Marcos Do Desenvolvimento
Marcos Do Desenvolvimento
Marcos Do Desenvolvimento
Apesar de muitas vezes utilizarmos essas palavras como sinônimos, existem diferenças
conceituais entre a ideia de crescimento e desenvolvimento infantil.
Crescimento
Tem a ver com o aumento físico do corpo, seja ele como um todo ou em suas partes. O
crescimento, diferentemente do desenvolvimento, podemos medir em termos de centímetros ou
gramas. O bebê que, ao nascer, apresentava 47 centímetros de comprimento, ao final do
segundo ano de vida, poderá ter crescido quase o dobro deste tamanho!
Desenvolvimento
Por definição, desenvolvimento é o aumento progressivo da capacidade do indivíduo na
realização de funções cada vez mais complexas. Mudanças biológicas, psicológicas e
emocionais vão acontecendo desde o nascimento, aumentando cada vez mais a autonomia da
criança. Podemos dizer que o desenvolvimento é um processo contínuo, com uma sequência
previsível, mas que tem um curso único para cada criança. Ou seja, sabemos que todas as
crianças passam por etapas muito parecidas, porém a forma como essas etapas vão acontecer
depende da criança e do contexto.
ATENÇÃO!
Fique atento a qualquer regressão no desenvolvimento, o que chamam de
"involução". Caso seja observado que a criança perdeu alguma habilidade já
adquirida, discuta com seu supervisor a possibilidade de encaminhá-la para
um serviço de saúde ou da assistência social. Neste caso, o supervisor irá
encaminhar o caso ao CRAS para que este serviço faça os encaminhamentos
necessários na rede de saúde.
Imitar gestos que os adultos fazem para ela, como piscar os olhos ou puxar
Imitação
a orelha.
Conseguir reunir dois objetos que geralmente são usados juntos, como
Juntar objetos
colocar a tampa em uma panela.
Virar um objeto do lado certo para usá-lo, como uma colher que está ao
Virar objetos
contrário.
Fazer de conta que um objeto é outra coisa, como fingir que um controle
Faz de conta
remoto é um celular.
Dimensão Conceitualização.
● Faz grunhidos.
● Presença de sorriso reflexo ou social. Isso quer dizer que o
sorriso do bebê é um ato involuntário, não se caracteriza como
uma resposta a um estímulo específico, o bebê ainda não sorri
por achar graça de algo, por exemplo.
● É sensível ao tato em todas as partes do corpo, que é
utilizado para acalmar, alertar e despertar.
Os principais marcos relativos ao período dos 3 aos 6 meses são apresentados na tabela
a seguir. Você perceberá que os bebês ampliam as capacidades que já apresentavam no tópico
anterior e adquirem novas habilidades nas dimensões cognitiva, da linguagem, socioafetiva e
da motricidade!
Nesse período, o som da voz e a imagem de seus cuidadores próximos são importantes
para o bebê se tranquilizar. Ele interage olhando, movendo-se e fazendo barulhos. Em suas
visitas, valorize o comportamento do bebê e mostre aos pais e/ou cuidadores que eles podem
estimular o bebê mostrando objetos coloridos ou que façam barulho, colocando-os pertinho
para que ele os pegue. Também é importante que diga para conversarem com a criança em tom
de voz agradável, desde o seu primeiro momento de vida, preferencialmente olhando para ele
com atenção.
Em torno dos 4 meses o bebê começará a balbuciar, ou seja, emitirá sons como se
quisesse conversar. Ele também passa a expressar alguns sentimentos, reconhece as pessoas
que convivem com ele e sorri intencionalmente para elas. Por isso, é muito importante você
estimular os cuidadores a investir nessa interação por meio de brincadeiras.
Nesse momento, os bebês apreciam as brincadeiras de esconde-esconde. Por exemplo,
você pode incentivar os pais e cuidadores a brincarem da seguinte forma: deixar cair um objeto
perto do bebê e perguntar a ele onde está o brinquedo. Em seguida, colocar o brinquedo ao
alcance de suas mãos e quando ele for agarrá-lo, cobrir com uma fralda ou pano, deixando uma
parte de fora. Depois, dizer ao bebê para procurar pelo brinquedo. Caso ele não retire a fralda
de cima, deve-se retirá-la. É possível repetir a brincadeira várias vezes. A repetição é importante
nesse momento para que o bebê aprenda e assimile a informação. Outras sugestões de atividades
para realização junto aos cuidadores podem ser consultadas no Guia para Visita Domiciliar do
Programa Criança Feliz.
O sono do bebê
O sono é essencial para o adequado crescimento e desenvolvimento psicomotor da
criança. Por isso, costuma ser uma preocupação frequente dos pais, visto que pode ser uma
parte bastante desafiadora do desenvolvimento. Até os dois ou três meses, o ritmo circadiano
(período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico, dependendo
principalmente da variação da luz) se estabelece. A criança passa a apresentar diminuição do
sono diurno e consolidação das horas de sono à noite. Esse período também é marcado pela
influência das condições biológicas de estabelecimento do ritmo circadiano. As crianças
tornam-se mais sensíveis ao ambiente, respondendo ao claro e ao escuro para organizar seu
ritmo de vigília e de sono.
O choro do bebê
Desde o nascimento, o recém-nascido se expressa por meio do choro para informar suas
necessidades, ou seja, o choro ocorre para sinalizar aos pais que algo não está bem com a
criança. Enquanto manifestação vocal, o choro se apresenta como um dos estados que fazem
parte do leque de comportamentos responsivos da criança pequena.
Por meio do choro, o bebê pode expressar o seu descontentamento. Por isso, os bebês
podem chorar para demonstrar fome, sono, dor, entre outros desconfortos. É importante
sensibilizar o cuidador quanto à resposta adequada aos choros do bebê. Nessa fase ainda não
ocorrem choros de “manha”, então é importante orientar aos pais ou cuidadores que amparem
e confortem o bebê sempre que ele chorar. Isso influenciará na sua comunicação ao longo da
infância!
Importante:
● Entre os 3 e os 6 meses, a criança ainda não usa o choro para fazer “birra”. Informe os
cuidadores de que, nessa faixa etária, deixar a criança chorando sem atender suas necessidades
NÃO é benéfico ao seu desenvolvimento.
● Quando o choro do bebê não é respondido adequadamente, ele pode desenvolver uma série
de problemas emocionais e psicológicos ao longo da vida.
● Os pais e cuidadores devem sempre atender ao choro da criança, respondendo
adequadamente às necessidades do bebê no momento do choro (fome, cólica, dor, incômodos
no geral).
Na fase dos 6 aos 9 meses, o bebê começa a explorar mais o mundo a sua volta e utiliza
as mãos e a boca para isso. O bebê está mais hábil e, em geral, consegue manipular objetos,
rolar, se arrastar ou engatinhar, sentar sem suporte e até ficar em pé se apoiando em móveis.
Ele também está mais responsivo, atendendo quando chamado pelo nome, assim como
reconhece as pessoas próximas. Os sentimentos também se expressam neste momento em
situações em que a criança experimenta prazer e desconforto. Além disso, o bebê começa a
imitar alguns sons, podendo expressar suas primeiras palavras. É um momento no qual muitas
mudanças são perceptíveis. Veja a seguir algumas das principais características que o bebê
apresenta em cada uma das dimensões.
→ Saiba mais
Como pais ou cuidadores podem estimular o desenvolvimento da linguagem?
Na fase do balbucio, os adultos podem repetir sílabas, estimulando o bebê, que percebe isso
como uma brincadeira e repete os sons. Além disso, os cuidadores podem ajudar o bebê a
compreender palavras ao apontarem um objeto e nomeá-lo. Isso porque os bebês aprendem
ouvindo o que adultos dizem, portanto é importante estar sensível a esse momento. Quando os
bebês começam a falar, os cuidadores podem repetir palavras (falando como costumam falar
com outros adultos) e ensinar novas palavras para a criança. Os cuidadores também precisam
atentar ao conteúdo do que falam, pois ainda que não compreendam o significado, os bebês já
começam a repetir os sons de algumas palavras. Por isso, é importante evitar xingamentos ou o
uso de termos pejorativos na frente do bebê.
ATENÇÃO!
Caso você identifique ou o cuidador relate algum dos comportamentos
ausentes citados acima que possa receber algum tipo de intervenção, discuta
com seu supervisor a possibilidade de encaminhar a situação para um
serviço de saúde ou assistência social ou outro órgão competente.
Aos nove meses o bebê costuma apresentar alguns progressos em relação ao período
anterior. Por exemplo, ele consegue acompanhar objetos em movimento e apontar para o que
quer. Já imita alguns gestos e, também, começa a expressar maior medo em relação a estranhos,
bem como costuma querer ficar mais próximo de sua mãe, pai ou cuidador. Em relação à
linguagem, o bebê imita alguns sons e, ao completar o primeiro ano de vida, a criança já explora
os objetos de muitas formas e os encontra com facilidade. Ela também responde a perguntas
simples e atende a orientações, como chutar uma bola ou pegar um brinquedo. A seguir, você
encontra os principais marcos relativos ao período dos 9 aos 12 meses do bebê.
● Olha para a trajetória de objetos caindo.
● Explora objetos de diferentes formas: balançando, batendo,
jogando.
● Acha objetos escondidos facilmente.
● Olha para objetos quando nomeados.
● Tira e coloca objetos em recipientes.
● Segue instruções simples, como, por exemplo: “pegue o
brinquedo do chão”, “venha aqui”.
● Usa o dedo para apontar coisas.
ATENÇÃO!
Caso você identifique ou o cuidador relate algum dos comportamentos
ausentes citados acima que possa receber algum tipo de intervenção, discuta
com seu supervisor a possibilidade de encaminhar a situação para um serviço
de saúde ou assistência social ou outro órgão competente.
Sabemos que as crianças crescem mais rápido nos três primeiros anos do que em
qualquer outro período da vida. Por isso, vamos iniciar pelas principais mudanças do ponto de
vista físico que ocorrem nessa faixa etária. A altura e o peso de um bebê tendem a ter um
aumento expressivo no primeiro ano de vida e, a partir do segundo ano, essa taxa tende a
diminuir gradualmente. Estima-se que, dos 12 aos 24 meses, a criança tenda a ganhar cerca de
2,5 kg a 3 kg ao longo do período de um ano, o que representa em torno de 30%, enquanto,
durante o primeiro ano, seu peso pode ser triplicado, ou seja, aumentado em 300%!
Nesse período, já é esperado que alimentos sólidos tenham sido, aos poucos,
introduzidos. Embora o leite materno siga sendo importante no segundo ano de vida, o alimento
terá um papel de contribuir para atender às demandas de nutrientes e energias que a criança
precisa para essa etapa.
O desenvolvimento da dentição ajudará nesse processo. Até completar 24 meses, as
habilidades motoras da criança estarão mais maduras e ela terá mais autonomia no momento da
alimentação. Em compasso com as novas habilidades adquiridas (caminhar com mais
segurança e segurar e manipular objetos, por exemplo), a prontidão para explorar o ambiente
pode tornar a criança menos interessada no momento da alimentação, algo que preocupa os pais
e cuidadores.
O que é realmente importante é que a alimentação deve ser feita em conjunto com outras
pessoas e de preferência sem elementos de distração, como televisão. Nessa fase, não é
necessário se preocupar tanto com a qualidade e quantidade de comida que a criança deve
ingerir, quanto com o ambiente no momento da alimentação. Um ambiente agitado, com brigas,
pode gerar efeitos muito negativos sobre o padrão alimentar da criança. Cuidadores devem
atentar-se à qualidade do alimento – doces e industrializados podem estabelecer as bases da
obesidade no futuro.
Nessa época, pode ser que ela se torne mais seletiva em relação aos alimentos que aceita.
Pode inclusive recusar tipos de comida que gostava anteriormente, exigindo dos adultos maior
criatividade na forma de preparo e paciência para novas tentativas de oferta. Também é normal,
nessa idade, que as crianças comecem a brincar com a comida quando têm um prato cheio
diante de si. Isso não é algo ruim! Apesar de a maioria das crianças ser repreendida por brincar
com a comida, considera-se que esse pode ser o melhor caminho para que desenvolvam hábitos
alimentares saudáveis desde cedo.
Oriente os cuidadores a deixarem as crianças brincarem. Brincar com a comida
estimula os sentidos, deixa os alimentos mais divertidos e promove o desenvolvimento
cognitivo. Além disso, a criança se sente mais propensa a comê-los.
A partir dos 12 meses também já observamos mudanças no padrão de sono da criança.
Nessa fase, a maior parte das horas de repouso são ao longo do período noturno, deixando as
sonecas durante o dia menos frequentes. Próximo aos 24 meses, a criança já está bem mais ativa
ao longo do dia e as sonequinhas são muito menos necessárias.
Linguagem expressiva
● Balança a cabeça para responder "não" a questões simples.
● Pede "mais" ou "outro" (por exemplo: "mais água" ou "outro pão").
● Fala uma frase com duas palavras.
● Repete palavras que os outros dizem.
● Usa palavras acompanhadas de gestos indicativos do que está falando.
● Diz o nome de pelo menos cinco partes do corpo quando pedido.
Linguagem receptiva
● Entende o significado de “abrir” e “fechar”.
● Responde a perguntas como “como o cachorro faz?”, “como o gato faz”?
● Sabe o que significa “ligar” e “desligar”.
● Entende palavras que descrevem ações (por exemplo: trabalhando, dormindo, comendo).
● Demonstra compreender histórias de livros com figuras lidos para ela.
● Entende o significado de “para cima” e “para baixo”.
● Compreende frases no tempo passado (por exemplo: “o desenho da TV terminou”).
ATENÇÃO!
Se após os 18 meses a criança não falar nenhuma palavra, ou se aos 24 meses
falar pouquíssimas palavras, isso pode sugerir a necessidade de maior
estimulação por parte dos cuidadores ou pode ser um dos sinais da
ocorrência de algum transtorno do desenvolvimento. Caso você identifique
ou o cuidador relate algum desses problemas ou regressões citados acima
que possa receber algum tipo de intervenção, discuta com seu supervisor a
possibilidade de encaminhar a situação para um serviço de saúde ou
assistência social ou outro órgão competente.
Nessa faixa etária, os vínculos das crianças começam a se ampliar, agora não mais se
relacionando apenas com os pais/cuidadores, mas aprendendo a conviver com outras crianças.
Aos poucos, os bebês vão aprendendo a se relacionar com seus pares, já
apresentam amigos preferidos e gostam de dar brinquedos para outras crianças quando
estão brincando.
Há uma série de habilidades emocionais e comportamentais que se desenvolvem nos
dois primeiros anos de vida e ajudam a promover relações positivas entre pares. Entre elas, lidar
com a divisão da atenção, regular emoções, controlar impulsos, imitar as ações de outra criança
e desenvolver habilidades de linguagem. Fatores externos – como as relações das crianças com
os membros da família e sua bagagem cultural ou socioeconômica – e fatores individuais –
como incapacidades físicas, intelectuais ou comportamentais – também podem influenciar as
experiências das crianças com seus pares.
Crianças que convivem com outras da mesma idade, como as que frequentam
creche, conseguem desenvolver melhor essas habilidades sociais. É importante estimular
o convívio saudável, com brincadeiras cooperativas e com orientação sobre habilidades
de comunicação, como, por exemplo, conversando enquanto se brinca, descrevendo o que
se faz.
Veja a seguir alguns dos comportamentos esperados para crianças de 12 a 24 meses,
que são indicadores do desenvolvimento socioafetivo, conforme o IDADI:
● Abre os braços para abraçar o cuidador.
● Imita palavras e gestos enquanto brinca com o cuidador.
● Fala algumas palavras ou mostra objetos para indicar o que gosta ou não gosta.
● Imita ações de adultos (por exemplo: faz de conta que está varrendo ou dirigindo).
● Pede ajuda aos outros quando necessário.
● Faz perguntas buscando comunicar o que quer fazer.
ATENÇÃO!
Observe, principalmente, se até os 18 meses a criança não brinca ou, até os
24 meses, se não imita outras crianças ou adultos. Isso pode informar sobre
a necessidade de orientação aos cuidadores sobre como estimular, mas
também pode ser um sinal de alerta para algum transtorno do
desenvolvimento. Caso você identifique ou o cuidador relate algum desses
problemas citados acima que possa receber algum tipo de intervenção,
discuta com seu supervisor a possibilidade de encaminhar a situação para
um serviço de saúde ou assistência social ou outro órgão competente.
Com um ano completo, muitas crianças já estão caminhando – ou vão caminhar nos
próximos meses – e, até completarem o segundo ano, já terão adquirido mais confiança e
treinarão movimentos mais arriscados.
A criança de 12 a 24 meses já está muito desenvolvida em termos motores!
O bebê entre 1 e 2 anos vai adquirindo capacidade de caminhar e até correr, construir
torre de cubos e chutar uma bola. Com o passar dos meses, esse bebê procura cada vez mais
autonomia e pode querer tentar tirar a própria roupa ou abrir portas. Para estimulá-lo, os pais
podem brincar de bola ou solicitar que lhe alcance objetos.
A seguir estão listados os comportamentos esperados para crianças de 12 a 24 meses,
considerando o desenvolvimento motor de crianças brasileiras. Veja que eles estão em ordem
de aquisição, já que em um ano a criança aprende muitas coisas novas! Observe que há uma
divisão entre habilidades motoras amplas e finas.
Motor amplo
● Tenta chutar uma bola.
● Caminha sem ajuda.
● Desce escadas colocando os dois pés em cada degrau, com apoio.
● Usa uma cadeira, banco ou caixa para pegar objetos que estão longe do alcance.
● Anda para trás (pelo menos dois passos).
Motor fino
● Consegue pegar um barbante ou linha usando o polegar e um outro dedo.
● Coloca lado a lado blocos ou objetos sobre uma superfície (Por exemplo: mesa, chão).
● Abre a porta usando a maçaneta.
ATENÇÃO!
Caso o bebê dessa faixa etária ainda não tenha aprendido a caminhar nem se
manter de pé sem apoio, precisamos ficar alertas para um atraso no
desenvolvimento motor. É importante ficar especialmente atento a casos em
que o bebê apresenta regressão no desenvolvimento, ou seja, perdeu
algumas habilidades que já tinha apresentado. Caso você identifique ou o
cuidador relate algum desses problemas citados acima que possa receber
algum tipo de intervenção, discuta com seu supervisor a possibilidade de
encaminhar a situação para um serviço de saúde ou assistência social ou
outro órgão competente.
Quando chegam aos dois anos, as crianças já têm a capacidade de caminhar, construir
torre de cubos e falar. Nessa idade, elas são bastante ativas e aperfeiçoam suas habilidades
motoras de carregar objetos, equilibrar-se, correr, pular e caminhar na ponta dos pés. As
crianças com dois anos precisam brincar. Essa deve ser a principal orientação aos seus pais e
cuidadores: deixá-las brincar e acompanhá-las na brincadeira sempre que possível! Os
cuidadores devem supervisionar a criança para que garantam a segurança dela, mas não devem
mandar ou interferir. A criança deve ser capaz de explorar o ambiente e as brincadeiras de
maneira curiosa, mas com segurança. Veja a seguir alguns dos principais marcos do
desenvolvimento aos dois anos de idade.
É importante orientar os pais a possibilitarem que seus filhos brinquem com outras
crianças para que aprendam a se relacionar e a compartilhar seus brinquedos! Elas estão
aprendendo a conviver, mas ainda podem manifestar sentimentos de posse como o famoso “é
meu!”. As brincadeiras podem envolver pintura em papel e movimento do corpo, como correr,
pular, jogar bola. Além disso, elas começam a apreciar as brincadeiras de faz de conta, então
você pode orientar os cuidadores a “dar vida” aos acontecimentos da história que contam,
podendo utilizar objetos para tanto, como, por exemplo, uma fralda que vira um pássaro voando
no céu. Estimule-os a darem “asas a sua imaginação”!
Consulte o Guia para Visita Domiciliar e o guia Jogos e brincadeiras das culturas
populares na Primeira Infância do Programa Criança Feliz para obter mais informações sobre
atividades para realização junto aos cuidadores.
ATENÇÃO!
Caso seja identificado, através de relato do cuidador ou observação sua, que
o bebê dessa faixa etária apresenta algum dos sinais de alerta anteriores ou
apresente regressão no desenvolvimento (perda de algumas habilidades que
já tinha apresentado), discuta com seu supervisor a possibilidade de
encaminhar a situação para um serviço de saúde ou assistência social ou
outro órgão competente.
Autonomia
É também nesse período do desenvolvimento que as crianças começam a desenvolver
gradualmente sua autonomia. Elas podem recusar que lhe vistam, que lhe deem comida,
querendo fazer tais atividades sozinhas. Veja a seguir os principais marcos do desenvolvimento
da autonomia dos 18 aos 24 meses:
18 meses em diante:
● Dá resposta emocional (chora, expressa raiva ou frustração) às más ações e
comportamentos.
● Demonstra que se aborrece com a desaprovação dos pais e para de fazer o que não deve,
ainda que momentaneamente ou só em frente aos pais.
19 aos 30 meses:
● A criança faz autodescrição, ou seja, descreve comportamentos e características sobre si
mesma. Ela também faz autoavaliação, isto é, avalia seu próprio comportamento ou a si mesma.
● Define a si mesma em termos descritivos (grande) e qualitativos (bom, mau).
20 aos 24 meses:
● Começa a usar pronomes pessoais, como eu, meu, seu.
Esse período pode ser identificado como os “terríveis dois anos” ou “adolescência do
bebê”. A seguir vamos entender melhor por que isso acontece!
Os “terríveis dois anos”
Entre os dois e os três anos, a criança desenvolve autonomia e passa a se expressar com
bastante confiança em relação ao que quer. Muitas vezes, ela responde com “não” ao que lhe
solicitam, apenas para se opor à autoridade (o que tende a diminuir até os 4 anos). Por isso, esse
momento também pode ser conhecido como a “fase do não”, comportamento que também é
conhecido como birra.
Birras
A birra surge como um comportamento de oposição à regra. Nesses casos, melhorar o
clima emocional entre cuidadores e filhos pode facilitar tanto a criança a respeitar a regra quanto
o pai a retomar a regra. Nessa idade, os pais precisam exercitar a tolerância à birra, mantendo-
se atentos aos objetivos que têm para a educação de seus filhos e filhas.
Mas o que é a birra? Birra é considerado o conjunto de comportamentos da criança
diante de uma situação frustrante ou de uma negativa. Ela também pode surgir em resposta a
situações como fome, cansaço, sono, falta de vontade para realizar determinadas tarefas,
alimentar-se e tomar banho. Em geral, a birra pode ser caracterizada por choro, gritos, jogar-se
no chão, dentre outras reações.
Dar autonomia às crianças não pode ser o mesmo que aceitar a indisciplina! É
importante que os cuidadores expliquem com firmeza, mas com carinho, o que é e o que
não é permitido fazer. Além disso, conversar e auxiliar a criança a verbalizar o que ela
está sentido, assim como lhe oferecer mais opções de como agir em situações em que ela
diz um “não” pode ser interessante – mas claro, sempre com um limite.
Aprenda com um exemplo: o pai ou mãe vai auxiliar a criança a colocar o calçado e ela
diz: “Não, quero colocar este [o esquerdo] primeiro”. O adulto então vai colocar o esquerdo e
ela diz: “Não, agora quero colocar este [o direito] primeiro”. Aqui deve entrar o limite. É
importante nesse caso não ignorar o “não” da criança. Deve-se tentar um remanejo, ou seja,
atender o seu pedido, mas também impor um limite, como, por exemplo, explicar que estão
atrasados para determinado compromisso ou explicar que precisa colocar um dos sapatos. Isso
mostra que ela tem certa autonomia.
Desfralde
Não há um consenso sobre a melhor idade para se realizar o desfralde. De modo geral,
sugere-se observar o amadurecimento físico e mental da criança para começar esse processo.
Contudo, sabe-se que a partir dos dois anos as crianças já desenvolveram algum controle dos
esfíncteres e conseguem responder a comandos simples dos pais.
Portanto, muitas vezes é nesse momento em que muitas começam a deixar as fraldas.
Na tabela a seguir você encontra algumas informações e maneiras de orientar os pais e
cuidadores sobre como acompanhar seus filhos e filhas durante essa etapa do seu
desenvolvimento.
Ao longo dos três anos, a criança já apresenta uma série de habilidades cognitivas mais
complexas, como montar quebra-cabeças e torres com um número maior de peças e copiar
formas geométricas mais complexas. Ela também consegue entender instruções simples e
nomear objetos familiares. Além disso, começa a compreender seus estados mentais, assim
como o de outros, o que é conhecido como teoria da mente, que será explicada a seguir. Antes,
veja abaixo os principais indicadores de desenvolvimento típico nesta faixa etária:
Teoria da Mente
A Teoria da Mente se refere ao fato de a criança começar a ser capaz de compreender
os estados mentais (como intenções, desejos, conhecimentos, crenças), não somente os seus,
mas os das outras pessoas.
● Capacidade de dar sentido às ações de outras pessoas.
● Começa a compreender o que outra pessoa está pensando e sentindo.
● Adquire consciência do seu próprio estado mental (intenções, desejos, conhecimentos,
crenças).
● Começa a ter conhecimento sobre o pensamento.
● O conhecimento dos estados mentais é desenvolvido entre os 2 e 5 anos.
Compreendendo as emoções
O desenvolvimento de emoções dirigidas a si mesmo depende da socialização e do
desenvolvimento cognitivo. Em função disso, orienta-se que a educação emocional da criança
deve iniciar desde cedo, respeitando os limites da compreensão de cada idade.
Dos 2 aos 3 anos, a criança já reconhece as emoções dos outros e pode ser estimulada a
identificá-las com auxílio dos pais e demais cuidadores. Oriente-os a ajudar a criança a
reconhecer nomear as emoções que ela está sentindo: alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa,
nojo. Além disso, também é importante o estímulo à regulação emocional, ou seja, auxiliar a
criança a saber o que fazer quando sente determinada emoção. Por exemplo, quando sente raiva,
ao invés de bater em alguém ou quebrar um brinquedo, os pais podem auxiliar a criança a
verbalizar o que está sentindo e a entender por que está com raiva. Isso possibilitará que ela
consiga regular a emoção e lidar com ela de forma que não traga prejuízo a si ou a outros.
Amizades
Como vimos, em torno dos 3 anos as crianças passam a interagir mais intensamente com
outras crianças da sua idade e começam a fazer amizades. Isso traz alguns benefícios para o seu
desenvolvimento. Veja a seguir como ter amizades influencia no desenvolvimento infantil:
● Por meio da amizade, elas aprendem a se relacionar com os outros, resolver problemas,
colocar-se no lugar dos outros. Também aprendem valores sociais e normas sobre papeis de
gênero, além de praticarem papeis de adultos.
● Ter amigos é importante para o desenvolvimento socioafetivo e cognitivo das crianças.
● As crianças escolhem seus amigos por gostarem de fazer os mesmos tipos de atividades.
● Os amigos são, geralmente, do mesmo sexo e idade e possuem níveis de energia semelhantes.
É importante que nas visitas você dê orientações aos cuidadores para que estimulem
seus filhos e filhas a construir vínculos de amizade. Como visto, oportunizar espaços para que
possam interagir e brincar com outras crianças é um ótimo incentivo para o desenvolvimento
infantil!
Desenvolvimento da autorregulação
A autorregulação é a habilidade de monitorar e orientar as emoções, os pensamentos e
os comportamentos, com a finalidade de atingir um objetivo ou adaptar-se a demandas e
situações específicas. Ela também implica na capacidade de a criança utilizar recursos do
ambiente – como um bico, um paninho, um brinquedo – para regular ações, pensamentos e a
maneira como expressa emoções.
Além disso, a autorregulação permite à criança adaptar-se e responder adequadamente
às demandas que vão surgindo ao longo do desenvolvimento, como fazer novos amigos,
manter-se concentrado em uma tarefa na escola ou lidar com frustrações. A autorregulação
exige flexibilidade, ou seja, conseguir tolerar mudanças, assim como a capacidade de esperar
pela gratificação.
Seu pleno desenvolvimento ocorre após os 3 anos. Portanto, antes dessa idade, é
necessário que os pais e demais cuidadores compreendam que é difícil para a criança exercer o
controle sobre as próprias ações. Ou seja, o descontrole não significa um comportamento de
desafio de sua autoridade ou das regras. Por exemplo, a criança pode querer subir em janelas
para explorar o que há além delas, mesmo sabendo que seus pais indicam o risco de quedas.
Ela ainda não consegue regular sua vontade, não por afronta aos pais, mas por ficar muito
excitada com o que pode descobrir.
Há evidências de que pais que assumem práticas afetuosas e apoiadoras estimulam o
desenvolvimento da autorregulação infantil. Por isso, é importante orientar as mães, pais e
demais cuidadores da criança a adotarem um estilo parental competente.
Medos
Os medos temporários são comuns nessa faixa etária. Eles tendem a desaparecer à
medida que as crianças ficam mais velhas e perdem seus sentimentos de impotência. Os medos
provêm das fantasias das crianças e da tendência a confundir aparência com realidade. Além
disso, alguns medos podem ter base na experiência própria da criança. Por exemplo, ela pode
ter sido atacada por um cão e por isso tem medo de cachorros.
Atenção!
A partir dos dois anos podem ocorrer os “terrores noturnos”, em que a criança acorda,
em geral chorando e gritando. Também podem ser observados taquicardia, rubor na face,
transpiração, dilatação da pupila e enrijecimento dos músculos. Geralmente, a criança não
acorda durante a crise e seu aparecimento está associado a questões emocionais relacionadas
ao que foi vivido ao longo do dia e que aflora durante o sono.
Nesses casos, é importante orientar as mães, pais e demais cuidadores a não acordar a
criança, pois ela estará confusa e não terá conhecimento do que aconteceu. Também devem
procurar manter a calma e evitar que a criança caia e se debata, já que ela pode se agitar.
Especialistas indicam que o tratamento não costuma ser medicamentoso e que, em geral,
consiste em procurar ajudar a criança a lidar melhor com o que pode estar provocando o terror
noturno. Entretanto, a ajuda de profissionais pode ser recomendada para análise do quadro e
garantia da qualidade do sono infantil.
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