Gislaine Rodrigues Martins
Gislaine Rodrigues Martins
Gislaine Rodrigues Martins
RESUMO: Este trabalho refere-se a uma pesquisa de conclusão do curso de Pedagogia. Teve
como objetivo identificar e analisar as características dos professores considerados “bons” no
exercício da profissão sob a ótica de formandas e formando do curso, assim como relacionar
tais dados com outras pesquisas já realizadas e inferir as características que estes sujeitos
desejarão desenvolver na atuação profissional. Trata-se de um estudo de caso com abordagem
qualitativa, no qual se fez o uso de questionários aplicados a 26 concluintes do curso. Para
Brzezinski (2002) o trabalho docente se manifesta em quatro áreas: do saber específico;
pedagógico; cultural e político e transversal. Utilizando esses quatro campos, organizamos as
características apontadas pelo público pesquisado, porém fez-se necessário estabelecer um
campo destinado à questão sócio afetiva e a omissão do campo transversal, visto que este não
foi contemplado na pesquisa. Os dados foram tabulados, organizados em categorias e
analisados. Houve predominância do domínio do saber cultural e político diferindo da
bibliografia estudada. Identificamos que o comprometimento político faz parte das
características profissionais, dos professores do curso de Pedagogia do ano de 2012, sendo
ressaltado á importância de o professor dominar o conteúdo, o saber pedagógico e estabelecer
uma relação de afetividade com seus alunos. A professora mais indicada pelos sujeitos
pesquisados possui características que abrangem as quatro áreas, sendo considerada
referência. Os dados revelaram que as características que os sujeitos desejam desempenhar na
profissão se relacionam às identificadas no “bom” professor.
Palavras Chave: Professor, Saberes docentes, Prática.
Justificativa
A graduação em Pedagogia tem o objetivo de formar futuros professores para
atuarem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Durante quatro anos, as
acadêmicas e o acadêmico, sujeitos desta pesquisa, estudaram teóricos da educação,
1
Graduada em Pedagogia UnUCSEH, pós-graduanda em Psicopedagogia. Faculdade Católica de Anápolis- G0.
[email protected]
2
Professora do curso de Pedagogia UnU Jaraguá e UnUCSEH. Mestranda no Programa de Mestrado
Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias. [email protected]
discutiram e vivenciaram práticas pedagógicas. Nos corredores da Universidade, em diálogos
informais os discentes faziam referência aos professores que eles consideravam como “bons”
e revelavam que se espelhariam neles na hora de compor suas práticas docentes. Dessa
experiência, surgiu o interesse pela pesquisa.
Das primeiras publicações até as atuais, os estudos sobre as características de um
bom professor demonstram que estes profissionais recebem as principais influências dos seus
ex professores.
Objetivos
Metodologia
O presente estudo realizou-se com base nos procedimentos de estudo de caso, com
abordagem qualitativa. Procedeu-se com pesquisa bibliográfica e aplicação de questionários
contendo perguntas abertas para as acadêmicas e o acadêmico do curso de Pedagogia da UEG
2012. Posteriormente os dados foram tabulados, organizados em categorias e analisados.
Discussão teórica
Nóvoa (2009) afirma que não existe um modelo padrão de “bom professor” na atual
sociedade.
Sabemos todos que é impossível definir o “bom professor”, a não ser através dessas
listas intermináveis de “competências”, cuja simples enumeração se torna
insuportável. Mas é possível, talvez, esboçar alguns apontamentos simples,
sugerindo disposições que caracterizam o trabalho docente nas sociedades
contemporâneas. (p.28)
Nesses apontamentos o autor sugere que a escola seja o local da formação dos
professores, que essa formação aconteça de forma coletiva por meio da análise e reflexão
resultando num conhecimento profissional que possa ser aplicado em projetos educativos na
escola. A docência desenvolvida de forma coletiva deve ser pautada no diálogo e na ética
profissional. A ideia da docência coletiva no plano do conhecimento e da ética. A formação
dos professores é fundamental para criar associações no interior e no exterior do campo
profissional. É imprescindível reforçar as comunidades de prática, isto é um espaço
construído por grupos de educadores empenhados com a pesquisa e a inovação, no qual
produzam debates sobre o ensino e aprendizagem com projeção aos desafios da formação
pessoal, profissional e cívica dos alunos.
Nóvoa (2009) alerta para o fato de que os cursos de formação contínua são ineficazes
servem apenas para complicar e sobrecarregar a vida do docente. Devemos ficar atento para
não cair no consumismo de cursos, que coloca o professor com sentimento de desatualizado.
Para ele a saída é investir na construção de redes de trabalho coletivo que sirvam de apoio
para as práticas de formação alicerçadas na partilha e no diálogo profissional.
Pereira (2000) afirma que os professores devem se preocupar em ter uma formação
contínua, uma vez que as condições de ensino mudam constantemente, é necessário que o
professor pense e repense a sua prática antes de tomar suas decisões.
Nas obras de Cunha (1989), Costa e Almeida (1998), Pereira (2000), Patrício (2005)
há uma coerência nos resultados obtidos quando se referem às influências dos ex-professores.
É importante destacar que:
É de sua história enquanto aluno, do resultado da sua relação com ex-professores que os
bons professores reconhecem ter maior influência. Em muitos casos esta influência se
manifesta na tentativa de repetir atitudes consideradas positivas. Em outras, há o esforço de
fazer exatamente o contrário do que faziam ex-professores considerados negativamente. De
qualquer forma, no dizer dos nossos respondentes, a maior força sobre o seu
comportamento docente é a do exemplo de ex-professores. Este dado é fundamental para
quem trabalha na educação de professores, pois identifica o ciclo de reprodução que se
realiza nas relações escolares. (CUNHA, 1989, p.159 e 160.)
Tardif (2002) vai além e diz que os saberes dos professores provem de várias fontes:
de sua história de vida, de sua cultura escolar anterior e de conhecimentos oriundos da
formação profissional. “Ele se baseia em seu próprio saber ligado à experiência de certos
professores em tradições peculiares e ao ofício de ser professor”. (p. 263)
Para Tardif (2002) os saberes são plurais e heterogêneos, pois vem de várias fontes;
são temporais, pois vem da história escolar do professor, dos primeiros anos de profissão e se
desenvolve no decorrer de sua carreira profissional. São personalizados e situados, pois
trazem consigo as marcas de sua história de vida e os saberes são também construídos em
função do contexto escolar. Carregam marcas do ser humano, pois, os saberes dos professores
devem ser éticos e sensíveis às diferenças dos alunos.
Outros fatores comuns nas pesquisas desenvolvidas por Cunha (1989), Moysés
(1994), Costa e Almeida (1998), Pereira (2000), Patrício (2005), são as características
apontadas como sendo importantes ao ofício de ser professor, tais como: domínio de
conteúdo, bom planejamento da aula, a exigência, o recurso da motivação e afetividade.
Não podemos deixar de evidenciar que a pesquisa da Amaral (2005) difere das
demais, presente neste trabalho em três aspectos. As características consideradas mais
importantes ao bom professor foram: dinamismo, criatividade e amor à profissão.
A autora na tentativa de esclarecer o que venha ser um professor dinâmico recorre ao
dicionário e artigos na internet e constata que o termo dinâmico aparece relacionado ao
contexto empresarial, chegando às seguintes conclusões.
Os artigos sugerem que dinâmico é aquele funcionário versátil, ágil, com argumentos
capazes de convencimento, de pensamentos e ações que resolvam problemas do mundo
competitivo. O referido termo vem acompanhado por outros como, criatividade e
competência (p.18).
Resultados
Os dados da pesquisa foram agrupados com base em Brzezinski (2002) que ressalta
em seus estudos e investigações sobre a formação de profissionais do ensino superior, os
domínios mais relevantes para o exercício de ser professor. Estes se manifestam em quatro:
Domínio de um saber pedagógico que conduza a uma reflexão sobre as práticas educativas
e sobre amplas questões educacionais. Trata-se aqui do domínio de um saber pedagógico
capaz de auxiliar os professores a deixarem seus alunos envolver-se no processo de saber
aprender, neste momento histórico dimensionado, em especial, pela revolução tecnológica e
pela sociedade do conhecimento; (BRZEZINSKI, 2002, p. 22).
Didática Comprometido
E diferenciada Citação - 01
Citação – 01
O saber “Domínio de conteúdo” teve 17 citações. Este por sua vez pode ser
compreendido sob a ótica de duas vertentes. Na primeira vertente, o conteúdo é visto como
algo a ser transmitido ao aluno. Na outra vertente, o domínio de conteúdo pode ser
compreendido como instrumento de mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
Amaral (2005) explica mais detalhadamente que:
O domínio de conteúdo pode ser compreendido como o saber que o professor tem sobre o
objeto de estudo e que orienta na mediação do aprendizado de seu aluno. Nessa orientação
o professor partiria do a conhecimento prévio do aluno, de sua realidade, afim de ampliá-lo.
Assim o aluno é entendido como indivíduo capaz de construir seu conhecimento. (p. 22)
O saber reflexivo teve oito citações. Pimenta (2002) faz uma revisão do conceito de
professor reflexivo a partir das propostas de Schön (s/d) alertando que esse conceito muitas
vezes é encarado como adjetivo, um modismo adotado pelos professores. A autora observa
que há uma ampliação dos programas de formação de professores no sistema de ensino e faz
uma crítica a ausência de análise dessa prática. No entanto a autora alerta para o fato de que o
saber docente não é formado apenas por prática, e sim, sustenta-se pelas teorias da educação,
ou seja, é necessário que os professores dominem os conteúdos da sua área de atuação.
O professor reflexivo, nos estudos de Vasconcellos (1993), é aquele que domina os
conteúdos da sua matéria, examina sua prática em sala de aula, busca as verdadeiras causas e
consequências das coisas, provoca nos alunos a contradição com o intuito de criar um conflito
cognitivo até se chegar a um conhecimento mais elaborado e uma compreensão crítica da
realidade.
Nóvoa (2009) afirma que é impossível o professor separar o pessoal do profissional.
O que faz a diferença é produzir um trabalho voltado para a análise e para a reflexão. O que
importa é.
Que ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos se encontra muito
daquilo que ensinamos. Que importa, por isso, que os professores se preparem para
um trabalho sobre si próprios, para um trabalho de auto- reflexão e de auto- análise.
(p. 38)
CARACTERÍSTICAS CITAÇÕES
Domínio de conteúdo 07
Exigente 06
Tradicional 01
Transposição didática 03
Boa relação entre professor aluno 02
Motivadora 02
Metodologia 03
Competente 01
Comprometida 01
Considerações
Referências Bibliográficas
AMARAL, N.F. Monografia. O bom professor sob a ótica do próprio professor. Centro de
Estudos e Pesquisas aplicados à Educação da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2005.
CUNHA, M. I. da. O Bom Professor e sua prática. 21 ed. São Paulo: Papirus, 1989.
PIMENTA, S.G. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, SELMA e
EVANDRO (orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São
Paulo: Cortez, 2002.