Anna Freud

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ANNA FREUD (1895-1982)

P e n s a r sobre as c r i a n ç a s _ _ , .

A n n a Freud nasceu em 3 de dezembro de 1895, em Viena, na Áustria, e


foi a caçula dos seis filhos de Sigmund Freud. Apesar de se sentir distante
de seus i r m ã o s e de sua m ã e , A n n a foi muito p r ó x i m a do pai. Embora
tenha frequentado uma escola privada, afirmava ter aprendido pouquís-
simo em sala de aula e que grande parte de sua e d u c a ç ã o veio por estar
perto dos amigos e colegas de seu pai.
A p ó s o ensino médio, A n n a c o m e ç o u a traduzir a obra do pai para o
a l e m ã o e a trabalhar como professora na escola primária, onde passou
a se interessar por terapia infantil. Em 1918, contraiu tuberculose e teve
de deixar o cargo de professora. Durante esse período difícil, c o m e ç o u a
contar seus sonhos para o pai. Quando ele c o m e ç o u a analisá-la, A n n a
rapidamente consolidou o interesse pela profissão do pai e decidiu abra-
çar a p s i c a n á l i s e . Embora A n n a Freud acreditasse em muitas das ideias
b á s i c a s de Freud, ela estava menos interessada na estrutura do subcons-
ciente e mais interessada no ego e na dinâmica, ou motivações, da psique
de uma pessoa. Esse interesse levou à publicação de seu livro inovador
O ego e os mecanismos de defesa, em 1936.
A n n a Freud talvez seja mais conhecida por criar o campo da psicaná-
lise infantil, que forneceu grandes ideias sobre a psicologia da criança;
ela t a m b é m é conhecida por desenvolver diferentes m é t o d o s para o trata-
mento de crianças. Em 1923, sem nunca ter obtido u m diploma de facul-
dade, A n n a c o m e ç o u a trabalhar na própria clínica de psicanálise infantil
em Viena e foi nomeada presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena.
E m 1938, por causa da i n v a s ã o nazista, A n n a Freud e sua família
fugiram do p a í s e se mudaram para a Inglaterra. Em 1941 ela fundou
uma instituição em Londres com Dorothy Burlingham e Helen Ross, cha-
mada Berçário de Guerra Hampstead (Hampstead War Nursery), que ser-
v i u de lar adotivo e programa psicanalítico para c r i a n ç a s desabrigadas.
Seu trabalho nessa instituição levou à publicação de três livros: Young
Children in Wartime (em tradução livre. C r i a n ç a s jovens em tempo de
guerra) em 1942, Infants without Families ( C r i a n ç a s sem família), em
1942 e War and Children (Guerra e crianças), em 1943. Em 1945, o ber-
çário fechou e A n n a Freud criou e d i r i g i u o Curso e Clínica de Terapia

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I n f a n t i l Hampstead (Hampstead Child Therapy Course and Clinic), um
cargo que manteve até a morte. Até seu falecimento em 1982, A n n a havia
deixado u m legado profundo e duradouro nessa área, que possivelmente
s ó foi ofuscado pelo monumental impacto de seu pai e de u m punhado
de outros p s i c ó l o g o s .

MECANISMOS DE DEFESA
Para entender as contribuições de A n n a Freud para o conceito de meca-
nismos de defesa, é preciso, primeiro, dar uma olhada no trabalho de seu
pai. Sigmund Freud descreveu alguns mecanismos de defesa que o ego
utiliza ao lidar com conflitos com o id e o superego. Ele afirmava que uma
redução da t e n s ã o era uma das principais m o t i v a ç õ e s para a maioria das
pessoas e que essa t e n s ã o era em grande parte causada pela ansiedade.
A l é m disso, d i v i d i u a ansiedade em três tipos:

1. Ansiedade da realidade: trata-se do medo da ocorrência de eventos


do mundo real. Por exemplo, uma pessoa tem medo de ser mordida por
u m cachorro porque e s t á perto de u m cão feroz. A maneira mais fácil
de reduzir a t e n s ã o da ansiedade da realidade é afastar-se da situação.
2. Ansiedade n e u r ó t i c a : trata-se do medo inconsciente de sermos domi-
nados e perdermos o controle para os impulsos do id, e que isso leve
à punição.
3. Ansiedade moral: trata-se do medo de que nossos princípios morais
e nossos valores sejam violados, resultando em sentimentos de vergo-
nha ou culpa. Esse tipo de ansiedade v e m do superego.

Sigmund Freud afirmava que, quando ocorre a ansiedade, os meca-


nismos de defesa s ã o utilizados para lidar com ela e proteger o ego da
realidade, do id e do superego. Ele dizia que muitas vezes esses mecanis-
mos inconscientemente distorciam a realidade e p o d i a m ser utilizados
de forma exagerada por uma pessoa para evitar u m problema. Portanto,
pode ser benéfico compreender e revelar esses mecanismos de defesa
para que uma pessoa possa administrar sua ansiedade de uma forma
mais saudável.
E onde A n n a Freud entra em cena? C o m maior destaque, ela é res-
p o n s á v e l por identificar os mecanismos específicos de defesa que o ego
utiliza para reduzir a tensão. Esses mecanismos s ã o os seguintes:

30 TUDO O QUE V O C Ê PRECISA SABER SOBRE PSICOLOGIA


• N e g a ç ã o : recusa em admitir ou reconhecer que algo e s t á ocorrendo
ou ocorreu.
• Deslocamento: transferência dos sentimentos e das f r u s t r a ç õ e s para
algo ou a l g u é m que é menos a m e a ç a d o r .
• I n t e l e c t u a l i z a ç ã o : pensar em algo de uma perspectiva fria e objetiva
de modo que evite colocar o foco na parte estressante e emocional da
situação.
• P r o j e ç ã o : pegar os próprios sentimentos desconfortáveis e atribuí-los
a outra pessoa, de maneira que p a r e ç a que é ela quem e s t á se sentindo
assim, em seu lugar.
• R a c i o n a l i z a ç ã o : ao evitar o motivo real para u m sentimento ou com-
portamento, uma pessoa cria justificativas p o s s í v e i s , p o r é m falsas.
• F o r m a ç ã o reativa: comportar-se de maneira oposta para esconder
seus verdadeiros sentimentos.
• R e g r e s s ã o : regredir para u m comportamento infantil. A n n a Freud
afirmava que uma pessoa assumiria determinados comportamentos
com base na fase de desenvolvimento psicossexual em que estivesse
fixada. Por exemplo, uma pessoa presa na fase oral poderia come-
ç a r a comer ou fumar excessivamente, ou tornar-se mais agressiva
verbalmente.
• R e p r e s s ã o : passar os pensamentos que nos deixam desconfortáveis
para o nosso subconsciente.
• S u b l i m a ç ã o : converter comportamentos inaceitáveis para uma forma
mais aceitável. Por exemplo, uma pessoa com raiva pratica o boxe como
uma forma de desabafar. Freud acreditava que a s u b l i m a ç ã o era u m
sinal de maturidade.

PSICANÁLISE INFANTIL
Para criar uma terapia bem-sucedida para c r i a n ç a s , A n n a Freud origi-
nalmente planejou utilizar a obra de seu pai como u m guia, de modo
que pudesse fazer u m cronograma e mapear uma taxa n o r m a l de cresci-
mento e desenvolvimento para crianças. Dessa forma, se determinados
desenvolvimentos, como a higiene, por exemplo, estivessem em atraso

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ou faltando, u m terapeuta identificaria a causa em u m trauma específico
e poderia então usar a terapia para lidar com o problema.
No entanto, A n n a rapidamente percebeu que havia diferenças impor-
tantes entre as c r i a n ç a s e os pacientes adultos que seu pai havia tratado,
e suas t é c n i c a s t i v e r a m de mudar continuamente. Enquanto os pacien-
tes de Sigmund Freud eram adultos autoconfiantes, A n n a Freud lidava
com c r i a n ç a s para quem a principal parte da vida envolvia a p r e s e n ç a
dos pais. Freud percebeu a i m p o r t â n c i a dos pais logo no início; assim,
u m aspecto essencial da terapia infantil incluía os pais assumirem u m
papel ativo no processo da terapia. Por exemplo, os pais s ã o geralmente
informados sobre o que exatamente acontece durante a terapia para que
consigam aplicar as t é c n i c a s da terapia na vida cotidiana.
A n n a Freud t a m b é m percebeu como a brincadeira i n f a n t i l poderia
ser l i t i l na terapia. As c r i a n ç a s poderiam usar o jogo como u m meio para
adaptar a realidade ou enfrentar os problemas, e poderiam falar livre-
mente durante a terapia. Embora a brincadeira pudesse ajudar u m tera-
peuta a identificar u m trauma infantil e tratá-lo, ela não revelava muito
da mente inconsciente porque, ao contrário dos adultos, as c r i a n ç a s n ã o
aprenderam a encobrir e reprimir acontecimentos e e m o ç õ e s . Quando
uma c r i a n ç a diz algo, ela quer dizer exatamente aquilo!
Embora possa ter iniciado sua carreira sob a sombra do pai, A n n a
Freud provou que ela t a m b é m era u m recurso extremamente valioso para
o campo da psicologia. Suas contribuições para o trabalho do pai sobre
mecanismos de defesa e, acima de tudo, a criação da p s i c a n á l i s e infantil,
ainda s ã o extremamente importantes e influentes, e grande parte do que
entendemos sobre psicologia infantil v e m de seu trabalho.

32 TUDO O QUE V O C Ê PRECISA SABER SOBRE PSICOLOGIA

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