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Revista de Estudos Acadêmicos de Letras

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http://dx.doi.org/10.30681/23588403v14i0117

POLIFONIA Y ARGUMENTACION 1

DUCROT, O. Polifonia y argumentacion: conferencia del seminário Teoria de la


Argumentación y Análisis del Discurso. Cali: Universidad del Valle, 1988.

Elisandra Benedita SZUBRIS (UNEMAT)2

Data de recebimento: 24/06/2021


Data de aceite: 30/07/2021

Polifonia y Argumentacion (1988) de Oswald Ducrot, linguista francês, apresenta em


quatro capítulos discussões minuciosas sobre aspectos voltados aos estudos da enunciação e
traz, sobretudo, contribuições para o desenvolvimento da semântica argumentativa.

O autor inicia o texto apresentando a noção de polifonia, inicialmente empregada por


Michel Bakhtin, adaptada por ele na teoria polifônica da enunciação. Essa teoria questiona a
ideia de unicidade do sujeito falante, mostrando que um mesmo enunciado pode apresentar
vários sujeitos com estatutos linguísticos diferentes, ou seja, o sentido de um enunciado pode
ser, nada mais, que o resultado das diferentes vozes que ali emergem.

O sujeito falante, nessa perspectiva, remete a diferentes funções, como a do sujeito


empírico SE (autor efetivo, o produtor do enunciado); a do locutor (responsável pela
enunciação, que se marca na língua através da primeira pessoa, eu, mim, me, etc.; e a do
enunciador (origem dos diferentes pontos de vista que se apresentam no enunciado, não são
pessoas, são “pontos de perspectivas” abstratos).

Para analisar estas funções, distingue-se os tipos de enunciados de humor e de


negação, o autor explica que, necessariamente, humor e negação podem não pertencer à
língua, mas uma boa descrição de língua deve mostrar as possibilidades de sua utilização.
Outro aspecto analisado pelo autor trata-se da utilização dos pronomes anafóricos, em que o
discurso remete a segmentos anteriores.

1
Obra publicada em língua espanhola.
2
Mestra em Linguística e Doutoranda pelo PPGL-UNEMAT. [email protected]

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Finalizando a primeira parte, o autor admite a existência de duas maneiras de se


comunicar, uma séria e a outra não-séria. A primeira ocorre quando o locutor assimila um
enunciador, o elegendo como o seu porta-voz; a segunda é a simples apresentação dos
enunciadores. Ele conclui que a comunicação séria é a mais útil para um certo número de
atividades humanas, pois aponta a distinção locutor/enunciador.

No segundo capítulo, Ducrot apresenta a noção de delocutividade, constatando, ao


final, que o valor linguístico fundamental das palavras é essencialmente argumentativo,
também reforça que o termo já era empregado em séculos anteriores nas gramáticas árabes.
No entanto, afirma que a tradição gramatical Ocidental, embora tenha se utilizado de muitos
conceitos dessas gramáticas, deixou de lado tudo o que se referia à enunciação. Apenas em
1950, e graças a Émile Benveniste, é que o termo derivação delocutiva entraria em cena
sendo utilizado, posteriormente, por alguns linguistas franceses como Ascombre, Benoit e
outros.

O autor explica que a delocutividade se propõe a combater a impressão de que as


palavras expressam a propriedade das coisas, na verdade, a palavra tem em si um valor
fundamentalmente argumentativo, a sua propriedade é criada a partir do discurso
argumentativo que está no sentido primeiro da palavra. Esta noção nos mostra de que
maneira integramos ou incorporamos às coisas os discursos argumentativos que fazemos
sobre elas.

Tal afirmação pode ser constatada no enunciado Juan es inteligente, em que a palavra
inteligente, dentre tantas coisas, pode significar um elogio, levando o destinatário a ter
admiração e criar um certo tipo de comportamento em relação a João. Dessa forma, Ducrot
afirma que o valor argumentativo de uma palavra é o papel que ela pode desempenhar no
discurso.

No terceiro capítulo, conforme palavras de Ducrot, encontraremos a parte essencial da


obra, a quem se consagra a Teoria da argumentação na língua, desenvolvida em colaboração
com Jean-Claude Ascombre. Essa teoria se apresenta a partir de duas formas: a primeira
chamada de forma standard trabalhada no livro L’árgumentation dans la langue(1983); e a
segunda chamada de forma recente, que trabalha as noções de polifonia e topos. Este capítulo
se destaca por trazer debates realizados em seis conferências na cidade de Cali em 1988.

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Nas duas primeiras conferências, Ducrot faz uma apresentação dos objetivos gerais da
teoria da argumentação e discute sobre as diferenças entre enunciado e frase, e sentido e
significação. Para Ducrot o sentido do enunciado pode ser explicado pela teoria polifônica,
pois um enunciado pode apresentar um certo número de pontos de vista, que são os
enunciadores. Diz, ainda, que são dois os elementos consistentes do enunciado: o primeiro é a
apresentação dos pontos de vista dos diferentes enunciadores e o segundo é a indicação da
posição do locutor em relação aos enunciadores.

Desses dois elementos podem, ainda, se distinguir três possibilidades: a do locutor de


identificar-se com um dos seus enunciadores; a da aprovação do enunciador pelo locutor e da
possibilidade do locutor se opor ao enunciador, rejeitando o seu ponto de vista. Todo esse
movimento pode ser analisado a partir da observação da frase, pois é ela que indica as
possíveis relações que constituem o sentido do enunciado, ou seja, o enunciado é a realização
da frase que, por sua vez, é a entidade teórica construída pelo linguista para explicar o
enunciado. Enfatiza, ainda, que a argumentação está marcada na língua ou na forma
linguística, por isso, a importância de mostrar, anteriormente, a distinção entre enunciado e
frase.

O debate em torno de que argumentação está marcada na língua, ainda se ressente e


avança para a terceira conferência. Ducrot retoma a discussão realizada sobre a forma
standard e mostra as dificuldades que ela apresenta, como a constatação de que a definição de
potencial argumentativo é insuficiente para descrever o valor semântico das expressões, o que
o leva a introduzir uma nova noção, a de topos.

Conforme Ducrot, a forma standard poderia salvar-se graças ao contexto da pessoa


que fala, da situação externa ou interna e através de determinada ideologia a partir da qual se
fala. Vejamos que o ato de dar uma ordem, por exemplo, se colocaria como um problema
para a teoria da argumentação, visto que, não é oportuno dizer que uma ordem só se produz
em uma situação de hierarquia.

Partindo para a quarta conferência, Ducrot mostra como as expressões argumentativas


podem ser definidas pelo papel que desempenham na construção de ideologias a partir da
própria enunciação. Trabalha o princípio argumentativo de topos, e diz que ele assegura a
passagem do argumento para a conclusão.

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Nesse sentido, a proposta está em trabalhar a argumentação na relação com os


enunciadores, procurando mostrar o caráter argumentativo dos diferentes pontos de vista que
se apresentam no enunciado.

Na quinta conferência, Ducrot se dedica em explicar o caráter gradual do topos a partir


das formas tópicas que orientam o discurso. O topos estabelece uma relação gradual entre
duas escalas P e Q, resultando em duas formas equivalentes, a estas duas formas o autor vai
chamar de formas tópicas recíprocas. Com estas duas escalas podem-se construir ainda dois
topoi contrários, cada um tendo as suas formas equivalentes entre si, ou seja, duas formas
tópicas para um mesmo topos. A noção de formas tópicas recíprocas sustenta a noção do
caráter argumentativo das palavras, mesmo apresentando alguns contratempos.

Na sexta conferência, o autor apresenta algumas conclusões gerais sobre o


encadeamento argumentativo; a língua sendo considerada como um conjunto de frases que
determina parcial ou totalmente as possibilidades argumentativas realizadas no discurso; a
determinação pela língua que se faz, principalmente, por meio de expressões chamadas de
expressões argumentativas; o valor argumentativo dos pontos de vista dos enunciadores que
consiste em convocar a gradualidade dos topoi, a propósito das coisas de que se fala; as
formas equivalentes do topos, chamadas de recíprocas; os operadores argumentativos que
determinam a natureza das formas tópicas utilizadas; e, ainda, a relação entre a
argumentação, a língua e a cultura.

O autor encerra a sexta conferência fazendo uma reflexão sobre língua e ideologia, ele
diz que a língua é feita para uma sociedade que contém uma ideologia, e que se adapta a essa
ideologia, a língua, por sua vez, funciona graças à ela, pois necessita dela.

No último capítulo intitulado Lingüistica y verdad, Ducrot traça um panorama de suas


investigações na semântica linguística, mostrando como elas rompem com certas concepções
já estabelecidas nos estudos da linguagem, sobretudo, com as concepções veritativa e
logicista da língua. Para tanto, apresenta construções teóricas que invalidam essas
concepções, como as noções de polifonia, argumentação, delocutividade, topos etc.

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Ducrot afirma que a maioria de suas investigações foram motivadas por uma profunda
insatisfação, no que diz respeito aos estudos da significação e pela forma como alguns
teóricos trabalharam com essa questão ao longo do tempo.

O fechamento da obra é um bônus ao leitor. Ducrot responde Algunas perguntas –


entre muchas otras realizadas pelos participantes durante as seis conferências na cidade de
Calli. Certamente, trata-se de um convite para refletirmos sobre uma infinidade de questões
que se colocam, de modo geral, aos estudos linguísticos e sobre o encaminhar da teoria da
argumentação.

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