Cognicao e Processos Do Desenvolvimento Infantil e Adolescente
Cognicao e Processos Do Desenvolvimento Infantil e Adolescente
Cognicao e Processos Do Desenvolvimento Infantil e Adolescente
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade I
Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento......................... 9
Capítulo 1
Concepções de desenvolvimento humano.................................................................... 10
Capítulo 2
Pensando sobre a criança e adolescente...................................................................... 14
Unidade iI
A Ciência Do Desenvolvimento Humano....................................................................................... 21
Capítulo 1
Teorias do desenvolvimento humano.............................................................................. 26
Capítulo 2
A psicanálise e a educação: desenvolvimento humano segundo Freud.................... 44
Unidade iII
Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva................................................... 54
Capítulo 1
O surgimento da psicologia cognitiva: breve história................................................ 55
Capítulo 2
Considerações sobre a Psicologia Cognitiva e seu objeto........................................ 59
Capítulo 3
Alguns elementos de estudo da área............................................................................... 61
Unidade iV
Um Olhar Sobre A Adolescência.................................................................................................... 67
Capítulo 1
Puberdade............................................................................................................................ 68
Capítulo 2
Cérebro e adolescência................................................................................................... 70
Capítulo 3
Adolescência: fenômeno social e mental..................................................................... 74
Capítulo 4
Alguns comportamentos típicos da adolescência e elaborações teóricas............ 79
Referências................................................................................................................................... 85
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Essa disciplina abarca três grandes conhecimentos: desenvolvimento humano,
processos cognitivos (e a psicologia cognitiva) e as etapas da infância e adolescência
(em variadas perspectivas teóricas). A proposta é seguirmos um caminho que vai desde
uma introdução geral dos princípios da ciência do desenvolvimento humano (com uma
abordagem mais centrada nas principais teorias interacionistas da psicologia), passando
por uma aproximação e correlação do que vem sendo discutido sobre os processos
cognitivos humanos e finalizando esse caminho, dentro das vastas possibilidades
teóricas que concebem sua própria teoria do desenvolvimento, nos concentraremos no
estudo do humano no olhar específico da psicanálise sobre o desenvolvimento infantil
e adolescente.
Objetivos
»» Apresentar e aprofundar conhecimento sobre os principais conceitos
e concepções do desenvolvimento humano destacando autores
significativos da psicologia do desenvolvimento, psicologia cognitiva e da
teoria psicanalítica.
8
Concepções
Históricas E
Visões Sobre O Unidade I
Ser Humano E Seu
Desenvolvimento
Há várias formas de aprendizado. Cada sujeito tem uma maneira de aprender, de fixar
um conteúdo ou mesmo uma rotina ou conjunto de hábitos que foram sendo criados
em sua história com a educação formal. Sem querer desmerecer os métodos de cada
um que cursará esse módulo, temos uma proposta para este estudo. Durante toda a
disciplina, seguiremos uma lógica de aproximação do conhecimento.
Sempre que um assunto novo surgir, há duas ações primárias que devem ser tomadas:
compreensão histórica e cultural do assunto (de onde surgiu, quando, quem são seus
criadores e defensores) e suas definições ou concepções. Quando buscamos entender
em que contexto surgiu uma teoria ou mesmo nasceu seu autor, geralmente entender
da cultura da época torna esse tema menos estranho e mais fácil de nos aproximarmos
e aprendermos. O que você acha?
9
Capítulo 1
Concepções de desenvolvimento
humano
Concepção inatista
A teoria Inatista do Desenvolvimento é inspirada nas premissas do idealismo filosófico.
O idealismo filosófico parte do princípio que a consciência é que determina a vida. A
consciência é considerada a base e não o produto da atividade humana, nada existe
fora do homem. O mundo real é um mero fenômeno da consciência.
Pode parecer que uma visão assim não mais se reflete nos dias atuais, mas na verdade
vemos e ouvimos ações e frases que remetem a essa crença inatista, principalmente
ao falarmos de crianças e adolescentes. Quem nunca escutou ou mesmo disse algo
como “Não nasci para isso”, “Filho de peixe, peixinho é” ou “Fulano tem o dom, nasceu
sabendo desenhar”?
A concepção inatista tem influenciado muitas práticas. Tudo isso contribui para a
criação de muitos preconceitos e prejulgamentos que prejudicam a criação ou educação
de crianças, associando a muito de seus comportamentos, sucessos ou fracassos
escolares a fatores genéticos. Quando acreditamos nessas explicações, estamos, de
forma consciente ou não, sendo influenciados pela concepção inatista.
10
Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento │ UNIDADE I
Mas, se essa concepção fosse verdadeira, as formas de capacitação não teriam uma
função transformadora, porque quase nada poderia ser feito para mudar o que já está
“programado” geneticamente no indivíduo. Nessa situação, o papel do professor, dos
pais, do psicólogo, de qualquer outro que faz parte significativa da história de vida
de uma pessoa ficaria reduzido, pois a mediação no processo de desenvolvimento do
sujeito poderia ser desconsiderada. Precisamos entender a influência dessa concepção
nas nossas práticas para que possamos, criticamente, orientar de outra forma nossas
ações no campo profissional e também no campo pessoal.
Concepção ambientalista
É a concepção que acredita que algo herdado quando nascemos não influencia na forma
de ser no futuro. Essa forma vai sendo construída, principalmente, pela influência dos
fatores externos, quase como se o sujeito fosse uma massa de modelar.
É uma teoria que busca sua inspiração na filosofia empirista na qual a experiência
é a fonte de conhecimento. A teoria ambientalista, também chamada behaviorista
ou comportamentalista, atribui exclusivamente ao ambiente a constituição das
características humanas, privilegiando a experiência como fonte de conhecimento e de
formação de hábitos de comportamento; preocupa-se em explicar os comportamentos
observáveis do educando, desprezando a análise de outros aspectos da conduta humana
tais como: o raciocínio, o desejo, a imaginação, os sentimentos e a fantasia, entre
outros. Defende a necessidade de medir, comparar, testar, experimentar e controlar o
comportamento.
11
UNIDADE I │Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento
Analisando algumas falas comumente ouvidas e que refletem essa visão específica do
ser humano, algo como o dito popular “Diga-me com quem andas que te direi quem és”
ou “aquela criança é fruto do meio que vive” mostram que há muita força sobre essa
particular concepção.
Concepção interacionista
12
Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento │ UNIDADE I
Nessa teoria, a criança é concebida como um ser dinâmico, que interage com a realidade
a todo o momento com objetos e pessoas. Essa interação com o ambiente faz com que
construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central,
portanto, é a interação organismo-meio e essa interação acontece por meio de dois
processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas
pelo organismo ao longo da vida.
Nós nos desenvolvemos e aprendemos por meio da interação entre nossas características
biológicas e o meio físico e sociocultural. O ser humano vivencia e conhece o mundo de
forma ativa, porque transforma o ambiente enquanto é também modificado pelo meio
social e essa forma de entender o homem chamamos de concepção interacionista.
13
Capítulo 2
Pensando sobre a criança e
adolescente
14
Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento │ UNIDADE I
3. cri.an.ça, feminino
b. menino ou menina
Se buscarmos nos pensadores mais antigos como a criança e a infância eram vistas
e retratadas, encontraremos muitos ecos destes pensamentos antigos e as definições
acima apresentadas.
De forma abreviada, segue alguns estudiosos e sua visão principal sobre o tema:
»» Descartes (1596 – 1650) - Viu a criança como alguém que vive uma
época do predomínio da imaginação, dos sentidos e sensações sobre a
razão, e mais, uma época da aceitação acrítica das tradições, postas pelos
preceptores e tudo o que macularia nosso pensamento, conduzindo-nos
mais tarde, uma vez adultos, à dificuldade no uso da razão e, portanto, ao
erro.
Para os dois, Agostinho e Descartes, quanto mais cedo saíssemos da condição de criança,
melhor para nós.
15
UNIDADE I │Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento
›› A pobre criança que nada sabe, que não pode nada, nem nada conhece,
não está a vossa mercê? “(...) Sem dúvida ela deve fazer só o que deve,
porém deve querer só o que vós quereis que ela faça” (ROUSSEAU,
1979).
»» Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831) foi um filósofo alemão que
a pelo menos duzentos anos, desde Hegel, uma boa parte dos ocidentais
começou a falar sobre as coisas do mundo de um modo diferente,
considerando-as menos como situações e elementos dados e imutáveis,
“naturais” (no sentido essencialista do termo), mas como situações e
elementos HISTORICAMENTE CONSTRUÍDOS. Assim, começamos a
esboçar uma terceira via para conversarmos sobre as crianças.
Novos sentimentos associados a essa nova forma de falar sobre o que fazer com as
crianças, em favor da comodidade dos adultos e da comunidade ganharam algumas
pessoas das cidades do ocidente nos séculos XIX e XX. Nessas conversas, no início do
século XIX, a infância já aparece como algo obtido por construção. Inclusive, uma
construção que a entrelaça com a cidade e com a escola.
16
Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento │ UNIDADE I
Hoje amplamente difundida, a obra de ARIÈS (1981) foi pioneira ao afirmar certas
características históricas da infância, situando-a como produto da história moderna.
Para ele, a “aparição da infância” se dá a partir do Mercantilismo, quando se altera
o sentimento e as relações frente à infância, modificado conforme a própria estrutura
social.
Ariès ao relatar a história social da criança e da família, faz conhecer que no século XII
praticamente a infância não era reconhecida ou não tinha espaço definido. As próprias
pinturas da época retratavam as crianças parecidas com adultos em miniatura.
No passado a taxa de mortalidade infantil era muito alta e quando as crianças vinham
a morrer os pais não manifestavam nenhum sentimento de perda ou tristeza, aceitando
normalmente o fato.
Antes vista com indiferença, a criança não era percebida com necessidades diferentes
das do adulto. O estudo que o autor apresenta e que se ocupa das imagens de infância
burguesa mostra como se dão as transformações do sentimento moderno de infância
e de família. Nascido no contexto burguês, este sentimento sustenta-se na mudança
de inserção da criança na sociedade, que deixa de assumir um papel produtivo direto,
passando a ser merecedora de cuidados e de educação desde o momento em que
consegue sobreviver. Mudam significativamente as relações no meio social.
Sua obra nos mostra que a constituição desse novo conceito de infância está na transição
dos séculos XVII para o XVIII, quando ela passa ser definida como um período de
ingenuidade e fragilidade do ser humano, que deve receber todos os incentivos possíveis
para sua felicidade.
O início do processo de mudança, por sua vez, nos fins da Idade Média, tem como
marca o ato de mimar e paparicar as crianças, vistas como meio de entretenimento dos
adultos (especialmente da elite), hábito criticado por Montaigne (1533-1592) e outros
escritores da época.
Vale ressaltar que morte também passa a ser recebida com dor e abatimento.
Já no século XVII, as perspectivas transitam para o campo da moral, sob forte influência
de um movimento promovido por Igrejas, leis e pelo Estado, em que a educação ganha
17
UNIDADE I │Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento
terreno: trata-se de um instrumento que surge para colocar a criança “em seu devido
lugar”, assim como se fez com os loucos, as prostitutas e os pobres.
Embora com uma função disciplinadora, a escola não nasce com uma definição de
idade específica para a criança ingressá-la. Isto porque os referenciais não eram o
envelhecimento (ou amadurecimento) do corpo.
A trajetória discutida até aqui mostra como a infância tem permanecido como “a
mais duradoura das utopias concebidas pela modernidade”, só sendo repensada
mais contemporaneamente, como afirma Calligaris (1994).Como tantos outros ideais
imaginados nos últimos 200 anos, o do mundo maravilhoso das crianças também entra
em crise na era pós-industrial e pós-moderna. (...) Este tempo de separação da vida
adulta, protegido pelo amor parental, miticamente feliz, surgiu em nossa cultura há
apenas dois séculos, quando o individualismo triunfou no ocidente.
As marcas dos contextos sociais, sempre presentes, mas mascaradas pelas abordagens
centradas no indivíduo, gritam suas diferenças e imprimem novos contornos às
“infâncias” da sociedade atual. Com uma vida organizada basicamente em função
das expectativas e pretensões dos adultos, a criança volta novamente a ser vista como
“adulto em miniatura”.
18
Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento │ UNIDADE I
Com todo esse passeio histórico sobre a infância e como a criança foi vista e
tratada, será que tudo mudou ou podemos ver reflexos dessa história nos dias
atuais?
Se existe alguma coisa quase certa é a de que cada pessoa tem uma opinião a
dar quando o assunto é adolescência. Seja nossa própria história ou a de um
adolescente conhecido, bombardeamos e somos bombardeados com opiniões
que muitas vezes são carregadas de emoção e preconceito. Com o que foi
aprendido até esse ponto, espera-se que ao menos antes de afirmarmos que
sabemos tudo sobre um tema, seja dado um tempo antes. Vamos ver um pouco
sobre a adolescência então?
Para Silva e Mattos (2004), este período se constitui como uma fase de transição
do indivíduo, da infância para a idade adulta, evoluindo de um estado de intensa
dependência para uma condição de autonomia pessoal e de uma condição de necessidade
de controle externo para o autocontrole sendo marcado por mudanças evolutivas
rápidas e intensas nos sistemas biológicos, psicológicos e sociais. Ainda reforçam que
nesse período evolutivo, crucial para o desenvolvimento do indivíduo, culmina todo o
seu processo maturativo biopsicossocial, ocorrendo a aquisição da imagem corporal
definitiva, bem como a estruturação final da personalidade
Período que se estende da terceira infância até a idade adulta, marcado por intensos
processos conflituosos e persistentes esforços de autoafirmação. Corresponde a fase de
absorção de valores sociais e elaboração de projetos que impliquem plena integração
social. É um fenômeno biopsicossocial cujo elemento psicológico do processo é
constantemente determinado, modificado e influenciado pela sociedade. Corresponde
a um período de descobertas dos próprios limites, de questionamentos dos valores e
das normas familiares e de intensa adesão aos valores e normas do grupo de iguais, ou
seja, outros adolescentes.
Pode ser entendida como um processo de integração psicossocial, que pode na nossa
sociedade, abranger um período de oito a nove anos e, por vezes até mais. Apresenta
19
UNIDADE I │Concepções Históricas E Visões Sobre O Ser Humano E Seu Desenvolvimento
Diferente de uma fase problemática como o senso comum aponta, essa fase do
desenvolvimento humano é marcada por mudanças físicas intensas (puberdade) que,
consequentemente, impulsiona mudanças de tratamento e expectativa do meio em que
os sujeitos estão inseridos. Aquele que até então era uma criança e tratada como tal,
passa a ser cobrado como adulto de um dia para o outro, o problema é que o adolescente
de repente não se encaixa mais no mundo infantil, mas não possui lugar (nem idade,
nem maturidade) no mundo dos adultos. Essa inadequação é grande responsável pelos
comportamentos entendidos como difíceis do sujeito adolescente.
Mais sobre a adolescência e os demais temas acima citados serão encontrados dentro das
teorias e discussões que seguem. Uma vez sanada a questão inicial sobre as concepções,
cabe retornar à discussão da ciência do desenvolvimento humano.
20
A Ciência Do
Desenvolvimento Unidade iI
Humano
21
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Variáveis internas podem ser entendidas como aquelas ligadas à maturação orgânica
do indivíduo, as bases genéticas do desenvolvimento. Recentemente, os processos
inatos que promovem o desenvolvimento humano voltam a ser discutidos por teóricos
do desenvolvimento humano (COLE; COLE, 2004).
22
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Assim, pelas questões acima citadas, consideramos que uma melhor definição de
Psicologia do Desenvolvimento seria “O estudo, através de metodologia específica e
levando em consideração o contexto sócio-histórico, das múltiplas variáveis, sejam elas
cognitivas, afetivas, biológicas ou sociais, internas ou externas ao indivíduo que afetam
o desenvolvimento humano ao longo da vida”.
O interesse pelos anos iniciais de vida dos indivíduos tem origem na história do estudo
científico do desenvolvimento humano, que se inicia com a preocupação com os
cuidados e com a educação das crianças e com a própria concepção da infância (que
veremos mais detalhadamente adiante nesta apostila) como período particular do
desenvolvimento (CAIRNS, 1983; COLE; COLE, 2004).
23
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
A quarta fase (1990- dias atuais) aponta para o caráter interdisciplinar da disciplina, a
importância de se discutir e incorporar nas pesquisas os diversos contextos em que os
indivíduos se desenvolvem, inclusive a dimensão histórica do desenvolvimento começa
a ser discutida (DESSEN; COSTA Jr, 2006). Na entrada do novo milênio os psicólogos
do desenvolvimento são confrontados com novos desafios. Estes desafios envolvem,
sobretudo, o caráter multidisciplinar dessa disciplina fazendo com que psicólogos do
desenvolvimento precisem encontrar uma linguagem que facilite a comunicação entre
profissionais de diferentes áreas de atuação (DESSEN; COSTA Jr, 2006). Este é ainda
um desafio que se tenta ultrapassar neste campo de atuação.
24
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Uma vez que tivemos uma revisão sobre a ciência do desenvolvimento humano,
destacaremos abaixo alguns dos autores que versaram sobre o tema e cujas teorias
tiveram e ainda tem impacto, além de grande aceitação nos espaços de educação e
aprendizagem brasileiras.
Como na contemporaneidade as duas últimas vertentes são mais presentes nos espaços
educacionais brasileiros, falaremos um pouco sobre elas a seguir.
25
Capítulo 1
Teorias do desenvolvimento humano
(*extraída de <https://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/53974/jean-
piaget-biografia>.)
Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu
trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua
carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio.
Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.
26
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Em 1919, Jean Piaget mudou-se para a França, onde foi convidado a trabalhar no
laboratório de Alfred Binet, um famoso psicólogo infantil que desenvolveu testes de
inteligência padronizados para crianças. Jean Piaget notou que crianças francesas
da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o
pensamento lógico se desenvolve gradualmente.
O ano de 1919 foi um marco em sua vida. Jean Piaget iniciou seus estudos experimentais
sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento
das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o
desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa.
Casou-se com Valentine Châtenay uma de suas ex-alunas em 1923, com quem teve três
filhas. Suas teorias foram, em grande parte, baseadas em estudos e observações de suas
filhas que ele realizou ao lado de sua esposa. Seus estudos tiveram um grande impacto
sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.
As teorias de Jean Piaget tentam nos explicar como se desenvolve a inteligência nos seres
humanos. Daí o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida
como o estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos. Convém esclarecer
que as teorias de Piaget têm comprovação em bases científicas. Ou seja, ele não somente
descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência, mas experimentalmente,
comprovou suas teses.
Resumir a teoria de Jean Piaget não é uma tarefa fácil, pois sua obra tem mais páginas que
a Enciclopédia Britânica. Desde que se interessou por desvendar o desenvolvimento da
inteligência humana, Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, até às vésperas
de sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito aproximadamente
setenta livros e mais de quatrocentos artigos.
27
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
estágios na mesma sequência, porém o início e o término de cada estágio sofre variações
dadas às diferenças individuais de natureza biológica ou do meio ambiente em que o
indivíduo está inserido.
O modelo piagetiano prima pelo rigor científico de sua produção, ampla e consistente
ao longo de 70 anos, que trouxe contribuições práticas importantes, principalmente, ao
campo da Educação - muito embora, curiosamente, aliás a intenção de Piaget não tenha
propriamente incluído a ideia de formular uma teoria específica de aprendizagem (LA
TAILLE, 1992; BOCK et. al.,2002; COLL, 1992; etc.).
Esse processo, por sua vez, se efetua através de um mecanismo autorregulatório que
consiste no processo de equilibração progressiva do organismo com o meio em que o
indivíduo está inserido, como procuraremos expor em seguida.
Piaget sustenta que a gênese do conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento
lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo, mas é fundamentalmente
construído na interação homem-objeto. Quer dizer, o desenvolvimento da filogenia
humana se dá por um mecanismo autorregulatório que tem como base um ‘kit’ de
condições biológicas (inatas, portanto), que é ativado pela ação e interação do organismo
com o meio ambiente - físico e social.
28
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
A acomodação pode ser de duas formas, visto que se pode ter duas alternativas: (a) criar
um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou (b) modificar um já
existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele.
Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget, o equilíbrio é o norte que o organismo
almeja, entretanto paradoxalmente nunca alcança (LA TAILLE, op. cit.), haja vista que
29
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Em 1924, casa-se com Roza Smekhova. Tiveram duas filhas. Desde 1920 conviveu com
a tuberculose. Apesar de sua formação em Direito, destacou-se à época por suas críticas
literárias e análises do significado histórico e psicológico das obras de Arte, trabalhos
que posteriormente foram incorporados no livro “Psicologia da Arte”, escrito entre
1924 e 1926, incluindo naturalmente a tese de doutorado sobre Psicologia da Arte, que
defendeu em 1925. O seu interesse pela Psicologia levou-o a uma leitura crítica de toda
produção teórica de sua época, nomeadamente as teorias da “Gestalt”, da Psicanálise e
o “Behaviorismo”, além das ideias do educador suíço Jean Piaget.
30
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Devido a vários fatores, inclusive a tensão política entre os Estados Unidos e a União
Soviética após a última guerra, o trabalho de Lev Semenovich Vygotsky permaneceu
desconhecido a grande parte do mundo ocidental durante décadas. Por esses dados
biográficos podemos perceber de início o pano de fundo que influenciou decisivamente
a sua formação e o seu trabalho: a revolução russa de 1917 e o período de solidificação
que se sucede. Vygotsky é um marxista e tenta desenvolver uma Psicologia com estas
características.
Vygotsky desenvolve sua teoria em uma Rússia devastada pela guerra e cujo objetivo
dos dirigentes que conduziam o novo estado era o de promover uma renovação
para reconstruir o país, e sob a tutela da teoria marxista, uma nova sociedade, o que
implicaria, também, a construção de uma nova ciência. Diante de tal quadro, ele propôs,
então, uma nova psicologia que, baseada no método e nos princípios do materialismo
dialético, compreendesse o aspecto cognitivo a partir da descrição e explicação das
funções psicológicas superiores, as quais, na sua visão, eram determinadas histórica e
culturalmente.
A teoria de Vygotsky chega ao ocidente por meio de dois livros básicos: Pensamento
e Linguagem e A Formação Social da Mente (respectivamente Vygotsky 1993 e
Vygotsky 1991). O estilo nessas obras é bastante sintético e muitas vezes há apenas um
delineamento de ideias. Sua obra é aberta e propiciou diferentes caminhos teóricos que
foram tomados por aqueles seguidores de suas premissas.
31
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Vygotsky teve contato com a obra de Piaget e, embora teça elogios a ela em muitos
aspectos, também a critica, por considerar que Piaget não deu a devida importância
à situação social e ao meio. Ambos atribuem grande importância ao organismo
ativo, mas Vygotsky destaca o papel do contexto histórico e cultural nos processos de
desenvolvimento e aprendizagem, sendo chamado de sociointeracionista, e não apenas
de interacionista como Piaget.
Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter universal (de origem
biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky destaca as contribuições da cultura,
da interação social e a dimensão histórica do desenvolvimento mental. Mas, ambos são
construtivistas em suas concepções do desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentam
que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio.
Devido a sua morte prematura, a obra de Vygotsky deve ser estudada como ponto
de partida para reflexões sobre o desenvolvimento humano. Ele contribuiu e cunhou
vários termos e teorias, trabalhou com grandes temas que podem ser sintetizadas a
seguir. Figura 1.
Seus interesses pela psicologia originam-se na preocupação com a gênese da cultura. Por
entender que o homem é o construtor da cultura. A teoria por ele proposta surge como
meio de superar o quadro apresentado pela psicologia que se encontrava dividida em
duas orientações: a naturalista e a mentalista. Na sua percepção, tal divisão acentuava
a questão do dualismo mente-corpo, natureza-cultura e consciência-atividade.
Vygotsky fala de um homem histórico e não do homem abstrato e universal; cuja origem
e o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores é social. Nesta perspectiva, o
processo de desenvolvimento segue duas linhas diferentes em sua origem: um processo
elementar, de base biológica, e um processo superior de origem sociocultural.
32
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
É dessa forma que o indivíduo tem uma participação ativa na construção do seu
desenvolvimento, porque ele vai formando e transformando o conhecimento de si e do
mundo, por meio da interação com as outras pessoas de seu grupo social.
A construção de cada indivíduo é influenciada pelo seu contexto, pela sua história e
pelas relações sociais que partilha. Assim, o desenvolvimento humano se caracteriza
em uma dimensão social e histórica.
O caminho trilhado por Vygotsky baseou-se sempre nas contribuições de Marx, buscando
sempre compreender o homem em processos constantes de interação social. Vale
ressaltar que o interesse por questões educacionais, diferentemente de Piaget, sempre
esteve presente em sua obra, sendo considerado por muitos, como responsável pela
elaboração de uma teoria de educação, enquanto atividade sócio-histórica determinada.
Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado
de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem
nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social. Sua questão
central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.
33
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como
internalização mediada pela cultura.
Por outro lado, há a teoria histórico-cultural, em que o vetor é do social para o individual.
Essa teoria de Vygotsky vê o sujeito em sua totalidade, um sujeito concreto, datado,
situado. Ela não vê apenas o desenvolvimento cognitivo, mas a integração de todos os
desenvolvimentos e do sujeito com o meio.
34
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Lev Vygotsky introduziu a noção de ZDP nos seus últimos escritos, na década de 30, no
bojo das discussões que levantava sobre a relação entre aprendizagem e desenvolvimento.
Afinado com a ideologia marxista do materialismo histórico-dialético, Vygotsky tinha
um interesse especial pelas questões da educação, particularmente da instrução escolar.
Afirmava que o ensino eficaz não é aquele que espera o desenvolvimento cognitivo
infantil, porém aquele que se antecipa ao mesmo, impulsionando-o e incidindo sobre
a ZDP. Ou, nas palavras de Vygotsky (1993), “o ensino deve orientar-se não ao ontem,
senão ao amanhã do desenvolvimento infantil”.
35
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Brincadeira Infantil
36
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Instrução Educacional
Para Vygotsky, a instrução (referindo-se ao ensino) deve ser orientada para os processos
de desenvolvimento que se encontram em amadurecimento e consolidação na zona de
desenvolvimento proximal. Ele alertava que a ZDP deveria ser considerada levando em
conta tanto o nível de desenvolvimento da criança como a natureza da instrução recebida
por ela.Ganha importância, assim, o aspecto das precondições de desenvolvimento
da criança e as possibilidades de aprendizagem, condicionadas a uma intervenção
instrucional que funcione como mediadora no processo ensino/aprendizagem. Operar
sobre a zona de desenvolvimento proximal possibilita trabalhar sobre as funções “em
desenvolvimento”, ainda não plenamente consolidadas, mas sem necessidade de
esperar sua configuração final para começar uma aprendizagem.
Assim, a criança, com uma aprendizagem lenta e difícil, pode ser uma criança cujo
histórico de vida aponta para uma história de privação, de relacionamentos familiares
conflituosos ou ausentes. Um resultado direto desta situação pode ser a dificuldade da
criança para organizar-se cognitivamente, para estabelecer um processo coerente de
pensamento, pode ser a impulsividade da criança no aprender, a hiperatividade.
37
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Vygotsky e a Educação
O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto
ao outro o que o seu grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o próprio
conhecimento.
Como muito foi falado sobre esse pensador, segue uma síntese de seus principais
pensamentos (LUCCI, 2006):
38
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
39
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Faleceu em 1962.
Wallon teve como ponto de estudo principal “a afetividade”; para ele, a pessoa é formada
por sua relação com o meio, sua hereditariedade, sua cognição e seu afetivo. Dentro
dessa perspectiva Walloniana, trabalhamos o tratamento individualizado, o lúdico e o
concreto, valorizando a identidade estrutural e funcional de nossas crianças.
40
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Segundo Wallon (1977; 1995), a criança deve ser estudada na sucessão das etapas de
desenvolvimento caracterizadas pelos domínios funcionais da afetividade, do ato motor
e do conhecimento, entendidos como sendo desenvolvidos primordialmente pelo meio
social.
Os estágios do desenvolvimento propostos por Wallon (1977; 1995) têm início na vida
intrauterina, caracterizada por uma simbiose orgânica. Após o nascimento, apresenta-
se o estágio impulsivo-emocional no qual prevalece a emoção, caracterizado como o
período da simbiose afetiva.
41
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do
ato motor.
O método adotado por Wallon é o da observação pura. Considera que esta metodologia
permite conhecer a criança em seu contexto, “só podemos entender as atitudes da
criança se entendermos a trama do ambiente no qual está inserida”. Ao ingressar na
escola, a família ainda se constitui no grupo por excelência para a criança. No entanto, a
escola proporciona uma diversificação dos grupos nos quais a criança poderá se inserir.
O papel do grupo formado por crianças da mesma idade passa a ser o de favorecer a
aprendizagem social, ou seja, o convívio com os padrões e regras sociais. Durante esse
estágio, o grupo permitirá à criança diferenciar-se dos outros e descobrir sua autonomia
e sua originalidade (WALLON, 1995).
42
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
No período seguinte, o da idade da graça, por volta dos quatro anos de idade, a criança
desenvolve maneiras de ser admirada e chamar a atenção para si pela sedução, com
uma necessidade de agradar cujo objetivo é obter a aprovação dos demais. A criança
passa a se considerar em função da admiração que acredita poder despertar nas pessoas.
Ressalta-se a importância da oferta de oportunidades de expressão espontânea da
criança, através de atividades como a música, a dança, artes etc. Exercitar na criança as
habilidades de representação do seu meio, ou seja, por meio do faz de conta ou do uso
da linguagem, contribui para que ela adquira uma precisão maior na expressão de seu
eu (GALVÃO, 1992).
O terceiro período, o da imitação, por volta dos 5 anos, é marcado por uma reaproximação
ao outro, manifestada pelo gosto por imitar, que possui um papel essencial na assimilação
do mundo exterior. O professor deve observar que sua figura geralmente desperta o
desejo de identificação no aluno, devendo estar consciente de tal fato para estabelecer
sua conduta. Wallon (1977) entende a imitação como uma necessidade de identificar-se
com a realidade percebida para identificá-la melhor.
Outros tantos pensadores poderiam ter sido apresentados neste Caderno de Estudo
e Pesquisa em suas contribuições e suas teorias do desenvolvimento humano e todos
veem o desenvolvimento e aprendizagem a partir da capacidade racional humana.
Apesar de estarmos em uma especialização com ênfase na neuroaprendizagem, nesta
disciplina estamos vendo sobre as maiores contribuições teóricas encontradas nos
espaços educacionais. Por isso que a teoria freudiana e sua visão do desenvolvimento
infantil e adolescente - sujeito do inconsciente - precisam estar presente em nossos
estudos.
43
Capítulo 2
A psicanálise e a educação:
desenvolvimento humano segundo
Freud
Biografia*
Aos 26 anos, recebeu seu diploma de médico. Apesar de se dirigir relutantemente para
a clínica particular, seus interesses principais permaneciam na área da observação e
exploração científicas.
Freud obteve uma bolsa e foi para Paris trabalhar com Charcot que pesquisava a
possibilidade de induzir ou aliviar sintomas histéricos com sugestão hipnótica. Freud
percebeu que, na histeria, os pacientes exibem sintomas que são anatomicamente
inviáveis. Tornou-se claro para Freud que a histeria era uma doença psíquica cuja
origem requeria uma explicação psicológica.
O trabalho na França aumentou seu interesse pela hipnose e pela histeria. Amplia suas
pesquisas e descobre que os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do
seu passado que lhes causaram grande impressão, mas foram esquecidas (traumas); a
terapêutica, nisto apoiada, consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências
em um estado de hipnose. Ele achou, no entanto, que a hipnose não era tão efetiva
quanto esperava. Afinal abandonou-a por completo passando a encorajar seus pacientes
a falarem livremente e a relatarem o que quer que pensassem independentemente da
aparente relação – ou falta de relação – com seus sintomas. Durante o desenvolvimento
de suas pesquisas, utilizou-se por um tempo do método catártico.
Em 1896, Freud usou pela primeira vez o termo “psicanálise” para descrever seus
métodos. Um dos procedimentos que desenvolveu foi a “livre associação”, método
utilizado, em substituição à hipnose, que consistia em deitar o paciente no divã (espécie
44
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
de sofá sem encosto) e encorajá-lo a dizer o que viesse à sua mente. Freud analisava
todo o material que aparecesse, e buscava entendê-los e encontrar os desejos, temores,
conflitos, pensamentos e lembranças que pudessem se relacionar e que estivessem além
do conhecimento consciente do paciente.
Em fevereiro de 1923, foi descoberto um tumor maligno, imediatamente foi feita uma
cirurgia. Freud tinha que usar uma prótese. Após 33 cirurgias, tinha dificuldade em
falar, mas mantinha suas atividades de rotina, abandonando apenas os problemas do
movimento psicanalítico.
Casou com Martha Bernays. O casal teve seis filhos, um dos quais, Ana, tornou-se
discípula, porta-voz do pai, e psicanalista. Em março de 1938, quando da invasão da
Áustria pela Alemanha, com a intervenção do diplomata americano William Bullitt e de
um resgate pago por Marie Bonaparte, Freud e sua família deixaram Viena indo para
Londres, residindo em Maresfield Gardens 20; hoje Freud Museum.
A teoria
Fortemente influenciado por Charcot, médico francês que fez uso da sugestão hipnótica
no tratamento da histeria, Freud põe em dúvida a abordagem organicista da psiquiatria
da época e passa a utilizar uma abordagem psicológica para o estudo da doença mental.
Apesar de usar o modelo cartesiano de ciência, discorda dos racionalistas no que se refere
à razão humana. Para Freud, o homem é grandemente comandado pelo inconsciente,
sendo que a consciência lógica e racional representa uma fina camada sobre um vasto
domínio de forças instintivas e inconscientes.
45
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Apesar de que nessa disciplina o foco é a visão de Freud e a Psicanálise acerca da infância
e da adolescência, é imperativo uma apresentação resumida das teorias psicanalíticas
que dão suporte e se correlacionam entre si.
46
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
sujeito, o que ele deve fazer, preferir ou desejar. Regula e inibe os desejos
do ID que possam ir contra seus sistemas reguladores de valores.
A questão da sexualidade na infância foi sempre um dos pontos mais polêmicos de sua
teoria. Freud, na prática clinica investigava as causas e funcionamento das neuroses.
Percebeu que a maioria de pensamentos e desejos reprimidos referiam-se a conflitos de
ordem sexual localizados nos primeiros anos de vida e inferiu que as ocorrências deste
período da vida deixam marcas profundas na estruturação da pessoa.
47
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
Para Freud, é sobretudo a existência de uma sexualidade infantil, que atua desde o
princípio da vida, que amplia o conceito de sexualidade.
Cria a teoria do desenvolvimento psicossexual que possui cinco fases, denominadas de:
Fase oral, Fase anal, Fase Fálica, Latência e Fase Genital.
Fase oral
Organiza-se em torno da região da boca, lábios e língua. O prazer é sentido pelo bebê
pelas experiências com a boca. Sugar, chupar e engolir são atividades predominantes
nesta primeira fase.
É pela boca que se mobilizará na luta pela preservação do equilíbrio com o meio,
provando e conhecendo o mundo. A boca, para um bebê, corresponde ao seu órgão de
48
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
sentido mais especializado, que mais informações lhe fornece a respeito do mundo.
Além disso, é o órgão pelo qual ele pode obter prazer, obter alívio de tensões, alcançando
conforto.
A criança na fase fetal já desenvolve o instinto da sucção. O bebê, logo após seu
nascimento, acha prazer na sucção do seio materno e no vazio que sente quando retira
a boca do seio. Seu gozo é inconsciente, agarrando-se ao seio materno com satisfação,
olhando para os olhos da mãe durante este momento, tendo o fator alimentar se
estabelecido como desejo secundário. A criança chupa tudo o que encontra, os dedos,
lápis, só pelo prazer da sucção.
Freud mostrou que quando a sucção produz prazer, é combinada a fricção de certas
partes do corpo, como a orelha, umbigo ou os genitais externos, sendo estes atos
caracterizados como o movimento precursor que leva a criança a praticar a masturbação.
Se não houver suficiente gratificação oral, alguma energia libidinal pode ficar fixada
nesta fase, repercutindo em futuros comportamentos orais (fumar, comer demais
etc). Muitos fenômenos provenientes desta fase são retidos no adulto como o beijo e
muitos costumes alimentares. O afã de saber, o estudo de idiomas, o cantar, a oratória,
a declamação, são exemplos de sublimação das tendências orais.
Fase anal
A análise das neuroses obsessivas permitiu a Freud inserir entre os períodos oral e
fálico outro nível organizacional da libido, a saber, o nível sádico-anal. Embora o prazer
anal se ache presente desde o início da vida, é no segundo ano que a zona erógena-anal
parece tornar-se o executivo principal de toda excitação, a qual, então onde quer que se
origine, tende a descarregar-se pela defecação.
49
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
É a fase em que a libido se concentra na região anal, que se torna uma área carregada de
emoção agradável, sendo que em primeiro lugar está a satisfação física do “vazio” que
sentimos após a saída das fezes, o esvaziar o intestino e em seguida na satisfação mental
que a criança sente na execução desta função para os seus pais. Essa região compreende
a junção da pele e a membrana mucosa anurretal. As junções de pele e mucosas do corpo
são sensíveis e ao receberem suave estimulação, produzem sentimentos de prazer.
Momento de extremo prazer para a criança quando descobre que pode controlar esta
atividade. Fase em que os produtos internos são sua maior atenção e preocupação.
Fase cheia de fantasias infantis. Há o desejo de agradar a mãe, no qual a criança percebe
o extremo interesse de sua mãe em sua aprendizagem dos hábitos de higiene. Ela pode
sentir que fazendo seus produtos no vaso, estará agradando sua mãe, um presente, e
fica confusa em relação ao destino deste presente; “já que está sendo tão importante,
que a mamãe está prestando tanta atenção, como é que a gente imediatamente se livra
deles dando descarga e eles desaparecem para sempre?”
Fase fálica
Na fase fálica, o interesse da criança dirige-se à região genital, e seus órgãos sexuais
propriamente ditos: o pênis no menino e o clitóris na menina. Com seu interesse voltado
para esta região, a atividade de investigação da criança se dá em dois níveis:
50
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
É nesta fase que os pais começam a ter problemas. Não sabendo o que fazer ficam
“perdidos” frente às perguntas e atitudes das crianças.
Freud postula que nessa fase a criança vivencia dois complexos que definem os próximos
passos do percurso libidinal que começou com o nascimento (oralidade): Complexo
de Édipo e Complexo de Castração, considerados agentes da estruturação psíquica da
criança.
Na fase fálica é que surge o complexo de Édipo, também chamado de complexo nuclear
das neuroses. Nesse período os meninos focalizam o seu desejo e prazer na mãe e as
meninas no pai. É nessa fase também que a criança distingue a diferença dos sexos
masculino e feminino e então determina sua fixação pela pessoa mais próxima do sexo
oposto.
A criança ao desejar o pai ou a mãe alimenta um conjunto de pulsões formadas pelo Id. O
superego que é formado pela razão, pela moral, pelas regras e normas de conduta busca
censurar tais pulsões fazendo com que o id seja impedido de incentivar a satisfação
plena da criança. O ego, por sua vez, que é a consciência humana é incentivada pelos
impulsos do id e limitada pelas imposições do superego, o que torna necessário buscar
formas de satisfazer o id sem transgredir o superego.
O complexo de Édipo em meninos surge pelo desejo sexual pela mãe, onde vê o pai
como ameaça e deseja se livrar dele buscando ainda se identificar com ele. Em meninas,
o complexo surge como o desejo de ganhar um bebê do pai e como não consegue se
desilude.
51
UNIDADE II │ A Ciência Do Desenvolvimento Humano
ele poderia perder o pênis. Ele organizará sua personalidade em torno de um forte
medo de perder algo valioso para ele – o temor da castração. Já a menina fantasia de
que ela também possui um pênis, só que “não está totalmente desenvolvido”, apoiando
esta afirmação na existência do clitóris. Tanto meninos quanto meninas compartilham
a fantasia de que só um sexo existe. A menina após a constatação da ausência real e
concreta de um pênis, depois da comparação por observação do sexo oposto, organizará
a sua personalidade em torno de um forte anseio de suprir, preencher essa falta e para
Freud a mulher “castrada” seguirá sentindo inveja do pênis (falo).
Fase de latência
Após a enorme tensão dessa fase, a libido muda a direção (até então no próprio corpo)
para outras direções, surgindo assim a fase da Latência.
A repressão da energia sexual, fruto da repressão do Édipo, sendo que a libido acaba
sendo canalizada para o desenvolvimento intelectual e social da criança (sublimação).
Eis aqui o porquê de ser este o período da escolaridade, do aprendizado, das operações
matemáticas e gramaticais e, simultaneamente, o de um intenso contato múltiplo com
objetos reais-concretos que funcionam como substitutivos dos objetos primários mãe,
pai, irmãos etc. Daí ser este um período de socialização.
Nesta fase os interesses da criança na esfera sexual diminuem muito. Sua atenção e
energia dirigem-se às pesquisas e descobertas no mundo a sua volta. O contexto social
passa a ter maior importância, e a criança volta toda a sua criatividade para o exercício
destas novas funções.
Desvio das pulsões sexuais para novas metas, por meio dos mecanismos de sublimação
e de formações reativas e da sua transformação em impulsos de afeição.
Fase genital
Para Freud é o início do que podemos chamar de puberdade. Iniciada por volta dos
10 anos, passando por transformações corporais, afetivas e sociais que culminam na
adolescência.
52
A Ciência Do Desenvolvimento Humano │ UNIDADE II
Agora que fizemos uma pausa para conhecer a teoria do inconsciente, vamos retomar
a nossa discussão sobre o estudo do ser humano a partir de perspectivas conscientes
e apresentar um desdobramento das teorias desenvolvimentais e da relação entre
psicologia e educação: a psicologia cognitiva.
53
Sobre A
Cognição:
Contribuições Unidade iII
Da Psicologia
Cognitiva
54
Capítulo 1
O surgimento da psicologia cognitiva:
breve história
Quando Wundt (que é considerado por alguns o pai da Psicologia Científica) instituiu
a psicologia como disciplina científica independente, seu trabalho concentrou-se na
consciência. Ele pode ser considerado o precursor da Psicologia Cognitiva contemporânea
devido à ênfase do seu trabalho na atividade criativa da mente. As escolas de pensamento
estruturalista e funcionalista abordavam a consciência, estudando seus elementos e
suas funções. O behaviorismo, no entanto, alterou radicalmente essa visão, descartando
a consciência e ignorando-a por cerca de 50 anos, ou seja, consciência e cognição é
assunto tão antigo e estudado como o próprio ser humano e o desenvolvimento humano.
55
UNIDADE III │ Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva
Outro caminho histórico ligado ao surgimento das discussões acerca da cognição como
objeto de interesse na psicologia vem da força e disseminação da teoria behaviorista
e das críticas que esta recebeu por teóricos que se propuseram a estudá-la em tempos
depois. Spinillo e Roazzi (1989) contribuíram com um artigo clássico em que refletem
sobre como a psicologia cognitiva, assim como também outras áreas da psicologia,
foram influenciadas negativamente por uma série de pressuposições restritivas
definidas como positivistas, que especificavam que o objeto de estudo da psicologia
seria exclusivamente o comportamento observável, assim como a maneira correta de
se efetuar investigações sobre este objeto seria por meio da determinação da relação
estímulo-resposta, isto é, pela pesquisa de correlações entre as condições (em geral
externas ao indivíduo) e as respostas emitidas pelo indivíduo frente a estas condições.
Dentro deste enfoque, o estudo do comportamento limitava-se à identificação das
correlações existentes entre as variáveis em função do contexto experimental e as
56
Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva │ UNIDADE III
Tais pressuposições foram rejeitadas pela psicologia cognitiva, que procurou superar
este modelo reducionista e mecanicista do comportamento, partindo do pressuposto de
que não é possível tratar a relação entre o estímulo e a resposta como simples e linear.
Nesta abordagem a atenção recai sobre as estruturas, os processos e os mecanismos
que constituem a mente do indivíduo.
Sai o limitado modelo E-R e entra um esquema mais complexo e elaborado que considera
de forma circular entre organismo e estímulos para entender o comportamento
humano. O organismo tem papel relevante e ativo, um sistema capaz de elaborações
complexas, tais como: efetuar escolhas dentre os elementos relevantes de uma dada
situação, utilizar estratégias alternativas, armazenar seletivamente informações, operar
transformações sobre os elementos de forma a elaborá-los apropriadamente, operando
os resultados dessas elaborações e não apenas operações ligadas e determinadas pelos
estímulos de entrada. Na relação entre a situação-problema e a resolução de problemas
surge a necessidade de encontrar as especificidades cognitivas que cada sujeito utiliza
para a atividade fim. É a partir desta diferença que surge a psicologia cognitiva.
57
UNIDADE III │ Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva
aspectos, foram rejeitadas pela psicologia cognitiva, que procurou superar este modelo,
partindo do pressuposto de que não é possível tratar a relação entre o estimulo e a
resposta como simples e linear. Nesta abordagem a atenção recai sobre as estruturas,
os processos e os mecanismos que constituem a mente do indivíduo.
Sendo assim, com tal rompimento e ressurgimento de teorias mentalistas, Ulric Neisser
é conhecido como o pai da Psicologia Cognitiva, pois em 1967, publicou um livro
intitulado Cognitive Psychology (Psicologia Cognitiva). Neisser, definiu a Psicologia
Cognitiva como “o estudo de como as pessoas aprendem, organizam, armazenam e
utilizam o conhecimento” (STERNBERG, 2010, p. 10).
58
Capítulo 2
Considerações sobre a Psicologia
Cognitiva e seu objeto
A Psicologia Cognitiva trabalha com a ideia de que há estados mentais internos, ou seja,
as crenças, as motivações e tais estados mentais soam em desencontro com a psicologia
comportamental. Pode ser entendida de maneira geral como uma área de conhecimento
que se propõe em estudar como as pessoas são capazes de perceber, aprender, lembrar e
pensar sobre determinadas situações da vida, ou seja, se propõe a estudar os processos
mentais dos indivíduos. Cabe ao profissional dessa área descobrir leis que estabeleçam
conexões entre o comportamento e a variedade de aspectos e elementos com os quais o
comportamento está relacionado, deve estar apto a entender como as pessoas percebem
os fenômenos ou porque algumas pessoas lembram com mais facilidade de um fato e
outras esquecem mais facilmente, dentre outras atribuições.
No intuito de caracterizar esse trabalho, diz-se que essa é uma área da psicologia que
tem por finalidade estudar o pensamento, a percepção, a memória, a fim de analisar
como o sujeito percebe o mundo e de que modo desenvolve as funções cognitivas tais
como: falar, resolver problemas, memorizar, raciocinar etc.
De acordo com este enfoque, a tarefa do psicólogo cognitivo é descobrir leis que
estabeleçam conexões entre o comportamento e a variedade de aspectos e elementos
com os quais o comportamento está relacionado, procurando encarar o problema de
59
UNIDADE III │ Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva
Pode-se considerar que a Psicologia Cognitiva é uma área que objetiva estudar as funções
e processos mentais do sujeito, bem como a memória, percepção, atenção, raciocínio.
Desse modo, enfatiza-se que o interesse da Psicologia Cognitiva recai sobre a natureza
do conhecimento, com base em estudos empíricos.
Enfim, a Psicologia Cognitiva não está preocupada com as elaborações das condições
de estimulação que produzem um determinado comportamento, nem em indicar
simplesmente com que probabilidade é possível provocar uma resposta a partir de
uma certa estimulação. Pelo contrário, procura especificar os mecanismos e processos
mentais no organismo e propor modelos que indiquem as fases dos processos mentais
e as funções desenvolvidas por estas fases.
60
Capítulo 3
Alguns elementos de estudo da área
61
UNIDADE III │ Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva
O ser humano está contínuo e constantemente em contato com uma vasta gama de
estímulos que o cerca, advindos tanto do seu meio ambiente externo, como de seu meio
interno, ou seja, o organismo. Um mecanismo auxiliar de consciência realiza o processo
de seleção desses estímulos permitindo ao organismo humano empreender e manter
programas de ação sobre o meio, esse processo depende de uma função psicológica
superior, é a atenção (SILVA, 2013).
62
Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva │ UNIDADE III
63
UNIDADE III │ Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva
Gardner apud Senge (2007) afirma que nossos modelos mentais determinam não
apenas a forma como entendemos o mundo, mas também como agimos. Os modelos são
ativos, moldam nossa forma de agir. Se temos a crença de que não podemos confiar nas
pessoas, agimos de forma diferente do que agiríamos se acreditássemos que são dignas
de confiança. Felizmente, por mais distorcidos que sejam nossos modelos mentais, há
sempre a possibilidade de alteração.
Para bem compreendermos os modelos mentais cabe ressaltar alguns aspectos, assim
como enfatizar que esse modelo determina o que é visto e sentido. Entretanto, não são
estáticos, podem ser aperfeiçoados a fim de estar a serviço de uma melhor adaptação
em prol de propiciar um bem-estar e uma adaptabilidade.
64
Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva │ UNIDADE III
Em conclusão, pode-se considerar que a Psicologia Cognitiva é uma área que objetiva
estudar as funções e processos mentais do sujeito, bem como a memória, percepção,
atenção, raciocínio. Desse modo, enfatiza-se que o interesse da Psicologia Cognitiva
recai sobre a natureza do conhecimento, com base em estudos empíricos. A partir
desse estudo foi possível conhecer as motivações e os interesses para o surgimento
desse saber psicológico, entender algumas considerações sobre essa área e ainda tecer
algumas considerações sobre o manejo dessa profissional que trabalha especificamente
com a cognição.
Em uma ocasião, Jerome Bruner descreveu a Psicologia Cognitiva como “uma revolução
cujos limites ainda não podem ser previstos” (BRUNER, 1983, p. 274). O cientista
Roger Sperry, ganhador do prêmio Nobel, comentou que a revolução da consciência
ou cognitiva, comparada às revoluções psicanalítica e behaviorista na psicologia, é a
reviravolta mais radical; a mais revisionista e mais transformadora.
A Psicologia Cognitiva não está terminada. Está ainda em evolução, marcando o lugar na
história em andamento, portanto, ainda é cedo demais para avaliar suas contribuições
definitivas. A disciplina é dotada de características de uma escola de pensamento:
publicações próprias especializadas, laboratórios, encontros, jargões e convicções, bem
como o zelo dos adeptos.
Até o momento falamos sobre a ciência psicológica, uma ciência da consciência humana.
Mesmo não falando a mesma língua ou partindo de pressupostos em comum, os vários
autores e teorias até então estudadas evidenciam de maneira particular a relação entre
o ser humano e seu meio na sua constituição enquanto sujeito único e social.
65
UNIDADE III │ Sobre A Cognição: Contribuições Da Psicologia Cognitiva
66
Um Olhar Sobre Unidade iV
A Adolescência
Retomando algumas definições dessa fase, a adolescência pode ser vista como etapa do
amadurecimento entre a infância e a condição de adulto. O termo refere-se ao período
que vai do início da puberdade até a maturidade. Em geral, é definida como o período de
tempo que os indivíduos necessitam para se considerarem autônomos e independentes
socialmente. Esse período de transição entre as etapas social e biológica definidas da
infância e vida adulta se caracteriza por impulsos desenvolvimentais: físicos, mentais,
afetivos, sexuais e sociais, de acordo com os limites impostos pela cultura em que o
adolescente vive.
Mas dizer que é uma fase entre a infância e a vida adulta, como está em quase
todas as definições encontradas sobre o tema adolescência é muito vago.
Como podemos buscar maiores evidências que nos assegure que entramos na
adolescência ou mesmo saímos dela?
Em primeiro lugar precisamos compreender que essa etapa da vida é composta de duas
transições: uma biológica que é comum a todos os seres humanos – puberdade – e uma
psicológica e social que pode ou não acontecer e que difere para cada sujeito e cultura
– a adolescência.
67
Capítulo 1
Puberdade
Puberdade define-se como uma fase de maturação fisiológica, uma fase do ciclo biológico
que promove transformações físicas marcantes e específicas em cada gênero e os
prepara para o surgimento da função procriadora. Esse fenômeno de caráter universal
se dá com algumas pequenas diferenças dependendo de fatores como circunstâncias
geográficas, climáticas, alimentares, entre outras.
»» Aceleração do crescimento;
»» O corpo ganha peso e ‘curvas’ devido aos crescimentos dos quadris e dos
seios;
»» Menarca;
68
Um Olhar Sobre A Adolescência │ UNIDADE IV
»» Aceleração do crescimento;
Segundo Kolb e Whishaw (2002, citado por ALENCAR, 2009) à medida que o cérebro
se desenvolve, os neurônios ficam conectados de modo cada vez mais complexos. O
desenvolvimento cerebral pode ser abordado por três perspectivas diferentes:
Uma parte do cérebro adolescente primeiro recebe informações sobre o que está
acontecendo no corpo e informações sobre as intenções que guiaram o comportamento
atual. Outra parte influencia o comportamento ao despejar dopamina no cérebro.
Quanto maior o número de receptores para dopamina, mais fácil será conseguir prazer
ou satisfação. Mas há uma redução de um terço de receptores até o final da adolescência
o que leva ao enfado, a insatisfação com antigas brincadeiras, a busca por novidades e
comportamento de risco e até uma possível busca por drogas. A perda de receptores é
compensada aos poucos por um aumento na quantidade de dopamina que é liberada
no sistema de recompensa por comportamentos que proporcionam prazer, de modo
71
UNIDADE IV │ Um Olhar Sobre A Adolescência
que o conjunto vai aos poucos se aproximando do que será o seu estado de equilíbrio na
vida adulta. “Ao final, tudo dá certo: os receptores são menos numerosos, mas, como
recebem mais dopamina, o resultado é satisfação garantida” (HERCULANOHOUZEL,
2005, p. 128, citado por citado por ALENCAR, 2009).
72
Um Olhar Sobre A Adolescência │ UNIDADE IV
73
Capítulo 3
Adolescência: fenômeno social e
mental
Vocês sabem qual o maior desafio, dos tantos comuns a essa fase, que todos os
adolescentes têm?
74
Um Olhar Sobre A Adolescência │ UNIDADE IV
Winnicott sobre essa fase diz que o adolescente não quer ser compreendido. Os adultos
devem guardar para si o que chegaram a compreender sobre a adolescência, pois é
um período da vida que deve ser vivido e é essencialmente uma época de descoberta
pessoal. A verdadeira cura para a adolescência pertence à passagem do tempo e aos
processos gradativos do amadurecimento.
75
UNIDADE IV │ Um Olhar Sobre A Adolescência
O adolescente em sua busca de uma identidade adulta passa por um período “turbulento”
(variável segundo o seu ecossistema sociofamiliar), em que comportamentos
considerados anormais ou patológicos em outras fases do desenvolvimento, devem ser
considerados normais nessa transição para a vida adulta.
76
Um Olhar Sobre A Adolescência │ UNIDADE IV
Os pais até então idealizados e supervalorizados pelo filho ou filha (fato e fator
necessário para um adequado desenvolvimento infantil), passam a ser alvo das
mais violentas críticas e questionamentos, e surge a necessidade de uma busca
de figuras de identificação fora do âmbito familiar.
Nessa busca o/a adolescente tenta, procura, substituir muitos aspectos da sua
identidade familiar por outra mais individual e enriquecida por novos elementos
do seu âmbito social mais amplo. Eis aí que começa a verdadeira socialização por
um caminho que leve ao sentimento de individualidade.
Cada avanço que faz para obter sua dependência o deixa algo temeroso e
inseguro. Procura assim o apoio do grupo onde ele deposita toda sua confiança
e esperança, deixando o cargo dos pais as mais significativas obrigações e
responsabilidades.
A adesão a grupos, nessa fase, tem uma função importante para o estabelecimento
de uma identidade adulta, pois facilita o distanciamento dos pais, mencionado
acima, e permite novas “identificações” levando a novas configurações e
restruturações da personalidade.
77
UNIDADE IV │ Um Olhar Sobre A Adolescência
papéis fora do meio familiar. Nesta etapa da vida podem-se assumir diferentes
identidades, que podem ser transitórias, ocasionais ou circunstanciais. Tudo
numa mesma pessoa que começa a sentir e necessita entender a sua intimidade.
Para atingir uma identidade adulta, se sentir adulto, o adolescente deverá fazer
uma síntese de todas essas identificações desde a infância. Só então terá um
caráter mais estável e permanente, e a fase adulta será uma meta desejada e não
temida.
A seguir iremos por outro caminho para tentar compreender a adolescência. Essa é
uma das teorias desdobradas a partir da prática de analistas no trabalho com crianças
e adolescentes. É interessante que essa é uma forma completamente oposta de tentar
compreender o adolescente a partir das mudanças biológicas vistas anteriormente, mas
que destaca os comportamentos típicos e tenta outra explicação para eles.
78
Capítulo 4
Alguns comportamentos típicos da
adolescência e elaborações teóricas
Para pais, mestres, educadores e todos os que de alguma maneira trabalham com
adolescentes, consideramos fundamentais estas ideias e suas aplicações.
79
UNIDADE IV │ Um Olhar Sobre A Adolescência
Quem sou Eu? É a pergunta que muitas vezes se formula o/a adolescente... entretanto,
terá que aguardar a resposta. Ela chegará quando a adolescência vai-se transformando
em “juventude” e “adultez jovem”.
A tendência grupal
É um tipo de fuga para o interior, uma espécie de reajuste emocional, que leva à
preocupação por princípios éticos, filosóficos, sociais e políticos, que muitas vezes
implicam formular-se um plano de vida bem diferente do que se tinha até esse momento,
e que também permite a teorização acerca de grandes reformas que poderiam acontecer
no mundo exterior.
As crises religiosas
80
Um Olhar Sobre A Adolescência │ UNIDADE IV
A deslocação temporal
Existe neste período evolutivo, uma certa desorientação temporal, em que as urgências
são enormes e as postergações irracionais. Há o que poderia chamar-se de “normal
distemporalidade”. Tudo pode chegar a ser “agora ou nunca”, ou um permanente “ainda
temos tempo”.
A evolução sexual adolescente vai de uma fase prévia de masturbação a uma atitude
lúdica, que leva à aprendizagem: jogos eróticos, bailes, esportes, carinhos, todos com
conteúdo exploratório de si mesmo e de outro/outra.
Existe depois o desejo mais intenso e a relação genital, que muitas vezes é expressão de
imaturidade, descontrole ou até também de atividade lúdica.
Na medida em que o/a adolescente não encontra o caminho adequado para a sua
expressão vital e para a aceitação de uma possibilidade de realização, não poderá jamais
ser um adulto satisfeito.
81
UNIDADE IV │ Um Olhar Sobre A Adolescência
A conduta do adolescente está dominada pela ação. Ele não pode manter uma linha de
conduta rígida, permanente e absoluta, embora o queira. Sua personalidade é permeável
e sua instabilidade necessária. Lida permanentemente com o imprevisível, tanto no seu
mundo interno como no externo. Joga com seu corpo, sua alma, sua conduta de acordo
com as possibilidades confusas e confusionantes.
Existe a já mencionada “ambivalência dual” por ambas as partes que as vezes é fonte
de conflitos que atrapalham o crescimento físico e psicológico normal. O conflito de
gerações é uma realidade necessária para o desenvolvimento sadio, tanto dos filhos
adolescentes como o de seus pais.
Uma conquista, por mínima que seja entusiasma e alegra. Uma frustração aborrece e
deixa triste. Isto acontece milhares de vezes ao dia. Sua luta com os pais, a sociedade,
os preconceitos, o medo, seus triunfos físicos, ou sua realização intelectual, uma
aprovação, uma rejeição; tudo constante e vertiginosamente alternando no dia a dia,
explicam os sentimentos de solidão e os de exaltação. Estas mudanças de estado de
ânimo são normais
82
Um Olhar Sobre A Adolescência │ UNIDADE IV
83
Para (não) Finalizar
84
Referências
BRUNER, J. Going Beyond the Information Given. New York: Norton. 1973.
DAVIS, C.; OLIVEIRA, Zilma. Psicologia na Educação. São Paulo, Cortez, 1991.
86
Referências
PAPALIA, D.; OLDS, S. Desenvolvimento Humano. (D. Bueno, trad.) Porto Alegre:
Artmed, 1998.
87
Referências
SENGE, Peter. Presença: propósito humano e o campo do futuro. São Paulo: Cultrix,
2007.
88
Referências
Referências complementares
CÓRIA SABRINI, M. A. Psicologia do Desenvolvimento. SP: Ática, 1998.
KOVÁCS, Maria Júlia. Educação para a Morte: temas e reflexões. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2003. Cap. 2; pp. 102-139
89