Apostila Literatura Brasileira
Apostila Literatura Brasileira
Apostila Literatura Brasileira
Índice
O QUE É LITERATURA............................................................................................. 5
GÊNEROS LITERÁRIOS ......................................................................................... 7
ESTILO DE ÉPOCA .................................................................................................. 35
QUINHENTISMO ...................................................................................................... 37
BARROCO ................................................................................................................ 41
ARCADISMO ............................................................................................................ 51
ROMANTISMO ......................................................................................................... 65
REALISMO - NATURALISMO ................................................................................... 109
PARNASIANISMO .................................................................................................... 127
SIMBOLISMO ........................................................................................................... 139
O PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL ........................................................................ 157
MODERNISMO ......................................................................................................... 179
LITERATURA PÓS 1964 .......................................................................................... 251
O que é
literatura
O objetivo deste estudo é fazer o aluno compreender melhor o que lê e, em compreendendo, desfrutar
os prazeres estéticos da literatura.
Primeiramente, é importante que se questione e se pense sobre o que vem a ser uma obra literária.
Muito se tem discutido sobre esse assunto, mas não há um consenso em torno de uma definição única sobre
o que é literatura. Na bibliografia especializada em teoria da literatura, encontramos inúmeros conceitos sobre
a arte literária. Essa pluralidade de definições e visões sobre o objeto estético-literário demonstra que o homem
pensa e interpreta a literatura de modos diferentes, dependendo da corrente filosófica (Marxismo,
Estruturalismo, Formalismo, Psicologismo, etc.) a que esteja ligado, bem como do contexto sócio-histórico em
que esteja inserido (Renascimento, Romantismo, Contemporaneidade, etc.). A seguir, arrolamos algumas
colocações sobre o fazer literário a partir da opinião de alguns teóricos e escritores.
“Um homem tem o ímpeto de se tornar artista porque ele necessita encontrar a si mesmo.
Todo escritor tenta encontrar a si mesmo através de suas personagens em todos os seus escritos.
Sei que existem homens que possuem mais ou menos os mesmos problemas que eu, com maior
ou menor intensidade, e que ficarão felizes em ler o livro e encontrar a resposta se é que ela pode
ser encontrada.”
(George Simenom, escritor francês)
“Um escritor precisa de três coisas: experiência, observação e imaginação. Comigo uma
história, geralmente começa com uma ideia ou memória ou imagem mental. Escrever uma história
é apenas uma questão de ir construindo esse momento, de explicar o que aconteceu ou o que
provocou a seguir. Um escritor está sempre tentando criar pessoas verossímeis em situações
comoventes e críveis da maneira mais comovente possível.”
(William Faulkner, escritor norte-americano)
“A literatura é um fenômeno estético. É uma arte da palavra. Não visa a informar, ensinar,
doutrinar, pregar, documentar. Acidentalmente, secundariamente, ela pode fazer isso, pode conter
história, filosofia, ciência, religião. O literário e o estético inclui precisamente o social, o histórico,
o religioso, etc., porém transformando esse material em estético”.
(Afrânio Coutinho, crítico literário brasileiro)
Notamos que há pontos comuns sobre o que é o literário nas opiniões citadas acima. Percebemos que
a ligação entre literatura e realidade social se apresenta de modo orgânico e vital, visto que o escritor, produtor
literário, enquanto ser histórico, não se desvincula de seu tempo e de seus semelhantes, escrevendo sobre a
Literatura Brasileira * 5
realidade da qual faz parte. O escritor recorta do real determinados acontecimentos e situações, plasmando-
os a partir da forma literária (romance, conto, novela, poema, drama, tragédia, comédia). Ocorre, portanto,
uma ficcionalização da realidade, visto que esta adentra o universo das palavras, da literatura. Essa
transferência da realidade para a ficção ocorre segundo a visão de mundo do escritor, ou seja, ele poderá
representar a realidade sócio-histórica de diferentes maneiras. Operará uma transfiguração do real segundo
sua visão da existência, que poderá se efetivar como trágica, cômica, cética, otimista, mística, realista,
romântica, entre outras possibilidades.
A questão da literatura enquanto conhecimento sobre o humano também é colocada, demonstrando
que a obra literária é uma meditação sobre a existência, à medida que representa no plano da ficção, da
literatura, o homem estabelecendo relações de ordem objetiva, social, política com o outro.
A obra literária, portanto, pode ser entendida como um produto socioestético à proporção que é
articulada por um ser social, o escritor, que escreve sobre determinada realidade a partir de uma ótica e uma
escrita pessoais. Autor, obra e público formam um conjunto imprescindível para que a obra se configure
enquanto produto social capaz de interferir na realidade. A obra literária tem o poder de modificar a realidade
porque leva a pensar e a questionar sobre a condição social do ser humano e este, em pensando, pode ativar
determinadas mudanças no comportamento e nas práticas sociais.
Após essa breve dissertação sobre o fazer literário, passaremos a apresentar os gêneros literários.
6 * Literatura Brasileira
Gêneros
literários
Literatura Brasileira * 7
personagens, ocultando-se a voz do autor e na mudança, nasceram outras formas do artístico que
epopeia ocorre um misto, englobando as vozes do precisavam de uma nova interpretação.
poeta e das suas criações. Somente a partir do século XVI é que o gênero
Para Aristóteles (384-322 a.C), a base de lírico (poesia) passa a receber uma teorização
todos os gêneros, também, fundamenta-se na específica e aí se retoma a classificação platônica
imitação. As manifestações artísticas imitam as do ato enunciativo. Na representação dramática não
ações, os caracteres e as paixões dos homens. ocorre a intervenção do autor; na lírica, as reflexões
Porém, diferentemente de Platão, Aristóteles não do poeta se apresentam diretamente por ele mesmo
desvaloriza a arte como imitação de terceira ordem, e, na épica, ocorre um misto, ora falando o autor, ora
mas a vê como algo que apreende o geral e o as personagens introduzidas por ele.
universal presente nos seres e nos eventos Em meados do século XVIII, com o início do
particulares, contribuindo para a edificação moral do Romantismo alemão, a teorização prescritiva e
homem. O filósofo grego classifica os gêneros de normativa passa a ser questionada em prol da
acordo com os fatores formais e conteudísticos liberdade de criação e da hibridação dos gêneros. O
específicos de cada um. A tragédia e a epopeia movimento romântico, triunfante no século XIX,
imitam os homens melhores do que realmente são valoriza a criatividade individual, a genialidade do
(de mais elevada psique) a partir de uma linguagem artista e o transbordar da expressão interior,
nobre, formal, erudita. Já a comédia, utilizando-se de incompatíveis com a rigidez clássica (horaciana) que
uma linguagem licenciosa, imita o homem inferior e vê na imitação dos clássicos o único caminho
o risível da condição humana. Notamos que em possível para a arte. Friedrich Schlegel, romântico
Aristóteles não ocorre uma divisão triádica dos alemão, distingue a lírica como uma produção em
gêneros literários. que predomina o caráter subjetivo (a vida interior do
Horácio (65 a.C - 8 d.C), teorizador latino, poeta), a épica como voltada para o mundo objetivo,
recupera, sobretudo com sua Ars Poética, o o exterior, e o drama seria um misto entre
pensamento de Aristóteles, influenciando a objetividade e subjetividade.
concepção de gênero imperante na Idade Média, no No Romantismo, condena-se a imutabilidade
Renascimento e no período Neoclássico. A sua dos gêneros literários, que passam a ser vistos como
teoria sobre os gêneros é normativa, entendendo-os produções socioculturais modificáveis em decor-
como entidades autônomas e imutáveis. As obras rência das mudanças históricas que ocorrem na
clássicas da cultura grego-Iatina (tragédias, realidade social. Além dessas mudanças, há também
comédias, epopeias) passam a se constituir em a vontade do artista, que determina de modo
paradigmas a serem imitados pelos autores. Para substantivo a mudança nos gêneros literários.
Horácio, segundo a tradição aristotélica, há uma Dentro dessa visão histórica da arte, alguns teóricos
hierarquia entre os gêneros. Os gêneros maiores românticos classificam a lírica como uma forma que
(epopeia, tragédia) representam um universo em que representa o tempo presente; a épica, o passado e
transitam personagens de mais elevado estrato no drama ocorreria uma orientação para o futuro.
social e os gêneros menores (comédia, farsa) Victor Hugo, escritor francês romântico, faz a
veiculam personagens e situações oriundas de apologia da simbiose dos gêneros em seu famoso
estratos sociais mais baixos. Para Horácio, a arte prefácio à peça teatral Cromwell (1827). Nesse
devia unir o útil ao agradável, objetivando ensinar, prefácio, o poeta observa que a beleza decorre da
deleitando. síntese dos contrários, ou seja, do cômico e do
Em 1690 houve a famosa querela entre os trágico juntos na mesma manifestação artística,
antigos e os novos, pois muitos teóricos e escritores surgindo, então, o drama romântico. Essa orientação
não aceitavam mais as artes poéticas baseadas em do Romantismo pela mistura e hibridismo dos
Horácio, visto que havia toda uma produção artística gêneros é concebida por uma visão de mundo
(o romance, a tragicomédia, a pastoral dramática) libertária que vê o poeta, o ficcionista, o dramaturgo
que não se encaixava na teorização tradicional, como criadores e não como imitadores. Essa
respaldada em Aristóteles. Sentiu-se naquele concepção da simbiose dos gêneros será
momento que o homem havia mudado e, com essa largamente retomada no século XX, sendo ampliada.
8 * Literatura Brasileira
O século XIX, além do apogeu do concepção formalista, o escritor é um operador à
Romantismo, também viu nascer e firmarem-se as proporção em que capta e seleciona alguns
teorias materialistas (Marxismo, Positivismo, aspectos formais do sistema literário que existe
Evolucionismo, Determinismo). Dentro de uma antes dele para confeccionar o seu texto. Esse é o
orientação cientificista, alguns teóricos do fenômeno resultado de combinações de formas já existentes.
literário passam a explicar os fatos artísticos como Para Roman Jakobson, teórico russo, os
se eles fossem fatos naturais. Brunetire (1849-1906) gêneros estão associados às funções da linguagem.
explica os gêneros literários a partir de uma ótica Para ele, o ato comunicativo (oral ou escrito) se
biologizante e evolucionista. Dentro de uma constitui a partir de uma inter-relação entre emissor
concepção de seleção natural dos mais fortes, e destinatário. Dependendo do objetivo da
haverá gêneros fortes e gêneros fracos. Estes comunicação, predominará uma dada função. As
últimos seriam suplantados por aqueles, como, por funções da linguagem, segundo Jakobson, são seis.
exemplo, a tragédia clássica substituída pelo drama Função Referencial é aquela em que prevalece o
e a epopeia, pelo romance. Brunetire explica a referencial, ou seja, o extra-artístico (o mundo e seus
decadência e o surgimento de certos gêneros a partir momentos). O emissor do texto enfoca de modo
da Biologia, interpretando-os como organismos vivos
mais objetivo aspectos do mundo real. A Função
cujas mutações independem da vontade dos artistas
Apelativa ocorre quando o falante, o emissor, centra
ou das condições sociais em que estes últimos estão
o texto no receptor da mensagem. A Função
inseridos. Despreza, assim, os fatores históricos
Expressiva demonstra as impressões bastante
(ascensão de uma nova classe ao poder, novas
subjetivas do emissor. Ocorre a Função
necessidades do espectador e do leitor, mudanças
Metalinguística quando o emissor fala sobre a
ideológicas) que são causas exógenas ao sistema
própria linguagem. A Função Fática visa a testar se
literário, mas que determinam sobremaneira as
a comunicação entre emissor e receptor está se
mudanças dentro do universo das produções
efetuando. E a Função Poética é aquela em que o
literárias.
emissor se utiliza dos aspectos sonoros, visuais e
formais das palavras para maximizar a comunicação.
Essa função predomina nos textos literários em que
os aspectos estruturais da linguagem são muito
3. algumas teorias sobre os
relevantes. Obviamente, diz o teórico, que num ato
gêneros no séCulo xx
comunicativo podem estar presentes simulta-
neamente todas as funções, mas, geralmente,
No século XX surgem várias teorias sobre os
dependendo das intenções do emissor, há o
gêneros literários. Algumas retomam conceitos
predomínio de uma delas. Exemplos de excertos e
anteriores, adaptando-os ao novo momento
suas respectivas funções de linguagem predomi-
histórico.
nantes:
As correntes mais formalistas entendem que
todo texto literário (conto, crônica, poema, romance)
Função Referencial:
articula determinados elementos formais que o
inserem em um determinado gênero. Assim, os “Eis São Paulo às sete da noite. O trânsito caminha
gêneros são macroestruturas e os textos realizam lento e nervoso. Nas ruas, pedestres apressados se
alguns elementos dessas estruturas. O autor, na atropelam.”
realidade, não cria algo inteiramente novo, mas
combina determinadas funções, elementos,
organizando-os formalmente num texto que, Função Apelativa:
dependendo de suas características, pertence a um “Chora de manso e no íntimo... Procura
gênero específico. Nessa linha, os gêneros são Curtir sem queixa o mal que te crucia:
vistos mais como uma realidade formal que uma O mundo é sem piedade e até riria
forma de um conteúdo, visto que nesta o criador de Da tua inconsolável amargura.”
um texto produz algo original e singular. Na (Manuel Bandeira)
Literatura Brasileira * 9
Função Expressiva/Emotiva: dramático, ocorre a ocultação do poeta e na ficção
“É noite. Sinto que é noite (romance) a audiência é inespecífica. Dentro dessa
não porque a sombra descesse linha interpretativa, temos também Mikhail Bakhtin,
(bem me importa a face negra) teórico russo deste século que distingue o lírico do
mas porque dentro de mim, romanesco, colocando aquele como um discurso
no fundo de mim, o grito direto em que o poeta é quem fala, ou seja, a poesia
se calou, fez-se desânimo” é uma fala unilinguística e o romance é classificado
(Carlos Drummond de Andrade) como um discurso indireto em que as falas das
personagens são apresentadas indiretamente pelo
Função Metalinguística: narrador. No discurso romanesco, há uma
pluralidade de vozes (várias personagens
“Eu faço versos como quem chora
posicionam-se sobre um dado assunto). Já, na
De desalento... de desencanto...
poesia, apenas a voz do poeta coloca-se em relação
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
à determinada problemática. Outro é o caso do
Tristeza esparsa... remorso vão...
drama, visto que aí se estabelece o discurso direto
Dói-me nas veias. Amargo e quente
de várias personagens sem a interferência do
Cai, gota a gota, do coração.”
narrador.
(Manuel Bandeira)
Para Bakhtin, o romance se distinguiria da
epopeia à proporção que esta serve para exaltar o
Função Fática:
passado lendário e místico de um povo, uma
“O senhor não acha? Me declare franco, peço. comunidade. Aqui, o narrador, separado temporal-
Ah, lhe agradeço. Se vê que o Senhor sabe muito, em mente dos fatos, valoriza-os e enaltece-os. No
ideia firme, além de ter carta de doutor.” romance, o narrador, tendo ou não ligação direta
(Guimarães Rosa) com os fatos narrados, apresenta-os a seu modo,
podendo denegri-los, exaltá-los ou simplesmente
Função Poética: expô-Ios de modo mais ou menos isento de juízo de
“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada valor.
E triste, e triste e fatigado eu vinha. Modernamente, alguns teóricos têm explicado
Tinhas a alma de sonhos povoada, a questão dos gêneros de maneira a distinguir o
E a alma de sonhos povoada eu tinha.” modo literário do gênero literário. O modo literário
(Olavo Bilac) seria uma categoria atemporal e imutável. Haveria o
modo satírico, o modo trágico, o modo elegíaco, que
Para Jakobson, em todas as manifestações podem estar presentes nas diversas manifestações
artístico-literárias, independentemente do gênero ao literárias (poesia, tragédia, romance, crônica, conto,
qual pertença, ocorre o predomínio da função etc.), independentemente da forma que toma cada
poética, visto que a literatura não se importa texto escrito. Já os gêneros literários seriam
somente em formalizar um conteúdo, mas sim em categorias históricas e mutáveis que, dependentes
“como” esse conteúdo é veiculado, ou seja, a forma da visão de mundo do autor, da época em que ele
do conteúdo é imprescindível à medida que a vive e das expectativas da audiência social,
literatura é a arte de organizar bem as palavras. sofreriam mutações e transformações. Nesse
Outro teórico de renome que se posiciona posicionamento, ocorre dicotomia entre o conteúdo e
sobre os gêneros é Northrop Frye. Em seu livro a forma, visto que aquele se constitui como algo
Anatomy of Criticism (1957), explica os gêneros a universal, ou seja, o trágico, o elegíaco, o satírico
partir das relações que o autor estabelece com o estabelecem-se independentemente do espaço e do
público. No épico, haveria uma relação direta, pois a tempo. Já a forma que veicula o conteúdo é histórica.
audiência é viva, concreta. Aqui a narrativa seria oral, Assim, temos que o espírito trágico que está
com presença do público. No lírico, o público exterior presente na tragédia grega seria o mesmo que
não interfere, mas, sim, o poeta fala consigo mesmo, ocorreria nas obras modernas cuja visão de mundo
com uma musa, com Deus, com a natureza, etc. No é trágica. Para exemplificar e confirmar de certa
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forma essa interpretação, podemos pensar na apresentam, até porque isso constitui um problema
tragédia grega Medeia e na peça Gota d’Água de ainda em discussão, uma vez que é bastante atual e
Chico Buarque. Ambas apresentam uma visão a distinção e a análise das formas em prosa
trágica do mundo e dos homens, mas a partir de constituem questões relevantes da teoria e da
formas do texto bastante diferenciadas. filosofia literária. Na verdade, antes do século XVIII,
Após essa visão histórica e teórica, quase tão somente a poesia interessava aos teóricos
percebemos que é difícil chegar a uma conclusão e pensadores da Literatura (era a poesia dividida em
fechada e única sobre os gêneros literários. Com lírica, épica e dramática).
esse cabedal de informação que documentamos, Entre as técnicas, estilos, maneiras narrativas
devemos pensar tal problemática de forma aberta, ou formas narrativas - aquelas em que os literatos
tentando não classificar um texto rigidamente num (escritores) utilizam o método indireto de interpretar
determinado gênero, mas antes apreender o texto a realidade (utilizam-se de uma história que encorpe
como um conteúdo (o mundo, o homem repre- a realidade) -, a ficção é, contemporaneamente, a
sentados) que passa uma dada visão de mundo do que tem as preferências do grande público, quando
autor. Este, sem dúvida, deve ser contextualizado se trata da arte de contar histórias.
dentro de sua época histórica que vê as coisas, os Entendamos por Literatura de Ficção aquela
homens, a natureza de um modo específico. Este que contenha uma história inventada ou fingida,
último mais a concepção de vida do autor vão imaginada, resultado de uma invenção imaginativa,
determinar a forma do texto que pode se conformar com ou sem intenção de iludir.
rigidamente a determinados cânones (época grega, Portanto, na ficção e na epopeia (texto em
classicismo, neoclassicismo) ou fazer a opção pela verso, que narrava atos heroicos, o nacionalismo, o
liberdade de expressão, hibridismo, fusão de heroísmo, o maravilhoso dos feitos dos heróis
gêneros (barroco, romantismo, modernidade). nacionais), o autor, através da palavra, interpreta a
vida e a expressa por uma história.
Assim, a essência da ficção é também a
4. DesCrição Dos gêneros narrativa, porque reacende o velho instinto humano
de contar e ouvir histórias. Mas só terão valor literário
as histórias que mostrarem uma técnica de arranjo e
4.1 GÊNERO ÉPICO OU NARRATIVO apresentação que comunicará à narrativa estrutura,
beleza de forma e unidade de efeito. Para isso, os
A produção literária, durante muitos séculos, episódios da narrativa tornam o enredo complexo o
foi predominantemente realizada em versos. O ato suficiente para quase terem vida própria.
de contar uma história era levado a efeito pelo Assim é que a ficção é um produto da
poema épico ou epopeia. Mas, com o advento do imaginação criadora, pois, embora tenha as suas
Romantismo e a consequente criação do romance, raízes mergulhadas na experiência humana, ela não
no sentido moderno do termo, a tarefa de contar uma pretende fornecer um simples retrato da realidade,
história passou a ser desempenhada por essa nova mas recriar uma imagem da realidade, uma
espécie, bem como por outras espécies, como o reinterpretação, pois ela é o espetáculo da vida
conto e a novela. Diante disso, alguns teóricos através do olhar interpretativo do artista-autor; então,
entenderam que a nomenclatura gênero épico era é a interpretação artística da realidade.
insuficiente para dar conta de toda uma produção A ficção pode ficar próxima ou distante do
romanesca que pouco tinha em comum com o reino da experiência humana real. Quando ela se
poema épico. Eis por que a denominação do gênero deixa dominar pelo real, temos a ficção realista;
que estamos estudando apresenta alternativas: quando ela foge ao real, surge a ficção romântica ou
épico (para respeitar a origem histórica) ou narrativo fantasista.
(para acompanhar a evolução da criação literária). É preciso traçar uma linha de distinção entre
O Gênero Épico ou Narrativo (geralmente em ficção, história e biografia, porque estas são
prosa) oferece grande dificuldade quando se tenta narrativas comprometidas com os fatos
diferenciar as diversas formas de prosa que se absolutamente reais e a ficção não; mesmo quando
Literatura Brasileira * 11
se recebe influência dos fatos reais, ela (a ficção é um comportamento convencionalizado e estere-
livre para não copiá-Ios ou reproduzi-Ios fielmente). otipado. Identifica-se pela recorrência do mesmo
Então, vale dizer que ela seleciona, omite, arruma elemento e não através da acumulação de
os dados da experiência de tal forma que faz surgir elementos diversificados. Por exemplo: uma
um plano novo, de acordo com a interpretação que o personagem que usa sempre o mesmo tipo de
autor faz da realidade. roupa, anda invariavelmente nos mesmos lugares e
Cabe agora teorizar acerca dos elementos com as mesmas companhias, procurando os
estruturais que compõem um texto narrativo-ficcional mesmos divertimentos, e cuja vida interior não é
(romance, conto, novela, crônica): personagem, preocupação da narrativa é, sem dúvida, uma
ponto de vista, linguagem, tempo, ação e espaço, ou personagem plana.
seja, acerca dos elementos da obra de ficção. Carolina, personagem principal do romance A
Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo;
Leonardo Pataca, em Memórias de um Sargento de
4.1.1 ELEMENTOS DA OBRA DE FICÇÃO Milícias, de Manuel Antonio de Almeida, e Sinhá
Vitória, em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, são
A) A PERSONAGEM DE FICÇÃO: alguns exemplos.
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personagem redonda e individualizada. Como B) PONTO DE VISTA OU FOCO NARRATIVO:
exemplo, temos Rodrigo Cambará, em Um Certo
Capitão Rodrigo, de Érico Veríssimo, porque essa Histórias são contadas desde sempre e, quem
personagem se caracteriza pelas vestes, gestos, fala as conta, narra o que viu, o que viveu, o que
e atos como um típico gaúcho. Nos romances de testemunhou mas também o que imaginou, o que
Jorge Amado, os coronéis, as prostitutas e as beatas sonhou e o que desejou. Entre as histórias e o
são tipos, uma vez que encarnam comportamentos público, sempre se interpõe a figura do narrador.
padronizados e estandardizados socialmente. Este é uma das criações do ficcionista, ou seja, uma
personagem. O narrador não representa o verda-
deiro autor porque este é uma pessoa de carne e
PERSONAGEM CARICATURA osso e aquele, um ser fictício, construído de
palavras. Autor e narrador, embora seres distintos,
A personagem considerada caricatura é podem comungar de determinadas ideias. A seguir
aquela cujas qualificações ou traços são transcrevemos um trecho retirado do romance Bufo
apresentados de modo exagerado. Exemplo: & Spallanzani de Rubem Fonseca, em que se coloca
Odorico Paraguassu, da novela O Bem Amado de a questão do narrador / autor:
Dias Gomes e o personagem Pedro, de A
“Vou-lhe dizer uma coisa: o ponto de vista, a
Polaquinha, de Dalton Trevisan. Este personagem
opinião, as crenças, as presunções, os valores, as
(Pedro) é um motorista de ônibus cujas taras
inclinações etcetera dos personagens, mesmo os
sexuais, grosseria e ignorância são exageradamente
principais, não são necessariamente os mesmos do
ampliadas.
autor. Muitas vezes o autor pensa exatamente o
oposto do seu personagem”.
Além da classificação vista, há outra, que
decorre da importância que a personagem desfruta Há dois modos básicos de narrar uma história:
dentro da história, qual seja: protagonista ou em primeira pessoa (eu) no qual o narrador participa
principal para as mais importantes, visto que a da história e em terceira pessoa (ele) em que não
narrativa se desenvolve sobre e a partir delas mais ocorre parcitipação direta do narrador da história.
concretamente; e as secundárias, menos rele-
vantes, às vezes episódicas e acessórias. Há, NARRAÇÃO EM TERCEIRA PESSOA
também, a antagonista, que se contrapõe à
personagem principal. a) O narrador conhece tudo sobre as demais
De modo geral, a personagem central é uma personagens (sentimentos, pensamentos e
pessoa de quem o ficcionista narra as aventuras e segredos) e os fatos. Comenta, analisa e se introduz
desventuras. Porém, há romances em que animais, em tudo. Configura-se como um “deus” que possui
cidades, cortiços, guetos, famílias, grupos sociais plena consciência sobre o que se passa no universo
funcionam como personagens. Por exemplo, em ficcional. É chamado de narrador onisciente.
Vidas Secas, de Graciliano Ramos, a cachorra Exemplo:
Baleia é humanizada, ascendendo a “status” de
“A meia rua, acudiu à memória de Rubião a
personagem; em O Cortiço, de Aluísio Azevedo, o
farmácia: voltou para trás, subindo contra o vento,
próprio cortiço miserável, promíscuo e turbulento se
que lhe dava de cara, mas ao fim de vinte passos,
transforma em personagem; em Germinal, de Zola,
varreu-lhe a ideia da cabeça, adeus farmácia
as minas de carvão funcionam como personagem;
adeus, pouso!”
em As vinhas da Ira, de John Steinbeck, a
(Quincas Borba, Machado de Assis)
personagem fundamental é a legião de homens das
regiões secas e pobres do sul dos Estados Unidos b) O narrador, embora domine todos os fatos,
que emigram em busca de terra fértil e, em Capitães não invade o interior das personagens. Esta posição
da Areia, de Jorge Amado, o grupo de menores cria um efeito de objetividade maior porque o
marginais se configura como personagens do narrador prefere se manter do lado de fora das
romance. personagens, comentando-Ihes as ações e
Literatura Brasileira * 13
comportamentos visíveis em vez de entrar-Ihes na C) LINGUAGEM
mente. Evitando comentar sobre o que pensam as
personagens, estas tornam-se mais enigmáticas Pensando-se em literatura, temos neces-
para o leitor. É chamado de narrador observador. sariamente que falar sobre a linguagem porque é
Exemplo: somente por seu intermédio que o escritor pode
“O rosto de Spade estava calmo. Quando seu realizar a sua obra. O mundo ficcional é apresentado
olhar encontrou o dela, seus olhos, amarelo- ao leitor através de determinados recursos de
pardos, brilharam por um instante com malícia, e linguagem dos quais estudaremos alguns:
depois tornaram-se novamente inexpressivos. Ela a) DISCURSO DIRETO: Nesse discurso, o
saiu e quando voltou, olhou de novo para Spade narrador deixa as personagens falarem diretamente,
que não respondeu aos apelos dos olhos da introduzindo-Ihes a fala por verbos denominados
moça. Encostado no batente, olhava a rua com ar “verbo de dizer” (dizer, responder, retrucar, afirmar,
desprendido.” falar, etc.). Tudo se passa como se o leitor estivesse
(Falcão Maltês, Dashiel Hammet) ouvindo literalmente a fala das personagens. Este
recurso diferencia, com bastante nitidez, a fala do
narrador da fala das personagens. Exemplo:
NARRAÇÃO EM PRIMEIRA PESSOA “Eugênio escutava a conversa dos pais que era
entrecortada de silêncios longos, de suspiros e
a) O narrador pode ser uma personagem gemidos abafados. Houve um momento em que
secundária que participa da história, vivenciando os o pai disse:
fatos juntamente com os outros personagens, mas - Queira Deus que essa guerra não venha até cá.
não possui onisciência, ou seja, não pode penetrar - Deus sabe o que faz - retrucou a mulher.”
no pensamento do outro. Pode ser chamado de (Olhai os Lírios do Campo, Érico Veríssimo)
narrador testemunha.
O narrador de Memorial de Aires, de Machado b) DISCURSO INDIRETO: Nesse discurso, o
de Assis, por exemplo, participa da narrativa, narrador introduz a fala das personagens por meio
envolvendo-se com os fatos e personagens, sem, dos “verbos de dizer” e geralmente pela conjunção
contudo, imiscuir-se na intimidade destes. Apenas “que”. O leitor tem acesso à fala das personagens
observa de modo não parcial. por via indireta, visto que q qdau/YXHXHXHYXH[ccVZab[H]Z[VZd
d ist
14 *
fala da personagem e há subjetividade à medida que Nesse romance, o narrador-protagonista se
afloram os estados íntimos da personagem através utiliza do monólogo interior por aproximadamente
de mecanismos de linguagem tais como: inter- dez páginas que finalizam a narrativa.
jeições, exclamações, interrogações, etc. Exemplo:
• Fluxo de Consciência
“Baixou as mãos até o regaço. Ali estavam os
objetos de toalete: a escova, o pente, o pote de
“Eu estava ali deitado olhando através da vidraça as
creme de barbear, o talco, a loção - tudo limpo e
roseiras no jardim fustigadas pelo vento que zunia
meticulosamente arrumado. Nem naquela manhã
lá fora e nas venezianas do meu quarto e de
ele deixara de ir ao treino diário... Seria mesmo
repente recomeçava e as roseiras frágeis e
uma pena envolvê-lo. Mas por que envolvê-lo?
assustadas irrompiam a vidraça e eu estava ali o
Os outros então não sabiam perfeitamente que ele
tempo todo olhando estava em minha cama com
não podia ser o motivo? Mas ele próprio talvez se
minha blusa de lã as mãos enfiadas nos bolsos os
sentisse responsável e era uma verdadeira pena
braços colados no corpo as pernas juntas estava
toldar com algum remorso aquela transparência”.
de sapato mamãe não gostava que eu deitasse de
(Ciranda de Pedra, Lygia F. Telles)
sapatos deixe de preguiça menino!”
(Eu estava ali deitado, Luís Vilela)
d) MONÓLOGO INTERIOR E FLUXO DE CONSCIÊNCIA:
O monólogo interior como forma de apresentação
O conto acima citado é inteiramente escrito a
dos pensamentos íntimos da personagem é um
partir do uso do fluxo de consciência.
recurso linguístico bastante antigo, remontando às
epopeias greco-Iatinas. Já o fluxo de consciência é
e) MODO DRAMÁTICO: Nesse tipo de discurso
uma variante moderna do monólogo interior. Neste,
ocorre quase a eliminação da figura do narrador,
a pontuação e a sequência lógica das ideias são
aparentando-se a uma cena teatral em que
preservadas e naquela, ocorre uma linguagem
predomina o discurso direto entre as personagens.
desarticulada, presentificando o desenrolar caótico
Dalton Trevisan, escritor paranaense, utiliza-se
e ininterrupto do pensamento. Nessas duas
largamente desse recurso. Exemplo:
modalidades de citação do discurso da personagem,
o leitor tem acesso direto ao interior, à psique da
“- Monstro. Igual ao pai. Coragem de me bater.
personagem que, por intermédio da linguagem,
- Por que provocou?
opera uma autoanálise, visando ao auto-
- Motivo tão fútil.
conhecimento ou esclarecimento dos fatos. Portanto,
Nenhum motivo é fútil. Todo grande crime é por
com relação ao aspecto gramatical, ambos
motivo fútil.”
formalizam-se como discurso direto. Exemplo:
(A Trombeta do Anjo Vingador, Dalton Trevisan)
• Monólogo Interior
f) NARRAÇÃO: O texto narrativo relata as
“Se algum desses papéis tivesse caído na estrada?
mudanças progressivas de estado (físicas,
Perdido, trinta anos de cadeia, a imundície, o
ideológicas, afetivas) que vão ocorrendo com as
trabalho dos encarcerados: fabricação de pentes,
personagens no decorrer da ação. A visão de mundo
esteiras, objetos miúdos de tartaruga. Faria um livro
do autor é veiculada por meio das ações que são
na prisão. Amarelo, papudo faria um livro, que seria
atribuídas às personagens. Na narração, há relação
traduzido e circularia em muitos países. Escrevê-
de anterioridade e posterioridade entre os
lo-ia a lápis, em papel de embrulho, nas margens
enunciados porque estes devem ser dispostos de
de jornais velhos. O carcereiro me pediria umas
maneira a presentificar para o leitor a sequência
explicações. Eu responderia: - Isto é assim e
lógica dos fatos que ocorreram com as personagens.
assado. Teria consideração, deixar-me-iam escre-
Exemplo:
ver o livro. Dormiria na rede e viveria afastado dos
outros presos. A garganta doía-me, os beiços “A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de
colavam-me”. peixe, com uma das mãos espalmada no chão e
(Angústia, Graciliano Ramos) com a outra segurando a faca de cozinha, olhou
Literatura Brasileira * 15
aterrada para eles, sem pestanejar. “Estou mesmo a crer que o domingo foi o
Os policiais, vendo que ela não se despachava, primeiro dia da eternidade e que a primeira
desembainharam os sabres. Bertoleza então, coisa a ser gerada foi o amor, o amor é
erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou atração e harmonia - e, sem atração e
de um salto e antes que alguém conseguisse harmonia, o cosmos jamais poderia manter-se
alcançá-Ia. Já de um golpe certeiro e fundo rasgava em seu perpétuo equilíbrio através dos
o ventre de um lado a lado”. tempos que nunca se esgotassem e dos
(O Cortiço, Aluísio Azevedo) imensos espaços que nunca têm limite”.
Nesse fragmento, notamos que o texto relata Sintetizando os três últimos recursos literário-
as mudanças de estado da personagem (vida-morte) linguísticos, podemos dizer que a dissertação
e há relação de anterioridade e posterioridade entre trabalha com conceitos, organizando-se a partir de
os episódios relatados (personagem despreo- raciocínios; a narração se formaliza mediante
cupada, trabalhando - chegada dos policiais para ordenação das ações e transformações de estados
prendê-Ia, suicídio como libertação). das personagens e a descrição se realiza a partir da
concatenação de imagens.
Observar, na oportunidade das leituras de
g) DESCRIÇÃO: No texto descritivo, todos os obras ficcionais, que os vários expedientes
enunciados relatam ocorrências simultâneas e, por linguísticos arrolados, apesar de distintos uns dos
isso, não existe um enunciado que possa ser outros, andam juntos para atender às necessidades
considerado cronologicamente anterior ou posterior da expressão.
ao outro. O autor, pelos aspectos que seleciona e
pelos adjetivos escolhidos, vai construindo uma
visão negativa ou positiva daquilo que descreve. D) O TEMPO NA FICÇÃO
Pelo caráter estático da descrição em que se
enfocam detalhes e características de personagens, O TEMPO NA ESCRITURA E O TEMPO NA
coisas e cenários podemos compará-Ia a uma NARRATIVA
fotografia. Exemplo:
“Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio O tempo da escritura se refere a quando o
rosto era mediano, nem bonito, nem feio. Era o narrador escreve sobre a história e o tempo da
que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia narrativa a quando os fatos narrados ocorreram.
mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; Pode haver tanto distância quanto aproximação
pode ser até que não soubesse amar”. entre essas duas modalidades temporais. Há ruptura
(Missa do Galo, Machado de Assis) entre os tempos quando, por exemplo, um narrador
contemporâneo conta uma lenda ocorrida há mais
Notamos que nesse fragmento, diferente- de mil anos. Os tempos podem se aproximar se o
mente da narração, não ocorre o relato de mudanças narrador escreve à noite sobre o que se passou
de estados acontecidos com a personagem e os durante o dia. A distância pode se reduzir a zero se
enunciados descritivos podem ser alterados em sua o relato é um monólogo “estenografado” do herói e
sequência no parágrafo, sem prejuízo em relação à se este morre, a narrativa é interrompida. Este último
plasmação do retrato. procedimento cria uma ilusão de presente para o
leitor à medida que este tem a sensação de estar
h) DISSERTAÇÃO: No texto dissertativo, ocorre a vendo os acontecimentos que envolvem persona-
interpretação e análise dos fatos, acontecimentos e gens no seu suceder imediato.
ações das personagens. O autor pode interromper a O envolvimento e a identificação do leitor com
ação e expor suas ideias a respeito de determinados os fatos narrados se intensificam, visto que o relato
temas (o amor, o ódio, a educação, a arte, etc.). aparenta-se a uma cena teatral em desenvolvimento.
Exemplo: Exemplos:
16 * Literatura Brasileira
a) TEMPO DA ESCRITURA DIFERENTE DO ditas intimistas, em que se reduz a importância do
TEMPO DA NARRATIVA enredo e há pouca ação, o tempo se torna complexo
e psicológico. Nestas, dá-se mais importância àquilo
“Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou que pensam as personagens e a como pensam e
por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me cada vez menos àquilo que fazem. O tempo
escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política psicológico pode acelerar ou retardar a ação
acudiram-me, mas não me acudiram as forças dependendo de como ele é sentido: o tempo
necessárias (...) Foi então que os bustos pintados decorrido numa situação positiva (festa, viagem,
nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, passeio) dá a sensação de passar mais rápido do
uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me que o decorrido numa situação negativa (velório,
os tempos idos, pegasse da pena e contasse espera em filas). Exemplos:
alguns. Desse modo, viverei o que vivi e assentarei
a mão para alguma obra de maior tomo”.
(D. Casmurro, Machado de Assis) a) TEMPO PSICOLÓGICO
b) TEMPO DE NARRAÇÃO COINCIDINDO “Silêncio. Por que será que esta gente não fala e o
COM O TEMPO DA ESCRITURA relógio se aquietou? Uma ideia acabrunha-me. Se
o relógio parou, com certeza o homem dos
“O aviso não me interessa mais. Tenho que esparadrapos morreu. Isto é insuportável. Por que
transformar de novo o resto não me interessa mais. fui abrir os olhos diante da amaldiçoada porta? (...)
Se essa é a minha paix... * Dois passos aquém, dois passos além - e eu estaria
*Nota de Lygia Bojunga Nunes: livre da obsessão.
“A escritora morreu sem acabar a frase. Deram O relógio bate de novo. Tento contar as horas, mas
com ela debruçada na mesa, a ponta do lápis isto é impossível. Parece que ele tenciona encher
fincada na paixão”. a noite com sua gemedeira irritante.
(Tchau, Lygia Bojunga Nunes) Procuro dormir, esquecer tudo, mas o relógio
continua a martelar-me a cabeça dolorida. Espero
em vão o fonfonar de um automóvel, a cantiga de
Aqui notamos uma aproximação total entre o um bêbado, as vozes de comando, o rumor dos
tempo da escritura e tempo da narração. A ferros no autoclave. Tenho a impressão de que o
narradora-protagonista escreve sobre o que vive no pêndulo caduco oscila dentro de mim, ronceiro e
momento da escrita e, morrendo, a escritura é desaprumado”.
interrompida. A verdadeira autora, Lygia B. Nunes, (Angústia, Graciliano Ramos)
Literatura Brasileira * 17
De acordo com o assunto básico (o núcleo
temático, em torno do qual se movem as
personagens em diferentes situações) pode-se dizer
que o enredo de qualquer narrativa ficcional
constitui-se a partir de variados temas: o amor,
viagens, aventuras, ficção científica, angústias
existenciais, entre outros.
Conforme ainda a ordenação dos fatos e
situações narradas, o enredo pode apresentar uma
organização linear, mais próxima da ordem da
narrativa oral, da narrativa tradicional (mitos, lendas,
casos, contos populares) em que se respeita a
cronologia, obedece-se à ordem (começo, meio,
fim), ao princípio da causalidade, isto é, os fatos são
ligados pela relação de causa e efeito e respeita-se
a logicidade dos fatos.
Embora tal modelo tradicional (característico
do século XIX) persista, já é possível perceber,
paralelamente, um outro modelo em que tais
aspectos podem sofrer alterações mais ou menos
profundas, o que caracteriza a narrativa contemporâ-
nea moderna, que subverte a forma de narrar
tradicional, podendo levar até mesmo à pulverização
dos elementos da narrativa. Conforme diz o escritor
francês Jean Ricardou: “O romance tradicional é a
escritura de uma aventura; o romance moderno é a
aventura de uma escritura”.
A narrativa linear apresenta um ritmo mais
rápido porque a cronologia é respeitada. Ao
contrário, nas narrativas não-lineares em que há idas
e vindas no tempo/espaço, retrospectivas,
antecipações, mistura de planos temporais, o ritmo
se retarda. Em função da narrativa se voltar mais
para os acontecimentos exteriores, privilegiando o
tempo cronológico, ou para os estados interiores das
personagens ou do narrador, com o predomínio do
tempo psicológico, o ritmo será afetado, ou seja,
nesta será arrastado, lento e subjetivo e naquela,
agilizado, objetivo, acompanhando o circunsn
percebe a ausência de personagens; a linguagem é maneira como se daria na vida real, segundo a
o grande tema e a grande personagem. Oswald de coerência que preside a vida real. Portanto,
Andrade, em Serafim Ponte Grande, expulsa um verossimilhança interna à própria obra, não
personagem do livro por achá-Io inconveniente. enquanto relação com o mundo real.
Nas narrativas psicológicas, os fatos nem Se, na narrativa, aparece a figura de um
sempre são evidentes porque não equivalem a animal que “fala” ou “pensa” (como em Quincas
ações concretas das personagens, mas a Borba) será verossímil que ele proceda dessa forma
movimentos interiores, fatos emocionais. até o fim da narrativa.
Duas questões são fundamentais a serem “Machucado, separado do amigo, Quincas Borba
observadas na ação: vai então deitar-se a um canto, e fica ali muito
a) sua natureza ficcional - verossimilhança; tempo, calado; agita-se um pouco até que acha
b) sua estrutura - partes que a compõem. posição definitiva, e cerra os olhos. Não dorme,
recolhe as ideias, combina, relembra; a figura vaga
do finado amigo passa-lhe acaso ao longo, muito
ao longe, aos pedaços, depois mistura-se à do
Interna amigo atual, e parecem ambas uma só pessoa;
Verossimilhança depois outras ideias”.
Externa (Quincas Borba, M. de Assis)
Literatura Brasileira * 19
interação, influenciando suas atitudes, pensamentos que ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o
ou emoções ou se modificando, segundo cadáver nos meus braços para fora do caixão.
determinam os personagens. Pesava como chumbo (...)”
Pode ser caracterizado mais detalhadamente
em trechos descritivos, ou ter as referências diluídas
na narração. A frequência e a intensidade com que o 3. Estar em conflito com os personagens, em
lugar geográfico se impõe no conjunto de uma obra narrativas em que se opõe aos perso-
ficcional está em função de suas outras nagens, como em Capitães da Areia, de
características. Se se trata de uma história urbana, o Jorge Amado, no qual o ambiente burguês
cenário será predominantemente o construído pelo e preconceituoso se choca com os heróis
homem: o interior de uma casa, ou as ruas; se da história.
regional ou sertaneja, o cenário será a própria
natureza. A relevância do lugar, na ficção citadina, “Os guardas vêm em seus calcanhares. Sem-Pernas
variará de acordo com a espécie literária (conto, sabe que eles gostarão de o pegar, que a captura
novela, romance) e a tendência estética ou ficcional de um dos Capitães da Areia é uma bela façanha
(a ficção romântica, realista, o romance introspectivo para um guarda. Essa será a sua vingança. Não
ou existencialista, etc.). deixará que o peguem, não tocarão a mão em seu
O termo espaço só se refere ao lugar físico corpo. Sem-Pernas os odeia como odeia a todo
onde ocorrem os fatos da história. O espaço mundo, porque nunca pode ter um carinho. E no
carregado de características socioeconômicas, dia que o teve foi obrigado a abandoná-lo porque
morais, psicológicas, em que vivem os personagens a vida já o tinha marcado demais. Nunca tivera uma
é denominado de ambiente. Neste sentido, ambiente alegria de criança. Se fizera homem antes dos dez
é um conceito que aproxima tempo e espaço, pois é anos para lutar pela mais miserável das vidas: a vida
a confluência destes dois referenciais, acrescido de de criança abandonada. Nunca conseguira amar a
um clima (conjunto de determinantes sociais, ninguém, a não ser a esse cachorro que o segue.
econômicos, morais, religiosos, etc. que cercam os Quando os corações das demais crianças ainda
personagens). estão puros de sentimentos, o de Sem-Pernas já
estava cheio de ódio (...) Apanhara na polícia, um
FUNÇÕES DO AMBIENTE homem ria quando o surravam. Para ele é esse
homem que corre em sua perseguição na figura
1. Situar os personagens no tempo, no dos guardas. Se o levarem, o homem rirá de novo
espaço, no grupo social, enfim, nas (...) Sobe para o pequeno muro, volve o rosto
condições em que vivem. para os guardas que ainda correm, ri com toda
2. Ser a projeção dos conflitos vividos pelas força do seu ódio, cospe na cara de um que se
personagens. Por exemplo, nas narrativas aproxima estendendo os braços, se atira de costas
de Noite na Taverna (Álvares de Azevedo), no espaço, como se fosse um trapezista de circo”.
o ambiente macabro reflete a mente
mórbida e alucinada dos personagens. 4. Fornecer índices para o andamento do
enredo. É muito comum, nos romances
“(...) Quando dei acordo de mim estava num lugar policiais ou nas narrativas de suspense ou
escuro: as estrelas passavam pelos raios brancos terror, certos aspectos do ambiente
entre as vidraças de um templo. As luzes de constituírem pistas para o desfecho que o
quatro círios batiam num caixão entreaberto. leitor pode identificar numa leitura mais
Abri-o: era de uma moça. Aquele branco da atenta. No conto “Venha ver o pôr do sol”,
mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, de Lygia F. Telles, nas descrições do
naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos ambiente percebemos índices de um
olhos mal apertados... Era uma defunta!... e aqueles desfecho macabro, por exemplo, no trecho
traços todos me lembravam uma ideia perdida... em que se insinua um jogo entre a vida e a
Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, morte, que é o que de fato ocorre com os
20 * Literatura Brasileira
personagens Raquel e Ricardo. vez que após o Renascimento não mais apareceram
epopeias.
“O mato rasteiro dominava tudo. E não satisfeito
de ter-se alastrado furioso pelos canteiros, subira Poema Narrativo:
pelas sepulturas, infiltrara-se ávido pelos rachões Caso complexo é o do poema narrativo.
dos mármores, invadira as alamedas de Embora tenha traços semelhantes à epopeia, dela
pedregulhos enegrecidos, como se quisesse com distancia-se em função da maior liberdade de forma
sua violenta força de vida cobrir para sempre os e/ou do tema. Diante disso, aproxima-se do gênero
últimos vestígios da morte”. lírico, tornando difícil sua classificação e con-
ceituação. Alguns exemplos de poema narrativo,
dados pelos teóricos, são: O Uraguai, de Basílio da
CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE Gama; Caramuru, de Santa Rita Durão; I Juca
Pirama, de Gonçalves Dias; O Caçador de
Para se caracterizar o ambiente, levam-se em Esmeraldas, de Olavo Bilac; O Romanceiro da
consideração os seguintes aspectos: Inconfidência, de Cecília Meireles; Juca Mulato, de
• época em que se passa a história; Menotti del Picchia.
• características físicas (do espaço); Abordando espécies do gênero narrativo em
• aspectos socioeconômicos; prosa, temos:
• aspectos psicológicos, morais, religiosos.
Novela:
Das espécies mais usuais do gênero
4.1.2 ESPÉCIES DO GÊNERO NARRATIVO narrativo- romance, conto e novela -, esta última é a
que menos tem representatividade no contexto da
Em literatura, ficção é um tipo de Gênero Literatura Brasileira. Estabelecendo uma tradição de
Narrativo e é um termo empregado para designar o conto e romance, tanto a crítica como o escritor
romance, a novela, o conto, embora outras formas deixaram a novela de lado. E esclarecemos, desde
possuam qualidades de ficção: fábula, lenda e até logo, que a novela de que estamos tratando não é a
mesmo o drama. Porém, inicialmente cabe retomar telenovela.
as origens do gênero, isto é, o épico, fazendo-se Embora haja controvérsias quanto à con-
referência à epopeia ou poema épico. ceituação, a teoria literária caracteriza a novela como
uma narrativa em que há sucessividade de conflitos,
Epopeia ou poema épico: isto é, cada episódio praticamente se constitui numa
A epopeia é uma longa narrativa de caráter narrativa autônoma em relação aos que lhe seguem.
heroico, grandioso e de interesse nacional e social. É o caso, por exemplo, de O Grande Mentecapto, de
Ela apresenta uma atmosfera maravilhosa que, em Fernando Sabino, em que cada uma das aventuras
torno de acontecimentos históricos passados, reúne de Geraldo Viramundo é um episódio que poderia
mitos, heróis e deuses. É escrita em versos. A ser destacado do livro, sem prejuízo para o
estrutura clássica da epopeia é a seguinte: entendimento da narrativa.
1. proposição;
2. invocação; Conto:
3. dedicatória; A primeira lembrança que nos vem à memória
4. narração; quando falamos em conto é o contar histórias. Os
5. epílogo. contos dos mágicos (ou contos egípcios) são os
As epopeias mais conhecidas são: llíada e mais antigos e devem ter aparecido por volta de
Odisséia, ambas de autoria do grego Homero; 4.OOO a.C. e passam por toda a história, até porque
Eneida, do romano Virgílio. Em língua portuguesa, detectam os momentos da escrita que representam
há Os Lusíadas, de Camões. a nossa cultura. A mais clara definição de
Na Literatura Brasileira, não existe uma envolvimento, entretenimento, se poderia exem-
epopeia nos moldes rigorosamente clássicos, uma plificar com os contos das Mil e Uma Noites que
Literatura Brasileira * 21
circulam da Pérsia (séc. XI) para o Egito (séc. XII) e
para toda a Europa (séc. XVIII). Durante a Alta Idade
Média (séc. XII a XIV), o conto conhece uma época
áurea, graças à prosificação dos gestos
cavalheirescos e, no final dessa quadra histórica, ao
aparecimento de alguns contistas, como Bocaccio
(Il Decamerone) e Chaucer (Canterbury Tales).
Quando Bocaccio publicou seus contos
eróticos (Il Decamerone), ao conto acrescentou-se
um novo prisma, além do didático, porque o contador
procura a elaboração artística sem perder, contudo,
o tom da narrativa oral, pois não perde o recurso das
estórias de moldura (aquelas que são criadas para
serem contadas por alguém a alguém).
Na Espanha, graças a Cervantes (Novelas
Ejemplares) e Quevedo (La Hora de Todos), o conto
alcança a preferência dos autores e dos leitores. Na
França, também surgem muitos contistas, como La
Fontaine (Contes). Porém, também nesse período,
a poesia e a prosa doutrinária (reflexo do ambiente
revolucionador e reformador) receberam grande
aplauso e culto, por isso, a ficção em prosa manteve-
se arredia. Todavia, na França, Voltaire faz escola
com algumas de suas narrativas de cunho filosófico
e satírico.
O primeiro contista em Língua Portuguesa é
Gonçalo Fernandes Trancoso, autor de Contos e
Histórias de Proveito e Exemplo, publicados em
1575.
É no século XIX que o conto conhece sua
época de maior esplendor porque, além de se tornar
forma “nobre”, passa a ser larga e seriamente
cultivado. É aí que abandona seu estágio empírico,
indeciso, para ingressar numa fase em que se torna
produto tipicamente literário e ganha estrutura e
andamento característicos.
O conto se desenvolve estimulado pelo apego
à cultura medieval, pela pesquisa do popular e do
folclórico, pela acentuada expansão da imprensa
(que permite a publicação dos contos nas inúmeras
revistas e jornais). Esse é o momento da criação do
conto moderno, quando, ao lado de um Grimm, que
registra contos e inicia o estudo comparativo deles,
um Edgar Allan Poe se afirma enquanto contista e
teórico do as
22 *
romance-folhetim) caracteriza-se pelo anseio de intuito de defender ideias e expressar
deleitar o público, ávido por ver suas ambições e (demoradamente) determinada visão de
desejos transformados em literatura. São autores do mundo.
período: Samuel Richardson, Henry Fielding, Victor Os teóricos atribuíram nomes a determi-
Hugo, José de Alencar. nadas espécies de romances. Alguns desses nomes
Ainda no século XIX, o romance torna-se mais devem ser conhecidos.
complexo, a partir das obras de autores que, embora No início da produção de romances, o escritor
influenciados em algum grau pela estética romântica, estava voltado a retratar particularmente a burguesia
encaminharam seus romances para um intuito que urbana e seus costumes, dando origem ao chamado
sempre fora característico do romance: recriar o romance urbano ou romance de costumes. Ex.: em
mundo de modo crítico criando personagens A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, são
próximas o mais possível das pessoas. A estética mostrados os hábitos e comportamentos da
realista, o aprofundamento psicológico e o domínio burguesia fluminense do século XIX. Os escritores
de elaboradas técnicas narrativas (sobretudo no românticos buscavam em épocas passadas fontes
tocante ao tempo) colaboraram para tornar o de inspiração para seus enredos. Isso originou o
romance a mais complexa forma narrativa, que romance histórico. Ex.: Walter Scott, em Ivanhoé,
tende a absorver quase todos os outros gêneros e retrata a época medieval. A preocupação cientificista
formas literárias. São autores do período: Balzac, do Realismo deu ensejo ao surgimento do romance
Stendhal, Flaubert, Zola, Charles Dickens, de tese, utilizado pelo escritor para defender um
Dostoievski, Machado de Assis. Os autores no início ponto de vista sobre determinado assunto. Ex.: Eça
do século XX, tais como Proust, Kafka e James de Queiroz tem a opinião de que, reunidas certas
Joyce intensificaram o experimentalismo no manejo condições, a prática do adultério feminino é
das técnicas narrativas, confirmando a prevalência inevitável. No romance O Primo Basílio, por meio do
do romance sobre as demais formas literárias. enredo, ele demonstra esse ponto de vista. A partir
Romance é a narrativa que pretende dar uma do século XIX, os escritores passaram a se debruçar
visão de mundo mediante o conflito de personagens. mais intensamente na caracterização do interior das
O conflito, comumente, é tomado no ponto mais personagens, expondo densas reflexões, visando a
distante (diferentemente do conto). O romance exige uma análise dos aspectos psicológicos do ser
um enredo complexo, um tratamento cuidadoso do humano. Surgiu, então, o romance psicológico. Ex.:
tempo e uma elaborada construção das Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de
personagens. Assis, e A Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres,
São características do romance: de Clarice Lispector.
• pluralidade de núcleos de ação: várias Mais especificamente no Brasil, desde o
situações importantes se desenrolam, Romantismo, existe um tipo de romance bastante
estando elas unidas por algum núcleo de sintonizado com uma característica peculiar do
ação central, que envolve os protagonistas. nosso país: a diversidade regional. Ao romance que
• pluralidade de tempo: a história se passa em retrata as paisagens e costumes de alguma das
um largo período temporal. regiões brasileiras, deu-se o nome de romance
• pluralidade de espaço: não há limites para a regionalista. Ex.: José Lins do Rego, em quase todos
movimentação das personagens. Cada os romances (Menino de Engenho, por exemplo),
núcleo de ação pode se desenvolver em trata da região Nordeste; Jorge Amado se fixa
diferentes lugares. particularmente no retrato da Bahia (Ex.: Gabriela,
• presença de algumas personagens, sendo Cravo e Canela).
algumas delas caracterizadas deta- Há tipos de romances cuja origem não está
lhadamente. propriamente ligada a um estilo de época ou a uma
• quanto à linguagem, há o predomínio da peculiaridade de determinado país. Trata-se do
narração, mas todas as formas de discurso romance de aventuras, que narra fatos extraor-
podem ocorrer. A descrição tem muita dinários, peripécias e façanhas num cenário fabuloso
importância. A dissertação é utilizada com o (Ex.: os chamados “romances de capa e espada”,
24 * Literatura Brasileira
dos quais se destaca Os Três Mosqueteiros, de ser lida. Houve momentos estéticos - tais como o
Alexandre Dumas), e do romance policial, cujo Trovadorismo, na Idade Média, e o Simbolismo, no
enredo apresenta um crime ou um caso intricado e século XIX - em que a poesia voltou a se aproximar
sua respectiva elucidação (Ex.: os romances de bastante da música. Mesmo quando essa
Agatha Christie). aproximação não é tão evidente, a poesia lírica
costuma guardar relações com essa outra arte, pois
Crônica: privilegia a sonoridade e o ritmo.
As características peculiares da crônica O poeta lírico se ocupa do próprio “eu”.
derivam do fato de que é escrita para ser publicada Interessa-lhe a expressão de sua subjetividade, do
em jornais e revistas. Nesse contexto, diz Jorge de que lhe vai no íntimo: sentimentos, força interior,
Sá, a crônica também assume essa transitoriedade, angústias, paixões, reflexões. O lirismo é,
dirigindo-se inicialmente a leitores apressados. Sua essencialmente, a expressão de vivências intensas
colaboração também se prende a essa urgência, de um Eu no encontro com o mundo, não incluindo
pois o cronista também dispõe de pouco tempo para o desenvolvimento de ações no tempo. Por isso, o
escrever o seu texto. texto é subjetivo.
Consequentemente, do ponto de vista formal, Mesmo a poesia moderna, que reflete a
a sintaxe da crônica é mais solta, havendo, inclusive, ausência de crença na possibilidade de uma relação
certa moralidade, sem, contudo, perder a elaboração plena de sentido entre o eu do poeta e a realidade,
necessária a um texto literário. Em outras palavras, mantém a essência do lirismo, pois nela prevalece
a linguagem da crônica é dinâmica, em tom de um questionamento do sujeito sobre os modos
reportagem. possíveis de se relacionar com o mundo.
Ainda quanto à forma, as características da A poesia lírica se caracteriza pela
crônica são semelhantes às do conto, com a manifestação imediata de uma emoção, de um
diferença de que o contista desenvolve a construção sentimento ou de uma reflexão. Disso decorre a
da personagem, do tempo e do espaço com maior brevidade do poema lírico. Sendo expressão de um
preocupação formal. Outra distinção importante estado de espírito e não a narração de um
entre a crônica e o conto diz respeito ao narrador. O acontecimento, o poema lírico não apresenta
narrador-repórter se identifica mais com o próprio personagens e enredo, pois, para caracterizar uma
autor que, via de regra, emite comentários pessoais personagem e identificar suas ações, é necessário
sobre o assunto tratado. Portanto, há, na crônica, a recorrer à descrição e à narração, que não
presença da dissertação. correspondem à essência do lirismo.
Quanto ao conteúdo, a crônica se distingue do O poema lírico não admite narrador, pois o
conto porque, em geral, o cronista extrai do cotidiano sujeito lírico pretende, antes de tudo, expressar a si
a matéria para seus textos, em função do caráter mesmo. Todavia, do mesmo modo que o narrador
circunstancial da crônica. Entretanto, o cronista não deve ser confundido com a pessoa concreta do
transforma o pequeno acontecimento do dia a dia em ficcionista, a voz que fala no poema lírico não deve
motivo de reflexão. ser confundida com a pessoa física do poeta
Tais elementos dão alto poder de comu- (embora se reconheça que, dado o caráter subjetivo
nicação à crônica, dotando-lhe de grande capaci- da poesia lírica, essa proximidade se faça sentir).
dade de adaptação ao ritmo da vida contemporânea. Para operar essa distinção, os teóricos criaram o
Alguns cronistas brasileiros: Rubem Braga, termo eu lírico que se refere ao sujeito que fala no
Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes poema.
Campos e Fernando Sabino. Outra distinção terminológica importante é a
4.2 GÊNERO LÍRICO que define poesia e poema. Poema é o conjunto de
versos dispostos no papel, isto é, o aspecto concreto
A palavra lírica deriva de lira, instrumento do texto. Poesia é o “efeito” resultante da utilização
musical com o qual os poetas gregos de recursos que conferem ao texto determinado teor
acompanhavam seus poemas, ao recitá-Ios ou estilístico. Por isso, muitos poemas podem não
cantá-Ios. Posteriormente, a poesia lírica passou a conter poesia enquanto textos narrativos podem ser
Literatura Brasileira * 25
altamente poéticos. final de versos diferentes, no interior do mesmo
Embora os textos narrativos possam ter verso ou em qualquer outra posição.
poesia, o gênero lírico toma, na maioria das vezes, Denominam-se versos brancos aqueles que
como forma o verso. Cabe apresentar, então, os obedecem às regras da métrica, mas não apresen-
elementos do poema. tam rimas.
Conhecidos os elementos básicos do poema,
cabe verificar os estratos nele contidos. Essa divisão
4.2.1. ELEMENTOS DO POEMA é de caráter didático e visa a fornecer dados para
análise e interpretação do poema.
• Verso: cada uma das linhas do poema. • ESTRATO VISUAL: corresponde ao modo como
• Estrofe: cada um dos conjuntos de versos o poema é apresentado na folha de papel. Em outras
em que se divide o poema. É precedida e palavras, é a “mancha” que o poema ocupa no
seguida por linhas em branco. Alguns tipos espaço em branco. De alcance restrito nos poemas
de estrofe cuja denominação interessa tradicionais, o estrato visual é fundamental para a
conhecer: de três versos (terceto), de quatro análise dos poemas concretos.
versos (quarteto ou quadra) e de oito versos • ESTRATO FôNICO: corresponde aos recursos
(oitava). de ordem sonora utilizados no poema. Trata-se de
• Ritmo: sucessão alternada de sons tônicos estrato importante, pois uma das características
e átonos; distribuição dos acentos (sílabas básicas do poema é a sonoridade, a musicalidade,
fortes e fracas) nos versos. obtidas por meio do ritmo e das repetições dos sons.
• Metro: o metro de um verso é definido pelo Assim, deve se investigar se há um ritmo cadenciado
número de sílabas poéticas que o compõe. ou irregular e qual a distribuição das rimas (quando
A métrica, ao contrário do ritmo, é exterior existirem). Também deve ser feito um levantamento
ao poema. O poeta opta por obedecer ou das aliterações (repetições de consoantes),
não às leis métricas. Seguindo as leis, assonâncias (repetições de vogais), repetições de
escreverá versos regulares; não as palavras e presença de onomatopeias (figura em
seguindo, comporá versos livres. Para saber que os sons lembram o som do objeto nomeado).
se os versos são regulares ou livres, é • ESTRATO MORFOLEXICAL: antes de se verificar
necessário fazer a escansão de cada verso, o sentido específico das palavras no poema, é
ou seja, dividi-Io em sílabas métricas e preciso observar as palavras em si, unidades
contá-Ias. Ao se escandir um verso, deve- mínimas de sentido do poema. O vocabulário do
se parar a contagem na última sílaba tônica. texto revela se o poeta emprega linguagem culta ou
coloquial. Em seguida, devem ser verificadas as
Ex.: Bri/lha a/lu/a/no/céu,/bri/lham/es/tre/las categorias gramaticais. A preferência do poeta pela
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
adjetivação, por exemplo, pode indicar um estilo
grandiloquente. O tempo verbal pode apontar
As sílabas em negrito são as sílabas fortes ou proximidade (presente) ou distanciamento (pas-
acentuadas. sado). O mesmo procedimento se aplica às outras
Observe que, na segunda sílaba, ocorreu a classes gramaticais.
elisão de um som. Nem sempre as sílabas poéticas • ESTRATO SINTÁTICO: embora não esteja restrito
correspondem às sílabas gramaticais. Isso ocorre às regras gramaticais, o poema pode conservar,
porque a escansão obedece à melodia do verso, aproximadamente, a estrutura sintática usada em
sendo necessário juntar ou separar sílabas quando prosa. Em primeiro lugar, pois, cabe verificar a maior
houver encontro de vogais. ou menor ruptura do poema com a sintaxe
Alguns tipos de versos possuem denominação tradicional. Também cabe levantar a existência, ou
especial: redondilha menor (verso de cinco sílabas), não, de inversões sintáticas. A pontuação também
redondilha maior (de sete sílabas) e alexandrino (de carrega significados, assim como a presença de
doze sílabas). períodos mais curtos ou mais extensos. Quando
• Rima: repetição de sons semelhantes no ocorrer o paralelismo (constru-ções sintáticas
26 * Literatura Brasileira
semelhantes, em mais de um verso), deve-se podem adquirir conotações bem diferentes conforme
verificar quais as palavras repetidas e quais palavras o tom empregado pelo poeta. Exemplos de tom:
foram substituídas. irônico, trágico, triste, alegre, humorístico, sarcástico,
• ESTRATO SEMâNTICO: nesse passo, o sublime.
intérprete deve verificar em que sentido as palavras Metalinguagem: o poeta reflete sobre o
foram empregadas, compreendendo as metáforas e próprio poema, sobre o fazer poético ou sobre a
demais figuras de sentido, no contexto do poema. A poesia em geral. Trata-se de tendência bastante
linguagem conotativa, característica da ficção e da acentuada na lírica contemporânea.
poesia, aparece mais intensamente nesta última. Examinados os aspectos de conteúdo e de
A palavra, em poesia, assume uma impor- forma acima relacionados, resta ainda efetuar a
tância suprema. Se já na prosa o artista manipula a contextualização do poema no momento histórico
palavra com intuito estético, na poesia, em que o em que foi escrito e, principalmente, no estilo de
texto não é construído de forma tão objetiva, a época de que mais se aproxima (Classicismo,
palavra é, praticamente, o único instrumento de que Romantismo, Modernismo, etc.).
o artista dispõe para expressar sua arte. Por isso,
Finalmente, o poema deve ser contextua-
além da importância sonora da palavra (estrato
lizado também na obra global do poeta.
fônico) - que norteia as escolhas do poeta - o
aspecto semântico é relevante, porque o poeta
procurará obter a maior plenitude de significado
possível de cada palavra. Para Ezra Pound,
4.2.2 ESPÉCIES E FORMAS DO
“literatura é linguagem carregada de significado” e “a
GÊNERO LÍRICO
poesia é a mais condensada forma de expressão
verbal”.
Há uma série de denominações atribuídas a
Efetuado o levantamento dos dados, parte-se
composições líricas em função do conteúdo que
para a conjugação desses elementos, a fim de se
apresentam. Atualmente, quase não se fazem essas
promover uma interpretação homogênea; afinal, os
composições, pois a poesia, desde o Modernismo, é
estratos não existem isoladamente.
extremamente variada, tendo caído em
Há outros conceitos importantes para a
compreensão de poemas: assunto, tema, motivo,
tom e metalinguagem.
Para se saber qual o assunto de determinado
poema, responde-se à pergunta: “de que fala o
poema?”. Para se identificar o tema, responde-se à
pergunta: “o poema trata de um assunto para refletir
acerca de quê?”. O assunto é mais objetivo,
enquanto o tema tende a maior grau de abstração e
generalidade. Exemplos de assunto: a partida da
mulher amada, a saudade da infância na fazenda.
Exemplos de tema: o amor, a solidão.
Motivo: a frequência de um determinado
vocábulo ou grupo de vocábulos, quando adquire
especial relevância para o significado geral do
poema ou da obra de um autor, merece estudo
detalhado. Por exemplo, a morte tem presença fre-
quente na obra de João Cabral de Melo Neto e, além
disso, é apresentada sob enfoques diferentes, de
poema para poema e de livro para livro. Assim, a
morte é um motivo na obra poética de João Cabral.
Tom: um mesmo assunto e um mesmo tema
De repente da calma fez-se o vento Assim, cabe definir esses dois momentos. Ao
Que dos olhos desfez a última chama âmbito da literatura, que estuda textos elaborados
E da paixão fez-se pressentimento com preocupação estética, pertence, obviamente, o
E do momento imóvel fez-se o drama. texto em si, independente da representação. Um
texto dramático pode nunca vir a ser encenado e isso
De repente, não mais que de repente não lhe retira a qualidade de dramático, pois foi
Fez-se de triste o que se fez amante concebido visando à representação. A área da
E de sozinho o que se fez contente literatura que estuda o texto dramático é chamada
dramaturgia.
Fez-se do amigo próximo o distante A representação ou espetáculo, além do texto,
Fez-se da vida uma aventura errante possui outros elementos, como a atuação (trabalho
De repente, não mais que de repente.” dos atores), a coreografia, o cenário, a sonoplastia,
(Vinícius de Moraes) a iluminação, o figurino, etc. A esse conjunto dá-se
o nome de teatro, denominação idêntica ao local (ex:
Trova: Composição de uma única estrofe de Teatro Guaíra) onde ocorre a representação.
quatro versos (quadra). Forma muito popular, pode Essa transposição do texto dramático para o
ser escrita em versos de qualquer número de teatro, muitas vezes, não é feita pelo próprio autor
sílabas. A redondilha, sobretudo a redondilha maior, do texto (o dramaturgo), mas pelo diretor da peça
é o verso mais frequente. Exemplo: (hoje denominado encenador). Esse encenador
“Atirei um limão verde apresentará a sua interpretação do texto dramático.
Na janela do meu bem Isso se constitui em mais um elemento de
Quando as mulheres não amam diferenciação entre o texto e o espetáculo.
Que sono as mulheres têm!”
(Manuel Bandeira) Características do texto dramático
O texto dramático tradicional apresenta
Haicai: composição poética de origem enredo, o que o aproxima do texto narrativo.
japonesa, com estrofe de três versos, sendo o Entretanto, o texto dramático, repita-se, é escrito
primeiro e o terceiro versos com cinco sílabas e o com o objetivo de servir a uma representação em
segundo com sete. Exemplo: palco. Consequentemente, a figura do narrador,
fundamental em textos do gênero narrativo, é
“Arco íris no céu praticamente eliminada do texto dramático. Quando
Está sorrindo o menino existe narrador no texto dramático, sua
Que há pouco chorou.” caracterização é bastante diferente da do narrador
(Helena Kolody) de contos e romances e sua participação, muito
reduzida.
Limitado ou excluído o narrador, as
4.3 GÊNERO DRAMÁTICO personagens se apresentam por si mesmas e
desencadeiam a ação. Assim, o texto dramático terá,
A característica essencial do gênero dramático como elementos essenciais, personagem e ação.
é a tendência à representação. Ocorre a Além disso, o dramaturgo tem a preocupação
presentificação dos acontecimentos aos olhos do de escrever um texto que prenda, com muita
receptor. Assim, segundo alguns teóricos, o texto eficácia, a atenção do espectador. Afinal,
dramático reúne características dos demais gêneros, diferentemente do leitor, o espectador está “preso” a
conciliando a objetividade do narrativo e a subjetivi- uma cadeira enquanto durar a peça. Isso gera a
dade do lírico, unidas sob a forma de representação necessidade de o dramaturgo preservar a tensão
de ações, tudo tendendo ao desfecho, à resolução dramática, ao construir a ação. Para tanto, ele
de um conflito. Por envolver dois momentos, o do utilizará, com maior intensidade do que o autor de
texto em si e o da representação, o gênero dramático textos narrativos, recursos como o suspense, a
se distingue dos demais. surpresa, etc.
28 * Literatura Brasileira
Quanto aos demais elementos, a linguagem nos primeiros anos de existência da televisão no
aparece, obviamente, sempre sob a forma de Brasil, as telenovelas eram denominadas teleteatro.
discurso direto. Todavia, dada a multiplicidade de recursos
Os recursos referentes ao tempo têm sido existentes no cinema e na televisão, as diferenças,
cada vez mais explorados pelos dramaturgos. Por em relação ao teatro, tornaram-se muito grandes.
exemplo, em A moratória, Jorge Andrade propôs a
divisão do palco em dois planos, para apresentar Evolução do Gênero Dramático
épocas diferentes. Nelson Rodrigues utilizou com
frequência o flashback em seus textos. O gênero dramático, no mundo ocidental,
Embora alguns encenadores realizem ganhou relevo na Grécia Antiga. Pautando-se por
proezas, o espaço se vê limitado pelas dimensões regras objetivas, os dramaturgos gregos escreviam
do palco. Pode, todavia, haver referência, na fala das tragédias e comédias. A tragédia tem por finalidade
personagens, a outros espaços e ambientes não comover ou purgar os espectadores, inspirando-Ihes
presentificados. Todavia, isso deve ser feito com terror e compaixão e promovendo a catarse. A
moderação, para não reduzir a tensão dramática. comédia tem por objetivo valer-se do riso para
Na confecção de um texto dramático, o corrigir os costumes.
dramaturgo assinala a fala de cada uma das Na Idade Média, surgiram o auto, peça de
personagens e, via de regra, apresenta rápidas cunho religioso, e a farsa, espécie de comédia.
descrições de espaço e ambiente, bem como Com o advento do Romantismo, houve uma
introduz, também sucintamente, outras informações flexibilização das regras ditadas pelo teatro clássico.
(sobre o tempo, por exemplo). Esses dados vêm, em Um dos principais responsáveis por essas mudanças
geral, no início dos atos. foi Victor Hugo. Nessa mesma época, criou-se o
As maiores unidades de ação são denomi- drama romântico, que mescla elementos da tragédia
nadas atos, que se subdividem em cenas e estas, e da comédia.
em quadros. Há muitas espécies do gênero dramático, va-
Ao longo do texto, o dramaturgo pode colocar lendo citar: commedia del arte, melodrama, vaudeville.
observações sobre o estado de ânimo das No século XX, as mudanças foram mais radi-
personagens, sobre a marcação (posicionamento cais, tendo surgido dramaturgos, teóricos e encena-
dos atores no palco), etc. Todas essas informações dores que multiplicaram as experiências criadoras.
que não fazem parte da fala das personagens têm a Destacam-se: Brecht, Artaud, Stanislowski, Beckett,
denominação de rubricas. lonesco (teatro do absurdo), Bob Wilson. No Brasil,
Para concluir a caracterização do gênero, a dramaturgia ganhou grande impulso com Nelson
apresentamos algumas observações, em forma de Rodrigues. Outros dramaturgos brasileiros: Guar-
perguntas e respostas: nieri, Augusto Boal, Dias Gomes, Oduvaldo Vianna
- Uma representação sem texto pode ser Filho, Maria Adelaide Amaral. Como, atualmente, é
considerada teatro? cada vez maior a importância atribuída ao diretor (ou
Essa questão é bastante atual, dada a encenador), cabe fazer referência a alguns dos
tendência de redução do texto na representação. principais nomes dessa área na atualidade: Antunes
Para os teóricos, representação sem texto não é Filho, Cacá Rosset, Gabriel Vilela, Bia Lessa, Gerald
teatro. Pode ser happening, performance, mímica, Thomas, Ulisses Cruz.
pantomima. Para ser denominada como teatro,
ainda, para a maioria dos teóricos (não todos), a
obra deve ter texto.
- Qual é a diferença entre um texto para
cinema ou novela e um texto para ser representado
em palco para um público presente?
Os textos destinados a filmes ou telenovelas,
denominados roteiros, são semelhantes aos
destinados à representação em palco. Tanto que,
Literatura Brasileira * 29
EXERCÍCIOS Mas não haviam matado o seu pai? A vida não passava de uma luta de
vida ou morte entre as pessoas. Entre os animais. Entre os povos. Entre
as forças da natureza”.
(A Grande Arte, Rubem Fonseca)
Leia os fragmentos e, a seguir, responda ao que se pede:
“Em agonia, suspirando e gemendo, afasta a mão pesada da velha: a) Que tipos de discurso aparecem nos fragmentos?
- Deixe para me agradar depois de morto.
- Com essa megera não é que eu casei. _________________________________________________
- ... _________________________________________________
- Me distraí um instante, a mulher foi trocada.
- ... _________________________________________________
- Em vez da noivinha dos meus sonhos, essa quem é, roncando ao
meu lado, o bigodinho de meu sogro no nariz torto de minha _________________________________________________
sogra.”
(Pão e Sangue, Dalton Trevisan)
b) Transcreva passagens que comprovem a resposta anterior.
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________
c) A aproximação da fala do narrador e da fala da personagem
faz com que as visões de mundo de ambos se aproximem.
b) Que tipo de narrador ocorre no texto? Por que o autor se utiliza Que comunhão de visão de existênda há em ambos?
dele?
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_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
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_________________________________________________
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_________________________________________________
Leia o conto de Dalton Trevisan, transcrito abaixo e, a
seguir, faça o que se pede:
c) Explique o uso das reticências.
30 * Literatura Brasileira
Abílio esfregou a faca na ripa antes de guardá-Ia, andou b) que apresente discurso direto.
até a margem e saltou no bote. Atravessando o rio, parou um
instante de remar e, as mãos em concha, gritou ao balseiro que _________________________________________________
conduzisse para casa os filhos e a carroça”. _________________________________________________
_________________________________________________
1. Qual o ponto de vista utilizado no texto? Comprove.
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
8. Transforme o exemplo de discurso direto da questão anterior
_________________________________________________ em discurso indireto:
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________
2. Quanto ao tempo, é cronológico ou psicológico? Comprove. _________________________________________________
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________
4. Analisando a linguagem, que tipo de discurso se encontra?
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
Literatura Brasileira * 31
Os exercícios a seguir têm por base a obra Olhai os lírios (1) Descrição ( ) imagens
do campo, de Érico Veríssimo. (2) Dissertação ( ) ações
1. A narrativa inicia com o final da história e, em sua estruturação, (3) Narração ( ) raciocínios
sofre “cortes”, quando o autor intercala as cartas de Olívia e as
reflexões de Eugênio, personagens centrais, através das quais 6. Identifique o tipo de discurso que ocorre nos ni a_
ficamos conhecendo novos dados sobre a vida passada dos
personagens. Sabedores disso, podemos afirmar que a ação
de tal obra se desenvolve linearmente? Explique.
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
b ) “A manhã estava fresca e tocada pela luz dum doce sol cor
de ouro velho. Pairava no ar uma fina neblina que amaciava
todas as formas, dando à paisagem um suave tom violeta.
Envolta nessa névoa trespassada de sol, a cidade parecia
um brinquedo colorido embrulhado em papel celofane”.
______________________________________________ .
32 *
2. Identifique o tipo de discurso nos trechos abaixo: ______________________________________________
______________________________________________
a) “(...) mas era-lhe mais cômodo insistir em dizer que não
fizesse dieta de emagrecimento (...). Foi o que disse
enquanto receitava um tônico (...)” 6. Se a ação do romance é complexa e o autor entrecruza as
______________________________________________ poucas aventuras da protagonista (Macabéa) com a vida do
narrador (que se dá a conhecer por meio de comentários que
b) “Por isso não sei se minha história vai ser - ser o quê? Não faz) e ainda os questionamentos sobre os valores da
sei de nada, ainda não me animei a escrevê-Ia. Terá sociedade moderna e a própria existência humana, podemos
acontecimentos? Terá. Mas quais? Também não sei (...) É dizer que o tempo que prevalece é:
que realmente não sei o que me espera”. _________________________________________________
______________________________________________
7. Conhecendo o enredo (ainda que superficialmente) e acres-
c) “Ele: - Pois é. centando-se que Macabéa acabou vencida, pois não se ajus-
Ela: - Pois é o quê? tava no emprego nem no amor nem na vida e finalizou morta
Ele: - Eu só disse pois é! (atropelada), você poderia opinar se o espaço onde os fatos
Ela: - Mas “pois é” o quê? acontecem (Rio de Janeiro) tornou a história mais verossímil?
Ele: - Melhor mudar de conversa porque você não me Explique:
entende”. _________________________________________________
______________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________
3. Identifique o foco narrativo:
_________________________________________________
“E eis que fiquei agora receoso quando pus palavras _________________________________________________
sobre a nordestina. E a pergunta é: como escrevo? Verifico que
escrevo de ouvido, como aprendi inglês e francês de ouvido (...).
E só minto na hora exata da mentira (...). Não tenho classe social,
marginalizado que sou”.
______________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
Justifique:
______________________________________________
______________________________________________
______________________________________________
______________________________________________
Literatura Brasileira * 33
estilos de
época
O mundo real, que serve de ponto de partida histórico tem por base os acontecimentos políticos e
para a literatura, é dinâmico, não para. A concepção sociais mais marcantes. O literário tem por base o
de mundo é, também, dinâmica, variando de acordo surgimento de uma obra literária que reflete uma
com a época. Por isso, há mudanças na maneira de mudança significativa em relação ao estilo de época
expressar a realidade. anterior. Dois ou mais estilos podem coexistir numa
Cada época tem seu estilo. O estilo é um mesma época. O que determina a denominação da
conjunto de características específicas e cada período é o predomínio e não a exclusividade
semelhantes que se refletem na arte, na ciência, na de determinadas formas de expressão literária.
religião, nos costumes em geral.
Essa semelhança na maneira de conceber e
expressar a realidade chama-se estilo de época.
Os estilos de época, que marcam a história
literária de Portugal e do Brasil, aparecem
sintetizados no quadro seguinte:
ESTILOS DE ÉPOCA
Portugal
1189/1198
1418
1527
1580
1756
1825
1865
1890
1915
Trovadorismo
Romantismo
Modernismo
Humanismo
Classicismo
Naturalismo
Simbolismo
Arcadismo
Realismo,
Barroco
Brasil
1500
1601
1768
1836
1881
1893
1902
1922
.........
Pré-Modernismo
Parnasianismo
Quinhentismo
Romantismo
Modernismo
Naturalismo
Simbolismo
Arcadismo
Realismo,
Barroco
Literatura Brasileira * 35
Quinhentismo
Literatura Brasileira * 37
documentos informativos sobre o Brasil, ou a) sim.
instrumentos jesuíticos para a conversão do gentio. b) não.
Foi só no século seguinte que nossa literatura
se enriqueceu, produzindo prosadores do porte de 3. Pero Vaz de Caminha e Pero de Magalhães
Antônio Vieira e poetas do gabarito de Gregório de Gândavo são representantes da literatura:
Matos. a) informativa.
Vamos agora fixar bem as características da b) jesuítica.
literatura brasileira do século XVI, através do estudo
de um texto extraído do livro Presença da Literatura 4. Gabriel Soares de Souza escreveu uma obra que
Brasileira, de A. Cândido e A. Castello. se encaixa na literatura jesuítica no Brasil do
“A crônica histórica e informativa que se século XVI?
intensifica em Portugal no momento das grandes a) sim.
navegações, conquistas e descobertas ultramarinas b) não.
testemunhando a aventura geográfica dos portu-
gueses, os seus ideais de expansão da cristandade, 5. As obras produzidas no Brasil do século XVI
assume um sentido épico e humanístico que se apresentam características literárias semelhantes
estende ao Brasil e logo adquire entre nós algumas às encontradas na literatura contemporânea?
características peculiares; à curiosidade geográfica e a) sim.
humana e ao desejo de conquista e domínio b) não.
correspondem, inicialmente, o deslumbramento pe-
rante a paisagem exótica e exuberante, testemu- 6. O “deslumbramento diante da paisagem exótica e
nhado pelos cronistas portugueses que escreveram exuberante” de que fala o texto proposto tem
sobre o Brasil - Pero Vaz de Caminha, Pero de relação:
Magalhães Gândavo, Gabriel Soares de Souza -, a) com a literatura jesuítica.
assim, como os ideais de catequese atestados pela b) com o ufanismo.
literatura informativa e pedagógica dos jesuítas, c) com as poesias do padre José de Anchieta.
como o padre Manuel da Nóbrega e sobretudo o
padre José de Anchieta, caso à parte, singular no 7. A “literatura pedagógica” de que fala o texto tem
nosso século XVI”. relação com:
a) a literatura jesuítica.
b) a crônica portuguesa das grandes navega-
Depois de ler atentamente o texto proposto e ções.
refletir sobre ele, relacionando as informações que c) o ufanismo.
encerra com o que já vimos inicialmente, procure
responder às questões que se seguem:
RESUMA O ASSUNTO
1. A literatura informativa que apareceu no Brasil do
século XVI já havia aparecido em ____________
_______________________________________ I - Literatura Brasileira do século XVI:
_________________________________________________
nismo? _________________________________________________
38 * Literatura Brasileira
representantes:
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
b) Literatura Informativa
função:
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
obras/autores:
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
Literatura Brasileira * 39
Barroco
Literatura Brasileira * 41
b) O culto da solidão: o poeta é um ser especial, e) Verbalismo: Uso exagerado de imagens, de
que se isola num mundo figuras de sintaxe, de metáforas e
particular. floreios literários.
“(...)
- METÁFORA: é empregada como recurso que
o lugar de glória, adonde estou penando; procura concretizar, através dos sentimentos, a
casa da Morte, adonde estou vivendo!” emoção, a sensação, a percepção da realidade.
(Gregório de Matos)
“Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza
O Barroco literário apresenta dois estilos: o
E imprime em toda a flor sua pisada.”
Cultismo (ou Gongorismo) e o Conceptismo (ou
(Gregório de Matos)
Conceitismo).
O braço de Jesus não seja parte, - HIPÉRBOLE: que traduz ideia de gran-
Pois que feito Jesus em partes todo, diosidade, de pompa.
Assiste cada parte em sua parte. “Mil anos há que busco a minha estrela
Não se sabendo parte deste todo, E os Fados dizem que ma têm guardada.”
Um braço que lhe acharam, sendo parte, (Francisco Rodrigues Lobo)
42 * Literatura Brasileira
f) Religiosidade: repetida frequência de assuntos Arrependido estou de coração,
envolvendo toda uma proble- de coração vos busco, dai-me os braços,
mática religiosa da época; Abraços, que me rendem vossa luz.
“Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado, Luz, que claro me mostra a salvação,
Da vossa alta Piedade me despido, A salvação pretendo em tais abraços,
Porque quanto mais tenho delinquido, Misericórdia, amor, Jesus, Jesus!”
Vos tenho a perdoar mais empenhado.” (Gregório de Matos)
(Gregório de Matos)
Literatura Brasileira * 43
O BARROCO NO BRASIL Poema Sacro
44 * Literatura Brasileira
Tu, que um peito abrasas escondido; Mas no Sol, e na luz, falta a firmeza,
Tu, que em um rosto corres desatado; Na formosura, não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Quando fogo em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido. Começa o mundo enfim pela ignorância,
Pois tem qualquer dos bens por natureza
Se és fogo, como passas brandamente? A firmeza somente na inconstância.”
Se és neve, como queimas com porfia?
Observe que nesse texto predomina a
Mas ai, que andou Amor em ti prudente.
consciência da transitoriedade da vida e do tempo.
Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente, Poema Satírico
Permitiu parecesse a chama fria.”
“A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha;
Fala do sentimento do poeta que confessa os
Não sabem governar sua cozinha,
aspectos contraditórios do amor que o domina. Mais
E podem governar o mundo inteiro.
uma vez encontramos a mesma fusão entre
elementos de caráter contraditório: buscando definir Em cada porta um frequentado olheiro,
o amor que sente, o poeta compara-o a elementos Que a vida do vizinho, e da vizinha
opostos, pois, ao mesmo tempo em que o amor é Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
“incêndio”, é, também, “rio de neve”. O gosto pela Para a levar à Praça e ao Terreiro.
aproximação dos contrários é levado ao extremo no Muitos Mulatos desavergonhados,
momento em que imagens, fisicamente ina- Trazidos pelos pés os homens nobres,
proximáveis, fundem os dois conceitos: enquanto Posta nas palmas toda a picardia.
“incêndio”, o amor é disfarçado em “mares” d’água, Estupendas usuras nos mercados,
enquanto “rio de neve” o amor se converte em “fogo”. Todos, os que não furtam, muito pobres,
E estas duas metáforas - a do fogo e da água - E eis aqui a cidade da Bahia.”
continuam a alicerçar todo o soneto: na segunda
estrofe, a ideia de “fogo” reaparece em “abrasas”, Esse texto faz uma crítica aos governantes, às
“fogo” e “chama”, as de “água” em “correr” e “cristal”. pessoas que se preocupam com a vida alheia e aos
Já aqui percebemos que, além da oposição térmica mulatos da cidade da Bahia naquele tempo.
- quente-frio - as metáforas de Gregório de Matos
apresentam também oposição no sentido: enquanto PADRE ANTôNIO VIEIRA (1608 -1697)
o cristal é duro e estático, o fogo é dinâmico, Vieira nasceu em Lisboa, em 1608 e morreu
movimentado. E assim o poema prossegue até seu na Bahia em 1697. Veio para o Brasil em 1615,
final, quando, no último terceto, a oposição entre os entrou na Companhia de Jesus e cedo começou a
elementos é total, na medida em que se manifesta destacar-se como orador. Em 1641, um ano depois
numa estrutura de substantivo-adjetivo: neve ardente de Portugal libertar-se do jugo espanhol, foi para
e chama fria. O estilo é cultista. O virtuosismo de seu Lisboa, encarregado de saudar o rei Dom João IV.
talento desdobra infinitas variações para a antítese Saiu-se tão bem da missão, que foi nomeado pelo
básica fogo/água. rei orador da Corte. Impressionado com os dotes de
oratória do Jesuíta e sua habilidade política, Dom
Poema Lírico-filosófico
João IV encarregou-o de várias missões diplomá-
À INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO ticas no exterior. Regressando a Lisboa, Vieira
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, entregou-se à defesa dos cristãos novos (judeus
Depois da luz, se segue a noite escura, convertidos ao Cristianismo). Em virtude disso,
Em tristes sombras morre a formosura,
passou a ser perseguido pela Inquisição até que, em
Em contínuas tristezas, a alegria.
1652, voltou para o Brasil, fixou-se no Maranhão e
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
dedicou-se à catequese; mas, em 1661, foi expulso
Se formosa a luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura? daqui, por lutar contra a escravização dos índios.
Como o gosto da pena assim se fia? Regressou a Portugal, mas foi novamente perse-
Literatura Brasileira * 45
guido: às acusações anteriores soma-se agora a de que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a
sebastianista (pregador da crença na volta de D. corrupção, mas quando se vê a terra tão corrupta como está a
Sebastião, rei português desaparecido na batalha de nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou
Alcácer-Quibir, em 1578). Vieira viaja então para qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não
Roma, alcançando o perdão do Papa. Regressa salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou
depois ao Brasil, onde morre em 1697. porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo
verdadeira a doutrina, que Ihes dão, a não querem receber; ou
Sua produção em prosa constitui-se de:
é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa, e
Sermões, Cartas e Obras proféticas, em que Vieira
fazem outra, ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes
defende o sebastianismo.
querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que eles
Embora a atividade epistolar (escrita de
dizem; ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam
cartas) tenha sido considerável, a parte mais
a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os
importante da sua obra é sem dúvida Os Sermões.
ouvintes em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não
Grande número de sermões escritos por ele tratam
é tudo isso verdade? Ainda mal”.
de temas importantes para a sociedade brasileira e
portuguesa. Vieira foi aquilo que, modernamente,
O texto acima foi extraído do “Sermão de
chamamos um homem “engajado”, ou seja, seus
Santo Antônio”, pronunciado pelo Padre Vieira em
escritos sempre tomaram partido a propósito das
São Luís do Maranhão, em 1564, em pleno
várias questões que, durante sua vida, agitaram
florescimento do período barroco.
Portugal ou o Brasil. Como exemplo destas
1. A própria natureza do texto - é um sermão - já
campanhas, podemos citar a defesa dos índios
nos anuncia a religiosidade que, como já vimos,
contra a escravização, a defesa dos judeus
caracteriza o barroco ibérico e brasileiro.
convertidos, perseguidos pela Inquisição, o incentivo
à luta contra os holandeses. São bastante 2. A religiosidade, portanto, emana deste texto de
característicos, nos sermões do Padre Vieira, os Vieira como a de G. de Matos que já vimos.
recursos de comunicação com o auditório que o Entretanto, embora unidos pela religiosidade,
estava ouvindo. Vieira adequava-se aos mais esta se manifesta diferente em cada um deles.
diferentes tipos de público - desde colonos semi- No soneto há um caráter sensorial e emotivo da
analfabetos até eruditos pregadores - usando religiosidade ali evidenciada. No sermão, a
sempre a técnica de diálogo com seus ouvintes: religiosidade não é emotiva, não é despertada
descrevia as cenas de modo bem real, concretizava, com o concurso de elementos sensoriais: o
frequentemente, a alusão a temas abstratos e sentimento religioso se manifesta através de um
metafísicos, recorria a citações bíblicas. Um dos raciocínio constante, através do qual Vieira
recursos de que se valia Vieira para assegurar a pretende convencer os ouvintes (e os leitores) de
dos assuntos em itens. Cada um desses era objeto 3. Este caráter racional do texto de Vieira fica bem
de meticulosa comprovação por parte do orador. Isto, claro se observarmos que ele começa com uma
sem dúvida, dava a seus sermões uma aparência de citação de Cristo, gastando todo o resto do
irrefutável lógica, uma vez que, na discussão dos parágrafo na explicação desta citação. E, no
pormenores e subdivisões do tema, o ouvinte perdia intuito de explicar, surgem inúmeros “porquês”
a noção do conjunto. (orações subordinadas adverbiais causais) que
Seguidor dos clássicos, o Padre Vieira se bem demonstram o esforço do autor em
utilizou, em seu sermões, de uma linguagem fundamentar logicamente suas afirmações
escorreita, empregando um número pequeno de através de raciocínios constantes.
trocadilhos, evitando assim os excessos cultistas.
4. O esforço da fundamentação lógica se manifesta,
de certa maneira, nos constantes empregos de
SERMÃO DE SANTO ANTôNIO (EXTRATO)
“ou”. Podemos dizer que, neste parágrafo, o
“Vós, diz Cristo Senhor Nosso, falando com os pregado- Padre Vieira não deixa a seu ouvinte margem
res, sois o sal da terra: e chama-Ihes sal da terra, porque quer para que ele escape ao seu raciocínio:
46 * Literatura Brasileira
*
c) religiosidade
b) conceptismo
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_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
d) pessimismo
4. Temática
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
________________________________________________
e) culto da solidão
5. Início:
_________________________________________________
_________________________________________________ data ____________________________________________
_________________________________________________ obra ____________________________________________
autor_____________________________________________
3. Estilos
a) cultismo
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
Quadro Sinóptico
Gregório de Matos
48 * Literatura Brasileira
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 6. No Brasil, o Barroco está ligado:
a) Ao Jesuitismo;
b) Aos dominicanos;
1.
c) Exclusivamente aos leigos;
“Bote a sua casaca de veludo
d) Ao Padre Anchieta;
E seja capitão sequer dois dias,
e) Nenhuma delas.
Conversa à porta de Domingos Dias
Que pega fidalguia mais que tudo.
7. Assinale a alternativa que contiver o fato histórico que teve
Seja um magano, um pícaro, um cornudo repercussões na literatura barroca portuguesa e brasileira:
Vá a palácio, e após das cortesias a) Tratado de Madri;
Perca quanto ganhar nas mercancias b) Grandes descobrimentos ;
Em que perca o alheio, esteja mudo.” c) Contrarreforma;
d) Expulsão dos Jesuítas;
Estes dois quartetos são de Gregório de Matos. Classifique- e) Nenhuma delas.
os em relação à obra do autor.
8. As origens do movimento barroco encontram-se:
_________________________________________________ a) Em Portugal;
_________________________________________________ b) Na França;
c) Na Espanha;
_________________________________________________ d) Na Alemanha;
e) Nenhuma das alternativas.
2.
“Entre (ó Floralva) assombros repetidos 9. Podemos dizer que:
E é pena com que vivo ausente, a) O Barroco rompeu com a tradição teocêntrica da Idade
Que palavras a voz não me consente; Média Portuguesa.
E só para sentir, me dá sentidos. b) Na base do Barroco português e brasileiro encontramos
uma tentativa de fusão do teocentrismo com o antropo-
Nos prantos e nos ais enternecidos, centrismo.
Dizer não pode o peito o mal que sente; c) A literatura barroca é desequilibrada, de mau gosto e
Pois vai confusa a queixa na corrente; confusa.
E mal articulada nos gemidos.” d) Cultismo e conceitismo são diferentes estilos encontráveis
tanto na obra de Vieira como em Gregório de Matos.
Estes dois quartetos pertencem a um soneto:
a) lírico-amoroso; 10. Vieira foi expulso do Brasil:
b) lírico-religioso;
a) Por lutar contra a escravidão dos índios;
c) satírico;
b) Por ser aliado dos holandeses invasores;
d) épico.
c) Por ter defendido os cristãos novos;
d) Por ser sebastianista;
3. Assinale a alternativa correta: e) Nenhuma é correta.
a) A obra de Vieira é desligada do momento histórico em que
viveu o jesuíta. 11. O apelido de Gregório de Matos era:
b) Na obra de Vieira destacam-se os temas místicos e a) a Águia de Haia;
contemplativos. b) Poeta dos Escravos;
c) Homem de seu tempo, Vieira tratou, em seus Sermões, de c) Poeta da Dor;
quase todos os temas de sua época. d) Boca do Inferno.
d) Vieira é o maior poeta barroco brasileiro.
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50 * Literatura Brasileira
arcadismo
Literatura Brasileira * 51
séCulo xViii - brasil pastores, chefiados pelo deus Pan, dedicavam-se ao
pastoreio e à poesia.
Na primeira metade do século XVIII, Vila Rica
Neoclassicismo (neo = novo), pois o
(atual Ouro Preto-MG) centraliza o surto de desen-
movimento propunha, basicamente, a imitação dos
volvimento que Minas Gerais conhece, com a corrida
clássicos, quer voltando à Antiguidade grego-romana
do ouro, e transforma-se rapidamente na capital
quer imitando escritores quinhentistas da
econômica e cultural da Colônia. Com a riqueza,
Renascença, considerados fonte de equilíbrio e
desenvolveu-se também a cultura intelectual. Os sobriedade.
humildes arraiais de catadores se transformam em A palavra imitação, nesse caso, não deve ser
belas cidades. Vila Rica, São João del-Rei, Mariana, entendida como cópia pura e simples dos clássicos.
Diamantina constituíram-se em focos de instrução, Trata-se, antes de tudo, de seguir determinadas
onde se estudavam não só as letras clássicas, mas convenções.
também as literaturas italiana, espanhola e
portuguesa. Essa civilização do ouro produziu CARACTERÍSTICAS:
algumas das figuras mais notáveis das nossas artes:
na escultura e na arquitetura - Antônio Francisco Poesia objetiva e impessoal: o poeta busca
Lisboa (o Aleijadinho); na pintura - Manuel da Costa interpretar sentimentos comuns, não individuais.
Ataíde; na literatura - o grupo de poetas que se Predomínio da razão sobre os sentimentos: orienta-
costuma chamar a escola mineira. se pela verdade e sinceridade; preocupa-se com a
Os governadores e funcionários da colônia satisfação intelectual e lógica do leitor, antes da
cometiam abusos sem conta. Não Ihes interessava a emoção.
administração feliz e útil e sim o enriquecimento Imitação de autores clássicos (ver neoclassicis-mo):
próprio e o do Reino (= Portugal). As Cartas (“Carpe diem” = aproveitar o presente, o dia);
Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, são um relato (“Fugere urbem” = fugir da cidade);
da miséria do povo e da cobiça e arbitrariedade dos (“Locus amoenus”= lugar agradável).
mandantes. Bucolismo: fuga para o campo, considerado uma
Na pacata colônia, tem imensa repercussão espécie de paraíso perdido para o homem
as novas ideias da Revolução Francesa que (principalmente europeu). Defende a teoria de que o
conseguira destruir instituições; a independência homem é puro e feliz quando em contato com a
nacional é a Inconfidência. natureza (Rousseau).
Cláudio Manuel da Costa, Gonzaga e Pastoralismo: o poeta adota nomes de pastores e há
Alvarenga Peixoto, os poetas de destaque do uma constante referência a eles, bem como a
período, foram grandes amigos, e os três se viram descrição de sua vida, do campo e das atividades
envolvidos no movimento literário da Inconfidência pastoris. Observa-se que esta paixão pelo campo é,
(1789). A tentativa malogrou ainda no período das quase sempre, idealizada e deslocada (espe-
conversações: presos os conspiradores, Cláudio cialmente no Brasil), pois os poetas não eram
Manuel da Costa suicidou-se e os outros dois foram pastores e nem criavam ovelhinhas brancas como
desterrados para a África. afirma Gonzaga em um dos seus poemas.
Simplicidade (no conteúdo e na forma): o ideal de
vida é comum e simples, desprezando o luxo. Na
2. literatura forma, repudia as formas barrocas confusas e
rebuscadas, cultivando períodos curtos e vocabulário
O estilo que predomina na literatura da mais acessível.
época é denominado Arcadismo ou Neoclas-sicismo. Panteísmo: doutrina segundo a qual só o mundo é
Convém examinar esses dois nomes, pois real e Deus é a somatória de todas as coisas.
eles sintetizam a visão do mundo expressa pela Paganismo: em oposição à religiosidade barroca,
Literatura da época. valorização dos deuses greco-romanos.
Arcadismo: deriva de Arcádia, região mitoló-
gica da Grécia, que simbolizava o ideal de vida, onde
52 * Literatura Brasileira
CARACTERÍSTICAS DO temática, seus assuntos prediletos são o
ARCADISMO BRASILEIRO: desencanto da vida e a ausência de Nise, a
amada.
Além das anteriormente citadas, encontramos,
na poesia árcade do Brasil, as seguintes caracte- Principais obras:
rísticas:
Obras Poéticas (1768 - marcam o início do
Nativismo - com a exploração de paisagens Arcadismo).
e atividades brasileiras. Exemplos em Gonzaga,
Vila Rica, poema épico em que o autor
Basílio e Santa Rita.
pretendeu narrar a fundação da cidade e sua
Independência formal - exemplos em
história.
Basílio.
Subjetivismo - que foge aos padrões
arcádicos. Exemplos na 2ª parte de Marília de
Exemplos:
Dirceu.
Literatura Brasileira * 53
“Onde estou? Este sítio desconheço: cheio de honrarias e cargos.
Quem fez tão diferente aquele prado? Não passa de lenda a velha informação
Tudo outra natureza tem tomado; biográfica que dava Gonzaga como tendo terminado
E em contemplá-lo tímido esmoreço. os seus dias em situação de miséria e loucura,
torturado pelas saudades do Brasil e de Marília.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado: Características:
Quanto pode dos anos o progresso!
Gonzaga foi árcade, mas sua poesia indica
Árvores aqui vi tão florescentes, transição do Classicismo ao Romantismo.
Que faziam perpétua a primavera: Em sua poesia, há muitas citações, até em
Nem troncos vejo agora decadentes. excesso, há devaneios ridículos, ao lado da
Eu me engano: a região esta não era: simplicidade emotiva, explorando o amor golpeado
Mas que venho a estranhar, se estão presentes pelo destino - vem daí a lenda sobre os noivos da
Meus males com que tudo degenera!” Inconfidência (como foram chamados Marília e
Dirceu) e a popularidade das liras do poeta.
A variedade métrica, imagens felizes, a
TOMÁS ANTôNIO GONZAGA(1744-1810) presença da paisagem brasileira, tornam as liras
Pseudônimo árcade: Dirceu amorosas de T. A. Gonzaga, um livro de valor da
Musa-pastora: Marília literatura (colonial) brasileira.
Biografia: Nasceu no Porto (Portugal), filho de
pai brasileiro e de mãe portuguesa. Veio para o
Brasil aos oito anos, com o pai. Aos dezesseis anos Obras principais:
volta a Portugal para estudar em Coimbra. Em 1782, Marília de Dirceu (liras), obra lírica
aos 32 anos, portanto, vem para o Brasil e se fixa em Cartas Chilenas, obra satírica
Vila Rica, como ouvidor e juiz.
Os críticos o têm como autêntico brasileiro,
pela família, pela formação e, principalmente, pelos MARÍLIA DE DIRCEU
temas que desenvolveu em sua poética, sempre Nesta obra, o autor nos mostra a paixão de
preocupado com as coisas e a paisagem brasileira. um pastor (Dirceu) pela pastora (Marília). Divide-se
Em Vila Rica, já maduro, apaixonou-se por em duas partes. Na primeira, fala da felicidade do
Maria Doroteia Joaquina de Seixas, de 16 anos, e namoro e do noivado. Há descrições da amada,
dela ficou noivo. Foi denunciado como conspirador, confissões de amor e sonhos de felicidade. Na
preso e transportado para a fortaleza da Ilha das segunda, fala dos sofrimentos morais e físicos da
Cobras (RJ), de onde saiu anos após, em 1792, para prisão e da sua consolação no amor de Marília.
cumprir a sentença de desterro em Moçambique Nesta segunda parte atinge, de certo modo, a
(África), por dez anos. temática pré-romântica ao se tornar o centro de suas
Gonzaga cantara à sua amada: - “Minha bela preocupações, expressando uma forte confiança em
Marília, tudo passa” - ainda nos tempos felizes do sua conduta e revelando o seu modo de ser.
noivado. Marília deve ter conservado o amor em seu Os temas são: os encantos de Marília, os
coração, pois morreu solteira, em avançada idade. amores de Dirceu, a visão da vida futura, tranquila e
Gonzaga, advogado e procurador da Coroa e da burguesa. Tudo muito sentimental. O poeta se
Fazenda de Moçambique, figura de destaque na apresenta pacato, mas tem consciência de seu valor
sociedade local, casou-se um ano depois com uma e posição.
senhora “de mais fortuna e poucas letras” (Juliana
Mascarenhas). Exemplo:
Esgotado o prazo do desterro, Gonzaga “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
continuou em Moçambique, onde foi nomeado juiz que vive de guardar alheio gado,
de Alfândega. Sua vida correu tranquila. Morreu de tosco trato, de expressões grosseiro,
54 * Literatura Brasileira
dos frios gelos e dos sóis queimado. Personagens das Cartas:
Tenho próprio casal* e nele assisto; Critilo (Gonzaga) - remetente
dá-me vinho, legume, fruta, azeite, Doroteu (Cláudio M. da Costa) - destinatário
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
Fanfarrão Minésio - o governador Meneses
e mais as finas lãs, de que me visto.
Chile - Brasil
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela! Santiago - Vila Rica
As cartas são treze, estando incompletas a
Os teus olhos espalham luz divina, sétima e a décima terceira.
a quem a luz do sol em vão se atreve; A maioria dos críticos reconhece o valor
papoila ou rosa delicada e fina literário dessas cartas, que são um documento de
te cobre as faces, que são cor da neve. crítica de costumes, têm valor social pela exatidão
Os teus cabelos são uns fios d’ouro; dos fatos narrados e pela verdadeira revolução que
teu lindo corpo bálsamo vapora. provocaram.
Ah! não, não fez o céu, gentil pastora, Circulavam manuscritas e anônimas entre os
para a glória de amor igual tesouro! habitantes de Vila Rica e conclamavam o povo
Graças, Marília bela, indefeso a lutar contra governadores injustos.
graças à minha estrela!”
“Pretende, Doroteu, o nosso chefe
* Casal: Pequena propriedade rústica; granja Erguer uma cadeia majestosa
Que possa escurecer a velha fama
Gonzaga destinava a Marília uma existência Da torre de Babel, e, mais, dos grandes,
calma, altamente intelectualizada, num ambiente Custosos edifícios que fizeram,
poético. Para sepulcros seus, os reis do Egito.
Na lira 3 da parte III, o poeta nos dá uma
...Desiste, louco chefe, dessa empresa:
mostra disto, vendo-se sentado à mesa de estudo:
Um soberbo edifício levantado
Sobre ossos de inocentes, construído
“Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos; Com lágrimas dos pobres, nunca serve
Ver-me-ás folhear os grandes livros De glória ao seu autor, mas sim de opróbrio.”
E decidir os pleitos.
Enquanto resolver os meus consultos,
Tu me farás gostosa companhia, Há denúncia social, como a situação nas
Lendo os fatos da sábia mestra História prisões:
E os cantos da poesia.
“Passam, prezado amigo, de quinhentos
Lerás em alta voz a imagem bela;
Os presos que se ajuntam na cadeia.
Eu, vendo que lhe darás o justo apreço,
Uns dormem encolhidos sobre a terra,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.” Mal cobertos dos trapos, que molharam
De dia, no trabalho. Os outros ficam
Ainda mal sentados, e descansam
CARTAS CHILENAS As pesadas cabeças sobre os braços
Poema satírico escrito (na 2ª metade do Em cima dos joelhos encruzados.”
século XVIII), sob o pseudônimo de Critilo. Constitui
As cartas satirizam os maus governantes,
uma diatribe violentíssima contra a pessoa e a
como neste exemplo:
administração do governador Luís da Cunha
Meneses e seus auxiliares em Vila Rica entre 1783 “Amarelo colete e sobretudo
a 1788. Tantos excessos, arbitrariedades cometeu Vestida uma vermelha justa farda.
que contra ele se voltou a camada esclarecida da De cada bolso da fardeta, pendem
cidade. Gonzaga, ouvidor, desde o início entrou em Listradas pontas de dois brancos lenços;
conflito com o governador, por esse motivo. Na cabeça vazia se atravessa
Literatura Brasileira * 55
Um chapéu desmarcado, nem sei como Ó tormento sem igual!
Sustenta o pobre nó do laço o peso.
Ao amor cruel e esquivo
Ah! tu, Catão severo, tu que estranhas
Entreguei minha esperança,
Rir-se um cônsul moço, que fizeras
Que me pinta na lembrança
Se em Chile agora entrasses e se visses
Mais ativo o fero mal.
Ser o rei dos peraltas quem governa?”
Não verás em peito amante
Coração de mais ternura,
MANUEL INÁCIO DA SILVA ALVARENGA Nem que guarde fé mais pura,
(1749 - 1814) Mais constanre e mais leal.
Pseudônimo árcade: Alcindo Palmireno Glaura! Glaura! não respondes?
Musa: Glaura E te escondes nestas brenhas?
Biografia: Nasceu em Vila Rica, mestiço, filho Dou às penhas meu lamento;
de um músico pobre. Graças aos amigos do pai, Ó tormento sem igual!”
estudou no Rio de Janeiro. Do pai herdou a
facilidade para a música, tocando rabeca e flauta. Silva Alvarenga fala de mangueira, cajueiros,
Era simpático e espirituoso e por isso se tornou laranjeiras:
muito popular, tanto aqui quanto em Portugal para
onde foi em 1771, a fim de estudar em Coimbra. Era “Carinhosa e doce, ó Glaura,
um estudioso das literaturas europeias, da Vem esta aura lisonjeira;
matemática e das ciências. Fundou uma sociedade E a Mangueira já florida
científica, que durou pouco, e que ele restaurou mais Nos convida a respirar.
tarde sob o nome de Sociedade Literária. Esta foi
Cajueiro desgraçado,
dissolvida pelo novo vice-rei e o poeta foi preso, a que Fado te entregaste,
acusado de manter um clube em cujas reuniões se Pois brotaste em terra dura,
discutia religião e política. Sem cultura e sem senhor!”
Obras:
INÁCIO JOSÉ DE ALVARENGA PEIXOTO
Desertor das Letras, poema heroico - cômico,
(1744 - 1792)
escrito quando estudava em Coimbra. É uma sátira
Pseudônimo árcade: Eureste Fenício
aos métodos de ensino antes da reforma pombalina.
Musa: Bárbara Heliodora, sua esposa, poetisa.
Foi publicado às custas do Marquês de Pombal e
Biografia: Nasceu no Rio. Formou-se em
enaltecia a reforma universitária que este executou.
Direito, em Coimbra e voltou ao Brasil, onde foi bem
Glaura, sua obra principal. É dedicada à sua
acolhido pelo vice-rei da época. Abandona a
musa, Glaura, que realmente existiu.
advocacia e se torna minerador, enriquecendo.
Proprietário de lavras, fica descontente com a
Exemplo:
cobrança exagerada de impostos, com a derrama.
“Glaura! Glaura! não respondes? Envolveu-se na Conjuração Mineira e foi condenado
E te escondes nestas brenhas? ao desterro na África (em Ambaça), onde faleceu.
Dou às penhas meu lamento; Dizem ter sido ele quem propôs o lema da bandeira
56 * Literatura Brasileira
dos inconfidentes Libertas quae sera tamen, além de “Bárbara Bela,
contribuir financeiramente para a causa revolucio- Do Norte estrela
nária. Deixou fama de homem eloquente e imagino- Que o meu destino
so. sabes guiar
De ti ausente Triste somente
As horas passo
Características:
a suspirar.
• Começou a escrever como neoclássico,
depois escreveu liras laudatórias (= de Isto é castigo
louvor), o que constitui a maior parte de Que amor me dá.
suas obras (normalmente em louvor aos Tu, entre os braços,
poderosos). Ternos abraços
• Prega o universo do trabalho e da ordem, ao Da filha amada
fundo a paisagem mística da Arcádia. Podes gozar
• O déspota ilustrado e o seu ideal: combina o Priva-me a estrela
progressismo e o governo forte. De ti e dela,
• Preso na Ilha das Cobras, negou ter parti- Busca dois modos
cipado do movimento e se torna servil à D. De me matar.
Maria I. Isto é castigo
• Os sonetos apresentam traços pré-român- Que amor me dá.”
ticos, misturados à intenção neoclássica.
Conta-se que a filha do poeta morreu de
desgosto, com a sua condenação e que a esposa
Obras: enlouquecida, vagava pelas ruas da cidade.
Tradução: Mérope (de Maffei) Cecília Meireles, uma das maiores poetisas do
Drama: Eneias no Lácio (em versos) Modernismo, revive, no século XX, a tragédia que
Ode ao Marquês de Pombal: tema do herói marcou a família de Alvarenga Peixoto, em sua obra
pacífico. Romanceiro da Inconfidência.
Obras Poéticas: temática lírico-amorosa.
FREI JOSÉ DA SANTA RITA DURÃO
(1722 - 1784)
Exemplos: Pseudônimo árcade: não tem
Biografia: Nasceu em Cata Preta (MG) e
OdE faleceu em Lisboa. Filho de um militar português.
Doutorou-se em Filosofia e Teologia em Coimbra.
“Grande Marquês, os sátiros saltando Fugiu para a Itália (por problemas eclesiásticos) e aí
por entre verdes parras, passou mais de vinte anos, numa vida de estudos.
defendidas por ti de estranhas garras; Voltou a Portugal com a queda de Pombal. Foi
os trigos ondeando professor e reitor da Universidade de Coimbra. Sua
nas fecundas searas; principal atividade passa a ser a redação do
os incensos fumando sobre as aras, Caramuru.
à nascente cidade
mostram a verdadeira heroicidade. Características:
Ao mundo esconde o sol seus resplendores • Segue os preceitos clássicos, o modelo
e a mão da Noite embrulha os horizontes; camoniano.
não cantam aves, não murmuram fontes, • Substitui o maravilhoso pagão (deuses do
não fala Pã na boca dos pastores.” Olimpo) pelo maravilhoso cristão (milagres).
• Reflete o clima patriótico do século XVIII,
BÁRBARA BELA que antecede a independência.
Literatura Brasileira * 57
• Caramuru é mais nosso que Uraguai nas Corre a ver o espetáculo, assombrada;
alusões à flora nativa e aos costumes E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
indígenas, mas ainda está muito distante do Pasma da turba feminil, que nada,
homem americano. Uma que às mais precede em gentileza,
• Pela correção da linguagem, figura Durão Não vinha menos bela, do que irada;
entre os nossos clássicos do idioma. Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
Obra:
Caramuru, poema épico, em que narra o XXXVIII
naufrágio, salvamento e aventuras do português - Bárbaro (a bela diz:), tigre e não homem...
Diogo Álvares Correia, cognominado Caramuru Porém o tigre, por cruel que brame,
(“deus do trovão”, “homem de fogo”) pelos indígenas. Acha forças amor, que enfim o domem;
Durão refere-se a fatos históricos desde o Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
descobrimento até sua época. Descreve a paisagem Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
brasileira, suas riquezas, flora e fauna. Dá Como não consumis aquele infame?
informações sobre o índio, seus valores e tradições, Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
seu espírito guerreiro, sua ação épica. Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?
XXXVI
XLI
“É fama então que a multidão formosa
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Das damas, que Diogo pretendiam,
Flutuar, moribunda, entre estas ondas;
Vendo avançar-se a nau na via undosa,
A um ai somente, com que aos meus respondas.
E que a esperança de o alcançar perdiam,
Nem o passado amor teu peito incita
Entre as ondas com ânsia furiosa,
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
Nadando, o esposo pelo mar seguiam, (Disse, vendo-o fugir), ah! não te escondas!
E nem tanta água, que flutua vaga, Dispara sobre mim teu cruel raio...
O ardor que o peito tem, banhando apaga. E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
XXXVII
58 * Literatura Brasileira
XLII como membro da Academia Real das Ciências.
Literatura Brasileira * 59
URAGUAI "
UR
60 * Literatura Brasileira
( ) Romantismo; a) Quem é o autor?
( ) Simbolismo;
( ) Modernismo; _____________________________________________
( ) Neoclassicismo.
_____________________________________________
______________________________________________
a) De que fato histórico trata o poema?
_____________________________________________
______________________________________________
c) Quem são Nise, Marília, Anarda?
______________________________________________
_____________________________________________
______________________________________________
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_____________________________________________
FAÇA UMA SINOPSE DO ASSUNTO
Literatura Brasileira * 61
- Consequências:
Neoclassicismo:
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- Contexto brasileiro:
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2. Definição:
Arcádia:
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3. Quadro Comparativo:
62 * Literatura Brasileira
4. Quadro sinóptico:
1. Cláudio M. da Costa
3. Silva Alvarenga
5. Basílio da Gama
6. Alvarenga Peixoto
Literatura Brasileira * 63
romantismo
“Casar assim pensamento com o notório que as camadas populares não tinham
sentimento, a ideia com a paixão, colorir tudo grande preparo intelectual, não eram cultas, o que
isso com a imaginação, fundir tudo isto com o as fazia incapazes de assimilar a erudição clássica,
sentimento da religião e da divindade, eis a as sutilezas do torneio verbal, a disciplina rigorosa
Poesia - A Poesia grande e santa - A Poesia de composição, as alegorias fundadas na cultura
como eu a compreendo sem a poder definir, greco-romana, especialmente na mitologia. Este
como eu a sinto sem poder traduzir”. novo público leitor buscava uma expressão artística
(Gonçalves Dias) que fosse, ou uma forma de entretenimento, ou
projeção de seus gostos e anseios. O apare-cimento
do romance folhetinesco publicado com
1. Contexto históriCo periodicidade regular pela imprensa, explorando a
Cultural - a reVolução complicação sentimental, a intriga, o mistério, a
FranCesa aventura, ancestral das novelas de radiodifusão e
televisivas atuais, expressa essa tendência.
O Romantismo é um movimento que configura A palavra-chave do período Romântico foi
um estilo de vida e de arte predominante na “LIBERDADE”, no campo político, pela superação do
Civilização Ocidental, no período compreendido, absolutismo; no campo econômico, pelo Liberalismo
aproximadamente, entre a segunda metade do do “Laissez faire, laissez passer”; no campo artístico,
século XVIII e a primeira do século XIX. Reflete, no pela derrocada das regras e preceitos clássicos - “ni
campo artístico, as profundas transformações règles, ni modèles” - proclamava Victor Hugo, um
históricas do período, marcado pelo apogeu do dos arautos da nova estética.
processo de transferência da liderança histórica da
aristocracia para a burguesia.
Esse processo se deflagrou com maior Metamos o martelo nas teorias, nas
intensidade a partir do advento do lIuminismo, da poéticas e nos sistemas. Abaixo esse velho
divulgação de suas propostas pelos enciclopedistas, reboco que mascara a fachada da arte, nada
culminando com a REVOLUÇÃO FRANCESA. A de regras nem de modelos.
partir daí, os ideais de “Liberdade, Igualdade e Victor Hugo
Fraternidade” ecoam pelo mundo todo, anunciando
transformações. Os donos do poder não são mais o
Clero e a Nobreza, e o sangue azul deixou de ser a
condição indispensável para o reconhecimento da 2. literatura
sociedade. No processo revolucionário de tomada
do poder, a burguesia contou com o apoio do povo,
das classes mais humildes, o que dá à Revolução AS ORIGENS DO ROMANTISMO
um cunho popular-burguês. E AS INFLUÊNCIAS EUROPEIAS
A ascensão das classes médias provoca um
deslocamento do público consumidor da Literatura, As primeiras manifestações do Romantismo
que passa a ser o burguês e não mais o nobre. Por podem ser localizadas:
isso, a arte clássica, aristocrática, seria substituída a) Na ALEMANHA, onde o vigor e o gênio de
pela arte romântica, de cunho nacional e popular. É Göethe marcam, a partir de Werther, o início da
Literatura Brasileira * 65
ruptura com a preceptiva clássica, ao lado de outros, Homem e Pereira da Silva a Niterói - Revista
que comungam no espírito da “STURN UND Brasiliense, em que as novas ideias românticas são
DRANG” (tempestade e violência), nome que se dá divulgadas. No entanto, devemos reconhecer que já
ao movimento que antecede o Romantismo Alemão, se percebiam certas características românticas em
insurgindo-se contra os rigores do Classicismo. obras de autores anteriores, além de alguns fatos
b) Na INGLATERRA, com a poesia que iam contribuindo para a formação de um
melancólica subjetiva de Young e com a reabilitação ambiente propício ao desenvolvimento e aceitação
da poética medieval. Tem grande influência, na das ideias românticas.
nossa literatura, o romance histórico medieval, criado Podemos dizer que os autores do Arcadismo
por WALTER SCOTT, cujo “Ivanhoé” serve de brasileiro, além de se utilizarem dos artifícios típicos
modelo aos heróis de José de Alencar, e a poesia do da estética neoclássica (imitação de autores gregos
“spleen” (nostalgia) de BYRON, modelo constante e latinos, uso da mitologia pagã, etc.) já expres-
do negativismo, do tédio e do satanismo de Álvares savam em suas poesias, alguns elementos que
de Azevedo e seus seguidores. seriam depois explorados pelos românticos, como,
c) Na FRANÇA, onde, já nos iluministas por exemplo: o elogio da vida em natureza, livre das
(Rousseau e Diderot) o convencionalismo é alvo da agitações sociais e mundanas; exaltação de
rebeldia dos “novos”, CHATEAUBRIAND redescobre aspectos da natureza brasileira (flora e fauna);
as belezas do cristianismo, sobrepondo-se à expressão sentimental de estados de alma, etc.
mitologia dos poetas árcades. Com Atala, valoriza as Além desses aspectos, é preciso lembrar que
sugestões de paisagem americana, que José de já existia, desde o século XVI, muita coisa escrita
Alencar assimilou no seu Iracema. Os cantos de sobre o Brasil pelos viajantes e missionários,
Vigny, a lira amorosa, naturista e religiosa de principalmente, em que eram frequentes os elogios
Lamartine e as confissões de Alfred Musset ecoam às nossas riquezas naturais, à bondade natural do
na poesia brasileira da primeira à última fase do indígena, o que muitas vezes dava a impressão de
movimento romântico. A poesia social rebelde e que a terra brasileira era um verdadeiro paraíso.
declamatória de Victor Hugo, e seu romance de É necessário ainda destacar a importância,
denúncia da opressão do proletariado - OS para o desenvolvimento do Romantismo, da vinda
MISERÁVEIS - plasmaram a retórica de Castro da Família Real para o Brasil, em 1808, pois os atos
Alves. Também as narrativas passionais de Georges de D. João VI, têm importância fundamental para a
Sand e o romance de aventura de Alexandre Dumas evolução da nossa cultura: a abertura dos portos; a
deixaram marcas no gosto literário brasileiro. Cabe criação de bibliotecas, de escolas superiores; a
notar que a França de Napoleão Bonaparte foi o permissão para o funcionamento de tipografias (de
centro irradiador das ideias do liberalismo e do gosto onde surgiria o jornalismo, importante agente cultural
artístico romântico. À medida que os exércitos no século XIX). Além disso, as sucessivas levas de
napoleônicos avançavam, iam inoculando, na imigrantes portugueses contribuíram para a
Espanha, em Portugal, na Itália, na Bélgica, na formação de um público cada vez maior que
Rússia, os germens das novas ideias. No Brasil, a procurava, na literatura, a representação de seus
emancipação política fez com que declinasse a próprios dramas sentimentais, mais ou menos como
influência portuguesa, pela absorção de modelos faz o público de hoje, com relação ao cinema e à
franceses e ingleses. televisão.
d) No BRASIL, foi particularmente importante Contemporânea ao movimento de Indepen-
o Romantismo, pois constitui um elemento decisivo dência de 1822, a literatura romântica sempre
na evolução não só da literatura como também da expressou sua ligação com a política e, ao lado da
própria cultura brasileira. euforia da liberdade e do desejo de construção de
Didaticamente falando, o ano de 1836 marca uma pátria brasileira, surgiu também o desejo de
o início do Romantismo brasileiro, quando criação de uma literatura brasileira; o esforço para
Gonçalves de Magalhães publica seu livro de essa realização, como afirma o crítico Antônio
poesias Suspiros Poéticos e Saudades, e lança, em Cândido, era visto como um “ato de brasilidade”.
Paris, juntamente com Araújo Porto-Alegre, Torres A influência do Romantismo foi também muito
66 * Literatura Brasileira
importante na linguagem literária. Reivindicando a 2. SENTIMENTALISMO
liberdade de expressar as peculiaridades e as O sentimento passa a ser considerado o
diferenças da fala brasileira, alguns autores grande valor da vida, pois somente através dele
procuraram criar o que se poderia chamar de “estilo consegue-se expressar o interior do indivíduo. Esta
literário brasileiro”, isto é, um modo de sujeitar a ênfase ao lado sentimental do ser humano culminará
língua portuguesa à sensibilidade brasileira. numa visão intimista e egocêntrica da vida cuja
Temos, em resumo, que o Romantismo, no medida mais exata chamar-se-á “impulsos do
Brasil, se revestiu de características próprias, pois, coração”.
coincidindo com a época de nossa autonomia, Esse predomínio do sentimento sobre a razão,
acabou se tornando uma espécie de estilo da vida a princípio, parecia equilibrado; porém, com o passar
cultural do país, considerando-se o escritor um porta- do tempo, houve um exagero tal que chegou a tomar
voz da sensibilidade popular e dos anseios políticos “proporções de epidemia, degenerando numa
e sociais da coletividade. tristeza vaga, numa insaciedade tediosa e
docemente mórbida: o mal do século”.
CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO
Literatura Brasileira * 67
“Oh! ter vinte anos sem gozar de leve Quem golpes daria
A ventura de uma alma de donzela! Fatais, como eu dou?
E sem na vida ter sentido nunca - Guerreiros, ouvi-me;
Na suave atração de um róseo corpo - Quem há, como eu sou?
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas Na caça ou na lide,
Passam tantas visões sobre o meu peito!” Quem há que me afronte?!
(Álvares de Azevedo) A onça raivosa
Meus passos conhece,
O inimigo estremece,
3. EVASÃO OU ESCAPISMO E a ave medrosa
O choque das aspirações do escritor com a Se esconde no céu.
realidade que o cerca, faz com que ele “fuja” para - Quem há mais valente,
um mundo à base do sonho e de emoções pessoais. - Mais destro do que eu?”
A sua imaginação dá-lhe a possibilidade de criar, (Gonçalves Dias)
diante dessa insatisfação, o seu universo, decorrente
de uma visão pessoal da realidade. Foge para um
lugar de sonhos onde a imaginação corre à solta, A religiosidade
sem rédeas, sem leis, sem proibições.
E, do inevitável confronto desse mundo Recupera-se a religiosidade medieval e dá-se
utópico com o real a única solução é a evasão, que mais ênfase ao sentimento da religião, ao senso de
se processa em três níveis: no tempo, no espaço e mistério e envolvimento que nela se encerram. A
na morte. ditadura religiosa, imposta através de um conjunto
rígido de dogmas, racionalmente propostos pelo
Evasão no tempo classicismo, foi substituída então por uma
concepção pessoal da religião.
Se a época contemporânea o leva ao conflito,
procura no passado (individual ou histórico) as “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes!
situações consideradas ideais. Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
No plano histórico, ele vai descobrir a Idade Embuçado nos céus?
Média com seus elementos pitorescos, misteriosos e Há dois mil anos te mandei meu grito,
lendários. Que embalde, desde então corre o infinito...
A Idade Média identifica as origens da Onde estás, Senhor Deus?”
nacionalidade, a matriz cultural de cada povo. O (Castro Alves)
romântico vai em busca da personalidade, dos traços
individuais que distinguem as nações. “Quando ao sopé da cruz me chego aflito,
Vai existir a valorização das tradições Sinto que o meu sofrer se vai minguando,
populares, da história de cada país que passam a Sinto minha alma que de novo existe,
servir de temática para dramas e romances. Sinto meu coração arder em chamas,
Essa atitude trouxe ao Romantismo do Brasil Arder meus lábios ao dizer teu nome.”
o Indianismo - a exaltação do índio - que, muitas (Gonçalves Dias)
vezes, aparece como um legítimo cavaleiro
medieval, o super-herói romântico e/ou elementos Evasão no Plano Individual
do Brasil-colônia.
Valorização da infância como um tempo feliz e
“Valente na guerra estável. A sociedade atuaria como um elemento
Quem há, como eu sou? corruptor do elemento humano (Rousseau), daí a
Quem vibra o tacape supervalorização da criança e do selvagem como
Com mais valentia? modelo de pureza e inocência.
68 * Literatura Brasileira
“Oh! que saudades que tenho passam a favorecer a solitária vida do romântico.
Da Aurora da minha vida,
Da minha infância querida “Amo o silêncio, os areais extensos,
Que os anos não trazem mais! Os vastos brejos e os sertões sem dia,
Que amor, que sonhos, que flores, Porque meu seio como a sombra é triste,
Naquelas tardes fagueiras Porque minh’alma é de ilusões vazia.”
À sombra das bananeiras, (Fagundes Varela)
Debaixo dos laranjais!”
(Casimiro de Abreu)
c) GOSTO PELAS RUÍNAS: porque elas
representam a vitória da natureza sobre a ação do
homem.
Evasão no Espaço
d) GOSTO PELO NOTURNO: que vai de
a) NATUREZA: o romântico vai encontrar na encontro à atmosfera de mistério, tão a gosto
natureza o lugar de refúgio, de tranquilidade, onde o romântico. A esse fato acrescentam-se as imagens
seu espírito pode encontrar a paz. Ele verá a de cemitérios solitários, paisagens enluaradas -
natureza como um prolongamento de seus ambiente propício à fantasia e à imaginação,
sentimentos e de sua alma; será sua musa e sua favorecidas pelo valor que os objetos adquirem.
confidente, participante e companheira. Ela não
mais será “apenas cenário” como era no contexto
árcade. “Que horrenda noite!... que pavor me cerca!
Por toda parte mil fantasmas se erguem
“É bela a noite, quando grave estende De espesso fumo, sem cessar vibrando
Sobre a terra dormente o negro manto Olhos de brasas.
De brilhantes estrelas recamado;
Mas nessa escuridão, nesse silêncio Naquele vale de ciprestes negros
que ela consigo traz, há um quê de horrível Zunem os ventos com furor não visto...
que espanta e desespera e geme n’alma; Daquela rocha, murmurando, o rio
Um quê de triste que nos lembra a morte!” Se precipita.”
(Gonçalves Dias) (Gonçalves Dias)
Literatura Brasileira * 69
“Pensamento gentil de paz eterna “Meu herói é um moço preguiçoso
Amiga morte, vem. Tu és o termo Que viveu e bebia porventura
De dois fantasmas que a existência formam, Como nós, meu leitor, se era formoso
- Dessa alma vã e desse corpo enfermo. Ao certo não o sei. Em mesa impura
Esgotara seu lábio fervoroso
Pensamento gentil de paz eterna Como vós e como eu a taça escura...
Amiga morte, vem. Tu és o nada, Era pálida sim... mas não d’estudo;
Tu és a ausência das moções da vida, No mais... era um devasso e disse tudo.”
Do prazer que nos custa a dor passada. (Álvares de Azevedo)
70 * Literatura Brasileira
Perfumes da floresta, vozes doces, língua, com a incorporação de neologismos, e a
Mansa lagoa que o luar prateia, tentativa de aproximação entre a língua literária e a
Claros riachos, cachoeiras altas, linguagem oral e coloquial. A superação do rigor
Ondas tranquilas que morreis na areia.” linguístico dos clássicos possibilitou uma dicção mais
(Casimiro de Abreu) compatível com o gosto e o entendimento do leitor
da época.
Literatura Brasileira * 71
Romantismo, uma imagem do passado e, portanto, 2. Identifique nos fragmentos abaixo, características românticas
que neles predominam:
não apresentava qualquer ameaça à ordem vigente,
sobretudo à escravatura. a)
“Ó anjo do meu Deus, se nos meus sonhos
Os escritores, políticos e leitores identi- A promessa do amor me não mentia,
ficavam-se com esse índio do passado, ao qual Concede um pouco ao infeliz poeta
Uma hora da ilusão que o embebia!”
atribuíam virtudes e grandezas; o índio contem- (Junqueira Freire)
porâneo que, no século XIX, como agora, arrastava- b)
se na miséria e na semiescravidão, não constituía “E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
um tema literário”. Não quero que uma nota de alegria
Não podemos esquecer, ainda, que o Se cale por meu triste passamento.
indianismo se articulava com uma proposta europeia Eu deixo a vida como deixa o tédio
mais ampla; a ideia do bom selvagem. No caso do Do deserto, o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Brasil, o índio representava a concretização desse Que se desfaz ao dobre de um sineiro.”
homem em estado natural, ainda não “corrompido” (Álvares de Azevedo)
pela civilização. c)
“Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz - e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.”
EXERCÍCIOS (Álvares de Azevedo)
d)
1. Complete o quadro com as características românticas que se “Morrer... quando este mundo é um paraíso,
opõem às apresentadas: E a alma um cisne de douradas plumas;
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.”
Classicismo - Neoclassicismo Romantismo (Castro Alves)
e)
Culto à antiguidade greco-Iatina “Aqui sobre esta mesa junto ao leito
Em caixa negra dois retratos guardo.
Não os profanem indiscretas vistas.
Imitação dos modelos clássicos Eu beijo-os cada noite: neste exílio
Venero-os juntos e os prefiro unidos
- Meu pai e minha mãe - Se acaso um dia
Mitologia pagã Na minha solidão me acharem morto,
Não os abra ninguém. Sobre meu peito
Lancem-os em meu túmulo mais doce
Arte é imitação
Será certo o dormir da noite negra
Tendo no peito essas imagens puras.”
Mundo real (Álvares de Azevedo)
f)
“Meu amor...Meu amor é um delírio...
Predomínio da razão É a volúpia, que abrasa e consome
Meu amor é uma mescla sem nome.
És um anjo, e minh’alma - um altar
Natureza como cenário Oh! meu Deus! manda ao tempo, que fuja,
Que deslizem em fio os instantes,
E o ponteiro, que passa os quadrantes,
Equilíbrio - Moderação Marque a hora em que a possa beijar!”
(Castro Alves)
Linguagem comedida
g)
“Fugiremos à pátria. Iremos longe
Imparcialidade Habitar num deserto. No meu peito
Eu tenho amores para encher de encantos
Uma alma de mulher... Por que sorriste?
Homem universal Sou um louco. Maldita a folha negra
Em que Deus escreveu a minha sina...”
(Álvares de Azevedo)
O lógico e objetivo
h)
Manutenção das formas fixas “Meu peito de gemer já está cansado,
Meus olhos de chorar;
E eu sofro ainda, e já não posso alívio
Visão objetiva de mundo
Sequer no pranto achar!”
(Gonçalves Dias)
72 * Literatura Brasileira
i)
“Basta!... Eu sei que a mocidade
É o Moisés no Sinai;
Das mãos do eterno recebe
As tábuas da lei! - Marchai!
Quem cai na luta com glória,
Tomba nos braços da História
No coração do Brasil!
Moços, do topo dos Andes,
Pirâmides vastas, grandes,
Vos contemplam séculos mil!”
(Castro Alves)
j)
“Não achei na terra amores
Que merecessem os meus,
Não tenho um ente no mundo
A quem diga o meu - adeus.”
(Junqueira Freire)
l)
“Sombras do vale, noites da montanha,
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!”
(Álvares de Azevedo)
m)
“Eu amo a noite quando deixa os montes
Bela, mas bela de um horror sublime,
E sobre a face dos desertos quedos
Seu régio selo de mistério imprime”.
(Fagundes Varela)
Literatura Brasileira * 73
publicar outros que já temos feito, e aqueles que fazer poderemos Inquisição (1837, tragédia em verso), Olgiato
com o tempo.
É um tributo que pagamos à Pátria, enquanto lhe não (tragédia), Amância (novela), A Confederação dos
oferecemos cousa de maior valia; é o resultado de algumas horas Tamoios (1856, poema épico), além de obras de
de repouso, em que a imaginação se dilata, e a atenção
descansa, fatigada pela seriedade da ciência. críticas e filosofia.
Tu vais, ó livro, ao meio do turbilhão em que se debate
nossa Pátria; onde a trombeta da mediocridade abala todos os
ossos, e desperta todas as ambições, onde tudo está gelado, 2. GONÇALVES DIAS
exceto o egoísmo; tu vais, como uma folha no meio da floresta (1823 -1864)
batida pelos ventos do inverno, e talvez tenhas de perder-te antes
de ser ouvido, como um grito no meio da tempestade. Nasceu em Caxias, MA, em 1823. Faleceu no
Vai, nós te enviamos, cheio de amor pela Pátria, de naufrágio do Ville de Boulogne (no qual o poeta
entusiasmos por tudo o que é grande, e de esperança em Deus,
e no futuro.” regressava da Europa, desenganado), nos baixios
Adeus! de Atins, perto do Maranhão, em 1864.
Paris, julho de 1836.
Gonçalves de Magalhães É o primeiro poeta “de sensibilidade artística
realmente brasileira”. Trazia, por sinal, o sangue das
Lido o texto, identifique as características do Romantismo três raças: o pai era português e a mãe, cafuza.
que ele aponta:
Estudou Direito em Coimbra, onde entrou em
____________________________________________________
contato com os românticos portugueses e estudou
____________________________________________________
as principais literaturas europeias.
____________________________________________________
Voltou ao Brasil em 1845. No ano seguinte,
____________________________________________________
publicou Primeiros Cantos, a primeira obra
verdadeiramente romântica no tema e na forma, que
o tornou, imediatamente, poeta de primeira
OBRAS:
Suspiros Poéticos e Saudades (1836), CARACTERÍSTICAS
Poesias (1832), Antônio José ou O Poeta e a a) Poesia amorosa: “Amor é vida” - o poeta
74 * Literatura Brasileira
escreveu e aprovou: Amor e vida foram inseparáveis Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
em sua existência. Tão frouxo brilhar,
Embora tivesse diversos casos de amor, que Que a mim me parece que o ar lhes falece,
lhe inspiraram não poucas poesias, sua melhor parte E os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
de poemas amorosos gira em torno de Ana Amélia. Me fazem chorar.
Até a recusa de casamento temos um poeta otimista,
sonhador, cantando o amor, a felicidade, retratando Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
uma alma cheia de afeto e entusiasmo, versejando Desperta a chorar;
fácil. São exemplos: Seus Olhos, Leviana, Inocência, E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Suspiros. Não pensa - a pensar.
Depois da recusa (1852), volta-se o poeta
para seu íntimo e começa a lastimar seu ingrato Nas almas tão puras da virgem, do infante,
destino. Sofre. A mórbida imaginação que possuía, Às vezes do céu
aproxima-o sempre mais da desgraça e da morte. Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Citem-se: Se Se Morre de Amor, Se muito Sofri já Um vago desejo; e a mente se veste
não me Perguntes, Ainda Uma Vez - Adeus!. De pranto co’um véu.
“Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo luzir, De vivo fulgor;
Estrelas incertas, que as águas dormentes Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Do mar vão ferir; Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão, Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Mais doce que a brisa, - mais doce que o nauta Assim é que são;
De noite cantando, - mais doce que a frauta Eu amo esses olhos que falam de amores
Quebrando a solidão. Com tanta paixão”.
Literatura Brasileira * 75
Nas surdas asas dos ventos, Expor-te em pública praça,
Do mar na crespa cerviz! Como um alvo à populaça,
Baldão, ludíbrio da sorte Um alvo aos dictérios seus!
Em terra estranha, entre gente Devera, podia acaso
Que alheios males não sente, Tal sacrifício aceitar-te
Nem se condói do infeliz! Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?
III
Louco, aflito, a saciar-me VIII
D’agravar minha ferida, Devera, sim; mas pensava,
Tomou-me tédio da vida, Que de mim t’esquecerias,
Passos da morte senti; Que, sem mim, alegres dias
Mas quase no passo extremo, T’esperavam; e em favor
No último arcar da esp’rança, De minhas preces, contava
Tu me vieste à lembrança: Que o bom Deus me aceitaria
Quis viver mais e vivi! O meu quinhão de alegria
Pelo teu quinhão de dor!
IV
Vivi; pois Deus me guardava IX
Para este lugar e hora! Que me enganei, ora o vejo:
Depois de tanto, senhora, Nadam-te os olhos em pranto,
Ver-te e falar-te outra vez; Arfa-te o peito, e no entanto
Rever-me em teu rosto amigo, Nem me podes encarar;
Pensar em quanto hei perdido, Erro foi, mas não foi crime,
E este pranto dolorido Não te esqueci, eu to juro:
Deixar correr a teus pés. Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
V
Mas que tens? Não me conheces? X
De mim afastas teu rosto? Tudo, tudo; e na miséria
Pois tanto pôde o desgosto Dum martírio prolongado,
Transformar o rosto meu? Lento, cruel, disfarçado,
Sei a aflição quanto pode, Que eu nem a ti confiei;
Sei quanto ela desfigura, ‘Ela é feliz (me dizia)
E eu não vivi na ventura... Seu descanso é obra minha.’
Olha-me bem, que sou eu! Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!
VI
Nenhuma voz me diriges!... XI
Julgas-te acaso ofendida? Tantos encantos me tinham,
Deste-me amor, e a vida Tanta ilusão me afagava.
Que ma darias - bem sei; De noite, quando acordava,
Mas lembrem-te aqueles feros De dia em sonhos talvez!
Corações, que se meteram Tudo isso agora onde para?
Entre nós; e se venceram, Onde a ilusão dos meus sonhos?
Mal sabes quanto lutei! Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!
VII
Oh! se lutei!... mas devera
76 * Literatura Brasileira
XII XVII
Enganei-me!... - Horrendo caos Adeus qu’eu parto, senhora;
Nessas palavras se encerra, Negou-me o fado inimigo
Quando do engano, quem erra, Passar a vida contigo,
Não pode voltar atrás! Ter sepultura entre os meus;
Amarga irrisão! reflete: Negou-me nesta hora extrema,
Quando eu gozar-te pudera, Por extrema despedida,
Mártir quis ser, cuidei qu’era... Ouvir-te a voz comovida
E um louco fui, nada mais! Soluçar um breve Adeus!
XIII XVIII
Louco, julguei adornar-me Lerás porém algum dia
Com palmas d’alta virtude! Meus versos d’alma arrancados,
Que tinha eu bronco e rude D’amargo pranto banhados,
C’o que se chama ideal? Com sangue escritos; - e então
O meu eras tu, não outro; Confio que te comovas,
Stava em deixar minha vida Que a minha dor te apiade,
Correr por ti conduzida, Que chores, não de saudade,
Pura, na ausência do mal. Nem de amor, - de compaixão.”
XIV
Pensar eu que o teu destino b) Poesia indianista: É Gonçalves Dias
Ligado ao meu, outro fora. acusado de ter apresentado o índio transfigurado
Pensar que te vejo agora, num plano ideal. Observe-se que o indianismo
Por culpa minha, infeliz; gonçalvino é autêntico, pois o poeta, além de possuir
Pensar que a tua ventura sangue de índio (e fazer indianismo em “legítima
Deus ab eterno a fizera, defesa”), conheceu, diretamente e através de
No meu caminho a pusera... estudos, o índio americano. Seus índios são nobres,
E eu! eu fui que a não quis! corajosos, cavalheiros.
Lembram muito os cavaleiros da Idade Média.
XV Principais poemas: I - Juca-Pirama, Os Timbiras
És doutro agora, e pr’a sempre! (épico: o autor completou somente quatro dos dez
Eu a mísero desterro cantos planejados); O Canto do Guerreiro, Os
Volto, chorando o meu erro, Cantos do Piaga, Canção do Tamoio.
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto, CANÇÃO DO TAMOIO
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus! “Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
XVI É luta renhida:
Dói-te de mim, que t’imploro Viver é lutar.
Perdão, a teus pés curvado; A vida é combate,
Perdão!... de não ter ousado Que os fracos abate,
Viver contente e feliz! Que os fortes, os bravos,
Perdão da minha miséria, Só pode exaltar.
Da dor que me rala o peito
E se do mal que te hei feito, Um dia vivemos!
Também do mal que me fiz! O homem que é forte
Literatura Brasileira * 77
Não teme da morte; Porém se a fortuna,
Só teme fugir; Traindo teus passos,
No arco que entesa Te arroja nos laços
Tem certa uma presa Do inimigo falaz!
Quer seja tapuia, Na última hora
Condor ou tapir. Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
O forte, o cobarde
Impávido, audaz.
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
E cai como o tronco
Garboso e ferroz;
Do raio tocado,
E os tímidos velhos
Partido, rojado
Nos graves conselhos,
Por larga extensão;
Curvadas as frontes,
Assim morre o forte!
Escutam-lhe a voz!
No passo da morte
Domina, se vive; Triunfa, conquista
Se morre, descansa Mais alto brasão.
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir. As armas ensaia,
Não cures da vida! Penetra na vida:
Sê bravo, sê forte! Pesada ou querida,
Não fujas da morte, Viver é lutar.
Que a morte há de vir! Se o duro combate
E pois que és meu filho, Os fracos abate,
Meus brios reveste; Aos fortes, aos bravos,
Tamoio nasceste, Só pode exaltar.”
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro, DEPRECAÇÃO
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz. “Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto
Com denso velamem de penas gentis;
Teu grito de guerra
E jazem teus filhos clamando vingança
Retumbe aos ouvidos
Dos bens que lhes deste da perda infeliz!
D’inimigos transidos
Por vil comoção;
Tupã, ó Deus grande! teu rosto descobre:
E tremam d’ouvi-lo
Bastante sofremos com tua vingança!
Pior que o sibilo
Já lágrimas tristes choraram teus filhos,
Das setas ligeiras,
Teus filhos que choram tão grande mudança.
Pior que o trovão.
78 * Literatura Brasileira
Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto c) Poesia da natureza: Os críticos insistem em
Com denso velamem de penas gentis; afirmar que G. Dias é panteísta. E com razão, se
E jazem teus filhos clamando vingança entendermos por panteísmo a identificação dos
Dos bens que lhes deste da perda infeliz. sentimentos do poeta com a natureza. Ou mais: a
comunhão poeta-natureza. Isto se explica porque o
Teus filhos valentes, temidos na guerra, poeta viveu parte de sua infância no sítio Boa Vista,
No albor da manhã quão fortes que os vi! perto de Caxias, onde teve íntima ligação com a
A morte pousava nas plumas da frecha, natureza, sempre presente em suas obras.
No gume da maça, no arco Tupi! Celebrou o amanhecer, o entardecer, o sol, as
estrelas, a lua, o céu, as flores, a tempestade, as
E hoje em que apenas a enchente do rio florestas.
Cem vezes hei visto crescer e baixar...
Já restam bem poucos dos teus, qu’inda possam “Salve, ó Lua cândida,
Dos seus, que já dormem, os ossos levar. Que trás dos altos montes
Erguendo a fronte pálida,
Teus filhos valentes causavam terror, Dos negros horizontes
Teus filhos enchiam as bordas do mar, As sombras melancólicas
As ondas coalhavam de estreitas igaras, Vens ora afugentar!”
De frechas cobrindo o espaço do ar. (A Lua)
Já hoje não caçam nas matas frondosas “ Eu amo a noite solitária e muda,
A corça ligeira, o trombudo coati... Quando no vasto céu fitando os olhos,
A morte pousava nas plumas da frecha, Além do escuro, que lhe tinge a face,
No gume da maça, no arco Tupi! Alcanço deslumbrado
Milhões de sóis a divagar no espaço,
O Piaga nos disse que breve seria, Como em salas de esplêndido banquete
A que nos infliges cruel punição; Mil tochas aromáticas ardendo
E os teus inda vagam por serras, por vales, Entre nuvens d’incenso!”
Buscando um asilo por ínvio sertão! (A Noite)
Literatura Brasileira * 79
Em cismar, sozinho, à noite, tismo exagerado, melancolia perene, constante
Mais prazer encontro eu lá; tédio, pessimismo, vontade de sofrer, verdadeira
Minha terra tem palmeiras, obsessão pela morte, vontade de fugir desta
Onde canta o sabiá. realidade para um mundo indefinido com que esses
poetas sonhavam.
Minha terra tem primores, Observa com propriedade D. Fontana que
Que tais não encontro eu cá; “para ser poeta era necessário sofrer com desespero
Em cismar - sozinho, à noite - os embates da paixão desordenada e sentir na vida
Mais prazer encontro eu lá; boêmia os negros pesares do infortúnio; era preciso
Minha terra tem palmeiras, descrer da felicidade e morrer jovem”.
Onde canta o Sabiá.
herói.
No more! o never more!
O mal do século tomou conta desta geração.
Shelly
Compreenda-se por mal do século: subje-
80 * Literatura Brasileira
“Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Sombras do vale, noites da montanha,
Que o espírito enlaça à dor vivente, Que minh’alma cantou e amava tanto,
Não derramem por mim nem uma lágrima Protejei o meu corpo abandonado,
Em pálpebra demente. E no silêncio derramai-lhe um canto!
Literatura Brasileira * 81
Sem que última esperança me conforte, coração que se inspira sobre o eterno tema do
Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora amor”, a saudade, a terra natal, a mãe, a irmã, o lar,
Morte no coração, nos olhos morte!” a infância, a inocência - temas que tocarão sempre
a alma brasileira e, principalmente, a alma jovem e
sonhadora.
SONETO
b) A linguagem do poeta é de uma
“Pálida, a luz da lâmpada sombria, simplicidade que chega, às vezes, a ser ingênua. É
Sobre o leito de flores reclinada, límpida, espontânea, clara e viva como os
Como a lua por noite embalsamada, sentimentos que traduz. Essencialmente comu-
Entre as nuvens do amor ela dormia! nicativa.
82 * Literatura Brasileira
Livre filho das montanhas, Quem dera
Eu ia bem satisfeito, Que sintas
Da camisa aberto o peito, As dores
- Pés descalços, braços nus - De amores
Correndo pelas campinas Que louco
À roda das cachoeiras, Senti!
Atrás das asas ligeiras Quem dera
Das borboletas azuis! Que sintas...
- Não negues,
Naqueles tempos ditosos Não mintas...
la colher as pitangas, - Eu vi!...
Trepava a tirar as mangas. Valsavas:
Brincava à beira do mar, - Teus belos
Rezava às Ave-Marias, Cabelos,
Achava o céu sempre lindo, Já soltos,
Adormecia sorrindo Revoltos,
E despertava a cantar! Saltavam,
Voavam,
Oh! que saudades que tenho Brincavam
Da aurora da minha vida, No colo
Da minha infância querida Que é meu;
Que os anos não trazem mais! E os olhos
Que amor, que sonhos, que flores, Escuros
Naquelas tardes fagueiras Tão puros,
À sombra das bananeiras, Os olhos
Debaixo dos laranjais!” Perjuros
Volvias,
A VALSA Tremias,
Sorrias,
“Tu, ontem, P'ra outro
Na dança Não eu!
Que cansa, Quem dera
Voavas Que sintas
Co'as faces As dores
Em rosas De amores
Formosas Que louco
De vivo, Senti!
Lascivo Quem dera
Carmim; Que sintas!...
Na valsa, - Não negues,
Tão falsa, Não mintas...
Corrias, - Eu vi!...
Fugias, Meu Deus!
Ardente, Eras bela
Contente, Donzela,
Tranquila, Valsando,
Serena, Sorrindo,
Sem pena Fugindo,
De mim! Qual silfo
Literatura Brasileira * 83
Risonho Senti!
Que em sonho Quem dera
Nos vem! Que sintas!...
Mas esse - Não negues,
Sorriso Não mintas!...
Tão liso - Eu vi!...
Que tinhas Na valsa
Nos lábios Cansaste;
De rosa, Ficaste
Formosa, Prostrada,
Tu davas, Turbada!
Mandavas Pensavas,
A quem?! Cismavas,
Quem dera E estavas
Que sintas Tão pálida
As dores Então;
De amores Qual pálida
Que louco Rosa
Senti! Mimosa
Quem dera No vale
Que sintas!... Do vento
- Não negues, Cruento
Não mintas... Batida,
- Eu vi!... Caída
Calado, Sem vida
Sozinho, No chão!
Mesquinho, Quem dera
Em zelos Que sintas
Ardendo, As dores
Eu vi-te De amores
Correndo Que louco
Tão falsa Senti!
Na valsa Quem dera
Veloz! Que sintas!...
Eu triste - Não negues,
Vi tudo! Não mintas...
Mas mudo - Eu vi!...”
Não tive
Nas galas
Das salas, AMOR E MEDO
Nem falas,
Nem cantos, I
Nem prantos,
“Quando eu te fujo e me desvio cauto
Nem voz!
Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
Quem dera
Contigo dizes, suspirando amores:
Que sintas
- ‘Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!’
As dores
De amores Como te enganas! meu amor é chama
Que louco Que se alimenta no voraz segredo,
84 * Literatura Brasileira
E se te fujo é que te adoro louco... Vil, machucara com meu dedo impuro
És bela - eu moço; tens amor - eu medo!... As pobres flores da grinalda virgem!
É que esse vento que na várzea - ao longe, Oh! não me chames coração de gelo!
Do colmo o fumo caprichoso ondeia, Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Soprando um dia tornaria incêndio Se de ti fujo é que te adoro e muito,
A chama viva que teu riso ateia! És bela - eu moço; tens amor, eu - medo!...”
A mão tremente no calor das tuas, muda-se para Recife. Morre-lhe a esposa. Abandona
os estudos e passa a viver de fazenda em fazenda e
Amarrotado o teu vestido branco,
pelas cidades próximas à cidade natal. Nem o
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...
segundo casamento o corrige.
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio, OBRAS:
Olhos cerrados na volúpia doce, Noturnas (1861), O Estandarte Auriverde
Os braços frouxos - palpitante o seio!... (1863), Vozes da América (1864), Cantos e
Ai! se eu te visse em languidez sublime, Fantasias (1865), Cantos Meridionais (1869), Cantos
Na face as rosas virginais do pejo, do Ermo e da Cidade (1869), Anchieta ou O
Trêmula a fala a protestar baixinho... Evangelho das Selvas (1875), Cantos Religiosos (de
Vermelha a boca, soluçando um beijo!... parceria com o irmão) e Diário de Lázaro - sendo as
últimas duas, póstumas.
Diz: - que seria da pureza d’anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Aspectos mais importantes de sua obra:
- Tu te queimaras, a pisar descalça,
- Criança louca, - sobre um chão de brasas!
a) Poeta religioso: A obra máxima é Anchieta
No fogo vivo eu me abrasara inteiro! ou O Evangelho das Selvas (dez cantos, versos
Ébrio e sedento na fugaz vertigem brancos), em que Anchieta narra aos índios a vida,
Literatura Brasileira * 85
paixão e morte de Cristo. Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Deus é uma presença constante na obra do Legado acerbo da ventura extinta,
poeta; a Bíblia, o seu grande livro. Esta religiosidade Dúbios archotes que a tremer clareiam
(mais do que religião) era refúgio para os A lousa fria de um sonhar que é morto!
sofrimentos, para a infelicidade, sua constante Correi! Um dia vos verei mais belas
companheira. Que os diamantes de Ofir e de Golconda
Fulgurar na coroa de martírios
b) Poeta da natureza: Até hoje ninguém o Que me circunda a fronte cismadora!
superou como paisagista. Seus motivos São mortos para mim da noite os fachos,
paisagísticos vão dos “convencionais” (embora Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas,
grandiosos) como o mar, as serras, o Amazonas, aos E à vossa luz caminharei nos ermos!
mais “rústicos” como o mato virgem, o brejo, a Estrelas do sofrer, gotas de mágoa,
choça, a viola dos tropeiros, passando pelos mais Brando orvalho do céu! Sede benditas!
“delicados”: o sabiá, a rola, a borboleta, o vaga-lume. Oh! filho de minh’alma! Última rosa
Que neste solo ingrato vicejava!
c) Poeta do sofrimento: Foi o sofrimento moral Minha esperança amargamente doce!
que levou a inspiração de Varela ao ponto máximo. Quando as garças vierem do ocidente
Seu filho Emiliano, morto com três meses de idade, Buscando um novo clima onde pousarem,
inspirou-lhe “Cântico do Calvário”, a mais bela e Não mais te embalarei sobre os joelhos,
perfeita elegia escrita em língua portuguesa. Teve Nem de teus olhos no cerúleo brilho
pouquíssimos momentos de alegria e felicidade. A Acharei um consolo a meus tormentos!
vida foi-lhe ingrata. E o poeta confessa: Não mais te invocarei a musa errante
Nesses retiros onde cada folha
“Por toda a parte em que arrastei meu manto Era um polido espelho de esmeralda
Deixei um traço fundo de agonias!...” Que refletia os fugitivos quadros
Dos suspirados tempos que se foram!
Varela cantou ainda o amor, com acentos mais Não mais perdido em vaporosas cismas
realistas do que o fizeram seus coetâneos, em face Escutarei ao pôr do sol nas serras,
de maior experiência; foi precursor da poesia social Vibrar a trompa sonorosa e leda
e da poesia abolicionista. Por isto, Varela é Do caçador que aos lares se recolhe!”
considerado poeta de transição entre a segunda e (...)
terceira geração.
AVE! MARIA!
CâNTICO DO CALVÁRIO
À memória de meu filho.
Morto a 11 de dezembro de 1863. “A noite desce - lentas e tristes
Cobrem as sombras a serrania,
“Eras na vida a pomba predileta Calam-se as aves, choram os ventos,
Que sobre um mar de angústias conduzia Dizem os gênios: - Ave! Maria!
O ramo da esperança!... - Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava Na torre estreita de pobre templo
Apontando o caminho ao pegureiro!... Ressoa o sino da freguesia,
Eras a messe de um dourado estio!... Abrem-se as flores, Vésper desponta,
Eras o idílio de um amor sublime!... Cantam os anjos: - Ave! Maria!
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto, No tosco albergue de seus maiores,
Pomba - varou-te a flecha do destino! Onde só reinam paz e alegria,
Astro - engoliu-te o temporal do Norte! Entre os filhinhos o bom colono
Teto - caíste! Crença - já não vives! Repete as vozes: - Ave! Maria!
86 * Literatura Brasileira
E, longe, longe, na velha estrada, O ARRANCO DA MORTE
Para e saudades à pátria envia
Romeiro exausto que o céu contempla, “Pesa-me a vida já. Força de bronze
E fala aos ermos: - Ave! Maria! Os desmaiados braços me pendura.
Ah! já não pode o espírito cansado
Incerto nauta por feios mares, Sustentar a matéria.
Onde se estende névoa sombria,
Se encosta ao mastro, descobre a fronte, Eu morro, eu morro. A matutina brisa
Reza baixinho: - Ave! Maria! Já não me arranca um riso. A rósea tarde
Já não me doura as descoradas faces
Nas soledades, sem pão nem água, Que gélidas se encovam.
Sem pouso e tenda, sem luz nem guia,
Triste mendigo, que as praças busca, O noturno crepúsculo caindo
Curva-se e clama: - Ave! Maria! Só não me lembra o escurecido bosque,
Onde me espera, a meditar prazeres,
Só nas alcovas, nas salas dúbias, A bela que eu amava.
Nas longas mesas de longa orgia
Não diz o ímpio, não diz o avaro, A meia-noite já não traz-me em sonhos
Não diz o ingrato: - Ave! Maria! As formas dela - desejosa e lânguida -
Ao pé do leito, recostada em cheio
Ave! Maria! - No céu, na terra! Sobre meus braços ávidos.
Luz da aliança! Doce harmonia!
Hora divina! Sublime estância! A cada instante o coração vencido
Bendita sejas! - Ave! Maria!” Diminui um palpite; o sangue, o sangue,
Que nas artérias férvido corria,
Arroxa-se e congela.
Literatura Brasileira * 87
Pensamento gentil de paz eterna, Por minha face sinistra
Amiga morte, vem. Tu és o nada, Meu pranto não correrá.
Tu és ausência das moções da vida, Meus olhos moribundos
Do prazer que nos custa a dor passada. Terrores ninguém lerá.
Nunca julguei-te em meus sonhos Por isso, ó morte, eu amo-te, e não temo;
Um esqueleto mirrado; Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Nunca dei-te, pra voares, Leva-me à região da paz horrenda,
Terrível ginete alado. Leva-me ao nada, leva-me contigo.”
88 * Literatura Brasileira
como o voo do condor), ou hugoana (por inspirar-se Glorificou “os homens que foram mártires de
na poesia do Victor Hugo) que se livra do injustiças e modelos de grandezas de alma e
ultrarromantismo. Entrega-se, principalmente, a espírito” (Jesuítas, Pedro Ivo).
temas sociais e políticos (a abolição da escravatura,
a liberdade, o progresso, a República).
O NAVIO NEGREIRO
(Tragédia no mar)
CASTRO ALVES
(1847 - 1871) I
Nasceu na fazenda Cabeceiras, município de “‘Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Muritiba, BA, em 1847 e faleceu em Salvador em Brinca o luar - dourada borboleta -
1871, de tuberculose. E as vagas após ele correm... cansam
Depois dos estudos preparatórios em Como turbas de infantes inquietas.
Salvador, vai, em 1862, para Recife em cuja
Faculdade de Direito ingressa em 1864, sendo ‘Stamos em pleno mar... Do firmamento
colega do líder estudantil Tobias Barreto. Reforça a Os astros saltam como espumas de ouro...
incipiente campanha liberal-abolicionista. Faz-se O mar em troca acende as ardentias,
orador e poeta. - Constelações do líquido tesouro...
Em 1868, chega a São Paulo, acompanhado
da atriz Eugênia Câmara, com quem viera desde ‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Recife. Em São Paulo, torna-se aclamado orador e Ali s’estreitam num abraço insano,
poeta. Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Numa caçada nos arredores de São Paulo, Qual dos dous é o céu? Qual o oceano?...
fere o calcanhar esquerdo e acaba perdendo o pé.
Ferido em sua vaidade e já tuberculoso, volta à ‘Stamos em pleno mar... Abrindo as velas
Bahia, em 1869, certo já de sua morte próxima. Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
OBRAS: Como roçam na vaga as andorinhas...
Espumas Flutuantes (1870), A Cachoeira de
Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883), Gonzaga Donde vem? onde vai? Das naus errantes
ou A Revolução de Minas (drama encenado na Bahia Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?...
em 1867). Neste Saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço...
Os aspectos mais importantes de sua poesia
são o social e o amoroso: Bem feliz quem ali pode nest’hora
a) poeta social: “Corajoso defensor dos Sentir deste painel a majestade!...
princípios de liberdade, de justiça social, apologista Embaixo - o mar... em cima - o firmamento...
do progresso”. E no mar e no céu — a imensidade...
Defendeu, com versos inflamados e ousadas
figuras, os escravos, revelando corajosamente a Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!...
miséria física e moral em que eram obrigados a viver. Que música suave ao longe soa!
Citem-se as poesias: Vozes d’ África, Navio Negreiro, Meu Deus! como é sublime um canto ardente
A Mãe do Cativo, A Cruz da Estrada. Conhecido, por Pelas vagas sem fim boiando à toa!
isso como O Poeta da Abolição ou O Poeta dos
Escravos. Homens do mar! ó rudes marinheiros
Defendeu ainda o povo esquecido, inculto e Tostados pelo sol dos quatro mundos!
injustificado (O Povo ao Poder) e o “papel civilizado Crianças que a procela acalentara
da imprensa” (O Livro e a América). No berço destes pélagos profundos!
Literatura Brasileira * 89
Esperai! esperai! deixai que eu beba Os marinheiros Helenos,
Esta selvagem, livre poesia... Que a vaga jônia criou,
Orquestra - o mar, que ruge pela proa, Belos piratas morenos
E o vento, que nas cordas assobia... Do mar que Ulisses cortou,
Homens, que Fídias talhara,
Por que foges assim, barco ligeiro? Vão cantando em noite clara
Por que foges do pávido poeta?... Versos que Homero gemeu...
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira Nautas de todas as plagas!
Que semelha no mar - doudo cometa! Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu, que dormes das nuvens entre as gazas,
III
Sacode as penas, Leviathan do espaço!
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas... Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
II Como o teu mergulhar no brigue voador...
Porém que vejo eu aí... Que quadro d’amarguras!
Que importa do nauta o berço,
Que canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Donde é filho, qual seu lar?...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina... IV
90 * Literatura Brasileira
No entanto o capitão manda a manobra... Como Agar o foi também,
E após fitando o céu que se desdobra Que sedentas, alquebradas,
Tão puro sobre o mar, De longe... bem longe vêm
Diz, do fumo entre os densos nevoeiros: Trazendo com tíbios passos
‘Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Filhos e algemas nos braços,
Fazei-os mais dançar!...’ N’alma lágrimas e fel.
Como Agar sofrendo tanto
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . Que nem o leite do pranto
E da ronda fantástica a serpente Têm que dar para Ismael...
Faz doudas espirais!... Lá nas areias infindas
Qual num sonho dantesco as sombras voam... Das palmeiras no país,
Gritos, ais, maldições, preces ressoam Nasceram - crianças lindas,
E ri-se Satanás!... Viveram - moças gentis...
Passa um dia a caravana,
V Quando a virgem na cabana
Senhor Deus dos desgraçados! Cisma da noite nos véus ...
Dizei-me vós, Senhor Deus! ... Adeus! ó choça do monte!...,
Se é loucura... se é verdade ... Adeus! palmeiras da fonte!...
Tanto horror perante os céus?... ... Adeus! amores... adeus!...
Ó mar, por que não apagas Depois o areal extenso...
Co’a esponja de tuas vagas Depois o oceano de pó...
De teu manto este borrão?... Depois... no horizonte imenso
Astros! noites! tempestades! Desertos... desertos só...
Rolai das imensidades! E a fome, o cansaço, a sede...
Varrei os mares, tufão! Ai! quanto infeliz que cede
E cai p’ra não mais s’erguer!...
Quem são estes desgraçados, Vaga um lugar na cadeia,
Que não encontram em vós, Mas o chacal sobre a areia
Mais que o rir calmo da turba Acha um corpo que roer.
Que excita a fúria do algoz?...
Ontem a Serra Leoa,
Quem são? Se a estrela se cala,
A guerra, a caça ao leão,
Se a vaga à pressa resvala
O sono dormido à toa
Como um cúmplice fugaz,
Sob a tenda d’amplidão!
Perante a noite confusa...
Hoje o porão negro, fundo,
Dize-o tu, severa Musa,
Infecto, apertado, imundo,
Musa libérrima, audaz!...
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
São os filhos do deserto
Pelo arranco de um finado,
Onde a terra esposa a luz,
E o baque de um corpo ao mar...
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
Ontem plena liberdade...
São os guerreiros ousados,
A vontade por poder...
Que com os tigres mosqueados
Hoje cúm’lo de maldade!
Combatem na solidão...
Nem são livres p’ra morrer!...
Ontem simples, fortes, bravos...
Prende-os a mesma corrente
Hoje míseros escravos
- Férrea, lúgubre serpente -
Sem luz, sem ar, sem razão...
Nas roscas da escravidão...
São mulheres desgraçadas, E assim roubados à morte,
Literatura Brasileira * 91
Dança a lúgubre coorte TRAGÉDIA NO LAR
Ao som do açoute... Irrisão!...
“Na Senzala, úmida, estreita,
Senhor Deus dos desgraçados! Brilha a chama da candeia,
Dizei-me vós, Senhor Deus! No sapé se esgueira o vento.
Se eu deliro... ou se é verdade E a luz da fogueira ateia.
Tanto horror perante os céus?...
Ó mar, por que não apagas Junto ao fogo, uma africana,
Co’a esponja de tuas vagas Sentada, o filho embalando,
Do teu manto este borrão? Vai lentamente cantando
Astros! noites! tempestades! Uma tirana indolente,
Rolai das imensidades! Repassada de aflição.
Varrei os mares, tufão! ... E o menino ri contente...
Mas treme e grita gelado,
VI Se nas palhas do telhado
Existe um povo que a bandeira empresta Ruge o vento do sertão.
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa Se o canto para um momento,
Em manto impuro de bacante fria!... Chora a criança imprudente ...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta Mas continua a cantiga ...
Que impudente na gávea tripudia?!... E ri sem ver o tormento
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto, Daquele amargo cantar.
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... Ai! triste, que enxugas rindo
Os prantos que vão caindo
Auriverde pendão de minha terra, Do fundo, materno olhar,
Que a brisa do Brasil beija e balança, E nas mãozinhas brilhantes
Estandarte que a luz do sol encerra Agitas como diamantes
E as promessas divinas da esperança... Os prantos do seu pensar ...
Tu, que da Liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança, E voz como um soluço lacerante
Antes te houvessem roto na batalha, Continua a cantar:
Que servires a um povo de mortalha!...
“Eu sou como a garça triste
Fatalidade atroz que a mente esmaga!... “Que mora à beira do rio,
Extingue nesta hora o brigue imundo “As orvalhadas da noite
O trilho que Colombo abriu nas vagas, “Me fazem tremer de frio.
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia demais... Da etérea plaga “Me fazem tremer de frio
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo... “Como os juncos da lagoa;
Andrada! arranca esse pendão dos ares!... “Feliz da araponga errante
Colombo! fecha a porta dos teus mares!...” “Que é livre, que livre voa.
92 * Literatura Brasileira
“Se quer descansar as asas Amá-lo uma loucura! Alma de lodo,
“Tem a palmeira, a baunilha. Para ti - não há luz.
Tens a noite no corpo, a noite na alma,
“Tem a palmeira, a baunilha, Pedra que a humanidade pisa calma,
“Tem o brejo, a lavadeira, - Cristo que verga à cruz!
“Tem as campinas, as flores,
“Tem a relva, a trepadeira, Na hipérbole do ousado cataclisma
Um dia Deus morreu... fuzila um prisma
“Tem a relva, a trepadeira, Do Calvário ao Tabor!
“Todas têm os seus amores, Viu-se então de Palmira os pétreos ossos,
“Eu não tenho mãe nem filhos, De Babel o cadáver de destroços
“Nem irmão, nem lar, nem flores”. Mais lívidos de horror.
Literatura Brasileira * 93
Porém as frontes são puras Havíeis muito chorar
Mas vós nas faces impuras Havíeis muito gemer,
Tendes lodo, e pus nos pés. Diríeis a rir - Perdão?!
Deixai meu filho... arrancai-me
Porém vós, que no lixo do oceano Antes a alma e o coração!
A pérola de luz ides buscar,
Mergulhadores deste pego insano - Cala-te miserável! Meus senhores,
Da sociedade, deste tredo mar. O escravo podeis ver ...
Vinde ver como rasgam-se as entranhas E a mãe em pranto aos pés dos mercadores
De uma raça de novos Prometeus, Atirou-se a gemer.
Ai! vamos ver guilhotinadas almas - Senhores! basta a desgraça
Da senzala nos vivos mausoléus. De não ter pátria nem lar,
De ter honra e ser vendida
- Escrava, dá-me teu filho! De ter alma e nunca amar!
Senhores, ide-lo ver:
É forte, de uma raça bem provada, Deixai à noite que chora
Havemos tudo fazer. Que espere ao menos a aurora,
Ao ramo seco uma flor;
Assim dizia o fazendeiro, rindo, Deixai o pássaro ao ninho,
E agitava o chicote... Deixai à mãe o filhinho,
A mãe que ouvia Deixai à desgraça o amor.
Imóvel, pasma, doida, sem razão!
À Virgem Santa pedia Meu filho é-me a sombra amiga
Com prantos por oração; Neste deserto cruel!...
E os olhos no ar erguia Flor de inocência e candura.
Que a voz não podia, não. Favo de amor e de mel!
94 * Literatura Brasileira
Assim a escrava da criança ao grito Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
Destemida saltou, ... Mas um dia volvi aos lares meus.
E a turba dos senhores aterrada Partindo eu disse - ‘Voltarei!...descansa!...’
Ante ela recuou. Ela, chorando mais que uma criança,
Literatura Brasileira * 95
BOA NOITE E deixa-me dormir balbuciando:
- Boa-noite! - formosa Consuelo!...”
“Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio. Exercícios referentes ao poema “Adormecida”.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
1 Faça um levantamento das expressões que descrevem a
Não me apertes assim contra teu seio. “adormecida”:
__________________________________________________
Boa-noite!... E tu dizes - Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos... __________________________________________________
Mas não mo digas descobrindo o peito
- Mar de amor onde vagam meus desejos! 2. A figura da mulher apresentada no poema é:
( ) idealizada;
( ) sensual;
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
( ) sonhadora;
Já rumoreja o canto da matina. ( ) depreciada.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
Quem cantou foi teu hálito, divina! 3. A sinestesia (apelo ao sensorial) atua de modo decisivo na
descrição do cenário natural e humano. Transcreva, do poema,
expressões que signifiquem:
Se a estrela-d’alva os derradeiros raios a) O apelo olfativo:
Derrama nos jardins do Capuleto,
__________________________________________________
Eu direi, me esquecendo d’alvorada:
‘É noite ainda em teu cabelo preto...’ __________________________________________________
A frouxa luz da alabastrina lâmpada 4. Observando a estrutura do poema, divida-o em prólogo, trama
e epílogo:
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos __________________________________________________
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
__________________________________________________
__________________________________________________
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora... __________________________________________________
Marion! Marion!... É noite ainda.
b) Jogo amoroso:
Que importa os raios de uma nova aurora?!...
__________________________________________________
Como um negro e sombrio firmamento,
__________________________________________________
Sobre mim desenrola teu cabelo...
96 * Literatura Brasileira
c) Emoção do poeta diante da cena: França:
__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________
6. Transcreva os versos que apresentam, apesar dos tons
extremamente sensuais, o lirismo típico do amor platônico:
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________ ________________________________________________
(autor) ____________________________________________
Inglaterra: _________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
Literatura Brasileira * 97
4. Poesia Romântica
QUADRO SINÓPTICO
Gonçalves de
Magalhães
1ª
Gonçalves Dias
Álvares de Azevedo
Casimiro de Abreu
2ª
Fagundes Varela
Junqueira Freire
3ª Castro Alves
98 * Literatura Brasileira
EXERCÍCIOS sua visão ingênua e romântica da vida monacal. Do poema
e das informações recebidas, deduzimos tratar-se de:
I. Dê o que se pede!
__________________________________________________
1.
“Eu vivo sozinha; ninguém me procura! II - Identifique a geração a que pertencem os versos a seguir e
Acaso feitura cite as características encontradas nos mesmos:
Não sou de Tupã?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde,
- Tu és, me responde, a) “Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo;
- Tu és Marabá!” Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Analisando o vocabulário, principalmente, podemos deduzir Leva-me ao nada, leva-me contigo.”
que o texto acima pertence a que geração?
_____________________________________________________ Geração:_____________________________________________
Características:
2. Que figura, tipo ou herói substitui o cavaleiro medieval
no Brasil? Explique!
__________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________ __________________________________________________
_____________________________________________________ __________________________________________________
_____________________________________________________
b) “Ó Guerreiros da Taba sagrada,
Ó Guerreiros da Tribo Tupi,
4. Falam deuses nos cantos do Piaga,
“Era um sonho dantesco... O tombadilho Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.”
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar. Geração:____________________________________________
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite, Características:
Horrendos a dançar...”
(Navio Negreiro)
__________________________________________________
Pela linguagem grandiloquente, pela temática social
(abolicionista), concluímos serem os versos acima do poeta: __________________________________________________
_____________________________________________________
__________________________________________________
5.
__________________________________________________
“É noite ainda! Brilha na cambraia
- Desmanchado o roupão, a espádua nua
O globo de teu peito entre os arminhos __________________________________________________
Como entre as névoas se balouça a lua...
(...) c) “Oh! Bendito o que semeia
A frouxa luz da alabastrina lâmpada Livros...livros à mão cheia...
Lambe voluptuosa os teus contornos... E manda o povo pensar!
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos O livro caindo n’alma
Ao doudo afago de meus lábios mornos. É germe - que faz a palma.
(Boa-Noite) É chuva - que faz o mar.
O conteúdo do excerto do poema acima mostra-nos uma Vós, que o templo das ideias
Largo - abris às multidões,
visão mais realista do amor e há traços de erotismo. Tais P’ra o batismo luminoso
características são próprias do poeta:_________________ Das grandes revoluções
Agora que o trem de ferro
_______________________________________________
Acorda o tigre no cerro
Literatura Brasileira * 99
Luz! pois, no vale e na serra... ( ) o mal do século;
Que, se a luz rola na terra, ( ) a saudade;
Deus colhe gênios no céu!...” ( ) a dor.
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
d) Regionalista:
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________
e) Indianista:
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
b) Urbano: autor:
__________________________________________________ __________________________________________________
4. Quadro Sinóptico
1. José de Alencar
3. Visconde de Taunay
4. Bernardo Guimarães
5. Frânklin Távora
6. Martins Pena
“ Pouco importa que os fatos sejam físicos ou exprimir através dele. Tudo, para ser compreendido,
morais; eles sempre têm as suas causas. Tanto tem que se reduzir a um denominador comum: o
existem causas para a ambição, a coragem, a dinheiro”. (Arnold Hauser)
veracidade, como para a digestão, o movimento
muscular, e o calor animal. O vício e a virtude são c) Ciência:
produtos químicos como o açúcar e o vitríolo.” O enorme progresso científico da época gerou
(Taine) a teoria de que todos os fenômenos aparentemente
isolados, na verdade, pertenciam a uma única
realidade material. É notável o desenvolvimento das
1. Contexto históriCo ciências biológicas. A título de exemplo, citamos
algumas descobertas do período: a utilização do éter
A partir da segunda metade do século XIX, a na anestesia, a assepsia, a teoria microbiana das
concepção espiritualista de mundo que caracterizava doenças, a descoberta dos micro-organismos
o período romântico vai sendo substituída por uma responsáveis pelas sífilis, malária e tuberculose, a
visão mais científica e materialista, decorrente da descrição dos hormônios e vitaminas.
importância dada à ciência, vista como único Às anteriores, associam-se as buscas no
instrumento seguro para explicar a realidade. Para campo da calorimetria, ótica, termodinâmica,
compreender a nova estética cultural, analisemos telefonia, astronomia, eletricidade, eletromagne-
rapidamente o contexto histórico-cultural. tismo, etc.
Identificam-se a pesquisa e o uso de novas
a) Sociedade: fontes de energia, como o carvão, o petróleo e a
Na Europa, a aristocracia feudal e a Igreja eletricidade, o que propicia o desenvolvimento
deixaram de desempenhar um papel orientador na industrial, em especial, na metalurgia e nos ramos
vida política. A classe média, cuja maneira de viver têxteis.
nada tem em comum com a aristocracia tradicional, Paralelamente, acentua-se o interesse pela
passa a ocupar o primeiro plano no cenário histórico. biologia e pela genética, que até os anos anteriores
Mais tarde, classe média e operariado, cujos haviam permanecido limitadas pelas concepções
objetivos se confundiam, começam a separar-se. dos antigos.
Dessa separação decorre a consciência do Assim, João Batista Lamark (1744-1829)
proletariado e seu esforço no sentido de se formula as leis da evolução natural, assegurando
organizar. São essas condições que propiciam o que a formação ou desaparecimento de órgãos, nos
Manifesto Comunista de 1848, em que Marx e seres vivos, são condicionados pelo uso, e que as
Engels analisam a situação do proletariado e alterações ocorridas se integram ao patrimônio da
apontam soluções para os problemas detectados. espécie.
Fundamental é a referência ao Darwinismo,
b) Economia: princípio estabelecido por Darwin, de que há uma
O racionalismo econômico do período leva a comunhão de origem entre todos os seres vivos. É a
uma industrialização cada vez mais intensa, com a teoria da evolução natural das espécies, que expõe
consequente vitória do capitalismo. “O dinheiro é a uma concepção biológica da vida. Darwin publica,
grande força que domina toda a vida pública e em 1859, A Origem das Espécies provocando uma
privada, toda a força e todos os direitos passam a se verdadeira revolução no campo das ciências.
• Determinismo A ARTE
Doutrina de Taine, que explica a obra de arte
como produto de leis inflexíveis: raça, meio e A arte vai revelar todas essas modificações,
momento. Fundamentado nos princípios positivistas, suplantando o idealismo do período romântico,
Taine leva, em 1864, as novas concepções para o expressando a concepção predominantemente
domínio artístico, criando o determinismo literário, no materialista da vida, isenta de idealização e
prefácio de sua História da Literatura Inglesa. sentimentalismo. O povo torna-se tema da pintura,
Procura provar que a “personalidade” do fato que representa uma tomada de posição política
homem é condicionada por três aspectos: a) por parte dos pintores que seguem a nova estética.
Hereditariedade - a criança recebe caracteres do pai Para eles, verdade social e verdade artística se
e da mãe; b) Meio ambiente - a criança vai identificam, tornando-se a arte um meio de denúncia
aprendendo a se comportar em contato com outras da ordem social vigente, um protesto contra a classe
pessoas; c) Momento Histórico - em cada época da dominante.
história da humanidade a criança desenvolve-se e
forma sua personalidade segundo as influências de
então. O CONTEXTO BRASILEIRO
Quando o escritor realista se orientava por
esse cientificismo, elaborava obras classificadas Com a morte de Castro Alves, o romantismo
como naturalistas (um realismo mais científico). nacional se esgota e entra em franca decadência. Já
Resta-nos, ainda, citar a forte atuação que as em 1870, Sílvio Romero, crítico literário influenciado
ideias filosóficas de Arthur Schopenhauer (1788 - pelas novas ideias que varriam a Europa, passa o
1860) exercem sobre o pensamento europeu do atestado de óbito à poesia romântica, acusando-a de
século XIX. Através de três obras: Mundo como “lirismo retumbante e indianismo decrépito”. O centro
vontade e representação (1819), A autonomia da irradiador do novo espírito é Recife, onde pontifica a
vontade (1839) e O Fundamento Moral (1840), o figura intelectual de Tobias Barreto, agitando
filósofo alemão apresenta o homem condicionado a desordenadamente as doutrinas científicas e
determinismos morais. Segundo suas ideias, “o sociológicas europeias. Além disso, a Questão
mundo é a exteriorização de uma força cega, onde Coimbrã (1865) que introduziu o Realismo em
________________________________________________
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1. Indique as principais diferenças entre o realista e o romântico,
________________________________________________
quanto às suas relações com o mundo.
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8. No contexto cultural que preparou a estética realista, qual a
________________________________________________ classe de pessoas que estava começando a se organizar?
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OBRAS:
________________________________________________ 1ª Fase
________________________________________________ TEATRO: Desencantos (1861); Teatro (1863);
________________________________________________ Quase Ministro (1864).
________________________________________________ POESIA: Crisálidas (1864); Falenas (1870);
Americanas (1875).
CONTO: Contos Fluminenses (1870);
AUTORES E OBRAS DO PERÍODO Histórias da Meia-Noite (1873).
ROMANCE: Ressurreição (1872); A Mão e a
1. MACHADO DE ASSIS Luva (1876); laiá Garcia (1878).
(1839 - 1908) A primeira fase apresenta, entre outras, como
“O ponto mais alto e mais equilibrado da principais características: soluções estéticas mais
prosa realista brasileira acha-se na ficção de próximas do Romantismo; tênues traços de humor,
Machado de Assis”. (Alfredo Bosi) mas desprovidos de pessimismo, de ceticismo e de
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu e ironia; o sentimentalismo supera as sugestões
morreu no Rio de Janeiro, que deixou apenas uma sensualistas e erotizantes.
vez para umas férias em Friburgo.
b) Humor
Em Machado, o humor tem uma função crítica 4. TEMAS
ou demonstra pena da condição humana. No Com o que se estudou, já está claro que o
primeiro caso, torna-se ironia e, no segundo, esse tema obsessivamente repetido na ficção
humor nos leva, às vezes, a um misto de riso e machadiana é o homem, e que todos os demais
piedade, mas sobretudo conduz o leitor a uma elementos se conjugam para conduzir a ele. Mas sob
reflexão sobre a condição humana. que aspectos é encarado este homem?
No exemplo a seguir, Machado desvaloriza, a A visão machadiana é amarga, pessimista,
partir da ironia, a prática da dedicatória, invertendo o profundamente cética, uma vez que ele visualiza o
seu caráter positivo de agradecimento: ser humano como que preso em estreitos círculos -
biológicos, morais, psicológicos que, numa pressão
“Ao verme concêntrica, acabam esmagando qualquer valor
que positivo.
primeiro roeu as frias carnes O tema da degenerescência ou da
do meu cadáver
decomposição do homem é uma das tônicas do
dedico
como saudosa lembrança criador de Brás Cubas, o defunto-autor, que serve
estas para exemplificar os três aspectos mais significativos
memórias póstumas”. que assume o tema:
• a degenerescência biológica - que se
configura pela degradação por que passa o corpo do
Leia alguns trechos de obras de Machado de homem durante a vida, com suas doenças, velhice e
Assis que comprovam essas características: morte;
• a degenerescência moral - que se manifesta
“...Tu tens pressa de envelhecer e o livro anda na permanente acomodação entre as ações e as
devagar: tu amas a narração direta e nutrida, estilo intenções que levam o personagem a agir,
regular e fluente e este livro e o meu estilo são como despistando seus interesses mais baixos ou
os ébrios, guinam à direita, à esquerda, andam e justificando os próprios impulsos mediante
param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o raciocínios sutis e motivos nobres, mascarando
céu, escorregam e caem...” permanentemente a ambição e as pequenas
traições cotidianas;
“...Perdão, mas este capítulo devia ser • a degenerescência psicológica - que se
precedido de outro em que contasse um incidente, explica sobretudo no desarranjo dos sentidos, nas
ocorrido poucas semanas antes, dois meses antes situações de delírio, e que culmina com a loucura,
da partida de Sancha. Vou escrevê-lo; podia antepô- um dos aspectos mais encontradiços ao longo da
lo a este, antes de mandar o livro ao prelo, mas custa segunda fase.
muito alterar o número das páginas: vai assim
mesmo, depois a narração seguirá direita até o fim”. CONCLUINDO
Independentemente do pessimismo e do
_____________________________________________
OBRAS:
A Normalista (1893) 3. No Brasil, o Realismo iniciou-se em 1881, com a obra:
_________________________________________________
Sem sacerdotes, a crença morta
_________________________________________________
Sentir, e o susto
Ver, e o extermínio, entrando a porta 2. Que tipo de cultura é evocada no decorrer de todo o poema ?
_________________________________________________
_________________________________________________
5. Na 12ª estrofe, o poeta fala sobre o ofício de escrever. É,
segundo ele, fácil ou difícil escrever bem? Por quê? _________________________________________________
_________________________________________________ 10. Considerando que a Língua é uma realidade histórica sujeita
_________________________________________________ a mudanças, o ideal do poeta (cristalização da linguagem) é
viável? Por quê?
6. O texto reflete a impassibilidade pregada pelos poetas _________________________________________________
parnasianos? Explique.
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
Esteticismo
Universalismo:
Realismo Arte
Orientalismo,
Materialismo e pela
Helenismo
Pessimismo Arte
e Romanismo
Aproximação das
artes plásticas:
poesia“Pintura”
e poesia “Escultura”.
CARACTERÍSTICAS: OBRAS:
Canções Românticas; Meridionais; Versos e
Além das características gerais da ESCOLA
Rimas; Sonetos e Poemas; Poesias (4 séries); Livro
REALISTA, o Parnasianismo exigia técnica de
de Ema.
composição muito severa.
“Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Quanta gente que ri, talvez, consigo
Casualmente, uma vez, de um perfumado Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Contador sobre o mármor luzidio, Como invisível chaga cancerosa!
Entre um leque e o começo de um bordado.
Quanta gente que ri, talvez existe,
Fino artista chinês, enamorado, Cuja ventura única consiste
Nele pusera o coração doentio Em parecer aos outros venturosa!”
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio. Observe:
a) Opção pelo soneto, forma cara aos parna-
Mas, talvez por contraste à desventura, sianos.
Quem o sabe?... de um velho mandarim b) Poesia existencialista/psicológica, tematizan-
Também lá estava a singular figura: do a dicotomia existente entre essência e
aparência.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, c) Percepção negativa do homem, enfatizando a
Sentia um não sei quê com aquele chim dor, a angústia e a miséria humana.
De olhos cortados à feição de amêndoa.”
AS POMBAS
2. RAIMUNDO CORREIA
“Vai-se a primeira pomba despertada...
(Poeta das Pombas)
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
(1860-1911)
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
CARACTERÍSTICAS:
E à tarde, quando a rígida nortada
- Sentimento de transitoriedade.
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
- Preocupação existencial.
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
- Grande sensibilidade e poder pictórico.
- A poesia atinge profundidade psicológica. Voltam todas em bando e em revoada...
- Poesia filosófica e pessimista.
Também dos corações onde abotoam
OBRAS: Os sonhos, um por um, céleres voam,
Primeiros Sonhos; Sinfonias; Versos e Como voam as pombas dos pombais;
Versões; Aleluias; Poesias.
No azul da adolescência as asas soltam,
COMPOSIÇÕES CONSAGRADAS: Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
Mal Secreto, As Pombas, A Cavalgada, E eles aos corações não voltam mais... ”
Banzo.
MAL SECRETO
“Noite ainda, quando ela me pedia E eu vos direi: ‘Amai para entendê-las!
Entre dois beijos que me fosse embora, Pois só quem ama pode ter ouvido
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: Capaz de ouvir e de entender estrelas.’”
LÍNGUA PORTUGUESA
(1866 - 1918)
2 - Coloque ‘x’ nas afirmações certas:
Curitibano de nascimento, viveu no Rio, sendo ( ) O surgimento da poesia parnasiana fez desaparecer,
na época, o interesse pela poesia romântica, cujo
muito apreciado pelo seu humor e poesia satírica. último grande nome fora Castro Alves, falecido em
1871.
Sua poesia é difícil pela preocupação constante com ( ) O Parnasianismo constitui-se numa corrente poética de
a rima rara, tornando o vocabulário inatingível e vanguarda e teve, por isso, enorme repercussão e
aceitação no movimento modernista.
bizarro. Apesar do homem brincalhão, suas poesias ( ) Em geral, o poeta parnasiano preza mais a forma do
refletem preocupação acentuada com a morte. que o conteúdo.
( ) Uma das tarefas centrais do Parnasianismo foi dar
roupagem nova à tradição clássica, fato que se exprime
OBRAS: principalmente na utilização de fontes latinas ou
gregas, mais ou menos adaptadas ao gosto moderno.
Marcha Fúnebre; Últimas Rimas; Mortalha. ( ) O Parnasianismo, com a máxima da “arte pela arte”,
( ) “Da serra azul, onde a palmeira medra, Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Onde paira a neblina, se deriva, Em tua boca o suave e idílico descante.
A gotear de lisins de esconsa pedra, Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Um fio de água viva.” Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa;
5. Marque apenas uma alternativa correta: A rima cujo som, de uma harmonia creba,
a) O Parnasianismo caracterizou-se por: Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;
( ) culto de forma, esteticismo, sobriedade. Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
( ) reação contra a poesia individualista, reposição dos Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
ideais clássicos da Arte, tendência ao mistério e Ora o surdo rumor de mármores partidos”.
retratação de estado de alma. (Francisca Júlia)
______________________________________________ Vocabulário:
1. nuvem
2. tecido fino
b) Ainda de acordo com essa estrofe e com os dois versos 3. pequeno arbusto
iniciais do segundo quarteto, que comportamento a musa 4. aromático
deve rejeitar para manter suas características?
______________________________________________
b) Esquema rímico:
________________________________________________
2. A “musa impassível” parnasiana é fundamentalmente
antirromântica. Como o título e os seis versos iniciais do ________________________________________________
poema justificam a 1ª parte dessa afirmação?
________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
________________________________________________
3. Identifique e comprove três características parnasianas do
texto. ________________________________________________
_________________________________________________ ________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________ d) Linguagem:
_________________________________________________
________________________________________________
_________________________________________________
________________________________________________
_________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
É preciso também que não vás nunca Era a dança macabra e multiforma de um
escolher tuas palavras sem ambiguidade verme estranho, colossal enorme
nada mais claro que a canção cinzenta do demônio sangrento da luxúria.”
onde o Indeciso se junta ao Precioso” (Dança do Ventre)
CARACTERÍSTICAS:
CARNAL E MÍSTICO
Sua poesia carrega-se de impulsos pessoais e
dos sofrimentos ocasionados pela miséria, pelo “Pelas regiões tenuíssimas da bruma
desprezo e por sua condição racial. vagam as Virgens e as Estrelas raras...
Sua poesia era a sua vida porque, através Como que o leve aroma das searas
dela, podia levantar-se na escala social, todo o horizonte em derredor perfuma.
beneficiando-se do seu engenho e ombrear-se com
os brancos que lhe admiravam o gênio. Dois Numa evaporação de branca espuma
assuntos predominaram em sua obra: vão diluindo as perspectivas claras...
a) a penetração no seu íntimo, desvendando Com brilhos crus e fúlgidos de tiaras
um mundo de amargura, tanto mais comovente as Estrelas apagam-se uma a uma.
quanto era real o sentido de solidão que sentia,
negro numa terra de escravocratas. Seu mundo Então, na treva, em místicas dormências,
interior é selvagem e sombrio; desfila, com sidéreas latescências,
b) a visão das coisas, procurando uma das Virgens o sonâmbulo cortejo...
significação para o mundo, onde via a miséria e a
desgraça, a injustiça e a dor. Um mundo exterior que Ó Formas vagas, nebulosidades!
equivalia ao seu mundo interior, uma projeção Essência das eternas virgindades!
apenas do seu íntimo. Ó intensas quimeras do Desejo...”
Seu verso delira em sons e cores, altamente
dramático, poucas vezes obscuro, mas sempre
místico, extraterreno, quase surrealista, cheio de ANTÍFONA
visões que o torturavam e magoavam intensamente.
O poeta canta o estigma de sua raça e se deixa
“Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
seduzir pelas formas brancas. O poema “Antífona”
de luares, de neves, de neblinas!...
expressa a obsessão e o fascínio pelas cores alvas.
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
A poesia reflete a consciência obcecada do poeta
Incensos dos turíbulos das aras...
mediante a fusão de todas as sensações: cor, som,
cheiro, tato e paladar. Sua comunicação com o leitor
Formas do Amor, constelarmente puras,
culto é extraordinária, porque tem máxima
de Virgens e de Santas vaporosas...
capacidade de expressão para os mistérios da vida,
Brilhos errantes, mádidas frescuras
antes através da música e símbolos que da
e dolências de lírios e de rosas...
ordenação lógica do pensamento.
Dentro do Simbolismo, sua obra significa tanto
Indefiníveis músicas supremas,
quanto a de qualquer poeta nacional ou estrangeiro
harmonias da Cor e do Perfume...
por sua pungente irmanação com o sofrimento.
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Produziu uma poesia que procura expressar o
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
elemento transcendente, vago, nebuloso da vida.
• O terceiro momento reflete resignação e fé, Os seres virginais que vêm da Terra
representado pela obra Últimos Sonetos, publicados ensanguentados da tremenda guerra,
em 1905. A revolta e o desespero cedem lugar a um embebedados do sinistro vinho.”
período de resignação e fé, da sublimação das
misérias humanas e apresenta o espírito de renúncia
conquistado pelo poeta. 2. ALPHONSUS DE GUIMARAENS
O tom de confiança absoluta na salvação pelo (Ouro Preto, 1870 - 1921)
exercício da “vida obscura” e pelo percurso da “via Alphonsus Henrique da Costa Guimaraens é
dolorosa” está presente nos sonetos a seguir, outro nome de expressão do Simbolismo brasileiro.
pertencentes à última fase da poesia de Cruz e Exceto pelo abalo sentimental que teve aos 16
Sousa. anos com a morte da prima Constança que amava,
teve uma vida tranquila e que se reflete na sua obra.
SORRISO INTERIOR A poesia de Alphonsus de Guimaraens é
mansa, dolente, amarga, mas suave, sem os toques
“O ser que é ser e que jamais vacila trágicos do poeta negro (Cruz e Sousa), a quem
nas guerras imortais entra sem susto, tanto admirou. Simbolista por excelência, seus
leva consigo este brasão augusto poemas caracterizavam-se pela musicalidade, voca-
do grande amor, da nobre fé tranquila. bulário expressivo e anunciam uma busca da perene
espiritualização.
Os abismos carnais da triste argila
ele os vence sem ânsias e sem custo... OBRAS:
fica sereno, num sorriso justo, Em Setenário das Dores de Nossa Senhora, o
enquanto tudo em derredor oscila. lirismo religioso nos revela o fascínio perante as
verdades do Cristianismo, mas impregnado na
Ondas interiores de grandeza contemplação mística da mulher, bem longe da
dão-lhe essa glória em frente à Natureza, sensualidade parnasiana de Bilac; Dona Mística
esse esplendor, todo esse largo eflúvio. (1899); Kiriale (1902); uma obra póstuma: Pastoral
aos Crentes do Amor e da Morte (1923).
O ser que é ser transforma tudo em flores... Além do lirismo religioso e do amoroso,
e para ironzar as próprias dores. Alphonsus tem a preocupação com os mistérios da
Canta por entre as águas do dilúvio!” existência, procurando fugir à desgraça e à dor,
solitário na sua fantasia.
Sua poesia é marcada também pelo
CAMINHO DA GLÓRIA medievalismo (fuga para o mundo da fantasia onde
o poeta consegue realizar-se como o cavalheiro
“Este caminho é cor-de-rosa e é de ouro. medieval ou como o trovador das cantigas de amor,
A CATEDRAL
_________________________________________________
_________________________________________________
CORRE MAIS QUE UMA VELA
4. Aponte características simbolistas no poema. “Corre mais que uma vela, mais depressa,
_________________________________________________ Ainda mais depressa do que o vento,
_________________________________________________ Corre como se fosse a treva espessa
_________________________________________________ Do tenebroso véu do esquecimento.
_________________________________________________
É uma corrida doida, essa corrida.
Mais furiosa do que a própria vida,
Características:
Mais veloz que as notícias infernais...
conteúdo:
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SIMBOLISMO _________________________________________________
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COMPARE AS CARACTERÍSTICAS:
1ª Fase
3ª Fase
2. Alphonsus de Guimaraens
3. Emiliano Perneta
8. Complete as frases com os conceitos adequados: 13. “Dar nome a um objeto é aniquilar três quartos da fruição do
a) O país que deu origem ao Simbolismo no mundo foi poema, que deriva da satisfação de adivinhar pouco a pouco:
_______________________________________________ . sugeri-Io, evocá-Io, isto é que encanta a imaginação.”
A afirmação acima, do poeta francês Mallarmé, refere-se ao:
23. A poesia de Alphonsus de Guimaraens caracteriza-se: “Eu creio! Pude crer. Ah! Finalmente pude,
a) pela extrema perfeição formal, que a leva a ser Rompendo das paixões e o espesso torvelinho,
considerada modelo da estética parnasiana. Vibrando de prazer as cordas do alaúde,
b) por exprimir uma visão específica da vida, a de que o Ver a estrela da fé brilhar em meu caminho!
homem precisa viver intensamente antes que a morte o
aniquile. Eu sinto-me tão bem dentro deste alvo linho,
c) pelo misticismo e pela atmosfera de sonho e de mistério. Que até me refloriu a graça e a saúde;
d) pela obsessão da morte do filho único, exaltado num de Ando quase a voar, sou quase um passarinho,
seus poemas famosos. E penso que voltou a flor da juventude...
e) por ser repleta de símbolos filosóficos que retomam temas
da Antiguidade medieval. Que doirada ilusão! que divina loucura!
Só me arrebata o olhar a luminosa altura,
24. Análise de texto: Onde fulgem de amor todos os astros nus...
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a). Qual a situação da amada no momento da escritura do
poema? Baseado neste fato, descubra quem é o autor do _________________________________________________
poema.
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b) A referência a estrelas poderia caracterizar o poema como de _________________________________________________
autoria de Olavo Bilac? A visão do elemento feminino condiz
com formalização da mulher na poética deste poeta? _________________________________________________
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SURREALISMO
Trechos do manifesto dadaísta:
Em 1924, André Breton, um poeta francês,
lança o Manifesto do Surrealismo, dando início
1 - “Eu redijo um manifesto e não quero nada, àquele que seria, cronologicamente, o último
eu digo portanto certas coisas e sou por princípio movimento da vanguarda europeia dos anos 20.
contra os manifestos, como sou também contra os O Surrealismo apresenta ligações com o
princípios. Dadaísmo e o Futurismo. Lutando pela elaboração
2 - Sabe-se pelos jornais que os negros Krou de uma nova cultura, os surrealistas propunham a
denominam a cauda de uma vaca santa: DADÁ. O destruição da sociedade e sua recriação a partir de
cubo é a mãe em certa região da Itália: DADÁ. Um novas técnicas.
cavalo de madeira, a ama de leite, dupla afirmação Nesse aspecto, divergem dos dadaístas, que
em russo e em romeno: DADÁ. tinham apenas caráter destruidor.
Em termos de expressão artística, a grande
3 - DADÁ NÃO SIGNIFICA NADA.
novidade apresentada pelo Surrealismo foi a escrita
4 - A obra de arte não deve ser a beleza em si
automática, ou seja, um método em que o escritor
mesma, porque a beleza está morta.
deve deixar-se levar pelos seus impulsos,
5 - Como querer ordenar o caos que constitui
registrando tudo que lhe for ditado pela inspiração,
esta infinita informe variação: o homem? O princípio:
sem se preocupar com a ordem, a lógica, ou
‘ama teu próximo’ é uma hipocrisia. ‘Conhece-te’ é
quaisquer outros fatores que possam representar
uma utopia, porém mais aceitável porque contém a coerção de seu espírito criador.
maldade. Nada de piedade. Após a carnificina, resta- Os surrealistas procuram atingir uma outra
nos a esperança de uma humanidade purificada. realidade, situada no plano do subconsciente ou do
6 - ... nasceu DADÁ de um desejo de inconsciente, realidade que é diferente da realidade
independência, de desconfiança na comunidade. empírica, da realidade objetiva.
Aqueles que nos pertencem conservam sua Por isso, o sonho passa a ser a grande arma
liberdade. Nós não reconhecemos nenhuma teoria.” de conhecimento proposto pelos surrealistas. No
5 - O sonho não pode ser ele também também algumas passagens do Prefácio
Interessantíssimo de Mário de Andrade em que o
aplicado à solução das questões fundamentais da
poeta opta pela escrita automática:
vida?
6 - Conta-se que, diariamente, na hora de “Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem
adormecer, Saint-Pol-Roux mandava colocar sobre pensar tudo o que meu inconsciente me grita.
a porta de sua mansão de Camaret um aviso onde Penso depois: não só para corrigir, como
se lia: ‘O Poeta trabalha’. para justificar o que escrevi.”
7 - ... o maravilhoso é sempre belo, não
importa qual maravilhoso seja belo, nada há mesmo “Quem leciona História no Brasil obedecerá a
senão o maravilhoso que seja belo. uma ordem que, certo, não consiste, em
8 - ‘Surrealismo’, s.m. Automatismo psíquico estudar a Guerra do Paraguai antes do ilustre
pelo qual alguém se propõe a exprimir, seja acaso de Pedro Álvares. Quem canta seu
verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra subconsciente seguirá a ordem imprevista
maneira, o funcionamento real do pensamento. das comoções, das associações de imagens,
Ditado do pensamento, na ausência de todo controle dos contatos exteriores.
exercido pela razão, fora de qualquer preocupação Acontece que o tema às vezes descaminha.”
3. QUANTO À ÉPOCA FOCALIZADA “Médico e rico, pela fortuna da mulher, ele não
Lima Barreto prende-se à realidade histórica, andava satisfeito. A ambição de dinheiro e o desejo
documentando, através de ficção, os acontecimen- de nomeada esporeavam-no... ” (idem)
tos importantes da vida republicana.
“Falavam ao ouvido de Floriano, cochi-
chavam, batiam-lhe nas espáduas. O marechal d) critica à burocracia medíocre e inútil:
quase não falava: movia com a cabeça ou
pronunciava um monossílabo ...” “Certa vez, foi atacado de uma pequena crise
(Triste fim de Policarpo Quaresma) de nervos, porque, por mais papéis que consultasse
no arquivo, não havia meio de encontrar uma
[O marechal Floriano Peixoto foi presidente da disposição* que fixasse o número de setas que
República durante 1891 -1894]. atravessam a imagem de São Sebastião. (...)
Beldoregas não podia compreender que o número
4. QUANTO À TEMÁTlCA de dias em que chove no ano não pudesse ser
Lima Barreto pertence àquela classe de fixado; e se ainda não estava, em aviso ou portaria,
muito fino para não dar importância a uns sabichões Eu quereria muito me alongar sobre este seu
de aldeia que, por terem lido alguns autores, julgam livro de contos, Urupês, mas não posso agora. Dar-
que ele não os lê também; mas, quando um me-ia ele motivo para discorrer sobre o que penso
estudioso, um artista, um escritor, surja onde ele dos problemas sociais que ele agita; mas são tantos
surgir no Brasil, aparece no Rio, sem esses espinhos que me emaranho no meu próprio pensamento e
de ouriço, todo o carioca independente e autônomo tenho medo de fazer uma cousa confusa, a menos
de espírito está disposto a aplaudi-lo e dar-lhe o que não faça com pausa e tempo. Vale a pena
apoio da sua admiração. Não se trata aqui da esperar.
barulheira da imprensa, pois essa não o faz, senão Entretanto, eu não poderia deixar de referir-
para aqueles que lhe convêm, tanto assim que me ao seu estranho livro, quando me vejo obrigado
sistematicamente esquece autores e nomes que, a dar notícia de um opúsculo seu que me enviou.
com os homens dela, todo o dia e hora lidam. Trata-se do Problema vital, uma coleção de artigos,
O Senhor Monteiro Lobato com seu livro publicados por ele, no Estado de S. Paulo, referentes
Urupês veio demonstrar isso. Não há quem não o à questão do saneamento do interior do Brasil.
tenha lido aqui e não há quem não o admire. Não foi Trabalhos de jovens médicos como os
preciso barulho de jornais para seu livro ser lido. Há doutores Artur Neiva, Carlos Chagas, Belisário Pena
um contágio para as boas obras que se impõem por e outros, vieram demonstrar que a população roceira
simpatia. do nosso país era vítima desde muito de várias
O que é de admirar em tal autor e em tal obra, moléstias que a alquebravam fisicamente. Todas
é que ambos tenham surgido em São Paulo, tão elas têm uns nomes rebarbativos que me custam
formalista, tão regrado que parecia não admitir nem muito a escrever; mas Monteiro Lobato os sabe de
um nem a outra. cor e salteado e, como ele, hoje muita gente.
Não digo que, aqui, não haja uma escola Conheci-as, as moléstias, pelos seus nomes
delambida de literatura, com uma retórica trapalhona vulgares: papeira, opilação, febres e o mais difícil
de descrições de luares com palavras em “ll” e de que tinha na memória era – bócio. Isto, porém, não
tardes de trovoadas com vocábulos com “rr” vem ao caso e não é o importante da questão.
dobrados: mas São Paulo, com as suas elegâncias Os identificadores de tais endemias julgam ser
ultraeuropeias, parecia-me ter pela literatura, senão necessário um trabalho sistemático para o
o critério da delambida que acabo de citar, mas um saneamento dessas regiões afastadas e não são só
outro mais exagerado. estas. Aqui, mesmo, nos arredores do Rio de
O sucesso de Monteiro Lobato, lá, retumbante Janeiro, o doutor Belisário Pena achou 250 mil
e justo, fez-me mudar de opinião. habitantes atacados de maleitas, etc. Residi, durante
A sua roça, as suas paisagens não são a minha meninice e adolescência, na ilha do
cousas de moça prendada, de menina de boa Governador, onde meu pai era administrador das
família, de pintura de discípulo ou discípula da Colônias de Alienados. Pelo meu testemunho, julgo
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! Já o verme - este operário das ruínas -
O beijo, amigo, é a véspera do escarro, Que o sangue podre das carnificinas
A mão que afaga é a mesma que apedreja. Come, e à vida em geral declara guerra,
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
Apedreja essa mão vil que te afaga, E há de deixar-me apenas os cabelos,
Escarra nessa boca que te beija!” Na frialdade inorgânica da terra!”
ETERNA MÁGOA
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
“O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste Siga o roteiro de forma a elaborar um resumo que lhe
Para todos os séculos existe possibilite uma visão geral do Pré-Modemismo.
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O POETA DO HEDIONDO
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“Sofro aceleradíssimas pancadas _________________________________________________
No coração. Ataca-me a existência _________________________________________________
A mortificadora coalescência
Das desgraças humanas congregadas!
- traço renovador:
Em alucinatórias cavalgadas, _________________________________________________
Eu sinto, então, sondando-me a consciência _________________________________________________
A ultrainquisitorial clarividência
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De todas as neuronas acordadas!
Euclides da Cunha
Lima Barreto
Monteiro Lobato
Graça Aranha
Futurismo
Cubismo
Dadaísmo
Surrealismo
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_________________________________________________ _________________________________________________
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5. (CESCEM - SP) Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima
Barreto, é:
a) um livro de memórias em que a personagem-título,
através de um artifício narrativo, conta as atribulações de
c) Há uma relação entre o particular e o universal no poema.
sua vida até a hora da morte.
b) a história de um visionário e nacionalista fanático que Explique-a. A sua resposta justificaria o uso de maiúsculas em
busca, ingenuamente, resolver sozinho os males sociais “Consciência Humana”? Por quê?
de seu tempo.
c) uma autobiografia que expõe sua insatisfação em relação _________________________________________________
à burocracia carioca.
d) o relato das aventuras de um nacionalista ingênuo e
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fanático que lidera um grupo de oposição no início dos
tempos republicanos.
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e) o retrato da vida e morte de um humilde burocrata,
conformado, a contragosto, com a realidade social de seu
tempo. _________________________________________________
Todos os acontecimentos estudados, prepa- Lopes, em São Paulo), que acabariam por triunfar
raram terreno para o surgimento do Modernismo. com a Revolução de Outubro de 1930. A época, das
No Brasil, esse movimento se divide em 3 mais agitadas da história do país, foi ainda marcada
fases: por outros acontecimentos de relevo, como a
1ª fase: vai de 1922 a 1930; peripécia da Coluna Prestes (1925 - 1927), crise
2ª fase: de 1930 a 1945; econômica do café, devido ao “crack” da Bolsa de
3ª fase: de 1945 a mais ou menos 1960. New York (1929), fundação do Partido Comunista
Brasileiro (março de 1922).
A seguir, você verá as características e
principais representantes de cada uma das fases.
2. a semana De arte moDerna
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1. Leia este fragmento da página de abertura de Iracema, de
José de Alencar, e compare a caracterização romântica do ________________________________________________
índio com sua caracterização modernista, por Mário de
Andrade. ________________________________________________
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“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no
horizonte, nasceu Iracema. ________________________________________________
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos
mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de
palmeira.
46. ANGLOMANIA
“Tomamos board-house francesa em Albany
PRONOMINAIS Street não longe do Hyde Park.
Durante o dia almoçávamos a cidade
“Dê-me um cigarro visitando entre jardins múmias do British Museum.
Diz a gramática Chegava a noite pontual e policemen corriam
Do professor e do aluno pesados estores do céu para alexandrinais poetas
E do mulato sabido compatriotas percorrerem de tube o famoso astro da
Mas o bom negro e o bom branco metrópole cor-de-cinza.”
Da Nação Brasileira (MSJM)
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro” 60. NAMORO
“Vinham motivos como gafanhotos para eu e
Célia comermos amoras em moitas de bocas.
Requeijões fortavam mesas de sequilhos.
RELICÁRIO Destinos calmos como vacas quietavam nos
campos de sol parado. A vida ia lenta como poentes
“No baile da Corte e queimadas.
Foi o Conde d’Eu quem disse Um matinal arranjo desenvolto de ligas
Pra Dona Benvinda morenava coxas e cachos.”
Que farinha de Suruí (MSJM)
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí” “A situação ‘revolucionária’ desta bosta mental
sulamericana, apresentava-se assim: o contrário do
burguês não era o proletário - era o boêmio! As
massas, ignoradas no território e como hoje, sob a
Nos fragmentos romanescos a seguir, completa devassidão econômica dos políticos e dos
retirados de Memórias Sentimentais de João ricos. Os intelectuais brincando de roda. De vez em
Miramar e Serafim Ponte Grande, veicula-se certa quando davam tiros entre rimas. (...) Com pouco
crítica aos costumes, à cultura brasileira e ao dinheiro, mas fora do eixo revolucionário do mundo,
processo de aculturação pelo qual já passava o ignorando o manifesto comunista e não querendo
Brasil. Note-se que o prosador rompe com a lógica, ser burguês, passei naturalmente a ser boêmio.”
utilizando-se de uma linguagem metonímica e (SPG)
neológica.
A moça se lembrava:
“Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha
[do horizonte? - A gente fica olhando...
- O que eu vejo é o beco.” A meninice brincou de novo nos olhos dela.
“Consolou-se depois: ‘O Senhor jamais erra... O mar era um irmão da tua raça.
Via! Esquece a emoção que na alma tumultua.
Juca Mulato! volta outra vez para a terra, Um dia de madrugada
procura o teu amor, numa alma irmã da tua. uma nesga de terra e um porto.
Armazéns com depósitos de escravos
Esquece calmo e forte. O destino que impera, e o gemido dos teus irmãos amarrados com
um recíproco amor às almas todas deu. [coleiras de ferro.
Em vez de desejar o olhar que te exaspera,
procura esse outro olhar, que te espreita e te espera, Principiou aí a tua história.
que há por certo um olhar que espera pelo teu...’
Poema que fixa o gênio triste do brasileiro. O resto, o que ficou pra trás...
... o Congo, as florestas, o mar,
E, na noite estival, arrepiadas, as plantas tinham deixam queixa na corda no urucungo.”
na coma negra umas roucas gargantas bradando,
sob o luar opalino, de chofre:
Sofre, Juca Mulato, é tua sina, sofre... COBRA NORATO
Fechar ao mal de amor nossa alma adormecida
É dormir sem sonhar, é viver sem ter vida... “Acordo.
Ter a um sonho de amor, o coração sujeito
É o mesmo que cravar uma faca no peito. A lua nasceu com olheiras.
Esta vida é um punhal com dois gumes fatais O silêncio dói dentro do mato.
não amar, é sofrer; amar, é sofrer demais.”
Abriram-se as estrelas.
As águas grandes encolheram-se com sono.
7. RAUL BOPP
(1898 - 1984) A noite cansada parou.
Inicialmente, aderiu ao Verde-amarelismo de
Menotti, Cassiano e Plínio Salgado, seguindo, Ai, compadre!
depois, ao grupo Antropofágico de Oswald de Tenho vontade de ouvir uma música mole.
Andrade. Cobra Norato é sua obra de destaque. É que se estire por dentro do sangue;
uma rapsódia amazônica que narra as aventuras de música com gosto de lua
um jovem na selva amazônica que, após ter e do corpo da filha da rainha Luzia;
estrangulado a cobra norato, entrou no corpo do que me faça ouvir de novo
monstruoso animal. Cruzam a história descrições o ruído dos rios carregando as queixas do
mitológicas de um mundo bárbaro sob violentas [caminho
transformações. Poema com estrutura épico- e aquelas vozes escondidas,
dramática que envolve ritmos africanos. surradas de ai ai ai.
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Levei puçanga de cheiro _________________________________________________
e casca de tinhorão,
fanfã com folhas de trevo Como?
e raiz de mucuracaá.
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Mas nada deu certo...
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Ando com uma jurumenha,
que faz um doizinho escondido na gente
Por quê? (proposta)
e morde o sangue devagarinho.
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Ai compadre.
Não faça barulho _________________________________________________
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Movimento Pau-Brasil
Movimento Verde-Amarelo
Movimento Antropófago
Grupo da Anta
2. Características da 1ª fase:
forma: __________________________________________________________________________________________________
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linguagem: __________________________________________________________________________________________________
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conteúdo: __________________________________________________________________________________________________
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Mário de Andrade
Oswald de Andrade
Manuel Bandeira
Cassiano Ricardo
Raul Bopp
TERESA
trela, jamais se queixava, nunca lhe pedira nada, a) Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de
recebia os presentes batendo as mãos, numa engenho, Doidinho, Banguê, Fogo morto e
alegria. E não morria ela, cada noite em seus braços, Usina.
ardente, insaciável, renovada, a chamá-Io ‘seu moço É o ciclo de maior interesse e importância,
bonito, minha perdição’? pois aí estão as obras mais significativas:
‘Se eu fosse você era o que eu faria’... Fácil fixa o esplendor e a decadência do
de dizer quando se trata dos outros. Mas como casar engenho de açúcar.
CIDADEZINHA QUALQUER
POESIA
“Casas entre bananeiras
A poesia da 2ª fase do Modernismo mostra mulheres entre laranjeiras
dois aspectos: pomar amor cantar.
a) Amadurecimento da trajetória poética de
autores que vieram da primeira fase modernista. Em Um homem vai devagar
1930 - 31, surgem obras de importância capital: Um cachorro vai devagar
Remate de males (Mário de Andrade), Libertinagem Um burro vai devagar
(Manuel Bandeira), Cobra Norato (Raul Bopp).
Devagar... as janelas olham.
b) Surge o primeiro livro de poemas de Carlos
Drummond de Andrade (Alguma poesia) em que Eta vida besta, meu Deus.”
aparecem versos compostos à moda de Oswald de
Andrade ao lado de poemas surrealistas. O lirismo
ganha a dimensão religiosa na obra de Jorge de SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA
Lima, Murilo Mendes e do estreante Vinícius de
Moraes. “Perdi o bonde e a esperança.
Todos esses autores publicam obras com Volto pálido para casa.
temas que se diversificam, alguns voltando-se para A rua é inútil e nenhum auto
a poesia de comprometimento social e político passaria sobre meu corpo.
(Vinícius e Drummond); outros, incorporando uma
visão metafísica do homem (Murilo Mendes, Jorge Vou subir a ladeira lenta
de Lima, Cecília Meireles). em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.
Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega “Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
se consumará. Minha mãe ficava sentada cosendo.
Já vejo palavras Meu irmão pequeno dormia.
em coro submisso, Eu sozinho menino entre mangueiras
esta me ofertando lia a história de Robinson Crusoé,
seu velho calor, comprida história que não acaba mais.
outra sua glória
feita de mistério, No meio-dia branco de luz uma voz que
outra seu desdém, [aprendeu
outra seu ciúme, a ninar nos longes da senzala – e nunca se
e um sapiente amor [esqueceu
me ensina a fruir chamava para o café.
Procura transmitir o essencial em linguagem “João amava Teresa que amava Raimundo
concisa, sem enfáticas expressões, isento de que amava Maria que amava Joaquim
sentimentalismos. Sua sensibilidade está acordada [que amava Lili
CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Eis um fragmento do Romance XXXI ou
Hoje sou funcionário público. De mais tropeiros
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!” “ Por aqui passava um homem
- e como o povo se ria! -
que reformava este mundo
de cima da montaria.
Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a negra Fulô). 6. MÁRIO QUINTANA
Cadê meu frasco de cheiro (1906 – 1994)
que teu Sinhô me mandou? Nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul,
- Ah! foi você que roubou! foi jornalista e tradutor e, em 1940, lançou seu
Ah! foi você que roubou! primeiro livro, A rua dos cata-ventos.
Com raízes no neossimbolismo, o lirismo de
Essa negra Fulô! Quintana concilia o humor com temas do cotidiano:
Essa negra Fulô! a infância, a vida, a morte, o amor.
A ideia da morte perpassa todo o discurso Eis alguns exemplos, retirados de Sapato
poético: florido:
O espião
O universo pessoal parece condenado à “Bem o conheço, num espelho de bar, numa
tristeza eterna: vitrina, ao acaso do footing, em qualquer vidraça por aí,
trocamos às vezes um súbito e inquietante olhar. Não, isto
“Hoje encontrei dentro de um livro uma velha não pode continuar assim. Que tens tu de espionar-me?
[carta amarelecida. Que me censuras, fantasma? Que tens a ver com os meus
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de bares, com meus cigarros, com os meus delírios
[quem seria... ambulatórios, com tudo o que não faço na vida?”
Eu tenho um medo horrível
A essas marés montantes do passado, Em Do caderno H o poeta acentua a sua
Com suas quilhas afundadas, com veia irônica:
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos
[mastros e gáveas... Cartaz para uma Feira do Livro
“Os verdadeiros analfabetos são os que apren-
Ai de mim deram a ler e não leem.”
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O Poema
“O poema essa estranha máscara mais verdadeira _________________________________________________
do que a própria face.” _________________________________________________
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Refinamentos
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“Escrever o palavrão pelo palavrão é a modalidade
atual da antiga arte pela arte.”
2ª fase Modernista
Sinônimos
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“Esses que pensam que existem sinônimos,
desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças _________________________________________________
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Cuidado
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“A poesia não se entrega a quem a define.”
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_________________________________________________
Dos Livros
“Há duas espécies de livros: uns que os leitores _________________________________________________
esgotam, outros que esgotam os leitores.” _________________________________________________
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Dupla Delícia
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“O livro traz a vantagem de a gente poder estar
só e ao mesmo tempo acompanhado.”
3. POESIA (características):
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Elabore agora um quadro esquemático das principais ideias da
2ª fase Modernista. _________________________________________________
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1. Manifestações artísticas:
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b) urbana
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1. Drummond
2. Cecília Meireles
3. Vinícius de Moraes
4. Murilo Mendes
5. Jorge de Lima
6. Mário Quintana
1. Graciliano Ramos
2. Jorge Amado
4. Érico Veríssimo
10. A versatilidade da Carlos D. de Andrade manifesta-se: 17. O veio é memorialista, formalizando o ciclo da cana-de-açúcar,
a) em sua poesia, ligada aos valores eternos do homem, mas no romance predomina um misto de regionalismo e
porém isenta do sentimento cotidiano. análise psicológica das personagens. Fala-se do escritor:
b) na crônica, com que estreou na vida literária, mas a) Jorge Amado;
abandonada em favor da poesia de temática urbana. b) Érico Veríssimo;
c) em seus contos, descrição minuciosa da zona rural c) José Lins do Rego;
mineira, filiados à corrente regionalista moderna. d) Graciliano Ramos;
d) em sua obra teatral, que retoma temas ligados ao Barroco e) Mário de Andrade.
Mineiro.
e) em sua poesia, marcada pela valorização do humano e
por um traço constante de humor. 18. Análise de texto:
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Eu não devia te dizer
mas essa lua _________________________________________________
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.” _________________________________________________
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1. Explique o título.
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2. O texto é autorreferencial? Comprove.
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3. HAROLDO DE CAMPOS 2.
(1929 - 2003)
Poeta, advogado, procurador, professor e ente entre ente
conferencista. gente entre gente
OBRAS: mente entre mente
O auto do processo;
entre
O âmago do ômega;
Alea I - variações semânticas; mente entre gente
Xadrez de estrelas. rente entre mente
ente entre ente
Ensaios:
Teoria da poesia concreta (com Décio
(João Adolfo Moura)
Pignatari e Augusto de Campos);
Metalinguagem;
A aparente pobreza semântica oculta o real
A arte do horizonte do provável;
significado da participação interpessoal: ente entre
Morfologia do Macunaíma;
ente/gente entre ente/mente entre mente e outras
A operação do texto.
combinações.
Outros exemplos: P Ê
4. P Ê N
eixosolo
polofixo P Ê N D
eixoflor U
P Ê N D
pésofixo L
eixosolo U O
P Ê N D
olhofixo L
U
P Ê N D
(Augusto de Campos)
ave bélica
astronave
pato
selvagem .........................................................................
ave
.........................................................................
os q
ue vão da m
nascer te saú 14.
I N U T R O Q U E C E S A R
N I N U T R O Q U E C E S A
(Cassiano Ricardo) U N I N U T R O Q U E C E S
T U N I N U T R O Q U E C E
R T U N I N U T R O Q U E C
O R T U N I N U T R O Q U E
Observe, nos poemas a seguir, como certas Q O R T U N I N U T R O Q U
U Q O R T U N I N U T R O Q
intenções concretistas já se evidenciavam em E U Q O R T U N I N U T R O
autores brasileiros bem antes do aparecimento do C E U Q O R T U N I N U T R
E C E U Q O R T U N I N U T
movimento em estudo: S E C E U Q O R T U N I N U
A S E C E U Q O R T U N I N
R A S E C E U Q O R T U N I
12.
LV O ADÃO
VELHO DIÁLOGO DE
E EVA (Labirinto Cúbico de Anastácio Ayres de
Brás Cubas
. . . ? Penhafiel, Academia dos Esquecidos, século XVIII)
Virgília
. . . . . . 15.
Brás Cubas
“Estrelas
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . Singelas
Virgília Luzeiros
. . . . . ! Fagueiros,
Brás Cubas Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
. . . . . . Desertos e mares, - florestas vivazes!
Virgília
Montanhas audazes que o céu topetais!
. . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . ? . . . . . . . Abismos
. . . . . . . . . . . . . . . Profundos!
Brás Cubas Cavernas
. . . . . . . Eternas!
Brás Cubas Extensos,
. . . . . . . . . . . . . . .
Imensos
. . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . ! . . Espaços
. . ! . . . . . . . . . . . . A z u i s !
. . . . . . . . . . . . . . ! Altares e tronos,
Virgília Humildes e sábios, soberbos e grandes!
. . . . . . . . . . . ? Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Brás Cubas
Só ela nos mostra da glória o caminho,
. . . . . . . !
Virgília Só ela nos fala das leis de - Jesus!”
. . . . . . ! (Poema de Fagundes Varela, Romantismo)
empréstimo EXERCÍCIOS
muito
01. (UFRS) o romance de Clarice Lispector:
nada
a) filia-se à ficção romântica do séc. XIX, ao criar heroínas
tudo idealizadas e mitificar a figura da mulher.
a quebra: a sobra b) define-se como literatura feminista por excelência, ao
propor uma visão da mulher oprimida num universo
a monta / o pé / o cento / a quota masculino.
c) prende-se à crítica de costumes, ao analisar com grande
senso de humor uma sociedade urbana em transforma-
haja nota ção.
d) explora até às últimas consequências, utilizando, embora
agiota” a temática urbana, a linha do romance neonaturalista da
(Mário Chamie) geração de 30.
e) renova, define e intensifica a tendência introspectiva de
determinada corrente de ficção da segunda geração
moderna.
LAVRA-DOR
02. (UFPR) A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães
Rosa:
“LAVRA: onde tendes pá, o pé e o pó
a) continua o regionalismo dos fins do século passado, sem
sermão da cria: tal terreiro. grandes inovações.
b) exprime problemas humanos, em estilo próprio, baseado
na contribuição linguística regional.
DOR: onde tenho o pó, o pé e a pá, c) descreve tipos de várias regiões do Brasil, na tentativa de
quinhão da via: tal meu meio documentar a realidade brasileira.
d) fixa os tipos regionais, com precisão científica.
de plantar sem água e sombra. e) idealiza o tipo sertanejo, continuando a tradição de
Alencar.
LAVRA: onde está o pó, tendes cãibra; 03. (PUC - SP) João Cabral de MeIo Neto é o poeta do
Modernismo que se salienta por um constante combate ao
agacho dói ao rés e relva. sentimentalismo. “É o engenheiro da poesia”. Busca concisão
e precisão nos seus poemas. No entanto, num terreno oposto
faz poesia de participação. Um seu poema, divulgado como
DOR: onde, jaz o ó, tenho a planta peça teatral, realiza uma análise social do homem nordestino,
porém sem arroubos sentimentais. O poema em causa é:
do pé e milho junto à graça
a) Invenção de Orfeu;
do ar de maio, um ar de cheiro.
b) Morte e vida severina;
c) Jeremias sem chorar;
d) Brejo das almas;
LAVRA: a planta e o pé, o pó e a terra; e) n. d. a.
o mapa vosso; várzea e erva.
04. (FCC - SP) O Concretismo brasileiro caracteriza-se por:
a) renovação dos temas, privilegiando a revelação expres-
DOR: onde o ganho alastra eu perco. sionista dos estados psíquicos do poeta.
b) exploração estética do som, da letra impressa, da linha,
Perde o mapa a cor, fina réstea dos espaços brancos da página.
a) 1, 2;
b) 2, 3;
c) 3, 4;
d) 4, 1;
e) 4, 2.
Geração 45
Ferreira Gullar
Poesia Social
Concretismo
Poesia Práxis
o monumento é de papel crepom e prata (Em Caetano Veloso. São Paulo, Abril Educação,
os olhos verdes da mulata 1981. p 46-7. Literatura Comentada)
a cabeleira esconde atrás da verde mata
OBRAS PRINCIPAIS:
Houve, na década de 70, quem procurasse
Eles não usam black-tie, A semente - ambas
maior elaboração literária, mesmo para as cenas de
sobre a classe operária;
tortura, tão comuns na literatura do período.
Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes -
Nos anos 80, começa a aumentar o número
obras em que se evidenciam as tentativas de
de obras com um comportamento bastante
“driblar” a censura através da alegoria;
diferenciado das produções da década anterior. A
Botequim, Um grito parado no ar e Sinal de
tendência é expor o caráter ficcional, afastando-se
partida - continuam a batalha de levar ao público, da literatura verdade; o artista tende a transfigurar o
através da linguagem metafórica, a realidade política real, “brincando” com o leitor e oferecendo a ele
do país. participação ativa na criação. São aproveitados
Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999) - recursos como o romance policial ou a metaliteratura
os personagens (geralmente “tipos”) procuram (em que o autor vai mostrando aos poucos como
mostrar, através de exagero, uma tendência constrói seus personagens e suas histórias), mas o
particular de transformar em símbolos, a texto não se esgota nisso. São obras que se
ingenuidade, a ignorância do Brasil rural, a aproximam do que vem sendo chamado de Pós-
malandragem, etc. Modernismo.
Seu trabalho passou a ser conhecido após o
sucesso de O pagador de promessas, peça Note-se, ainda, o grande sucesso da crônica
premiadíssima, que conta a história de um homem da época que também se norteia pelo registro do
simples, Zé-do-Burro que, tentando cumprir uma cotidiano, entremeada de comentários críticos entre
promessa igualmente simples, vê-se envolvido pelos o humor e a ironia, o lirismo ou o desencanto; a
“tipos” de um centro urbano; A invasão retrata a vida linguagem popular é a tônica desses relatos.
dos favelados que, perdendo seus barracos, A crônica, oriunda de jornais e revistas, reúne-
invadem um prédio abandonado, personagens se em obras de respostas passageiras, imediatas.
típicos do proletariado carente. Para fugir à censura, Entre outros nomes, podemos citar:
- Rubem Braga;
Dias Gomes também recorreu à metáfora e à
- Paulo Mendes Campos;
alegoria. O santo inquérito, ambientada no ano de
- Fernando Sabino;
1750, exemplifica qualquer situação de repressão,
- Carlos Eduardo Novaes.
autoritarismo e intransigência em nome de uma
ideologia cega; já longe da tesoura dos censores, é
1. CAIO FERNANDO ABREU
encenada, pela primeira vez, em 1980, a peça
(1948 - 1996)
Campeões do mundo que enfoca os aconte-
Caio Fernando Abreu, por exemplo, no conto
cimentos políticos entre 1963 e 1970.
Garopaba mon amour não se limita a registrar
Surgiu ainda rica variedade de peças, entre as
ocorrência ou fazer documentário: faz literatura,
quais podemos citar: Navalha na carne, de Plínio
preocupa-se em transformar os dados da realidade:
Marcos (autor que focaliza o submundo metrpolitano: “Pouca vergonha, o dente de ouro e o cabo do
prostitutas, homossexuais, malandros; constrói um revólver cintilando à luz do sol, tenho pena de você.
teatro profundamente realista); as tensões da classe Pouca vergonha é fome, é doença, é miséria, é a
média urbana registradas na peça Em família, de sujeira deste lugar, pouca vergonha é a falta de
Oduvaldo Vianna Filho (compõe um manifesto contra liberdade e a estupidez de vocês. Pena tenho eu de
a alienação social e passividade, responsáveis pela você, que precisa se sujeitar a este emprego
aceitação de situações indignas do ponto de vista imundo: eu sou um ser humano decente e você é um
humano); a busca de um sentido de dignidade social verme. Revoltadinha a bicha. Veja como se defende
na vida diária apresentada em Gota d’água, de Paulo bem. Isso, esconde o saco com cuidado. Se você se
Pontes e Chico Buarque. descuidar, boneca, faço uma omelete das suas
Ensinamento
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d) Tropicalismo ____________________________________
5) _________________________________________________
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e) Música Pop _____________________________________
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PÓS-MODERNISMO
g) Manifestações após a censura ______________________
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Definição: ____________________________________________
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Autores e obras que se afastam da literatura verdade
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1) _________________________________________________ _________________________________________________
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Ambiente: ____________________________________________
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2) _________________________________________________
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Características: _______________________________________
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3) _________________________________________________ _________________________________________________
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POESIA
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Tipos de manifestação: _________________________________
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4) _________________________________________________ _________________________________________________
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Poema-processo: _____________________________________
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Modernismo Pós-Modernismo
Autores
Características
Obras
Objetivos:
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Caracterísitcas:
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Tipos de obras:
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REPRESENTANTES / OBRAS
a) _____________________________________________________________________________________
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b) _____________________________________________________________________________________
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c) _____________________________________________________________________________________
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Guarnieri
Dias Gomes
Plínio Marcos
Oduvaldo Vianna
Chico Buarque
BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 5. ed. São Paulo: Annablume,
2002.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 44. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
CâNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira. 12. ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2009.
FARACO, Carlos Emílio e MOURA, Francisco Marto. Literatura brasileira. 17. ed. São Paulo: Ática, 2002.
GUIMARÃES, Marcella (org.). Literatura dos anos 90. Curitiba: Juruá, 2003.
HOLLANDA, Heloísa Buarque. Impressões de viagem: cpc, vanguarda e desbunde: 1960/70. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2005.
MOISES, Massaud. Literatura brasileira através dos textos. 24. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
NICOLA, José de. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. 17. ed. São Paulo: Scipione, 2007.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 1997.
SILVA, Vitor Manuel de Aguiar. Teoria da literatura. 8. ed. Coimbra: Almedina, 2004.
SUSSEKIND, Flora. Literatura e vida literária. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2004.
TAVARES, Hênio Último da Cunha. Teoria literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002.
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.