Rubini, Carlos. O Conceito de Papel No Psicodrama. Revista Brasileira de Psicodrona, Vol. 3, 1995
Rubini, Carlos. O Conceito de Papel No Psicodrama. Revista Brasileira de Psicodrona, Vol. 3, 1995
Rubini, Carlos. O Conceito de Papel No Psicodrama. Revista Brasileira de Psicodrona, Vol. 3, 1995
Introdução:
Para ele, diante de uma realidade sempre mutável e que nos exige constantes
improvisações, a resposta espontânea saudável deverá ser a manutenção desse potencial
de mudança e transformação. O potencial criativo é fundamental para a saúde, que
deverá ser sempre uma co-criação, pois é este caráter conjunto que confere a adequação
à realidade, indispensável para a manutenção do estado saudável. Como já vimos
anteriormente, o maior obstáculo à espontaneidade criadora será a conserva cultural,
aquilo que está pronto e não em processo de criação. Agir espontaneamente com saúde
é apoiar-se nessas conservas, mas transpondo seus limites e apresentando uma resposta
original (MARTÍN, op.cit.).
Diante destes pressupostos, o que entendemos por saúde das relações nos pequenos
grupos?
Ao tratar da saúde das relações grupais, Moreno criou três métodos sociátricos,
mas nos deteremos aqui na psicoterapia de grupo, uma vez que abordamos o psicodrama
no capitulo anterior e abordaremos melhor o sociodrama no capítulo posterior. A
psicoterapia de grupo em geral designa, atualmente, um amplo espectro de
procedimentos fundamentados nos mais variados referenciais teóricos, aplicados em
diferentes contextos. Neste texto, só nos interessa abordar a psicoterapia de grupo de
base psicodramática.
Moreno foi o criador da psicoterapia de grupo porque tal termo foi empregado por
ele, pela primeira vez, em 1931, ao publicar um artigo científico. No entanto, ela só foi
possível através da sociometria, com cujos métodos as estruturas do grupo puderam ser
compreendidas cientificamente. O modo aprofundado e ampliado da psicoterapia de
grupo é a revitalização da vida interior do grupo in actu e in situ.
Moreno (1966) afirmou que a “psicoterapia de grupo é um método que trata,
conscientemente, as relações interpessoais e os problemas psíquicos de vários
indivíduos de um grupo dentro de um quadro científico empírico” (op. cit. p. 71).
Dessa forma, dentro de um grupo podem ser trabalhadas questões psíquicas e
sociais. Na sua concepção, todos no grupo são agentes terapêuticos, e todo o grupo
também o pode ser em relação a outro grupo. Diferente do que se encontrava na época,
onde o terapeuta seria o detentor do saber, o agente promotor da cura, no psicodrama
este poder é compartilhado por todos. Contrapõe, por exemplo, a abordagem vigente da
época, a psicanálise, onde demarcava um distanciamento de conhecimento e de poder
sobre o cliente.
O seu método é interativo, em que todos os membros podem oferecer um alívio
terapêutico. Caracteriza-se como psicoterapia por tratar da patologia do grupo e dos
seus problemas psicológicos e sociais. Através das ligações sociométricas, todos os
membros são tratados, mesmo que não seja ele o centro das atenções naquele momento.
Por meio desta ação e interação grupal o indivíduo aprende a explorar o seu ambiente
imediato, favorece a integração recíproca, livre e espontânea.
Segundo Costa & Conceição (apud FLEURY e MARRA, 2008), para Moreno,
o método interacional é o primeiro método de ação grupal, cuja maior característica é o
auxílio mútuo oferecido aos membros do grupo. Esta ação tem como objetivo integrar o
indivíduo ás forças grupais e favorecer a integração, a aproximação recíproca. Há uma
regra geral no grupo terapêutico psicodramático: a promoção da espontaneidade. Mas o
grupo vai criar suas soluções por meio da cooperação e pela promoção de catarses de
integração, individual e grupal, pois o processo de criação individual afeta o
crescimento grupal e vice versa.
Para Moreno, o fundamental no seu “princípio da interação terapêutica” (op.cit, p.
64-65), é destacar que o método psicodramático tem um aspecto democratizante, pois
todo paciente é agente terapêutico dos demais e um grupo é um agente terapêutico para
outros grupos. Indivíduos e grupos, assim, podem se constituir em terapeutas auxiliares
dentro de uma comunidade.
O conceito moreniano de encontro existencial, já definido no capítulo anterior, é o
objetivo final da psicoterapia de grupo psicodramática. O encontro implica uma
comunicação mútua que não se esgota no intelectual, mas que abrange a totalidade de
ser, ele é vivido no "aqui e agora", vai mais além da empatia e da transferência. É
através do encontro que se forma um "nós". Para Moreno, a palavra encontro, de origem
alemã, abrange diversas esferas da vida. O encontro existencial expressa: estar junto,
reunir-se, contato de dois corpos, ver e observar, tocar, sentir, participar e amar,
compreender, conhecer intuitivamente através do silêncio ou do movimento, a palavra
ou o gesto, beijo ou abraço, tornar-se um; mas implica também em relações verdadeiras
mas, hostis e ameaçadoras, opor-se a alguém, contrariar, brigar (MORENO, 1975).
A psicoterapia de grupo pode ser compreendida como um processo amplo de
transformação da qualidade das relações, determinado não por um terapeuta talentoso,
mas pelas forças do grupo. Essa forma de tratamento proporciona maiores
possibilidades terapêuticas, já que o indivíduo pode ser tratado in situ, ou seja, no
contexto natural em que se encontra. Tendo em vista que vivemos em grupo desde o
nascimento, o atendimento em grupo preenche algumas necessidades que
individualmente não é satisfatório, pois, dessa forma, se aproxima do ambiente natural
em que as pessoas vivem, trata a dinâmica individual e a grupal (MORENO, 1966).
A tarefa da psicoterapia grupal é levar o grupo de um grau baixo a um grau elevado
de coesão, desenvolvimento interpessoal e de percepção télica. Moreno (1975) afirmou
que cada grupo tem uma estrutura oficial e uma estrutura sociométrica, esta última é
quase inteiramente desconhecida dos membros do grupo, mas ambas podem coincidir
em certos pontos e divergir em outros. Uma vez reconhecidas e trabalhadas, ativam o
potencial terapêutico grupal.
A essência da psicoterapia de grupo consiste de sessões terapêuticas, nas quais
três ou mais pessoas que tomam parte esforçam-se para resolver problemas comuns.
Assim, há o que pode ser chamado de grupos naturais, formado por pessoas que têm
laços afetivos, familiares ou que já exista uma convivência. Neste caso a sessão é realiza
onde as pessoas moram e atuam, suas casas (in situ); e os grupos sintéticos, formado por
pessoas que não tinham uma convivência prévia, como clientes de uma clínica por
exemplo. Neste caso, as sessões são realizadas geralmente numa clínica, onde uma
relação mútua é nova (in status nascendi).
Vimos no capitulo anterior que Moreno criou um método clínico de grupo por
excelência, o psicodrama, definindo-o como a forma mais profunda de psicoterapia de
grupo. Criou-o a partir das suas experiências de teatro espontâneo e a partir do famoso
“caso Bárbara-George”, ainda em Viena, ou seja, a partir de uma terapia vincular, de
casal. Assim, o psicodrama nasceu em grupo, no método psicodramático grupal,
atendendo às três etapas antes descritas (o aquecimento, a dramatização e o
compartilhar), trabalhando com três contextos (o social, o grupal e o psicodramático) e
com cinco instrumentos: o protagonista, o cenário, o diretor (o terapeuta grupal), os
egos auxiliares (auxiliares terapêuticos) e a platéia (o grupo).
Como já vimos, Moreno parte do princípio de que é nos vínculos sociais que tudo
acontece. Enfim, o projeto socionômico é um projeto sócio-psicoterápico. A proposta de
Moreno é a co-participação ativa, a troca. E a pesquisa socionômica se faz na ação, na co-
criação. O socionomista, portanto, está atento ao que brota aqui e agora, ao que emerge, ao que
se desvela, ao que diverge.
Privilegia o “enfrentamento” como uma das vias para o encontro existencial, para clarear
a visibilidade do co-consciente e do co-inconsciente que emergem nas configurações grupais
móveis, nos movimentos sociodinâmicos dos grupos, no aqui e agora. Pois é neste tempo e
espaço, nas relações intersubjetivas, que acontece a intensificação emocional, com o acréscimo
do imaginário e do desenvolvimento da espontaneidade e criatividade dos envolvidos.
Para Moreno, a menor unidade existencial não é o indivíduo e sim o átomo social,
compreendendo os múltiplos papeis jogados em um grupo. No átomo, os papéis podem
encontrar o espaço vivencial propício para o encontro, as condições de possibilidade para o ato
de criar e transformar a si mesmos e aos outros. Mas, para desenvolver relações saudáveis de
encontro existencial (eu - tu), é necessário o desenvolvimento da tele-sensibilidade para si, para
os demais e para a compreensão da realidade ou contexto social e cósmico circundante.
O que propõe Moreno, em termos psicoterapêuticos, para lidar com este excluído da
saúde mental? Ele fala de um trabalho voltado á ação, preferencialmente em grupo. Parte da
visão de que uma pessoa é, antes, uma multiplicidade de papéis, um processo coletivo composto
por singularizações em ato. O método sócio-psicodramático grupal se baseia numa análise
sociométrica das relações que vão se configurando no aqui e agora do contexto grupal, que por
sua vez traduzem uma trama inconsciente que se manifesta na particularidade de protagonistas,
mas representam também os atravessamentos de toda ordem, um Drama maior, coletivo. Se o
sofrimento psíquico é um problema da civilização moderna, o tratamento sócio-psicodramático
incluirá esta mesma civilização (tornada concreta) na experiência grupal (MOURA, op. cit.).
Especialmente o sociodrama - o seu método para o tratamento de grupos naturais
(famílias, casais, etc.) e sócio-educativos ou instrumentais (de trabalho, escola, etc.), - é
o que será mais útil para trabalhar o tema social da defesa dos direitos humanos. Pois é
o método que trata os grupos sociais pré-formados, como famílias, grupos de trabalho,
comunidades, grupos de estudantes, minorias, etc.
Ela visa estimular nos participantes a crítica, construir um novo olhar sobre o
mundo a partir da ação e interação com os demais, favorecendo uma comunicação
espontânea e criativa. Segundo Marra (2005, p.16), no caso do sociodrama,
Partimos do princípio de que ele é um agente social de mudança e que trabalha nos
processos de prevenção; é um educador, um pólo de promoção e reorganização social,
que cuida de aspectos complexos e múltiplos (embora nem sempre seja um
especialista). Por outro lado, tem um manejo crítico e criativo do conhecimento, busca o
diálogo entre o saber científico e o saber popular e, finalmente, é considerado um
instrumento de intervenção social. O trabalho com estes grupos é centrado nas
dimensões de identidade, inclusão social, autonomia, pertencimento, resgate das
competências, multiplicação do saber e co-construção (MARRA, op.cit.)
Como é possível perceber até então, são muitos os aspectos teóricos e práticos
do método socio-psicodramático já desenvolvidos, embora existam muitos outros para
serem revistos. No campo da dinâmica de grupo, o psicodrama se apresenta como uma
área promissora, mantendo sua especificidade, como veremos no capítulo seguinte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR NETO, Moysés. Teatro espontâneo e psicodrama. São Paulo: Ágora, 1988.
BUSTOS, Dalmiro Manuel. Novos Rumos em Psicodrama. São Paulo: Editora Ática,
1992.