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AQÜICUL TURA: DESAFIOS PARA PRODUZIR PEIXES DE FORMA SUSTENTÁVEL

Raimundo Nonato Guimarães Teixeira'

1 -INTRODUÇÃO

A aqüicultura é a criação de peixes, mariscos e plantas marinhas em águas


costeiras e continentais. É um setor que está crescendo mais depressa do que
qualquer outro no âmbito da produção animal, incluída aí a pesca marinha
tradicional. A aqüicultura é a forma mais eficaz e sustentável de garantir que haja
proteínas suficientes para alimentar um mundo cuja população não pára de
crescer. A aqüicultura tem como meta a sustentabilidade do setor pesqueiro.
De acordo com a FAO, a exportação mundial, em 2005, foi de 95 milhões de
toneladas, das quais 60 milhões foram canalizadas para o consumo humano.
Apesar desse número, a Europa contribui apenas com 3% da produção da
aqüicultura mundial, embora seja líder em espécies como a truta, a dourada, o
robalo e o salmão. São dados do Estado Mundial da Aqüicultura em 2006,
documento apresentado na reunião bienal do Sub-comitê de Aqüicultura da FAO
em Nova Délhi, índia, em setembro de 2006.
As estatísticas apresentadas pela FAO, Organização das Nações Unidas para
a Agricultura e a Alimentação, são alarmantes: seis de cada dez espécies
comerciais são exploradas ao extremo, sendo que apenas 30% dos mares têm
recursos garantidos. Se não forem tomadas medidas imediatas, espécies muito
populares, como o bacalhau, poderão desaparecer dentro de, no máximo, 15
anos.
Enquanto em 1980 apenas 9% do pescado para o consumo humano procedia
da aqüicultura, esse número cresceu hoje para 43%, segundo o relatório da FAO.
Já o nível das pescas no mar permaneceu basicamente estável desde meados
da década de 1980, oscilando entre 90 e 93 milhões de toneladas anuais.
Segundo a FAO, a aqüicultura mundial vem apresentando crescimento médio
anual de 9,2 %, comparados com 1,4 % na pesca extrativa e 2,8% na produção de
animais terrestres. A China permanece como o maior produtor, com 71 % do
volume e cerca de 50 % em termos de valor econõmico. Grande parte da
aqüicultura de água doce no mundo é praticada em águas doces superficiais,
que constituem apenas 0,3% da água disponível no planeta.
° desafio é expandir sustentavelmente. A aqüicultura pode causar impactos
econômicos, sociais e ambientais positivos ou negativos, dependendo da
situação. Os rios, integralizadores de fenômenos que ocorrem nas vertentes das
bacias, estão expostos aos impactos causados pelas atividades agropecuárias

°
que alteram os processos biológicos, físicos e químicos dos sistemas naturais.
tipo e escala dos impactos causados pela aqüicultura dependem da
intensidade do sistema produtivo e condições físicas, químicas e biológicas da
área em questão. Geralmente, quanto mais intensivo o sistema, maiores os
impactos ambientais.

1 Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Caixa postal 48, Belém - Pará.


[email protected]

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2 - EFLUENTES DAAQÜICULTURA
OS rios e águas adjacentes às fazendas de aqüicultura podem receber, via
efluentes, cargas elevadas de nutrientes acelerando o processo de eutrofização.
Esse é um dos maiores problemas ambientais relacionados à aqüicultura. A
ração, que é adicionada aos viveiros para que os peixes cresçam o mais rápido
possível, contribui para a eutrofização das águas dentro e fora das fazendas.
Economicamente, os sistemas intensivos são inviáveis sem o uso de ração.
Apenas parte da desse alimento que entra no viveiro é consumida. A amônia é o
principal produto final da quebra de proteína após a ingestão e digestão da
ração, e é eliminada pelos peixes na água. A parcela da ração adicionada aos
viveiros e não consumida também é transformada em amônia, através da
decomposição por determinadas bactérias. A amônia é fonte de nitrogênio nos
efluentes da aqüicultura. Além do nitrogênio, as concentrações de fósforo nos
viveiros também aumentam durante o tempo de cultivo.
O impacto ambiental dos efluentes da aqüicultura depende das espécies
que estão sendo cultivadas, intensidade do cultivo, densidade de animais,
composição da ração utilizada, técnicas de alimentação dos animais e hidrografia
da região. Algumas pesquisas mostram que os viveiros de aqüicultura podem
lançar quantidades significativas de N e P em corpos de água adjacentes. Estudos
realizados em fazendas de bagres do canal (Ictalurus punctatus), por exemplo,
apontam que, em média, para cada tonelada do peixe produzida são liberados
no meio ambiente 9,2 kg de N e 0,57 kg de P. Enquanto os sistemas extensivos
geralmente são minimamente impactantes devido à baixa densidade de
organismos cultivados e ao não uso de ração, os sistemas intensivos podem
causar graves danos ambientais.
As criações intensivas são completamente dependentes de ração. Nos
sistemas sem i-intensivos e extensivos, que são os sistemas mais utilizados
nos trópicos, além da densidade de peixes ser menor também há o
aproveitamento da alimentação natural dos viveiros e, conseqüentemente, menor
utilização de ração. Dependendo da espécie cultivada e da técnica utilizada, mais
de 85% do fósforo e 52-95% do nitrogênio que entram nos viveiros através da
adição de ração podem ser eliminados no meio ambiente. Quanto maior as
taxas de alimentação através de ração, maior o impacto ambiental.

3 -IMPACTOS GENÉTICOS
As tilápias, hoje em dia muito importantes para a aqüicultura brasileira, são
originárias da África. De fácil adaptação, a tilápia já foi disseminada pelo Brasil inteiro
não somente dentro das fazendas de aqüicultura mas também fora delas - apesar da
precaução é muito comum peixes fugirem das fazendas e atingirem as bacias
hidrográficas causando diversos impactos ecológicos. Do ponto de vista produtivo
as tilápias apresentam muitas vantagens para o cultivo em território brasileiro,
mas é difícil estimar precisamente as conseqüências negativas da introdução
de espécies exóticas em geral sobre os rios e bacias hidrográficas. Estudos já
apontaram que pode haver competição por espaço e alimento, transferência de
doenças para as espécies de peixes endógenas e modificações de habitat.
Pesquisadores têm discutido também a "poluição genética" causada por
cruzamentos entre as espécies cultivadas e as populações de peixes selvagens

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que habitam os rios e corpos de água adjacentes. As respostas das interações
genéticas, nesse contexto têm sido abordadas por vários cientistas. Uma das
conclusões é que nem todas as modificações genéticas induzidas nos peixes
cultivados que visam melhorar a produtividade são benéficas para os peixes
selvagens. O cruzamento entre espécies selvagens e cultivadas pode originar
indivíduos inaptos para sobreviver em ambiente natural.
Um exemplo interessante sobre o impacto da aqüicultura sobre a variabilidade
genética dos peixes é o tambaqui (Colossoma macropomum) que habita a bacia
amazônica e é uma das principais espécies da piscicultura brasileira. A
pesquisadora Vera Vai e sua equipe do Laboratório de Ecofisiologia e Evolução
Molecular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) compararam
populações de tambaquis provenientes da natureza nas proximidades de Manaus
e populações confinadas de diferentes regiões do Brasil. O estudo mostrou que
os tambaquis confinados estão perdendo a variabilidade genética que permite a
espécie sobreviver nos rios amazônicos.

4 - DISCUSSÕES SOBRE A SUSTENTABILlDADE


A percepção pública da indústria da aqüicultura costuma ser negativa. Os
cientistas, ambientalistas, políticos e demais atores engajados na busca pela
sustentabilidade têm chamado a atenção para os impactos negativos da atividade
como a destruição dos habitats naturais, eutrofização e sedimentação dos corpos
de água naturais pelos efluentes da aqüicultura. Além do uso excessivo de água,
energia e ração, efeitos negativos sobre os estoques de peixes dos rios e sobre
a biodiversidade em geral, existem, ainda, os impactos sociais e econômicos.
É importante notar que muitos impactos negativos da atividade não são
comparáveis aos danos causados aos rios pelas indústrias de outros setores
ou mesmo pela agricultura. Nesse contexto, alguns pesquisadores têm
evidenciado a necessidade de se discutir os sistemas produtivos rurais, onde se
inserem os projetos de aqüicultura, de forma integrada, contabilizando os ganhos
e as perdas econômicas e ambientais do sistema como um todo. Nessas
situações a aqüicultura integrada com outras atividades produtivas tem se
mostrado muito eficaz para aumentar a sustentabilidade dos sistemas rurais e
reduzir a pressão ambiental sobre os rios.
A discussão sobre o desenvolvimento sustentável da aqüicultura faz parte de
uma discussão maior sobre os dilemas do desenvolvimento econômico nos
tempos modernos. Desde a Technical Conference on Aquaculture realizada pela
FAO em 1976, em Quioto, muitos progressos técnico-científicos foram alcançados
e têm contribuído definitivamente para a sustentabilidade ambiental dos sistemas
de aqüicultura. As discussões sobre aqüicultura e sustentabilidade também
evoluíram. Enquanto a Conferência de Quioto foi focada em desenvolvimento
científico e tecnológico, treinamento e desenvolvimento institucional, a Conferência
de Bangkok, 2000, além de dar continuidade aos temas tratados em Quioto, deu
especial atenção às estratégias para o desenvolvimento sustentável da
aqüicultura.
As discussões acerca da inserção da aqüicultura no mundo moderno sob o
paradigma da sustentabilidade ambiental, têm conseqüências diretas para os
rios e bacias hidrográficas alem de contribuírem para o desenvolvimento de um

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meio rural mais sustentável. Alguns estudos apontam caminhos para isso
mostrando que a aqüicultura, com suas várias funções pode desempenhar um
papel fundamental no meio rural. Além de produzir peixes para restaurar os
estoques de peixes super explorados nos rios a aqüicultura tem gerado trabalho
e renda para as populações ribeirinhas e aumentando a sustentabilidade dos
sistemas rurais integrando-se às outras atividades produtivas. Documentos da
FAO mostram também que nas últimas décadas a aqüicultura integrou-se às
economias de muitos países do terceiro mundo, contribuindo cada vez mais
para a geração de divisas e segurança alimentar no meio rural.
5. SITUAÇÃO E PERSPECTIVA DAAQÜICUL TURA
5.1. No Mundo
A produção total mundial de peixes e camarões (pesca e cultivo) atinge,
aproximadamente 100 e 2,15 milhões de toneladas anuais, respectivamente. De
acordo com a FAO e outros organismos, até o ano 2000, a pesca e o cultivo de
peixes e camarões deveriam produzir 132,75 milhões de toneladas, se for levado
em conta um incremento demográfico médio de 2% ao ano. Se a taxa de
crescimento do consumo for da ordem de 5% (igual à observada ao longo da
década de 80), a produção total de peixes e camarões deveria chegar a 143,7
milhões de toneladas por ano.
Enquanto a pesca tem sua produção anual praticamente estagnada ao redor
de 90 milhões de toneladas, a aqüicultura vem mantendo sua destacada posição
como a atividade produtora de alimento de maior crescimento no cenário mundial.
O cultivo de peixes e outros organismos aquáticos na década de 90 vem
apresentando crescimento médio ao redor de 14% ao ano, com 27,8 milhões de
toneladas produzidas em 1995, sendo 50% desta produção oriunda da
piscicultura. O valor estimado da produção de pescado cultivado em 1995 foi de
US$ 43,2 bilhões. A FAO estima que no ano 2010 cerca de 40 milhões de toneladas
de pescado serão produzidas através da aqüicultura.
Em diversos países, a piscicultura em escala industrial se estabeleceu como
alternativa econômica e ambientalmente viável para aumentar a produção,
regularizar a oferta, a qualidade e o preço dos produtos de pescado. Como exemplo
listamos a indústria do bagre-do-canal nos Estados Unidos, a salmonicultura
industrial chilena e européia, a produção comercial de tilápias para exportação
em países como Taiwan, Costa Rica e Colômbia, sem deixar de ressaltar a
aqüicultura da China, responsável pela produção de 16,7 milhões de toneladas
anuais de pescado, ou seja, 60,2% da produção mundial da aqüicultura.
A aqüicultura marinha é responsável por 43% do pescado consumido no
mundo. Em outras palavras, são 45,5 milhões de toneladas de peixes anuais
avaliadas em 63 bilhões de euros. De acordo com a FAO, a exportação mundial,
em 2005, foi de 95 milhões de toneladas, das quais 60 milhões foram canalizadas
para o consumo humano.
O Chile e a Noruega são, atualmente, os dois principais motores da aqüicultura
mundial, já que controlam 70% da produção dos salmonídeos comercializados
internacionalmente.
O consumo aumenta cada vez mais. Se a população mundial continuar a
crescer no mesmo ritmo, e se os índices de consumo se mantiverem nos índices
atuais, a pesca mundial poderá chegar, em 2010, a 120 milhões de toneladas

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anuais - 85 milhões a mais do que em 1990 - para atender à demanda mundial.
Os especialistas dizem que só há uma solução possível: a aqüicultura.
5..2. No Brasil
A aqüicultura, em franco desenvolvimento, vem se impondo como atividade
pecuária, embora ainda seja considerada por muitos como um apêndice do
setor pesqueiro. Praticada em todos os estados brasileiros, a aqüicultura abrange
principalmente as seguintes criações: de peixes (piscicultura); camarões
(carcinicultura); rãs (ranicultura) e moluscos: ostras e mexilhões (malacocultura).
Outros cultivos aquáticos, como o cultivo de algas, são praticados em menor
escala.
Dentre todas as criações aqüícolas, a piscicultura de água doce respondeu
em 1999 por uma produção de aproximadamente 90.443 toneladas,
correspondendo a 78,4% da produção total da aqüicultura, que foi de 115.398
toneladas (dados publicados pelo CNPq em 2000). Segundo dados da FAO (2002
- www.fao.org.), a produção brasileira passou de 23.390 toneladas em 1991 para
153.558 toneladas em 2000 (Figura 1).

Valor e produção brasileira da aqüicultura


(1991 - 2000)
200000 T------------- 700000
600000
~ 150000 500000
"O
400000 ~
~ 100000 300000 ::::l
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100000
o +-",,,-+.J!!!!l-t-''''''-t-''''''--t- -t-''''''-t-''''''--r-'''''--+ o
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,,0.> ,,0.> ,,0.> ,,0.> ,,0.> ,,0.> ,,0.> ,,0.> ,,0.> '1,,\:j li!!!!!!!!!!!!! quantidade
-+-valor
ano

Figura 1 Valor e produção brasileira da aqüicultura no período de 1991 a 2000.


FAO.2002

Com relação ao preço unitário pago pela produção brasileira, a Figura acima
mostra, através do valor e da produção que o mesmo não tem se alterado nos
últimos 10 anos, variando de US$ 4,39/kg (em 1991) a US$ 4,02/kg (em 2000);
1997 apresentou o menor valor: US$ 3,72/kg.
Uma característica importante da piscicultura brasileira é o grande número
de espécies criadas. Hoje, utilizam-se mais de 30 espécies, com os mais
variados hábitos alimentares e ambientes de vida. Vão desde espécies de clima
tropical (em sua grande maioria) até espécies de clima temperado e frio. E as
que oferecem maior produção, em ordem de importância, são: as tilápias, os
peixes redondos (pacu, Piaractus; tambaqui, Colossoma e seus híbridos) e as
carpas (comum e chinesas). Outras espécies, porém, como os grandes bagres

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brasileiros (pintado, surubim e pirara), o dourado e os 8ricons (matrinxã,
piracanjuba, piraputanga e piabanha), começam a despertar o interesse de
criadores não apenas pelo seu valor para a pesca esportiva como também pela
facilidade de comercialização.
Não é por acaso que o Brasil é visto hoje como um dos países com maior
potencial para o desenvolvimento dessa atividade: o país possui a maior
disponibilidade hídrica do planeta com bacias hidrológicas cobrindo grandes
extensões do território e centenas de rios. Essa abundância - que na vida de
muitas populações economicamente desfavorecidas em nada se aplica - fomenta
a idéia de um pais repleto de tanques e viveiros lucrativos fornecendo a bom
preço o pescado para a alta demanda de consumidores mundiais, sendo que o
potencial brasileiro para o desenvolvimento da aqüicultura ainda é sub-explorado.
Apesar de o Brasil reunir condições extremamente favoráveis para o
desenvolvimento da piscicultura (i.e. clima tropical em grande parte do território;
imenso potencial hídrico; disponibilidade de terra, grãos e insumos de produção;
grande potencial de mercado; diversidade de espécies de peixes, entre outras),
esta atividade ainda não assumiu posição de destaque em nosso país como
geradora de alimento, fato que pode ser atribuído a diversos fatores:
• Produção pulverizada, oriunda de um grande número de pequenos criadores;
• Falta de compromisso entre produtores e frigoríficos, sendo quase toda a
produção destinada aos pesqueiros (pesque-pague) nos grandes centros
urbanos;
• Pequeno enfoque empresarial e industrial dado à atividade;
• Pouca agilidade dos órgãos de pesquisa na geração de tecnologia aplicada;
• Limitado dominio da tecnologia de cultivo de peixes nativos de interesse
comercial;
• Ausência de uma política governamental eficaz para promover o setor;
• Escassez de técnicos capacitados ao planejamento, implantação e
gerenciamento de projetos voltados ao cultivo industrial de peixes;

5.3 Na Amazônia
A região norte do país, sobretudo a Amazônia, apresenta excelentes condições
climáticas, recursos hídricos e material biológico para a aqüicultura industrial no
Brasil. Além de ser a região de maior consumo anual de pescado, acima de 50 kg/
habitante, a Amazônia exporta grandes quantidades de pescado, principalmente o
surubim e outras espécies de peixes lisos, para o mercado das regiões sul e sudeste
do Brasil e diversos outros países. A captura de pescado na Amazônia foi estimada
ao redor de 205.000 toneladas ao ano e até o ano 2005 haverá um crescimento de
mais 15% deste segmento principalmente através da criação em cativeiro do
pirarucu e de outras espécies como o tambaqui, resultando em uma produção
anual superior a 235.000 toneladas. Este aumento de produção será imediatamente
absorvido pelo mercado pois se trata de produtos de altíssima qualidade.
A indústria da pesca na Amazônia, como em todo o Brasil, é uma atividade
extrativa caracterizada pela oferta insuficiente e sazonal de pescado, inconstância
na qualidade e elevado preço dos produtos oferecidos ao consumidor. Diversos
fatores contribuem para esta situação:
• A sobre pesca, que reduz os estoques naturais de peixes;

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• Aumento do esforço de pesca e, portanto, do custo de captura;
• A grande distância entre os locais de captura e os centros consumidores;
• A regulamentação da pesca, limitando a captura de determinadas
espécies e proibindo a pesca em determinados períodos do ano, obrigando o
armazenamento de produtos pôr vários meses para regularizar a oferta;
A aqüicultura é uma atividade multidisciplinar emergente em alguns países,
onde existe uma acentuada carência de proteína animal de baixo custo e os
recursos hídricos são escassos ou estão comprometidos.
Considerando-se a precariedade na oferta de alimentos no país, ocasionada
pela redução do poder aquisitivo, a má distribuição de renda e a escassez de
recursos financeiros para incentivar o aumento da produção, observa-se que, o
pescado é o principal componente da dieta básica da população amazônida, e
que o incremento da produção aqüícola na região, minimizaria esse quadro.

5.4. No Estado do Pará


Embora a Amazônia apresente uma riqueza singular de espécies aquáticas,
2.000espécies (Junk,1983), apenas 100 são comercializadas, segundo autores
como Ferreira et ai. (1998); Isaac & Barthen (1995); e Vai & Honczarik (1995).
Devido ao desconhecimento da biologia animal e a dificuldade de se unir todos
os requisitos necessários que as recomende para o cultivo, somente 10 espécie
são utilizadas na aqüicultura no Estado, citando-se o apaiari, aracu, curimatã,
matrinchã, pirapitinga, pirarucu, surubim, tamuatá, tucunaré e tambaqui, além
das espécies exóticas que se destacam, como a tilápia e a carpa
No caso dos camarôes de água doce, o camarão-canela (Macrobrachium
amazonicum) ainda não despertou o interesse dos criadores, por não
apresentar. demanda pelo mercado externo, sendo muito consumido nas áreas de
produção natural. A comercialização é feita principalmente na época da safra no
mercado da cidade de Belém, capital do Estado. Por outro lado, o gigante da
Malásia (Macrobrachium rozembergii), uma espécie alóctone e que atinge bom
tamanho comercial em curto espaço de tempo, possui tecnologia de reprodução
dominada mas precisa ser adaptada para a região, para atender a grande demanda
pelos criadores em busca de pós-larvas. Não obstante o grande potencial do
camarão marinho na costa norte do Brasil, ainda não se cultiva no Pará espécies
dessa natureza. A dificuldade está relacionada à aquisição de tecnologia adequada
de produção, embora já existam resultados satisfatórios em outras regiões do
país a criação da espécie marinha Penaeus vannamei, o que está começando a
despertar interesse de alguns produtores paraenses na engorda dessa espécie.

5.4.1. Áreas de Cultivo


A aqüicultura se encontra implantada no Estado do Pará em diferentes
ecossistemas, como terra firme, várzea, manguezal e, mais recentemente, em
paranás, igarapés e rios em tanques-rede (gaiolas flutuantes). As áreas utilizadas
para cultivo variam muito, de acordo com os objetivos da criação. No cultivo de
subsistência ou familiar, a área de cada viveiro varia de 60 m2 a 300 m2 e a lâmina
d'água por produtor é de 120 m2 a 800 m2 , enquanto no cultivo sem i-intensivo,
cada unidade de viveiro compreende de 3.500 a 5.000 rn- numa área hídrica de
dois a seis hectares.

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5.4.2. Manejo de Cultivo
A maioria dos produtores não faz manejo da água no que diz respeito ao
monitoramento do oxigênio dissolvido e pH.
A maior parte do alimento utilizado é composto de subprodutos da agroindústria
ou hortifrutigranjeiros de baixo custo, como por exemplo as vísceras de frango,
sangue bovino e grãos inservíveis para consumo humano. Entretanto, existem
alguns criadores que usam rações balanceadas, mas em pequenas proporções,
devido ao alto valor desse insumo, em função do frete e o alto diferencial de
preço praticado pelo comércio local.

5.4.3. Importância Sócio-econômica

O incentivo à aqüicultura concorrerá para a produção de peixes de boa


qualidade e baixo custo, proporcionando o consumo nos municípios sem tradição
pesqueira e distantes do centros produtores, viabilizando mais uma fonte de
renda ao produtor rural, servindo como,uma alternativa de fixação do homem ao
campo, aumentando a oferta de emprego e conseqüente arrecadação de
impostos.

5.4.4. Potencial de cultivo do Estado

O Estado do Pará possui 98.292 km2 de águas interiores o que corresponde a


38% da água doce do Brasil assim divididos: rios e lagos naturais 21.012 krn":
lagos artificiais 2.500 km2 e igarapés e igapós 74.780 km2 . Apresenta condições
plenamente favoráveis para a implantação das atividades de piscicultura e
carcinicultura, principalmente no que diz respeito ao clima, temperatura e qualidade
da água.
Feio & Guimarães (1995), estima que será necessário uma produção de
cultivo na aqüicultura de 1.256 toneladas para suprir a demanda estadual, pois
esta, nem sempre é atendida pela captura extrativa.

6. PRODUTOS E MERCADOS

A importação brasileira de pescado cresce consideravelmente, Comparativos


entre o ano de 1993 que foi na cifra de cerca de US$ 190 milhões e o ano 1996
que foi na cifra de cerca de US$ 455 milhões. Houve um crescimento de 58% na
importação de pescados, refletindo diretamente no mercado consumidor
brasileiro, estabelecendo uma diminuição de oferta e um forte crescimento na
demanda. Configurando um perfil do segmento da pesca abaixo demonstrado:
• Oferta menor que a demanda;
• Fornecimento irregular de produtos;
• Transporte de longa distância até os grandes centros consumidores;
• Necessidade de longos períodos de armazenamento de produtos para
regularizar a oferta durante os meses de proibição da pesca;
• Inconstância na qualidade, padronização e preço dos produtos;
• O alto custo social ao país e a pesca predatória reduz os estoques naturais,
forçando o êxodo das populações ribeirinhas dependentes da pesca artesanal
em busca de emprego alternativo nos centros urbanos;

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• Elevado custo ambiental ao setor, uma vez que a pesca extrativa focalizada em
uma única espécie compromete e altera o equilíbrio ecológico, aumentando o
risco de extinção de algumas espécies.

7. CONCLUSÕES

• Necessidades de pesquísas e recomendações para a implantação de uma


piscicultura na Amazônia.

• Desenvolvimento de tecnologias de criação e avaliar custos de produção do


cultivo de espécies com potencial para a piscicultura, por exemplo, espécies
de água doce, como: camarão canela (Macrobhrachium amazonicum); Peixes:
tamuatá (Hop/osternum /itoral/e), tambaqui (Cotos some macropomum),
pirarucu (Arapaima gigas), matrinchã (Brycon sp), piramutaba
(Brachyp/atystoma vail/antii), curimatã (Prochi/odus sp), filhote
(Brachyp/atystoma fi/amentosum) e surubim (Pseudo p/atystoma fasciatum);
• Espécies de água salgada: Camarão, branco e rosa (Penaeus aztecus e
brasi/iensis); Peixes: Pescada amarela (Cynoscion acoupa), Parqo (Lutjanus
purpureus); Moluscos: Ostra e mexilhão.
• Testar dietas com produtos e subprodutos regionais em escala de produção,
com fabricação de ração peletizada e extrusada;
• Treinamento de extensionistas, técnicos de agentes financeiros e produtores
rurais;
• Monitoramento da qualidade da água através da avaliação do nível de
eutrofização;
• Reestruturar as Estações de Piscicultura existentes, para trabalhar na produção
de alevinos das espécies acima citadas e outras com potencial para criação,
assim como, implantar micro estações de fomento em áreas estratégicas;
• Estruturar o segmento da comercialização do peixe produzido em cativeiro;
• Agregar valor ao pescado na comercialização, como: filetamento, defumação
e aproveitamento do resíduo do processamento, como: embutidos, surimi,
pasta e farinha de peixe.
• Centralização e organização das ações governamentais na área de Aqüicultura;
• Estimular e viabilizar a contratação de técnicos especializados (M.Sc. e Ph.
D.), nas áreas de ensino e pesquisa;
• Treinar e reciclar técnicos extensionistas, através de cursos de especialização
em aqüicultura;
• Apoio à publicação de material informativo técnico regional para produtores;
• Incentivar a criação e manutenção de uma linha de crédito voltado para a
Aqüicultura;
• Manter intercâmbio permanente, entre pesquisadores, extensionistas e
produtores através de congressos, seminários, cursos, demonstrações, dias
de campo;
• Estimular a formação de associações de aqüicultores, como forma de facilitar
o acesso ao crédito, aquisição de insumos, conservação do peixe e
comercialização;

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8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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