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Auto-rotação de helicópteros:
um modelo analítico para o traçado
do diagrama de altura versus velocidade
Palavras-chave: Auto-rotação.
Diagrama de altura versus velocidade. Helicópteros.
Altura
operação conhecido como auto-rotação para efe-
Região C
tuar um pouso seguro, sem maiores danos tanto restrita
para os tripulantes quanto para a aeronave. Para
estabelecer esse regime o comandante, porém,
Região restrita
deve tomar atitudes rápidas, tão logo perceba a B D
neste trabalho buscou-se compará-lo com um mo- (como área do rotor principal e solidez) e configu-
delo semi-empírico para o traçado do diagrama de ração da aeronave. Portanto, contando com ape-
altura versus velocidade disponível na literatura. nas alguns dados que definem as características da
aeronave, obtém-se todo o diagrama e, ao mesmo
tempo, pode-se avaliar o efeito da variação de um
2 Modelo proposto para determinado parâmetro sem a realização de um
o traçado do diagrama vôo de teste. Isso permite que, durante as fases
de altura versus velocidade iniciais do projeto de um novo helicóptero, seja
possível a comparação entre várias configurações
A capacidade de um helicóptero realizar um propostas para a aeronave, com o intuito de se ob-
pouso seguro em regime de auto-rotação após ter a menor restrição operacional possível.
ocorrer uma perda de potência está limitada, por
seu design estrutural e aerodinâmico, e por cer- 2.1 Adimensionalização
tas combinações de altura do solo e velocidade de
do diagrama de altura
vôo à frente. Se essa perda ocorrer no interior da
versus velocidade
região de vôo restrito, definida pelas citadas com-
Pode se obter o diagrama de altura versus ve-
binações, tem-se, como resultado, o alto risco de
locidade apresentado na Ilustração 2 por meio do
ocorrência de danos tanto na aeronave quanto em
método de adimensionalização, e verifica-se que
seus ocupantes.
sua aparência é similar para qualquer tipo de heli-
Nesta seção do artigo, é apresentado um mo-
cóptero convencional analisado.
delo analítico que demonstra os efeitos de altitude-
Este processo tem, como base, os resultados
densidade e de peso bruto da aeronave no diagra-
dos testes feitos pela Federal Aviation Administra-
ma de altura versus velocidade para helicópteros
tion (FAA) e apresentados por Rodrigues (2001),
monomotores com características similares.
e indicam que, para três combinações de altura
A idéia central do método baseia-se na cons-
e velocidade, hlo, hhi e hcr, Vcr, que variam linear-
tatação que diagramas obtidos, experimental-
mente com a altitude e o peso bruto da aeronave,
mente, de diversos helicópteros de configuração
diagramas similares são obtidos de qualquer tipo
convencional (um rotor principal e um rotor de
cauda) apresentam formas similares, indepen- de helicóptero convencional testado.
dentemente da condição de vôo dos aparelhos. Pelo diagrama adimensional representado na
Por um processo de adimensionalização aplicado Ilustração 2, pode-se notar que:
às coordenadas de altura e velocidade, alcança-
das pelo método experimental, é possível obter • O ponto crítico (hcr, Vcr) adimensionalizado
um diagrama adimensional geral, que independe possui coordenadas (1, 1);
do tipo e da condição de operação do helicóptero • As alturas máxima hhi e mínima hlo adimen-
para, posteriormente, chegar a um diagrama di- sionalizadas possuem coordenadas (0, 0);
mensional pelo processo inverso de dimensiona- • A velocidade normalizada adimensional de
lização proposto neste trabalho. vôo à frente mcr está contida no intervalo
Esse método possibilita a utilização dos dia- 0 ≤ mcr ≤ 1;
gramas dimensionais no cálculo de diversas con- • X1 e X 2 representam, respectivamente, as dis-
dições de peso, altitude, parâmetros geométricos tâncias verticais superior e inferior ao ponto
X2 = hX2 - hlo
hcr - hlo
(3)
h -h
X1 = hi X1
hhi - hcr
em que: hlo, hhi e hcr são fixos e h X1 e h X2 são as
(hcr, Vcr) alturas do ramo superior e inferior da curva real
1 h X2
para um dado Vff.
VX
X2 = hX2 - hlo 2.2 Processo de obtenção
hcr - hlo
h Xl
do diagrama dimensional
Como o diagrama adimensional praticamen-
te não varia de um helicóptero para outro, o que
hlo 0 mcr = Vff /Vcr 1 realmente interessa ao projetista da aeronave é,
que se possa, a partir dele, calcular o diagrama
Ilustração 2: Diagrama de altura versus
velocidade em sua forma adimensional dimensional levando-se em conta todos os parâ-
Fonte: Rodrigues (2001). metros de operação e configuração da aeronave.
Neste ponto, é importante ressaltar que para
O primeiro passo para a realização do pro- a apresentação das equações do método analítico
cesso de adimensionalização é encontrar uma re- propostas para a dimensionalização do diagrama,
lação que forneça uma velocidade normalizada bem como para apresentar os resultados desses es-
adimensional de vôo à frente mcr, que pode ser ob- tudos, eles não serão expressos no corpo do artigo
tida dividindo-se a velocidade dimensional de vôo em medidas do Sistema Internacional de Unidades
à frente Vff, pela velocidade crítica Vcr, produzindo (SI), mas sim no sistema inglês, ou seja, a altura
a seguinte equação: será representada em pés (em inglês, feet [ft])1, a
velocidade em nós (em inglês, knot [kt])2 , a potên-
V
mcr = ff cia em cavalos (em inglês, horse power [HP])3 e o
Vcr
peso em libras (lb)4. Isso ocorre porque a imensa
(1)
maioria das aeronaves apresenta instrumentos de
bordo com mostradores grafados nesse sistema de
O segundo passo do processo é encontrar unidades, além das cartas de navegação aérea de
uma altura adimensional, que pode ser obtida qualquer parte do mundo que contêm indicações
dividindo-se a curva em duas regiões, uma supe- de altitude em pés e de velocidade em nós. De ou-
tra feita, a utilização de unidades não equivalentes (cerca de 29 metros [m]). Essa aproximação é
às do sistema inglês, poderia causar certo descon- determinada pelos resultados obtidos de en-
forto entre profissionais do ramo aeronáutico na saio em vôo;
interpretação dos resultados, além de interferir, • Os dados também demonstram que, pela
em aspectos de segurança operacional dos contro- análise dos diagramas, o valor de hhi varia
ladores de vôo e dos pilotos. segundo o quadrado de Vcr.
Assim, das Equações 1, 2 e 3 obtidas ante-
riormente, é possível elaborar as equações que Na seqüência, são apresentadas as equações
fornecem o diagrama dimensional a partir do dia- que determinam as combinações críticas de altura
grama adimensional: e velocidade de vôo à frente, a fim de se aplicar o
processo de geração de pontos necessários à de-
Vff = mcrVcr finição do diagrama de altura versus velocidade
(4)
dimensional de um helicóptero.
h X1 = hhi - X1(hhi - hcr)
(5)
2.2.1 Obtenção da altura mínima hlo
h X2 = hlo + X 2(hlo - hcr) As equações que fornecem o ponto de altu-
(6) ra mínima em relação ao solo são desenvolvidas
considerando-se a somatória das forças verticais
em que: hlo, hhi e hcr são fixos e X1 e X 2 são alturas do helicóptero. Esse método é válido somente
dos ramos superior e inferior da curva adimensio- como solução de primeira ordem do problema,
nal para um dado valor de mcr. não sendo utilizado para levantar as caracterís-
Os valores de X1 e X 2 podem ser lidos direta- ticas de desempenho em auto-rotação durante o
mente da Ilustração 2, não importando qual seja tempo utilizado na análise de trajetórias. Como
o helicóptero em questão. Nestas condições, fica resultado dessa análise, obtêm-se os efeitos do
claro que a solução do problema se resume à ob- peso bruto e da altitude-densidade da aeronave no
tenção dos valores de hlo, hhi e hcr, Vcr. ponto de altura mínima em relação ao solo.
Com base na análise dos resultados apre- Parte-se da hipótese de que a aeronave está
sentados em Pegg (1990), é possível relacionar os pairando a uma certa altura em relação ao solo.
gráficos com expressões matemáticas, visando a A Ilustração 3, representada a seguir, mostra as
encontrar uma solução analítica para o traçado do forças verticais que atuam no helicóptero.
diagrama de altura versus velocidade para deter-
minados valores de peso bruto e altitude, confor- T
me comentado a seguir:
em que: n é o fator de carga a que está sujeita a em que: Wf representa a velocidade angular de ro-
aeronave. tação do rotor, no momento em que a aeronave
Integrando-se a Equação 8, encontra-se a ve- toca o solo após a falha do motor, enquanto Wd
locidade vertical da aeronave: representa a velocidade angular de projeto para o
rotor principal. A partir das Equações 10, 11, 12
. .
h = h0 + g(n - 1)t e 13, pode-se obter a Equação 14 que determina o
(9) valor de hlo expresso em pés:
hlo = c- k1 - 2,24 Ct og
I rwd2Vd
O deslocamento vertical do helicóptero é ob-
1100Preql
s
tido integrando-se a Equação 9:
(14)
.
hlo = h = h0dt + g(n -1) dt
2
2m 8 2A
A fim de determinar o valor de Vmin, pode-se
(17)
utilizar um gráfico de variação da potência reque-
rida em decorrência da velocidade de vôo à frente V
em que: m = é a razão de avanço do helicóp-
wR
e, então, observar que:
tero; kCt é o termo devido à potência induzida;
2
2m
• A potência induzida é o maior componente
da potência total, na condição de vôo paira- sCd (1 + 4,6m2) é o termo devido à potência de
0
8
do, mas ela diminui rapidamente com o au-
mento da velocidade em vôo à frente; perfil; e 1 f m3 é o termo devido à potência parasi-
2A
• A potência de arrasto de perfil apresenta um
ligeiro aumento com a velocidade; ta, sendo f a área equivalente de placa plana.
• A potência parasita é praticamente desprezí-
vel em baixas velocidades, mas aumenta pro- Pode-se então concluir que o ponto de po-
porcionalmente ao cubo da velocidade; pode tência requerida mínima é obtido derivando-se a
passar a ser considerada a parcela dominante Equação 17 em relação a m:
500
400
300
Altura (ft)
200
(a) 100
0 10 20 30 40 50
Velocidade de vôo à frente (knots)
BK-117
UH-60A
UH-60L
2
1.75
Altura adimensional
1.5
1.25
1
0.75
0.5
(c) 0.25
Altura (ft)
400
ção para este fato pode ser creditada à diferença Velocidade de vôo à frente (knots)
Nível do mar
de potência de 1.940 HP (1.446,658 quilowatts
5.000 ft
[kW]) fornecida pelo motor do UH-60L, em re- 9.000 ft
lação aos 1.560 HP (1.163,292 kW) do UH-60A, Gráfico 3: Diagramas dimensionais obtidos
gerando no primeiro maior velocidade de ponta da aplicação do método semi-empírico,
considerando a variação de altitude
de pá WR, o que, conseqüentemente, resulta, em
Fonte: Pegg (1990, p. 29).
maior energia cinética de rotação. Pela aplica-
ção do modelo de adimensionalização proposto,
700
obtém-se um diagrama que mostra a forma adi-
mensional para os três helicópteros em questão 600
(Gráfico 2). Observa-se que, independente do tipo
e da configuração da aeronave (aeronave conven- 500
400
rísticas semelhantes, ou seja, as combinações de
altura e velocidade de vôo à frente adimensional 300
são as mesmas para qualquer tipo de helicóptero
estudado. Conclui-se, portanto, que, durante as 200
obtidos a partir da aplicação das equações expos- Gráfico 4: Diagramas dimensionais obtidos
da aplicação do método analítico proposto,
tas anteriormente neste artigo, considerando-se a considerando-se a variação de altitude
variação de altitude para um mesmo peso bruto da Fonte: O autor.
aeronave. As características propostas são seme- Além de apontar que o método analítico
lhantes às do helicóptero Eurocopter AS-350B. proposto neste artigo pode ser aplicado, fornecen-
No Gráfico 3, são observados os resultados do resultados semelhantes aos encontrados pela
numéricos obtidos da utilização do método semi- adoção do método semi-empírico, a avaliação do
empírico apresentado por Pegg (1990) para a so- Gráfico 5 permite observar que um aumento da
lução do problema, valendo-se de diversos grá- altitude de vôo influi, de maneira negativa, no as-
ficos resultantes de ensaios em vôo. Já o Gráfico pecto do diagrama de altura versus velocidade.
4 mostra os resultados numéricos alcançados Na análise realizada, o peso bruto da aeronave se
utilizando-se a teoria proposta neste artigo, ba- manteve constante (3.700 lb ou 16.457 N), assim
seada no processo de dimensionalização pelo uso como as demais características de caráter físico do
de uma solução analítica para o problema. Com projeto do rotor.
o intuito de comparar os dois conjuntos de resul- Na análise do Gráfico 5, nota-se que um au-
tados, o Gráfico 5 representa a sobreposição dos mento na altitude de vôo, do nível do mar (zero
dois diagramas anteriores, em que é possível ob- ft/zero m) para 5.000 ft (1.524 m), acarreta uma
servar que os resultados são praticamente idênti- deformação no aspecto do diagrama. Os pontos
cos, indicando que a teoria apresentada é válida de controle do diagrama não variam do mesmo
e pode ser aplicada em qualquer configuração de modo, ou seja, cada um deles é influenciado dife-
helicóptero convencional. rentemente em relação à variação de altitude. Por
exemplo, a velocidade crítica Vcr passa de 23 kt
700 (11,817 m/s) para 38 kt (19,524 m/s), ao se variar
a altitude de vôo do nível do mar para 5.000 ft, o
600
que representa um aumento percentual de 65% em
500
relação ao valor inicial. A altura hhi passa de 300
ft (91,440 m) para 470 ft (143,256 m), represen-
tando um aumento percentual de 56% em relação
Altura (ft)
400