534x Desenvolvimento Tecnologico Vs Desenvolvimento Sustentavel

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Universidade Paulista

Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia


Graduação em Engenharia Civil

ANDRE NUNES ROCHA RA:C19BGE-1


TURMA 10/WA0498

CURSO: 534X - ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO
VERSUS
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

CAMPUS – São José dos Campos – SP -DUTRA

São José dos Campos - SP


2022
2

Resumo

No mundo atual, a tecnologia tem se apresentado como o principal fator de


progresso e de desenvolvimento. No paradigma vigente, ela é assumida como um bem
social e, juntamente com a ciência, é o meio para a agregação de valores aos mais
diversos produtos, tornando-se chave para a competitividade estratégica e para o
desenvolvimento social e econômico de uma região. Nesse artigo procuramos refletir
como a ciência e a tecnologia vieram se instalando no mundo, quais as concepções e
ideologias que estava por trás de todo o desenvolvimento científico tecnológico. Para
isso, utilizamos a pesquisa bibliográfica. Iniciamos falando como tradicionalmente a
ciência é vista. Na segunda parte, evidenciamos a origem e disseminação da
tecnologia, como ela sofre e causa transformações profundas de caráter político, social,
econômico e filosófico na história do século XVII em diante. Por último, falamos da
necessidade de se pensar o desenvolvimento científico e tecnológico numa perspectiva
social, das modificações que a ciência e a tecnologia vêm sofrendo após a Segunda
Guerra Mundial e da importância do movimento CTS como impulsionador de
questionamentos críticos e reflexivos acerca do contexto científico-tecnológico e social.

Palavras-chave: CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade); educação tecnológica.


3

Abstract

In today's world, technology has been presented as the main factor for progress
and development. In the current paradigm, it is assumed as a social good and, together
with science, it is the means for adding value to the most diverse products, becoming a
key for strategic competitiveness and for the social and economic development of a
region. In this article, we seek to reflect on how science and technology came to be
installed in the world, which conceptions and ideologies were behind all scientific and
technological development. For this, we used bibliographic research. We begin by
talking about how science is traditionally seen. In the second part, we show the origin
and dissemination of technology, how it suffers and causes profound political, social,
economic and philosophical changes in history from the 17th century onwards. Finally,
we talk about the need to think about scientific and technological development from a
social perspective, the changes that science and technology have undergone after the
Second World War and the importance of the STS movement as a driver of critical and
reflective questions about the scientific context -technological and social.

Keywords: CTS (Science, Technology and Society); technological education.


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Sumário
1. Introdução 5

1.1. A Agenda 21 8

1.1.1. A Agenda 21 brasileira 9

2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SEUS CONCEITOS 10

2.1. Histórico e conceito de desenvolvimento sustentável 10

2.2. O desenvolvimento sustentável 10

2.3. As dimensões do desenvolvimento sustentável 12

3. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E SEUS CONCEITOS 13

3.1. Histórico e conceito de desenvolvimento tecnológico 13

3.2. A Visão Tradicional da Ciência 16

3.3. Tecnologia: Sua origem e disseminação 18

REFERÊNCIAS 25
5

1. Introdução

A relação do homem com a natureza sempre aconteceu de forma bastante


discrepante: de um lado, o homem, com toda a sua inteligência gananciosa, tentando
alimentar os seus desejos de consumo e conforto; do outro, a natureza, com toda a sua
exuberância e riqueza, fonte para todas as ações humanas. Em alguns casos, o
homem tem que escolher entre sua sobrevivência e a preservação da natureza, como é
o caso do agricultor que tira da terra o alimento que leva à mesa. Neste caso, fica o
dilema: a natureza ou o homem? Mas o que preocupa é o desenvolvimento sem limites
protagonizado pelo homem em prol de seus objetivos próprios.
Por muitos anos, esse foi o tipo de relação entre o homem e a natureza, até que
está passasse a dar sinal de alerta. Felizmente esse tipo de pensamento foi modificado
e, segundo Camargo (2004):
A ideia de um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI,
compatibilizando as dimensões econômica, social e ambiental, surgiu
para resolver, como ponto de partida no plano conceitual, o velho
dilema entre crescimento econômico e redução da miséria, de um lado,
e preservação ambiental de outro. O conflito vinha, de fato, arrastando-
se por mais de vinte anos, em hostilidade aberta contra o movimento
ambientalista, enquanto este, por sua vez, encarava o desenvolvimento
econômico como naturalmente lesivo e os empresários como seus
agentes mais representativos.

Um dos primeiros problemas ambientais ocorreu com o surgimento das cidades


e a satisfação das necessidades dos homens, sempre utilizando os recursos
ambientais.
A história das cidades do mundo em geral é longa. As primeiras cidades teriam surgido
entre quinze e cinco mil anos atrás, dependendo das diversas definições existentes
sobre o que define um antigo assentamento permanente como uma cidade.
Sociedades que vivem em cidades são, frequentemente, chamadas de civilizações.
A nossa sociedade tem vivido, atualmente, uma gama de problemas, decorrente
direta da sua forma de tratar e se relacionar com a natureza. A busca desenfreada pela
produção levou o homem a explorar intensamente os recursos disponíveis na natureza,
esquecendo que grande parte deles, além de não serem renováveis, quando retirados
6

da natureza em quantidades excessivas, deixam uma lacuna, às vezes irreversível,


cujas consequências são sentidas em gerações posteriores, principalmente em relação
às mudanças climáticas. Casseti (1991) afirma:
As transformações sofridas pela natureza, através do emprego
das técnicas no processo produtivo, são um fenômeno social,
representado pelo trabalho, e as relações de produção mudam
conforme as leis, as quais implicam a formação econômico-social e, por
conseguinte, as relações entre a sociedade e a natureza. Outros
problemas ambientais foram trazidos com a Revolução Industrial. A
Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças
tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível
econômico e social. Iniciada na Grã-Bretanha em meados do século
XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX.

Ao longo do processo (que, de acordo com alguns autores, registra-se até os


nossos dias), a era agrícola foi superada, a máquina foi suplantando o trabalho
humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre
nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, entre outros
eventos.
Essa transformação foi possível devido a uma combinação de fatores, como o
liberalismo econômico, a acumulação de capital e uma série de invenções, tais como o
motor a vapor. O capitalismo tornou-se o sistema econômico vigente. A partir da
Revolução Industrial, o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção
de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações
passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros
urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de
trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho em troca de salário. Outra das
consequências da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico. Antes dela,
o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a renda per capita
aumentasse sensivelmente) e, após, a renda per capita e a população começaram a
crescer de forma acelerada, nunca antes vista. Por exemplo, entre 1500 e 1780, a
população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5; entre 1780 e 1880, ela
saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil.
7

A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das


populações dos países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e
artesãos e se tornaram cada vez maiores e mais importantes. Na Inglaterra, por volta
de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em
cidades do que no campo. Nas cidades, as pessoas mais pobres aglomeravam-se em
subúrbios de casas velhas e desconfortáveis, se comparadas com as habitações dos
países industrializados hoje em dia. Mas representavam uma grande melhoria, se
comparadas às condições de vida dos camponeses que viviam em choupanas de
palha. Conviviam com a falta de água encanada, com os ratos, o esgoto formando
riachos nas ruas esburacadas.
O trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês: tarefas
monótonas e repetitivas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes.
A cada instante, surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas
modas.
Após a problemática relacionada ao homem x natureza, ocorreram conferências,
agendas e leis importantes na tentativa de reverter os problemas causados e acima
demonstrados, como: A Rio-92
Diante de tantas alterações no meio ambiente, somadas às ameaças de
extinção de muitos recursos naturais atualmente utilizados pelo homem, autoridades
(172 governos) e estudiosos do mundo inteiro reuniram-se, em 1992, no Rio de
Janeiro, para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida mundialmente como a “Conferência da Terra”.
Ela se tornou, por sua singularidade, um marco na história da humanidade, cujos
objetivos básicos giravam em torno da busca por um equilíbrio entre as necessidades
ambientais, sociais e econômicas para gerações atuais e presentes. Outro objetivo da
Conferência era a construção de uma espécie de associação mundial que
contemplasse os países desenvolvidos e em desenvolvimento para estudo e
compreensão das questões ambientais, interesse e preocupação igualmente comum a
todos. Governos e demais setores da sociedade civil também deveriam compor a
referida associação.
Essa Conferência foi popularizada com o título de Rio-92 e conseguiu reunir
108 chefes de Estado para aprovação de documentos importantes como a “Agenda
8

21”, que consiste em uma declaração do Rio acerca do meio ambiente e o


desenvolvimento, para definir quais são os direitos e deveres dos Estados.
Somente em 2002 a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou “A Carta
da Terra” e comparou sua importância para a humanidade à Declaração Universal dos
Direitos Humanos, no tocante ao meio ambiente. Desde então, podemos notar muito
progresso em relação ao pensamento e à postura das pessoas quanto à forma como o
meio ambiente está sendo explorado. Nota-se uma urgência em tentar recuperar o
tempo perdido e mais ainda em tentar desenvolver nas pessoas uma nova forma de
pensar e agir no que se refere às questões ambientais. Ambientalistas, geólogos e os
meios de comunicação são alguns exemplos de profissionais profundamente
engajados em prol de uma mudança da consciência ambiental dos seres humanos. As
escolas têm sido de fundamental importância na educação ambiental das crianças,
possibilitando a elas crescer com o compromisso de preservar e ajudar o seu
ecossistema.

1.1. A Agenda 21

A Agenda 21 é um dos mais importantes documentos referentes ao meio


ambiente e foi gerado na reunião de 178 nações na Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992. As dimensões da
sustentabilidade são parte do conteúdo da Agenda 21 global, modelo para que os
países a aplicassem e escrevessem também sua Agenda 21 nacional e local. Todas
essas dimensões que formam parte de um desenvolvimento sustentável são mostradas
por pesquisadores e governantes.
A Agenda 21 representa um conjunto de requisitos recomendados para uma boa
convivência da humanidade com o Planeta, e seus 40 capítulos estão divididos em
quatro seções. A primeira trata de aspectos sociais e econômicos de desenvolvimento;
a segunda, de aspectos ambientais e gerenciamento de recursos naturais; a terceira,
do fortalecimento do papel dos principais grupos sociais; e a última, a respeito dos
meios de implantação.
A água, realmente, é um recurso que precisa de muito respeito por parte do ser
humano, já que, muitas vezes, claros exemplos de poluição acontecem por
esvaziamentos de hidrocarbonetos ou outros elementos altamente contaminadores,
9

usados na indústria. Aspectos contidos na Agenda 21 são de alta preocupação com


respeito à preservação desse recurso, por ser escasso em várias partes do planeta,
como em algumas cidades do Brasil, e necessária para o consumo e a geração de
energia elétrica. A procura por alternativas de recursos renováveis que substituam as
necessidades da água será uma forma de seguir o contido na Agenda 21.
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a
humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez
mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e
grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma
magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma
comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma
sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos
universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito,
é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para
com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações (A Carta
da Terra - preâmbulo).

1.1.1. A Agenda 21 brasileira

A elaboração da Agenda 21 brasileira foi obra do trabalho da Comissão de


Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS). Essa
comissão foi criada por decreto presidencial em 26 de fevereiro de 1997, conformada
pelo Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério das Relações Exteriores, Presidência da
República, Fórum Brasileiro das Ong´s e Movimentos Sociais, Fundação Getúlio
Vargas, Fundação Movimento Onda Azul, Conselho Empresarial para o
Desenvolvimento Sustentável e Universidade Federal de Minas Gerais. Teve como
objetivo redefinir o desenvolvimento do país, adicionando o conceito de
sustentabilidade, qualificando suas potencialidades e as vulnerabilidades do Brasil no
quadro internacional (Bezerra et al., 2002).
Dentro das estratégias para gestão dos recursos naturais estabelecidas na
Agenda 21 brasileira, está o estabelecimento de normas e regulamentação para o uso
harmônico da energia e promoção de sistemas alternativos de geração energética,
10

transferindo ao consumidor orientações e escolhas feitas nos planos técnicos e


científicos. Essas normas são de responsabilidade dos gestores governamentais, por
meio da criação de leis para promover o investimento de capitais privados em usinas
alternativas, mediante mecanismos econômico-financeiros com incentivos fiscais e/ou
econômicos e dar condições para a disseminação dessas tecnologias, suas vantagens,
custos, facilidades e dificuldades na atualidade.

2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SEUS CONCEITOS

2.1. Histórico e conceito de desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável é um dos temas mais discutidos neste momento


em todo o mundo, seja pela preocupação econômica que a escassez das energias não
renováveis proporciona ou mesmo pelo despertar da consciência humana a respeito da
necessidade de preservação do planeta, bem como das gerações vindouras.
Realizaremos nosso estudo a partir do conceito básico de desenvolvimento
sustentável, cujo objetivo principal é o de se obter um desenvolvimento que seja eficaz
e que não venha a comprometer as gerações futuras.
Mas como conseguir tal feito, se o homem desde o seu primeiro instante na
Terra vem exercendo uma relação de total dominação sobre ela, sobretudo quanto à
extração de suas riquezas naturais?
Para encontrarmos a resposta para esta pergunta, foi preciso elaborar, no
módulo anterior, um breve estudo a respeito da relação homem-natureza e tentar
entender por que, hoje, essa relação vem ameaçando o futuro do nosso planeta.

2.2. O desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável baseia-se numa forma de desenvolvimento


capaz de acontecer de modo a suprir as necessidades presentes, ou seja, aquelas que
já se encontram instaladas, de forma que não venha a interferir no crescimento das
gerações futuras. Para isso, é de fundamental importância que se respeite a
exploração harmônica dos recursos oferecidos pela natureza. Também é
11

imprescindível que se perceba que alguns problemas podem acompanhar essa


exploração de recursos naturais e ameaçar a sustentabilidade. A geração de energia
oriunda de fontes renováveis vem despertando o interesse de vários países, por se
tratar de uma forma de obtenção mais barata e que não agride o meio ambiente. E, ao
que tudo indica, essa forma “limpa” de obtenção de energia pode-se voltar muito mais
competitiva, por conta das modernas tecnologias que possibilitam maiores economias
de escala, desde que o homem vem explorando os recursos naturais: na época Pré-
histórica, logo depois com a Revolução Industrial, chegando aos dias atuais. As fontes
renováveis, quando utilizadas para geração de energia, auxiliam na diminuição da
exploração dos recursos esgotáveis ou não renováveis, pois realizam uma exploração
mais harmônica; assim, com a exploração harmônica de fontes renováveis, pode-se
cuidar de ecossistemas que são impactados negativamente por geração de
substâncias poluentes emitidas no meio ambiente, no momento em que são
transformados em energias úteis para o homem alguns recursos não renováveis, como
petróleo, carvão e gás. As principais energias utilizadas pelo homem obtidas por
exploração das fontes naturais são energia térmica, mecânica e elétrica, entre outras.
Os recursos não renováveis, além de estarem em processo de esgotamento,
são os que mais impactos negativos trazem para a natureza, já que sua exploração
exige tecnologias especiais para extração, em virtude das condições de obtenção cada
vez mais remotas. Seu transporte também costuma oferecer riscos extras, conforme
pode ser visto no exemplo do petróleo. Depois de serem utilizados, são ainda esses
recursos uma grande ameaça poluente, como é o caso dos resíduos radioativos.
Atualmente, os níveis de contaminação por poluentes trazem grande
preocupação; por exemplo, segundo a World Energy Council, somente na geração de
energia elétrica, as emissões de CO2 (quando se utilizam os seguintes recursos: o
carvão natural — 980 g/Kwh; óleo combustível 818 g/Kwh e gás 430 g/Kwh
aproximadamente) contribuem fortemente para o efeito estufa e para a destruição da
camada de ozônio. Os níveis de emissões de CO2 no plano mundial desde 1980, com
uma projeção para 2020, estão descritos na tabela a seguir. Tabela 1: Evolução da
emissão de CO2 em milhões de toneladas no período 1980–2020
12

Tabela 1 - Evolução da emissão de CO2 em milhões de

Fonte: Rocha; Rossi, 2003, p. 245.

Para que se possa alcançar o objetivo básico do desenvolvimento sustentável, é


necessário que as questões ambientais estejam integralmente definidas, assim como a
contemplação de utilização de outras políticas que auxiliem no alcance do mesmo. Os
órgãos e as autoridades públicas competentes precisam adotar as medidas mais
adequadas para minimizar os efeitos negativos dos transportes no meio ambiente.
Devem, igualmente, procurar uma melhoria na gestão dos recursos naturais, no
combate à pobreza e à exclusão social. Segundo Daniel Bertoli1,
Esse conceito, que procura conciliar a necessidade de
desenvolvimento econômico da sociedade com a promoção do
desenvolvimento social e com o respeito ao meio ambiente, hoje é um
tema indispensável na pauta de discussão das mais diversas
organizações, e nos mais diferentes níveis de organização da
sociedade, como nas discussões sobre o desenvolvimento dos
municípios e das regiões, correntes no dia a dia de nossa sociedade.

2.3. As dimensões do desenvolvimento sustentável

Lage e Barbieri (2001) citam sete dimensões: ecológica, econômica, social,


espacial, cultural, tecnológica e política. Muitas delas podem interligar-se e trabalhar
em conjunto. Segundo Ignacy Sachs, as dimensões que abordam o desenvolvimento
sustentável são cinco: social, econômica, ecológica, espacial e cultural (Sachs, 1993).
Verifica-se que, quando se fala em sustentabilidade, não somente se trata de aspectos
ecológicos que mantêm as atividades do homem nos conceitos desse tipo de
desenvolvimento, mas também de outros aspectos, importantes para um
desenvolvimento sustentável.
13

É importante frisar que o desenvolvimento sustentável visa conciliar


desenvolvimento econômico – que é o desenvolvimento de riqueza material dos países
ou regiões, assim como o bem-estar econômico de seus habitantes – com
desenvolvimento social — que consiste na evolução dos componentes da sociedade
(capital humano) e na maneira como estes se relacionam (capital social) – e com
preservação ambiental, que é minimizar a utilização dos bens ambientais (recursos
naturais), conservando-os o máximo possível. Para Augusto de Franco (2002), “todo
desenvolvimento é desenvolvimento social”. O autor acrescenta que não há
desenvolvimento sem alteração tanto do capital social quanto do humano.
Desenvolvimento social só ocorre quando se estabelecem políticas que aperfeiçoem a
forma como os componentes de um conjunto interagem entre si e com o meio externo.
Entende-se como conjunto uma pequena comunidade rural, um centro urbano ou,
ainda, uma nação inteira. Diferente do desenvolvimento econômico, Augusto de Franco
(2002) nos diz que o desenvolvimento social só ocorre se todos os componentes da
sociedade forem beneficiados. Assim, determinada comunidade pode crescer
economicamente sem que isso represente um desenvolvimento social.

3. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E SEUS CONCEITOS

3.1. Histórico e conceito de desenvolvimento tecnológico

Um dos principais motores do avanço da ciência é a curiosidade humana,


descompromissada de resultados concretos e livre de qualquer tipo de tutela ou
orientação. A produção científica movida simplesmente por essa curiosidade tem sido
capaz de abrir novas fronteiras do conhecimento, de nos tornar mais sábios e de, no
longo prazo, gerar valor e mais qualidade de vida para o ser humano.
Por meio dos seus métodos e instrumentos, a ciência nos permite analisar o
mundo ao redor e ver além do que os olhos podem enxergar. O empreendimento
científico e tecnológico do ser humano ao longo de sua história é, sem dúvida alguma,
o principal responsável por tudo que a humanidade construiu até aqui. Suas
realizações estão presentes desde o domínio do fogo até às imensas potencialidades
derivadas da moderna ciência da informação, passando pela domesticação dos
14

animais, pelo surgimento da agricultura e indústria modernas e, é claro, pela


espetacular melhora da qualidade de vida de toda a humanidade no último século.
Além da curiosidade humana, outro motor importantíssimo do avanço científico é
a solução de problemas que afligem a humanidade. Viver mais tempo e com mais
saúde, trabalhar menos e ter mais tempo disponível para o lazer, reduzir as distâncias
que nos separam de outros seres humanos – seja por meio de mais canais de
comunicação ou de melhores meios de transporte – são alguns dos desafios e
aspirações humanas para os quais, durante séculos, a ciência e a tecnologia têm
contribuído.

Uma pessoa nascida no final do século 18, muito provavelmente morreria antes
de completar 40 anos de idade. Alguém nascido hoje num país desenvolvido deverá
viver mais de 80 anos e, embora a desigualdade seja muita, mesmo nos países mais
pobres da África subsaariana, a expectativa de vida, atualmente, é de mais de 50 anos.
A ciência e a tecnologia são os fatores chave para explicar a redução da mortalidade
por várias doenças, como as doenças infecciosas, por exemplo, e o consequente
aumento da longevidade dos seres humanos.
Apesar dos seus feitos extraordinários, a ciência e, principalmente, os
investimentos públicos em ciência e tecnologia parecem enfrentar uma crise de
legitimação social no mundo todo. Recentemente, Tim Nichols, um reconhecido
pesquisador norte-americano, chegou a anunciar a “morte da expertise”, título de seu
livro sobre o conhecimento na sociedade atual. O que ele descreve no livro é uma
descrença do cidadão comum no conhecimento técnico e científico e, mais do que isso,
um certo orgulho da própria ignorância sobre vários temas complexos, especialmente
sobre qualquer coisa relativa às políticas públicas. Vários fenômenos sociais recentes,
como o movimento anti-vacinas ou mesmo a desconfiança sobre a fatalidade do
aquecimento global, apesar de todas as evidências científicas em contrário, parecem
corroborar a análise de Nichols.
Viver mais tempo e com mais saúde, trabalhar menos e ter mais tempo
disponível para o lazer, reduzir as distâncias que nos separam de outros seres
humanos - seja por meio de mais canais de comunicação ou de melhores meios de
transporte - são alguns exemplos dos desafios e aspirações humanas para os quais,
durante séculos, a ciência e a tecnologia têm contribuído.
15

Esses fenômenos têm perpassado nacionalidades. No Brasil, no ano passado, o


debate sobre a chamada “pílula do câncer” evidenciou como o conhecimento científico
estabelecido foi negligenciado pelos representantes eleitos pelo povo brasileiro. A crise
de financiamento recente também é um sintoma da baixa estima da ciência na
sociedade ou, pelo menos, da baixa capacidade de mobilização e de pressão por uma
fatia maior dos recursos orçamentários.
Em editorial recente, a Nature faz uma afirmação forte, mas que pode estar na
raiz desses fenômenos: “the needs of millions of people in the United States (and
billions of people around the world) are not well enough served by the agendas and
interests that drive much of modern science”. Para a revista, portanto, os cientistas e as
organizações científicas deveriam sair de suas bolhas, olhar com mais empenho para
as oportunidades e problemas sociais e procurar meios pelos quais a ciência possa
ajudar a resolvê-los. A revista citou como exemplo o Projeto Genoma, cujos
impactos positivos já foram fartamente documentados. Mesmo assim, a revista
questiona até que ponto as descobertas do projeto – e os medicamentos e tratamentos
médicos dali derivados – beneficiam toda a sociedade ou apenas alguns poucos que
possuem renda suficiente para pagar por essas inovações.
Esse questionamento da Nature remete a um outro problema relevante e que
afeta a relação entre ciência e sociedade. A despeito da qualidade de vida de todos ter
melhorado nos últimos séculos, em grande medida graças ao avanço científico e
tecnológico, a desigualdade vem aumentando no período mais recente. Thomas Piketty
evidenciou um crescimento da desigualdade de renda nas últimas décadas em todo o
mundo, além de mostrar que, no início desse século, éramos tão desiguais quanto no
início do século passado.
Esse é um problema mundial, mas é mais agudo em países em
desenvolvimento, como o Brasil, onde ainda abundam problemas crônicos do
subdesenvolvimento que vão desde o acesso à saúde e à educação de qualidade até
questões ambientais e urbanas. É, portanto, nesta sociedade desigual, repleta de
problemas e onde boa parte da população não compreende o que é um átomo, que a
atividade científica e tecnológica precisa se desenvolver e se legitimar. Também é esta
sociedade que decidirá, por meio dos seus representantes, o quanto dos seus recursos
deverá ser alocado para a empreitada científica e tecnológica.
16

Portanto, a relação entre ciência, tecnologia e sociedade é muito mais complexa


do que a pergunta simplória sobre qual seria a utilidade prática da produção científica.
Ela passa por uma série de questões, tais como de que forma a ciência e as novas
tecnologias afetam a qualidade de vida das pessoas e como fazer com que seus
efeitos sejam os melhores possíveis? Quais são as condições sociais que limitam ou
impulsionam a atividade científica? Como ampliar o acesso da população aos
benefícios gerados pelo conhecimento científico e tecnológico? Em que medida o
progresso científico e tecnológico contribui para mitigar ou aprofundar as
desigualdades socioeconômicas? Em face das novas tecnologias, cada vez mais
capazes de substituir o ser humano nas suas atividades repetitivas, como será o
trabalho no futuro? Essas são questões cruciais para a ciência e a tecnologia nos dias
de hoje.

3.2. A Visão Tradicional da Ciência

A ciência tem recebido várias definições, mas uma das mais aceita pela
comunidade científica é a proposta pela UNESCO que declara: “a ciência é o conjunto
de conhecimentos organizado sobre os mecanismos de causalidade dos fatos
observáveis, obtidos através do estudo objetivo dos fenômenos empíricos”
Tradicionalmente, a ciência é vista como um empreendimento autônomo, objetivo e
neutro baseado na aplicação de um código de racionalidade alheio a qualquer tipo de
interferência externa. Segundo Bazzo, Linsingen e Pereira (2003, p.14), nessa
concepção o que garante a cientificidade é o “método científico”, ou seja, é o
procedimento regulamentado para avaliar a aceitabilidade de enunciados gerais
baseados no seu apoio empírico e, adicionalmente, na sua consistência com a teoria
da qual devem formar parte. Uma qualificação particular da equação “lógica +
experiência” deveria proporcionar a estrutura final do “método científico”.
O desenvolvimento científico é concebido como um processo regulado por um
rígido código de racionalidade autônomo em relação a condicionantes externos, tais
como: sociais, políticos, psicológicos, entre outros, em que, nas situações de
incertezas, apela-se para algum critério metafísico objetivo, valorizando a simplicidade,
o poder preditivo, da fertilidade teórica e do poder explicativo sendo o desenvolvimento
temporal do conhecimento científico visto como avanço linear e cumulativo, como
paradigma de progresso humano. Enfim, podemos dizer que a concepção positivista da
17

ciência, defendida por Popper, trata a ciência como se ela fosse neutra, totalmente
destituída de qualquer ação humana, de maneira que o observável independe das
impressões sensíveis, das expectativas, dos preconceitos e do estado interno geral do
observador. Entretanto, questionamos: Onde ficam os valores do pesquisador, a
dimensão social e a contextualização com a realidade nesse tipo de pesquisa? O
pesquisador consegue se manter totalmente à parte do processo? A quem interessa
esse tipo de pesquisa? Japiassu (1981, p143) questiona a neutralidade científica
levantando a seguinte questão: qual ciência, em suas pesquisas, deixa de fazer apelo a
certos valores e a certas normas éticas? O autor acrescenta, ela faz apelo, pelo menos,
à norma ética segundo a qual todo conhecimento deve ser objetivo. Contrário a essa
linha de pensamento, a partir de Kuhn a filosofia toma consciência da importância da
dimensão social e do enraizamento histórico da ciência, ao mesmo tempo em que
inaugura um estilo interdisciplinar que tende a dissolver as fronteiras clássicas entre as
especialidades acadêmicas. Para Bazzo, Lisingen e Pereira (2003, p.21), a superação
do positivismo lógico teve influência marcante de Thomas S. Kuhn,

Quando em 1962, introduziu conceitos sociais para explicar como muda


a ciência, sua dinâmica e seu desenvolvimento. Segundo Kuhn (1989)
para se saber o que é ciência seria necessário ajustar a caracterização
dos seus aspectos dinâmicos, de um estudo disciplinar da história da
ciência real, o que se constituiu uma autêntica revolução na forma de
abordar o problema. O autor ainda considerou que o progresso
científico ocorre mediante saltos e não numa linha contínua, uma vez
que a ciência tem períodos estáveis ao qual denominou de ciência
normal e períodos de revoluções científicas com aparecimento de
paradigmas alternativos. Portanto, a partir de Kuhn, é a comunidade
científica que marca os critérios para julgar e decidir sobre a
aceitabilidade das teorias e não a realidade empírica. Conceitos como
‘busca da verdade’ e ‘método científico’ passaram então a ser
substituídos por conceitos como ‘comunidade’ e ‘tradição’. Bazzo,
Lisingen e Pereira (2003, p.22) complementam que uma das principais
abordagens de Kuhn foi: de que a análise racionalista da ciência
proposta pelo positivismo lógico é insuficiente, e que é necessário
apelar para a dimensão social da ciência para explicar a produção,
manutenção e mudança das teorias científicas. Portanto, a partir de
18

Kuhn impõe-se a necessidade de um marco conceitual enriquecido e


interdisciplinar para responder às questões traçadas tradicionalmente
de um modo independente pela filosofia, pela história e pela sociologia
da ciência. A obra de Kuhn dá lugar a uma tomada de consciência
sobre a dimensão social e o enraizamento histórico da ciência, ao
mesmo tempo em que inaugura o estilo interdisciplinar que tende a
dissipar as fronteiras clássicas entre as especialidades acadêmicas,
preparando o terreno para os estudos sociais da ciência.

Nesse contexto, Japiassu (1981, p.142) contribui dizendo que a fim de


estabelecer um novo fundamento epistemológico para a ciência, vem sendo realizado
tentativas de reconhecer a dimensão social da prática científica e da necessidade dos
cientistas tomarem consciência dessa dimensão, de forma que se desenvolva uma
“epistemologia crítica”, cujo objetivo fundamental seria “uma atitude reflexiva sobre os
projetos de pesquisas científicas, tendo em vista a descoberta, a análise e a crítica das
diferentes conseqüências funestas ao homem e a natureza gerada pela tecnologia em
curso”. No âmbito dos estudos sociais da ciência, Bazzo, Linsingen e Pereira (2003)
colocam que autores como B. Barnes, H. Collins e Bruno Latour passaram a usar a
sociologia do conhecimento para apresentar uma visão geral da atividade científica
como mais um processo social, regulado basicamente por fatores de natureza não
epistêmica, os quais teriam relação com pressões econômicas, expectativas
profissionais ou interesses sociais específicos.
A própria filosofia tem manifestado um crescente interesse pelo contexto.
Produz-se assim uma mudança de ênfase nos detalhes das práticas científicas
particulares, ressaltando a heterogeneidade das culturas científicas em contraposição
ao tradicional projeto reducionista do Positivismo Lógico.

3.3. Tecnologia: Sua origem e disseminação

Análoga à história da ciência na modernidade, a tecnologia6 sofre e causa


transformações profundas de caráter político, econômico, social e filosófico, na história
do séc. XVII em diante. Por isso, Miranda (2002, p.51) afirma que a tecnologia moderna
não pode ser considerada um mero estudo da técnica. Ela representa mais que isso,
19

pois nasceu quando a ciência, a partir do renascimento, aliou-se à técnica, com o fim
de promover a junção entre o saber e o fazer (teoria e prática). Segundo a autora:

A tecnologia é fruto da aliança entre ciência e técnica, a qual produziu a


razão instrumental, como no dizer da Teoria Crítica da Escola de
Frankfurt. Esta aliança proporcionou o agir-racional-com-respeito-a-fins,
conforme assinala Habermas, a serviço do poder político e econômico
da sociedade baseada no modo de produção capitalista (séc. XVIII) que
tem como mola propulsora o lucro, advindo da produção e da
expropriação da natureza. Então se antes a razão tinha caráter
contemplativo, com o advento da modernidade, ela passou a ser
instrumental. É nesse contexto que deve ser pensada a tecnologia
moderna; ela não pode ser analisada fora do modo de produção,
conforme observou Marx. (MIRANDA, 2002, p.51)
Nesse sentido, Bastos (1998, p.13) corrobora ao afirmar que a tecnologia é um
modo de produção, o qual utiliza todos os instrumentos, invenções e artifícios e que,
por isso, é também uma maneira de organizar e perpetuar as vinculações sociais no
campo das forças produtivas. Dessa forma, a tecnologia é tempo, é espaço, custo e
venda, pois não é apenas fabricada no recinto dos laboratórios e usinas, mas recriada
pela maneira como for aplicada e metodologicamente organizada.
Isso evidencia que se considerarmos que a tecnologia moderna está inserida e
se produziu num contexto social, político e econômico determinado, originando uma
sociedade capitalista, então a nossa visão sobre a tecnologia e o seu papel na
sociedade deverá ser diferente daquela que prega que a tecnologia é um “mal
necessário”, pois se compreendemos que ela surgiu em certo período histórico ela não
é inerente à condição humana, ou seja, não é tão antiga quanto a técnica.
Por isso, é necessário fazermos uma avaliação crítica sobre a tecnologia, sua
constituição histórica e sua função social, no sentido de não só compreender o sentido
da tecnologia, mas também de repensar e redimensionar o papel da tecnologia na
sociedade. Segundo Miranda (2002, p.55 e 56), é necessário dirigir a razão (o pensar)
para a emancipação do homem e não para sua escravidão, como ocorre na razão
instrumental conforme a avaliação dos frankfurtianos e também conduzir a razão para
emancipação, com uma maior autonomia da ciência, que nos tempos modernos tornou-
20

se escrava da tecnologia, para redefinir qual a função social da ciência, da técnica e da


tecnologia.
Passados mais de três séculos, a história do desenvolvimento tecnológico nos
dá condições suficientes para avaliar as significações da tecnologia moderna que
modelou a sociedade como industrial, pós-industrial e por último, da sociedade
informática. Miranda (2002, p.56) cita que segundo alguns pensadores da atualidade
como: “Robert Kurz, Arrighi, Ramonet, Boaventura Santos, vivemos hoje o ‘colapso da
modernização’. A começar pela própria confiança absoluta na ciência que emanciparia
o homem de toda escravidão, obscurantismos e medo. De fato, isso não ocorreu, o que
constatamos hoje é a escravidão do próprio homem pelas suas invenções e
descobertas tecnológicas, só possíveis graças à aliança entre ciência e técnica”.
Miranda ainda acrescenta “Nunca na história da humanidade tantas pessoas morreram
de fome, na miséria ou pela violência, cujos dados são apontados por Boaventura
(2000, p.22)7 ”. Miranda (2002, p.56) também expõe a opinião de Hobsbawn8 sobre a
história do século XX, o qual considera que vivemos a era dos extremos, devido aos
paradoxos que se nos apresentam. A começar pelo próprio avanço tecnológico de um
lado e o extermínio de culturas e povos (seja pela miséria, seja pela guerra) de outro.
Arocena (2004, p.208) complementa que a tecnologia tem multiplicado e
transformado qualitativamente o poder de produzir e destruir, de curar e depredar, de
ampliar a cultura dos seres humanos e de gerar riscos para a vida, sendo que esse
poder associado aos perigos está distribuído social e regionalmente, de maneira muito
desigual. Dessa maneira a ciência e a tecnologia têm feito que o poder se fixe nas
mãos de alguns seres humanos.
Vivemos num mundo em que a tecnologia representa o modo de vida da
sociedade atual, na qual a cibernética, a automação, a engenharia genética, a
computação eletrônica são alguns dos ícones que da sociedade tecnológica que nos
envolve diariamente. Por isso, a necessidade de refletir sobre a natureza da tecnologia,
sua necessidade e função social.
Para Bazzo, Linsingen e Pereira (2003, p.41) a imagem convencional da
tecnologia é que ela sempre teria como resultado produtos industriais de natureza
material, manifestada nos artefatos tecnológicos (máquinas), cuja elaboração tenha
seguido regras fixas ligadas às leis das ciências físico-químicas, ou seja, a tecnologia
numa visão convencional seria a ciência aplicada, Isso implica dizer que a tecnologia é
21

redutível à ciência e que é respaldada pela postura filosófica do positivismo lógico de


importante tradição acadêmica, para o qual as teorias científicas são valorativamente
neutras, em que, os cientistas não são responsáveis pela aplicação da ciência
(tecnologia), mas sim a responsabilidade deveria recair sobre aqueles que fazem uso
da tecnologia (ciência aplicada). Essa imagem contribuiu para sustentar a idéia de que
se a ciência é neutra, os produtos de sua aplicação também são.
Dizer que a tecnologia é uma ciência aplicada para Luján e Cerezo (2004, p.82),
sugere que a aplicação é posterior a aquisição de um conhecimento confiável sobre
seus possíveis efeitos, ou seja, a aplicação tecnológica se produz debaixo do amparo
do conhecimento teórico. Assim, há poucas possibilidades de se produzirem surpresas
desagradáveis, já que o conhecimento científico prévio é a melhor ferramenta para
controlar as conseqüências de uma aplicação tecnológica, pois não se trata de um
processo cego de ensaio e erro e sim de uma intervenção no mundo, baseado no
conhecimento teórico e do método experimental próprio da ciência moderna. A
tecnologia, por muito tempo, foi considerada, ingenuamente, neutra. Todavia, a partir
do movimento ludita9 em relação à tecnologia, a maneira ingênua como ela era tratada
começa a ser questionada começando-se a perceber que a ciência não é neutra, que
apesar de algumas serem utilizadas para o benefício dos seres humanos, também
existem outras que são prejudiciais.
Nessa perspectiva, Laranja, Simões e Fontes (1997, p.23) contribuem “Ciência e
tecnologia não são neutras, pois refletem as contradições das sociedades que as
engendram, tanto em suas organizações quanto em suas aplicações. Na realidade, são
formas de poder e de dominação entre grupos humanos e de controle da natureza”.
Sale apud Bazzo, Linsingen e Pereira (2003, p.72) também argumenta que a
partir do movimento ludita o custo/benefício do industrialismo começa a ser
questionado, pois esse está relacionado fundamentalmente nas bases econômicas de
sua utilização não se preocupando com as questões culturais, sociais ou ambientais,
ou seja, ocorre uma divisão de custo/benefício injusta e que trata de impor princípios
principalmente econômicos destruindo os costumes tradicionais adquiridos até então.
Miranda (2002, p.11) colabora ao afirmar:

Na modernidade (a partir do séc. XVI), devido a fatores históricos,


sociais, culturais, econômicos, políticos, a tecnologia sofre e propicia
transformações profundas. E muito além de alterar padrões de
22

comportamento, a tecnologia, a partir da modernidade, contribui para


alterar a relação do ser humano com o mundo que o cerca, implicando
no estabelecimento de uma outra cosmovisão, diferentemente daquela
dos gregos ou dos medievais.

Por isso mesmo, a tecnologia moderna não pode ser considerada um mero
estudo da técnica, pois quando a ciência, a partir do renascimento, aliou-se à técnica,
com o fim de promover a junção entre o saber e o fazer (teoria e prática), nascia aí a
tecnologia moderna. Diante desse panorama, pode-se dizer que a tecnologia é um
fenômeno social, complexo, que nos conduz a um posicionamento valorativo frente a
ela.
Segundo Miranda (2002, p.24) muitos são os autores que apresentam suas
avaliações e posições sobre a valoração social da tecnologia. Em sua dissertação de
mestrado (2002) no tópico que faz uma análise sobre a dimensão ontológica da
tecnologia moderna, essa pesquisadora apresenta alguns posicionamentos existentes
atualmente na doutrina a respeito da função social da tecnologia, destacando três
diferentes posicionamentos, os quais podem ser classificados como visão otimista,
visão pessimista e visão moderada da tecnologia.
Entre os que possuem uma visão mais otimista sobre a tecnologia ela cita Schaff
(1993), o qual faz sua reflexão sobre a sociedade informática. A visão otimista é própria
daqueles que defendem incondicionalmente a tecnologia e que usam como
argumentos que a tecnologia é garantia de bem-estar para os seres humanos,
desobrigando-os do trabalho pesado, e é considerada como necessidade fundamental
para o progresso e o desenvolvimento, e como curso natural do desenvolvimento e do
progresso científico.
A visão oposta é a dos pessimistas, que consideram que na origem da
tecnologia está a destruição da vida e do planeta e que, se o quadro de
desenvolvimento tecnológico permanecer como está hoje, não há sequer possibilidade
de reversão do quadro de destruição. Dentre os autores com esse tipo de visão,
destaca-se Enguita (1991, p. 231), o qual critica que além da eliminação do trabalho
humano, que para os marxistas é inerente ao processo de hominização do homem, a
tecnologia é orientada pelo lucro existindo em função da maior produção; por isso, a
necessidade de robotização, o que levará a destruição dos homens.
23

Em relação às duas posições anteriores, Arocena (2004, p.215) considera a


ciência e a tecnologia como uma panacéia, univocamente benfeitora, cujo fomento
seria fundamental na superação do atraso tecnológico dos países subdesenvolvidos,
consistiria seguir os mesmos caminhos dos países ricos, o que é inviável. Da mesma
maneira, considerar a tecnologia avançada somente como prejudicial, é uma
generalização que também pode ser perigosa servindo para promover o
subdesenvolvimento. Por isso, a necessidade de se buscar uma atitude mais prudente
na sua geração e sua utilização.
A terceira visão citada por Miranda (2002) é a moderada, a qual prega a
necessidade de repensar a direção dada à tecnologia hoje, advertindo da necessidade
de minimizar os riscos sem, contudo, abdicar dos benefícios que a tecnologia propicia a
humanidade. Com essa visão, Miranda (2002, p.25) cita Kneller, que assim se
expressou:

O caminho mais sensato é almejar um progresso limitado e manter seus


inevitáveis custos em nível mínimo. Alguma inovação tecnológica é
essencial e desejável. Ela tem sido necessária à modernização de todas
as sociedades, e habilitará a nossa a sobreviver e melhorar. O
desenvolvimento de novas tecnologias deve ser encorajado e o
treinamento de tecnólogos imaginativos promovido. [...] A tecnologia
pode criar ou destruir, tornar o homem mais humano ou menos. Mas as
civilizações, como os indivíduos, devem correr riscos se quiserem
progredir. Se exercermos prudência para minimizar os danos da
tecnologia e incentivar o máximo seus benefícios, certamente valerá a
pena aceitar o risco.

Os pensadores que se encontram nesse tipo de visão enfatizam um sistema


tecnológico capaz de se adequar a uma sociedade democrática mais humana. Porém,
o que temos presenciado é que, com a modernidade, a ciência não tem se constituído
num saber livre e desinteressado, teórico e especulativo. Com a modernidade, a
ciência e a tecnologia passaram a ter outro significado. Com o advento da sociedade
mercantilista, a ciência moderna não surgiu como uma ciência pura e desinteressada,
como uma aventura espiritual ou intelectual. Japiassu (1991, p.157) afirma que ela
nasceu:
24

[...] dentro de um contexto histórico, separável de um movimento


visando a racionalização da existência. E é todo desenvolvimento da
sociedade comercial “industrial” técnica e científica que se inscreve no
programa prático da racionalidade burguesa: não se faz comércio
empiricamente, pois ele é um negócio de cálculo, deve ser feito
racionalmente. Assim a burguesia nascente, que logo se instala no
poder, tem necessidade de um sistema de produção permitindo-lhe uma
exploração sempre maior e mais eficaz da Natureza. E tal sistema não
tarda a fazer apelo a um novo tipo de trabalhador: o cientista. Doravante
cabe-lhe a responsabilidade de detectar as leis gerais da Natureza.
Quanto ao trabalho propriamente produtivo [...], é da alçada de
engenheiros, que utilizam as descobertas dos cientistas em termos de
aplicações particulares.

O progresso técnico não é uma invenção dos tempos modernos, pois já existia o
moinho d’água que foi bastante utilizado no século XIII, mas podemos dizer que a
ciência moderna tem papel preponderante para o desenvolvimento tecnológico,
especialmente nos países denominados “desenvolvidos”. Segundo Habermas (1994),
ocorreu uma “cientifização da técnica” uma vez que no capitalismo sempre existiu a
pressão institucional para aumentar a produtividade do trabalho através da introdução
de novas técnicas. Entretanto, as inovações dependiam de invenções esporádicas, que
podiam ser introduzidas economicamente ainda com uma característica de crescimento
natural. A partir do séc. XIX isso mudou, na proporção em que o progresso
técnico entrou em circuito retroativo com o progresso da ciência moderna. Com a
pesquisa industrial em grande escala, ciência, técnica e valorização foram inseridas no
mesmo sistema. Nesse mesmo tempo, a industrialização estava vinculada a pesquisas
encomendadas pelo estado favorecendo primeiramente, o progresso científico e
técnico do setor militar. De onde partem as informações para os setores de bens civis.
Dessa forma, a ciência e a técnica passam a ser a principal força produtiva.
A tecnologia concede à ciência precisão e controle nos resultados de suas
descobertas, facilitando não só a relação do homem com o mundo como possibilitando
dominar, controlar e transformar esse mundo. Segundo Miranda (2002, p.48), a teoria
crítica dos frankfurtianos considera “que a ciência moderna instrumentalizou a razão e
escravizou o homem através do controle lógico-tecnológico criando a tecnocracia, onde
25

toda a vida humana é conduzida e determinada pelos padrões técnicos impostos pela
ciência. Tudo se submete às regras da produção tecnológica”. Miranda (2002, p.48)
continua:

Hoje quem dirige e controla a pesquisa científica é o poder tecnológico,


situado fora, inclusive, dos grandes centros de pesquisa, como as
universidades. Estas perderam, em grande parte, o senso de ciência
como pesquisa livre e com autonomia e se tornaram referência de
pesquisas encomendadas por centros de tecnologia, feitas, inclusive,
sem que os cientistas jamais saibam de sua finalidade.

Contrariando essa postura, entendemos que defensores e questionadores do


desenvolvimento tecnológico devem atender, sobretudo, o “poder coletivo” que geram,
incluindo-se aí o potencial para a destruição, para realizar as atividades perigosas e
para depredar a natureza e, também os benefícios para a saúde humana, inclusive a
preservação ou construção de relações que não degradem o meio ambiente.
Entretanto, o balanço entre um ou outro tipo de atividade, depende fundamentalmente
de como é distribuído o “poder” gerado pela ciência e pela tecnologia, ou seja, de quem
ou de como são manipuladas.
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