PDF - Psicologia Da Educação
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Apresentação 7
8. O desafio da diferença 105
9. O campo transferencial 115
9.1 Aprender com o professor 118
Gabarito 137
Referências 149
7
Apresentação
A. Sant’Anna
Dica de estudo
• DAVIS, Cláudia. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez,
1994. p. 104-105.
Procure aplicar o projeto 04 desse livro, onde a autora trata de
uma observação do cotidiano de uma sala de aula. Desenvolver
a capacidade de observação é um exercício que favorece o au-
toconhecimento, a descoberta das potencialidades e limites
pessoais. Favorece a convivência, a solidariedade com o outro.
Ainda, abre a possibilidade de transformar e criar atitudes que
sejam educativas e que possam ir ao encontro da satisfação, da
realização pessoal e profissional e da afetividade.
Atividades
1. Explique, com as suas palavras, como podemos compreen-
der a sala de aula tendo por referência as contribuições da
dimensão “psi“ para a educação.
Saber da
experiência
Tácito
tenham que ler os manuais. Parece que não temem o novo, o desco-
nhecido, vão tentando e fazendo descobertas.
Com certeza, as crianças de hoje são muito mais habilidosas e
talentosas do que as de 30 anos atrás. Nossos alunos também o são.
Por que elas conseguem e nós, adultos, não? Talvez a resposta esteja
no fato de que, para elas, a tecnologia é um dado da sua cultura, da
cultura à qual elas pertencem. Ao adulto, só resta estar pronto para
aprender as novas tecnologias.
E o que dizer da tecnologia nuclear? Sodré (1987) diz que os
conflitos de guerra têm sido adiados devido ao poder de destruição
das armas nucleares, pois seu uso destruiria os dois lados do com-
bate, e só haveria perdedores. A ficção cinematográfica tem mate-
rializado, com belíssimas imagens, os efeitos das guerras atômicas.
Desse modo, as políticas internacionais exigem diplomacia e uma
convivência internacional harmoniosa que, se não chega a ser coo-
perativa, assume uma postura de aceitação pacífica e de tolerância.
Como nos relata Arendt (1993, p. 303),
vivemos um momento de passagem do conflito entre ge-
rações para um conflito de acomodação de espaço entre as
gerações. Antes, o olhar social era vertical, havia o certo, ou
seja, a virgindade, a honestidade, o trabalho, a religiosidade
e o errado. Hoje, é mais horizontal, sabemos melhor que a
hipocrisia de nada adianta, não se julga, compara-se. Menos
ética, mais estética, ou talvez mais etiqueta.
bebê a interação pela via do olhar entre a mãe e o bebê. Por meio do
olhar a mãe transmite seus sentimentos e emoções e essa vivência
refletirá nos sentimentos do bebê, favorecendo a constituição da
imagem de si mesmo, o sentimento de bem-estar, de confiança, se-
gurança no ambiente.
Citamos agora um exemplo do cotidiano relacional. Por vezes,
desconfiamos das pessoas que quando falam não dirigem o olhar
ao seu interlocutor. Ainda, a experiência do olhar, a troca de olhares
com o outro, remete, por vezes, à cumplicidade entre os pares, entre
os casais: “nós nos entendemos por um simples olhar”. É um impor-
tante elemento para o fundamento emocional e sua manifestação no
campo social.
Recordemos a narrativa mitológica que valoriza a importância
do olhar. Trata-se de Eros e Psiquê, filha de rei, e dotada de uma
beleza excepcional, objeto de grande admiração e também de medo:
ninguém quis se casar com ela. O rei, seguindo a indicação do orá-
culo, levou a filha ao alto de um rochedo. Psiquê adormece e, quan-
do acorda, está no jardim de um palácio magnífico. Foi acolhida por
vozes que a guiaram e se puseram ao seu serviço. À noite, veio vê-la
seu marido que, sem lhe revelar o nome, advertiu-a de que jamais
deveria olhar para ele. Psiquê viveu feliz dessa forma até que, um dia,
cedeu à tentação e voltou o seu olhar para o rosto do marido, Eros,
deus do amor. Eros a abandona como punição por ter violado o tabu
(HAMILTON, 1983).
O que podemos inferir é que Eros queria ver sem ser visto, o que
aponta para as relações amorosas no aspecto importante do olhar,
da imagem. Temos, atualmente os programas de reality show, os
sites on-line de encontros para casais, que buscam pelo par ideal.
Os interessados cadastram-se e o sistema de computação ocupa-se
de apresentar o par ideal, a partir do perfil indicado pelos candida-
tos, aquele que virtualmente é o par perfeito, aquele que suposta-
mente atende às necessidades do interessado. É, dessa maneira, uma
O mundo moderno e as tecnologias 29
Dica de estudo
• O filme Eu, Robô, do diretor Alex Proyas, de 2004.
Esse filme é um convite para o educador refletir crítica-
-interpretativamente sobre as possibilidades de convivência
social do humano com as tecnologias, o uso que se pode fazer
das tecnologias. Considerando que se trata de uma situação
ficcional, que coloca em questão os limites dos paradigmas,
que precisam ser revistos e atualizados. Finalmente, espera-
-se que o educador possa refletir sobre novas concepções de
homem, natureza, sociedade, tecnologias e que surjam novas
práticas educativas que atendam ao aprendiz.
Atividades
1. Construa um parecer sobre a integração das novas tecnologia
no espaço escolar.
Renato Russo
Virtudes de
Estágios Crises Abrangência
Idades Modalidades Erikson e
psicos-sexuais psicossociais das relações
aproximativas psicossociais qualidades
de Freud de Erikson significativas
dominantes
Esperança: a fim e
convicção de que
Virtudes de
Estágios Crises Abrangência
Idades Modalidades Erikson e
psicos-sexuais psicossociais das relações
aproximativas psicossociais qualidades
de Freud de Erikson significativas
dominantes
Vontade: a determi-
nação de exercer ao
Anal-uretral, Autonomia mesmo tempo a livre
muscular Reter, escolha e a restrição
2-3 X Pais
(retentivo, deixar ir pessoal a despeito da
eliminador) vergonha, dúvida vergonha e da dúvida
experimentadas du-
rante a infância.
Finalidade: “a coragem
de encarar e de perse-
Genital infantil, Iniciativa Terminar guir objetivos válidos
locomotor, as coisas, sem ser inibido pela
3-6 X Família base
(intrusivo, colocá-las derrota das fantasias
inclusivo) culpabilidade junto infantis, pela culpa e
pelo medo inerente
da punição“.
Competência: o livre
Dica de estudo
• SALINGER, J. D. O Apanhador no Campo de Centeio. São
Paulo: Editora do autor, 1951.
Essa obra lança questões a fim de compreender a adoles-
cência, na medida em que apresenta o pensamento-jovem
distinto do infantil, com significados e sentidos particula-
res. Retrata os conflitos vividos pelo personagem Holden
Caufied, de 16 anos, filho de uma família rica, que estudava
num internato e retorna para casa. Nesse percurso, Caufield
faz reflexões sobre sua vida e trava conversas com outros
personagens significativos afetivamente para ele: professor,
ex-namorada e sua irmã. Nos diálogos, as contradições, as
ambiguidades e os conflitos vividos por Caufield retratam os
paradoxos internos desse jovem adolescente e que nos pare-
cem atuais e pertinentes à leitura dos pais para um encontro
ético e moral com os filhos.
50 Avaliação do impacto e licenciamento ambiental
Atividades
1. Construa uma explicação que justifique a frase: Pais e filhos
– impasses de um encontro de gerações.
C. Weinsteins e T. David
A mãe que não é suficientemente boa pode ser tanto aquela que
sufoca a criança com seus cuidados, não dando oportunidade de a
criança perceber e manifestar suas necessidades próprias, quanto
aquela que é ausente, em que a criança reclama suas necessidades e
não é atendida.
Klaus, Kennel e Klaus (2000) afirmam que o desenvolvimento
e sobrevivência do bebê dependem do vínculo formado com seus
pais. Um forte vínculo, que se inicia desde a gestação, passando pelo
trabalho de parto, o nascimento e o período pós-parto, melhora
a responsividade dos pais às múltiplas necessidades do bebê, for-
tificando o apego deste com seus pais, especialmente com a mãe.
O apego que o bebê desenvolve ocorre devido às respostas da mãe
aos sinais da criança, que, tendo suas necessidades satisfeitas, desen-
volve um sentimento de confiança básica.
Os autores ainda complementam que o vínculo dos pais com
seus filhos é a mais forte e a mais importante das ligações humanas.
Os recém-nascidos, embora ativos e conscientes, não podem sobre-
viver sozinhos, e os vínculos da mãe e do pai são fundamentais para
a sobrevivência e o desenvolvimento do bebê. O poder dessa ligação
é tão grande que capacita a mãe e o pai a fazerem contínuos sacrifí-
cios necessários para o cuidado da criança.
Para Lebovici (1987), a interação mãe-bebê consiste na co-
municação da mãe com o bebê por meio de mensagens verbais
e extraverbais (gestos, olhares, vozes, toques), que são represen-
tados por afetos mútuos, revelando o estado emocional de cada
um. O autor dá fundamental importância ao olhar entre a mãe e
o filho. O olhar mútuo tem por função facilitar a constituição de
uma imagem de si mesmo por parte do bebê, distinta e diferente
daquela da mãe. O rosto da mãe, especialmente seus olhos, serve
para favorecer no bebê a elaboração da imagem de si mesmo e
integrar um conjunto unificado de experiências afetivas.
O bebê e o enfrentamento do educativo 55
Dica de estudo
• WINNICOTT, Donald. Os Bebês e suas Mães. São Paulo:
Martins Fontes, 2006.
Esse livro apresenta de forma singular os detalhes das primei-
ras relações mãe-bebê e as diferentes formas como podem se
estabelecer, destacando as consequências para a formação da
personalidade da criança.
Atividades
1. Retire do capítulo, na parte que trata do desenvolvimento
emocional, quatro pontos que lhe chamaram a atenção ou
que você considerou importantes e registre-os abaixo.
Se me contemplo,
tantas me vejo,
que não entendo
quem sou, no tempo
do pensamento.
Vou desprendendo
70 Psicologia da Educação
Figura 1 – Felicidade
Na adolescência:
Tarefa educativa dos pais
poder de ressignificar
• Amor, afeto e segurança. • Responsabilize-os por atos inade-
• Ambiente familiar tranquilo, que dê quados.
suporte às frequentes crises de inse- • Dê afeto, tenha compreensão.
gurança e de identidade. • Seja justo e equilibrado.
• Pertencer a um grupo de amigos • Dê atenção a seus momentos de mau
positivos e saudáveis. humor, mudez absoluta, cara feia,
• Privacidade e respeito. resmungos.
• Projeto de vida e objetivos imediatos • Faça-os respeitar as normas vigentes
e claros. na família.
• Respeito e compreensão em relação • Estimule, positivamente, buscando
às dificuldades que atravessa. diminuir a insegurança e a baixa
• Liberdade para tomar decisões e agir autoestima natural da idade.
nos aspectos para os quais já apre- • Seja coerente quanto às normas de
senta maturidade e capacidade. disciplina.
• Limites que o ajudem a se proteger • Ressalte as vitórias escolares, espor-
da própria imaturidade e onipotência. tivas e sociais.
• Busque oportunidades de diálogo
sempre.
• Respeite quando expressarem inde-
pendência.
Fonte: Adaptado de SHINYASHIKI, 1992 e DELDIME, 1999.
Dica de estudo
• BOYNE, John. O Menino do Pijama Listrado. São Paulo: Cia
das Letras, 2007.
Essa obra discorre sobre o holocausto. O personagem princi-
pal, Bruno, desconhece sua real situação de vida, quer dizer,
que seu país está em guerra e que sua família está envolvida
no conflito com os judeus. Bruno compreende que foi obriga-
do a deixar sua casa e mudar-se para uma região abandonada,
onde ele está sozinho, sem amigos para brincar. Da janela do
seu quarto, pode ver uma cerca, e, para além dela, centenas
de pessoas de pijama. Bruno conhece Shmuel, um garoto do
outro lado da cerca. No desenrolar da trama Bruno vai aos
poucos tentando elucidar o mistério que ronda as atividades
de seu pai.
Atividades
1. Retire do capítulo três pontos que explicam o ato de brincar
na infância, para um desenvolvimento saudável social, afeti-
vo e cognitivo, registre-os abaixo.
Anny Cordiè
O propósito deste texto é pensar o tema do fracasso escolar nos
dias de hoje, tendo por referência a dimensão psicológica e sua con-
tribuição à educação e ao contexto escolar. Esse tema nos aflige e
queremos soluções. Salientamos que são inúmeros os aspectos que
devem ser considerados no fracasso escolar, que demonstra ser um
fenômeno que não dá mostras de esmorecer.
Assim, alguns questionamentos: o que acontece no espaço es-
colar, nas salas de aula, na relação professor-aluno, que escapa a
uma percepção objetiva? Para que serve a escola para o aluno? Será
que o educador consegue mostrar ao aluno para que serve a escola?
O que acontece no campo relacional professor-aluno que interfere no
sucesso ou fracasso escolar? Poderíamos dizer que há espaço para a
subjetividade no contexto escolar?
Refletir sobre esses interrogantes nos remete à tarefa educativa
e, em última instância, nos remete aos aspectos interativos entre
professor-aluno-escola e à dimensão psíquica (afetiva-emocional),
os quais permeiam as situações de aprendizagem.
Neste texto prioriza-se o olhar do campo “psi” na educação, afim
de que se possa compreender o que significa o fracasso escolar e
82 Psicologia da Educação
efetivo. O aluno não sabe, não sabe fazer, não é isso ou aqui-
lo. [...] Ao constatar-se uma “falta” no fim da atividade, essa
falta é projetada, reprojetada, para o início dessa atividade:
faltam ao aluno em situação de fracasso recursos iniciais,
intelectuais e culturais, que teriam permitido que o aprendi-
zado (e o professor) fosse eficaz. Ele é deficiente.
Um sujeito é:
• um ser humano, aberto a um mundo que não se reduz ao aqui
e agora, portador de desejos, movido por esses desejos, em
relação com outros seres humanos, também sujeitos;
• um ser social, que nasce e cresce em uma família (ou em um
substituto da família), que ocupa uma posição em um espaço
social, que está inscrito em relações sociais;
• um ser singular, exemplar único da espécie humana, que tem
uma história, interpreta o mundo, dá um sentido a esse mundo,
à posição que ocupa nele, às suas relações com os outros, à sua
própria história, à sua singularidade.
Esse sujeito:
• age no e sobre o mundo;
• encontra a questão do saber como necessidade de aprender e
como presença no mundo de objetos, de pessoas e de lugares
portadores de saber;
• se produz ele mesmo, e é produzido, através da educação
(CHARLOT, 2000, p. 33).
Após essa exposição, consideramos que não se pode deixar de
lado os aspectos subjetivos, no processo do aprender, para que pos-
sam surgir sujeitos singulares, criativos, em sua ousadia e inventivi-
dade, que inclusive colaborem para criar uma escola melhor.
Uma última palavra: parece-nos relevante apontar que talvez
nosso maior problema esteja em articular as dimensões psíqui-
cas, cognitivas e sociais envolvidas no complexo processo que é o
O fracasso escolar nos dias de hoje 93
Dica de estudo
• O filme A Excêntrica Família de Antonia, direção de Marleen
Gorris.
Essa obra cinematográfica premiada com o Oscar de me-
lhor filme estrangeiro discorre sobre a saga feminina de três
gerações. No cenário de uma pequena fazenda da Holanda,
Antonia relembra o dia em que ali chegou. Apresentam-se
personagens interessantes: a filha adolescente e homossexual,
a neta prodígio, a avó louca entre outros personagens. O filme
traz uma oportunidade rara de vislumbrar os efeitos subjeti-
vos das relações humanas num grupo social e narra metafori-
camente o quão saudáveis, ou não, podem ser as relações in-
tersubjetivas e seus desdobramentos aos projetos individuais
de cada uma das personagens.
Atividades
Após a leitura do texto, reúnam-se em grupos de três pessoas e
escrevam em poucas palavras o que vocês compreenderam sobre as
seguintes questões:
Guimarães Rosa
-se entender que dizer não à violência pode significar uma atitude de in-
tolerância para com a diferença que tanto nos pode incomodar. E, por
outro lado, respeitar a diferença pode significar a manutenção de prá-
ticas desprovidas de humanidade. Rodrigues (2000, p. 186) comenta:
Dica de estudo
• SPOSITO, Pontes Marilia. A Instituição Escolar e a Violência.
Disponível em: <www.iea.usp.br/artigo>.
A leitura desse artigo alerta para a complexidade do tema da
violência. No texto demonstra-se que há um significativo con-
junto de questões que afetam os processos educativos e em
104 Psicologia da Educação
Atividades
1. Explique como você vivencia o direito à vida cidadã no
seu cotidiano?
Ortiz
Por essas razões, vemos que essa lógica favorece a exclusão social,
impedindo a circulação da diferença dos afetos e da singularidade,
pois trabalha pelo viés do ideal de aluno almejado pelo professor.
Encontramos, em Azevedo (2003, p. 91),
um reforço para essas considerações. Esse autor diz que: os
elementos analisados demonstram que este processo reforça
as desigualdades sociais e produz uma escola que trabalha o
conhecimento fragmentado, isolado, sem o estabelecimento
de nexos entre os diferentes campos do conhecimento, abs-
traindo as disciplinas do contexto da totalidade, das redes
onde se articulam as interfaces multidisciplinares, os olha-
res interdisciplinares e as sínteses transdisciplinares.
Dica de estudo
• Filme: Entre os Muros da Escola. Direção: Laurent Cantet,
vencedor da Palma de Ouro em Cannes, 2008.
Baseado em livro homônimo de François Bégaudeau. Relata a
experiência do professor de francês que enfrenta o desafio de
convencer um grupo eclético de alunos de que vale a pena ler
e estudar. Retrata o dia a dia em um colégio público de Ensino
Médio na periferia parisiense, frequentado por filhos de
imigrantes (China, Mali, Antilhas, Tunisia), lugar de mistura
étnica e social, onde há barreiras com o idioma e preconceito
racial; a realidade da escola é crítica.
114 Psicologia da Educação
Atividades
1. Agora que você leu o capítulo, destaque quatro pontos que
você considera relevantes, inquietantes e significativos à ati-
tude educativa reflexiva.
Sigmund Freud
Para Freud, esse processo começa quando a criança “quer saber so-
bre algo”, interroga a existência humana, de onde eu vim? Para onde eu
vou? Quem eu sou? No momento que desperta para a diferença entre os
sexos, o homem e a mulher, quando faz distinção de gênero, analogias,
ordenações, classificações, entre outras operações mentais lógicas.
A descoberta da diferença sexual anatômica pela criança é ainda
reconhecida pelo adulto, que faz marcações claras do que pertence ao
campo do homem e da mulher. Como exemplo, lembremo-nos das
atividades esportivas na escola, nas quais o futebol é para meninos,
lugar de menina é na arquibancada como torcedora. Os brinquedos
e brincadeiras são outros exemplos que, sem dúvida, delimitam a
diferença entre os sexos. As crianças vão estender essas diferenças
ao mundo das letras e dos números e às relações interpessoais ao
seu redor e concluirão, para si mesmas, que as pessoas pensam,
escolhem e fazem coisas diferentes umas das outras.
Após essas considerações, podemos levantar a seguinte questão:
o que é aprender para Freud? Kupfer (1989) diz que aprender, para a
Psicanálise freudiana, supõe a presença de um outro, de um professor,
colocado numa determinada posição. Sendo assim, o ato de aprender
sempre pressupõe uma relação com outra pessoa. Aprender é apren-
der com alguém num espaço transferencial educativo em que o edu-
cador é quem acolhe, que oferece ao aluno o lugar de aprendiz, e que
reconhece nos seus questionamentos, perguntas e comentários, a pos-
sibilidade de construir o desejo de saber, de conhecer e de aprender.
Dica de estudo
• NUNES, Marcia Regina Mendes. Psicanálise Educação: pen-
sando a relação professor aluno a partir do conceito de trans-
ferência. Colóquio do LEPSI do IP/FE-USP, jun. 2006.
Esse texto decorre da pesquisa de mestrado da autora, que
teve por objetivo contribuir para a área da educação, desta-
cando a importância de o professor conhecer a relação trans-
ferencial, a função de saber que ocupa nessa relação perante
o aluno. Visando elucidar acerca da transferência na relação
professor-aluno e o poder que o professor tem nas mãos como
um interlocutor privilegiado.
Atividades
1. Tomamos a inspiração do grande poeta Fernando Pessoa,
com seu heterônimo1 Ricardo Reis, e ressaltamos que o pen-
samento é emoção, é paixão, é criação. O leitor há de perceber
o estilo genial de Pessoa, uma das figuras mais importantes e
curiosas da literatura. O poema a seguir descreve sobre um
Paul Ricouer
Dica de estudo
• Filme: Ensaio sobre a Cegueira, do diretor Fernando Meirelles.
Um filme para sentir e pensar sobre as relações humanas, a
humanização e a civilização. Trabalha questões relativas à
percepção de mundo de cada pessoa. O filme discorre sobre a
degradação da sociedade contemporânea durante uma epide-
mia de cegueira, levando ao colapso social, à miserabilidade
das relações humanas.
O campo da ética e o mal-estar na educação 135
Atividades
1. Vale a pena refletir! Lendo e se possível ouvindo esta belíssi-
ma música – “Tocando em frente” – de Renato Teixeira e Al-
mir Sater. Se vocês tiverem a gravação, podem ouvir algumas
vezes para refletir sobre a letra. Em seguida, vamos pensar:
eu, como educador e cidadão, estou colaborando de alguma
forma para viver dentro dos princípios éticos?
Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir [...]
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz [...]
2.
2.
Artigo 7°
A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e
à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas
que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.
Artigo 53°
A criança e o adolescente têm direito à educação, visan-
do ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para
o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-se-lhes:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo re-
correr às instâncias escolares superiores;
IV – direito de organização e participação em entidades
estudantis;
V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência.
Parágrafo único – É direito dos pais ou responsáveis ter
ciência do processo pedagógico, bem como participar da
definição das propostas educacionais.
8 O desafio da diferença
1. Espera-se que as respostas estejam circunscritas aos seguin-
tes pontos:
9 O campo transferencial
1. O poema trata da dimensão psíquica humana inconscien-
te, sua subjetividade, os sentidos e os significados dados em
consequência das relações com o outro. Por subjetivo, con-
sidera-se a capacidade do sujeito de perceber o sentido, de
fazer alguma coisa com ele e de produzir outro sentido, quer
dizer, a cada encontro de sujeito com o outro, abre-se a pos-
sibilidade de um sentido novo, isso vai se dar num campo de
transferência (sujeito com sujeito).
2.
GOMES, V. A tartaruga que pode correr. In: Lições de Vida. Curitiba: Juruá,
2003.
______. Ética como Amor Próprio. São Paulo: Martins Fontes, 2000.