Veja Entrevista Ana Beatriz Barbosa Silva
Veja Entrevista Ana Beatriz Barbosa Silva
Veja Entrevista Ana Beatriz Barbosa Silva
2132 / 30 de setembro
de 2009. Entrevista Ana Beatriz Barbosa Silva.
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Americana, 6% da população em idade escolar tem esse padrão de funcionamento
mental nos Estados Unidos. No Brasil, as pesquisas apontam uma média próxima a essa.
Sempre achei que havia algo errado comigo. Na escola, tinha horror a ditado.
Meu coração disparava: sabia que precisava prestar atenção ao que a professora dizia e,
simultaneamente, observar se não estava cometendo erros ao escrever. Nessas horas, eu
me sentia a criança mais burra da sala. Fora do colégio, também sofria. Uma vez meu
pai, que é professor, corrigiu tanto meu diário que botei fogo nas páginas depois. Vivia
com as pernas roxas de tanto cair e bater nos móveis. Meu armário era uma bagunça
absurda. Tenho uma irmã cinco anos mais velha, centrada, organizada. Durante muito
tempo, dei a ela parte da minha mesada para que arrumasse meu armário. Todas as
vezes que minha mãe reclamava comigo, eu concordava, entendia que ela tinha razão.
Mas eu não sabia como tudo isso acontecia. No início da adolescência, bateu uma
vontade enorme de mudar. Eu era uma criança falante e me fechei. Fiquei retraída,
quietinha, para não errar. Vivia no meu quarto, lendo. Isso foi dos 12 aos 16 anos. Na
infância me chamavam de pinga-fogo, porque eu não parava. Na adolescência, quando
me tranquei, virei Bia Sid (de sideral). Às vezes, achava que era burra. Por outro lado,
sabia que tinha conhecimento e imaginação. Acabava o dia com dor de cabeça de tanto
pensar. Era uma angústia.
O menino com TDA pode sofrer na escola, mas desenhar muito bem ou tocar
piano de ouvido, se essa for a sua paixão. Por isso, é fundamental que os pais
descubram os talentos do filho e o estimulem a fazer aquilo de que realmente gosta.
Para quem tem TDA, isso funciona como remédio.
Minha mãe creditava meu comportamento a falhas do método pelo qual fui
alfabetizada. Meu pai achava que era preguiça. Mas eles eram compreensivos, porque
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sabiam que eu não fazia nada de propósito e era honesta, sincera, assumia os erros. Voei
de bicicleta no carro do vizinho e meu pai pagou o conserto sem reclamar. Quando eles
buscaram um diagnóstico para meu comportamento, os médicos disseram que eu tinha
uma disritmia e me passaram um remédio. Devido à sonolência que causou, parei logo
de tomar essa medicação. Ainda bem.
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A senhora conta a seus pacientes no consultório que tem TDA?
Não tem cura, mas há grandes chances de um final feliz. No momento em que você
entende sua engrenagem, passa a dominá-la em vez de ser dominado por ela. Aí pode
até levar vantagens. O excesso de pensamento – que causa exaustão, desorganização e
esquecimento – também traz ideias. Existem ideias boas e más. O grande aliado de
quem sofre de TDA é um caderninho. Em qualquer lugar, eu anoto pensamentos que já
deram origem a capítulos de livros. Mesmo para ideias sem sentido, é vital ter
organização. Dali pode sair algo realmente inovador.