01.08.2022 - EMERJ - Casos Concretos - Direito Penal - Tema 1

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DIREITO PENAL

CPII
2º PERÍODO 2022
TEMAS

Tema 01:
A Exclusão da Ilicitude (Causas de Justificação) I. Legítima defesa.
1) Considerações gerais sobre a ilicitude. Evolução do conceito.
2) A legítima defesa: generalidades:
a) Conceito e fundamento legal;
b) Os elementos objetivos e o elemento subjetivo.
3) Espécies: legítima defesa real, legítima defesa putativa, legítima defesa subjetiva
e legítima defesa sucessiva.

1ª QUESTÃO:
Jorge e seu filho Paulo vão ao bar de Jonas para assistir à partida do Flamenguense contra
os Gambás Curintianos. Num dado momento, Paulo chama o jogador Leonel Moure de
"perna-de-pau" sem saber que o namorado do esportista, um travesti de nome Jeremias
(vulgo AAA) estava presente. Logo se instala uma confusão, e Jeremias, após trocar socos
e pontapés com Paulo, se desvencilha, pega uma garrafa de cerveja vazia e a quebra ao
meio, partindo para cima de Paulo, que estava desarmado e não mais o agredia. Nesse
momento, Jorge, temendo a morte do filho, retira de sua capanga um revólver calibre 38,
do qual tem registro e porte, e dispara duas vezes para evitar a agressão fatal que seria
perpetrada pelo travesti. Contudo, o acaso faz com que o filho, ao se desvencilhar do
golpe de Jeremias, receba um dos tiros, e que o outro atinja a testa do balconista Severino,
que estava atrás de Jeremias, o qual nada sofre. Paulo e Severino vêm a óbito no local.
Diante dos fatos, faça a análise jurídica das condutas de Jeremias e Jorge.

RESPOSTA:
A questão envolve a análise de temas relacionados à legítima defesa, à tentativa e à
aberratio ictus. Tome-se, pois, como ponto de partida as condutas de Jeremias. Em
primeiro lugar resulta desproporcional a agressão física a Paulo diante de uma mera
atribuição de qualidade negativa a um jogador, fato este, por certo, abarcado pelo
princípio da insignificância. Deste modo, as agressões iniciais de Jeremias a Paulo não
caracterizam legítima defesa, mas lesões corporais, ao passo que a atuação de Paulo se dá
em legítima defesa, por repelir injusta agressão. Ocorre que, no mesmo conteto Jeremias
quebra uma garrafa e dá início ao ataque que caracteriza, nos moldes da teoria objetivo-
individual, início da execução de crime de homicídio contra Paulo, fato este mais grave e
que, no mesmo contexto, autoriza a absorção das lesões corporais pelo mesmo. Por fim,
o fato só não se consumou em razão do desvio do golpe por parte de Paulo, logo,
caracterizada assim a tentativa.
Quanto a Jorge, sua atuação era dirigida à legítima defesa de terceiro (seu filho) que era
vítima de um ataque à vida - presente o início de execução do homicídio por parte de
Jeremias - , logo, nos moldes da doutrina de Zaffaroni, verifica-se desde logo a
proporcionalidade entre os bens jurídicos (vida-vida). Porém, por erro na execução
(aberratio ictus) da legítima defesa, Jorge a matou seu filho Paulo e Severino, que nada
tinha a ver com a contenda. Pela regra do Art. 20 § 3º CP, remetida pelo dispositivo do
Art. 73 CP, Jorge responderia pelo resultado, pois, adotada a teoria da causalidade neste
último dispositivo. Assim, a morte de Paulo seria considerada como morte de Jeremias,
porém, estaria a conduta justificada nesse caso pela legítima defesa, pouco importando o
entendimento de Cirino de que o resultado não seria atribuível, pois trágico ao autor.
Restaria, contudo, a morte de Severino e quanto a essa, três correntes se abrem. Para
Bitencourt, na aberratio ictus em legítima defesa os resultados aberrantes estão
alcançados pela justificante. Por outro Cirino, com mais razão, sustenta que o resultado
imprudente nesses casos não pode ser alcançado pela justificante, pois os objetos estão
em situação distinta:

em caso de objetos em situação jurídica distinta (B atira contra A em legítima defesa,


mas atinge C sem justificação, situado atrás de B): tentativa justificada de homicídio
contra A e homicídio imprudente contra C (igualmente, parece inadmissível a solução do
art. 20§ 3º, CP, porque a natureza antijurídica do excesso extensivo excluiria a justificação
do homicídio imprudente.

Em suma, Jeremias responderia por tentativa de homicídio por motivo fútil e Jorge
pelo homicídio culposo consistente na morte de Severino.

2ª QUESTÃO:
LUANA e EDUARDO são casados e, desde que se conheceram, sempre tiveram
intermináveis brigas, durante as quais, vez por outra, EDUARDO agredia fisicamente
LUANA, que nunca havia tornado públicas essas agressões, pois preferia ficar com ele
daquela forma do que não mais tê-lo em sua companhia.
No entanto, certo dia, a agressão física tornou-se pública, pois foi cometida no BAR DO
MANUEL, na presença de diversas pessoas, levando LUANA ao chão.
Dentre essas pessoas, FLAVIO, no intuito de proteger LUANA, logo após a agressão
realizada por EDUARDO, deu um soco no rosto dele, causando-lhe lesões corporais
leves.
Tão logo LUANA se levantou, gritou para FLAVIO, perguntando a razão pela qual ele
havia agredido EDUARDO.
EDUARDO, inconformado com as agressões que sofreu de FLAVIO, ofereceu
representação em face dele, sob o fundamento de que a sua conduta não estaria acobertada
por nenhuma excludente de ilicitude, na medida em que a agressão que FLAVIO
pretendeu cessar era aceita por LUANA, que, em momento algum, deu a ele autorização
para que a defendesse.
Assiste razão a EDUARDO? Justifique a sua resposta.

RESPOSTA:
"A legítima defesa de outrem, também definida como ajuda necessária, depende da
vontade de defesa ao agredido: só é possível legítima defesa de outrem, se existe vontade
de defesa do agredido. A impossibilidade de defesa contra a vontade do agredido resulta
do princípio da proteção individual, porque o agredido pode, por exemplo, ou não querer
o uso da arma de fogo contra o ladrão, ou temer represálias na hipótese de intervenção de
terceiro, como no caso de seqüestro, ou simplesmente, não desejar a intromissão de
terceiros, como brigas de casais para resolver problemas de relacionamento e reencontrar
a harmonia afetiva etc. Contudo, a vontade presumida do agredido autoriza a defesa de
outrem, independente da verificação negativa posterior, que não ilegitima a ação de
defesa já realizada."
(Direito Penal, Juarez Cirino dos Santos, 3ª edição, Lúmen Júris, página 246)

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