cultura e a educação da
população indígena foram aos poucos sendo substituída pelo modelo que os jesuítas
trouxeram.

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OS JESUÍTAS E A IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
Os jesuítas implementaram duas categorias de ensino no Brasil, a instrução
simples primaria, as escolas de primeiras letras para os filhos dos portugueses e dos
índios, e a educação média, colégios destinados a meninos brancos que formavam
mestres em artes e bacharéis em letras. Essa organização vai determinar os graus de
acesso as letras, uns mais e outros menos. Podemos perceber que era proibido o acesso
da criança negra até mesmo livre.
Como podemos observar, inicialmente os jesuítas dedicaram-se a catequizar e
converter os gentios à fé católica, posteriormente começaram a dedicar-se ao ensino dos
filhos dos colonos e outros membros da colônia, por último a formação da burguesia
urbana, que era formada pelos filhos dos donos de engenho. Quando concluíam essa
fase do ensino no país, os que tinham posses seguiam para estudar na Universidade de
Coimbra, influenciando a sociedade burguesa.
Assim, os padres acabaram ministrando, em princípio, educação
elementar para a população índia e branca em geral (salvo mulheres),
educação média para os homens das classes dominantes, parte da qual
continuou nos colégios preparando-se para o ingresso na classe
sacerdotal, e educação superior só para esta última. A parte da
população escolar que não seguia a carreira eclesiástica encaminhava-
se para a Europa, a fim de completar os estudos, principalmente na
Universidade de Coimbra, de onde deviam voltar os letrados
(ROMANELLI, 1987, p. 35).

Para Veiga (2008), esse tipo de estrutura que os jesuítas implantaram no Brasil
era inadequado para a população que aqui viviam, principalmente a pobre e de cultura
heterogênea, deixando mais visível à divisão de classe.
Os jesuítas em seus ensinamentos ajustavam a catequese e a aprendizagem dos
seus trabalhos, esse processo era realizado com uma divisão social, a catequese atendia
os indígenas, que era realizada nas aldeias e a educação para a elite, ensinadas nos
colégios religiosos.
Percebemos que desde o seu surgimento o ensino dos jesuítas não se
preocupava realmente com os povos que aqui habitavam, mas era somente de atender a
coroa portuguesa, tanto que não respeitaram o processo no qual os indígenas viviam, as
escolas que foram sendo implantadas durante o período jesuítico não têm registro de
negros e pobres frequentando esses espaços.

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Apesar dos avanços hoje ainda encontramos grande dificuldades para que as
camadas mais baixas da sociedade, entre eles pobres, negros e os indígenas, frequentem
as escolas e principalmente que cheguem as universidades públicas.
Segundo Almeida (2014) os jesuítas deixaram para nossa sociedade modelos
de colégios organizados em rede, um método pedagógico e um currículo comum.
Mesmo que o processo que colonização tinha como fator principal a colonização, como
uma forma de impor a cultura europeia os indígenas e exercer o domínio sobre eles, a
educação no Brasil desenvolveu para atender a necessidade da sociedade da época, ou
seja, a elite.
O contexto socioeconômico no Brasil na época baseava-se no modelo
mercantilista, exploração da mão de obra escrava. O papel da educação era de fortalecer
a visão do colonizador, sendo assim a catequese e a educação da elite os principais
objetivos dos jesuítas.
Conforme Ferreira Jr. (2010), iniciando com os jesuítas até Pombal a educação
no Brasil teve sua marca centrada na formação de uma elite dirigente da sociedade da
colônia. Entretanto, a organização escolar tinha o perfil de insatisfatório tanto em
qualidade quanto em quantidade, sendo o seu currículo humanista, de conteúdo literário
nos moldes europeus, tendo como objetivo manter uma sociedade coesa.
Para Rocha (2010), a educação estava baseada em um mundo perfeito, com
essa visão, cada um recebia o que era da vontade divina, sendo assim a educação
pertenciam aqueles que saberiam usufruir delas, nobreza e a nata da burguesia para
continuar o seu papel na sociedade. Ainda para a autora, o que mais marcou o trabalho
dos jesuítas foi na formação das elites e das lideranças da sociedade colonial, para que a
cultura da fé católica fosse garantida.
Entendemos que uma sociedade que se baseava na escravatura e converter os
índios a fé católica, só poderia atender aos interesses da camada mais alta da população,
portanto os jesuítas basearam seu método de ensino para aqueles que detinham o poder.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer a história da educação no período jesuítico é importante para
entendermos como foi sendo constituído o primeiro passo para uma educação formal,
quais características que marcaram esse momento e as mudanças que ocorreram.

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Podemos observar que a chegada dos jesuítas marcou grandemente nosso
modelo de educação, quando chegaram desconsideraram o modelo de organização e
transmissão dos conhecimentos que os indígenas viviam durante décadas, negando suas
crenças e valores, impuseram seu modelo educacional que se baseava no catolicismo.
Buscava atender somente aos interesses das camadas mais altas da população,
para os índios, o ensino era voltado para fé católica, para os negros não viam a
necessidade de uma educação formal, pois eram a mão de obra de um trabalho escravo
que atendia aos colonos e para as mulheres não havia nem a preocupação, já que
deveriam se preocupar somente com os serviços domésticos.
Os jesuítas deixaram um legado de colégios organizados em rede, um método
pedagógico e um currículo comum. Entretanto o processo de colonização atuou como
uma ferramenta de imposição cultural aos índios, exercendo o domínio sobre eles, por
meio da Companhia de Jesus que a educação brasileira se desenvolveu, atendendo ás
necessidade da sociedade, dedicando-se a educar a elite também sendo responsável pela
imposição da cultura europeia, disseminando pelos colégios e igrejas.
Ainda hoje temos uma educação que não atende as minorias, valoriza a
meritocracia, não respeita os contextos que alunos vivem. E, mesmo oriundos de
situações diferentes, alguns ainda estão fora das escolas, ou seja, mesmo depois de
muitos anos, ainda presenciamos essas situações.
Apesar de termos avançando muito, a educação, ainda não é prioridade,
apresenta-se com fins políticos, ligadas ao interesse do Estado, que infelizmente
direcionam de acordo com a política vigente. O sistema educacional mesmo que de
forma dissimulada, não se comprometem em desenvolver uma educação de qualidade,
mas sim o controle e domínio cultura, usada como forma de dominação e manipulação
das massas populares.
Depois de alguns séculos de colonização e educação jesuíta, ainda
presenciamos vestígios de uma educação voltada para a elite, que ainda exclui os mais
pobres, desvaloriza os professores, com lugares inapropriados para muitas crianças
estudarem, e somente aqueles com maior poder aquisitivo frequentam boas escolas e
alcançam postos mais altos na sociedade.

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REFERÊNCIAS
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