Luiza Klein Trompowsky Heck
Luiza Klein Trompowsky Heck
Luiza Klein Trompowsky Heck
Assinaturas:
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José Augusto Garcia de Sousa
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Nota Final:____________
Rio de Janeiro, ___ de junho de 2013
À minha pequena Antonia Maria, por ser tão
especial e amada pela nossa família.
RESUMO
This dissertation analyzes the characteristics of the Conduct Adjustment Declaration (TAC),
and demonstrates the reasons for presenting a solution to the effectiveness of the principle
access to justice. In order to demonstrate that TAC (Conduct Adjustment Declaration) is in
fact an alternative to judicial ways, data was obtained from the Court of Rio de Janeiro and
the National Council of Justice websites, which provide evidence for the judiciary system
crisis. Furthermore, characteristics of the adjustment conduct are exposed, along with a
discussion of its evolution through the years. In principle, such peculiarities support even
further the idea of the substitutability of judicial proceedings, aside from processes being
speedy, they do not impose formalities required by judicial powers. Finally, two terms of
adjustment conduct were presented, the first having been signed by the Federal and State
Public Prosecuters, and the second by the Labor Prosecutor. The conclusion of this study is
that Conduct Adjustment Declaration has enormous potential to become an alternative to
litigation solutions, however, it still requires certain adaptations to be fully operational.
Introdução ................................................................................................................................... 8
3.2.5 Resultados........................................................................................................... 45
Conclusão ................................................................................................................................. 46
Bibliografia ............................................................................................................................... 47
8
Introdução
O compromisso, conforme será demonstrado mais adiante, poderá ser celebrado pelos
órgãos públicos legitimados à propositura da ação civil pública em juízo, ou ainda, em
momento anterior ao ajuizamento do processo judicial, ocorrendo na maior parte dos casos no
curso do inquérito civil.1
“De igual modo, a norma tem como fim ensejar uma tutela mais rápida desse
tipo de direito, uma vez que as decorrências da lentidão dos mecanismos
formais de justiça se tornam dramáticas para a sua proteção. A relevância
dos direitos transindividuais estimulou o legislador a engendrar um
mecanismo mais expedito para a sua tutela.”3
Com base nesse contexto, pretende-se analisar nesse estudo a eficiência do termo de
ajustamento de conduta, sendo ele considerado uma excelente alternativa para a solução de
conflitos, haja vista suas características que facilitam a celebração, além do cenário em que
atualmente se encontra o judiciário brasileiro.
1
O trabalho focará principalmente nos termos firmados extrajudicialmente, sendo feita uma breve análise dos
termos judiciais no tópico 1.8.
2
CRFB/88, Artigo 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito.
3
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.85.
9
Para esse fim, o trabalho será dividido em três partes: (i) no primeiro capítulo
trataremos da crise do poder judiciário, que acaba tendo por consequência a busca por formas
alternativas de solução de conflitos, como é o exemplo do TAC; (ii) no segundo, serão
demonstradas algumas características do ajustamento de conduta e (iii) no terceiro, serão
apresentaremos dois compromissos firmados, analisando suas cláusulas e vantagens
apresentadas.
O primeiro capítulo tem por objetivo retratar de forma sucinta a atual conjuntura do
judiciário brasileiro, que demonstrará que o TAC se apresenta como uma boa alternativa
diante do “afogamento” da via judicial.
Apesar de ter sido instalado no Brasil no século XVI, o poder judiciário tornou-se um
“super poder” com o advento da Constituição de 1988, momento esse em que passa a exercer
grande influência sobre a sociedade brasileira. As normas que regulam tal poder podem ser
encontradas no capítulo III da Carta Magna. 4
Por mais que exerça função extremamente relevante, é fato notório que o judiciário
brasileiro vem passando por uma intensa crise. Muitos autores falam em uma “crise de
5
eficiência” na medida em que vem se tornando cada vez mais difícil a consecução de sua
atividade fim, qual seja, a de prestação jurisdicional.
O protagonismo assumido pelo poder judiciário nos últimos anos, embora seja positivo
para a democracia, foi fator decisivo para o aprofundamento da crise.6 Os problemas são
muitos, sendo a falta de prestação jurisdicional célere e eficiente o mais assinalado.
4
Acerca de sua estrutura, boa definição foi dada por Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, que assim a descreve:
“Em linhas gerais, podemos dizer que o Poder Judiciário brasileiro está estruturado, na sua cúpula, com uma
corte, o Supremo Tribunal Federal, com a missão precípua de guarda da Constituição e com as funções judiciais
atribuídas, de modo geral, a três ramos especializados de justiça (trabalhista, eleitoral e militar) e a uma justiça
comum, porque com competência ampla para diversas matérias, que se subdivide em Justiça Federal e Justiças
Estaduais. A competência da Justiça Federal vem definida taxativamente na Constituição, ficando, assim, para a
Justiça dos Estados a competência residual, ou seja, tudo o que não for da competência das Justiças
Especializadas ou da Justiça Federal. Registre-se, além disso, a existência do Superior Tribunal de Justiça, que
funciona como tribunal superior da Justiça Comum, mas, também, com outras funções amplas, como a de decidir
conflitos de competência entre quaisquer tribunais, que não sejam superiores, bem como entre tribunal e juízes a
ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos (o que faz com que decida conflitos
relacionados com tribunais e juízes especializados) ou a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de
exequatur às cartas rogatórias ( exhortos ), nos termos do art. 105 da Constituição”. MENDES, Aluisio
Gonçalves de Castro. Poder Judiciário no Brasil. p.13. (Versão escrita da conferência apresentada pelo autor
no Colóquio Administración de justicia em Iberoamérica y sistemas judiciales comparados , realizado em
outubro de 2005, na Cidade do México, e organizado pela Universidad Nacional Autónoma de México e pela
Suprema Corte de Justicia de la Nación). Disponível em: www.ajuferjes.org.br/PDF/Poderjudiciariobrasil.pdf,
acessado em 07 de maio de 2013.
5
MOREIRA, Helena Delgado Ramos Fialho. Poder Judiciário no Brasil: crise de eficiência, 1ª Ed., Curitiba:
Juruá Editora, 2004, p.22.
6
Segundo Nelson Jobim, “a promulgação da Constituição de 1988, contendo vasta Carta de Direitos e novos
instrumentos processuais; a valorização do controle concentrado de constitucionalidade como uma espécie de
“instância recursal” utilizada pelas minorias políticas quando derrotadas no Parlamento; a intensa judicialização
11
Dentre os motivos que levam a justiça brasileira à essa situação estão o crescimento do
número de demandas, a insuficiência e falta de preparo dos magistrados, o formalismo
excessivo das normas processuais,a falta de organização e padronização das varas judiciais e
o fácil acesso à justiça impulsionado pela criação das defensorias públicas e juizados
especiais.8
Foi possível obter no site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, indicadores que
demonstram a morosidade excessiva no poder judiciário. No ano de 2011, por exemplo, o
processo levou em média 1497 dias (4 anos e 29 dias) para ser julgado, contando-se esse
período da data da distribuição da inicial até a sentença. Já no ano de 2012, levou-se 1376 dias
(3 anos e 281 dias) para o julgamento de uma ação.9
Fato que nos impressiona, e que possivelmente é a causa para essa demora, é a
quantidade de processos atualmente em tramitação. Acerca do problema, destaca Helena
das chamadas “lesões de massa”, especialmente as relacionadas com planos econômicos; o alto impacto
econômico de decisões judiciais proferidas em ações civis públicas; a ampliação do ingresso de usuários no
sistema judicial, em face dos juizados especiais (estaduais em 1996 e federais em 2002); o aumento da
criminalidade organizada e da violência urbana; esses são os fatores mais importantes que levaram a um
crescente protagonismo político e social experimentado pelo judiciário brasileiro”. JOBIM, Nelson. Judiciário:
Construindo um novo modelo. In: A Reforma do Poder Judiciário no estado do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, S/N, p. 13.
7
Boaventura de Sousa Santos entende haver dois conceitos de morosidade, descrevendo-os da seguinte forma:
“A morosidade sistemática é aquela que decorre da burocracia, do positivismo e do legalismo. Muitas das
medidas processuais adotadas recentemente no Brasil são importantes para o combate à morosidade sistêmica.
Será necessário monitorar o sistema e ver se essas medidas estão a ter realmente a eficácia, mas há morosidade
ativa, pois consiste na interposição, por parte de operadores concretos do sistema judicial (magistrados,
funcionários ou partes), de obstáculos para impedir que a sequência normal dos procedimentos desfechem o
caso.” SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma revolução democrática da justiça, 3ª Ed.,São Paulo: Ed.
Cortez, 2007, p. 42-43.
8
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Poder Judiciário no Brasil. p.46. (Versão escrita da conferência
apresentada pelo autor no Colóquio Administración de justicia em Iberoamérica y sistemas judiciales
comparados , realizado em outubro de 2005, na Cidade do México, e organizado pela Universidad Nacional
Autónoma de México e pela Suprema Corte de Justicia de la Nación). Disponível em:
www.ajuferjes.org.br/PDF/Poderjudiciariobrasil.pdf, acessado em 07 de maio de 2013.
9
Disponível em http://www.tjrj.jus.br/web/guest/produtividade_pjrj/anuario2012, acessado em 30 de abril de
2013.
12
A fim de verificar a real demanda perante o judiciário, obtivemos alguns dados no site
do Conselho Nacional de Justiça através do relatório “Justiça em Números” 11, que apresenta
um panorama da Justiça Brasileira. Para tanto, indicaremos os dados obtidos nas Justiças
Estaduais, Federais e do Trabalho.
Justiça Estadual
10
MOREIRA, Helena Delgado Ramos Fialho. Poder Judiciário no Brasil: crise de eficiência, 1ª Ed., Curitiba:
Juruá Editora, 2004, p.22.
11
O relatório obtido foi o correspondente ao ano de 2011. Disponível em http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-
a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-emnumeros/relatorios, acessado em 30 de abril de 2013.
13
Justiça Federal
Justiça do Trabalho
Nas tabelas acima apresentadas, foi possível observar que o número de juízes é
relativamente baixo quando comparado à carga de processos, conforme demonstra a coluna
“carga de trabalho dos magistrados”. É importante mencionar que a quantidade excessiva de
processos prejudica a própria qualidade do julgamento.
Todos esses dados demonstram que o poder judiciário vem enfrentando uma
verdadeira crise na medida em que não consegue atender sua demanda. Essa situação acaba
gerando um sobrecarregamento da via judicial que resulta na morosidade excessiva quando da
prestação desse serviço.
A arbitragem é um instituto que já vem sendo utilizado por outros países, sendo
regulamentado no Brasil pela lei 9.307/96. Impera nessa modalidade de solução de conflitos a
autonomia da vontade das partes, uma vez que elas decidem o árbitro julgador da lide bem
como as principais regras que conduzirão o julgamento.
No que tange à sua agilidade, pode-se dizer que tal característica é verificada na
arbitragem, uma vez que a lei dispõe o prazo máximo de 180 dias para o julgamento do
conflito, salvo se disposto de forma contrária pelas partes. Além disso, essa forma de solução
de conflitos ainda apresenta como vantagens a sua flexibilização nos procedimentos e sua
informalidade, aspectos esses que contribuem para a celeridade processual e que não são
verificados na via judicial.
12
DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 1, 9ª Ed., Salvador: JusPODIVM, 2007, p.72.
15
Vale ressaltar que apesar de parecer ser a solução mais vantajosa em termos
econômicos, os gastos realizados pelo poder público com o judiciário são enormes. No ano de
2011, por exemplo, o Superior Tribunal de Justiça, teve uma despesa anual no total de R$
894.822.181, tendo sido recolhido pelo órgão, a título de custas e emolumentos, R$
44.817.525, o que corresponde a apenas 5% em relação ao total gasto. A tabela abaixo indica
de forma clara os números obtidos.14
13
Vale mencionar ainda, que o instituto não poderá ser utilizado para todo tipo de demanda, como é o caso das
lides que envolvem direitos indisponíveis.
14
Disponível em http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-
emnumeros/relatorios, acessado em 30 de abril de 2013.
16
Em 2010, foi editada a Resolução 125 do CNJ que trata da “Política Judiciária de
Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses”. Tal regulamento prevê que caberá ao
Poder Judiciário organizar, não somente os serviços prestados nos processos judiciais
tradicionais, mas também a solução dos conflitos através de outros mecanismos consensuais,
como por exemplo, a mediação e a conciliação. Com a criação dessa regulamentação, o CNJ
pretendeu justamente dar efetividade ao acesso à justiça, dispondo inclusive no texto
normativo o seguinte:
Por fim, com relação ao termo de ajustamento de conduta, esse também pode ser
considerado uma boa forma de solução extrajudicial de conflitos tendo em vista suas
peculiaridades que serão examinadas no próximo capítulo.
15
Disponível em http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12243-
resolucao-no-125-de-29-de-novembro-de-2010, acessado em 30 de abril de 2013.
17
2. Características do TAC
Apesar de a Lei de Ação Civil Pública ter surgido em 1985, até a década de 90, eram
poucos os institutos que tutelavam os direitos tansindividuais.
16
Não foi possível encontrar pesquisa mais recente que abordasse de forma tão profunda os temas que serão
discutidos nesse capítulo.
17
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011.
18
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.85
19
O mesmo dispositivo ainda pode ser encontrado no parágrafo único do artigo 57 da Lei 9099/1995, que trata
dos Juizados Especiais, e que revogou a Lei 7244/1984.
18
estando o mesmo dentro da tutela dos direitos individuais disponíveis, sendo essa situação
diversa da finalidade estabelecida pelo TAC.20
Durante algum tempo, restou uma dúvida a respeito da vigência do artigo 113, uma
vez que o artigo 82, § 3º foi expressamente vetado pelo Presidente da República à época. Há
quem diga que a intenção do Presidente era também de se manifestar contra a inclusão do
23
artigo 113 ao ordenamento. No entanto, nada foi dito no momento de sua promulgação.
Para alguns autores, teria havido uma espécie de veto incidental uma vez que o Presidente
expressou sua intenção em excluir tal dispositivo nas razões de veto ao artigo 82, § 3º.24
20
Geisa de Assis Rodrigues ainda aduz que “podemos também arrolar como precursora da possibilidade de
celebração do compromisso de ajuste por órgãos públicos a própria prática administrativa do Estado
contemporâneo de se adotar, em determinadas situações, decisões que importem, em uma certa medida,
negociação sobre a forma de cumprimento das normas legais ligadas a interesses da comunidade”.
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática, 3ª
Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.87.
21
Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 211. “Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título
executivo extrajudicial”.
22
Ambos os dispositivos contém a seguinte redação: “Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá
eficácia de título executivo extrajudicial".
23
Como bem salientado por Hugo Nigro Mazzilli: “É verdade, argumentam alguns, que a leitura das razões do
veto, na sua íntegra, demonstra, sem sombra de dúvidas, que o Presidente da República intentava vetar ambos os
dispositivos que cuidavam do compromisso de ajustamento, tanto o art. 82, § 3º, quanto o art.113, ambos do
CDC, como, aliás, ele o disse com todas as letras, nas próprias razões do veto. Entretanto, aí resta um equívoco
de interpretação. Sem dúvida foi intento do chefe do Poder Executivo vetar ambos os dispositivos; ele até o disse
expressamente. Mas, daí a inferir tenha havido veto, será tirar conclusão equivocada, pois, por falha técnica do
gabinete da Presidência da República, o art. 113 foi promulgado na sua íntegra, jamais tendo havido qualquer
retificação de publicação” MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio
ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed.
Saraiva, 2007, p.379.
24
Acerca das razões do veto ao artigo 82, § 3º, foi mencionado o seguinte: “É juridicamente imprópria a
equiparação de compromisso administrativo a título executivo extrajudicial (C.P.C., art. 585, II). É que, no caso,
o objetivo do compromisso é a cessação ou a prática de determinada conduta, e não a entrega de coisa certa ou
pagamento de quantia fixada”.
19
Vale ressaltar que a regra no sistema brasileiro é a de que o veto presidencial deverá
ser sempre explícito, o que de fato não ocorreu, tendo sido o dispositivo regularmente
sancionado e promulgado em sua íntegra.25
A partir da leitura de tal dispositivo, verifica-se que esse se destoa do artigo 211 do
ECA no que tange à expressão “mediante cominações”, que não aparece presente neste
último. A aplicação dessas cominações demonstrou um avanço do instituto, e serão analisadas
de forma mais cautelosa no decurso do presente capítulo.
Com relação à evolução do ajustamento de conduta ao longo dos anos, foi possível
observar que a mesma ocorreu de forma exponencial. A pesquisa apresentada no livro de
25
De acordo com Geisa de Assis Rodrigues, “O veto power, importante contribuição do direito constitucional
americano aos países de regime de governo presidencial, é, em regra, expresso, podendo ser implícito quando o
ordenamento jurídico assim o faculta. O art. 66 da Constituição Federal não prevê essa possibilidade. A regra,
portanto, no nosso sistema é a de que o veto tem que sem sempre explícito e relativo formalmente a todos os
dispositivos aos quais se intenta vetar, o que quer dizer que quando se trata de veto parcial, o Chefe do Executivo
deve demonstrar a recusa em sancionar formalmente cada artigo, parágrafo, inciso ou alínea. Na verdade,
tecnicamente o presidente não formalizou o veto ao art. 113. De conseguinte, não se pode defender a existência
de um veto incidental porque as razões do veto de um dispositivo não podem ser aplicáveis a outro que não
expressamente vetado”. RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de
Conduta: Teoria e Prática, 3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.91.
26
STJ, REsp 443407/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 2ª Turma, DJ 25/04/2006; STJ, REsp 327023/DF,
Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, DJ 23/05/2006; REsp 440205/SP, Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, 3ª Turma, DJ 13/06/2005. Disponível em http://www.stj.gov.br , acessado em 10 de março de
2013.
20
Nas palavras de Mazzilli, o TAC seria um “título executivo extrajudicial, por meio do
qual um órgão público legitimado toma do causador do dano o compromisso de adequar sua
28
conduta às exigências da lei”. Para afastar a ideia de transação, o autor sugere que há
ausência de concessões recíprocas, uma vez que o órgão público somente se comprometerá
em não ajuizar ação judicial sobre aquilo já disposto no título, restando assim, obrigações
apenas para o causador do dano.29
Já o professor José dos Santos Carvalho Filho dispõe sobre o assunto da seguinte
forma:
27
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011.
28
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.385.
29
Nas palavras de Carlos Roberto Jatahy: “Segundo doutrina majoritária no Direito Brasileiro, não se trata de
nenhum acordo, até porque não se pode admitir que o Ministério Público, na defesa de interesses difusos e
coletivos, realize transação com o causador do dano e ceda parcela de um interesse que é público. Os legitimados
não têm disponibilidade do direito material lesado”. JATAHY, Carlos Roberto de Castro. Curso de princípios
institucionais do Ministério Público, 4ª Ed., Rio de Janeiro: Ed: Lumen Juris, 2009, p.395.
21
Mazzilli, diferentemente dos demais autores, entende ser possível dispor sobre
questões acessórias no TAC. Sobre o assunto, entende que
30
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 221.
31
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 222.
32
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.394.
22
assim, um ato jurídico em sentido estrito. É válido mencionar que a jurisprudência também já
se manifestou nesse mesmo sentido. 33
Mazzilli, diferentemente dos demais autores, entende ser possível dispor sobre
questões acessórias no TAC. Sobre o assunto, entende que
33
“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. COMPROMISSO DE
AJUSTAMENTO DE CONDUTA. REQUISITOS DE VALIDADE. DESNECESSIDADE DE ANUÊNCIA DE CO-
LEGITIMADO PARA A AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. ART. 5°,
LEI 7.437/85. 1. Conteúdo, aos requisitos e aos limites do ajustamento de conduta. 2. A ação civil pública
constitui "o exercício do direito à jurisdição, pelo Ministério Público, entidade ou pessoa jurídica em lei
determinada, com a finalidade de preservar o patrimônio público ou social, o meio ambiente, os direitos do
consumidor e o patrimônio cultural, a ordem econômica e a economia popular, ou de definir a
responsabilização por danos que lhes tenham sido causados". 3. O objetivo do compromisso de ajustamento de
conduta é readequar e conformar a conduta do degradador ou potencial degradador ao ordenamento jurídico
em vigor, afastando o risco de dano ou recompondo os danos já causados. 4. Houve expressa limitação à
legitimidade para firmar o termo de ajustamento de conduta, eis que somente é atribuído tal poder aos órgãos
públicos co-legitimados ao ajuizamento da ação civil pública (e não a todos os legitimados para ajuizamento da
ação civil pública). Buscou a lei evitar que determinadas pessoas jurídicas (notadamente as de direito privado)
pudessem firmar compromisso de ajustamento de conduta com os potenciais ou efetivos degradadores, ainda
que presentes os requisitos exigidos para a propositura da ação civil pública, como no exemplo das associações.
Como se trata de acordo em sentido estrito, tendo como objeto direitos e bens indisponíveis, é perfeitamente
legítima e constitucional tal limitação. 5. Não há, efetivamente, exigência da concordância de co-legitimado
para a ação civil pública no que tange à homologação judicial do compromisso de ajustamento de conduta. 6. A
única possibilidade de, eventualmente, não ser confirmada a homologação judicial do compromisso de
ajustamento de conduta ocorrerá quando não houver adequação do acordo à reparação ou prevenção efetiva
do dano ao interesse difuso ou coletivo (como no exemplo do meio ambiente), com a necessidade de
suprimento ou reparação do compromisso. 7. Na eventualidade de o Apelante conseguir reunir elementos
comprobatórios da danificação de curso d'água na localidade, a circunstância de ter sido homologado o
compromisso de ajustamento de conduta não será obstáculo ao ajuizamento de ação civil pública. O certo é que,
no âmbito desta ação civil pública, todas as medidas possíveis, no contexto das circunstâncias verificadas e
provadas, foram adotadas e previstas no termo de ajustamento de conduta. 8. A expressão "ajustamento de
conduta", tal como empregada pelo legislador ao se referir ao TAC, é emblemática, eis que "o instituto se
propõe unicamente a fazer com que as pessoas físicas e jurídicas possam se adequar ao que determina a
legislação". 9. Daí a impossibilidade de se confundir o compromisso de ajustamento de conduta com a
transação, este instituto típico do Direito Civil, relacionado aos interesses disponíveis. 10. Apelação conhecida
e improvida”. (TRF 2, Apelação Cível 427003, Processo 200451090004830, Relator Des. Guilherme Calmon
Nogueira da Gama Órgão Julgador: 6ª Turma Especializada, Data da decisão 02/03/2009, DJU 16/04/2009).
34
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.394.
23
Já outra parte da doutrina, defende ser o TAC uma verdadeira transação. Para a maior
parte dos autores que defendem essa corrente, seria na verdade uma transação especial, uma
vez que se trata de direitos transindividuais, não sendo os mesmos passíveis de disposição.
É válido destacar que a natureza do instituto por si só não deve se tornar o foco
principal quando da análise do instituto. Conforme bem salientado pela autora supracitada,
“(...) a natureza jurídica do ajustamento de conduta não pode se tornar um falso dilema, posto
que o que realmente interessa é a prática efetiva do instituto, que deve honrar a sua teleologia
e seus princípios”.37
2.3. Legitimidade
35
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.138.
36
A Lei 8884/94 foi revogada quase que totalmente pela Lei 12.529, de 2011. Atualmente, o compromisso de
cessação está previsto no artigo 85 da nova lei, e foi mais específico do que o dispositivo anterior ao prever que
o CADE poderá tomar do representado compromisso de cessação nos procedimentos administrativos
mencionados nos incisos I, II e III do art. 48 da lei (tais incisos tratam do seguintes procedimentos: (i)
procedimento preparatório de inquérito administrativo para apuração de infrações à ordem econômica;(ii)
inquérito administrativo para apuração de infrações à ordem econômica e (iii) processo administrativo para
imposição de sanções administrativas por infrações à ordem econômica). Já o artigo 53 da lei anterior, previa que
o CADE poderia tomar compromisso de cessação em qualquer das espécies de processo administrativo.
37
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.139.
24
Antes mesmo de se verificar quais são órgãos públicos legitimados para tal função,
cumpre-nos ressaltar algumas questões processuais.
Com relação à legitimidade das partes, Alexandre Freitas Câmara, assim como outros
doutrinadores, suscita ser esse requisito uma “pertinência subjetiva” da ação, afirmando que
39
possuem legitimidade os titulares da relação jurídica deduzida em juízo. Quanto ao
interesse de agir, o autor entende ser esse requisito uma demonstração da necessidade da
máquina jurisdicional para se alcançar o fim pretendido. Sustenta ainda que o mesmo pode ser
verificado pela presença do binômio “necessidade da tutela jurisdicional” e “adequação do
provimento pleiteado”, falando-se assim em “interesse-necessidade” e “interesse-
40
adequação”.
“No acordo extrajudicial não é o direito próprio do Estado que está em jogo,
e por isso consideramos cabível a considerar esta legitimidade como uma
espécie de substituição, pois os órgãos legitimados atuam em nome próprio
quando celebram os ajustes, para favorecer a esfera jurídica de outros, quase
sempre atingindo a esfera patrimonial dessas pessoas”.41
38
Lei 7347/1985.
39
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, 20ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris,
2010, p.124.
40
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, 20ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris,
2010, p.127.
41
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.140.
25
Câmara, ocorre a substituição processual “quando alguém estiver em juízo em nome próprio,
42
em lugar do (substituindo) legitimado ordinário”. Ainda é possível perceber que apesar de
não haver o interesse propriamente da instituição, ela é nomeada pela lei para atuar como
substituta processual a fim de alcançar os objetivos daqueles que estão sendo substituídos.
Dessa forma, caberá a tais órgãos a defesa dos interesses/direitos transindividuais.
42
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, 20ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris,
2010, p.127.
43
Para José dos Santos Carvalho Filho, “órgão público é o compartimento da estrutura organizacional
administrativa ao qual é cometida competência para o desempenho de determinadas funções”. 43 CARVALHO
FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de 24.7.85), 7ª Ed., Rio de
Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 219.
44
O artigo 82 do CDC trata mais especificamente da defesa dos interesses e direitos dos consumidores,
atribuindo tutela de tais direitos aos seguintes órgãos: (i) Ministério Público; (ii) União, os Estados, os
Municípios e o Distrito Federal; (iii) as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta e (iv)
associações.
45
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.382.
26
Com relação ao primeiro grupo não há muita discussão por tratar-se do Estado, ou
seja, pessoas de direito público interno ou por seus órgãos imediatos. A segunda categoria é
formada por entidades civis de direito privado, que não se encaixam na locução dita pela lei,
qual seja, de “órgãos públicos”. A discussão gira em torno da terceira categoria, constituída
por órgãos da administração pública indireta e pelas fundações públicas.
Para alguns autores, nada obsta que as empresas públicas e as sociedades de economia
mista firmem compromisso quando estiverem agindo como prestadoras ou exploradoras de
serviço público. Contudo, óbice haverá quando estiverem na qualidade de exploradoras de
atividades econômica, pois nessa situação atuam como empresas privadas, o que as
46
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.141.
47
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 11ª Ed., São Paulo: Ed. Malheiros, 1996,
p.733.
27
Para uma segunda corrente, ainda que estejam prestando ou explorando serviços
públicos, em nenhuma hipótese as empresas públicas e as sociedades de economia mista
poderão propor o ajustamento de conduta. Isso porque ainda que pertençam à administração
pública, são dotadas de personalidade jurídica de direito privado, não merecendo qualquer
tratamento especial.
48
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.384.
49
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 226.
50
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 226.
28
Com relação à atuação do Ministério Público, Mazzilli alega ser esse o próprio Estado,
e “de acordo com a teoria da organicidade, o Ministério Público não representa o Estado; o
Ministério Público torna presente o Estado nas relações em que intervenha”. 51
Para alguns autores, o Ministério Público deverá sempre intervir, ainda que seja nas
hipóteses de compromisso extrajudicial.52 Contudo, para autores como José dos Santos
Carvalho Filho, o Parquet somente atuará nas hipóteses em que o TAC for celebrado no curso
da ação judicial, atuando inclusive nas hipóteses em que outro órgão homologa judicialmente
acordo por ele firmado.53
Carvalho Filho discorda dos demais autores por entender que mesmo tendo o
Ministério Público a função de proteger os interesses difusos e coletivos, não há qualquer
54
exigência legal quanto à sua participação. A Lei de Ação Civil tratou de disciplinar apenas
sua atuação na esfera judicial prevista no artigo 5º, § 1º, sem fazer qualquer outra menção
sobre o assunto. 55
51
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.386.
52
A conotação “compromisso extrajudicial”, indica que o acordo decorreu de um processo administrativa e não
judicial. Quando há a atuação do Judiciário, atribui-se a nomenclatura “compromisso judicial”. CARVALHO
FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de 24.7.85), 7ª Ed., Rio de
Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 229.
53
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 227.
54
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 227.
55
Lei 7347/1985, Artigo 5º, § 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei.
56
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.155.
29
O ajuste firmado deverá cumprir com todas as obrigações apontadas pelo órgão, a fim
de que possa alcançar a satisfação dos direitos ofendidos pela conduta. O TAC nada mais é do
que uma solução extrajudicial de conflitos, que deverá alcançar os mesmos resultados que
poderiam ser obtidos pela via judicial. Vale ressaltar que o termo também poderá ser firmado
após a propositura da ação, o que ainda assim se mostra vantajoso na medida em que não
seguirá o trâmite processual tradicional, que, conforme mencionado no capítulo anterior, é
objeto de críticas devido à ausência de celeridade.
A lei não estabeleceu uma forma específica para a celebração do acordo, na verdade,
quando o ajuste for extrajudicialmente firmado, apresenta-se como uma alternativa à via
judicial59 e, nesse sentido, seu grande objetivo é desburocratizar o atual sistema dando maior
celeridade à solução dos conflitos. Dito isso, entendemos que a celebração do TAC é
informal, havendo poucas exigências para sua constituição.60
57
Em algumas situações a reparação civil pode influenciar na aplicação da sanção penal, podendo reduzir a pena
e ainda resultar na aplicação do instituto da suspensão do processo. O artigo 89, § 1º,I da Lei 9099/1996 prevê
inclusive a reparação civil como um requisito para a suspensão do processo criminal. 57 RODRIGUES, Geisa de
Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática, 3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed.
Forense, 2011, p.157.
58
Nesse sentido: STJ, RHC 24499/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, DJe: 03/10/2011.
Disponível em http://www.stj.gov.br, acessado em 12 de março de 2013.
59
Quando já houver tido a propositura da ação, entendemos que o TAC nesse caso é uma alternativa às vias
tradicionais de jurisdição.
60
Geisa Rodrigues afirma que deverão sempre constar nos termos os motivos pelos quais o órgão público
celebrou o compromisso, tendo em vista a importância da motivação dos atos administrativos para o Estado
Democrático de Direito. RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de
Conduta: Teoria e Prática, 3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.172.
30
Assim, não há forma expressa determinada em lei para a maior parte dos
compromissos, contudo, nada impede que os órgãos legitimados para a celebração do TAC
estabeleçam em seu regimento interno requisitos específicos.
De acordo com a Lei Complementar paulista no 734/9563, nas hipóteses em que o TAC
é firmado pelo Ministério Público, o compromisso de ajustamento de conduta só se tornaria
eficaz com a homologação do arquivamento do inquérito civil pelo Conselho Superior do
Ministério Público.64 A nosso ver, tal dispositivo seria inconstitucional uma vez que compete
61
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 227.
62
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.185.
63
Lei Complementar paulista no 734/95, artigo 112, parágrafo único.
64
Cumpre ao Conselho Superior do Ministério Público homologar o arquivamento do inquérito civil quando
entender ser o compromisso satisfatório, ou em caso contrário, mandará propor a ação civil pública. MAZZILLI,
Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural,
patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.395.
31
à lei federal disciplinar sobre questões processuais, não havendo qualquer brecha em nossa
constituição para que uma lei estadual regule sobre o tema.65 Esse também é o
posicionamento de Hugo Nigro Mazzilli, que entende que lei estadual não pode criar regra de
processo civil.66
Na prática, o TAC passa a surtir efeitos logo após a celebração do ajuste. Tal dado de
realidade guarda relação com o próprio instituto, que visa justamente desburocratizar a
solução de litígios. Caso fosse necessária a autorização de outro órgão para dar início à
produção de efeitos, estaria o ajustamento de conduta perdendo sua própria essência.67
65
Constituição, Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
66
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.390.
67
Nesse sentido: “A burocratização excessiva da atividade de composição de litígios é absolutamente
contraproducente, e insensível aos valores cuja proteção é reclamada no ajuste”. RODRIGUES, Geisa de Assis.
Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática, 3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed.
Forense, 2011, p.186.
68
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.187.
32
Geisa de Assis Rodrigues vai ainda mais afundo na questão, e entende ser necessária a
distinção entre os termos que tenham por objetivo prevenir fatos gravosos, e os ajustes que
tenham conteúdo meramente reparatório.70
Com relação à primeira situação, a insuficiência de medidas para prevenir o dano não
pode gerar a ineficácia do termo, sob risco de gerar uma situação ainda mais desfavorável
para o direito transindividual. Temos como exemplo uma empresa que firma um
compromisso com um órgão ambiental, se comprometendo a cumprir diversas medidas a fim
de evitar a poluição atmosférica. No entanto, outro colegitimado, apesar de concordar com as
medidas apontadas no ajuste, entende que existem outras que devam ser adotadas. A autora
entende que nessa hipótese, “não se pode tornar ineficaz o primeiro ajuste, e se deixar o meio
ambiente sem aquele compromisso que, embora não se repute perfeito, já contribuiu para
prevenir futuros danos”. Nessa situação, deve ser adotada a ideia de “garantia mínima” trazida
por Mazilli, restando ao órgão a possibilidade de complementar o termo por meio de um
aditivo, ou ainda, optar pela via judicial.71
Por outro lado, o ajuste que versa apenas sobre obrigações reparatórias tem que ser o
mais completo possível, tendo como limite aquele que seria imposto pelo judiciário, sob pena
de ser ineficaz perante os demais colegitimados.72
Caso os indivíduos lesados pela conduta não se sintam inteiramente defendidos pelo
compromisso realizado, nada os impede de procurar a via judicial a fim de fazer valer outros
direitos que reputem cabíveis. Isso porque o TAC é uma alternativa de solução de conflitos,
que não poderá afastar o acesso à justiça em nenhuma circunstância.73
69
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.393.
70
Entende a autora que na hipótese de o termo não ter sido firmado pelo Ministério Público, o órgão
compromissário tem o dever de informar ao Parquet sobre a realização do compromisso. Caso isso não seja
cumprido, não estará o Ministério Público vinculado ao termo. RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil
Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática, 3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011,
p.187 e 188.
71
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.188.
72
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.188.
73
O Princípio da Inafastabilidade do Judiciário encontra-se previsto na Constituição Federal, por meio do artigo
5º,XXXV que dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
33
Vale ressaltar que a celebração do ajustamento de conduta deverá contar com ampla
publicidade uma vez que visa proteger direitos metaindividuais que poderão ser tutelados,
inclusive, por diversos colegitimados. 74
2.7. Cominações
74
Ainda que não seja possível tornar público o ajustamento de conduta, não poderão ser os compromissos
anulados sob esse argumento tendo em vista o princípio da garantia mínima.
75
Acerca do assunto, temos como exemplo a ação civil pública ajuizada pela Defensoria Pública do Estado de
Tocantins que pretendeu anular o ajustamento de conduta firmado entre o Ministério Público do Estado de
Tocantins, o Sindicato Rural de Gurupi, Município de Gurupi e o Estado de Tocantins. Para a Autora, o termo de
ajuste continha infringências aos princípios da tipicidade, legalidade, isonomia, lealdade na concorrência criando
inúmeras desigualdades, principalmente com relação à comunidade carente da Região Sul do Estado, requerendo
como medida de urgência a suspensão de sua eficácia como pedido de antecipação de tutela. A sentença julgou
procedente o pedido, declarando a nulidade do TAC “diante de sua impraticabilidade e ilegalidade da maioria
das cláusulas extraordinárias que criaram direitos ou obrigações divorciadas da legislação posta”. Tribunal de
Justiça do Tocantins, ACP, Processo no 2010.0004.7357-8. Disponível em http://wwa.tjto.jus.br/, acessado em 10
de abril de 2013.
76
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.395.
34
Com relação aos dados obtidos na pesquisa realizada junto ao Ministério Público
Federal77, foi possível verificar que nos primeiros anos de vigência do TAC, a prática não era
tão comum. Isso porque apenas 40% dos termos analisados previam multa cominatória
(medida coercitiva mais utilizada) no período entre 1990 e 1998. Contudo, mesmo sem essa
disposição, a maior parte dos termos firmados nesse período foi cumprida.
Esse cenário muda com a investigação realizada entre 1998 e 2004, tendo em vista um
grande aumento no número de termos que previam expressamente as medidas coercitivas em
caso de descumprimento, pulando de 40%, para a proporção de 72%.
Os títulos executivos judiciais são aqueles que se originam de uma decisão prévia do
próprio judiciário, enquanto os extrajudiciais são documentos que permitem uma deflagração
direta do processo de execução, sem necessidade de prévia manifestação judicial.
O Código de Processo Civil, por meio do artigo 585 VIII, prevê que serão
considerados títulos executivos extrajudiciais aqueles estabelecidos em lei.80A Lei da Ação
77
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011.
78
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº 7.347, de
24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p. 230.
79
A pesquisa concluiu que dos ajustes frustrados, 17,39% continham prazo e 21,4% não continham. Embora a
diferença seja pequena, a fixação do momento para cumprimento do compromisso é vantajosa pois pressiona o
compromitente a cumprir o ajuste firmado.
80
CPC, Artigo 585. São títulos executivos extrajudiciais: VIII - todos os demais títulos a que, por disposição
expressa, a lei atribuir força executiva.
35
Civil Pública não deixou dúvidas quanto à força executiva do ajustamento de conduta,
prevendo ao final do artigo 5º, § 6° que o compromisso firmado “terá eficácia de título
executivo extrajudicial”.81
Com relação à eficácia do ajuste, é importante verificar uma grande diferença que há
entre os títulos. Quando há uma ação em curso, o compromisso somente produzirá efeitos
após sua homologação, podendo a ação ser suspensa até o cumprimento efetivo do
compromisso, ou ainda, ser a ação arquivada, sendo o cumprimento do ajuste observado fora
das vias judiciais.
81
Lei 7347/85, Artigo 5º, § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de
ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial.
82
Não há, por exemplo, singularidade com relação ao objeto, que somente poderá versar sobre matérias não
vedadas em lei, na tutela de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Contudo, o ajuste deverá
prever a responsabilidade pelo pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios. RODRIGUES,
Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática, 3ª Ed., Rio de
Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.215.
83
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.215.
84
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.218.
36
do fato de ser um meio célere para a solução de conflitos, qualidade essa que não vêm sendo
observada no judiciário.
De 1 a 2 anos 26,8
De 2 a 3 anos 26,8
Enquanto a maior parte dos compromissos são celebrados em até 1 ano, apenas 19,6%
das ações civis públicas são julgadas de forma tão breve. Tal dado demonstra que o TAC é
extremamente vantajoso quando comparado ao processo judicial. Conforme bem salientado
pela organizadora da pesquisa:
85
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011
86
No tópico 1.1 apresentamos dados do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que indicaram que o processo
levou em média 4 anos e 29 dias para ser julgado no ano de 2011, e 3 anos e 281 dias no ano de 2012. A tabela
apresentada acima foi obtida no livro “Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e
Prática”, sendo os dados do TJRJ obtidos no site do próprio Tribunal.
87
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.245.
37
Com relação aos ajustes que não atenderam os fins pretendidos, obteve-se o seguinte
resultado na pesquisa realizada88:
Saúde 50%
Cidadania 33,3%
Apesar de ainda ser alto o número de ajustes frustrados, percebeu-se que o motivo
para seu descumprimento não decorre de uma suposta ineficiência do instituto, mas sim pelo
fato do mesmo ainda estar em fase de institucionalização. Isso porque quando há uma
participação mais ativa dos órgãos públicos responsáveis, há uma maior efetividade no
cumprimento do ajuste.89
É importante mencionar que para aqueles títulos não cumpridos, caberá ao órgão
público promover agora a execução de título executivo extrajudicial. Ou seja, ainda que o
termo seja frustrado, a celebração do compromisso apresenta-se mais vantajosa em termos
processuais, uma vez que o título segue direto para uma fase de execução, sem necessitar
passar pela fase de conhecimento, como ocorre nos casos de ação civil pública.
Diante da análise feita ao longo do presente capítulo, foi possível concluir que o
ajustamento de conduta avançou ao longo dos anos e hoje é visto como um instituto vantajoso
88
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011.
89
Nesse sentido, a pesquisa demonstrou que quando há a previsão de prazo bem como a implicação de medidas
coercitivas em caso de descumprimento, os compromissos são quase sempre cumpridos. RODRIGUES, Geisa de
Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática, 3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed.
Forense, 2011, p.263.
38
para a solução dos conflitos. Isso porque demonstrou ser mais breve do que a tutela
tradicional, alcançando resultados que dificilmente seriam obtidos no judiciário. 90
90
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática,
3ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2011, p.282.
39
O presente tópico terá por objetivo apresentar dois termos de conduta firmados,
analisando suas especificidades bem como vantagens e desvantagens.
Em determinada época, a área foi utilizada como abrigo para presos políticos, contudo,
na década de 90, a ilha passou a ser referência na atividade do turismo, o que intensificou a
criação e construção de grandes empreendimentos.
3.1.1. Partes
3.1.2. Objeto
Além dos objetivos gerais, cada ente público ficou responsável por uma determinada
obrigação, estabelecendo-se o prazo de 60 a 360 dias para seu cumprimento. A tabela abaixo
demonstra resumidamente as obrigações assumidas por cada órgão:
As partes ainda determinaram que as multas seriam revertidas para o Fundo Nacional
de Meio Ambiente e para o Fundo Estadual de Conservação Ambiental, na proporção de 50%
para cada fundo. Ademais, tendo em vista a ausência de caráter compensatório das mesmas,
seu pagamento não eximiu as partes da responsabilidade por perdas e danos decorrentes de
violação ao termo ajustado ou mesmo à legislação ambiental.
Vale ressaltar o previsto na cláusula quinta do termo que estabeleceu que “o disposto
no presente TERMO não limita, não impede e não suspende a fiscalização ampla, irrestrita e
permanente dos órgãos com competência legal na área ambiental, ou o exercício de suas
demais atribuições e prerrogativas legais”. Tal regra guarda relação com a ideia trazida no
capítulo anterior, que define que o TAC “terá essa característica de garantia mínima, nunca de
limitação máxima de responsabilidades do causador do dano”.91
Previu a cláusula sétima do termo que “dentro do prazo de 20 (vinte) dias, contados da
data de sua assinatura, deverá o extrato do presente TERMO ser publicado no Diário Oficial
da União e no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, correndo os respectivos encargos,
em iguais partes, por conta da SEMADS e do Município”.92
91
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.393.
92
Disponível em: http://www.coepbrasil.org.br/portal/publico/apresentarConteudo.aspx?CODIGO=C20083292
12822234&TIPO_ID=4, acessado em 23 de maio de 2013.
42
Tal cláusula demonstra que o TAC passa a surtir efeitos logo após sua celebração, não
necessitando de autorização de quaisquer outros órgãos para dar início à produção de seus
efeitos.
3.1.5. Resultados
Apesar de ter sido considerada por muitos uma eficiente solução para os problemas
ambientais enfrentados pela Ilha Grande, o termo de ajustamento de conduta firmado em 2002
parece não ter dado os resultados esperados. São diversas as reportagens disponíveis na
internet que criticam a atuação dos órgãos públicos.
Não obstante tenha sido o ajuste parcialmente cumprido logo após sua assinatura, há
ainda muito que se fazer para que se obtenha o desfecho pretendido. Os problemas mais
urgentes, tais como a questão do lixo e do trabalho infantil, foram solucionadas. Contudo, os
responsáveis preferiram eliminar questões pontuais não adotando medidas de eficácia a longo
prazo.
No caso do lixo, por exemplo, foram comprados veículos que fizessem o transporte do
mesmo. Contudo, ainda não foi implantado um sistema eficiente de eliminação dos resíduos
sólidos.
Os motivos para o inadimplemento do termo são muitos, entre eles estão: (i) ausência
de repasse entre os governos do montante previsto no documento assinado, (ii) parte dos
recursos destinados seriam arcados por uma empresa privada que se instalaria no região,
sendo que o empreendimento não ocorreu, (iii) falta de uma homogeneidade legislativa a ser
aplicada, uma vez que a ilha é composta por diversas unidades de conservação sob proteção
do governo federal, estadual e municipal, e a (iii) falta de comunição com a população que
sequer sabia da existência do ajuste, não podendo assim, pressionar os órgãos públicos
envolvidos ao cumprimento do ajuste celebrado.93
93
Disponível em: http://www.coepbrasil.org.br/portal/publico/apresentarConteudo.aspx?CODIGO=C20083292
12822234&TIPO_ID=4, acessado em 23 de maio de 2013.
43
3.2.1. Partes
3.2.2. Objeto
Vale ressaltar o disposto pela Cláusula Décima Terceira que previu que os sucessores
ficariam igualmente responsáveis pelas obrigações pactuadas, respondendo todo o patrimônio
do compromitente pelas obrigações e multas avençadas no documento.
Restou previsto pela Cláusula Décima Terceira do ajuste que o mesmo passaria a ter
vigência imediata a partir da data de sua assinatura. Tal determinação demonstra, ainda de
forma mais clara do que o TAC da Ilha Grande, a ausência de formalidade do instituto
94
Tais obrigações estão previstas na cláusula primeira à oitava do termo de ajustamento de conduta, que se
encontra anexado ao presente trabalho.
95
Vale ressaltar que o destino das multas obtidas através do TAC ainda é tema de discussão pela doutrina e
jurisprudência. Isso porque muitos defendem que os valores deverão ser repassados para atividades de mesma
natureza daquela prevista no TAC. No REsp 802060, por exemplo, o Ministro Luiz Fux entendeu ser “nulo o
Termo de Ajustamento de Conduta in foco, por força da inclusão de obrigação de dar equipamento de
informática à Agência de Florestal de Lajeado”. STJ, REsp 802060/RS, Rel. Min. Luiz Fux,, 1ª Turma, DJe
22/02/2010. Disponível em http://www.stj.gov.br, acessado em 25 de maio de 2013.
45
3.2.5. Resultados
Não foi possível obter informações acerca do cumprimento do ajuste ora analisado.
Contudo, percebe-se que, diferentemente do TAC da Ilha Grande, as obrigações impostas ao
compromitente não foram abusivas, mas sim simples e possíveis de serem cumpridas no prazo
determinado. Ademais, mesmo após a assinatura do TAC, o negócio ou atividade empresarial
da fazenda continuou a ser exercido regularmente, gerando benefícios não só para a
economia, mas também para os próprios trabalhadores que puderam continuar trabalhando,
agora em condições dignas.
96
O STJ já entendeu que as esferas de responsabilização são autônomas. STJ, RHC 24499/SP, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, DJe: 03/10/2011. Disponível em http://www.stj.gov.br, acessado em 12 de
março de 2013.
97
“A possibilidade de indenização por dano moral está prevista na Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso
V. O texto não restringe a violação à esfera individual, e mudanças históricas e legislativas têm levado a doutrina
e a jurisprudência a entender que, quando são atingidos valores e interesses fundamentais de um grupo, não há
como negar a essa coletividade a defesa do seu patrimônio imaterial. O dano moral coletivo é a lesão na esfera
moral de uma comunidade, isto é, a violação de valores coletivos, atingidos injustificadamente do ponto de vista
jurídico”. Disponível em http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao /engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=1 0
6083, acessado em 29 de maio de 2013.
46
Conclusão
Ocorre que apesar de se apresentar como uma solução para a crise do poder judiciário,
o ajustamento de conduta ainda apresenta algumas deficiências que precisam ser superadas.
No TAC da Ilha Grande, por exemplo, foi possível verificar que o mecanismo de
fiscalização para o cumprimento das obrigações assumidas ainda é falho. Tal situação está
provavelmente ligada à ausência de publicidade que é dada aos compromissos firmados.
Diante de todo o exposto, conclui-se que o TAC apresenta diversas vantagens quando
comparado à via judicial, ainda mais diante da atual crise vivida por esse poder. Contudo, é
preciso que se crie uma uniformização no que tange às regras e procedimentos do instituto, o
que certamente propiciaria uma eficácia ainda maior desse mecanismo.
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Bibliografia
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1ª Ed., Curitiba: Juruá Editora, 2004.
DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 1, 9ª Ed., Salvador: JusPODIVM,
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MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo : meio ambiente,
consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses, 20ª Ed., São
Paulo: Ed. Saraiva, 2007.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública: comentários por artigo (Lei nº
7.347, de 24.7.85), 7ª Ed., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, 20ª Ed., Rio de Janeiro:
Ed. Lumen Juris, 2010.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 11ª Ed., São Paulo: Ed.
Malheiros, 1996.