Uma Análise Da Ruptura No Processo de Identidade Linguística, Do Alemão Ao Português Na Comunidade Luterana de ImbituvaPR
Uma Análise Da Ruptura No Processo de Identidade Linguística, Do Alemão Ao Português Na Comunidade Luterana de ImbituvaPR
Uma Análise Da Ruptura No Processo de Identidade Linguística, Do Alemão Ao Português Na Comunidade Luterana de ImbituvaPR
A
identidade de um povo está vinculada a sua língua de origem, de modo que a
língua não é apenas um meio de transmitir informações, mas também
instrumento de poder. Sendo assim, o homem luta pelo direito de falar, ser
entendido e, o mais importante, ter voz, e isso pode ser entendido como uma
demonstração de poder.
Em muitos casos, podemos observar o domínio de uma classe social sobre
outras por meio da imposição linguística. E ainda podemos perceber as escolas como
instituições mantenedora ou modificadora dessa imposição, visto que muitas vezes são
influenciadas pelos discursos políticos da sociedade.
Além da dinâmica presente nesse processo, devemos considerar que a
imposição linguística contribui para o fortalecimento do preconceito entorno da língua
e, em âmbito escolar, isso impossibilitando o discente em falar a variedade de origem,
desprivilegiando sua origem e sua cultura.
Direcionando o foco para o trabalho em pauta, é relevante pontuar que a
presente pesquisa foi construída após uma análise da comunidade luterana de
Imbituva, pois os imigrantes alemães trouxeram sua língua e os costumes de sua terra
natal para a igreja e a escola, mas devido a Segunda Guerra Mundial, viram-se
obrigados a aderir à língua nacional, pressionados pelos interesses políticos que
estavam velados entorno da guerra, entre eles, merece destaque, a questão do
fortalecimento nacional e das afirmações de identidades.
Em relação a identidades, partindo do pressuposto de Coracinni (2007, p. 49)
NAS REFERÊNCIAS ESTÁ 2003: “ora, sabemos que a identidade pode ser imposta,
resultar de uma relação de poder”, essa imposição resulta de um ato político
intencionado e poder de uma determinada classe dominante.
Desse modo, este artigo busca explorar e discutir questões sobre a imposição da
língua portuguesa sobre a alemã na comunidade Luterana de Imbituva – PR. Para isso,
faremos uma retrospectiva sobre a cultura, origem e fundação dessa comunidade,
considerando os aspectos da sua identidade.
Segundo Henning Luther (apud JUNG, 2004),
Nesse sentido, a identidade não é algo que está pronto, mas é um processo que
se constrói durante uma vida toda. A formação das identidades não se cessa sobre
constantes mudanças.
Para entender sobre a (des)construção dessa comunidade específica, devemos
considerar o fato de que a língua portuguesa foi dominante e, portanto, imposta, talvez
até de forma intensa e brutal, já que as origens, a cultura e as identidades alemãs foram
devastadas pela apropriação da Língua Portuguesa e, com isso, a comunidade
Luterana sofreu com o processo de transição linguística.
Outro conceito a ser compreendido é o das práticas de letramento que se definem
como:
2 Pressupostos Teóricos
1
Para Oliveira,
a imagem do país que fala somente português, e de que o português brasileiro ‘não tem
dialetos’ é consequência da intervenção do estado e da ideologia ‘unidade nacional’
que, desde sempre, com diferentes premissas e em diferentes formatos, conduziram as
nações culturais no Brasil. (2003, p. 08)
O poder sempre tem preferência a cada língua, mas não adianta uma política
que não se usa. E a escola é que, em muitos casos, introduz uma língua, obviamente ao
escolher uma língua e não outra pode haver um conflito, imposição gera conflito e,
com isso, desfiguram-se as origens, as culturas, a partir do momento que não se pode
usar a língua que te define, some a voz de um povo.
O uso da língua é um reflexo da situação subordinada que os sujeitos estão
sofrendo, juntamente com a escolarização. A língua é o espelho da história social que a
nação está submetida. Essa relação de língua e política é antiga, visto que a língua não
escapa da política, pois tem uma dimensão ideológica como símbolo, elemento
definidor de uma nação. Podemos perceber a imposição de uma língua por meio da
mudança de identidade que o indivíduo pode estar submetido, uma vez que a
comunidade minoritária deixa seus usos linguísticos, cultura e ensino da língua
materna para a língua com maior prestígio.
A identidade linguística ainda é vista por muitos como algo permanente, fixo.
Mas a identidade é um “processo móvel”, transformada continuamente, muitas vezes
envolvendo o contexto em que o indivíduo está inserido e os sistemas culturais que os
rodeiam.
Segundo Hall, a identidade
Não há somente uma identidade que nos acompanha até a morte. Somos
portadores de constantes mudanças, de evoluções. Ou seja, a concepção enunciada vai
contra uma identidade verdadeira, pura. A identidade está ligada a movimentos
sociais.
Conforme Dagmar Meyer data a formação de identidade, em 2000. Começa já
antes da chegada dos imigrantes à nova terra, ela começa no momento em que eles são
confrontados com a ”necessidade/obrigação/desejo/disponibilidade” de emigrarem.
Nesse sentido, evidencia-se que a formação dessa identidade é um processo que
marcará de alguma forma a organização dessas pessoas em comunidades. Esse
processo acarretou de emigração, o contato com outros grupos sociais. Se, por um lado,
isso levou o preparo associativo em alguns casos; por outro lado, ocasionou a formação
de novos afrontes e de novas identificações.
Outro aspecto referente à identidade é a pluralidade, que tem consequências no
processo de formação. Segundo Hall, “as identidades são construídas por meio da
diferença e não fora dela.” É sempre no contato com o outro, com o diferente, com o
não-ser, que o ser pode encontrar ou construir a sua identidade” (2000, p. 110).
Em relação a isso, as nossas experiências com o que não é habitual é que vai nos
dar novos pontos de vista, o contato com outras pessoas, com a cultura fará de nós
portadores de uma nova identidade. Criando outros conceitos e reavaliando antigos.
Portanto, os indivíduos podem cooperar uns com os outros em situações diversas,
comunitárias, sem estar conscientes nas características do seu grupo.
Nessa época, a língua alemã sofria perseguição e o Colégio teve suas portas
fechadas por soldados (exército e polícia), livros e todos os registros foram queimados.
O pastor da igreja foi preso e a escola recebeu orientação que somente poderia reabrir
suas portas com o ensino em Língua Portuguesa. Dessa maneira, a Comunidade
sentiu-se obrigada a aprender o Português, mesmo usando material didático, muitas
vezes, os professores explicavam e dialogavam em Alemão, pois os alunos e até os
próprios docentes não tinham total fluência do Português. No ano de 1959, sob a
direção do professor Lothar Ricardo Mundel, a licença para o funcionamento, ficando
registrada sob o n.º 119, passou a se chamar “Rui Barbosa”, nome escolhido para evitar
novas perseguições.
O colégio Rui Barbosa funcionou no mesmo prédio desde sua fundação (1978),
nessa escola não havia distinção religiosa ou restrição a alunos matriculados que não
sejam luteranos.
Tais informações a respeito da origem e cultura da comunidade, grupo que
precisou adaptar-se ao longo de sua história, são relevantes para o entendimento da
maneira como os alemães que residiam em Imbituva tiveram a sua identidade
transformada, pois foram estabelecidas no sentido de sobreposição a língua e cultural
brasileira sobre a cultura alemã.
4 Materiais e métodos
5 Resultados
Naquela época nem existia isso, eu pelo menos não sabia. Como você explicou então,
nós só usávamos códigos, fomos alfabetizados, reproduzíamos exatamente o que
aprendíamos na escola, em momento algum exercemos papeis sociais em eventos do
nosso interesse, como a fechamento da escola e da igreja, não sabíamos que poderíamos
lutar e contrariar achamos que, simplesmente tínhamos que aceitar aquilo que estava
acontecendo. (Senhora entrevistada)
6 Considerações finais
A imposição linguística gera situações de conflitos, pudemos observar isso que
a imposição é sempre um objeto de disputas políticas, visto que a classe
desprivilegiada sofre com esses acontecimentos.
A situação da identidade nunca significou ou se caracterizou como estagnada,
com isso ela passa por processos transformadores. O poder público tem um poder
significativo sobre as identidades, tornando-as, muitas vezes, mais fixas, mais políticas,
unificadas, produzindo nova posição de identificação.
Na pesquisa em questão, houve a imigração de identidade, com isso, muitos
valores e culturas foram abolidos, desprivilegiando o conhecimento do seu povo
alemão. Muitas pessoas conseguem observar a mudança de identidade e imposição da
língua usada durante os anos da Segunda Guerra Mundial, embora muitas pessoas que
passaram por esse processo de (des)construção não se permitam refletir amplamente
sobre esse assunto, definindo como algo conflituoso, mas que ainda trouxe uma nova
língua, esquecendo a forma evidente e intencional da verdadeira razão política e
democrática do poder em impor uma identidade e maneira de ensino. A língua não é
um mecanismo natural, há uma motivação social/política interferindo nesse processo.
A partir dessa pesquisa, pudemos perceber que a identidade linguística alemã
passou por um processo de (des)construção, pois não somente a língua, mas também
as culturas tiveram um enfraquecimento ao se transmitir para os descendentes, e isso
faz com que se acredite que está relacionada à questão política, econômica e
fortalecimento de nacionalidade. Por meio das entrevistas chegou-se à conclusão de
que os pais não continuaram ensinando seus filhos de acordo com a cultura alemã, e
afirmaram que não havia motivação, pois o ensino escolar era em Língua Portuguesa.
A partir da busca de dados, revistas, documentos escolares, pode-se observar que
houve um momento em que grande parte foi extraviada e por trás disso havia-se
interesse público em esconder que havia outra cultura e ensino de língua que não fosse
a brasileira, e que estava dando certo.
Para finalizar, práticas de letramento é um conceito que envolve uma
complexidade gigantesca, de uma definição muito difícil. Mesmo assim, tentamos
expor considerações acerca da questão, não tínhamos a pretensão de definir, e sim de
contextualizar com o processo que houve na comunidade pesquisa, trazendo, talvez,
uma explicação para o motivo de ter sido um momento sem reivindicação de direitos e
diálogos sociais para que houvesse respeito pela identidade alemã que existia e se
desenvolvia com grande excelência.
Referências
BARTON, D.; HAMILTON, M. Local literacies: Reading and Writing in One Community,
London: Routledge, 1998.
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da.
(organizador); _________; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva
dos estudos culturais. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
STADLER, Cleusi Bobato. Imbituva uma cidade dos Campos Gerais. Imbituva, 2003.