UNIVERSIDADE ABERTA ISCED
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em Administração Publica
A Separação de Poderes em Moçambique
Lindoca Manuel Nhacuongue: 71220674
Quelimane, Agosto de 2022
UNIVERSIDADE ABERTA ISCED
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em ensino de Geografia
A Separação de Poderes em Moçambique
Trabalho de campo a ser submetido
a coordenação de curso de
licenciatura em Administração
Publica da UniSCED
Lindoca Manuel Nhacuongue: 71220674
Quelimane, Agosto de 2022
Índice
1. Introdução...........................................................................................................................4
1.1. Objectivos....................................................................................................................4
1.1.1. Objectivo Geral........................................................................................................4
1.1.1. Objectivos Específicos.........................................................................................4
2. Separação de poderes...........................................................................................................5
3. Separação de Poderes em Moçambique................................................................................5
4. Princípios de Separação de Poderes em Moçambique..........................................................7
4.1. Estado...........................................................................................................................7
5. Formação e elementos constitutivos do Estado....................................................................7
5.1. Formação......................................................................................................................7
6. Elementos do Estado............................................................................................................8
7. Funções do Estado................................................................................................................8
8. Os Poderes do Estado...........................................................................................................9
8.1. O poder Executivo em Moçambique............................................................................9
8.2. Após Independência.....................................................................................................9
8.2. Poder legislativo.........................................................................................................11
9. Principais manifestações....................................................................................................12
10. Poder Judicial em Moçambique......................................................................................12
11. Funções principais da Justiça.........................................................................................13
12. Conselho Judicial...........................................................................................................14
13. Conclusão.......................................................................................................................16
14. Referência bibliográfica.................................................................................................17
1. Introdução
O novo quadro sócio-político e económico que o país vive resultante da revisão
constitucional de 1990 e da assinatura dos acordos de Roma para uma paz efectiva
oferece novos rumos para a consolidação e o fortalecimento de um Estado de direito.
O país conhece uma incessante procura de interiorização da reconciliação
nacional e a salvaguarda dos direitos dos cidadãos, a solidariedade social e a autoridade
do Estado através de uma estabilidade política num quadro de diversidade. Moçambique
passou a consagrar um regime político guiado por ideais democráticos onde todos os
cidadãos são chamados a participar activa e permanentemente na vida política do país,
traduzindo assim um direito e dever dos cidadãos à participação para a ampliar e
consolidar a democracia em todos os níveis da sociedade.
A consagração do princípio de separação de poderes e do controle social desses
mesmos instrumentos são pressupostos para uma operacionalidade dos poderes políticos
e concretização dos fins do Estado.
O presente trabalho debruça-se em torno da Separação de Poderes em
Moçambique que serve de trabalho de campo na cadeira de Introdução a Administração
Pública nos cursos de Licenciatura em Administração Pública, 1º Ano. Em concernente
a elaboração do mesmo, usaram-se vários artigos publicados na internet livros, e entre
outros, no que culminou a uma pesquisa bibliográfica.
1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
Analisar o impacto da Separação de Poderes em Moçambique.
1.1.1. Objectivos Específicos
Definir separação de poderes;
Descrever as características dos três poderes de Estado;
Identificar os princípios de Separação de Poderes em Moçambique;
Descrever a importância da separação de poderes.
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2. Separação de poderes
“A separação de poderes é um problema de princípio filosófico-político que vem
sendo refletido e defendido desde a sociedade influenciada pelos valores iluministas3,
que conduziram à grande Revolução Francesa de 1789, gerando, a nível político, o
movimento constitucionalista moderno” (Manuel, 2003).
Segundo Magalhães (2009), afirma que “Um dos princípios fundamentais do
constitucionalismo moderno é o da separação de poderes. A ideia da separação de
poderes surge para evitar a concentração absoluta de poder nas mãos do soberano,
comum no Estado absoluto”.
Segundo Magalhães (2009), afirma que “ atualidade, a reflexão sobre o princípio
de separação de poderes não é uma questão de interesse exclusivo dos fazedores da
política (governantes). É pois algo que mexe com os cidadãos por se tratar de uma
realidade que diz respeito não só aos políticos, mas também à sociedade em geral como
elemento base e destinatário do poder político (governados)”.
Entretanto o princípio da separação dos poderes não foi, histórica e
originariamente, um modelo binário a compreender que cada poder tem um escopo
teórico fechado, delimitado e incomunicável de acordo com o seguinte axioma: ou é
função executiva ou é função judiciária ou é função legislativa.
Segundo Peixinho (2008), enfatiza que “Além das constituições contemporâneas
atribuírem funções típicas e atípicas aos poderes constituídos, os Poderes Executivo e
Judiciário têm agregado às suas competências de origem outros atributos cada vez mais
crescentes”.
3. Separação de Poderes em Moçambique
Segundo Ucama (2013), enfatiza que “Em Moçambique a divisão horizontal dos
três poderes do Estado consiste, fundamentalmente, na repartição entre as diferentes
funções do Estado (Legislativa, Executiva e Judicial), funções essas que devem ser
confiadas a órgãos independentes com a finalidade de evitar a sua concentração”.
Cistac (2008, p. 17), afirma que “Entretanto o primeiro fator aqui proposto sobre
a excessiva concentração de poderes a favor da figura do Presidente da República, há
que salientar que, do ponto de vista dos sistemas de governo, Moçambique é um sistema
presidencialista”.
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E para Harman (2013), afirma que “é um sistema presidencialista com total
ausência de um mecanismo de “prestação de contas” por parte do chefe de governo e
chefe de estado (Presidente da República) perante a Assembleia da República, sendo
apenas os membros do governo que são fiscalizados, ficando assim de fora a chefia do
governo”.
Portanto dos estudos feitos por (Gilles Cistac, 2008; Herminio Manuel, 2004; e
Moises Paiva, 2011) sobre a separação de poderes em Moçambique, constatam que este
princípio e teoria de Montesquieu6 está aqui enfraquecida, existindo uma série de
factores que contribuem para este enfraquecimento.
Porem, depois da transição do regime absolutista para o regime liberal, a
separação dos poderes foi convertida de teoria para princípio fundamental e referência
material das Constituições, tal como resultava do seguinte teor do artigo 16 da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789:
“A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos
nem assegurada aseparação dos poderes não tem Constituição”.
Montesquieu partia do princípio de que num Estado (em cada Estado,
como ele dizia), têm de existir três tipos de poderes, nomeadamente, o
legislativo, o executivo e o judicial. De seguida, ele repartiu as
funções para cada um desses poderes, através das quais, o poder
legislativo cria, altera e revoga as leis: o poder executivo declara a
guerra e assina a paz, envia e recebe embaixadas, firma a segurança,
previne as invasões; e o poder de julgar, que pune os crimes e resolve
os deferindos dos particulares (Montesquieu, 2011, p. 305; Caetano
2009, p. 193).
Por isso que, pode se dar o caso que no sistema político moçambicano é
provável que existam condicionamentos à separação de poderes entre o executivo e o
legislativo, mas também entre o executivo e o judicial.
Segundo Ucama (2013), afirma que “Porque uma vez que a maior parte das
principais funções desses poderes estão concentradas na figura do Presidente da
República. Isto é, no sistema de governo moçambicano, dai que não se pode falar, em
bom rigor, da existência de um controle recíproco de poder, nem de equilíbrio de
poderes, que são os pressupostos funcionais do princípio da separação de poderes”.
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Entretanto, a primeira Constituição de Moçambique, que vigorou de 1975 a
1990, adoptou o regime político de democracia popular, baseado no modelo socialista
(artigos 1.º e 4.º, e 5), consagrou o sistema de partido único e o princípio da unidade do
poder.
Este princípio traduzia-se na supremacia formal da Assembleia Popular face aos
demais órgãos do Estado. Porém, a prática institucional conduziu a uma concentração
do poder na figura do Presidente da República, do Poder Legislativo e do Poder
Executivo.
4. Princípios de Separação de Poderes em Moçambique
4.1. Estado
Segundo Torres (2004), afirma que “A Sociedade humana, desde os primórdios,
procurou organizar-se de uma forma diferenciada, mas com o objectivo último de
realizar eficazmente e de uma maneira concertada as necessidades da colectividade”.
Torres (2004), diz que “Modernamente, os povos estão mais avançados no seu
modo organizacional, proclamando Estados independentes, institucionalizam um poder
– poder político como instrumento orgânico de regulamentação e realização das
aspirações colectivas”.
O Estado, portanto, consubstancia o modelo de organização mais avançado da
sociedade humana e é resultado de um longo processo de aprendizagem do homem com
vista ao aperfeiçoamento da sua vida em sociedade.
5. Formação e elementos constitutivos do Estado
5.1. Formação
O Instinto gregário do homem, desde cedo, veio impulsionar-lhe a procura de
formas de associativismo que lhe permitissem garantir a sua segurança física e
realização de interesses individuais e colectivos.
Torres (2004), afirma que “O Estado trata-se de uma categoria política
estruturante da organização do homem em relação (o homem social), portanto, a sua
formação resulta da vontade dos grupos humanos. Conhecem-se formas pacíficas e
violentas nos processos de formação dos Estados (pode-se reflectir aqui a forma seguida
por Moçambique)”.
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No plano da Antropologia histórica, revelam-se processos mais importantes
como:
Conquista;
Migração;
Aglutinação por laços de sangue ou por laços económicos;
Evolução pura para organizações cada vez mais complexas.
6. Elementos do Estado
Torres (2004), afirma que “O Estado deve ser visto como um corpo social
politicamente formado, estruturado e localizado num determinado espaço geográfico. É
desta concepção que Jellinek aponta três elementos para a formação de um Estado
independente, nomeadamente”:
O Povo: isto é, a comunidade, colectividade de pessoas concretas que
formam a nação e que se inspira por sentimentos subjectivos de
identidade;
Um Território: espaço terrestre delimitado por fronteiras dentro das
quais o povo vive e se exerce a jurisdição do poder instituído.
Um Poder Político soberano: elemento determinante para os Estado
independentes e que conduz a autodeterminação do povo para a
realização das suas aspirações colectivas. A soberania, na definição de
Jean Bodin, é o “poder que não tem igual na ordem interna”.
7. Funções do Estado
O Estado, para atingir os fins que se propõe, necessita de desenvolver um
conjunto de actividades a que chamamos de funções do Estado.
Torres (2004), afirma que “Não existe consenso quanto ao modo de classificar as
funções do Estado. Contudo, levemos a oponhais da maioria dos autores que baseando-
se na divisão tradicional dos poderes do Estado, segundo Montesquieu, fazem
corresponder cada poder a uma função considerando existir três funções do Estado: a
função legislativa, executiva e judicial”.
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8. Os Poderes do Estado
8.1. O poder Executivo em Moçambique
Segundo Torres (2004), afirma que “É do domínio dos presentes que pelo
conceito, quando se fala de Administração Pública tem se presente todo um conjunto de
necessidades colectivas cuja satisfação é assumida como tarefa fundamental pela
colectividade através de serviços por esta organizados e mantidos”.
“É com este princípio que o Governo Português instalou em Moçambique, na
fase de colonização, uma Administração Pública com o fim de satisfazer as
necessidades do regime colonial com características repressivas em prejuízo dos
interesses dos moçambicanos” (Torres, 2004).
O Governo Português impôs aos moçambicanos um Estado e um Direito
totalmente Portugueses, cabendo aos moçambicanos um cumprimento cativante, sem as
possibilidades de expressar qualquer contestação em relação às normas emanadas pelo
Estado Colonial Português.
Para reforçar a protecção das normas emanadas e do próprio estado, o Governo
Português adoptou a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) nas Províncias
Ultramarinas.
Segundo Torres (2004), enfatiza que “Uma das tarefas da polícia internacional e
de defesa do estado era colaborar com as outras polícias nacionais ou estrangeiras na
perseguição dos indivíduos que houvessem cometido crimes no estrangeiro, bem como
organizar os processos relativos a extradição de criminosos”.
8.2. Após Independência
No período que se seguiu à independência, houve um processo radical de
«escangalhamento do aparelho do estado colonial, suas normas, sua filosofia».
Segundo Torres (2004), afirma que “Tal processo que se desencadeou sob o
signo de «combate ao burocratismo» redundou numa verdadeira «desracionalização» do
Aparelho do Estado, cujos traços mais salientes foram: «a desnormatização, a
ideologização, a desprofissionalização e a desrotinização»”.
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Verificou-se, portanto neste momento, a substituição das normas pelos
princípios políticos, domínio da gestão dos recursos humanos na substituição de
critérios meritocráticos por critérios substantivos.
O Conselho de Ministro aprovou o Decreto 16/78 sobre as normas de trabalho e
disciplina no Aparelho do Estado, aplicável aos trabalhadores do Aparelho do Estado.
Em 1985, a Assembleia Popular aprovou a Lei 8/85 de 14 de Dezembro sobre
(Lei do Trabalho), aplicável aos trabalhadores das empresas públicas e privadas.
Segundo Torres (2004), afirma que “Porque o Decreto 16/78 se tornava
inadequado à nova realidade do mercado laboral e ainda a Lei 8/85 estabelecia num dos
seus artigos que os funcionários do estado reger-se-iam dum estatuto específico a ser
aprovado pelo Conselho de Ministros, o Conselho de Ministros através do Decreto
14/87 de 20 de Maio aprovou o Estatuto Geral dos Funcionários do Estado (EGFE)”.
“Com a revisão da constituição da República, em 1990, o país começa a registar
a separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário, importando realçar, quanto
ao poder legislativo a substituição da prevalência da Assembleia da República sobre os
restantes Órgãos do Estado pelo relacionamento equilibrado entre os mesmos” (Torres,
2004).
A Assembleia da República deixou de ser tida como órgão supremo e passou a
ser considerada como o mais alto órgão legislativo à iniciativa da Lei anteriormente
reservada ao comité central, à Assembleia Popular, ao Conselho de Ministros e as
Comissões da
Torres (2004), afirma que “Assembleia Popular deixou de pertencer ao Comité
Central e tornou-se extensiva aos deputados e ao Presidente da República, estabeleceu-
se um mecanismo de articulação entre a Assembleia da República e o Conselho de
Ministros pelo qual este passou a responsabilizar-se e a submeter-lhe para aprovação no
seu programa no início de cada legislatura”.
Segundo Torres (2004), afirma que “Em 25 de Junho de 2001, o Presidente da
República de Moçambique fez o lançamento oficial da estratégia Global da Reforma do
Sector Público em Moçambique; o qual assenta em 5 componentes, nomeadamente”:
Racionalização e descentralização de estruturas do processo de prestação
de serviços:
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Melhoria do processo de formação e monitoria de políticas públicas;
Profissionalização de funcionários do sector público;
Melhoria da gestão financeira e prestação de contas;
E, finalmente, boa governação e combate à corrupção.
A partir do lançamento da estratégia global da reforma do sector público, várias
normas foram aprovadas pelo Governo de Moçambique com maior destaque o Decreto-
30/2001 sobre as normas do funcionamento dos serviços da administração pública,
concretamente no que se refere aos órgãos locais do Estado (a Assembleia da República
aprovou em 19 de Maio de 2003 a Lei 8/2003 sobre os órgãos locais do Estado,
compreendendo o Governo Provincial, o Governador da Província e os Governos
Distritais).
8.2. Poder legislativo
Segundo Torres (2004), afirma que “A Assembleia da República corporiza um
dos três pilares do poder de Estado, a saber, o poder legislativo, consagrado
constitucionalmente nos artigos 133 a 135 e subsequentes do capítulo III”.
A Constituição da Repúblca define-a como sendo “o mais alto órgão legislativo
na República de Moçambique”. Constituido por Deputados eleitos por um sufrágio
universal, ela desempenhou em diferentes fases da história de Moçambique o papel
congregador de cidadãos de diferentes regiões e camadas sociais do país para
materializar a noção de que “a soberania reside no Povo”.
Hoje, é na Assembleia da República onde se discutem e se negoceiam acordos
polítcos que têm permitido que a paz se consolide e a democracia participativa ganhe
uma dimensão cada vez maior.
Segundo Torres (2004), afirma que:
“A Assembleia da República é o local onde a política de inclusão se
evidencia mais claramente porquanto nela se encontram representantes
de camadas sociais e políticas diversas, com diferentes origens e graus
de instrução, todos como cidadãos iguais e representativos; é, por isso,
um local privilegiado para o conhecimento dos outros e da diversidade
humana do país e da sua multiculturalidade”.
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9. Principais manifestações
Segundo Torres (2004), afirma que “As principais manifestações do poder
legislativo resumem-se nas competências que lhe são atribuidas pela Constituição,
artigo 135 e, que sendo em número de 12, se podem agrupar em cinco categorias, a
saber”:
Representar o eleitorado, funcionando como elo de identificação e
ligação com ele;
Legislar sobre todas matérias, incluindo a revisão da Constituição;
Supervisionar o trabalho do governo, o que implica aprovar o programa
do governo e fiscalizar o seu cumprimento;
Auscultar o elitorado e a opinião pública em geral e auto-organizar-se
para a realização das suas tarefas.
Como atrás se disse, a Constituição da República estabelece que a Assembleia
da República “é o mais alto órgão legislativo na República de Moçambique”, e que ela
“determina as normas que regem o funcionamento do Estado e a vida económica e
social através de leis e deliberações de carácter genérico” (artigo 133).
Segundo Torres (2004), afirma que “isto não quer dizer de modo algum que, na
sua actuação, a Assembleia aja de forma independente, no sentido de ignorar a natureza
de conjunto e harmonia de actuação com os outros poderes. Existe sempre uma
reciprocidade de deferência entre os três poderes e uma acção coordenada na direcção
dos assuntos de Estado”.
O Estatuto do deputado define os privilégios, as obrigações e os deveres do
Deputado à luz do que vem na Constituição artigos (144, 145 e 146). O mesmo acontece
com o estatuto dos titulares dos órgãos dos outros poderes.
10. Poder Judicial em Moçambique
Segundo Torres (2004), afirma que “Judicial, ou Judiciário é algo que tem a ver,
antes de mais, com Justiça, com administração da Justiça. É possível elaborar uma visão
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da Justiça basicamente a partir de dois ângulos ou perspectivas: institucional ou
funcional”.
A mais comum tem sido a que releva de um critério institucional, que é aquela
que faz o desenho da justiça a partir de organogramas, ou seja, da organização das
estruturas e das instituições da justiça, enfim, do(s) aparelho(s) envolvido(s) na
administração da justiça.
Segundo Torres (2004), diz que “O que vos proponho é que em vez de se
abordar a justiça como conjunto de estruturas ou instituições se aborde o sector a partir
das funções que lhe estão cometidas, para verificar se estas estão a ser cumpridas
satisfatoriamente, por um lado, e se não, quais os reajustamentos, reformas ou outras
formas de mudança requeridas ao nível institucional para que as funções sejam
plenamente realizadas”.
11. Funções principais da Justiça
São, a nosso ver, funções principais da justiça:
A função jurisdicional;
O Ministério Público;
A representação e defesa (advocacia, patrocínio) do Estado;
A investigação criminal;
A advocacia privada;
O patrocínio e a assistência jurídica pública aos mais carenciados;
A reeducação, reintegração e ressocialização dos delinquentes;
O controlo da constitucionalidade e da legalidade das leis e das normas
Na Constituição e nas leis, a configuração da função jurisdicional e do sistema
de tribunais têm como princípios estruturantes os seguintes:
A separação dos poderes;
A interdependência e colaboração entre os órgãos de soberania;
A independência dos juízes;
A irresponsabilidade, isenção, imparcialidade e inamovibilidade dos
juízes;
Além destes princípios comuns a várias ordens jurídicas, há ainda a considerar
no caso específico do nosso país:
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A função jurisdicional é exercida pelo Tribunal Supremo e demais
tribunais estabelecidos na lei;
O Tribunal Supremo é o mais alto órgão judicial;
O Tribunal Supremo garante a aplicação uniforme da lei.
Resulta da Constituição que ao Tribunal Supremo está conferido não só o papel
de cúpula de todojurisprudência, mas, sobretudo, o de garantir a uniformização da
jurisprudência.
Torres (2004), enfatiza que “Esta é a concepção moçambicana de organização da
função jurisdicional e do sistema de tribunais que foi esboçada logo na Constituição de
1975 e mais tarde delineada na Lei nº 12/78 de 2 de Dezembro, Lei da Organização
Judiciária, sendo depois consolidada na Constituição de 1990 e na Lei nº 10/92 de 6 de
Maio, Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais”.
É especialmente nesta última que está definido como é que o Tribunal Supremo
garante a aplicação uniforme da lei:
Artº 33 – Competência do Plenário em 2ª instância;
Ao Plenário do Tribunal Supremo, como tribunal de 2ª instância,
compete:
julgar em última instância e em matéria de direito os recursos
interpostos das decisões proferidas nas diversas jurisdições previstas na
lei.
12. Conselho Judicial
As principais competências do Conselho Judicial estão enumeradas no Artº 69
da Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais. Talvez valha a pena recordá-las:
Estabelecer os princípios do desenvolvimento da actividade judicial;
Apreciar e aprovar planos e programas de actividades dos tribunais;
Avaliar a eficácia da actividade judicial;
Aprovar estudos sobre medidas legislativas a propor, relacionadas com o
aumento da eficácia e o aproveitamento das instituições judiciárias;
Apreciar e aprovar os regimentos internos dos tribunais;
Apreciar a proposta do orçamento anual dos tribunais; e
Exercer as demais atribuições conferidas por lei.
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Torres (2004), diz que “Parece que podemos concluir que o Conselho Judicial é
uma espécie de conselho de administração dos tribunais judiciais, já que, exceptuada a
componente humana (os juízes e os oficiais de justiça), a administracão, gestão,
controlo e a disciplina de todas as demais componentes do aparelho dos tribunais
judiciais comuns estão a seu cargo”.
Torres (2004), afirma que “Percebe-se que assim seja, se atendermos ao facto de
que o legislador quis assentar a independência do Judiciário não apenas na tradicional e
inquestionável independência dos juízes no exercício da função jurisdicional, mas
também na própria autonomia do aparelho dos tribunais judiciais.
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13. Conclusão
Com o término do trabalho, conclui-se que A separação de poderes é um
problema de princípio filosófico-político que vem sendo refletido e defendido desde a
sociedade influenciada pelos valores iluministas3, que conduziram à grande Revolução
Francesa de 1789, gerando, a nível político, o movimento constitucionalista moderno.
Um dos princípios fundamentais do constitucionalismo moderno é o da
separação de poderes. A ideia da separação de poderes surge para evitar a concentração
absoluta de poder nas mãos do soberano, comum no Estado absoluto.
A atualidade, a reflexão sobre o princípio de separação de poderes não é uma
questão de interesse exclusivo dos fazedores da política (governantes). É pois algo que
mexe com os cidadãos por se tratar de uma realidade que diz respeito não só aos
políticos, mas também à sociedade em geral como elemento base e destinatário do poder
político (governados). Entretanto o princípio da separação dos poderes não foi, histórica
e originariamente, um modelo binário a compreender que cada poder tem um escopo
teórico fechado, delimitado e incomunicável de acordo com o seguinte axioma: ou é
função executiva ou é função judiciária ou é função legislativa.
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14. Referência bibliográfica
1. Magalhães, J. L. (2009). A teoria da separação e poderes e a divisão das
funções autônomas no Estado contemporâneo. São Paulo.
2. Peixinho, M. M (2008). O Princípio da Separado dos Poderes, a
Judicialização da Política e Direito Fundamentais. Brasília
3. Torres, H. (2004). Controle Social do Poder Político em Moçambique
Divisão de Poderes. Nampula.
4. Ucama, A. C. D. (2012). A independência do poder judicial. Beira.
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