Dia 2. GUIA 3 - Corpos Estranho e OVACE

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GUIA

DE ESTUDO
V

Corpo
Estranho
Apresentação
O presente Guia de Estudo é destinado aos alunos do primeiro semestre
de Medicina da Universidade Federal da Bahia, sendo parte das atividades do
MÓDULO DE MEDICINA SOCIAL E CLÍNICA I (MED B10).
Seu uso faz parte do projeto de implementação do Módulo de Urgência
e Emergência na grade curricular da Faculdade de Medicina da Bahia, visando
oferecer aos estudantes, desde o primeiro semestre do curso, o conhecimento
necessário para atuar na área de Urgência e Emergência.
A LAEME (Liga Acadêmica do Trauma e Emergências Médicas), desde
2004, busca promover maior contato entre os acadêmicos de medicina e o
dia-a-dia de um médico emergencista, sendo este o profissional capaz de fazer
a diferença em situações que oferecem risco à vida.
Este guia foi escrito pelos membros da LAEME, usando referencial
teórico consistente e atualizado nos assuntos. Entretanto, não substitui o uso
de livros-texto já consagrados.

2021

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Definição
Autores: Alice Magalhães e Larissa Teles.

Corpo estranho (CE) é qualquer objeto ou substância que inadvertidamente penetra o


corpo ou suas cavidades. Os CE‘s podem ser alojados em diversos locais, tais como olho,
nariz, ouvido, boca, traqueia e pele, locais estes que serão abordados neste guia.

Como proceder
❖ Olho

Existem dois tipos de corpos estranhos no olho: ATENÇÃO


Não use instrumentos como
• Móveis
agulhas, pinças ou outros
• Fixos
semelhantes. Eles só podem
ÉÉimportante
importanteque
quese
seidentifique
identifiqueoograu
graude
demobilidade ser usados por profissionais de
mobilidade doco
do corpo estranho, pois este influenciará na conduta saúde capacitados.
a ser tomada.

Móveis
As vítimas com corpos estranhos móveis não devem esfregar o olho para que o
objeto não se fixe no globo ocular. Assim, o local deve ser lavado com água corrente ou
soro fisiológico, em sentido medial para lateral, de modo que o corpo estranho não seja
deslocado para o olho sadio. Caso o objeto esteja localizado na pálpebra, esta deve ser
evertida (vide imagem abaixo) e o corpo estranho retirado com um cotonete (que pode
ser úmido) ou com a ponta de um lenço umidificado.

Eversão da pálpebra:
1- Peça para o paciente olhar para baixo.
2- Pince os cílios e a margem da pálpebra
superior com os dedos indicador e polegar e
puxe para baixo.
3- Coloque o cotonete sobre a porção média
externa da pálpebra superior.
4- Em uma manobra única, mova o cotonete para
baixo e a pálpebra para cima, de forma a expor
a mucosa e procurar o corpo estranho.

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Fixos
O primeiro passo é não deixar a vítima esfregar o olho
acometido para que lesões mais sérias sejam evitadas. Se o
objeto não pode ser removido, o local onde está fixado
deve ser coberto com gaze não compressiva. É importante
que ambos os olhos sejam cobertos, em virtude do
movimento ocular conjugado: o movimento do olho sadio
implica movimento do olho acometido.
Em caso de objetos empalados, a vítima deve ser imediatamente levada a uma
unidade de saúde. Para evitar que o objeto se desloque no caminho e agrave mais ainda a
lesão, deve-se estabilizá-lo. Essa estabilização pode ser feita utilizando um copo
descartável com uma abertura. Tome muito cuidado para não mover o objeto empalado
durante o procedimento. Em seguida, o copo pode ser fixado com uma atadura.

Em caso de substâncias químicas, deve-se lavar


ATENÇÃO
o local com água abundante por, no mínimo, 15
Não deve ser usada água
minutos, também de medial para lateral – evitar o lado boricada para lavagem
não afetado. dos olhos.

Na presença das seguintes condições, deve-se encaminhar o paciente prontamente a


um serviço médico para avaliação com um oftalmologista: hifema (sangue na câmara
anterior do olho), infiltrado corneal, pontos brancos ou opacidade, hipópio, bem como
quando há um corpo estranho que não pôde ser removido.

❖ Nariz
Corpos estranhos no nariz podem resultar em irritação caso não
sejam removidos imediatamente, provocando dor, espirros, obstrução
nasal, sangramento e/ou coriza.

A conduta diante de um CE no nariz consiste em: evitar a sua


progressão e, se possível, possibilitar a sua retirada. Para isso:
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1: Solicite que a vítima respire pela boca;
2: Tape a narina livre do corpo estranho e expire de forma ativa pela narina acometida,
sem forçar. Caso não saia com facilidade, procure um médico.

Observação: Se a vítima for uma criança que ainda não consegue atender
solicitações/comandos dados pelo socorrista, deve-se tentar aspirar a narina acometida
ocluindo a boca e a narina pérvia, simultaneamente.

❖ Pele
A pele possui regiões ricamente vascularizadas. Por isso, o risco de corpos estranhos
estarem presos próximos a uma artéria, veia ou nervo, tornam a sua tentativa de retirada
contraindicada. Nestas situações, o procedimento correto é a lavagem com água corrente,
limpeza suave com pano macio e sabão em volta do ferimento, e a procura por socorro
médico. Se houver hemorragia ativa, iniciar os procedimentos para interromper o
sangramento (ver detalhes em Guia de Estudos III – Hemorragias, queimaduras e acidentes
com animais).
O não tratamento pode levar a infecção local e/ou hemorragia, ou ainda a
complicações mais graves.
ATENÇÃO
É muito importante que se questione a vítima sobre sua
Não tente retirar
situação vacinal: qualquer ferimento na pele, sobretudo aqueles qualquer objeto que
esteja preso à pele.
provocados por objetos sujos, enferrujados, estão associados ao
risco de tétano.

❖ Ouvido
Corpos estranhos podem penetrar acidentalmente também nos ouvidos, especialmente na
área correspondente ao conduto auditivo externo. Insetos, sementes, grãos de cereais e
pequenas pedras podem se alojar no ouvido externo. Muitas vezes, cerume endurecido é
confundido com um corpo estranho. Devemos determinar com a maior precisão possível a
natureza do corpo estranho. Todos os procedimentos de manipulação de corpo estranho
no ouvido devem ser realizados com extrema cautela. Erros de conduta e falta de habilidade
na realização de primeiros socorros podem ocasionar danos irreversíveis à membrana
timpânica com consequente prejuízo da audição, temporário ou permanente.
A posição indicada para a cabeça varia conforme o ATENÇÃO
Não utilizar qualquer outro
incidente. Se o objeto for visível e estiver facilmente ao
instrumento (agulha, tesoura,
alcance, pode-se tentar retirá-lo delicadamente com uma palito, etc) para tentar
remover o CE.
pinça caso haja experiência para tanto – as pontas dos
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dedos não são uma boa opção visto o maior risco de agravar o quadro. Deve-se ter
extremo cuidado para não empurrar ainda mais o corpo estranho. Se o objeto não sair ou
houver a possibilidade de empurrá-lo ainda mais, deve-se procurar socorro especializado.
Em caso de insetos vivos, pode-se tentar estimular a sua saída apontando, com uma certa
distância, um foco de luz no ouvido acometido. Antes de realizar esse procedimento, certifique-se
que aquela não é uma espécie com fotofobia!

❖ Boca
A principal preocupação de corpos estranhos na cavidade
oral é o seu risco de deglutição e de comprometimento da ATENÇÃO
Apenas utilizar o dedo
passagem de ar para a respiração. Nessas situações, as principais para retirar o objeto se
sua visualização for
vítimas são as crianças e a precaução e a atenção são as medidas
possível. Não faça
mais eficazes, sobretudo a supervisão constante. É imprescindível agir explorações às cegas.

com calma no momento de retirada do objeto, solicitar que a


pessoa fique parada e coloque para fora, se possível. Se não, posiciona-se a vítima (na maioria das
vezes crianças) com o tronco inclinado para frente, para fazer a exploração digital. O objetivo é
sempre evitar a deglutição e aspiração.

❖ Traqueia
O bloqueio da traqueia pode ocorrer por objeto estranho, por vômito ou até mesmo por
sangue. Quando isso ocorre, a passagem do ar é impedida provocando sintomas como tosse,
dispneia, cianose, podendo levar à asfixia.
Nesses casos, a conduta será tomada de acordo a gravidade da obstrução. Em
obstruções leves, ou seja, naquelas em que o paciente é capaz de responder se engasgado,
tossir, falar e respirar, não é preciso realizar manobras de desobstrução (não interferir),
mas sim acalmar o paciente, incentivar tosse vigorosa e observar.
Caso a obstrução seja grave, isto é, a vítima não consegue falar ou respirar,
apresentar respiração ruidosa, tosse silenciosa e/ou inconsciência, é preciso executar a
Manobra de Heimlich ou compressões torácicas (vide próximo item).

Manobra de Heimlich e compressão torácica


Autores: Larissa Teles

A manobra de Heimlich é executada em casos de obstrução grave de vias aéreas em que o


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paciente está consciente, mas não consegue falar. A manobra consiste em:

• Posicionar-se por trás do paciente, com seus


braços à altura da crista ilíaca e com uma das
pernas entre as pernas do paciente;
• Posicionar uma das mãos fechada, com a face
do polegar encostada na parede abdominal,
entre o apêndice xifoide e a cicatriz umbilical;
• Com a outra mão espalmada sobre a
primeira, comprimir o abdome em
movimento rápido, direcionado para dentro e
para cima (movimento em J); e repetir a
manobra até a desobstrução ou o paciente
tornar-se não responsivo.

• Obs.: em pacientes obesas e gestantes no último trimestre, realize as compressões


sobre o esterno (linha intermamilar) e não sobre o abdome.

Caso o paciente esteja ou torne-se arresponsivo:

• Posicionar o paciente em decúbito dorsal em uma superfície rígida;


• Se o paciente estiver sem responder, acione o SAMU 192 e solicite uma DEA
(desfibrilador externo automático). Nesse caso, estaremos diante de uma parada
cardiorrespiratória (nesse primeiro momento, não é necessário checar o pulso) e
deve ser iniciado o Suporte Básico de Vida por meio de compressões torácicas;
• Abrir vias aéreas, visualizar a cavidade oral e remover o corpo estranho, se visível
e alcançável (com dedos ou pinça);
• Se nada for encontrado, realizar 1 insuflação e se o ar não passar ou o tórax não
expandir, reposicionar a cabeça e insuflar novamente.

Caso o paciente seja um bebê:

• Deite-o sobre suas coxas com o dorso virado para cima;


• Entre as escápulas, bata com a região hipotênar de sua mão cinco vezes;
• Verifique se a resipiração voltou, bem como se o corpo estranho foi expelido e
está visível na boca do paciente (caso positivo, retirar com o dedo – movimento
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em pinça ou em gancho);
• Caso a respiração não tenha voltado, vire o bebê e realize compressões torácicas
com “movimento em J”, posicionando o paciente deitado sobre sua coxa,
utilizando o terceiro e o quarto dedo no local de compressão; repita até que haja
a expulsão do corpo estranho.

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Referências

ABCMED, 2014. Aspiração de corpo estranho: como ela é? O que deve ser feito?
Disponível em: <http://www.abc.med.br/p/saude-da-crianca/565097/aspiracao-de-corpo-
estranho-como- ela-e-o-que-deve-ser-feito.htm>. Acesso em: 15 de outubro de 2017.
Manual de Primeiros Socorros. Rio de Janeiro. Fundação Oswaldo Cruz, 2003.

Melo EMC, Gomes LMX, Melo MCB, Ferreira A, Vasconcellos MC, Medeiros AG - cartilha
informativa. Projeto Creche das Rosinhas. Departamentos de Pediatria da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. 2011
OCCITES. Corpos Estranhos. Disponível em: <
http://www.oocities.org/gepsaude/PS/corpos.htm > Acesso em: 15 de outubro de 2017.
BRADY, J. C. Como remover um corpo estranho do olho. Disponível em:
<https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%c3%barbios-
oftalmol%c3%b3gicos/como-fazer-procedimentos-oculares/como-remover-um- corpo-
estranho-do-olho>. Acesso em: 26 de Jan. 2021.
JACOBS, D. S. Corneal abrasions and corneal foreign bodies. UpToDate, 2021.

SHERPED. W. Airway foreign bodies in adults. UpToDate, 2020.


SAMU 192. Protocolo de Suporte Básico de Vida. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_suporte_basico_vida.pdf>. Acesso em:
26 de Jan. 2021.

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