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Linha de Costa: problemas e estudos

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 GRAVEL ISSN 1678-5975 Outubro - 2004 Nº 2 40-56 Porto Alegre

Linha de Costa: problemas e estudos

L. R. Martins*; L. L. Tabajara* & E. R. Ferreira*

* South West Atlantic Coastal and Marine Geology Group – COMAR

RESUMO

Linhas de costa representam áreas extremamente dinâmicas e

sensíveis a mudanças naturais e atividades antrópicas. Estudos relativos à
deposição, erosão, recuperação e manutenção da zona costeira do Rio Grande
do Sul (Brasil) foram desenvolvidos nestas últimas décadas através de projetos
locais e regionais. Os problemas de erosão na porção sul da costa brasileira,
estão principalmente relacionados com marés de tempestades e mudanças do
nível relativo do mar ao longo dos 620 km de praia. Associado a esse
problema, estudos concernentes com o estoque arenoso da plataforma
continental interna foram desenvolvidos. Contudo a deposição periódica de
lama na praia do Cassino representa um episódio erosional/deposicional local
vinculado ao deságüe da Lagoa dos Patos, durante a passagem de frentes frias,
enquanto o manejo de dunas desenvolvido em uma área piloto de praia do
município de Osório, constitui uma contribuição para recuperar e estabilizar a
morfologia eólica da zona costeira. Os resultados produzidos pelo presente
estudo podem ser aplicados na compreensão dos processos sedimentares de
outras zonas costeiras.

ABSTRACT

Coastlines are extremely dynamic and sensitive areas submitted to

constant changes due to natural causes and anthropogenic activities. Studies
on deposition and erosion episodes, recovery and maintenance of Rio Grande
do Sul (Brazil) coastal zone were developed in the last decade by regional and
local projects. The erosion problems in this southern portion of the Brazilian
coast are mainly related to storm surges and relative sea level changes, along
the 620 km of the coastline. Linked to these problems, studies regarding the
adjacent inner continental shelf sand budget were developed. However, the
deposition of mud in the Cassino beach represents a local
erosional/depositional episode linked to the Lagoa dos Patos inlet, during the
passage of cold fronts; whereas the dune management developed in a pilot
area of Osório county beaches represents a contribution to recover and
stabilize the eolian morphology in the coastal area. Results from the present
research can be applied to the understanding of the sedimentary processes and
in the management of other coastal areas.

Palavras chave: linhas de costa, erosão, deposição, recuperação, gerenciamento.

 L. R. Martins et al. 41

INTRODUÇÃO dos fatores e a compreensão dos mecanismos

que os controlam, além de contribuir com a
Conforme indica CRUICKSHANK informação necessária para um desenvolvimento
(1998) o desaparecimento das praias e a racional, um manejo e uma conservação da zona
subseqüente destruição de valiosas áreas costeira e seus recursos.
costeiras, afetando o seu desenvolvimento O funcionamento dos sistemas
econômico, tornou-se uma série ameaça, costeiros depende de uma série de fatores como:
atualmente avaliada com o maior cuidado por
parte dos estudiosos sobre o assunto. Em muitas a) características básicas intrínsecas ao
áreas, o turismo, sustentado pela presença das próprio ambiente, tais como: topografia,
praias, se constitui no principal fator de embasamento geológico, natureza dos
desenvolvimento da economia local e regional. sedimentos, propriedades físicas e químicas das
Para citar apenas dois exemplos de expressão massas d’água;
regional, seria catastrófico se Punta del Este, no b) forças externas, incluindo
Uruguai, ou Garopaba, em Santa Catarina, no astronômicas, meteorológicas, geodinâmicas,
sul do Brasil, perdessem suas praias através da ingerência humana, ingresso de elementos
erosão. químicos através da atmosfera e intensidade da
As zonas costeiras não são áreas radiação solar;
estáticas, mas extremamente dinâmicas. Elas c) aportes tais como material solúvel e
estão normalmente em constante mudança, em sedimentos detritais em suspensão, tração e
respostas às forças naturais e à atividade rolamento.
humana. O primeiro conjunto de estudos leva à
Essas forças e atividades movimentam construção de documentos e cartas básicas de
continuamente as linhas de costa, muitas vezes trabalho (topográficas, geológicas,
na mesma direção, mas freqüentemente em sedimentológicas, circulação e composição das
direções opostas. Como resultado a forma da águas), que constituem a primeira evidência para
linha de costa sofre alterações (WILLIAMS et o estudo adequado de um meio ambiente. No
al., 1992). segundo conjunto, as forças geodinâmicas
Areias e outros materiais são movidos externas operam em longo prazo (décadas,
para a praia ou para fora dela por correntes e centenas, milhares de anos), como, por exemplo,
ondas. Movimentos sazonais dos materiais as mudanças no nível do mar. Por sua vez, as
costeiros criam usualmente amplas praias no astronômicas dão lugar às variações periódicas
verão, substituídas por estreitas praias no factíveis de previsão, como marés e correntes
inverno, em um verdadeiro ciclo anual. Durante associadas com períodos meteorológicos que
a ação de marés de tempestades (storm surges), geram correntes e ventos usualmente
vastas áreas podem ser inundadas em questão de estacionais. Sendo os ventos, agentes geradores
horas. de ondas que atacam as costas, a direção de onda
Em termos de larga escala, a linha de também será, de certa forma, previsível, mas
costa move-se na tentativa de atingir um apresentando variações de direção e energia em
equilíbrio com as forças que atuam sobre ela. curto prazo. O terceiro conjunto engloba todo o
Ilhas de barreira e bancos arenosos movem-se material sedimentar a ser dinamizado no
em direção à praia e ao longo da costa ambiente.
governadas por correntes litorâneas. Considere-se também, conforme é
Promontórios são erodidos; sedimentos são detalhado mais adiante, a influência do homem
depositados em deltas fluviais, estendendo a no ambiente costeiro, que possui uma
linha de costa em direção ao mar aberto. Elas importância fundamental através de uma cadeia
também se movimentam em resposta às complexa de interações de processos. A costa
variações no nível do mar, de forma positiva ou representa um ponto focal forte sob o ponto de
negativa. vista de recreação, que cresce à medida do
Dessa forma é necessário que todo e aumento da população. Sua importância está
qualquer estudo sobre a zona costeira leve em contemplada pela intensa utilização que o
consideração a identificação dos processos homem desenvolve sobre ela. É uma área
chaves que nela operam, bem como a definição extremamente sensível sobre o ponto de vista
GRAVEL
42 Linha de Costa: problemas e estudos

ambiental, em função do seu comportamento inundações seria o fechamento temporário dos

dinâmico, gerando interesse científico em se “inlets” lagunares por ocasião dos episódios de
conhecer o que ocorre na zona de interação inundação. Em 2001, o governo italiano decidiu
terra-mar. realizar obras nesse sentido, através da adoção
Dentre os problemas maiores que de barreiras móveis (79 ao todo), distribuídas
afetam as praias do mundo inteiro, encontra-se a nos três braços de mar, com custo aproximado
erosão, hoje estudada com profundidade pela de 2,5 bilhões de euros. A implantação do
maioria dos países com zonas costeiras e por um MOSE (Experimental Eletromechanical
elevado número de pesquisadores americanos, Module) gerou um fórum para discussão de
canadenses, australianos e europeus. argumentos contrários (PIRAZZOLI, 2002) e
(WILLIAMS, et al., 1992; PILKEY & favoráveis (BRAS et al., 2002).
THIELER, 1992; LEATHERMAN et al., 2000; Estudos foram realizados, durante dois
PRATSON et al., 1999; NUTTLE et al., 1997; anos, pelo Instituto Nazionale di Oceanografia e
CONDIE et al., 2003; ANDERSON et al., 2001; di Giofísica Sperimentale (Trieste) e pelo
TORNQVIST et al., 2002; FLETCHER et al., Instituto per lo Studio della Dinâmica delle
2000; LEATHERMAN & La BREQUE, 2003; Grandi Masse (Veneza), visando especialmente
DOUGLAS et al., 2001; BALTUCK et al., a análise das correntes presentes nos três braços
1996; CLARK 1996; Van der VINK et al., de mar lagunares, complementados por medidas
1998; KOMAR, 1995, 1999; ARDUS & das correntes superficiais na área em frente aos
HARRISON, 1990, LEADON, 1999). mesmos, utilizando o Coastal Ocean Dynamics
O programa LMER - Land Margin Applications Radar (CODAR). O detalhamento
Ecosystems Research (1992), desenvolvido desse trabalho e os principais resultados foram
através de um consórcio (Joint Oceanographic divulgados por GACIC et al. (2002).
Institutions, USA), estabeleceu as principais Na costa sul - brasileira problemas
pressões causadas pela população concentrada relativos a erosão costeira e ao comportamento
nas áreas costeiras dos Estados Unidos. da costa foram objetos de vários estudos nestes
Entre essas se situam perda de habitat, últimos anos (MARTINS et al., 1993;
interceptação no aporte de água e sedimento, TOMAZZELLI et al., 1995, 1997, 1998;
invasão de espécies exóticas, aumento da CALLIARI et al., 1997, 2003; TOMAZELLI &
poluição, aumento de nutrientes e gradual DILLENBURG, 1998; DILLENBURG &
eutroficação. O programa, com apoio da KUCHLE, 1999; CALLIARI, 1998; TOZZI &
National Science Foundation, realizou o estudo CALLIARI, 1997; CORRÊA & TOLDO, 1998;
de quatro áreas: Chesapeake e Waquoit Bays SOUZA, 2001, TOLDO Jr. et al., 2003 a, b;
(costa leste) e Tomales Bay e Columbia River NUBER et al., 2003; GRUBER et al., 2003, a,
(costa oeste). Os locais escolhidos apresentam b; ABSALONSEN & SARAIVA, 2003,
variedades de características estuarinas, SERAU & CALLIARI, 2003; BARBOZA &
principalmente em tamanho, profundidade, bacia TOMAZELLI, 2003; BUCHMAN &
de drenagem, clima, dinâmica e qualidade das TOMAZELLI, 2003; SILVA et al., 2003).
águas, aspectos sedimentológicos e Porções da linha de costa do Rio
geomorfológicos. Grande do Sul vêm sendo submetidas à erosão
Os resultados obtidos permitem não continuada (TOLDO Jr. et al., 1999;
somente uma análise completa dos quatro locais, SPERANSKI & CALLIARI, 2000) e irão
como também a utilização dos dados em requerer trabalhos de recuperação e manutenção
exercícios comparativos e aplicabilidade da (MARTINS et al., 1997, 1999).
metodologia em outras regiões. Em nível de Atlântico Sudoeste, o
Um estudo extremamente importante, tópico foi estudado por pesquisadores do Brasil,
por suas relações históricas e turísticas, vem Uruguai e Argentina (MARCOMINI, 1997;
sendo realizado na Laguna de Veneza (Itália). LABORDE, 1999; PIVEL et al., 2001; ISLA &
Devido à elevação do nível do mar, TOMAZELLI, 1999). Um estudo inédito para a
combinado com a subsidência do solo, Veneza região foi realizado por pesquisadores do Brasil,
vem sofrendo freqüentes eventos de inundações, do Uruguai e da Argentina, abordando causas e
associados às marés de tempestades. Uma efeitos da erosão nas costas do sul do Brasil, no
solução possível para mitigar os efeitos das Uruguai e na Argentina. Os resultados desse
GRAVEL
 L. R. Martins et al. 43

trabalho foram divulgados por MARTINS et al. costeira podem indevidamente conduzir à
(2002). degradação inesperada das linhas de costa. Uma
análise sobre esta ação foi efetuada
Mudanças costeiras e a intervenção humana recentemente por SMALL & NICHOLLS
(2003).
A maior parte das zonas costeiras Conflitos entre atividades humanas e
mundiais e as áreas adjacentes encontram-se em sistemas naturais existem onde quer que os dois
um estado contínuo de mudança, em resposta a se encontrem nos ambientes costeiros e, por
processos naturais. Outras alterações, contudo, certo, alguns são inevitáveis, embora os
são devidas diretamente às atividades humanas, dramáticos exemplos existentes encontrados ao
associadas muitas vezes à explotação de longo das costas de todo o mundo. Atualmente
recursos não vivos, através de dragagens, trabalhos cooperativos de pesquisa científica
desenvolvimento costeiro, recuperação de terras vêm sendo desenvolvidos, visando à obtenção
baixas, retirada de material do perfil praial, das informações necessárias a minimizar os
implantação de complexos urbanísticos, etc. efeitos da ação humana ao longo das costas.
É sempre interessante distinguir
mudanças naturais e antropogênicas, e todo e Iniciativas para a preservação das zonas costeiras
qualquer plano de manejo costeiro deve levar
em conta uma melhor conservação costeira, Várias iniciativas desenvolvidas através
prevenindo conseqüências danosas advindas da de organismos governamentais e não
explotação dos produtos mapeando a natureza e governamentais têm apresentado por escopo o
a extensão dos recursos costeiros existentes, estudo da zona costeira com vistas a sua
além de facilitar a exploração daqueles ainda utilização adequada, desenvolvimento
não descobertos. sustentável e preservação.
Processos naturais diversos e Durante muitos anos a Divisão de
complexos afetam continuamente as linhas de Ciências do Mar (UNESCO), através de seu
costa sob o ponto de vista físico, químico e projeto global COMAR (Coastal Marine) e de
biológico, em escalas que variam de seus componentes PROMAR (Promotion of
microscópicas (grãos de areia) a globais Marine Science) e TREDMAR (Training on
(mudanças no nível do mar). Características Marine Science), desenvolveram uma série de
locais e regionais das costas controlam as atividades dentre os quais: projetos de pesquisa,
diferentes interações e a relativa importância cursos de treinamento e elaboração de manuais,
desses processos naturais. com vistas ao uso e à manutenção das zonas
A atividade humana acrescenta ainda costeiras. Seus componentes regionais,
uma nova dimensão às mudanças costeiras, COMARASIA (Ásia), COMARAFRICA
modificando e perturbando, direta ou (África) e COSALC (América Latina e Caribe),
indiretamente, os ambientes costeiros e os foram responsáveis pela aquisição de um
processos naturais de mudança. Em realidade, conhecimento científico adequado, visando ao
essas atividades adicionam mais um componente uso racional das regiões costeiras. Para
na complexidade dos processos naturais da zona exemplificar tais iniciativas, registre-se a
costeira e de seus materiais, através de efeitos realização, no CECO/UFRGS (Porto
diretos e indiretos numa zona em constante Alegre/Brasil) de quatro cursos sobre geologia
mudança. Elas podem afetar a fonte dos costeira para profissionais da região e o
sedimentos para a costa e o movimento dos desenvolvimento dos projetos Lagoa dos Patos e
mesmos dentro do ambiente costeiro, bem como Plataforma Continental Sul-Brasileira.
promover mudanças no nível do mar local e Na mesma linha de ação, o
regional. subprograma temático “Coastal Change”, do
Freqüentemente a atividade humana é programa Ocean Science in Relation to Non
conduzida sem um adequado conhecimento da Living Resources-OSNLR, da Comissão
geologia costeira e seus processos. Como Oceanográfica Intergovernamental-COI
resultado, podem mesmo causar a degradação (UNESCO), ocupou-se fundamentalmente dos
imprevista das linhas de costa. Até mesmo ações processos que conduzem as mudanças da zona
humanas dirigidas a salvar ou melhorar a zona costeira, com especial ênfase nos aspectos

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44 Linha de Costa: problemas e estudos

erosivos. Essa importância levou o subprograma Mais recentemente a iniciativa

a estimular o surgimento do componente CZAR CABMAR (Cooperação Argentina-Brasil em
(Coastal Zone as a Resource on its own Right). Ciências do Mar) formalizou a zona costeira
Resultados de estudos sobre gerenciamento e como uma de suas metas prioritárias de estudo.
administração da zona costeira, frutos de O programa de cooperação envolve a realização
atividades do programa OSNLR, são de pesquisas conjuntas, o intercâmbio de
encontrados em cinco volumes específicos pesquisadores, e o desenvolvimento de cursos,
(BORDOMER/95 e BORDOMER/97). envolvendo a zona costeira e a plataforma
Vários pesquisadores e centros de continental.Também o novo COMAR (South
pesquisa sul/brasileiros integraram-se no West Atlantic Coastal and Marine Geology
desenvolvimento de um projeto (Cabo Frio- Group) realiza seus trabalhos nessa linha de
Brasil à Península Valdés-Argentina), cujos atividade.
resultados já foram mencionados e podem ser Essas últimas iniciativas, embora de
encontrados na lista bibliográfica do presente grande interesse científico no conhecimento da
trabalho. Zona Costeira do Atlântico Sudoeste, carecem
Vinculado à secção de “serviços dos recursos indispensáveis para seu pleno
oceânicos” da Comissão Oceanográfica desenvolvimento.
Intergovernmental – COI/UNESCO, o Programa
GOOS (Global Ocean Observatory System) Estudos realizados na costa do Rio Grande do Sul
implantou recentemente o COOP (Coastal
Ocean Observatory Panel). A importância da Durante muitos anos, estudiosos que
iniciativa encontra-se vinculada à concentração pesquisaram a linha de costa gaúcha de Torres
nos sistemas transicionais de uma ação interativa ao Chuí notaram modificações evidentes no
entre o continente e o oceano, bem como às período de 1960 (DELANEY, 1966; MARTINS,
atividades exercidas pela população cada vez 1967) a 2000 (CALLIARI et al., 1997,
mais crescente (38% do total), situada numa TOMAZELLI et al., 2000). Essas modificações,
extensão de 100 km a partir da linha de costa reveladas inicialmente pela exposição no perfil
(GOOS, 2003). praial de camadas de turfas, culminaram com
Entre as ações lideradas por organismos indícios evidentes de erosão, representados
não governamentais, pode ser indicado o projeto especialmente pela queda do Farol da Conceição
LOICZ (Land Ocean Interactions in the Coastal e de edificações na parte sul, mais
Zone), vinculado ao IGBP (International especificamente na região de Hermenegildo. O
Geosphere-Biosphere Project), que inclui a Farol, que se encontrava localizado no campo de
erosão costeira em um de seus pontos de ação. dunas frontais, durante trabalhos realizados pela
Passando dos programas globais para equipe do CECO-UFRGS, na década de 70,
os inter-regionais e regionais, várias iniciativas apresentava, em 1985, posição no pós-praia,
indicando preocupação com a zona costeira com base da edificação mostrando-se solapada,
podem ser mencionadas. A mais recente é uma vindo a cair após a passagem de tormenta,
ação da Federação Européia, juntamente com a registrada em 1993. Extremamente importante é
COI (UNESCO), no sentido de gerar uma rede a indicação de que, na queda do “Farol da
em ciências e tecnologia do mar entre Europa e Conceição”, a escarpa da duna frontral
América Latina. Riscos ambientais marinhos, retrocedeu 50 metros, entre 1975 a 1995,
um dos conjuntos temáticos da ação, contempla resultando numa erosão média 2.5 m/ano.
um projeto relativo a morfodinâmica e à erosão Os estudos mais recentes, realizados
de costas arenosas no Atlântico Sudoeste. através do subprograma “Coastal Change” e
De igual forma o programa ASOS COMEMIR, comprovaram essas observações
(Atlântico Sul Ocidental Superior), estabelecido efetuadas nesse lapso de tempo. CALLIARI
por Brasil, Uruguai e Argentina, visando ao (1998) indicou as marés de tempestades “storm
desenvolvimento de projetos oceanográficos surges” como um dos agentes efetivos de erosão
conjuntos, na área compreendida entre Cabo da praia e de retração das dunas ao longo da
Frio (Brasil) e Península Valdés (Argentina), costa do Rio Grande do Sul. O autor mostrou
abriga projetos sobre erosão costeira. também que, devido à orientação e às
características das praias, as taxas de erosão são

GRAVEL
 L. R. Martins et al. 45

mais acentuadas em direção ao sul, como sucede

especialmente na região da praia Hermenegildo, Experiência desenvolvida pelos autores
concluindo que a combinação de tempestades
extratropicais e as marés astronômicas Um dos primeiros trabalhos detalhados
produzem acentuada erosão na linha de costa do sobre a composição dos sedimentos praiais e
nosso Estado. Os aspectos relativos ao impacto eólicos, bem como sobre a ocorrência associada
econômico da erosão, na praia do Hermenegildo, de minerais pesados, foi realizado por
foram abordados por ESTEVES & SANTOS MARTINS (1967). Desde então outros autores
(2001). enfocaram aspectos distintos dos variados
Na mesma época, BARLETTA & ambientes transicionais que caracterizam a zona
CALLIARI (2001) realizaram uma série de costeira do Rio Grande do Sul. Tais estudos
observações visando à determinação da encontram-se indicados em VILLWOCK &
intensidade das tempestades operantes na costa TOMAZELLI (1995) e abrangem os mais
gaúcha. diversos aspectos da geologia sedimentar dessa
TOMAZELLI et al. (1999) associam região, incluindo sua evolução paleogeográfica,
mais um agente de forte influência nos estratigrafia e caracterização dos inúmeros
fenômenos erosivos encontrados na costa ambientes de sedimentação.
gaúcha, indicando que esses parecem estar Nos estudos realizados ao longo da
operando em conjunto, através de escalas costa gaúcha como um todo, ou em estudos de
diferentes: tormentas extratropicais de certa caso, foi possível constatar situações erosivas,
direção sobrepostas à subida do nível relativo do mas também outros episódios interessantes,
mar de longa escala. Os autores revelam, ainda, alguns inclusive de caráter deposicional,
seus impactos sazonais na costa, incluindo perda conforme é descrito mais adiante. Completa
de propriedades públicas e privadas, degradação relação bibliográfica sobre os estudos realizados
da praia de recreação e exposição de turfas e na área, no período de 1980 a 2000, pode ser
outros sedimentos lamosos lagunares em vários encontrada em MARTINS et al. (1996) e
pontos ao longo da costa. (MARTINS, 1967, MARTINS & BARBOZA (2001).
SPERANSKI & CALLIARI, 2000,
TOMAZELLI & VILLWOCK, 1989, Potencial de areia
TOMAZELLI et al., 1996).
TOLDO Jr. et al. (1999) realizaram um Durante muito tempo o estudo dos
interessante trabalho sobre o comportamento da estoques arenosos situados na plataforma
costa do Rio Grande do Sul. Mudanças na continental interna possuíam apenas um
posição da linha de costa, a partir de 1975, interesse acadêmico. A conseqüente abordagem
foram mapeadas nos 620 km utilizando um GPS, dos problemas da linha de costa, especialmente
indicando dez zonas de erosão praial (528 km) e aos vinculados à erosão, permitiu o surgimento
cinco zonas de erosão/acresção (50 km). Cerca de trabalhos mais detalhados, visando seu
de 378 km de praia migraram em torno de 100 aproveitamento econômico, como ocorreu na
metros em direção ao continente; e somente 4 Austrália (ROY, 1985; BIRD, 1990;
km permaneceram fixas. Segundo os autores as BOURMAN, 1990); Estados Unidos
causas dessas mudanças não são claras, mas (WILLIAMS, 1986; DUANE &
podem incluir uma lenta elevação no nível do STUBBLEFIELD, 1988; CRUICKSHANK et
mar, mudanças locais nas correntes litorâneas al., 1993; AMATO, 1994); Inglaterra (ARDUS
por refração de onda, freqüência de ondas de & HARRISON, 1990; MAY, 1990); França
tormenta, bem como ação antrópica. Nessa (HALLEGOUT & GUILCHER 1990);
mesma linha de ação, TOLDO Jr. et al. (2003 a, Dinamarca (MOLLER, 1990), Portugal (PSUTY
b) desenvolveram estudos relativos ao transporte & MOREIRA, 1990); Japão (KOIKE, 1990);
de sedimentos na zona de surfe e a sua Nova Zelândia (CARTER & MICHEL, 1985;
influência na configuração da linha de costa. Já HEALY et al., 1990); Chile (PASKOFF &
anteriormente, TOMAZELLI & VILLWOCK PETIOT, 1990) e Bélgica (CHARLIER, 1996).
(1992) abordaram a deriva litorânea de Preocupados com os sinais evidentes de
sedimentos ao longo do litoral norte do Rio retração da linha de costa e a conseqüente perda
Grande do Sul. de material, MARTINS et al. (1997) efetuaram
GRAVEL
46 Linha de Costa: problemas e estudos

um estudo sobre o potencial arenoso da de areias carbonáticas, bancos lineares de areia

plataforma continental interna do Rio Grande do de cascalho bioclástico e sedimentos lamosos.
Sul, com vistas à recuperação dos praiais Quatro litofácies foram identificadas,
afetadas. baseadas na caracterização por tamanho de grão,
Infelizmente, na área atingida não mineralogia, estrutura espacial e nível de energia
existem locais apropriados, no continente, para o do ambiente de deposição. Destas, duas foram
fornecimento de areia para esse tipo de consideradas como potencial para recuperação
reconstrução praial. Dessa forma, sedimentos da de praias – areia quartzosa e areia quartzosa com
plataforma continental interna foram analisados conchas (Fig. 1). Uma terceira foi considerada
como possíveis fontes para “beach como recurso mineral – areia e cacalho
nourishment”. Eles consistem de sedimentos carbonático bioclástico.
holocênicos transicionais e marinhos, que Cinco áreas alvo foram indicadas ao
cobrem uma superfície irregular erosional, longo da plataforma continental interna,
formando uma cobertura de areias quartzosas e disponíveis para explotação.

Figura 1. Litofácies areia quartzosa e areia quartzosa com conchas, indicadas como potencial para recuperação
de praias no Rio Grande do Sul (modificado de MARTINS et al., 1997).

Preservação de dunas frontais al. (1991), NARUSE et al. (1992), BERGHEM

(1997), ORFORD et al. (1999), STUMPF et al.
Estudos concernentes à importância da (1999).
sedimentação eólica nas zonas costeiras e ao TABAJARA et al. (2000) abordaram,
importante papel desempenhado pelas dunas pela primeira vez em um estudo de caso, o
frontais no perfil praial foram desenvolvidos em manejo de dunas frontais no litoral norte do Rio
muitos países. Grande do Sul, mais especificamente nas praias
KURIYAMA & MOCHIZUKI (1999) oceânicas localizadas no município de Osório
desenvolveram trabalhos na costa do Japão, (Fig. 2).
cujos resultados enfatizaram a importância das O princípio básico no manejo de dunas
dunas frontais como estruturas de preservação é a manutenção de uma satisfatória cobertura
de desastres e proteção à vida humana e vegetal sobre a duna frontal, o que previne a
propriedades, contra a ação de ondas e marés de migração da areia para o interior do continente,
tempestades. Os autores consideram a presença exaurindo o sistema praial.
da vegetação como um fator chave na formação Em estudos realizados no noroeste da
e estabilização das dunas costeiras. Austrália, pelo Soil Conservation Service, e na
Outros trabalhos abordando as relações costa oeste dos Estados Unidos, pelo Oregon
duna/vegetação foram divulgados por Department of Land Conservation and
BRESSOLIER & THOMAS (1976), Development (MARRA, 1993), o manejo de
DAVIDSON & LAW (1990), NIEDORODA et dunas envolve a aplicação dos princípios de uso

GRAVEL
 L. R. Martins et al. 47

correto da terra, a organização das atividades adaptadas e tempo para iniciar a estabilização do
recreativas e a recuperação das áreas com depósito eólico. A consolidação desse trabalho
distúrbios. (TABAJARA et al., 2001) foi alcançada com a
Nos estudos de TABAJARA et al. aplicação pelo Programa Piloto das praias do
(2000), os autores tiveram a oportunidade de município de Osório, da metodologia
monitorar, em alguns anos, os perfis praiais e o recomendada para solução dos problemas
comportamento do sistema frontal de dunas. Os vinculados às dunas frontais pelas agências
testes de campo, utilizando estruturas para governamentais de gerenciamento de terras
estabilização e construção de dunas artificiais, situadas na Austrália e na costa leste dos Estados
recomendaram uma série de cuidados a serem Unidos, respectivamente pela Soil Conservation
seguidos. Service (1990) e pela Texas General Land
As dunas edificadas a partir da Office (1991).
construção de esteiras devem ser estabilizadas
por vegetação. Enquanto as estruturas tornaram-
se rapidamente efetivas no trapeamento da areia,
logo que são instaladas, a vegetação exige
preparo do terreno, plantio de espécies

Figura 2. Métodos estruturais de manejo de dunas aplicados no Programa Piloto de Atlântida Sul; A. Esteiras
(sand fences) dispostas transversais ao vento dominante; B. Cercado duplo distante 4 metros entre si
e paralelo á linha de costa; C. Cobertura morta, obtida por meio da poda das árvores do balneário e
de esteiras alinhadas na frente das dunas remanescentes e paralelas á linha de costa. (segundo
TABAJARA et al., 2000).

Deposição de lama acumulação de material sedimentar durante as

ressacas que se abatem periodicamente sobre a
Cabe finalmente indicar que as linha de costa (Fig. 3).
tormentas causam, além da erosão, fenômenos A primeira referência com relação ao
distintos, como o apresentado pela acumulação fenômeno foi feita por VILLWOCK &
periódica de lama na praia do Cassino, no MARTINS (1972), que detalharam esse
município de Rio Grande. episódio, indicando que o material lamoso
A deposição de lama que cobre o perfil depositado na praia durante as ressacas é similar
praial em Cassino representa um fenômeno de aos sedimentos finos que atapetam a plataforma
GRAVEL
48 Linha de Costa: problemas e estudos

continental interna adjacente a desembocadura contração) à ação normal de ondas

da Lagoa dos Patos. Os autores indicam, (desenvolvimento de blocos e bolas de argila,
também, que os processos que levam a sua solapamento de degrau lamoso) e ao
formação são comprovadamente naturais. recobrimento por areia de transporte eólico no
VILLWOCK et al. (1972), ao estudarem a pós-praia (eventual preservação do evento no
mineralogia de argilas dos sedimentos de fundo registro geológico) foi objeto dos trabalhos de
da Lagoa dos Patos, mostram sua vinculação MARTINS et al. (1978, 2003).
com aqueles que atapetam a plataforma A singularidade dessa acumulação de
continental interna, especialmente os localizados material fino (menor de 62 micra), em uma
ao sul do canal de Rio Grande, e os que, durante típica “microtidal open ocean beach”, foi
tempestades de ondulação, são erodidos e divulgada, em nível mundial, durante a
transportados para a zona de praia. realização do simpósio internacional “Sandy
Beaches as Ecosystems”, realizado em Port
Elizabeth, África do Sul, por MARTINS et al.
(1983). CALLIARI & FACHIN (1993)
estabeleceram através de mapas texturais, uma
fácies mista (areia e lama), que desenvolve-se na
plataforma interna, junto à desembocadura da
Lagoa dos Patos até profundidade de 22 metros,
correspondendo a denominada fácies Patos,
descrita por MARTINS et al. (1972).
Os autores indicam, ainda, que fundos
argilo-sílticos e síltico-argilosos ocorrem ao sul
da desembocadura, e que, em razão dos ventos
predominantes do quadrante NE, associados a
altas taxas de carga de suspensão, proporcionam
a formação de uma pluma de sedimento em
direção SW. Floculado, esse material é
depositado sob a forma de lama fluida, sendo
identificadas espessuras de até 0,80 m. Tais
estudos corroboram com os estudos dedicados
ao problema e citados anteriormente.
O material lamoso de coloração cinza a
preta, sob a forma de enorme colchão, aporta na
praia através de uma suspensão concentrada
(213 g/l), como no episódio ocorrido na segunda
Figura 3. Camada de lama acumulada durante a quinzena de fevereiro de 1978. Em contato com
atuação de tormentas sendo solapada pela dinâmica o ar, o material sofre rápida oxidação, o que se
normal da praia. As fendas de ressecamento e manifesta pela mudança de cor para castanho-
gretas de contração produzidas pela exposição
subaérea conduzem a liberação de blocos de lama
escuro. CALLIARI et al. (2000) indicam valores
inicialmente angulares e posteriormente de 20 g/l a 600 g/l, durante os episódios
retrabalhados formando seixos ocorridos em 17 de janeiro e 10 de março de
penecomtemporâneos. Os de menor tamanho são 1998.
alojados nas fendas de ressecamento. No pós-praia Várias camadas preservadas de lama,
os seixos de lama remanescentes são cobertos por intercaladas por camadas de areia quartzosas,
areia de transporte eólico tornando possível por foram identificadas no pós-praia (MARTINS et
vezes sua preservação no registro geológico al., 1978), o que denota a ciclicidade desse
(segundo MARTINS et al., 1978, 2003). episódio. CALLIARI & FARIA (2003) indicam
que flutuações do nível d’água combinado com
O detalhamento do processo de estados ondulatórios, velocidade e direção do
formação do depósito lamoso e seu posterior vento, induzem o transporte dos sedimentos
comportamento em relação à exposição subaérea finos armazenados na antepraia do Cassino, bem
(formação de fendas de ressecamento, gretas de como a conseqüente formação de bancos
GRAVEL
 L. R. Martins et al. 49

lamosos soldados ao estirâncio. Segundo os governamentais têm abordado as variações

autores, esses bancos causam estabilização climáticas e a elevação do nível do mar e suas
praial e contribuem para a progradação da linha principais conseqüências, entre elas a erosão
de costa numa extensão de 10 km. costeira. Entre esses programas podem ser
Todas as situações aqui discutidas destacados os vinculados à Comissão
constituem uma exceção ao desenvolvimento de Oceanográfica Intergovernamental-COI
erosão causada pela passagem de tormentas. (UNESCO), a International Geosphere-
Embora o material lamoso seja originalmente Biosphere Program (IGBP), a Land-Ocean
erodido da plataforma interna, o episódio sobre Interactions in the Coastal Zone (LOICZ) e à
o perfil praial do Cassino é de nítida deposição Scientific Committee on Oceanic Research
de material de granulometria, não compatível (SCOR), citados anteriormente.
com a sedimentação normal do ambiente, Por outro lado, discussões relativas a
conforme é constatado pelos estudos acima alterações climáticas e à variação do nível do
indicados. mar têm sido tema predominante em muitas
reuniões, seminários, workshops e congressos
Aspectos Conclusivos específicos nesses últimos anos.
O tema é fascinante pelas
Mudanças costeiras ocorrem em conseqüências que pode gerar sobre as zonas
resposta a processos naturais e/ou antrópicos, costeiras. O impacto potencial do aquecimento
através de amplo espectro de escalas, tanto global sobre o nível do mar, em termos de
temporal quanto espacial. Com relação aos magnitude e taxas de elevação durante este e o
eventos naturais usualmente, o impacto de próximo século, parece preocupar cientistas e
mudanças seculares no clima afeta os ambientes administradores.
costeiros, através da elevação do nível do mar Ainda que futuras mudanças na
em escala decimétrica, mudanças de temperatura temperatura global e no nível do mar sejam
na superfície oceânica, influência nas áreas de difíceis de predizer, é possível, por exemplo,
tempestades tropicais e subtropicais, bem como submeter ao debate registros de réguas de marés
a freqüência e magnitude das tempestades e as e datações de radiocarbono de depósitos de
variações de precipitação, com influência no marismas que indicam elevação do nível do mar.
fluxo de sedimentos para as zonas costeiras. De acordo com WARNICK et al.
Outros efeitos podem incluir, também, (1996), as taxas previstas de elevação do nível
mudanças nas correntes costeiras e oceânicas e do mar variam de 38 a 55 cm para os próximos
no regime de ondas. cem anos. Uma estimativa mais conservadora de
Deve ser considerado que aspectos de 49/55 cm/século estaria próxima da elevação do
mudanças costeiras ainda são pouco nível do mar durante o Holoceno nos últimos
compreendidos, em razão da ausência de um 10.000 anos. Dessa forma o exame do registro
conhecimento mais profundo relativo aos geológico das mudanças costeiras, durante o
mecanismos presentes, estando limitados a Holoceno, poderia estabelecer uma capacidade
observações esparsas das variações modernas, relativa de predizer a taxa de elevação do nível
obtidas através do monitoramento costeiro. do mar.
A melhor maneira para examinar a Esses modelos preditivos, contudo,
resposta aos agentes governantes de longa ainda que baseados em registros estratigráficos e
duração é a análise de como diferentes sistemas geomórficos, merecem cuidado quanto a sua
costeiros responderam a esses agentes no aplicação. Para uma melhor avaliação desse
passado. impacto, NICHOLLS & LEATHERMAN
Conforme ANDERSON et al. (2001), a (1995) e NICHOLLS & SMALL (2002) indicam
pergunta a ser feita nessas condições é igual à que a elevação na ordem de um metro criaria um
natureza das mudanças costeiras durante os cenário catastrófico, afetando 6 milhões de
últimos milhares de anos e como poderemos pessoas no Egito, com a perda de 15% da área
aplicar essa informação no planejamento agrícola; 13 milhões em Bangladesh, com queda
costeiro e cenários de gerenciamento atuais. de 16% na produção de arroz; e 72 milhões na
Vários programas e projetos vinculados China, com perda de milhões de km2 de área.
a iniciativas governamentais e não
GRAVEL
50 Linha de Costa: problemas e estudos

Muitas informações necessitam ser REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

criadas para uma maior confiabilidade desses
tipos de modelos. Nem sempre sabemos como, ABSALONSEN, L & SARAIVA, J. M. B.
porque e quando os sistemas costeiros 2003. Caracterização morfodinâmica das
adquiriram sua atual morfologia, limitando praias do Rio Grande do Sul. Associação
nossa capacidade de desenvolver modelos de Brasileira de Estudos do
previsão sobre a variabilidade morfodinâmica Quaternário,Congresso, 9°, Resumos: 200,
através do tempo. Estudos sobre a estrutura Recife, Brasil.
geológica dos sistemas costeiros, o cenário AMATO, R. 1994. Sand and Gravel Maps of the
tectônico, a topografia anterior, o substrato, a Atlantic Continental Shelf, with Explanatory
fonte de sedimentos e a geomorfologia Text. US Department of Interior, Minerals,
produzem importantes informações sobre o Management Service. INTERMAR, 35p., 4
comportamento desses sistemas no passado, mapas, Washington, DC, USA.
incluindo taxas de mudanças. ANDERSON, J.; RODRIGUEZ, A.;
Concluindo, é possível afirmar, à luz FLETCHER, C. & FITZGERALD, D. 2001.
dos trabalhos já realizados ao longo da costa do Researches Focus. Attention on Coastal
Rio Grande do Sul, que os fatores que afetam os Response to Climate Change. EOS vol. 82
ambientes transicionais nela presentes intervem (44): 513/519, Washington, DC, USA.
de uma maneira complexa e inter-relacionada. ARDUS, D. A. & HARRISON, D. J. 1990. The
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estabelecem os pontos importantes do controle Publisher, Dordrecht, Holanda
climático. A descarga fluvial, a erosão costeira e BALTUCK, M; DICKEY, J.; DIXON, T. &
os sedimentos de mar aberto integram o estoque HARRISON, C. G. A. 1996. New
sedimentar destinado a promover a acresção da Approaches Raise Questions about Future
linha de praia, os leques de tempestades, os Sea Level Change. EOS vol. 77 (40): 385-
canais de marés, as estruturas costeiras, os 388, Washington, DC, USA.
depósitos de mar aberto e a extração de recursos. BARBOZA, E. G. & TOMAZELLI, L. J. 2003.
Os processos costeiros estão presentes através da Erosional features of the Eastern Margin of
ação de ondas, das correntes litorâneas, da the Lagoa dos Patos Lagoon, southern
descarga fluvial, das marés, dos ventos e Brazil: significance for Holocene History.
tormentas, enquanto as variações de nível do Journal of Coastal Research, Special Issue,
mar estão ligadas à subsidência tectônica e por 35: 260-264, Itajaí, Brasil.
compactação, bem como as mudanças globais e BARLETTA, R. C. & CALLIARI, L. J. 2001.
locais de nível do mar. Determinação da intensidade das
Remoção de fluidos, desenvolvimento tempestades que atuam no litoral do Rio
das bacias fluviais, dragagens de manutenção, Grande do Sul, Brasil. Pesquisas em
construção de canais e de outras estruturas Geociências 28(2): 117-124, Porto Alegre.
costeiras, alteração do campo de dunas, BERGHEM, Y. P. 1997. Amenagement et
edificações e construções de estradas são pontos gestion dês forêts dunaires de la Côte
representativos da intervenção humana. d’Opale. BORDOMER 97, Tome 2,
Finalmente cabe considerar que uma Addendum: 1-11, Bordeaux, França.
importante ferramenta estratégica de trabalho é a BIRD, E. C. F. 1990. Artificial Beach
integração de equipes multidisciplinares de Nourishment on the Shore of Port Phillip
cientistas especializados em ambientes costeiros. Bay, Austrália. Journal of Coastal Research,
Os dados obtidos em cada tipo de sistema 51 (6): 55-68, Boca Raton, USA.
costeiro deve ser necessariamente integrado aos BORDOMER/95. Coastal Change International
modelos de previsão costeira. Convention on Rational Use of Coastal
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