O Livro Do Gênesis. Pe. F

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Gênesis, o primeiro livro da sagrada

escritura

O livro do Gênesis é, de fato, o primeiro livro da bíblia, o primeiro de 73 do


total da Sagrada Escritura, com 46 no Antigo Testamento e 27 livros no Novo. Se
bem é verdade que aquelas comunidades eclesiais que seguem o texto hebraico
têm menos livros, nós, os católicos, seguimos e seguimos o texto grego a
“Septuaginta”, que foi o texto seguido pelos Apóstolos, como se prova pelo Novo
Testamento quando eles citam o Antigo Testamento. Nós temos, portanto, 73
livros.

Uma introdução

Antes de Cristo, os judeus que estavam na diáspora adotaram vários


aspectos da cultura grega, especialmente em Alexandria. Eles conheciam,
portanto, a versão grega. Uns 200 anos antes de Cristo, alguns sábios do
judaísmo traduziram os sagrados escritos de Israel para o grego e, segundo essa
versão, já havia os 46 livros para o que posteriormente nós chamaremos de
Antigo Testamento. Na Palestina, de língua aramaica, se conservaram menos
livros, essa é a diferença. Desta forma, os textos bíblicos em hebraico na região
da Palestina eram menos.

Martinho Lutero, quando criou o protestantismo, voltou para o texto


hebraico. Nós, os cristãos católicos, continuamos com a tradição apostólica, ou
seja, com os 46 livros no Antigo Testamento. Era lógico que os apóstolos,
utilizassem o texto grego, já que o império romano, na parte oriental, falava
grego, a língua comum do império romano era a chamada “koiné”, ou seja, o
grego comum falado pelo povo. Como eles queriam dar a conhecer a mensagem
da salvação a todos, parecia-lhes bem de acordo com o propósito evangelizar a
utilização da língua que os povos conhecidos falavam, pelo menos em sua grande
maioria; adotaram o texto grego com seus 46 livros. Mais ainda, os judeus não
fecharam o “cânon” com o número de livros inspirados nos primeiros anos do
cristianismo, mas passados muitos anos e, possivelmente, em conflito com o
cristianismo.

Quanto ao livro do Gênesis, é o primeiro de todos. Trata-se de um livro com


50 capítulos, cuja divisão divisão básica é esta: as origens (Gn 1-11), que têm
uma narrativa própria, a qual, sendo histórica, não deixa de utilizar uma

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roupagem mitológica na sua linguagem; os inícios do povo de Deus (Gn 12-50), a
começar com a história Abraão, o primeiro dos grandes patriarcas.

O livro de Gênesis passou por vários momentos de composição, de


redação; os estudiosos estão mais de acordo que a redação final do livro, tal qual
nós a conhecemos hoje, seja provavelmente no século V a. C., aquele período que
nós chamamos de “pós exílio”, isto é, quando o povo de Deus já encontrava-se
sob a dominação dos persas.

Vamos situar alguns personagens importantes da história bíblica, antes de


Cristo, para melhorar a nossa compreensão: Abraão é do ano de 1800; Moisés, de
1300; Josué e a entrada na terra prometida, de 1200; o período dos juízes foi de
1100 a 1050; lá pelo ano 1000, houve o reinado de Saul que não durou muito.
Também pelo ano 1000 podemos situar o rei Davi. A nação “Israel” foi unificada
pela primeira vez sob o reinado de Davi. O sucessor do rei Davi foi Salomão, seu
filho sábio que construiu o famoso templo de Jerusalém, o primeiro templo. Após
a morte de Salomão foi um pequeno desastre. As coisas foram acontecendo de
mal a pior a tal ponto que o povo de Israel foi dividido em dois: o reino do Norte,
cuja capital era Samaria; o reino do Sul, cuja capital era Jerusalém. O Norte,
porém, sucumbe no século VIII, com a invasão dos assírios. O Sul caiu nas mãos
da Babilônia no século VI. Os Babilônios dominaram toda aquela região da
Palestina (Israel), grande parte dos israelitas foram para o exílio, na Babilônia.
Posteriormente, quando os Persas dominaram os babilônios, Israel ficou livre para
reconstruir o Templo de Deus e a cidade de Jerusalém.

O livro do Gênesis foi escrito durante o período da dominação dos persas,


mais ou menos no século V. Gênesis é, portanto, um livro no qual percebemos
diversos gêneros literários.

O que é um gênero literário? É uma maneira de dizer uma determinada


realidade. Posso dizer que eu amo a Deus: 1) como se fosse uma poesia; 2) numa
espécie de narrativa, contando a minha própria história trabalhada pela a ação de
Deus; 3) através de historinhas. Além de outras maneiras que eu utilizo para dizer
a mesma coisa: eu amo a Deus. As diversas roupagens linguísticas para contar
uma determinada coisa chamamo-las de “gênero literário”. As Sagradas Escrituras,
também o Gênesis, estão cheios dessas roupagens linguísticas.

Os gêneros literários que estão presentes nos primeiros onze capítulos do


Gênesis são de estilo simbólico. Já que não havia ser humano algum no começo
da criação, quando nada havia, quem poderia contar de “maneira fotográfica” o
que aconteceu? Na verdade, Deus inspirou os autores sagrados do livro do
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Gênesis que ele existe, que é criador, que criou todas as coisas. Afirmadas essas
verdades, é como se Deus dissesse aos escritores sagrados (hagiógrafos): “agora
vocês já sabem que eu existo, que eu sou o criador de todas as coisas, que no
começo eu também criei o ser humano, que o ser humano me desobedeceu, que
eu pensei um plano para salvar o ser humano; agora, queridos escritores
sagrados, se virem pra contar às pessoas todas as essas verdades”.

Os escritores sagrados têm na mente a luz da revelação, que lhes mostra


quais são as grandes verdades, também as históricas, para a nossa salvação.
Quanto à maneira de contá-las, os autores utilizaram uma estrutura mais
simbólica, imaginativa, sem negar a história.

Na verdade, nós utilizamos com muita frequência os gêneros literários,


porque, quando comunicamos uma mensagem, temos que estar atentos para o
imaginário daquele povo. Para entender bem o livro de Gênesis, nós teríamos que
cavar em torno do imaginário dos povos antigos: como eles eram? Como
entendiam as coisas? Difícil seria procurar entender as obras tão antigas como o
livro do Gênesis com as nossas categorias modernas, as do presente século. Isso
é muito importante para não confundir ciência e fé, cada qual com seu próprio
esquema de conhecimento, não contraditórios entre si, porém diferentes.

O livro do Gênesis não está em contradição com a ciência moderna quando


essa ciência busca a verdade. Não há contradição, portanto, entre criacionismo e
evolucionismo, entre criação e teoria do Big Bang. Mais ainda, o evolucionismo
tem suas origens em Santo Agostinho e a teoria da explosão de um átomo
primordial (Big Bang) começou com um padre católico, Georges Lemaître.

Gênesis 1,1 - No princípio

“No princípio Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). O que significa no
princípio? O que significa Deus criador? O que quer dizer o que criou o céu e a
terra? Vamos de maneira ordenada, pois, desta feita, a nossa inteligência repousa
na luz e na ordem.

Não podemos pensar “no princípio” da eternidade divina, no sentido de Jn


1,1, senão a criação seria eterna. Contudo, pertence à fé católica que Deus criou
no tempo, que a criação não é eterna, por mais que filosoficamente nós não
tenhamos como provar isso. Santo Tomás de Aquino tem uma obra titulada “Sobre

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a eternidade do mundo”, na qual discute esse assunto: por mais que,
filosoficamente nós não consigamos provar que o mundo não seja eterno, é
objeto de fé que o mundo começou no tempo; por tanto, esse “no princípio” é o
primeiro momento da criação, quando tirou todas as coisas de nada, isto é, nada
existia, de repente algo existe. Trata-se, portanto, de um princípio já temporal,
pois, efetivamente, nós só podemos delimitar um princípio, com relação a nós, a
partir do momento em que exista alguma noção de tempo, de duração, porque se
assim não for não há como determinar quando seria este princípio. Esse princípio
é o primeiro momento temporal da existência dos seres criados, do salto do nada
para o ser. Por isso, afirmamos que o tempo começa a existir com a criação.

O conhecimento de Deus não funciona como o nosso, nós conhecemos


uma coisa, depois outra coisa; conhecemos por raciocínio. O conhecimento de
Deus é imediato, intuitivo, conhece tudo de maneira perfeita em um único ato.
Pois bem, o Eterno cria o temporal. Quando “no princípio, Deus criou o céu e a
terra” (Gn 1,1), por “céu” nós entendemos as criaturas espirituais e por “terra”, as
criaturas materiais. Quanto às criaturas materiais, nada impede pensar que essa
“terra inicial” nada mais é do que um átomo primordial, uma espécie de “embrião
da criação”. Isto é, tudo estaria embrionariamente naquele primeiro átomo de
temperatura densíssima que, num determinado momento se explodiria.

O Big Bang não contradiz a Escritura Santa, mais ainda, para compreender
as verdades de Deus, ajuda muito o fato de estarmos atentos às teorias da
relatividade especial de 1905, da relatividade geral de 1915, ambas de Albert
Einstein; também às de Edwin Hubble, que mostrou que as nebulosas espirais
eram outras galáxias. Finalmente, em 1927, Georges Lemaître, físico e sacerdote
católico, propôs que a ressecção inferida nas galáxias se devia à expansão do
universo a partir de uma grande explosão de um átomo primordial, que depois
ficou popularizada como “Big Bang”. Desta maneira, Lemaître sugeriu que a
expansão evidente do universo se projetava, de alguma maneira, de volta no
tempo. Quanto mais no passado, menor era o universo, até que, em algum tempo
finito, toda a massa do universo estava concentrada em um único ponto: um
átomo primitivo. O cenário científico dará razão ao padre somente com o passar
do tempo e, mais concretamente, quando Penses e Wilson descobriram a radiação
de fundo de micro-ondas, cujas características eram congruentes com os
prognósticos do modelo da grande explosão. A partir de 1981 o modelo da grande
explosão foi completado com a teoria do universo inflacionário, proposta por Alan
Guth, que se refere à enorme expansão, que teria acontecido durante brevíssimos
instantes, imediatamente após a grande explosão, produzindo efeitos muito
importantes em relação à posterior evolução do universo.

Pois bem, de acordo com esse modelo, tanto de acordo com a teoria
relativa de Einstein, como as teorias do padre Georges Lemaitre, o universo teria
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surgido há aproximadamente 14 bilhões de anos atrás, a partir de uma
singularidade. E essa singularidade é a mesma coisa que um átomo extremamente
denso e quente; no primeiro segundo após a explosão desse átomo, o universo
tinha uma temperatura de 10 bilhões de graus celsius. À medida que o universo
foi se expandindo, a temperatura foi diminuindo. Trezentos mil anos depois,
produziu-se a formação dos átomos. Quando a radiação de fótons se separou da
matéria, houve uma livre expansão em todas as direções, desta forma a força
gravitacional provocou a condensação de grandes massas, nas quais houve
reações termonucleares, formando estrelas e galáxias. No interior das galáxias
formam-se os átomos mais pesados. Quando as estrelas explodem, há
disseminação dos átomos mais pesados, que são o material a partir do qual se
formam os planetas.

A nível astrofísico, a ordem é simplesmente impressionante, porque no


universo existem umas cem milhões de galáxias, cada galáxia contém entre um
milhão e um bilhão de estrelas. Essas estrelas estão situadas entre si a milhões de
anos luz, lembrando que um ano luz é a distância que a luz percorre em um ano,
mas tendo em conta que a velocidade da luz, que é de 300.000 Km/s. A nossa
estrela, o Sol, encontra-se em plena atividade desde uns cinco bilhões de anos,
mas ainda tem combustível para nos sustentar durante uns 20 bilhões de anos.

Deus é criador. A doutrina da criação tem uma importância fundamental na


tradição judeo cristã porque reconhece que Deus é Deus, Criador, e nós somos o
que somos, criaturas. Devemos, portanto, adorá-lo. De fato, adoração nada mais é
do que reconhecer Deus como criador. Se algum dia você afirmar que você é
independente de Deus, que não depende de Deus, que você mesmo pode criar,
então você não adora a Deus, você virou um “idolatria” de si mesmo ou de
qualquer coisa.

Somente Deus cria porque só ele é Deus; só ele é capaz de tirar de nada
tudo o que existe. O que nós "inventamos", "criamos", na verdade não são
criações, mas “sub- criações”. Os cientistas de laboratório precisam da matéria
para transformá-la; eles tampouco sabem criar a vida nos laboratórios com suas
técnicas imorais, pois, na verdade, o que eles fazem é unir elementos masculinos
e femininos, de maneira artificial, para ver se produzem vida. Contudo, só Deus
cria e infunde a alma, mesmo no caso daquelas pessoas “feitas” em laboratórios.

Deus não somente criou e deixou tudo aqui à sua sorte. A providência
divina é a doutrina cristã que ensina que a “criação continuada”, ou seja, o fato de
que Deus continue a cuidar daquilo que ele criou. Se realmente, no caso do
mundo material, as coisas começaram a partir de um ato primordial, que, durante
bilhões de anos foi evoluindo, e, num determinado momento explodiu, e, a partir
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dessa explosão começaram a organizarem-se os diversos elementos, há que
reconhecer que em todo esse processo está o cuidado amoroso de Deus. Quem
colocou, de maneira tão inteligente e ordenada, naquele átomo primordial essa
capacidade de auto desenvolvimento ou de explosão em determinado momento?
A resposta é que uma Inteligência Suprema colocou tudo isso no ser. Deus não
simplesmente quis criar, mas ele quis implicar-se de alguma maneira na criação, e,
depois dessa presença, quis ficar mais patente de nós quando enviou o seu filho
para nos salvar.

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