Contencioso Administrativo e Tributário

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CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

E TRIBUTÁRIO
APONTAMENTOS
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Os seguintes apontamentos foram disponibilizados pelas estudantes Carlota


Carvalho, Margarida Morais e Rita Diogo, no âmbito da disciplina de Contencioso
Administrativo e Tributário lecionada pelo Professor Diogo Feio.
Enquanto material auxiliar ao estudo, estes apontamentos não dispensam a consulta
da bibliografia obrigatória, indicada no SIGARRA.

Qualquer dúvida, sugestão ou correção poderá ser submetida em:


[email protected]

Bons estudos!

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

10/02/2022

NOÇÃO DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO:

UMA PRIMEIRA APROXIMAÇÃO

No plano do contencioso administrativo temos vários conceitos que estão


presentes e três deles são especialmente relevantes: justiça, contencioso em sentido estrito
e conceito de processo administrativo.

O que é isto da Justiça Administrativa? Mecanismos e formas de processo para


resolver os litígios que nasçam de relações administrativas legais ou de relações jurídicas
administrativas. Estas relações jurídicas administrativas serão aquelas que são atribuídas
por lei à ordem jurídica administrativa para serem julgadas no âmbito de um processo
específico que é o processo administrativo.

Quando falamos em justiça administrativa temos uma relação com o Direito


Administrativo substancial, mas também temos uma ligação com os sujeitos de Direito
Administrativo. Falamos na Administração (em sentido amplo) quando atua com os
poderes do Estado. A distinção que se fazia entre as relações de direito público em que o
Estado atua com ius imperium, e as relações também do Estado, mas em que este não atua
com ius imperium, é muito relevante. As relações jurídico-administrativas, essenciais
para o efeito do que é a Justiça Administrativa, pressupõem esta diferença de
relacionamento.

Ressalve-se que isto tem uma base de natureza constitucional. O artigo 212º da
CRP determina no seu nº3 as competências dos Tribunais Administrativos e Fiscais em
geral. Então, terão que julgar as ações e recursos contenciosos que tenham por objeto
dirimir os litígios emergentes das relações jurídico-administrativas.

A CRP determina, também, no seu artigo 268º quais são os direitos e garantias dos
administrados. Entre eles, devemos atentar no nº4 – tutela jurisdicional efetiva dos seus
direitos ou interesses legalmente protegidos.

O processo é um conceito mais estrito. Desde logo, temos de distinguir processo


de procedimento. Um procedimento é uma fase administrativa em que estão presentes
apenas duas partes. No processo, além das duas partes, há um terceiro que é envolvido

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

para dirimir um litígio (o Juiz). O processo é, então, a determinação, no plano do direito


adjetivo administrativo, das regras que vão ser presentes em Tribunal quando exista um
conflito jurisdicional

Por outro lado, o conceito de contencioso tem por base um modelo de


administração francês (pós-revolução francesa). Refere-se aos litígios que envolvem a
Administração Pública. São as regras jurídicas que vão organizar os meios para dirimir
os litígios administrativos. Fora desta lógica, ficam as garantias políticas e as garantias
graciosas dos administrados. De fora, acaba por estar a lógica procedimental.

Em Portugal, essencial para este dirimir jurisdicional de relações jurídicas


administrativas, é a existência de Tribunais Administrativos, apesar de ser teoricamente
possível que os litígios que existem envolventes à Administração Pública venham a ser
dirimidos por Tribunais comuns.

Quanto ao plano das normas, aquelas que estarão aqui em causa são as normas de
Direito Administrativo. Que regras serão? Serão as regras relativas à ordem jurisdicional
da Administração Pública e a regras do direito processual administrativo (é sobre estas
últimas que nos vamos debruçar).

No âmbito do Contencioso Administrativo, toda a evolução que foi existindo (em


Portugal e noutros Estados) tem por base a evolução que sucedeu no âmbito do Direito
Administrativo substancial. Numa lógica liberal, a Administração Pública será
naturalmente o centro do contencioso administrativo. O que é que um modelo liberal
pretende que seja discutido nos Tribunais Administrativos? As garantias necessárias dos
administrados. Ou, se quisermos, as garantias dos particulares contra as atuações
ilegítimas da Administração. Portanto, atuações que ofendam direitos ou, até num ponto
de vista mais amplo, interesses.

Há contencioso administrativo em que é possível que os particulares não estejam


de todo presentes. Por exemplo, todas as questões de natureza interorgânica. Dentro do
próprio órgão administrativo. Para este efeito temos de consultar o artigo 266º da CRP
que se refere à AP como sendo, no fundo, a instituição que procura a prossecução do
interesse público, sempre pelo respeito das DLG dos cidadãos.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Qual é, então, o núcleo essencial do contencioso administrativo? É a proteção


efetiva dos direitos dos administrados. Essa proteção de direitos pode ser feita com a
existência de relações, que são relações bilaterais (entre a administração por um lado e o
administrado por outro). Mas também cada vez mais temos relações poligonais. Estas
relações são aquelas em que estão vários interesses presentes.

Por exemplo, as relações de natureza ambiental ou as situações num concurso


público. Serão naturalmente isentos desta lógica poligonal. Está previsto no art.º268/4
CRP a garantia aos administrados da tutela jurisdicional efetiva sobre os seus direitos ou
sobre os seus interesses protegidos e, por isso, é que nas questões ambientes, para além
dos que estão na relação jurídica, aparecem outros interessados como associações de
defesa do ambiente.

Uma matéria específica que temos de atender é a do relacionamento com os


administradores da relação pública/Administração Pública – art.º269/2 CRP.

MODELOS HISTÓRICOS

Os modelos históricos das relações contenciosas no Direito Administrativo são:


modelo objetivista e modelo subjetivista.

O modelo objetivista está centrado na lógica do quadro administrativo. O modelo


subjetivista está centrado na posição das partes. O modelo objetivista centra-se no
necessário apelo ao princípio da legalidade, ao passo que o subjetivista está centrado na
ideia de direitos presentes numa circunstância concreta.

A opção por um modelo ou por outro tem consequências processuais: legitimidade


das partes, meios de acesso aos tribunais, poderes dos juízes e efeitos das sentenças.

Bases que temos presentes:

1ª. – O Processo administrativo é processo jurisdicional. E um processo entre


partes. Mas atenção: não é continuação do procedimento em que foi gerado o ato
administrativo. Processo de partes que não é continuação do processo, porque há um
caminho muito curioso (comparação com o processo tributário) – o contencioso
administrativo, ao contrário do contencioso tributário, está cada vez mais livre do

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

conceito de ato. Como iremos estudar, o contencioso tributário é um contencioso sobre


um ato – o ato de liquidação.

2ª. - Existência de um dever por parte da Administração de executar as sentenças


– os Tribunais não conseguem só por si executar sentenças. A Administração tem a
obrigação de executar uma sentença que tenha sido determinada por um Tribunal.

3ª. - Um modelo administrativista baseado nesta ideia: a Administração Pública


como único modo de redução dos contenciosos de particulares está ultrapassada.

4ª. - Modelos organizativos. Temos 3:

1. Modelo administrativista em que a decisão final é tomada por um


órgão da administração ativa. É o modelo liberal.

2. Modelo quase judicialista em que a decisão é tomada por órgãos


administrativos independentes em que há decisão interina. Notem: das suas
decisões pode haver recurso jurisdicional.

3. Modelo judicialista. Modelo atual em que se distingue a existência


de Tribunais comuns e especializados. A distinção é assumida pela CRP sendo
que os tribunais especializados serão os administrativos. Sobre a matéria da
competência e especialização dos tribunais judiciais, ver o at.211º CRP. Logo,
vem o art.212º afirmar a especialidade dos Tribunais Administrativos e Fiscais
(TAF). O topo das decisões destes tribunais está o STJ.

Modelos processuais

Quanto aos modelos processuais, no centro deste modelo estão os Tribunais


Administrativos que são que têm uma jurisdição especial. O núcleo do modelo processual
esteve essencialmente onde? No recurso de anulação de uma decisão de prática de um ato
administrativo.

A base do Contencioso Administrativo parte da ideia de ato administrativo. A


ideia essencial é que o contencioso administrativo parte da ideia de prática de um ato –
diferentemente do que sucede no contencioso fiscal cuja principal ação é de impugnação
de uma liquidação.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Este recurso de anulação de uma decisão que leva à prática de um ato é um


recurso de legalidade, sucessivo (ato já foi praticado) e limitado (àquele ato). Se o
sistema jurídico está centrado apenas no recurso de anulação, no qual se declara a
nulidade de uma decisão da administração.

A este contencioso natural juntou-se um contencioso complementar que era o


contencioso relativo a contratos administrativos e relativo à responsabilidade civil da
Administração. Aí, neste conjunto todo, alcançava-se um contencioso pleno (que não era
limitado). O facto de se juntar este recurso (de contratos e responsabilidade civil) deu
uma característica ao contencioso administrativo de contencioso pleno.

O modelo de contencioso administrativo começa a ser visto cada vez mais


como um contencioso pleno.

A existência de um regime processual que é constituído numa lógica objetivista –


inicialmente construído com base na lógica de ataque ao ato administrativo.

Agora, isto evoluiu com a passagem do modelo mais objetivista puro para um
modelo com características subjetivistas – com características de defesa dos direitos dos
administrados. Cada vez mais, o contencioso administrativo tem-se tornado mais
abrangente.

Há uma evolução no contencioso que tem como primeiro passo uma lógica de
jurisdicionalização total ou quase total. Com ações de jurisdicionalização plena – juiz
pode declarar a nulidade de atos (poderes anulatórios), mas também tem poderes
condenatórios e cautelares. Por fim, o processo administrativo evolui cada vez mais para
um processo de partes.

Assim ficamos com a lógica da evolução do próprio modelo que é uma evolução
que tem como ponto de partida o objetivismo, com entrada de elementos subjetivos,
levando a que o contencioso seja um contencioso cada vez mais pleno e que
materialmente abarque mais situações e que seja cada vez mais visto como um processo
de partes como na jurisdição comum. A forma essencial é que de facto o contencioso
administrativo seja um contencioso especializado.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Evolução do sistema de justiça administrativa em Portugal

O primeiro período é o período liberal que vamos considerar de uma forma ampla
(aproximadamente de 1832 a 1924). É uma fase denominada pela lógica do modelo
administrativo – decisões de contencioso, tomadas pela própria Administração.

O segundo período concentra-se, aproximadamente, entre 1930 e 1976: há uma


visão judicialista, mas mitigada. Começa a haver uma lógica de tribunais administrativos.

Por fim, a terceira fase, de 1976 até ao presente, em que a evolução merece
atenção.

O 209º/1 CRP refere três categorias:

● STJ e tribunais de 1ª e 2ª instância;


● Supremo Tribunal Administrativo (STA) e demais TAF;
● Tribunal de contas.

A lei determina a forma de resolver conflitos de competência entre esses tribunais.

O 212º CRP é o artigo que se refere aos TAF.

O 216º CRP refere-se às garantias e incompatibilidades dos juízes, pois estes são
inamovíveis e responsáveis pelas suas decisões e são incompatíveis com a existência de
funções de natureza privada.

Evolução do nosso sistema judicialista – período que começou em 1976.

A sua primeira fase vai até 1982, uma vez que neste ano se deu uma revisão da
constitucional. O modelo vigente até 1982 é centrado no recurso de anulação. O recurso
de anulação perante um tribunal de base judicialista, de contencioso pleno em relação a
matérias limitadas.

Apesar de tudo já havia aqui uma tendência de se olhar para as matérias relativas
à responsabilidade, contratos e aos recursos eleitorais. De todo o modo, este elemento
tinha de tomar em atenção uma ideia de jurisdição limitada.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

11/02/2022

Na aula passada, vimos a matéria relativa à evolução do modelo processual e


falamos de uma primeira fase, que vai até 1982, em que o modelo assentava na ideia do
recurso de apelação de atos administrativos – modelo centrado na ideia de ato
administrativo. Com uma base objetivista em que se assumia no fundo um contencioso
pleno que acabava por abarcar matérias limitadas (falamos da responsabilidade, do
contencioso eleitoral, dos contratos) – era assumida uma ideia de jurisdição limitada.

O contencioso contra atos era tão central que se começa a admitir a possibilidade
de existirem pedidos judiciais de suspensão de eficácia do ato, i.e., começa a nascer a
ideia de uma ação cautelar relativamente aos atos administrativos.

O tronco comum desta ideia de contencioso era uma ideia de poder mais centrado
da própria Administração com particular numa posição que não era naturalmente central,
mas que era necessário como contraparte da Administração.

Existia uma lógica de formalismo muitas vezes excessivo. E atenção: o


contencioso tributário pressupõe um ato administrativo prévio já praticado, sempre.

A segunda fase começa em 1982 e vem na sequência da revisão constitucional de


1982 em que se faz um alargamento do contencioso ou justiça administrativa com uma
ideia geral de dar maior proteção aos direitos e interesses legalmente protegidos dos
particulares. Importa a distinção entre direitos e ILP (interesses legalmente protegidos)
dos particulares.

Por outra via, há uma evolução num sentido de maior subjetivismo. E o maior
subjetivismo é personificado na aceitação de uma ação de reconhecimento de direitos ou
ILP. A JA (justiça administrativa) já evoluiu em relação a este modelo, mas é o modelo
que existe no contencioso tributário – no contencioso tributário temos o processo
impugnatório do ato de liquidação e ação de reconhecimento de direitos e ILP.

Para além desta ação que o Professor referiu, a partir de 1982, é admitido no
âmbito do contencioso administrativo o pedido de reclamação quanto à ilegalidade das
normas.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Outras evoluções: Para além das ações principais, passam a existir ações
especificadas. 1982 é um momento de abertura do contencioso tributário. Também se dá
uma tendência para a uniformização quanto às regras relativas aos recursos. E também há
novos meios processuais acessórios, como por exemplo, meio acessório de intimação para
consulta de documento, intimação para passagem de certidões e para comportamentos da
Administração.

O terceiro passo é dado em 1989 com a revisão constitucional: dá-se uma reforma
profunda que apenas é totalmente corporizada em 2002. Nas alterações legislativas de
2002, a lógica constitucional passa a ser da necessidade de se atender à lesão nos direitos
dos administrados, mais do que se atender à noção de ato de Administração.

Não há dúvida nenhuma que a partir dessa altura existe um direito fundamental a
uma proteção jurisdicional efetiva dos administrados. Essa proteção por ser efetiva e, por
isso, teve consequências no modo de se admitir o processo administrativo. A jurisdição
administrativa passar a ser obrigatória. E no plano constitucional reflete-se no art.212º
da CRP.

Por outro lado, os tribunais administrativos passam a ser a jurisdição comum


relativamente a tudo o que se passa quanto às relações jurídico-administrativas.

Em 1989, gerou-se uma situação que conduziu a mais poderes para os tribunais
administrativos. Passa a ser claro que os tribunais administrativos podem controlar o
exercício de poderes discricionários e passam a ter poderes mais alargados de condenação
de injunção de comportamentos junto da Administração.

Temos na Constituição um conjunto de direitos previstos quanto à proibição dos


administrados. Temos uma previsão de uma jurisdição de natureza administrativa. Temos
previsto no âmbito material dessa mesma jurisdição. Agora todos os conceitos necessários
não estão densificados no texto constitucional. A densificação é feita através de legislação
ordinária.

A Constituição abre o modelo, mas não o fecha. É na Constituição que são


definidos, em abstrato, os direitos dos administrados que depois vêm a ser concretizados
em lei.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Portanto, a Constituição acaba por determinar o modelo de contencioso que vai


ser aplicado na prática, mas define-o em abstrato, sendo necessário ir ao concreto. Para ir
ao concreto, temos de tomar em atenção o que está previsto no ETAF e CPTA. É
essencial trazer estes diplomas.

Nesta fase, ao olhar para a evolução do contencioso ou da justiça administrativa,


reflete-se um caminho do objetivismo para o subjetivismo.

Análise do ETAF:

Artigo 1.º: Delimita o âmbito da jurisdição administrativa e fiscal. Esta


administração fiscal é gerida por órgãos de soberania que administram a justiça em nome
do povo quanto a litígios que resultem de relações jurídico-administrativas. Este nº1 acaba
por definir o âmbito da jurisdição que é alargado quanto aos contratos públicos e, também,
relativamente à responsabilidade civil que exista no âmbito da função legislativa e da
função jurisdicional.

Artigo 4.º: É muito relevante porque concretiza o âmbito da jurisdição. Não


aparece logo no início deste art.4º do ETAF a ideia de apreciação jurisdicional relativa a
atos. Não está prevista logo no início esta ideia.

Neste caminho do objetivismo para o subjetivismo, começamos pelo âmbito, mas


a segunda ideia relevante é da tutela jurisdicional efetiva. Aí vamos ao art.2º do CPTA.
Ver o n.º2 do 2ºCPTA. Aparece logo no início referências ao regime relativamente a atos,
mas também referências à condenação, invalidade de normas, reconhecimento de
situações subjetivas ou qualidades, apreciação quanto a contratos, etc. Podemos ver que
há uma referência lata relativamente aos poderes que são admitidos no âmbito desta tutela
jurisdicional efetiva.

Nota: este art.2º/2 CPTA acaba por referir até onde podem ir os juízes. No art.º3
poderes dos TA. Os Tribunais Administrativos vão poder julgar de acordo com normas
de lei, de acordo com o princípio da legalidade, não podendo intervir quanto à
oportunidade de agir da Administração.

É, também, nesta ocasião que entram em vigor conceitos que não tínhamos até
agora. É neste contencioso que se distingue a ação administrativa comum da ação

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

administrativa especial. No fundo, a ideia de recurso de ato deixa de ter a previsão que
tinha anteriormente, vem com a lógica de ação de reconhecimento de direitos.

O contencioso que tínhamos baseado nestas duas formas processuais altera-se para
um tronco comum, ação administrativa comum, e depois para as ações administrativas
especiais. Ver art.37º CPTA. Está enquadrado no título relativo à ação administrativa. O
que cabe aqui? Tudo o que não está em ações especiais, ou seja o que não está previsto
em legislação especial – é muito claro no art.37º/1.

Depois temos a referência, através de enumeração não taxativa, daquilo que pode
estar presente: impugnação de atos administrativos (particular vai pôr em causa esse
mesmo ato); em segundo lugar, condenação à prática de atos administrativos devidos –
em circunstância alguma, o tribunal faz julgamento quanto a atos que devem ser
praticados pela administração por mera oportunidade. NÃO, têm que ser atos que a lei
imponha. Portanto, têm que ser atos que a lei imponha.

Mas também, este artigo prevê a condenação à não emissão de atos


administrativos (é o reverso). A Administração pode ser condenada a não praticar um ato.

Temos:

· Impugnação de atos praticados;


· Condenação à prática de ato;
· Condenação à não prática de um ato

Mas a Administração pode ser, também, condenada à emissão de normas


administrativas (não falamos de leis) quando na sequência da interpretação legal, seja
evidente que a Administração tenha de praticar um ato de natureza regulamentar, por
exemplo. Mas tal como a Administração pode ser condenada a praticar atos, pode existir
uma circunstância de impugnação de normas que estão previstas em regulamentos.

Passada a fase de impugnação e condenação da administração, este artigo 37º


prevê situações de reconhecimento de situações jurídicas objetivas. Essas situações têm
de decorrer diretamente da aplicação da lei.

Segue-se, na leitura do artigo, a possibilidade de a Administração ser condenada


à prática de atos que vamos chamar acessórios.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Também está previsto neste artigo, mais precisamente na al. k), a responsabilidade
civil das pessoas coletivas de direito administrativo bem como dos titulares dos seus
órgãos ou respetivos trabalhadores em funções públicas. Também estarão dentro desta
ação administrativa comum as relações jurídicas entre entidades administrativas.

Portanto, por esta determinação legal, este conceito de ação administrativa comum
é um conceito muito amplo. Note-se que esta enumeração não é taxativa, é
exemplificativa.

Ainda dentro destas características que vão do objetivismo ao subjetivismo, é de


salientar a grande amplitude com que é admitida na lei a cumulação de pedidos.

O art.4º/2 CPTA admite a cumulação mais uma vez, através de um elenco


exemplificativo, do pedido de anulação do ato administrativo com pedido de
condenação da Administração ao restabelecimento da situação que existiria se o ato
não tivesse sido praticado. É relevante porque tem que ver com o relacionamento do
poder administrativo. Porque o poder judicial pode determinar a invalidade de um ato
administrativo. Essa declaração só por si não leva a que seja restabelecida a situação sem
a prática de ato. Ou seja, a previsão do nº2 deste artigo 4º junta duas situações: declaração
de nulidade por ilegalidade do ato administrativo. Ato que foi praticado e não deveria ter
sido praticado. Esta é a lógica de recurso de anulação do ato. Agora cumula-se um outro
pedido que é o de condenar a administração à prática dos atos que sejam necessários para
que restabelecer a situação que existira se o ato não tivesse sido praticado – restabelecer
a situação de facto.

Esta junção que está prevista logo na primeira alínea do art.4º/2 é muito
importante, porque é naturalmente uma função de natureza jurisdicional (declara
invalidade de ato). Em tempos não era possível. Declarava-se nulidade de ato e ficava
declarado. A Administração depois restabelecia a situação um bocadinho quase como ato
de vontade.

Também se pode juntar a estes um terceiro, que é o pedido de declaração de


ilegalidade de uma norma administrativa.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Para além disto, ainda se pode cumular o pedido de condenação da


administração à prática de um ato administrativo que seja legalmente pedido.
Portanto, condenação à prática de ato devido.

Em quarto lugar, pode-se juntar o pedido de anulação ou inexistência de um ato


administrativo com pedido de anulação ou declaração de um contrato que dependa
desse ato. Temos anulação de ato e pedido de anulação de contrato que tenha sido feito
com base nesse ato.

Mais, pode-se cumular o pedido de anulação de ato administrativo com o pedido


de reconhecimento de uma situação jurídica subjetiva.

Pode, também, haver um pedido de condenação da administração à reparação de


danos para todas estas situações.

Para terminar é possível formular questões relacionadas com interpretação,


validade e execução de contratos com a impugnação de atos que tenham sido praticados
durante a execução do contrato.

Isto é o quadro da cumulação de pedidos.

Temos tipologias de pedidos possíveis a nível de contencioso administrativo.


Depois temos a junção de pedidos para que se ganha eficácia. Partimos de uma ideia
central de impugnação de atos administrativos e a esta podemos juntar a restituição da
situação (condenar a Administração a restituir a situação).

Ainda se pode juntar a isto a declaração de anulação de norma administrativa (e


regulamento) e condenação para a prática de ato devido.

Depois, continuando a partir da prática de ato administrativo, podemos ter relação


com contrato quando um ato administrativo está na base da existência de um contrato.

Ainda na lógica de cumulação de pedidos, fazer remissão do art.4º para o artigo


art.37º (ação administrativa comum), porque aí estão previstas as formas que cabem
dentro da ação administrativa comum.

Outro ponto importante da passagem do objetivismo para o subjetivismo: a


tramitação passa a ter regras uniformes. Para este efeito, ver art.35º CPTA em que está

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

previsto que a lei subsidiária é a lei do CPC. A regra subsidiária que está no plano do
contencioso administrativo é a determinação das regras do processo civil.

Quanto a esta matéria de regras comuns, podemos ver os artigos 78º e ss. do CPTA
– marcha do processo que começa com os requisitos da petição inicial, que é comum
às formas processuais.

Quanto às regras do procedimento:

· as regras particulares quanto à impugnação de atos administrativos estão


previstas nos art.50º e ss. CPTA;

· quanto à condenação à prática de ato devido, veja-se o art.66º e ss.;

· quanto à impugnação de normas e condenação à emissão das mesmas,


veja-se o art.72º e ss.;

· quanto aos processos urgentes, ação administrativa urgente, ver o


disposto nos art.º97º e ss.

A legitimidade no contencioso administrativo é ampla. Ver o art.55º/1 CPTA. É


muito importante notar a remissão da alínea f) que é feita para o art.9º/2, porque este
artigo abre a legitimidade para além do interesse pessoal na demanda.

Outra característica específica da justiça administrativa é haver poder próprio que


o Ministério Público tem na defesa da legalidade. Outra característica específica é ser um
processo entre partes iguais. Quer o Estado, quer todas as demais entidades públicas estão
sujeitas ao pagamento de custas.

O princípio da igualdade das partes está previsto no artigo 6º (fazer remissão para
o 189º), sendo que essa igualdade existe relativamente ao exercício de faculdades
pessoais, usos de meios de defesa, bem como sanções processuais desde logo
relativamente à litigância de má-fé.

Outra característica que é relevante tem que ver com as providências cautelares
(art.112º e ss. CPTA), que existem para garantir a utilidade das sentenças. As sentenças
são mais executivas. Ver 157º e ss. CPTA. Está previsto um regime de execução das
sentenças. As sentenças passam a ser mais executivas: não são apenas de declaração de
ilegalidade do ato, mas também das consequências.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

DOMÍNIO SUBSTANCIAL DA JUSTIÇA ADMINISTRATIVA

Relevante e central para este efeito é a noção de relação jurídica administrativa.


Porque é essa relação jurídica substantiva de natureza administrativa que vai estar na base
da relação processual e há aqui um elemento que é importante que tem a ver com a
qualidade do sujeito passivo ser um órgão da administração, mas também pelo facto de
estarem em causa funções administrativas, i.e., nem todos os atos praticados pela
Administração estão sujeitos à jurisdição administrativa.

A lei refere de forma expressa que o âmbito da jurisdição administrativa existe em


relação às relações jurídicas administrativas. Contudo, apesar de a lei remeter como
elemento essencial para essas relações jurídicas administrativas, não define o seu
conteúdo. Logo, temos de ser nós, a doutrina, a chegar à conclusão sobre o que aqui está
presente.

O que vai ser relevante? Relembrar a distinção entre direito público e privado. Em
regra, as relações de direito privado que incorram na Administração Pública são julgadas
pelos tribunais comuns.

Portanto, para que exista uma relação jurídica de direito administrativo temos que
ter a intervenção de uma entidade pública com poderes públicos. Quando uma entidade
pública exerce um ato com poderes públicos caímos naturalmente no contencioso
administrativo. Portanto, aqui está presente o conceito de Administração executiva que
exerce a função administrativa com poderes de autoridade – relação em que as duas partes
não se situam no mesmo plano.

De fora deste âmbito estão as relações de direito privado em que a Administração


participa. Notar que mesmo quando está a exercer funções administrativas (por exemplo,
subvenções ou contratos de fornecimento de bens ou serviços), terminam num ato de
direito privado apesar de se iniciar como público.

É possível que numa mesma relação jurídica em sentido amplo, tenhamos uma
parte que será sujeita ao procedimento administrativo (sujeito a procedimento concursal)
que termina num contrato de direito privado (que está fora do contencioso administrativo,
ou seja, estará no contencioso comum).

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Curiosamente, este facto enquadra-se num momento em que há uma tendência de


os tribunais administrativos fazerem uma resolução global dos litígios. Já vimos que as
ações de direito privado ou as atuações do direito privado em que a Administração Pública
esteja incluída estão excluídas da jurisdição administrativa.

Também estão excluídas as atuações privadas que sejam autorizadas ou


licenciadas pela Administração – ex. Administração licencia a utilização de espaço
público através de esplanada. As relações contratuais que se estabelecem na esplanada
(compra e venda de bens alimentares e bebidas) ultrapassam o âmbito do direito publico
e jurisdição administrativa, mas o procedimento que levou a utilização de espaço publico
esáa incluído na lógica de jurisdição administrativa.

Estará incluído na jurisdição administrativa tudo o que esteja no âmbito da própria


autorização e corresponda ao exercício de poderes de autoridade.

O direito que um terceiro quer exercer, por exemplo, contra uma autorização que
foi dada para fazer uma obra nova que foi aprovada e licenciada quando não esteja em
causa requisitos legais dessa concessão, estão excluídos da jurisdição administrativa,
entram na jurisdição comum.

Apenas estritamente o que tem que ver com o procedimento administrativo entra
na jurisdição administrativa.

De fora, também fica a função política e a função legislativa. Ambas pertencem


ao direito público e neste plano há uma questão (que tem de ser resolvida) que é o
relacionamento entre um ato administrativo e uma lei devida. Como sabemos as leis são
gerais e abstratas, mas também existem leis-medida como a de liberação de constituição
de um município. Ver se no caso em concreto uma lei medida se consubstancia ou não na
prática de um ato administrativo é relevante quanto à determinação do contencioso a
aplicar.

Veja-se o art.268º/4 CRP. Refere-se à garantia dos administrados da tutela


jurisdicional efetiva em relação aos seus diretos ou interesses legalmente protegidos.
Neste plano, ver a determinação do art.51º estão os atos impugnáveis a nível destas ações
administrativas comuns. Todos os atos do procedimento administrativo que produzam
efeitos externos são impugnáveis. Mesmo que sejam praticados por autoridades que não

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

estão integradas na Administração Pública. Ou mesmo que sejam praticados por entidades
privadas quando estas estejam a atuar no âmbito de poderes jurídico-administrativos.

Os atos interlocutórios de procedimento são suscetíveis/passíveis de intervenção


do contencioso administrativo desde que tenham efeitos externos. Ex., exclusão de
alguém (empresa) de um concurso.

Falávamos dos atos impugnáveis. E a distinção entre ato administrativo e lei


medida. E para além da função política e legislativa, notem: a impugnação que está
presente é uma impugnação de normas administrativas.

Como se faz impugnação de leis? Quanto à sua constitucionalidade e legalidade,


as questões são colocadas perante o Tribunal Constitucional. Estamos na lógica das
normas administrativas, regulamentos.

A função jurisdicional e o seu exercício também está fora do controlo da jurisdição


administrativa. Aqui, como é óbvio, a delimitação do que está dentro ou fora é mais fácil.
Portanto, e na prática, estão fora da jurisdição administrativa as funções política,
legislativa e jurisdicional. Estão dentro as funções administrativas com especial
relevância do ato administrativo.

O conceito de ato administrativo está no 148º CPA – pontos relevantes:

· Exercício de poderes jurídico-administrativos: substancialmente os


poderes em causa são jurídico-administrativa;
· Segundo elementos: atos que tenham eficácia externa (interna é apenas
dentro da administração);
· E aplicam-se a uma situação individual e concreta (ao contrário da lei
que é em relação a situações gerais e abstratas).

Ver o art.51º do CPTA. Também é um artigo relevante sobretudo quanto à


determinação de efeitos jurídicos externos da prática do ato.

O centro da nossa discussão está na determinação que é feita sobre o que é uma
relação jurídica administrativa. Em princípio, a relação jurídica administrativa que vai ser
relevante é a que produz efeitos externos. Mas também não é fácil a delimitação do que
é uma relação jurídica administrativa, porque há várias administrações que podem haver

17
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

várias administrações e elas podem ser desconcentradas, i.e., vindas de divisões dentro
do próprio Estado ou podem ser descentralizadas (quando se criam outras pessoas de
direito público além do Estado).

Por outro lado, também não ajuda à delimitação em concreto das situações em
causa a complexidade da organização do Estado e a existência de figuras atípicas como
as Universidades que também praticam atos administrativos.

No plano do conceito da relação jurídica administrativa, vamos ver o que dela


excluímos. Vamos excluir as relações entre órgãos administrativos dentro da mesma
pessoa coletiva, a não ser que a lei assuma o contrário. A lei pode admitir que estão
sujeitas a algumas situações especiais desta, ao contencioso administrativo. Temos que
dar mais um passo, o que são relações jurídicas administrativas internas ou
intrapessoais?

· Serão então as relações entre órgãos administrativos dentro da mesma


pessoa coletiva. Por exemplo, as relações de órgãos do mesmo
Ministério ou muitas vezes entre Ministérios diferentes (a pessoa
coletiva é a mesma);
· Serão as relações entre órgãos administrativos e os seus titulares;
· Serão relações orgânicas entre os órgãos de uma instituição e os seus
funcionários.

Portanto, é isto que está excluído.

Estão incluídas as relações da administrativas com os particulares quando a


administrativas as exerce com poder de autoridade – aqui vai-se incluir a possibilidade de
a Administração não estar presente, mas poderem estar presentes sujeitos privados que
atuam com poderes administrativos.

Vão estar admitidas no contencioso administrativo as relações jurídicas internas


administrativas. Por exemplo, entre diferentes entes públicos administrativos. Entre a
Administração e entidades que atuem em substituição da Administração. E algumas
relações jurídicas que a lei admite para este efeito dentro do mesmo órgão administrativo.

Isto tudo são matérias incluídas no contencioso administrativo.

18
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quanto às posições subjetivas, convém tomar atenção à diferença entre vantagens


e desvantagens.

As vantagens vão corresponder a obrigações ou sujeições da administração ou


então condicionalismos da atividade da própria administração. No plano das vantagens
convém distinguir, por um lado, as posições jurídicas substantivas e, por outro, os
interesses simples ou de facto. O que tem que existir na base de qualquer uma destas
situações? Uma norma jurídica que tenha intenção normativa de proteger um bem jurídico
que seja um bem jurídico próprio. E se essa proteção visar um sujeito, em primeira linha,
é um direito subjetivo terá posição subjetiva. Se for em segunda linha é um ILP. Por
exemplo, situações reflexas, não diretas. Existe muito no âmbito do direito do ambiente.
Entre os direitos subjetivos e os interesses legalmente protegidos há uma continuidade
gradativa.

Os direitos subjetivos podem ser:

· Obrigacionais, de prestação, ou direitos sociais (direito à Segurança


Social). Podem ser absolutos (alguns Direitos Fundamentais), bem
como direitos públicos sobre coisas, direitos públicos reais (uso do
domínio Público).
· Ou podem ser direitos potestativos. Estes direitos potestativos são
aqueles que vão provocar a constituição, alteração ou extinção de uma
relação jurídica administrativa, que tem do outro lado uma sujeição
(por exemplo, direito que uma parte tem a resolver um contrato
administrativo – que é algo que se impõe à outra parte).
· Dentro dos direitos subjetivos temos os direitos não absolutos,
limitados, que estão condicionados (dependem para aparecer de uma
condição jurídica) ou são direitos enfraquecidos (o direito de
propriedade pode ser enfraquecido por uma expropriação pública).
o Também temos os direitos compridos que são limitados por lei
e que necessitam para aparecer de uma qualquer atividade
administrativa ex., direito de liberdade de profissão. A nossa
liberdade profissional comprida pelo direito da ordem.
o Também temos direitos incompletos ou em formação antes da
prática do ato administrativo definitivo – isto sucede em

19
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

procedimentos completos. Exemplo: atos interlocutórios antes


da prática de ato administrativo definitivo.

Os Interesses Legalmente Protegidos são diferentes dos interesses de facto. São


aqueles que resultam da juridificação de um poder discricionário. Portanto, são aqueles
interesses que vêm na sequência de um poder discricionário. Também podem ser
interesses em relações jurídicas poligonais (podem ser poligonais as relações
administrativas; acontece muito na lógica dos interesses difusos que são diferentes dos
interesses coletivos que também levam a uma situação própria). Estas são as posições de
vantagem.

Quanto à situação de desvantagem, temos, em primeiro lugar, que atender às


sujeições.

As sujeições correspondem a direitos potestativos como seja o poder de expropriar


que se impõe aos particulares e poder de tributar.

Em segundo lugar, além de sujeições, podemos ter os deveres que surgem na


sequência de uma lei ou de um contrato.

Em terceiro lugar, temos o ónus jurídico que tem o mesmo conceito que assume
no direito civil. Os ónus jurídicos podem ser ónus da prova ou da apresentação de um
documento para efeitos da continuação de um procedimento. Notem: a posição da
Administração da relação jurídica tributária é sempre dominada por dois princípios:
legalidade e especialidade de acordo com as suas atribuições.

*saber distinção entre atribuições e competências.

Vimos a dimensão substantiva da justiça administrativa (relacionada com a RJ


administrativa). Vamos agora analisar a dimensão funcional da justiça administrativa.

DIMENSÃO FUNCIONAL DA JUSTIÇA ADMINISTRATIVA

Corresponde às questões jurídicas que têm que ser solucionadas no âmbito de um


Tribunal Administrativo na sequência de um processo jurisdicional. Portanto, na
sequência de um processo, tem de ser justo e que tem que terminar num ato processual
que tenha a natureza de caso julgado.

20
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Neste plano funcional, o que fica fora do Contencioso Administrativo?

1. Reclamação administrativa
2. Os meios jurídicos/políticos
3. Jurisdição que seja regulada por autoridades administrativas
independentes
4. Conciliação, mediação e a transação – i.e., formas de resolução que sejam
baseadas na vontade das partes.

Art.87º-A CPTA: Na fase inicial do processo e depois de um despacho saneador,


é feita uma audiência prévia. Ela tem alguns objetivos: o primeiro é realizar uma tentativa
de conciliação. Nesta alínea a) do artigo, temos uma remissão para o 87º-C. O que temos
nesta tentativa de conciliação? Temos aqueles casos em que as partes têm poder de
disposição relativamente ao litígio e em qualquer face do processo pode-se tentar a
conciliação. Pode ser requerido pelas partes. Pode ser requerido pelo juiz quando o
considere oportuno.

Durante os processos as partes não podem ser chamadas mais do que uma vez, em
exclusivo para esse efeito.

A conciliação vai ser tentada perante o juiz que deve ativamente tentar alcançá-la.
Caso o juiz não consiga, deve ficar em ata as propostas que fazia para a conciliação e os
fundamentos que tinha para os efeitos.

Este é o processo de conciliação.

Já o processo de mediação é determinado nos termos da lei processual civil com


as necessárias adaptações.

A conciliação é um instituto pensado na lógica do contencioso administrativo. A


mediação é um instituto de direito privado na lógica do processo civil.

A transação corresponde a uma circunstância em que se extingue a instância por


via de um contrato administrativo entre as partes do processo.

O art.187º CPTA admite a existência de centros de arbitragem para resolver os


litígios que podem ser objeto de arbitragem, que são os previstos no art.180º: questões

21
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

relativas a contratos; responsabilidade civil extracontratual; validade de atos


administrativos salvo quando haja determinação legal em sentido contrário; e às relações
jurídicas de direito público quando não estejam em causa direitos indisponíveis.

A abertura à existência de arbitragem é muito maior no Contencioso Tributário do


que é no Contencioso Administrativo.

A base da jurisdição administrativa é uma base de vontade das partes, podendo os


interessados recorrer à arbitragem e exigir da administração a celebração do compromisso
arbitral, sempre nos termos previstos na lei. A arbitragem administrativa ainda está
excessivamente dependente da vontade das partes.

De todo o modo, os tribunais arbitrais exercem uma função jurisdicional. Os juízes


arbitrais têm que decidir de acordo com a lei, não podendo fazer juízos de equidade. E
nos termos do art.185º/2 CPTA, é estritamente referido que não pode haver uma decisão
baseada em critérios de equidade, conveniência ou oportunidade da atuação
administrativa. Tem que ser tudo determinado com princípios estritos de legalidade.

Esta arbitragem judicial é diferente da arbitragem administrativa que pode durante


o procedimento ser determinada por uma autoridade administrativa para efeitos da prática
de um ato, no âmbito do procedimento administrativo.

17/02/2022

Limites funcionais da justiça administrativa

No fundo, quando se fala desta questão de limites funcionais, aquilo que se está a
fazer é uma distinção entre o campo do poder judicial e o campo do poder administrativo.
Vimos na semana passada a questão de sentenças. Em que medida, quando falamos de
sentenças, há invasão do poder judicial no poder de natureza administrativa? Limites
funcionais são limites entre poder dos tribunais e poder da Administração. É precisamente
pela existência destes limites funcionais que a admissibilidade da jurisdição
administrativa não foi logo ampla e foi crescendo ao longo dos tempos. Foi sempre um
temor que houvesse um imiscuir do poder judicial no que seja administrativo. Se
pensarmos nos inícios, os tribunais não podiam controlar a atividade da Administração.
Parte da Administração é vinculada e outra é discricionária. Esta questão da separação
dos poderes em que no fundo se pretende determinar o que é atividade administrativa e o

22
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

que deve ser esse controlo da atividade administrativa. Até onde vai a liberdade de decisão
administrativa.

Primeiro ponto: a autoria dos atos administrativos, do exercício do poder


administrativo é diferente da fiscalização. A primeira pressupõe o conhecimento direito
dos pressupostos de uma escolha. Já a segunda pressupõe a aplicação de normas jurídicas
e de testes de juridicidade necessários quanto à intervenção da Administração. Este é o
quadro geral.

Segundo ponto: ideia de autocontenção do juiz perante a reserva e


discricionariedade da Administração. Sabemos que a discricionariedade tem que respeitar
o direito que os Tribunais devem julgar ou não pela existência de cumprimento de normas
e nunca se devem intrometer no que é a discricionariedade ou a liberdade de intervenção
do poder administrativo. Portanto, a oportunidade da intervenção é algo que está apenas
nas mãos da Administração. Isto é uma ideia natural do sistema da Administração
executiva.

Claro é que os tribunais aplicam não apenas normas, mas também princípios
jurídicos. Há que perceber se os Tribunais apenas atuam quando há atividade
administrativa corporizada na aplicação do direito. Há necessidade de atividade
administrativa prévia? Não. Existe na impugnação do ato administrativo, tal como
acontece com o contencioso tributário (com o contencioso da impugnação de uma
decisão). O direito fundamental de acesso aos tribunais por parte dos administrados, coisa
que aliás pode levar para análise o art.º37/1 CPTA. Este artigo tem vários exemplos que
seguem a forma de ação administrativa. Por exemplo, na alínea c) do n.º1 deste artigo
prevê-se ação à não prática de ato administrativo. No limite, é possível que a
Administração seja condenada a estar “quieta”.

Passada esta fase, deve-se notar e pensar se existem limites à plena jurisdição dos
tribunais administrativos. Ideia que tem que ser trabalhada – a de não dever ter que se
determinar a não atuação da Administração. O que quer dizer? As condenações têm que
ser por ilegalidade e devem ser genéricas ou de natureza diretiva. Este é o campo em que
nos devemos enquadrar quando falamos de condenação dos tribunais administrativos.

Quando há um ato decidido, mesmo que inválido, mesmo que nulo – se é nulo não
produz efeitos – passa a ser impugnável. Ver n.º2 do art.º38 CPTA. Possibilita que seja

23
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

obtido por outro meio processual o efeito que resultaria da anulação do ato impugnável.
Efeito da consequência de jurisdição administrativa. Não se vai por outros meios
processuais conseguir aquilo que deveria ser consequência da questão em causa.

Há prazos para a impugnação.

· Quando os atos são nulos, não há prazos.

· Quando os atos são anuláveis, o prazo é de um ano para o Ministério


Público e três meses para os restantes casos.

E como é que é em relação à responsabilidade da Administração? Temos que tomar em


atenção que não se pode pensar que exista uma impossibilidade total de o juiz condenar
ou até acabar por impor comportamentos à Administração. É a regra pela qual a
Administração existe.

Há limites que não podem ser ultrapassados – a discricionariedade da


Administração, os poderes prévios que a Administração exerceu, existindo uma força de
caso decidido.

ÂMBITO ORGÂNICO DA JURISDIÇÃO ADMINISTRATIVA

Passamos agora, visto o elemento funcional, vamos para o âmbito orgânico da


jurisdição administrativa. No plano orgânico da jurisdição administrativa, desde logo
sabemos que nela cabem questões de direito administrativo que sejam atribuídas pela
Constituição e pela lei a ordem judicial administrativa. Veja-se logo o artigo da CRP que
se refere a competência para relações jurídicas administrativas. O que vamos no fundo
querer interpretar é o art.º212 CRP.

Há uma reserva absoluta de jurisdição? Isto levanta duas sub-questões: desde logo,
a de saber se os tribunais administrativos só podem julgar questões de direito
administrativo. Apenas eles podem julgar essas questões? A primeira pergunta é
limitativa. A segunda é de abertura em relação a outras jurisdições. O Tribunal
Constitucional num acórdão dos Tribunais Militares dá ajuda relativamente a esta
matéria. Os tribunais especiais, caso dos tribunais administrativos, só podem julgar estas
questões que lhes venham a ser ou sejam constitucionalmente atribuídas. O Tribunal
Constitucional é o limite da Constituição. A doutrina tem uma tendência mais larga.

24
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

A doutrina tem uma posição mais aberta. A primeira grande questão é: admite-se
ou não a possibilidade de serem julgados nos tribunais administrativos questões de direito
privado? Bem como outra possível incursão: a responsabilidade civil da administração
fica-se apenas pelo sentido estrito da Administração ou também vai considerar a
responsabilidade civil no exercício da função política, legislativa ou funcional? Todos
eles estão dentro do conceito de Estado. A doutrina diverge.

Por exemplo, Esteves de Oliveira considera que, partindo da base constitucional,


os limites devem ser vistos ao contrário. É ver tudo o que a CRP permite. Considera
muito relevante a relação entre administrados e Administração. Freitas do Amaral tem
posição mais mitigada. Olhando para o circunstancialismo dos próprios tribunais
administrativos, é preciso análise casuística sobre o que a jurisdição administrativa pode
abarcar. As decisões não podem ser postas em causa porque os tribunais não têm
capacidade para julgar questões. Já o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da
República faz uma distinção entre aquele que é o contencioso administrativo por natureza
(Tribunais administrativos e Tribunais comuns).

A posição do STA tem sido a de que não existe proibição total e absoluta através
da regra constitucional de questões que possam ser vistas por tribunais administrativos,
mas apenas um modelo típico que é suscetível de adaptações caso não fique em causa o
núcleo essencial de um modelo. Este relatório quer dizer que o STA vê a norma
constitucional como cláusula geral que não tem reserva material absoluta. Isto poder-nos-
ia levar a uma espécie de caos generalizado. É uma cláusula geral que não tem quanto à
matéria uma reserva absoluta. Portanto, nós devemos ver a norma constitucional como
uma simples obrigação que o legislador ordinário tem que respeitar nas competências da
jurisdição administrativa. Por outras palavras, o legislador tem liberdade dentro do quadro
constitucional, não pode é atirar para a função administrativa, por exemplo, questões
jurídico-penais.

Portanto, na comparação entre jurisdição administrativa (ou jurisdição especial) e


jurisdição comum dos tribunais comuns podemos chegar a uma conclusão – a jurisdição
comum é residual. Até porque os tribunais administrativos são os tribunais comuns em
matéria administrativa. Aliás, há até atribuições constitucionais de julgar questões que
tenham por base matérias administrativas por parte de normas constitucionais. Questão
da legalidade financeira e julgamento de contas – art.º214 CRP. Questão do art.º8/3 dos

25
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

tribunais internacionais. Todas elas são matérias que naturalmente devem ser vistas como
atribuições especiais que a própria Constituição faz a outros tribunais que não
administrativos para julgar situações administrativas. Ainda temos, além destes, os
tribunais arbitrais.

Vamos agora à questão da delimitação legal no ETAF:

Art.º1: os tribunais de jurisdição administrativa e fiscal são órgãos de soberania,


com competência para julgar em nome do povo em litígios administrativos, remetendo
para o efeito o artº4 do ETAF. O art.º4 prevê as situações do ângulo de jurisdição. Quem
lê logo no início, pensa que é uma enumeração taxativa. Importa ler as várias alíneas até
chegar à alínea o). A alínea o) é a cláusula que abre esta jurisdição, este âmbito de
jurisdição administrativa. Para além disso, há conceitos (esta enumeração acaba por ser
não taxativa no sentido puro – da abertura para mais matérias e além do mais aplica em
todo o texto conceitos que carecem de precisão.). Este art.4.º/1 na enumeração que faz
tenta uma concretização positiva da CRP: determinar o que são as relações jurídicas
administrativas sujeitas à jurisdição dos tribunais administrativos partindo da posição dos
administrados para os poderes administrativos no regime de direito público. Claro é que,
apesar das possíveis fragilidades que se podem encontrar neste texto, ele tem a vantagem
de dar de uma forma clara uma enumeração e clarificação aos Tribunais administrativos.
A alínea o) deve ser entendida como cláusula geral que precisa de ser completada.

Quais são os problemas de delimitação quanto às competências relativamente aos


Tribunais administrativos? Há desde logo questões que têm que ser tidas em
consideração. Há nos contratos uma vertente do exercício de vontade que está para além
dos poderes do Estado. O regime geral da responsabilidade civil está no Código Civil.
Vamos então às matérias de natureza contratual. Na alínea e) do n.º1 do artigo 4.º diz-se
que compete aos tribunais com jurisdição administrativa analisar a validade de atos pré-
contratuais e interpretação, validade e execução de contratos administrativos ou de
quaisquer outros contratos celebrados nos termos da legislação sobre contratação pública,
por pessoas coletivas de direito público ou outras entidades adjudicantes. Convém ter em
atenção o que está determinado no CCP.

Como sabemos, no fundo da fase pré-contratual, há aplicação de regras que são


aplicáveis a contratos de direito privado, bem como, aliás, regras com alguns contratos

26
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

com entidades privadas que são adjudicantes. Os adjudicantes não são apenas
adjudicantes de direito público, mas também de direito privado. Esses adjudicantes vão
naturalmente estar sob alçada dos tribunais administrativos.

Quanto à responsabilidade civil extracontratual, podemos ver a alínea f) que refere


a existência de situações de responsabilidade civil extracontratual por parte de pessoas
coletivas de direito público. Incute-se aí os danos da função política, legislativa e
jurisdicional. Esta responsabilidade tem sempre que respeitar a tutela de direitos
fundamentais que cai na Administração. Cai na alínea a) deste artigo. Tutela de reações
fundamentais no âmbito de tutela de jurisdições administrativas. Portanto, podemos ver
por esta alínea, tal como pela alínea g) em que se refere à responsabilidade civil
extracontratual dos titulares de órgãos, funcionários, agentes, trabalhadores e demais
servidores públicos, incluindo ações de regresso, que é possível enquadrar-se na
jurisdição administrativa a responsabilidade existente por pessoa coletiva de direito
público por danos decorrentes no âmbito de gestão privada.

É então uma ampliação de poderes dos tribunais administrativos sempre que se


considere que se assume natureza iminentemente de natureza civil dos atos. A medida em
concreto do alargamento feito nestas alíneas f) e g) é determinada pela jurisprudência. Ela
própria tem sido bastante aberta à admissibilidade de poderes por parte da jurisdição
administrativa.

Em circunstâncias como esta temos que ver como os tribunais administrativos


justificam a competência destes mesmos tribunais. Quanto à alínea g), há aqui uma
pergunta. O seu âmbito abrange atos pessoais ou apenas funcionais? Apenas abrange estes
aqui previstos ou é preciso fazer leitura mais ampla? Há quem considere que também
abrange responsabilidade contra os titulares de órgãos de pessoas coletivas privadas
quando estes atuam no âmbito de prerrogativas de direito público. Lendo a alínea g),
devemos considerar que aí estão previstos atos funcionais ou pessoais. Ou, por outro lado,
será que se pode admitir entidades de direito privado agir no âmbito de prerrogativas de
direito público? Não pode ser uma interpretação demasiado extensiva. Pela lógica do
sistema, tem-se sentido que as entidades que estão a trabalhar no âmbito de poderes
públicos tenham essa possibilidade.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

E quanto aos atos pessoais e funcionais? Os atos funcionais são os que se inserem
numa lógica estreita do direito administrativo material, mas por outro lado também é certo
que nos atos pessoais, quando estejam em causa aplicação de normas administrativas, é
entendido que serão os tribunais administrativos a atuar.

O alargamento que é feito pelo ETAF é estritamente processual. Não é


substantivo. Ou se considera que é qualificação dos poderes jurídicos em administrativos
ou se considera que até pode haver alargamento, mas que esse alargamento é estritamente
pessoal. Não é uma determinação das relações que vão estar sujeitas a normas
administrativas.

Tomar em atenção nesta enumeração: ela está pensada fundamentalmente para


tribunais administrativos. As questões de contenciosos ultrapassam uma função mais
clara. Qual é que está mais espartilhada? Abrange mais temas, porque não se limita ao
ato (enquanto a jurisdição fiscal está pensada para o ato de liquidação (ato pelo qual se
determina o custo a pagar – esse ato vai ser o “alfa e ómega” do contencioso tributário).
Aqui não ficamos pelo ato administrativo. A referência do art.º4/1 sobre a fiscalização de
atos administrativos.

O artigo anterior trata da fiscalização de normas e restantes atos jurídicos. A


referência direta ao ato administrativo é feita na alínea d). A grande preocupação da alínea
a) é da existência de tribunais administrativos na tutela de direitos fundamentais na tutela.
Este poder jurisdicional vai até à fiscalização da legalidade das normas - alínea d) do n.º1
do art.º4; questões de responsabilidade – als. f), g) e h); validade de atos contratuais – e).

No fundo há competência residual dos tribunais administrativos. Até agora


estamos a tratar de delimitação positiva da justiça.

Vamos agora ver a delimitação negativa da justiça. O que é que não está? Veja-se
o n.º3 e n.º4 deste artigo.

Neste momento, há abertura pontual de aplicação de regras de direito penal e de


direito privado no âmbito desta juridificação. Abertura à abordagem penal e civil das
relações jurídico-administrativas. Por exemplo, a questão das coimas no âmbito de ilícitos
de mera ordenação social em que esteja em causa a violação de normas de direito
administrativo. Por exemplo, em matérias relacionadas com urbanismo. Mas também há

28
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

a aplicação e competência destes tribunais em relação a casos especiais que envolvem


estes ilícitos, uma vez que estão relacionados com a Comissão Nacional de Proteção de
Dados.

Esta aplicação negativa da delimitação dos poderes dos tribunais administrativos


chama a atenção para o seguinte: os tribunais administrativos têm relação com outros
tribunais e com as competências de outros tribunais - por exemplo, com competências do
Tribunal Constitucional relativamente a matérias disciplinares ou determinação da
responsabilidade face às incompatibilidades dos membros do Governo.

“3 - Está nomeadamente excluída do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal


a apreciação de litígios que tenham por objeto a impugnação de:

a) Atos praticados no exercício da função política e legislativa;

b) Decisões jurisdicionais proferidas por tribunais não integrados na jurisdição


administrativa e fiscal;

c) Atos relativos ao inquérito e instrução criminais, ao exercício da ação penal e


à execução das respetivas decisões.

4 - Estão igualmente excluídas do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal:

a) A apreciação das ações de responsabilidade por erro judiciário cometido por


tribunais pertencentes a outras ordens de jurisdição, assim como das correspondentes
ações de regresso;

b) A apreciação de litígios decorrentes de contratos de trabalho, ainda que uma


das partes seja uma pessoa coletiva de direito público, com exceção dos litígios
emergentes do vínculo de emprego público;

c) A apreciação de atos materialmente administrativos praticados pelo Conselho


Superior da Magistratura e seu Presidente;

d) A fiscalização de atos materialmente administrativos praticados pelo


Presidente do Supremo Tribunal de Justiça;

e) A apreciação de litígios emergentes das relações de consumo relativas à


prestação de serviços públicos essenciais, incluindo a respetiva cobrança coerciva.”

Independentemente destas relações, do que está determinado nos art.º3 e 4.º, será
importante a qualificação que fizermos da relação de base. Se a relação de base for
administrativa, a competência jurisdicional será dos tribunais administrativos. Também

29
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

dentro dessa delimitação negativa, importa não esquecer aquilo que é a previsão quanto
às coimas de contraordenação que não estão na jurisdição administrativa, com exceção
de urbanismo e mesmo da proteção de danos e indemnizações por expropriações.

Está fora dos direitos de impugnação tudo o que tem que ver com atos no exercício
da função política e legislativa.

Quanto à delimitação entre jurisdição administrativa e tributária, na primeira


instância os tribunais que vão aplicar o direito são os mesmos (tribunais administrativos
e tributários) e a forma mais fácil é pensar que serão fiscais as questões resolvidas pelas
normas fiscais se forem do âmbito e no campo da atividade fiscal. O plano material acaba
por ser relevante para se determinar a parte jurisdicional.

Quanto à jurisdição administrativa: remissão artigos 209.º e 212.º/2 CRP em que


se prevê a existência de uma jurisdição especial de natureza administrativa, havendo
algumas regras a ter em atenção:

(1) Em regra, as decisões dos Tribunais Administrativos


são tomadas por duas instâncias, sendo excecionais as
situações em que há uma terceira. Não se aplica a lógica
do duplo recurso, mas a do recurso duplo.

(2) Por outro lado, é muito excecional a situação do


Tribunal Central Administrativo decidir em primeira
instância e é excecional a decisão do STA decidirem em
primeira instância. As situações em que os tribunais
superiores decidem em primeira instância são
reduzidas.

(3) Podemos ficar com princípio de acordo com o qual só


tribunais administrativos têm mais decisões de facto e
Supremo Tribunal tem mais questões de direito. No
entanto, há várias circunstâncias em que conhecem de
direito e de facto. Os Tribunais em causa têm alçada.
Mais para frente vamos ver a matéria dos recursos e das
normas subsidiárias. O art.º7 ETAF determina que as

30
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

normas subsidiárias são as disposições comuns e normas


do CPC. Em relação à determinação do modelo de
alçada, veja-se o artigo 6.º ETAF.

Um ponto interessante é a fixação da competência dos tribunais que é feita na propositura


da causa – art.º5/1 ETAF. Se entrou num determinado Tribunal, é competente até ao fim.

18/02/2022

ORGANIZAÇÃO DA JURISDIÇÃO ADMINISTRATIVA

1. A padronização do regime da organização dos tribunais administrativos

Quanto à organização da jurisdição administrativa: temos que olhar para o art.209º e


art.212º/1 CRP, em que se prevê a existência de uma jurisdição especial de natureza
administrativa, havendo algumas regras que devem ter em atenção:

- Em regra, as decisões dos tribunais administrativos são tomadas por duas instâncias,
sendo excecionais as situações em que há uma terceira;

Portanto, não se aplica a lógica do duplo recurso, mas, pelo contrário, a lógica do recurso
único.

- Por outro lado, é muito excecional a situação em que o Tribunal Central Administrativo
(que ocupa o 2º lugar na hierarquia) decide na 1ª instância, e é também excecional a
situações em que o STA decide na 1ª instância. As circunstâncias em que os tribunais
superiores decidem em primeira instância são reduzidas.

- 3ª ideia: podemos ficar com os princípios: os tribunais fiscais administrativos


(TAF) têm mais competência quanto às decisões de facto, e o STA quanto às questões de
direito, no entanto há várias circunstâncias que conhecem de direito e de facto. Os
tribunais em causa têm alçada. E há normas subsidiárias, art.7º ETAF, que são as
disposições relativas aos tribunais judiciais (as disposições comuns, as regras do
CPCivil). Determinação do modelo de alçada: art.6º ETAF. E a fixação da competência
dos tribunais é feita no início da ação, na propositura da causa; pode depois haver
alterações, mas se é competente vai até ao fim.

31
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

2. Os tribunais administrativos (permanentes e arbitrais)

Tribunais permanentes relativamente à jurisdição administrativa. Quais são? STA


+ tribunais centrais administrativos (Norte e Sul) + e os tribunais administrativos e fiscais
de círculo.

Começando pelo STA: sob 2 grandes formas: em secção e em plenário. No plano


das secções temos a secção de contencioso administrativo e, quando a decisão é tomada
em secção de contencioso administrativo, ela é assumida por 3 juízes. 1 deles será o
relator, não são obrigados a votar todos no mesmo sentido, por isso são em número ímpar,
e a determinação de questões para o plenário onde está uma composição mais ampla está
intimamente relacionada com conflitos de decisões. Quem vota contra pode fundamentar
o seu voto contra. O art.17º ETAF trata destas matérias.

O Tribunal Central Administrativo (TCA) é dividido em TCA Sul e TCA


Norte. O TAC Sul funcionará em Lisboa, e o TCA Norte no Porto. Estes Tribunais
Centrais Administrativos têm um modo de funcionamento muito relacionado com o modo
de funcionamento do STA. O julgamento de cada secção compete ao relator e a dois
outros juízes. As decisões são também tomadas em conferência.

Os Tribunais Administrativos de Círculo funcionam com base em juízes


singulares, tal como indica o art.40º, n.º1 do ETAF, sendo que apenas em situações
excecionais, haverá um funcionamento em tribunal plural, questões de maior
complexidade e de maior valor. Estes juízes do tribunal de círculo decidem questões de
facto e de direito.

Estes são os tribunais permanentes.

Os tribunais arbitrais são tribunais voluntários, baseados em compromissos


arbitrais, estabelecidos pelas partes contratuais que estão em conflito, uma ligação entre
os tribunais arbitrais por um lado, e a ideia de decisões relativas a questões de natureza
contratual.

Quanto aos contratos públicos, podemos ter a determinação de regras de


arbitragem, sendo que a arbitragem muitas vezes não tem um centro com competências
genéricas relativamente à mesma, no plano administrativo, existindo, no entanto, casos
que são de arbitragem obrigatória. Tem sido feito um caminho de maior abertura

32
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

relativamente à arbitragem administrativa, mas excluem-se as questões de grande valor


que envolvem avaliações de natureza técnica, e questões mais complexas. O que é
incompreensível para o Professor, porque a arbitragem corresponde a um meio mais
flexível, mais célere, com menos custos de resolução de litígios. As regras que se vão
aplicar à arbitragem administrativa, serão as regras da lei da arbitragem voluntária, que
tem uma aplicação geral relativamente a estas matérias.

3. A repartição de competências entre os tribunais administrativos

Quanto à divisão de jurisdição que é feita de acordo com a competência: podemos


ter uma repartição em razão da matéria, uma determinação de competência em razão da
matéria que está em causa.

Os tribunais administrativos de círculo são aqueles que decidem em 1ª instância


relativamente a questões relacionadas com relações jurídicas administrativas. E, portanto,
estes, decidem em 1ª instância, TODAS as questões do âmbito de jurisdição
administrativa, com exceção daquelas que estão reservadas a tribunais superiores. P ex as
determinadas no 24º n1 ETAF; atos ou omissões de altas entidades do Estado como o PR,
CM, PM, TC etc; pedidos relativos a eleições, de forma residual, quando não haja lei
especial em sentido contrário; ou pedidos relativos à execução das suas decisões.

Para os tribunais centrais tem que se fazer uma análise do art 37º ETAF, desde
logo, por princípio são estes os tribunais de recurso das decisões dos Tribunais
Administrativos de Círculo, a não ser que a lei disponha em sentido contrário. Ainda, atua
sobre as ações de regresso fundadas em responsabilidade por danos resultantes do
exercício das funções dos juízes alínea c) do 37º, assim como são o tribunal de recurso
das decisões de arbitragem.

STA: nº2 do 25 também atua como tribunal de recurso, recursos de revista, sobre
acórdãos dos tribunais centrais administrativos, bem como das decisões de tribunais
administrativos de círculo. Nº2 do 25º pronuncia-se quanto ao sentido a dar por uma
questão de direito nova que suscite dificuldades sérias e se possa vir a colocar outros
litígios. Olhando ao artigo 25.º, nº2, para o pleno do contencioso administrativo do
Supremo Tribunal Administrativo, ele deve-se pronunciar sobre questões que devem ser
resolvidas pelo tribunal administrativo de círculo, mas que são questões novas, que
podem vir a ter relevância depois. O objetivo é que fique ali uma diretiva judicial.

33
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Para além destas determinações, não esquecer que a lei 114/2019 veio determinar
a possibilidade de existir especialização em função da matéria. Podendo existir e
admitindo-se juízos de competência especializada à que juízos? Juízes de questões
comuns, sociais em que estão em causa questões relacionadas com a proteção social,
contratos públicos, responsabilidade civil, urbanismo e proteção do ambiente, e
ordenamento do território.

N2 do art 9º ETAF refere uma possibilidade importante que é a de nos tribunais


administrativos de círculo, e os tribunais tributários, poderem funcionar de forma
agregada podendo assumir a designação de TAF.

Ainda quanto à matéria dos juízos administrativos especializados, ver a


determinação em relação ao juízo administrativo comum, o art. 44.º-A, n.1 nas suas
alíneas a), b), c) e d) enumera as competências destes juízos.

Voltando ao STA e aos TCA.

Relembrar que o STA tem um funcionamento em secção de contencioso


administrativo, e tributário; e tem um funcionamento em plenário (o funcionamento em
plenário vai ser assumido pelo Presidente do tribunal, pelos Vice-Presidentes, e por outro
juiz de ambas as secções, os 5 juízes mais antigos de cada uma das secções). Avulta nas
competências presentes no STA a determinação de recursos para uniformização de
jurisprudência, para isso tem que existir contradição entre a mesma, contradição entre
ambas as secções do STA, pertencendo a legitimidade para interpor este recurso de
uniformização ao MP no prazo de 30 a partir do momento em que foi determinado o
acórdão que está em oposição a um anterior.

Quanto aos tribunais centrais administrativos, notar que eles conhecem de


questões de facto e de questões de direito. Funcionam em secções administrativas e
tributárias. E têm uma secção de contencioso administrativo, e outra de contencioso
tributário. Relembrar que são competentes quanto aos recursos das decisões dos tribunais
administrativos de círculo, para as quais não seja competente o STA.

São competentes também quanto aos recursos dos tribunais arbitrais, das ações de
regresso quando estão em causa juízes, dos tribunais administrativos de círculo e dos
tribunais tributários, assim como de magistrados do MP, são competentes quanto à

34
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

execução das decisões que tenham sido proferidas em 1ª instância pelo tribunal
administrativo de círculo, e têm uma competência que pode ainda vir a ser determinada
por lei.

Esta é a distinção relevante quanto à competência em relação à matéria.

Competência quanto à hierarquia: é admitido recurso, e em princípio existindo


um duplo grau de jurisdição, a regra é o duplo grau de jurisdição. pode existir um triplo
grau de jurisdição. Regra: há um recurso. Excecionalmente, podem existir 2 recursos.

Da decisão do Tribunais Administrativos Círculo há recurso para a secção de


contencioso administrativo do tribunal central administrativo, é o que prevê a alínea a)
do 37.º ETAF. No entanto, é possível que sucedam recursos diretos para o STA, essas
circunstâncias vão sendo referidas na lei, tal como se prevê no n.º2 do 24º ETAF. É no
fundo o recurso (de revista) que se faz sobre questões de direito mais complexas e de
valores mais elevados. Portanto, em regra: recurso para o tribunal central administrativo,
também pode ser para o STA para a sua secção de contencioso administrativo para as
questões mais complexas.

Mas atenção que se está perante lógicas de recursos direitos (ou para o TCA ou
para o STA).

As decisões tomadas pelos Tribunais Centrais Administrativos podem ser alvo de


recurso para o STA - art.24º, nº1, g). Dentro da lógica do n.º2 desse artigo. Pode haver
recurso dentro do próprio STA, quando há matérias decididas em 1ª instância, em secção,
al.a) do n.º1 do 25º. Outra circunstância em que pode existir recurso dentro do STA é
quando é necessária uniformização de jurisprudência. b) do n.º1 do 25º.

A uniformização de jurisprudência pode se dar quando há necessidade face a 2


acórdãos do STA, OU a 1 acórdão do tribunal administrativo de círculo com o tribunal
central administrativo OU a um acórdão entre o Tribunal Administrativo de Círculo e
decisões do STA.

Competência quanto ao território:

Há regras que são gerais, que não geram dúvidas quanto à sua aplicação que
devem ser genericamente respeitadas e que estão determinados no 16º do CPTA.

35
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Regras: genericamente, os processos são intentados no tribunal da residência


habitual ou da sede do autor. Havendo vários pode ser na sede de um deles. Quando há
bens imóveis, no local onde eles estão - art.17º CPTA. Quando temos situações
contratuais, como grave incumprimento do contrato. E depois há ainda outras regras de
competência territorial: no contencioso eleitoral, será competência o órgão jurisdicional
(tribunal) da área da sede do órgão cuja eleição se imputa. Por exemplo, se for AR, é
Lisboa.

Ler (para entender a competência territorial) 16º + 20º CPTA.

Matéria de responsabilidade via ser da competência do local do ato.

Contencioso dos procedimentos de massa, as ações devem ser propostas no


tribunal da sede da entidade demandada nº2 do 29º CPTA.

Quando há questões prejudiciais que têm que ser decididas no âmbito do


contencioso administrativo, quem a deve colocar perante o tribunal europeu é o STA.

Vistas as regras, vamos para o que está determinado quanto à resolução de


conflitos de jurisdição e de competência.

4. A resolução de conflitos de jurisdição e de competência

Ver o que está determinado quanto à resolução de conflitos de jurisdição e de


competência. Para o efeito:

Quando há conflitos de jurisdição com outras jurisdições distintas da


administrativa, tem que se recorrer a um tribunal de conflitos, cuja presidência estará ou
no STJ ou no STA, e tem que ser composta por mais 1 juiz do STA e do STJ.

Quando o conflito envolve o tribunal de contas, preside o STA com 2 juízes de


cada um dos tribunais.

Também podem existir conflitos que envolvam a jurisdição tributária: n.º3 do art.º
97 CPPT. Mas reparar: “entre os tribunais centrais administrativos e os tribunais
administrativos de círculo, e tribunais tributários”. Quando seja questão de não tributário,
quem decide é o STA.

36
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quando aos presidentes dos Tribunais Centrais administrativos, art.º36º, n.º1, al.t)
conhecer dos conflitos de competência entre tribunais administrativos de círculo,
tribunais tributário, ou juízos de competência especializada da área de jurisdição…..

Quanto aos conflitos de competência, isto é, dentro da própria ordem


jurisdicional administrativa, é de atentar no artigo 23.º, nº2 ETAF. Pode, em certos
casos, haver a possibilidade da invalidade de decisões dos tribunais que não tenham
competência material para as determinar.

5. Estatuto dos juízes e do Ministério Público

JUÍZES

Papel dos juízes, dentro do processo administrativo. Relembrar as garantias e


incompatibilidades determinadas no art.216º CRP.

Desde logo, o princípio da irresponsabilidade dos juízes quanto à tomada das suas
decisões. Genericamente, o art.57º refere-se aos juízes aos juízes da jurisdição
administrativa e fiscal como um corpo único, que se regem pela CRP, pelo ETAF e pelo
ETJ.

Ver os artigos 61º e ss. - regras específicas relativamente ao preenchimento de


vagas, à permuta, ou ao quadro de magistrados.

Os juízes e os magistrados desta área contactam com o Conselho Superior


dos Tribunais Administrativos e Fiscais, que tem competência quanto à nomeação e
disciplina dos juízes. As competências deste Conselho estão presentes no artigo 74.º, e
quanto à sua composição importa atentar no artigo 75.º.

O MP

Tem um estatuto que vem nos arts 219º, 220º CRP. Desde logo é visto como
representante do estado em juízo, genericamente. E goza do estatuto próprio de
autonomia, determinado nos termos da lei, e tem um órgão superior que é a procuradoria
geral da república.

Também existe um Conselho Superior do MP. Não é o órgão de soberania. Vai


ter menos eleitos pela AR, e menos eleitos pelos próprios magistrados do MP. E é

37
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

presidida pelo procurador-geral da república. Este conselho superior não pratica atos
materialmente jurisdicionais, tal como acontece com o próprio MP.

O MP tem funções fundamentalmente de defesa da legalidade e de representação


do Estado. Ao mesmo tempo, vai acabar por ver reconhecidos amplos poderes de natureza
processual. O MP tem especiais poderes processuais que são determinados na legislação
respetiva no plano administrativo.

ATENÇÃO: a ideia de intervenção do MP, vai ser diferente na jurisdição


administrativa. Aqui, o MP (mais do que 1 representante do Estado) deve ser visto como
um sujeito processual com amplos poderes que vamos ver.

O MP tem especiais poderes de natureza processual, desde logo é o MP o titular


da ação pública através da sua iniciativa de natureza processual. Isto pode ser visto na al
b) do n1 do 55º b CPTA à legitimidade ativa para impugnar…+ art 73º n3 e n4 quanto à
possibilidade impugnação de normas + 68º n1 b) quanto à condenação à prática de ato
devido + 77º condenação para a emissão de normas + 77º b) sobre ações relativas à
validade de execução de contratos + 164º nº1 sobre a execução para prestação de facto ou
de coisas + 113 n1 tudo do CPTA em relação às providências cautelares.

O papel do MP não é igual à lógica que vemos noutros ramos do Direito, mas além
de titular da ação pública com iniciativa processual, tem legitimidade ativa, isto é, pode
propor intervir em processos principais e cautelares quando esteja em causa a defesa de
alguns valores constitucionalmente protegidos.

Ainda na perspetiva daquilo que são os poderes do MP, o nº2 do art.º104 prevê a
possibilidade de atuar em relação a intimações (por exemplo, para que possa exercer uma
ação pública, intimar a Administração à prestação de informações ou à passagem de
certidões).

Recursos art 141º o MP pode interpor recurso ordinário e decisão do STA (n1)
REMISSÃO para o art 73º, n.º3 e n.º4 (que em relação à declaração de ilegalidade com
força obrigatória geral de norma prevê possibilidades de intervenção para o MP).

Continuando os poderes do MP: recursos extraordinários (155º) + 135º


possibilidade de intervenção no âmbito de conflitos de jurisdição.

38
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quanto à instância, e quando estejam em causa a impugnabilidade de atos


administrativos, o MP no exercício da sua ação pública, pode assumir a posição de autor
requerendo o seguimento do processo que tem de terminar por desistência ou outra
circunstância própria do autor. O autor desiste, mas pode o MP assumir ele próprio o
lugar de autor. Art.62º CPTA.

O MP está sujeito a um princípio de cooperação e boa-fé processual. De que


forma? Todas as entidades públicas ou privadas, devem fornecer ao MP os elementos, e
prestar a colaboração necessária, para que este possa exercer a ação pública. E este (o
MP) em caso de recusa, pode solicitar ao tribunal que seja competente, a declaração de
recusa ilegítima de colaboração à descoberta da verdade, e propor sanções previstas na
lei processual.

Portanto, ao olharmos para o MP vamos ter que tomar em atenção que ele deve
ser visto como um auxiliar de justiça. No fundo, o MP, de uma forma imparcial, defende
DF, defende valores comunitários, ou interesses públicos relevantes assumindo poderes
que sejam poderes processuais nas ações administrativas muitas vezes substituindo os
particulares. Por exemplo: nas ações administrativas impugnatórias de atos
administrativos, tem o MP um poder de pronúncia na fase preparatória sobre o mérito da
causa. Incluindo, aliás, a possibilidade de arguir vícios relativamente ao ato
administrativo, (não invocados na impugnação e emitindo pareceres sobre necessidade de
instrução – capacidade de se ir buscar a prova) assim assumindo posição processual
própria (quem tem em relação aos recursos, art 156º, 152 n.º7) bem como em relação à
execução de sentenças (176º n.º1).

O MP pode também exercer poderes de representação do Estado, ver 51º e 52º


ETAF. ). O Ministério Público pode vir a representar as Autarquias Locais, Regiões
Autónomas e outras pessoas coletivas de direito público. O Ministério Público pode
também assumir a defesa de interesses patrimoniais do Estado, mas não o deve fazer;
quem o deve fazer são os advogados externos ou internos à própria Administração
Pública. Isto é assim porque o Ministério Público vai assumindo cada vez mais a sua
autonomia no âmbito administrativo, que ultrapassa uma lógica de representação do
Estado e cada vez mais a de defensor da legalidade administrativa. O Ministério Público
deve ser visto como um defensor da legalidade administrativa cada vez mais.

39
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

GARANTIA DA TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA

Direito de acesso aos tribunais e ao próprio Direito, com o direito de obter uma
sentença num prazo que seja razoável e dentro de um processo que seja equitativo. 3º que
haja efetividade das sentenças proferidas.

Portanto, preocupações:

- dar direito aos administrados, direito de chegar a um tribunal,

- chegando, o direito de terem uma solução à sua questão em tempo útil

- e que haja efetividade nas sentenças que são proferidas

Art 20º CRP: acesso ao direito e tutela jurisdicional efetiva. Temos aqui um direito
geral, um Direito e Garantia dos cidadãos, de liberdade de acesso aos tribunais, para
defesa de direitos, mas também de direitos legalmente protegidos.

A parte da celeridade necessária está no nº5 deste artigo, prevendo-se que as


decisões devem ser decisões em tempo útil.

Tal como há o 20º, também é relevante nesta matéria: o 205º sobre o dever de
fundamentação das decisões judiciais, à sua obrigatoriedade para todas as autoridades, e
à necessidade de as sentenças serem executadas.

Uma questão: HÁ UM DIREITO AO RECURSO? O PROF diz que sim, mas


que não há obrigação ao recurso.

A tutela jurisdicional da atividade administrativa também tem previsões de


natureza constitucional, artigo 268º da CRP, sendo garantido aos administrados essa
tutela jurisdicional efetiva. Vai poder ser: impugnação de atos administrativos,
independentemente da sua forma, a determinação da prática de atos administrativos
(lógica da condenação da Administração à prática de atos) e adoção de medidas
cautelares.

Atenção: a questão do periculum in mora é especialmente relevante aqui nas


matérias administrativas.

40
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Legislação ordinária: art 2º, n.º2 do CPTA sobre o título “tutela jurisdicional
efetiva” desfia aquilo que os administrados designadamente podem obter dos tribunais
(anulação ou declaração de nulidade dos atos administrativos, condenação ou à prática ou
à não prática de atos administrativos, a declaração de ilegalidade de normas, o
reconhecimento de situações subjetivas, questões relacionadas com
interpretação/validade ou execução de contratos, intimações de intervenção para
administração, à tudo isto é possível para além da adoção de providências cautelares, à
luz do 2º CPTA.

Para isso, os tribunais vão ter que ter poderes especiais, e uma capacidade de
adaptação aos novos tempos, porque hoje nós podemos conhecer de relações poligonais
no âmbito do Direito Administrativo. Quando falamos de relações jurídicas é AB, mas
também podem existir relações em forma de polígono.

As relações poligonais chamam à atenção para a necessidade de PROTEGER


DIREITOS DE TERCEIROS. Isto acontece muito na lógica de normas jurídicas que
acabam por estar a defender interesses que vão para além dos interesses meramente
individuais. Nestas relações poligonais ultrapassa-se o caráter eminentemente bilateral do
processo. E olha-se cada vez mais para a necessidade de PROTEGER TERCEIROS.

E quer para as relações diretas quer poligonais, no plano do contencioso


administrativo, prevê-se ações: principais, cautelares, e executivas. É esta a distinção que
interessa.

Antes: especiais vs. comuns.

As especiais eram as mais relevantes. Hoje essa distinção, por reforma do


contencioso administrativo, foi alterada, e o que é mais relevante distinguir é: a existência
destas:

Importante: efetividade das sentenças que vai ser feita em relação à ação
administrativa (37º da lei do processo, já vimos as possibilidades de ação) mas também
em relação aos processos cautelares previstos nos 112º e ss CPTA. Ou ainda para a
execução de prestação de factos ou de coisas 162 ss que pode ser uma execução
espontânea por parte da Administração. Em qualquer um destes elementos, para além dos
inter individuais em causa, estarão naturalmente a defesa de valores coletivos.

41
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Compre agora ver a existência, neste plano, de um princípio da plenitude dos


poderes jurisdicionais.

- a jurisdição administrativa tem desde logo poderes de natureza declarativa,


acrescendo a ideia de anulação, e de condenação nas ações tradicionais (que são as ações
relativas aos atos administrativos, seja no plano negativo -impugnação, positivo -
condenação para prática ou omissão de ato).

No fundo, esta plenitude dos poderes jurisdicionais encontra a previsão legislativa


no 37º CPTA.

Nota: ART 37º É O ARTIGO MAIS IMPORTANTE!

Providências cautelares: atenção ao art.º112º, e há uma especialmente relevante:


para suspensão de eficácia de um ato administrativo ou de uma norma. Quando falamos
de normas falamos de normas administrativas, regulamentares. Também estão aqui os
embargos, o arresto, ou o arrolamento. Pode ser necessário neste âmbito, intimar a
Administração para que adote ou se abstenha de determinada conduta que possa colocar
em causa a decisão a tomar mais tarde.

Esta providências cautelares são preliminares relativamente à decisão final,


definitiva. São processos urgentes com forma de tramitação própria. Devem partir de
um requerimento feito pelas partes, que pode ser apresentado em vários momentos: antes
da entrada da ação principal, no momento da ação principal ou na pendência do próprio
processo.

Quanto aos poderes dos tribunais administrativos destas matérias: n3 do art 3º


CPTA que leva a que os tribunais devam admitir os meios declarativos que sejam
urgentes, que venham a ser necessários quanto aos meios cautelares que salvaguardem a
utilidade das sentenças. REMISSÃO do 3º n.º3 para o 157º (sobre a execução das
sentenças).

Âmbito processual administrativo: temos a existência de sanções pecuniárias


compulsórias, partindo para essa previsão do art 3º deste código; + para o 95º + 179º que
se referem à decisão judicial e aos seus limites.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Esta garantia que hoje temos no nosso ordenamento é uma garantia de controlo da
juridicidade de todas as atuações da Administração, que podem levar a situações de
conhecimento de mérito por parte dos tribunais. Esta lógica de controlo de juridicidade é
ampla e pode levar ao controlo de todas as atuações por parte da Adm. Em todas elas será
possível que exista uma lógica de conhecimento de mérito por parte dos tribunais.
ATENÇÃO: sem nunca colocar em causa, o âmbito próprio de valoração que a própria
Administração tem à sua mão.

Nesta lógica há poderes de substituição que podem ser previstos: não esquecer a
possibilidade de ações de intimação para proteção de DLG, bem como os poderes que já
referimos quanto à execução das sentenças.

Quanto à ação administrativa, em 2002, dividia-se em ação administrativa


comum, e ação administrativa especial. Na ação administrativa especial: encontramos
impugnação de atos, + ações relativas à invalidade de normas + e a possibilidade de
condenação da Administração à prática de atos + portanto, tínhamos no fundo: ação
administrativa especial como um regime especial de ação administrativa relativamente a
decisões administrativas unilaterais.

Portanto, estas ações administrativas especiais eram aquelas que acabavam por
assumir uma maior relevância. Tinham regras de tramitação específicas, podendo alias
essas regras cruzar com os comuns, e tinham um regime que era diferente do regime de
processo civil que vigorava em relação à ação administrativa comum, hoje nós temos uma
ação administrativa ponto final, não há distinção entre comum e especial, VER ART 37º.

Aliás, esta distinção entre AAComum e AAEspecial era uma espécie de mundo
ao contrário, porque as mais relevantes eram as que se encontravam na previsão como
ações administrativas especiais.

Agora a lógica é uma lógica distinta, porque em 2015 terminou-se a lógica


dualista, agora a distinção é outra: entre ação administrativa e os processos urgentes.

VER 97º CPTA quais os processos urgentes? contencioso eleitoral +


administrativo de atos praticados no âmbito de procedimento de massas + contencioso de
atos relativos à formação de contratos.

43
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Feita esta previsão geral, estão previstas regras especiais: quanto ao contencioso
eleitoral (art 98º) o prazo é mais extenso do que no artigo anterior - 7 dias a partir da data
em que seja possível o conhecimento do ato ou da omissão. E os prazos de contestação
de decisão do juiz são 5 dias para a Administração e 5 dias para a decisão do juiz ao
relator ou para este submeter o prazo a julgamento. Quanto ao contencioso de massas:
ART 99º (1 - Para os efeitos do disposto na presente secção, e sem prejuízo de outros
casos previstos em lei especial, o contencioso dos atos administrativos praticados no
âmbito de procedimentos de massa compreende as ações respeitantes à prática ou
omissão de atos administrativos no âmbito de procedimentos com mais de 50
participantes, nos seguintes domínios: a) Concursos de pessoal; b) Procedimentos de
realização de provas; c) Procedimentos de recrutamento.)

O prazo para a propositura de ação é de 1 mês, devendo ser apresentadas no local


da sede da entidade demandada; os prazos são mais largos: 20 dias para a contestação, 30
para a decisão do juiz ou do relator.

Quanto ao contencioso pré-contratual (artigos 100 e ss.) o prazo é de 1 mês para


qualquer pessoa ou entidade com legitimidade, e 20 dias para contestação e alegações e
10 para decisão do juiz ou do relator.

JÁ NÃO EXISTE regime das ações administrativas especiais no CPTA, mas


temos ações administrativas avulsas noutra legislação, por exemplo, caso de declaração
de perda de mandato local, por exemplo, perda de mandato de presidente da Câmara.
Quem tem iniciativa processual: MP, interessados, ou membros do próprio órgão
hierárquico. O MP tem mesmo um dever funcional de propor este tipo de ações. A
caducidade das mesmas é de 5 anos (está para além do mandato do próprio autarca por
exemplo). Outro caso de ações especiais: urbanísticas, p. ex. intimação para proibição de
alvará ou para licenciamento urbanístico. Quando há uma falta de decisão em tempo útil
do tribunal, o particular pode avançar com a obra?? Por outro lado, situações de
demolição não podem avançar, porque a demolição pode incidir sobre uma obra??

Chamar à atenção que se findo o prazo não existir decisão, o particular que tenha
pago as taxas, pode ver a obra ficar parada: nestas circunstâncias, pode ser a demolição
total ou parcial seja decretada é suspensa.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O 3º tipo é o das ações de indemnização contra magistrados, isto é, as ações de


regresso contra magistrados dos tribunais administrativos.

Outro tipo de ações que não são especiais (mas segundo VIEIRA DE ANDRADE) são
qualificadas, são as ações populares. E podemos ter ação popular local, social (de
qualquer tipo desde que com interesses sociais em causa) sendo possível a cumulação de
pedidos revistas nos art 21º e 24º n1 e), admitindo-se, aliás, essa cumulação mesmo
quando se esteja em fase de intervenções em tribunais de hierarquia distintas. Também
se permite aqui a cumulação sucessiva (modificação objetiva da instância, quando, por
exemplo, se junta a impugnação de atos administrativos e contratos conexos).

Também se permite quanto a este tipo de ações aquilo que chamamos como
cumulação sucessiva, isto é, uma circunstância de modificação objetiva da instância.
Quando, por exemplo, se junta a impugnação de atos administrativos novos, ou de
contratos que sejam conexos.

24/02/2022

PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Falamos dos princípios gerais em relação ao direito processual. Desde logo, numa
lógica do princípio do dispositivo ou da autorresponsabilidade das partes. Atenção: não
esquecer que Juiz é um terceiro. Em segundo lugar: o princípio do inquisitório e da
oficialidade. Ou seja, estão em causa naquelas discussões bens públicos que vão
transcender o interesse das partes, o interesse económico. Por essa razão, o Ministério
Público, grupos de cidadãos e, também, a Administração assumem uma posição distinta
do que acontece nas relações jurídicas processuais, pois é sobre elas que recai esta lógica
de poder-dever de prosseguir com o processo. Portanto, estudar os princípios do direito
administrativo processual é estar sempre entre estes dois pontos.

Vista, então, a referência geral, vamos aos princípios relativos à promoção e


iniciativa processual.

- Princípio da necessidade do pedido: o Tribunal só pode resolver a questão ou conflito


que exista, caso lhe seja solicitado.

45
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

- Princípio da promoção alternativa particular ou pública. Quando os processos sejam


iniciados por particulares, vale o princípio da livre iniciativa. Estamos perante um direito
disponível. Portanto, temos de certa forma aqui uma referência a um direito fundamental,
o que é evidente nas ações populares que surgem para defesa de valores e bens
comunitários. Já quando a iniciativa parte de uma entidade pública, a lógica do Ministério
Público está funcionalizada. Portanto, se nós olharmos para estes dois ângulos, vemos
que quanto à iniciativa processual, há ideia predominante do princípio da legalidade com
alguma discricionariedade. Notar que a intervenção do Ministério Público é diferente nos
vários exemplos de ações. A base da sua intervenção é o princípio da legalidade. Veja-se
que pode mesmo existir imposição legal de promoção da imposição pelo Ministério
Público. Artigo 73º/1, 3 e 4 do CPTA. Muitas vezes, também, para além do Ministério
Público, podemos ter intervenção de uma Autoridade Pública que tem poderes de
fiscalização específicos sobre uma qualquer atividade. Pode, também, acontecer que
entidades administrativas que não tenham legitimidade própria solicitem intervenção de
autoridade pública. Art.º55/1/e) do CPTA.

Fora destas circunstâncias, surge a defesa de direitos, liberdades e garantias ou a


ideia de promoção de interesses públicos. Isto está presente no art.º4 do Estatuto do
Ministério Público. O Ministério Público serve para proteger o interesse público.
Portanto, não se pense que o Ministério Público tenha intervenção apenas com base em
certos interesses particulares. Se formos ao art.º9 CPTA ou art.º78 (remissão), há aqui
uma intervenção de interesses comunitários. No art.º141 CPTA, pode-se encontrar uma
ideia quanto à interposição de recurso de sentido de oportunidade na intervenção que o
Ministério Público faz.

Passada esta fase dos princípios quanto à propositura, o outro tipo de princípios
são os relativos quanto ao âmbito do processo.

O primeiro será o princípio da resolução global da situação litigiosa. O objetivo


do processo será o de alcançar a satisfação por inteiro dos interesses das partes. É
precisamente por esta razão que há abertura razoável para cumulação de pedidos. Essa
cumulação de pedidos pode ser originária ou sucessiva, sendo sucessiva se houver
modificação objetiva da instância. Isto pode suceder mesmo em relação a diferentes
normas de processo, isto é, com processo urgente. Esta lógica de resolução global do
litígio vai estar relacionada com o conhecimento oficioso dos vícios na impugnação do

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

ato administrativo e há vários artigos no CPTA que são relevantes quanto a esta lógica de
repercussão global. Por exemplo, no art.º164/3, relativamente à execução de factos ou
coisas, está uma ideia de resolução global.

No mesmo sentido, o n.º1 do art.º167 refere situações em que a Administração


não está a executar sentença. Especialmente, quanto às anulações de sentenças de ato
administrativos, mais uma vez pedir declaração de nulidade, bem como a anulação – n.º5
do art.º176 CPTA. Por fim, o n.º2 do art.º179 ainda neste âmbito prevê solução de acordo
com esta ideia de globalidade.

O segundo princípio é o da vinculação do juiz ao pedido. O tribunal só se pode


pronunciar sobre o que é solicitado pelas partes, a não ser que esteja numa situação de
conhecimento oficioso. Por exemplo, a matéria de nulidade de atos administrativos. De
todo modo e, em princípio, o tribunal não deve conhecer da modalidade de ato ou norma
diferente das que foram impugnadas. Não pode haver lógica de excesso de impugnação
judicial. Nas providências cautelares, o juiz não pode estar limitado à providência pedida,
deve decretar uma outra (o que tem sentido porque se quer intervir em situações em que
se podem gerar efeitos que não se pretendem). Ver também o art.º131/1 CPTA.

Portanto, de certa forma que existe aqui uma distinção entre a lógica das
providências cautelares e das decisões que são definitivas. É possível na própria
providência cautelar antecipar a decisão da decisão principal. Art.º132/5 CPTA e art.º121
CPTA.

Lógica distinta é a lógica das indemnizações. O art.º45 refere situações em que é


possível a modificação do processo. Quando se determina que a pretensão que o autor
quer é fundada, mas há impossibilidade de satisfazer os seus interesses, o que é que vai
fazer o juiz? Reconhecer a razão do autor, reconhecer que há situação que obsta à
aplicação da sentença no fundo com aquilo que era pretendido pelo autor. Vai-se para a
indemnização.

Terceiro princípio: princípio da limitação do juiz pela causa de pedido. Qual é


a consequência deste princípio? A decisão que seja tomada no processo administrativo
tem que estar baseada em factos concretos que sejam fundamentos concretos do efeito
jurídico pretendido. Isto para chamar a atenção do efeito jurídico pretendido com o
pedido. Logo, este princípio é aquele que relaciona o âmbito do processo com o seu

47
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

elemento de natureza factual. O juiz é livre para conhecer o direito. Os factos têm que ser
aqueles que realmente existem, que são aqueles trazidos para o processo.

Notar que este princípio não deve ser entendido no sentido absoluto. O art.º75
CPTA refere que o juiz pode decidir com fundamento na ofensa de princípios ou normas
jurídicas diversos daqueles cuja violação tenha sido invocada. É uma lógica de abertura
da intervenção do juiz. Por exemplo, quanto à impugnação administrativa de atos. O juiz
pode conhecer oficiosamente qualquer vício que aquele ato tenha. Este princípio
relativamente aos atos e lógica da causa de pedir deve ser entendido com as cautelas
necessárias.

Quarto princípio: Princípio da estabilidade objetiva da instância. Onde é que é


definida esta estabilidade? Na petição inicial, é logo no documento da petição inicial que
determina o quê? Determina não só o pedido, como também a causa de pedir. Art.º78/1 e
2 CPTA. Atenção: este princípio é facilmente compreendido, mas não é um princípio
absoluto. Por exemplo, o n.º4 do art.º51 relativo à questão da impugnabilidade de atos
administrativos. Podem acontecer circunstâncias em que a própria lei prevê uma alteração
da petição inicial com pedido suplementar, mais precisamente o de condenação da
administração à prática de um ato devido. Mas podemos ter circunstâncias de ampliação
ou substituição do próprio pedido. Art.º63 CPTA. Temos aqui um ampliar do pedido
inicial. Isto aplica-se também ao caso de formação de contratos. Exemplo: temos ato
administrativo impugnado.

Na pendência do processo, o ato impugnado é sujeito a uma anulação


administrativa, acompanhado de nova anulação. Caso o autor entenda que existam
ilegalidades, pode requerer que o processo continue. A prova produzida é aproveitada,
podendo o autor juntar nova prova. Vai ser essencial que a outra parte se pronuncie. Art.
4º/1 CPTA.

Uma outra circunstância tem que ver com condenação à prática de ato devido.
Art.º70/1 e 3 CPTA. Prevê-se a possibilidade do autor alegar com novos fundamentos,
oferecer novos meios de prova. Quando, na pendência do processo, seja proferido um ato
administrativo que não satisfaça integralmente a pretensão do interessado, o autor pode
promover a alteração do objeto do processo, para o efeito de pedir a anulação parcial do

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

novo ato ou a condenação da entidade demandada à prática do ato necessário à satisfação


integral da sua pretensão (Art.º70/3 CPTA).

Outra circunstância é a do art.º86 CPTA que se refere aos articulados


supervenientes e alteração da causa de pedir. Os factos que sejam supervenientes podem
ser chamados em novo articulado pela parte a quem aproveita até ao fim da discussão.
Esses factos são admissíveis, mas tem que se dar prazo à outra parte para poder responder.

Por fim, quanto ao MP, o n.º3 do art.º85 refere que nos processos de impugnação,
o MP pode invocar causas de invalidade diversas das que tenham sido inicialmente
devidas e solicitar diligências inovadoras quanto à realização da prova. Estas exceções
têm que ver com o modo como se deve tratar os factos jurídicos supervenientes. Não há
dúvida de que devem ser aceites nas ações para reconhecimento ou nas ações de prática
ou abstenção.

O problema acaba por estar nas anulações de atos administrativos. Existindo


evidentemente uma questão relativamente aos atos que não tenham sido executados,
devendo estar especialmente atento a duas situações: passar de válido para inválido ou de
inválido para valido. Há validade superveniente ou invalidade superveniente. Quando há
uma validade superveniente, em princípio, não se pode considerar que há aqui factos
novos. Qual será o interesse? O interesse poderá ter em atenção a anulação dos efeitos
que já deviam ter sido produzidos com a invalidade e requerer à Administração a prática
de um ato com conteúdo semelhante com aquele que tenha sido anulado, porque neste
caso a anulação acaba por ir de encontro a interesses públicos. A invalidade superveniente
chama a atenção para as alterações precisamente a partir do momento em que as mesmas
se sucedem, isto é, a partir do momento em que o ato se tornou inválido. Só não será
assim nos casos em que exista discricionariedade da AP na atuação. Ou seja, só se anula
as consequências que sejam obrigatórias; as que não são obrigatórias entram dentro da
discricionariedade da Administração e tem-se que fazer juízo de legalidade em relação às
mesmas.

Princípios relativos ao andamento do processo

O primeiro princípio é o princípio da tipicidade, compatibilidade processual e


adequação formal da tramitação. Quanto a estes princípios, eles são resultado de ideia
de tipicidade das formas processuais. Estão determinadas no CPTA e atenção que é

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

permitido a cumulação de pedidos, podendo aliás, essa cumulação aplicar-se mesmo


quando haja uma correspondência com ação administrativa urgente. Consequência: os
atos processuais que levem a uma menor celeridade do processo devem-se cingir ao que
seja estritamente indispensável. Portanto, a ideia aqui presente é: não só a de que se tem
de utilizar formas processuais previstas no código, mas também o próprio código tem
válvulas de escape que podem juntar formas processuais diferentes, como, por exemplo,
um processo não urgente se transformar num processo urgente. A relação a este princípio
da tipicidade – o que interesse é ideia de adequação formal tal qual está prevista no
processo civil – no art.º265-A CPC. O que interessa é a adequação do processo ao litígio
presente.

Segundo princípio: princípio do dispositivo das partes que é limitado pelo


princípio do inquisitório, isto é, quem dinamiza o processo são as partes. São elas que
têm a posição inicial relativamente ao mesmo, sendo que têm sempre que respeitar alguns
limites. Quando não haja suprimento de exceções dilatórias ou não haja alteração da peça
nesse sentido, caminha-se para a absolvição da instância. Não há aqui um poder ilimitado
das partes. As partes não são “Dono e Senhor” da ação – art.º62 CPTA. Estamos numa
lógica impugnatória. O MP pode assumir a posição de autor. Pode requerer que o processo
continue quando tenha terminado por desistência que ainda não esteja transitada em
julgado. Por outro lado, relativamente às circunstâncias em que haja acordo do
interessado quanto à inexecução da decisão judicial. Para além desses casos, a falta de
execução de uma sentença leva a possível responsabilidade civil ou disciplinar da
administração. Mas pode suceder que se chegue à fase da sentença e o particular não
pretenda a sua execução.

03/03/2022

Quando falamos do princípio do dispositivo das partes fica evidente que quem
dinamiza a ação administrativa são as partes. Há vários artigos que o demonstram no
Código do Processo – no n.º7 do art.º87 na fase do despacho pré saneador (que é
estabelecido pelo Juiz, onde o Juiz pode solicitar aperfeiçoamento de articulados). Se não
forem supridas exceções dilatórias dentro do prazo determinado pelo próprio juiz,
determina a absolvição da instância. Contudo, as partes têm a possibilidade de as suprir.
Quem pode ter papel importante na ação é o MP, como mostra o art.º62 do Código do
Processo. Quando haja um fenómeno de não execução das decisões judiciais, poderá

50
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

encaminhar-se para uma situação de responsabilidade civil e disciplinar dentro da própria


Administração. Também é possível que se enquadrem essas situações numa lógica de
crime por desobediência qualificada.

Casos de intervenção oficiosa do MP – art.º62 e art.º103/5: as situações em que


não havendo confissão dos factos, há transação ou as circunstancias que são de verdadeiro
conhecimento oficioso. Pode no art.º95/3, o Tribunal identificar existência de causas de
invalidade diversas.

Esta lógica do princípio de dispositivo acaba por se ter que equilibrar com o
princípio do inquisitório que é tratado no código como dever de gestão processual, pelo
qual um juiz deve ativamente dirigir o processo, tomar as diligências necessárias para a
sua seguridade, recusar o foro dilatório, decidindo o litígio num prazo razoável.

Terceiro princípio relativamente ao andamento do processo: princípio da


igualdade das partes, da cooperação e da boa-fé processual. Este é um processo em
que todos pagam custas e em que a Administração pode ser condenada por litigância de
má-fé. Art.º6 CPTA. Deve-se juntar a necessidade de cooperação, prevista no art.º8/1 e 2
pela qual as partes devem abster-se de diligências inúteis e comportamentos dilatórios.

Princípio da audiência e do contraditório: estamos aqui estritamente numa


lógica de um DF. Releva, por exemplo, de acordo com o art.º57 CPTA. Para além do
autor do ato impugnado, têm que ser demandados os contrainteressados – todos aqueles
a quem o provimento do processo condenatório possa prejudicar ou que tenha interesse
legítimo na manutenção do ato.

Por outro lado, este princípio em que se determina o direito ao contraditório também está
presente no art.º85 CPTA, bem como no art.º85/3 de acordo com o qual o Tribunal tem
que se pronunciar sobre todas as causas de invalidade que tenham sido invocadas, a não
ser que tenham os elementos indispensáveis para o efeito. Quanto ao decretamento
provisório de uma providência, pode existir necessidade de direito à audiência, previsto
no art.º131/3.

Quinto princípio: princípio da devolução facultativa, que trata das questões


prejudiciais. Aqui o juiz pode decidir ou esperar. Não há uma lógica de paragem
obrigatória do processo. Art.º15/1 CPTA. Ponto curioso: no n.º2 está determinado que a

51
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

suspensão fica sem efeito se a questão prejudicial for da competência de outra jurisdição
e a respetiva ação não for proposta no prazo de 2 meses ou não der andamento do
processo. Seria uma forma de prejudicar a decisão.

Sexto princípio: princípio do favorecimento do processo. É necessário


interpretar e aplicar as normas processuais no sentido de favorecer o acesso ao Tribunal
e evitar situações que sejam de negação da justiça, como por exemplo os casos de excesso
de formalismo. Está vista de forma positiva no art.º7 CPTA. Lógica constitucional de
acesso à Justiça.

Por fim, o princípio da economia e celeridade processual é relevante na base


processual, retirando-se uma lógica de trâmites processuais complicados, desnecessários,
admitindo-se a necessidade de existência de um princípio material que é caracterizado
pela emissão de providências cautelares. Esta ideia de celebridade tem como base os
artigos 4.º e 5.º da CRP. Todos têm direito a decisão processual num prazo razoável e a
lei para defesa de DLG dos cidadãos deve garantir que o acesso a procedimento judicial
célere e prioritário. Art.º7-A CPTA; Art.º88 – características do despacho saneador.
Celeridade passa por decisão célere no despacho saneador. Um dos maiores problemas
da justiça em Portugal está estritamente relacionado com a demora dos TAF.

Todo o regime relativo a audiência final em que o juiz possa conseguir conciliar
as partes e que seja necessário o depoimento das partes por inquirição de testemunhas são
movidos por esta ideia de celeridade. A mesma está prevista no artº121. Quando o caso
seja simples ou haja urgência da sua resolução, é permitido mais cedo. Por sua vez, veja-
se o n.º5 do art.º132 CPTA. Quando o juiz demostre a ilegalidade do ato com efeitos no
processo principal, pode determinar desempenhar a sua correção. Vejam-se os artigos 45.º
e 45-A.º que tem que ver com a modificação do objeto do processo. A lógica aqui é
também a de ter uma atitude de celeridade na demonstração de que este princípio não é
apenas um princípio de política legislativa.

Princípios relativos à instrução do processo:

Princípio da investigação ou inquisitório ou verdade material: o juiz não tem


que se limitar aos factos que se tenham limitado ao processo pelas partes. O juiz tem aqui
um princípio de liberdade. Está evidentemente limitado pelo pedido ou pela causa de
pedir. Esta limitação tem que ser pelo que está expresso no pedido. Está também limitado

52
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

pelo respeito que tem que ter à ideia de tipicidade na tramitação. Não pode passar esses
limites.

Princípio da universalidade da prova. Tem limitações de natureza


constitucional, por exemplo há circunstâncias em que as partes podem ser dispensadas
para participar em atos processuais, mas a ideia que o Professor queria que fosse assumida
é que a instrução vai-se reger pelas regras de DPC, sendo admitidos todos os meios de
prova admitidos nesse DPC – Art.º90/2 CPTA. Quanto à produção de prova, ver o art.º118
especificamente quanto aos processos cautelares. O juiz recebe processo cautelar e pode
haver lugar a prova quando o mesmo a considere necessária. Caso não haja oposição aos
factos trazidos a processo pelo autor, eles presumem-se verdadeiros. No âmbito da
instrução, o juiz ou relator ordena as diligências de prova que considere necessárias para
o apuramento da verdade, podendo indeferir, por despacho fundamentado, requerimentos
dirigidos à produção de prova sobre certos factos ou recusar a utilização de certos meios
de prova, quando o considere claramente desnecessário (art.º90/3 CPTA).

Princípio da aquisição processual. A prova entrada em Tribunal pode aproveitar


não apenas à parte que invoca.

Princípio da livre apreciação das provas. Quem aprecia de forma livre as


provas? O juiz dentro dos poderes de gestão de processo. Art.º94/4 CPTA - liberdade para
apreciar a prova (a não ser que haja limitações). A prova tem que ser colhida de acordo
com uma lógica racional e com uma motivação. Tem sempre para este efeito que se
respeitar o princípio do contraditório. Atenção que há aqui elementos a ter em atenção.
Artº94/6. Reenvio do processo administrativo. Isso não obsta a que a causa prossiga. Pode
ate ter consequência. Mesmo não havendo prova de processo administrativo, os factos
podem considerar-se provados se a prova tiver sido provada como impossível ou de
grande dificuldade.

No mesmo sentido, numa exceção a este princípio de livre apreciação das provas,
temos o n.º2 do artigo 118.º CPTA que em relação aos processos cautelares refere que
quando não há oposição, se presumem verdadeiros os factos invocados pelo
requerente/réu.

Quanto ao quinto princípio que é o princípio da repartição do ónus da prova


objetiva: não há lógica do ónus da prova. Há objetivo de alcançar. O que pode suceder é

53
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

que quem não use a prova possa perder a sua pretensão. Este princípio de que não há ónus
da prova tem que ser visto com especial cuidado quando há impugnação de normas e atos.
Está em causa a conformidade ou não de uma solução administrativa de autoridade, de
exercício da autoridade. Sendo certo que não se pode exigir inicialmente ao autor a prova
total dow factos da sua pretensão de anulação, é preciso tomar em atenção também que a
Administração não pode ficar apenas com a preocupação de tomar as exceções. Se a
Administração tivesse que se preocupar com a prova das exceções que invocasse, existiria
presunção de legalidade da atividade administrativa. Seria uma circunstância em que o
particular ficava com todo o ónus da prova naquilo que se refere à ilegalidade do ato ou
norma Portanto, aqui quando estamos perante impugnações de atos ou normas, temos que
ter postura equilibrada, não podemos por o peso todo do ónus objetivo quanto a estas
matérias na parte que pretenda a declaração de ilegalidade de um ato ou norma.

A Administração também está adstrita ao ónus da prova necessário ou às


responsabilidades probatórias necessárias quanto à legalidade, juridicidade e adm de atos
favoráveis aos particulares. A Administração tem que provar a legalidade da sua
Administração. Caso a mesma seja provada, há reversão do ónus da prova que tem que
provar a sua ilegitimidade. Todo este quadro tem que ter em atenção tudo o que esteja
determinado em concreto. Temos que ter em atenção os elementos probatórios relevantes.
Toda esta questão do ónus da prova vai ter que ser decidido em concreto pelo juiz.

Princípios quanto à forma processual:

Princípio da publicidade das decisões: poderemos ver a partir do n.º2 do art.º30


os acórdãos do STA, TCA e Tribunais de Círculo são objeto de publicação obrigatória
em bases de dados de jurisprudência informáticos. As decisões arbitrais têm que ser
depositadas junto do Ministério da Justiça também para efeitos de publicação informática

Princípio da forma escrita, eletrónica e legalidade: o art.º24 refere-se à ideia


de processo eletrónico. Por exemplo, os atos processuais que devam ser praticados por
escrito são apresentados pela via eletrónica. O prazo é cirúrgico. É muito fácil comprovar
que falhamos o prazo, sendo eletrónico. Admite-se audiência final. Apesar de ser
essencialmente eletrónico, admite-se, apesar de tudo, audiência final (quando haja
prestação de depoimento de parte, necessidade de inquirição de testemunhas e de
esclarecimentos dos peritos). Se nada disto for necessário, em regra, o processo é escrito.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O n.º2 do art.º105 referindo-se ao contencioso pré-contratual prevê a possibilidade


de alegações – n.ºs 5 e 4 do art.º62 CPTA. Também quando é objeto e é necessário fazer
audição, preveem-se regimes especiais (art.º110/3) em que se permite a promoção através
de qualquer meio de publicação que se demonstre como meio adequado.

Princípio da fundamentação obrigatória das sentenças: art.º205/1 CRP.


Continua no n.º3 do art.º94 que prevê que o Juiz na exposição de fundamentos deve
discriminar os factos provados e não provados, analisando as provas, indicando a
fundamentação da sua decisão. Esta fundamentação é mais relevante nas decisões
constitutivas, mais do que nas meras decisões de anulação.

Terminamos a parte geral do processo administrativo.

AÇÃO ADMINISTRATIVA

Vamos agora ver uma parte especial em que vamos tratar da ação administrativa.

Há um artigo que é muito importante: art.º37 CPTA. Determina casos que


seguem a forma da ação administrativa de acordo com enumeração meramente
exemplificativa (“designadamente”). O que é que é importante? Que os litígios dos
tribunais administrativos (relativos a relações jurídicas administrativas já vimos). Esta
forma é a forma existente para a ação administrativa. Deixou de ter sentido a decisão entre
a ação administrativa comum e a ação administrativa especial. A distinção no fundo faz-
se com processos urgentes. A grande distinção será entre processos urgentes e não
urgentes.

Art.º37/1 CPTA: a primeira é da impugnação de atos administrativos. Lógica do


recurso de anulação. Sendo o processo administrativo mais de impugnação de atos
administrativos. Depois temos condenação da AP à não omissão de ato ou prática de ato.
As três primeiras alíneas estão na lógica do ato administrativo.

Logo a seguir, vem, dentro da ideia dos atos, a impugnação da legalidade de


normas. Portanto, normas de natureza não legislativa face a normas de natureza
legislativa. Depois, vem a questão da condenação da Administração a emissão de normas.
Depois temos ações para reconhecimento e depois uma referência genérica à adoção.
Ainda se salienta na alínea k) a responsabilidade civil das pessoas coletivas, alínea l)
sobre contratos e m) sobre relações administrativas. Importa ter em atenção a grande

55
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

abertura que as ações já previstas assumem. Por outro lado, não esquecer que a
enumeração é meramente exemplificativa.

Assume especial relevância a lógica de impugnação dos atos administrativos. A


impugnação passa por lógica de controlo de invalidade. Declaração de invalidade, de
inexistência ou determinação de anulação que será quanto aos vícios possíveis bastante
relevante. Isto leva a distinção entre sentenças declarativas (as de nulidade e inexistência)
e constitutivas (relativas à anulação). Um processo de impugnação de atos administrativos
é complexo desde logo pela determinação do conceito de ato administrativo. O que será
um ato administrativo? Atos de autoridade que visem produzir efeitos externos numa
situação individual e concreta, independentemente da forma. Os atos podem ser
praticados por via de leis ou regulamentos. Há leis que não são gerais e abstratas e que
não são praticados atos. Nesses casos, deve-se usar a forma de impugnação dos atos
administrativos.

Possibilidade de poderem estar em causa normas regulamentares ou normas


legislativas. De fora desta impugnação, estarão os atos que sejam atos instrumentais
puros, as operações materiais de execução ou comportamentos como os avisos, isto é,
atos praticados na lógica do procedimento, mas que não tem efeitos quanto a terceiros.
Base do art.º51 CPTA em que se prevê atos impugnáveis e se refere que mesmo que não
ponham termo ao procedimentos, são impugnáveis os atos que durante o procedimento
tenham efeito perante terceiros.

Neste conceito de ato, estão naturalmente (art.º51/2) impugnáveis as decisões do


procedimento administrativo. Atos não podem ser requeridos noutro momento. Bem
como as decisões tomadas a outro órgão dentro da pessoa coletiva, mas que
comprometem a previsão quanto às competências da decisão. Alínea b) do n.º2 do art.º51
CPTA. Agora, estes atos que não põem fim ao procedimento e são impugnáveis, tem que
ser impugnados dentro do procedimento. Não vão ser impugnados quando ele termine.
Isto não invalida que na impugnação do ato final sejam impugnadas ilegalidades que se
sucederam durante o procedimento: quando isso releve a exclusão de um interessado no
procedimento ou quando se esteja perante um ato em que uma lei especial preveja uma
impugnação autónoma. O princípio é de que durante o procedimento deve-se impugnar
atos que vão produzir efeitos externos. Se isso não for feito, é possível fazer impugnação
do ato final nos casos de exclusão no procedimento, casos em que determine que existe

56
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

essa possibilidade estabelecendo uma circunstância de impugnação autónoma (para além


daquele procedimento).

Dentro dos atos impugnáveis, previsto no art.º53 – impugnação quanto a atos


confirmativos e de execução. Importantes as exceções no n.º2 e 3. São confirmativos os
que reiteram decisões anteriores com os mesmos fundamentos e há exceções, desde logo
quando o interessado não tivesse ónus de impugnar ato anterior – art.º53/2 e atos de
execução conteúdo decisório inovador – os atos ultrapassam execução.

Atos administrativos só podem ser impugnados a partir do momento em que


começam a produzir efeitos. Quando já estejam a ser executados ou quando seja muito
provável que o ato vá produzir efeitos no futuro, quando dependa de termo ou condição
suspensiva que é provável aparecer.

Outros casos especiais de impugnação: casos de impugnação de indeferimento


expresso. Aqui estão em causa não só um indeferimento expresso, como casos de recusa
de apreciação de indeferimento. Esta matéria é complexa com distinções na doutrina.

04/03/2022

Continuação das ações administrativas e olhar para os seus aspetos essenciais e


ver um bocado dos processos urgentes

1. Impugnação de atos administrativos

Na lógica da impugnação de atos administrativos: a IMPUGNAÇÃO DE ATOS


DE INDEFERIMENTO EXPRESSO. E quando falamos de indeferimento expresso
estamos a referir o indeferimento expresso propriamente dito ou a recusa de apreciação
considerando Vieira de Andrade que em relação a qualquer um deles estamos perante
verdadeiros atos administrativos, e como tal, estamos perante atos que podem ser sujeitos
à impugnação dos atos administrativos. O legislador não tem propriamente esta posição
que a doutrina sustenta.

Para esse efeito, vamos olhar para o n.º4 do 51º CPTA. Se contra um ato de
indeferimento expresso, ou de recusa de apreciação de requerimento, não tiver sido
deduzido o adequado pedido de condenação à prática de ato devido, o tribunal convida o
autor a substituir a petição, isto é, o legislador vem assumir aqui (leitura literal) uma opção

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

de acordo com a qual, no plano das ações administrativas, a solução adequada é esta de
pedido de condenação à prática de um ato devido. É uma interpretação literal, retira-se
do texto do artigo. No entanto, para Vieira de Andrade o que está no n.º4 do art.º51 não
exclui a impugnabilidade autónoma quando esteja em causa uma circunstância que nos
possa levar à nulidade ou à anulação. O n.º4 do 51º não exclui a solução de impugnação,
o que faz é a consideração da maior adequação através da ação de condenação.

Para Vieira de Andrade, aliás, não há qualquer espécie de dúvida da adequação


da figura da impugnação quando estamos a falar de atos de indeferimento parcial, porque
aí, de acordo com a sua posição, a solução legislativa então adequa-se completamente à
lógica quer da impugnação, quer da ação de condenação.

Com esta referência, estão vistas as possibilidades de intervenção através da ação


de impugnação dos atos administrativos.

Essas ações têm que ter uma causa de pedir, e se virmos no n.º3 do 95º, chegamos
à conclusão que o legislador português optou por uma visão objetivista dessa causa de
pedir. O tribunal deve pronunciar-se sobre todas as causas de invalidade que tenham sido
invocadas para o efeito, assim como deve encontrar causas de invalidade distintas.
Podem-se originar dúvidas, estamos a falar de validade ou de invalidade, ou de ambas,
provavelmente estamos a falar no sentido mais amplo possível para a admissibilidade
desta figura da impugnação. Abrange tudo.

Quanto à causa de pedir é isto. Passamos agora à Legitimidade. Esta pode ser ativa
ou passiva.

Quanto à legitimidade ativa:

A matéria da legitimidade ativa tem o regime previsto no art.55º e em relação à


mesma e numa ideia da ação, a alínea a) resolve logo o problema. Terá legitimidade de
impugnação quem alegue (BASTA que alegue) um interesse direto e pessoal, tem que
haver interesse na ação. Esse interesse está relacionado com uma potencial lesão
eventualmente a terminar em penal, nos direitos com interesses legalmente protegidos.

Portanto, está aqui presente uma ideia de benefício ou de lesão que se deve tomar
em atenção de acordo com a posição subjetiva de um determinado sujeito. A lógica é no

58
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

fundo a de um interesse particular. E com isto está também evidentemente presente que
alguém com base naquilo que é um ato inválido, retirou um benefício do mesmo.

Alínea b): ver a referência a “e entidades públicas e privadas" sendo que as


entidades privadas a que se está a referir são: associações que defende interesses ou direito
legalmente protegidos, dos seus membros, lógica de ação de grupo, abrangendo fins de
defesa dos interesses dessa coletividade que são precisamente os direitos ou interesses
dos seus associados.

Al. c): refere entidades públicas ou associações públicas que atuam nestes casos,
na defesa do interesse próprio, no âmbito de relações interna na Administração em que
esta associação esteja numa situação de sujeição (ideia que falamos de autoridade).

Al. d): refere a legitimidade de órgãos administrativos quanto a atos praticados


por outros órgãos administrativos dentro da mesma pessoa coletiva de direito público.
Aqui têm que estar em causa interesses pelos quais esses órgãos sejam diretamente
responsáveis.

E em qualquer um destes casos, estamos numa lógica de ação particular.

Já, se por exemplo, for no âmbito de uma ação particular, e se aplicar o n.º2 do
55º, não é necessário o interesse direto porque é qualquer eleitor que esteja no gozo dos
seus direitos civis e políticos, e há uma impugnação em relação a atos da autarquia em
que se encontre recenseado (note-se que uma pessoa está recenseada na autarquia onde
tem a sua residência).

Também se aplica esta matéria relativamente a entidades qual o texto da lei refere
– órgãos de Autarquias Locais, bem como entidades administrativas locais e outras das
quais dependam, sendo possível defender-se a inclusão do setor empresarial das
autarquias locais.

Ainda nesta lógica das ações populares, a alínea f) refere-se às pessoas referidas
no n.º2 do art.9º, referência a “associações e fundações defensoras de determinados
interesses em causa: as AL, o MP para defesa de valores…”

Por fim, no âmbito de uma ação pública, aparece a figura do MP. Aí vamos aplicar
a legitimidade da al b) do nº1 do 55º.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Para terminarmos dentro da lógica das ações públicas: a al. e) do 55º refere-se aos
presidentes de órgãos colegiais em relação a atos administrativos praticados pelos
próprios órgãos (….posição especial do presidente em relação a atos que é o próprio órgão
que vai aplicar).

Quanto à legitimidade passiva:

Regime dos contrainteressados - art.57º CPTA.

Para aquelas situações em que além da entidade autora do ato (que é essa que tem
legitimidade passiva à partida) são também demandados, aqueles que sejam
contrainteressados, ISTO É, a quem o provimento/a vitória do ato de impugnação possa
prejudicar OU todos aqueles que tenham um interesse legítimo no ato. Aqueles que não
tendo praticado o ato administrativo têm interesse na sua manutenção ou são prejudicados
pela sua não manutenção. Esta é uma figura com relevância própria no direito
administrativo. Mas as regras retiram-se dos artigos gerais sobre a legitimidade passiva
(art.10º especificamente no n.º2 bem como do seu n.º3).

Quando estejam em causa órgãos da mesma pessoa coletiva, a ação vai ser posta
contra aquilo que deu origem ao litígio, nº8 do art.10º.

Efeitos e prazo para se intentar ação de impugnação do ato administrativo:

Em princípio, a impugnação não suspende a eficácia do ato, e este princípio geral


pode ser ultrapassado. E muitos serão os casos em que há interesse em que possa vir a ser
ultrapassado e, portanto, se peça em tribunal a suspensão de eficácia do ato
administrativo.

Tendo ele sido praticado de forma coativa, relevante é: o interessado TEM QUE
pedir a suspensão de eficácia do ato, se não pedir, ela vai ser cuidada. Sendo esta a regra,
olhar para a exceção do n.º2 do art.50º em que a impugnação só por si suspende a eficácia
do ato quando esteja em causa apenas o pagamento de uma quantia certa que não tenha
por base uma lógica sancionatória. DESDE QUE tenha sido prestada uma garantia em
relação a esse montante (no processo tributário: se não se prestar garantia em relação à
liquidação, serve para Ação executiva). Portanto, para que haja suspensão do ato, a parte
tem que a pedir num processo de natureza cautelar.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quanto aos prazos, a nulidade não tem uma referência expressa de prazo, já a
anulação tem prazo, ou melhor tem PRAZOS: 1 ano (al. a), n.º1 do 58º, MP), 3 meses (b)
do n.º1 do 58º para todos os outros). A impugnação de atos nulos não está sujeita a prazo.

Os prazos aqui referidos são contados de forma contínua. N2 do 58º remete para
esse efeito do CC nessa determinação. Agora, há casos em que a impugnação vai ser
admitida mesmo que não se cumpra o prazo dos 3 meses. Quando haja justo impedimento,
quando haja uma situação de erro, contam-se 3 meses a partir da cessão do mesmo e há
uma cláusula curiosa que diz: vai ter que se julgar se a petição seria ou não exigível a um
cidadão normalmente diligente. Ainda há outra hipótese em que o prazo é superior a 3
meses: quando não tenha decorrido 1 ano sobre a sua prática ou publicação que seja
obrigatória e o atraso possa ser/deva ser considerado como desculpável. ATENÇÃO - as
razões referidas na própria lei para a falha ser desculpável tem que existir ambiguidade
do ato normativo, ou dificuldades ou tem que ser complicada a sua qualificação como ato
ou como norma. Há atos administrativos praticados através de normas. O legislador
preocupou-se em encontrar soluções em que se possa ultrapassar os 3 meses para não
ficar fechado num prazo curto de anulação que permitiria que um ato administrativo ilegal
fosse convalidado.

Este regime das válvulas de escape está intimamente ligado com a forma da
comunicação do ato ao administrador (relevante para efeitos de contagem do prazo
processual) tem que ser notificado, n.º2 do 59º. E a notificação pode ser feita ao
interessado ou ao ser mandatário. Agora, o que é que acontecerá quando há uma
publicação deficiente? Se não se der conhecimento do ato, se não há comunicação, ele
não é oponível à prática da legitimidade para o impugnar, portanto não temos prazo ou
seja não há prazo que possa ser contado para efeitos da impugnação.

Mas na comunicação, por exemplo, pode acontecer faltar um ou outro elemento,


por exemplo, pode faltar o autor, pode faltar a data, pode faltar o fundamento da decisão,
e, portanto, aí o que é natural é que se faça um requerimento para informação, e no fundo
intimação, que vai interromper a contagem do prazo. O que se devia pedir é a perfeição
do ato administrativo. Há quem defenda que o prazo se devia contar desde início, a partir
do momento em que o ato tenha sido comunicado de forma perfeita.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quanto à eficácia: é importante nas previsões do CPTA, por exemplo, n.º1 do 59º
refere-se que para a contagem do prazo de impugnação, o ato a impugnar tem que já ser
eficaz. Em linha com o que está no 54º. E portanto, só se deve começar a contar o prazo
de impugnação a partir do momento em que haja essa produção de efeitos.

Falando de outros efeitos: quais serão os efeitos da impugnação administrativa?


E aqui estamos numa fase anterior. Temos estado a falar da impugnação judicial,
passamos aqui a fazer referência à impugnação de natureza administrativa.

Vai haver também uma distinção a fazer na lógica entre o que é determinante para
efeitos tributários, e o que é determinado para efeitos do contencioso administrativo. N.º1
do art.º191 CPTA refere que a reclamação administrativa é uma possibilidade, deve ser
apresentada no prazo de 15 dias, e pode existir uma circunstância de recurso hierárquico
que em algumas circunstâncias pode ser necessário. Isto tem como consequência a
suspensão como está previsto no n.º4 do 59º Código de processo tributário. Só retomando
a contagem do prazo quando a decisão tomada a nível da impugnação administrativa, ou
quando passar o prazo legal para a Administração tomar a sua posição.

O facto de estar suspenso o prazo não quer dizer que o interessado não possa
também fazer a impugnação processual, podendo até pedir, caso seja necessário, a
existência de providências cautelares, n.º5 do 59º do CPTA.

A impugnação é meramente facultativa, caso seja necessário, vai ter como efeito
a suspensão do ato, isto é, quando estejamos perante impugnações administrativas que
sejam necessárias, a sua imposição leva à suspensão imediata do ato. Esta é outra
diferença em relação ao contencioso tributário. Caso ela seja facultativa, e o autor
pretenda a suspensão, tem que a pedir. Ou então, vai ter que fazer uma providência
cautelar, a solicitar essa mesma suspensão.

Não esquecer que estamos perante uma circunstância de suspensão do prazo, e


portanto, os mais rigorosos consideram que não há propriamente uma interrupção.

Portanto, quando haja decisão ou passagem do prazo de decisão administrativa, o


prazo judicial retoma a contagem tendo em atenção o tempo que anteriormente já tinha
sido esgotado. Deve-se considerar SEMPRE os dias que decorram ANTES.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

A sentença de uma impugnação judicial, será de declaração de nulidade ou de


constituição da anulação, trata consigo a retroatividade, tendo a Administração de
reconstituir a situação de facto, pois a sentença tem um efeito de caso decidido. E nem de
propósito, esta referência que fizemos vai ser interessante para entrarmos na figura da
condenação da Administração à prática de ato devido.

2. CONDENAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO À PRÁTICA DE ATO DEVIDO

Tomando por base o art.º37º, fazer as principais remissões a partir do art.37º. O


art.37º n.º1 a) diz respeito à impugnação de atos administrativos (já vimos). A alínea b)
refere-se à condenação à prática de atos legalmente devidos, ou de vínculo contratual
(temos duas matérias).

Começamos por ver dentro da AA, impugnação de atos administrativos, agora


vamos ver a condenação da Administração à prática de um ato devido.

Vai-se aplicar em relação a atos que tenham sido recusados (intimação do


particular para a prática do ato) ou em que exista uma emissão ilegal, n.º1 do art.º66.

Este n.º1 do art.º66 determina o regime geral que tem como objeto atos que sejam
pretendidos pelos particulares, quando exista uma omissão ou indeferimento ou recusa.

ATENÇÃO que esta condenação para a prática de atos devidos pode apanhar situações
de discricionariedade. Mas a Administração pode ser condenada a praticar o ato, não é
condenada ao conteúdo do ato que seja discricionário. Excluído deste pedido está: a lógica
da aplicação da ideia de boa administração.

O art.37º refere que tem que ser restabelecido nos termos da lei ou de um vínculo
que tenha sido contratualmente assumido ou concreto. Isto vai ter consequências na parte
da sentença, e a condenação à prática de um ato devido pode numa visão larga ser
condenação da Administração a executar uma sentença.

Nesta matéria de condenação da Administração à prática de ato devido, o


procedimento prévio e a existência de um requerimento do particular para que a
Administração pratique um ato, vai assumir relevância.

Quanto à matéria da legitimidade (ativa e passiva)

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

- Ativa: quem tenha titularidade no direito ou interesse à prática de um ato; o MP aqui


até de forma oficiosa quando haja dever de praticar um ato por parte da Administração e
esteja em causa a ofensa de direito fundamental ou de interesses públicos ou daqueles
valores referidos no n.º2 do art.9º, aliás há uma alínea que especificamente dá
legitimidade àqueles que defendem essas situações. Depois acaba por replicar a lógica do
que é legitimidade e podemos ler a determinação do n.º1 do art.º68 sempre numa lógica
parecida com a lógica da impugnação de ato administrativo.

- Quanto à legítima passiva, n2 do 68º: a entidade que seja responsável pela ilegalidade,
que não tenha praticado um ato devido, mas também contra interessados a quem a prática
do ato possa prejudicar. REMISSÃO do n.º2 do art.68º para o n.º2 do art.10º, estando em
causa entidade pública a parte demandada é a pessoa coletiva de direito público, e depois
tem as exceções gerais.

O prazo é determinado no art.69º CPTA: quando se esteja em situações de inércia


da Administração (casos de omissão de atuação), o prazo termina 1 ano contado desde o
termo do prazo legal estabelecido para a emissão do ato ilegalmente omitido. A
Administração tinha um prazo para praticar o ato, a partir daí conta-se 1 ano. Não é este
o regime que se aplica para os casos de indeferimento, portanto, temos casos de omissão
(data da prática que era devida + 1 ano), casos de indeferimento, o prazo contínuo vai ser
contado nos termos do 58º, 59º, e 60º e será então em regra 1 ano se for promovido pelo
MP, 3 meses para os restantes casos.

Art.70º CPTA: circunstâncias que podem levar à alteração da instância

Para quando tenha existido inércia da Administração ou recusa para a prática de


atos, o autor pode sempre alegar novos fundamentos bem como oferecer diferentes meios
de prova para ter provimento na sua pretensão, assim como se na pendência da ação for
praticado ato administrativo que apenas de forma parcial responde aos anseios do autor.
Este pode promover a alteração do objeto do processo, n.º1 e n.º3 do art.70º CPTA.

Quanto aos poderes de pronúncia do tribunal, a questão está na lógica da


separação de poderes. Em 1º lugar, a lógica que está presente nestas ações administrativas
é a de impor à Administração a prática de um ato que seja devido, n.º1 do art.71º.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Agora, pelo princípio da separação de poderes, há circunstâncias em que o tribunal


não pode impor o conteúdo do ato. Quando haja valorações próprias da função
administrativa, ou o próprio caso em concreto não permita a identificação de 1 ou apenas
1 solução quanto ao conteúdo (não é possível determinar apenas solução possível, não
pode a Administração nessas circunstâncias determinar em concreto qual o conteúdo do
ato a aplicar, porque há diferença entre o que é Administração por um lado, e jurisdição
por outro. Pode determinar que há um ato a praticar mas não pode determinar o seu
conteúdo em concreto).

3. Ações relativas a normas

IMPUGNAÇÃO DE NORMAS EMITIDAS AO ABRIGO DE DISPOSIÇÕES DE


DIREITO ADMINISTRATIVO

A 3ª Situação de que vamos falar, voltando ao art.37º, é a existência de ações


relativamente a normas que estão previstas de forma mais relevante na al. d) do n.º1 do
art.37º. Esta é uma matéria que foi tendo uma evolução clara que depende do modo como
se entende a Administração como Administração de prestação, como também os próprios
poderes dos tribunais de uma forma que ultrapassa a lógica meramente do ato
administrativo, mas que está prevista na nossa CRP, desde 1997, no art.º278, no n.º5 de
acordo com o qual os cidadãos podem impugnar normas administrativas com eficácia
externas que sejam lesivas dos seus interesses.

Portanto, interessa aqui fazer uma determinação de qual o âmbito desta espécie de
contencioso, e há uma relação direta quando estejamos perante regulamento de natureza
imperativa, ou quando se esteja perante circunstâncias que não sendo diretas (sendo
mediatas) lesem direitos ou interesses legalmente protegidos à esta é a posição de Vieira
de Andrade perante esta matéria.

Portanto, o pedido de emissão de norma, pode ter que ver com vícios próprios da
norma, ou por invalidade de atos praticados no âmbito do procedimento de aprovação. O
seu regime está no art.º72 e ss. CPTA.

Quanto à legitimidade ativa, o art.73º prevê mais do que 1 regime. Quando


estejamos perante a declaração de ilegalidade de uma norma, que seja imediatamente
operativa, ela vai poder ser pedida por quem seja diretamente prejudicado pela vigência

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

da norma ou possa vir previsivelmente a sê-lo em momento próximo, independentemente


da prática de ato concreto de aplicação. Al. a) do n.º1 do 73º. Também tem esse direito,
o MP, tal como órgãos colegiais, e em algumas circunstâncias qualquer cidadão eleitor, e
em relação ao direito prejudicado ler o n.º2 do art.72º e o n.º2 do art.73º.

O n.º2 do art.72º exclui a aplicação do n.º1 do art.º281 da CRP naquilo que se


refere à ilegalidade com força obrigatória geral, porque aí existe um processo próprio nos
termos constitucionais que está no art.º281, é esse que se deve aplicar, e não este. O n.º2
do art.º73 está em concordância com esta determinação? Há quem entenda que está em
contradição com o art.º72 e leva a uma situação de inconstitucionalidade, mas não é esta
a posição de Vieira de Andrade, porque, em 1º, há abertura no n.º5.

O art.º281 determina o processo de inconstitucionalidade ou ilegalidade das


normas, e o CPTA vem dizer que essa forma não se aplica para aqueles casos, temos que
ter uma abertura o mais ampla possível para admitir ações que ponham em causa a
ilegalidade de normas sejam de natureza legislativa sejam de natureza administrativa
(regulamentos como é o caso).

Colocação em causa de neutralidade de normas e também porque o art.º73 n.º2 se


refere a casos em que a ilegalidade vai ter efeitos circunscritos a um caso, não estamos a
falar de uma declaração geral de ilegalidade, e portanto, não haveria nesta circunstância,
de acordo com Vieira de Andrade uma circunstância de inconstitucionalidade, ou seja, o
art.º281 vai levar a uma declaração que não se restringe a um facto em concreto, ao passo
que este se vai restringir a um facto em concreto. Estamos a falar de coisas em concreto.

Al. b) do n.º1 do art.º73 refere-se à legitimidade do Ministério Público. O


Ministério Público tem um dever de pedir a declaração de ilegalidade com força
obrigatória geral quando tenha decisões com fundamento na sua ilegalidade e também
tem o dever de recorrer das decisões de 1.ª instância para garantir recurso quanto a esta
matéria. Relativamente a prazos, notar que declaração de ilegalidade das normas pode ser
requerida a todo o tempo, sem prazo, n.º1 do art.º74, mas já se a declaração de ilegalidade
tiver como fundamento uma ilegalidade meramente formal ou de procedimento, da qual
não saia inconstitucional, só posso ser pedida no prazo de 6 meses contados de forma
corrida.

66
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quando falamos nos poderes do MP, há casos de recurso obrigatório do MP, esse
recurso é para o STA.

E quanto à questão da suspensão da eficácia aplica-se o 130º, podendo o


interessado na declaração de ilegalidade, quando o efeito da norma seja imediato, requerer
a suspensão de eficácia da mesma para o seu caso em concreto – n.º1 do art.130º CPTA.

Relativamente aos efeitos da declaração de ilegalidade dessa decisão: os efeitos


são ex tunc, isto é, desde a data de entrada em vigor da norma, quando a decisão é de
declaração de ilegalidade. Podem razões de segurança jurídica levar a que o tribunal
determine que os efeitos serão apenas a partir do momento em que seja determinada em
concreto, a ilegalidade. Ilegalidade que vai ter uma força obrigatória geral, é em princípio
ex tunc a não ser que o tribunal determine o contrário. Quando tenha sido o lesado a
intentar a ação, mesmo que se aplique a exceção de os efeitos não serem ex tunc, têm que
ser eliminados os efeitos lesivos que a emissão da norma teve sobre o autor. Também
pode suceder que a causa de ilegalidade seja superveniente à emissão da norma e aí os
efeitos apenas se podem determinar a partir desse momento, porque antes a norma era
legal, só se podem contabilizar a partir do momento em que surge o elemento da sua
ilegalidade.

Condenação à emissão de normas é o 3º tipo, mas não existe em todos os


ordenamentos jurídicos. Na sua lógica está a fiscalização da constitucionalidade por
omissão de normas. Estaremos entre a liberdade da Administração e a necessidade de
defesa da legalidade. A legitimidade para este tipo de ações vai ser ampla, desde logo
pela posição que assume o MP, as entidades defensoras dos interesses do n.º2, não sendo
aqui muito a lógica de dar legitimidade ao prejudicado. Veja-se: “O Ministério Público,
as demais pessoas e entidades defensoras dos interesses referidos no n.º 2 do artigo 9.º,
os presidentes de órgãos colegiais, em relação a normas omitidas pelos respetivos
órgãos, e quem alegue um prejuízo diretamente resultante da situação de omissão podem
pedir ao tribunal administrativo competente que aprecie e verifique a existência de
situações de ilegalidade por omissão das normas cuja adoção, ao abrigo de disposições
de direito administrativo, seja necessária para dar exequibilidade a atos legislativos
carentes de regulamentação.”

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Efeitos: condenar a entidade que seja competente à emissão do regulamento em


falta, determinado o tribunal o prazo para o efeito, n.º2 do art.77º. Esse prazo pode ser
prorrogado, e pode o tribunal a determinar a possibilidade de uma sanção pecuniária
compulsória, n.º5 do art.º94. No fundo, é uma lógica de uma sanção pecuniária
compulsória: existência de compensação para a falta da Administração.

4. Ações relativas à validade e execução de contratos

Alínea l) do art.º37 (interpretação, validade ou execução dos contratos), quem terá


legitimidade aqui? Os pedidos relativos à validade, total ou parcial, de contratos podem
ser deduzidos: a) Pelas partes na relação contratual; b) Pelo Ministério Público; c) Por
quem tenha sido prejudicado pelo facto de não ter sido adotado o procedimento pré-
contratual legalmente exigido; d) Por quem tenha impugnado um ato administrativo
relativo ao respetivo procedimento e alegue que a invalidade decorre das ilegalidades
cometidas no âmbito desse procedimento; e) Por quem, tendo participado no
procedimento que precedeu a celebração do contrato, alegue que o clausulado não
corresponde aos termos da adjudicação; f) Por quem alegue que o clausulado do
contrato não corresponde aos termos inicialmente estabelecidos e que justificadamente
o tinham levado a não participar no procedimento pré-contratual, embora preenchesse
os requisitos necessários para o efeito; g) Pelas pessoas singulares ou coletivas titulares
ou defensoras de direitos subjetivos ou interesses legalmente protegidos aos quais a
execução do contrato cause ou possa causar prejuízos; h) Pelas pessoas e entidades nos
termos do n.º 2 do artigo 9.º.

A ideia é partir do princípio das partes, mas abrir a outras circunstâncias, portanto,
aquilo que se pretende é uma legitimidade alargada que chega mesmos a terceiros, 77ºA
CPTA

Quanto à anulabilidade, uma coisa é o pedido em concreto relativamente à


validade total ou parcial do contrato, outra é o pedido relativamente à anulabilidade – aí,
aplica-se de forma estrita o princípio da legalidade, só podem pedir aqueles que tenham
interesse na questão estabelecida pela própria lei. Já os pedidos quanto à execução do
contrato, podem ser pedidos pelas partes, mas também pelo MP, pelas pessoas referidos
no n.º2 do art 9º, por quem tenha sido preteridas no procedimento que levou ao contrato,

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

bem como pelos prejudicados que tinham interesses e direitos subjetivos contrários ao
estabelecido nas cláusulas contratuais.

Este art.77º, n.º3 também amplo, pode levar a litisconsórcio na parte passiva. Não
apenas na outra parte, mas também daqueles que podem ser beneficiados pelo clausulado
contratual.

Relativamente aos prazos, temos o regime do art.77º-B, mas que acaba por partir
das determinações do art.41º. O fundamento do art.º41º é: a ação administrativa pode ser
proposta a todo o tempo. Agora, o n.º1 do art.77º-B vem dizer que quando estamos a falar
da invalidade do contrato, cujo objeto pode levar à prática de um ato administrativo, deve
ser lido dentro dos prazos estabelecidos para a impugnação do ato 1 ano par o MP e 3
meses para as restantes situações.

Caso esteja a ser executado um ato administrativo, é possível que exista uma ação
administrativa no âmbito contratual, mas também por impugnação do ato.

Há então abertura à modificação do objeto do processo bem como à extensão do


regime no 45º-A.

5. Outros casos

Outros casos: RESPONSABILIDADE CIVIL - art.37º, n.º1, al. k) CPTA.

A legitimidade ativa para estes casos será de quem sofre o prejuízo efetivo pela
atividade ou omissão pública. Nos termos do art.º 52º n.º3 CRP, temos os casos de
associações que defendem determinados interesses. E a legitimidade passiva é de quem
pratica um ato que leve à responsabilidade civil.

O prazo será a todo o tempo, e pode suceder que em circunstância de ter aparecido
uma ação de responsabilidade civil da Administração por atos administrativos ilegais, o
tribunal conheça a título incidental da ilegalidade de um ato que já não pode ser
impugnado, n.º1 do art.38º do CPA. Competência do tribunal central administrativo, e de
acordo com as determinações do art.º95º quando não se consiga determinar por falta de
elementos a liquidação do montante pela indemnização devida, há uma fase em que são
ouvidas outras partes para esse efeito - n.º7 do 95º.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Voltando ao art.37º, temos as AÇÕES DE RECONHECIMENTO – alíneas (f)


e g)- são ações de simples apreciação, postas pelos interessados no n.º1 do rt.º39, mas
também temos ações de inibição, por exemplo a condenação à adoção ou abstenção de
comportamentos da Administração Pública ou por particulares (esta ação pode então
também ser posta contra particulares).

Quanto aos limites da decisão, aplica-se o regime dos números 5, 6, 7 do art.º95


em tudo o que tem a ver com a relação entre Administração por um lado e tribunais por
outro

Mas também pode existir CONDENAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO À NÃO


EMISSÃO DE ATOS ADMINISTRATIVOS, alínea c) do n.º1 do art.º37. Tem aqui
um papel muito importante por parte dos tribunais no julgamento do interesse em agir,
reparar no n.º2 do 39º. A condenação à não emissão de atos administrativos, só pode ser
pedida quando seja provável a emissão de atos lesivos de direitos ou interesses dos
particulares e esta via se torne imprescindível SÓ QUANDO se torne imprescindível para
defender interesses ou direitos é que ela vai poder aparecer.

Ainda no art.º37º/i) temos a CONDENAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO À


ADOÇÃO DAS CONDUTAS NECESSÁRIAS AO RESTABELECIMENTO DE
DIREITOS OU INTERESSES VIOLADOS, incluindo em situações de via de facto,
desprovidas de título que as legitime. Pode ser cumulável com a condenação de atos
administrativos.

Diferente é o caso da alínea j) que é CONDENAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO


AO CUMPRIMENTO DE DEVERES DE PRESTAÇÃO TÍPICA DE UMA
LÓGICA DE ADMINISTRAÇÃO DE PRESTAÇÃO, podendo ser considerada um
aspeto específico da condenação geral da adoção ou omissão de comportamentos por
parte da Administração.

Um pedido curioso: n.º1 37/n) CPTA sobre a RESTITUIÇÃO DO


ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA que pode impedir a restituição do indevido. Aqui
notar: especial atenção ao interesse público.

O legislador centrou no artigo 37.º numa lógica de confronto jurisdicional com a


Administração, porque como os particulares têm a previsão do n.º3 do 37º, refere-se por

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

exemplo ao caso de concessionários que violem vínculos que venham de normas ou atos
adotados, ou receio quanto a essa violação.

E notar que a al. e) prevê a possibilidade de se colocar em causa, relações jurídicas


entre entidades administrativas, é um contencioso para relações intra-administrativas.

PROCESSOS URGENTES

Ação administrativa urgente

A grande distinção que vamos ter na AA, tem a ver com a celeridade da decisão.
Entre Ação Administrativa Comum e as Ação Administrativa Urgente (artigo 97º). O
próprio legislador faz uma previsão de casos especiais deste processo urgente, em 1º
lugar: contencioso de atos administrativos em matéria eleitoral, al. a) do n.º1 do art.º97.
Em 2º lugar: procedimento por massa, b) do n1 do 97º. E em 3º lugar, os casos relativos
à formação de contratos, al c) do n1 do 97º.

O quê que se nota nestes processos urgentes? Há menos tempo para a prática de
atos processuais + prazos mais curtos de decisão + todo o processo está construído para
uma decisão célere.

Regras relativas ao contencioso do procedimento de massa, art.99º que se aplica


quando estejam em causa mais de 50 participantes, e se refira a concursos de pessoal,
procedimento de realização de provas, ou procedimento de recrutamento. O prazo é curto
para intentar a ação (1 mês), os prazos de contestação e decisão do juiz também são curtos
(20 e 30 dias).

O contencioso pré-contratual

E o 3º caso de contencioso urgente é no contencioso pré-contratual, em que estão


previstas ações de impugnação ou condenação à prática de atos administrativos que sejam
relativos a contratos de empreitada de obras públicas, etc. (condenação da Administração
à prática de ato devido). São considerados atos administrativos, os praticados pelas
entidades adjudicantes. Mais uma vez o prazo é curto, art.101º e 102º. Pode existir
impugnação de documentos conformadores do próprio procedimento. E em alguns casos
que estão no art.º103-A CPTA. O aparecimento do processo leva a uma suspensão
automática do ato.

71
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

“1 - As ações de contencioso pré-contratual que tenham por objeto a impugnação de atos


de adjudicação relativos a procedimentos aos quais é aplicável o disposto no n.º 3 do
artigo 95.º ou na alínea a) do n.º 1 do artigo 104.º do Código dos Contratos Públicos,
desde que propostas no prazo de 10 dias úteis contados desde a notificação da
adjudicação a todos os concorrentes, fazem suspender automaticamente os efeitos do ato
impugnado ou a execução do contrato, se este já tiver sido celebrado.”

Nota: os atos impugnáveis de harmonia com o disposto nos números anteriores que não
ponham termo a um procedimento só podem ser impugnados durante a pendência do
mesmo, sem prejuízo da faculdade de impugnação do ato final com fundamento em
ilegalidades cometidas durante o procedimento, salvo quando essas ilegalidades digam
respeito a ato que tenha determinado a exclusão do interessado do procedimento ou a ato
que lei especial submeta a um ónus de impugnação autónoma. Exemplo: exclusão de uma
empresa num concurso público. O ato final vai ser, por exemplo, o ato de se considerar
uma determinada empresa como a melhor qualificada nesse concurso público.

10/03/22

2. Intimações

São processos urgentes de condenação, em regra da Administração, em parte com


necessidade de um comportamento, uma ação, uma omissão, uma operação material, ou
um simples ato jurídico, e no caso específico dos processos urgentes relacionados com a
proteção de DLG, uma lógica que se aplique à prática da Administração. Estas intimações
para comportamento estão relacionadas com a ideia de práticas que necessitam de uma
resolução/revolução urgente. Estamos também perante um processo que é mais acelerado.

2.1. A intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou


passagem de certidões

Intimação relativa à prestação de informações ou consulta de processos –


existe aqui, quando falamos desta intimação, uma evolução, porque a intimação estava
relacionada com a lógica de anulação de um ato administrativo, e passa cada vez mais
para a ideia de um processo autónomo ligado especificamente ao direito que os
administrados têm de ser informados no âmbito do procedimento. E, portanto, tem como
base o 268º CRP. Aqui está um caso de uma matéria que evolui de uma ligação mt grande
ao processo de anulação de um ato, para uma lógica de aplicação a uma relação jurídica

72
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

administrativa com autonomia que está especificamente relacionada com a ideia de


direito à informação que os administrados têm.

CPTA: art. 10º nº1 relativo à legitimidade passiva, vemos que existe
relativamente à outra parte da relação material controvertida e a todos os possíveis contra-
interessados. Isto aplicado especificamente ao caso da prestação de informações, vai ter
como possível sujeito passivo, de uma relação jurídica administrativa de direito adjetivo
(perante o tribunal) o órgão que devia praticar o ato ou que não o praticou da forma
correta. Na base desta intimação está a falta de informação ou uma informação que não
foi dada de forma adequada, ou a falta relativamente a uma notificação. Exige-se um
pressuposto processual, um pedido prévio que tenha sido feito a esse órgão da
administração que está em falta para proceder à informação devida. Se o administrado
nunca pediu informação não pode ir logo para o tribunal, tem que haver um pedido prévio
perante a Administração.

Esta matéria está nos arts. 104º e ss CPTA, ver logo o 104º ver na lógica das regras
procedimentais, se foi ou não cumprida, e de forma devida, o pedido feito pelo
administrado à Administração, devendo o mesmo ser requerido contra a PC de DP, o MP
ou a secretaria regional, cujos órgãos sejam competentes relativamente à informação em
causa.

O pedido de intimação deve ser feito em 20 dias a contar do indeferimento do


pedido, da sua satisfação parcial, ou do decurso do prazo sem que tenha existido resposta.
Recebido o pedido pela secretaria do tribunal, a mesma deve em 10 dias fazer a citação
da entidade que foi demandada. Passados esses 10 dias, se não houver resposta, o juiz
decide no prazo de 5 dias. Portanto: 10 dias para a entidade citada, e 5 para a decisão.
Estamos perante o domínio da celeridade. Porque há um pedido E se o juiz der provimento
ao pedido, deve a entidade cumpri-lo num prazo que não ultrapasse os 10 dias. Se não for
cumprido: sanção pecuniária compulsória. Portanto, este é um modo de processo que se
pretende que seja resolvido de uma forma rápida e célere, até porque o que está em causa
é um pedido de informação. Não tinha sentido que um Pedido de informação por exemplo
de análise do processo não fazia sentido que ficasse à espera muito mais tempo do que
isto.

2.2. A intimação para protecção de direitos, liberdades e garantias

Para além desta intimação, temos ainda intimação para proteção de DLG

73
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

A base deste pedido: n5 do art 20º CRP, é uma proteção suplementar, para os
casos em que a providência cautelar não chega, porque no âmbito de uma providência
cautelar nº1 do 131º, o juiz pode quando faça o seu despacho liminar, decretar
provisoriamente uma providência que lhe tenha sido requerida no prazo de 48h. Depois
o processo cautelar segue a sua tramitação. Agora a questão é que, quando estamos a falar
deste despacho liminar, ou mesmo de um processo de natureza cautelar, não há uma
decisão do juiz sobre a matéria, ele não se envolve na decisão sobre a matéria, e portanto
aqui, havendo este envolvimento, a questão material de D. Administrativa que esteja em
causa é resolvida de forma definitiva pelo tribunal.

Portanto, este processo urgente existe para decidir de forma quase imediata uma
questão de fundo. Mas é necessário que sejam cumpridos alguns pressupostos: uma
urgência concreta (é o único caso em que é necessária uma urgência concreta para se
aplicar esta intimação, sendo que a mesma pela via excepcional no processo
administrativo). No 109º fala-se na necessidade urgente de uma decisão de mérito quando
uma ação ou omissão da Administração seja essencial para assegurar o exercício de um
DLG em tempo que seja útil. Chegado o processo ao juízo, deve no prazo de 48h
estabelecer um despacho liminar, que vai: 1- aceitar ou não o pedido; e aceitando o pedido
2- citar a outra parte para em 7 dias responder. Em casos de especial urgência, o prazo de
resposta pode ser reduzido. A audição do requerido pode ser feita por exemplo por via
eletrónica. E pode-se até promover audição oral no prazo de 48h com decisão imediata.

Quem tem legitimidade? Aqui a legitimidade é dos titulares dos DLG, sendo
possível também a ação popular, por exemplo quando estejam em causa questões
relacionadas com o DF ao ambiente. O pedido pode ser de uma conduta positiva ou
negativa, pode ser mesmo o de uma prática de um ato administrativo, nº3 do 109º CPTA.
Quando o interessado pretenda a emissão de um ato administrativo estritamente
vinculado, designadamente de execução de um ato administrativo já praticado, o tribunal
emite sentença que produza os efeitos do ato devido.

E a legitimidade passiva é da pessoa coletiva, do ministério em causa, devendo no pedido


inicial identificar-se o órgão a intimar. Também podem ter legitimidade passiva:
particulares, ou concessionários numa relação jurídica administrativa. Esta intimação é
particularmente importante porque não há pagamento de custas.

74
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Para além do prazo para responder à 7 dias, os prazos podem ser reduzidos a
metade quando a complexidade ou a falta dela o justifique. E o juiz será essencial na
avaliação da urgência ou não.

Nestes casos em que se solicita a emissão de ato administrativo que seja


estritamente vinculado, sem discricionariedade, por exemplo a execução de um ato
administrativo já praticado, ocorre também uma circunstância de emissão de sentença que
produza os efeitos do ato em causa. Uma sentença substitutiva. A própria sentença é
substitutiva nº3 do 109º CPTA.

Quanto aos efeitos da decisão e às regras relativas à execução das sentenças:


aplicam-se as regras de responsabilidade civil, disciplinar e criminal, quanto à execução
ou não da sentença condenatória. Não pode, aliás, para não executar a sentença, o órgão
público invocar o argumento da defesa do interesse público. Notar que nesses casos, pode
haver uma sanção pecuniária compulsória mesmo para os particulares porque têm
legitimidade passiva nestas circunstâncias de forma evidente os concessionários.

O recurso da improcedência não tem alçada. 142º, nº3, a) CPTA. Quando tenha
sido proferida a decisão de intimação, o recurso é meramente devolutivo (não é
suspensivo).

O legislador criou um sistema em que sinaliza de modo claro a relevância que tem
a necessidade desta intimação porque está em causa a defesa de DLG, o regime neste caso
está nos artigos 109º e ss. Relembrando que a decisão deve ser feita em tempo útil, que
não pode ser superior a 5 dias após todas as diligências necessárias para a decisão.

A decisão vai ser no caso de ser positiva, determinação do ato a praticar e do


responsável por esse mesmo ato.

Não esquecer: a notificação é feita de modo imediato!

Este é um dos casos, em que se pode considerar que o poder judicial entra no
âmbito administrativo, quanto a atos estritamente vinculados.

CAPÍTULO X.

ELEMENTOS ESSENCIAIS DA CAUSA E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Elementos essenciais relativos à causa administrativa e aos pressupostos


processuais

75
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

I. ELEMENTOS ESSENCIAIS DA CAUSA

Estamos perante uma relação triangular: entre as duas partes da relação jurídica
processual e o juiz por outro lado. A existência destas 3 partes é uma condição essencial
para a existência da ação administrativa. Portanto, são casos de condições de validade da
ação, a que se junta o pedido, a causa de pedir, e o objeto. Caso não estejam presentes
existe uma circunstância de nulidade, no caso, nulidade do processo.

Nº1 do 79º: a posição do autor, a necessidade de o autor fazer o pedido inicial, e


os elementos que têm que estar previstos. A circunstância de ineptidão, leva a que haja
uma recusa de recebimento da petição por parte da secretaria do tribunal. Essa recusa da
petição pela secretaria tem o seu regime no 80º do CPTA, tendo os efeitos determinados
na lei processual civil e podendo ser objeto de reclamação da parte. Tendo os efeitos que
estão determinados na Lei processual civil, e podendo ser objeto de reclamação da parte.

Um conceito que também assume importante: é o da causa de pedir, da reação do


juiz quanto a essa causa de pedir, e até deve ser visto fundamentalmente de forma negativa
al a) do 87º vemos que passada a fase dos articulados, o juiz faz um despacho pré
saneador, onde por exemplo tem que providenciar pelo suprimento de exceções dilatórias.
Veremos aliás que no 88º despacho saneador, o juiz é obrigado a conhecer das exceções
dilatórias e nulidades processuais que tenham sido suscitadas pelas partes, ou em face dos
documentos presentes no processo levem a uma intervenção oficiosa por parte do juiz,
devendo conhecer já nessa altura parcial ou totalmente do mérito da causa. Isso sucede
quando a questão for meramente de direito ou quando também for de facto (que será a
generalidade dos casos) mas o estado do processo permita essa tomada de decisão –
saneador à celeridade de decisões.

Se a questão for meramente de Direito: do saneador.

Se também tiver factos, mas a decisão é tomada: direito + factos + possibilidade


de tomar decisão – saneador à celeridade de decisões.

Sempre a lógica da celeridade na tomada de decisões. O próprio código tem


soluções para que haja essa celeridade.

As exceções podem ser: dilatórias ou perentórias. As dilatórias são sempre do


conhecimento oficioso, e podem ter como resultado a absolvição da instância (o tribunal
não pode conhecer do mérito da causa). Serão dilatórias a nulidade do processo, falta de

76
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

personalidade ou capacidade judiciária, a ilegitimidade de uma das partes, uma coligação


de autores que não cumpra com os requisitos da mesma, etc. As perentórias serão: a
invocação de factos que impedem, modifiquem ou extinguem o efeito daquilo que tenha
sido articulado pelo autor; e implicam também uma absolvição ou total ou parcial do
pedido.

Os elementos essenciais do processo vão servir para delimitar o caso julgado,


verificar a litispendência existente, bem como os poderes das partes e do juiz.

1. Os sujeitos ou partes processuais

Sujeitos processuais:

Os sujeitos processuais serão as partes principais no processo que participam na


relação jurídica administrativa que estão entre elas em controvérsia.

Mas além destas, há a figura dos contrainteressados: serão os sujeitos que têm
interesse em que não se dê provimento à ação. Relevância deles: desde logo, por serem
concebidos como partes, poderem estar indicados na petição inicial, poderem ser citados,
poderem estar ao lado dos órgãos e terem eles próprios direito de recurso. A questão
quanto aos contrainteressados é que a sua falta não determina a existência de ilegitimidade
quanto à ação

Diferentes destes sujeitos são os cointeressados: estão em circunstância


antagónica aos anteriores, porque são interessados na procedência da ação. No caso de
não existir litisconsórcio, eles serão assistentes no processo.

Um terceiro caso de intervenção especial relativamente ao processo é o do MP,


que pode ser a parte principal no processo, por exemplo em relação às associações
públicas, podem prosseguir em determinados casos que já vimos aqui na ação principal;
mas podem também ser, diferentemente, meros defensores do interesse públicos ou da
legalidade. É que no fundo são uma figura acessória especial do processo administrativo.

Ainda quanto às partes, podemos ter circunstâncias de pluralidade das partes. E


aí, temos que distinguir a coligação do litisconsórcio.

§ Coligação, art. 12º: na coligação (que pode ser em relação à parte ativa ou
passiva) existem vários pedidos, ou várias relações administrativas que estão

77
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

entre si em interconexão. No litisconsórcio há uma só relação, há unidade de


pedido.
§ Litisconsórcio (que também pode ser ativo ou passivo), em que há só uma
relação numa lógica de um ato que é complexo - estamos a olhar para uma
contitularidade de direitos.

Relativamente à coligação, o art. 12º refere que há possibilidade de coligação


quando a causa de pedir seja a mesma e única, OU quando os pedidos estejam entre si
numa relação de prejudicialidade, de dependência. E portanto, há aqui ligação a uma
mesma relação jurídica material de D. Administrativa. Ou até podem ser diferentes as
causas de pedir, mas a procedência depende da apreciação dos mesmos factos, ou da
interpretação das mesmas regras jurídicas. Havendo coligação, o juiz faz notificação para
as partes em 10 dias indicarem o pedido que pretendem ver resolvido, se não o fizerem
caem numa circunstância de absolvição da instância.

No litisconsórcio há uma só relação, há uma unidade de pedido. Pode também ser


ativo ou passivo, mas aqui está presente uma ideia de concretização de um ato complexo,
isto é, aplica-se a lógica da contitularidade de direitos. Pode suceder que o litisconsórcio
seja legal (determinado pela própria lei) ou natural (isto é, necessário para que se atinja o
efeito normal da decisão). E aqui podem entrar os contrainteressados, que podem estar
em coligação, ou numa lógica de litisconsórcio imperfeito.

Para além de todos estes casos, o processo administrativo admite a intervenção de


terceiros nos mesmos termos em que é admitido no CPC.

2. O pedido

Quanto ao pedido: corresponde aos efeitos jurídicos pretendidos pelo autor da


ação. E pode ser meramente declarativo (p ex em ações de reconhecimento); pode ser
condenatória (por exemplo condenar à prática de atos); ou pode ser constitutivo (p
exemplo ação anulatória de ato administrativo). O pedido pode ser: simples, alternativo
ou subsidiário. O que é importante é que exista uma relação de conexão.

Estes pedidos cumulativos têm o seu regime previsto no art 4º CPTA, e no n1 se


referem as circunstâncias em que pode haver cumulação de pedidos, no n2 faz-se
enumeração exemplificativa de formas da Ação administrativa que se podem cumular. A

78
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

cumulação de pedidos é aquela em que tem que existir uma relação material de conexão,
podendo ser: simples, alternativa ou subsidiária.

Nº8 do art. 4º, requisito que tem que ser cumprido: os pedidos, para serem
cumulativos, têm que pertencer TODOS à jurisdição administrativa, independentemente
da competência hierárquica ou da competência territorial. Quando um dos pedidos não
pertence à jurisdição administrativa, há uma absolvição da instância, quanto a esse
pedido. REMISSÃO no nº8 art. 4º para o 21º e vice-versa. Conhecerá do pedido
cumulativo, o tribunal que seja competente em relação a um dos pedidos
hierarquicamente superior. Quando estão envolvidos tribunais com diferentes
competências territoriais, o autor pode escolher: a não ser que haja uma relação de
subsidiariedade, porque nesse caso será competente o tribunal da ação principal.

Depois do pedido, vem a causa de pedir.

3. A causa de pedir

A causa de pedir são os factos concretos, as razões de direito, que fundamentam


a ação que se pretende resolver. Em cada ação teremos uma causa de pedir. Portanto, e
para além deste ponto, vários vícios, por exemplo num ato, correspondem a várias causas
de pedir. Um pedido pode ter várias causas de pedir. Muitas vezes, essas diferentes causas
de pedir podem ser precedentes entre si, resolvida uma nem sequer se necessita de ir às
outras.

4. O objecto mediato (nas acções administrativas impugnatórias)

Vistos: os sujeitos, pedido, causa de pedir, e (elementos essenciais do processo).

II. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Ver agora: pressupostos processuais

1. Noção

2. Tipos

3. O regime da falta de pressupostos processuais

Obrigam o juiz à pronúncia sobre o fundo da causa, sobre a matéria que ali está
em causa. A análise do tribunal é uma análise ao contrário, porque é uma análise
relativamente às exceções. Nesta análise dos pressupostos, o despacho saneador é neste

79
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

momento relevante, e as exceções dilatórias e as nulidades processuais que não sejam


apreciadas no despacho saneador, não podem ser suscitadas nem decididas no momento
posterior do processo. E as que sejam decididas no despacho saneador, não podem ser
durante o processo, apreciadas.

Os pressupostos processuais são diferentes das condições de procedência de uma


ação, estas últimas estão relacionadas com os argumentos materiais que o autor/os autores
referem. Diferença que tem o despacho saneador face ao pré-saneador (neste último o juiz
tenta que sejam suprimidas as exceções dilatórias, aperfeiçoados os articulados, e tenta
determinar a junção de documentos que sejam essenciais para a decisão da causa, é um
despacho em que aquilo que se quer é a perfeição do pedido quanto aos elementos que
vão ser essenciais relativamente à decisão). Já o saneador é o despacho de uma decisão,
e, portanto, assume aqui uma lógica distinta entre estes dois despachos.

Já falamos das partes, agora do tribunal:

4. Pressupostos relativos ao tribunal

O tribunal, tem aqui um papel relevante, desde logo tem que se cumprir as regras
relativas à sua competência. A competência absoluta é diferente da relativa. A absoluta é
aquela que se refere ao âmbito da jurisdição, isto é, se a jurisdição é administrativa ou
não. A competência relativa é aquela que está dentro da jurisdição administrativa. Uma
incompetência relativa tem como consequência: a remessa oficiosa para o tribunal
competente. Por sua vez, a absoluta, tem outras consequências: nº2 e nº3 do 14º. O
tribunal vai ter que decidir sobre ela (a incompetência), podendo o autor requerer a
remessa do processo ao tribunal competente, indicando qual será. Portanto, o tribunal
administrativo vai declarar a sua incompetência, mas não temos aí uma situação de
absolvição da instância imediata, PORQUE pode o autor fazer um requerimento para que
o processo seja remetido para o tribunal que seja competente.

Para efeitos de determinação, se o pedido foi feito ou não de forma tempestiva,


vale o pedido inicial, portanto, um autor que tenha recorrido à jurisdição administrativa,
não fica prejudicado relativamente à tempestividade do pedido submetido. Ou seja, há
prazos para se colocar o pedido em tribunal. E imaginemos que o prazo do contencioso
tributário foi cumprido, mas a ação foi colocada num tribunal administrativo, e vai dizer
mais tarde “não sou competente” o autor diz “remeta para o tribunal tributário” a data

80
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

decisiva para saber se cumpriu o prazo, vai ser a data a que foi submetido o primeiro
pedido no tribunal adm.

O que parece é que estas normas demonstram que o legislador se preocupou muito
com uma lógica de defesa da viabilidade da ação, a lógica é diferente, por exemplo, da
que existe no CPC (porque no CPC estão presentes partes privadas. Aqui o legislador tem
opções legislativas que defendem caminhos para que a ação possa continuar.

Estamos aqui perante matérias que são de conhecimento oficioso, ou seja, o


legislador também pretende que a ação seja decidida no tribunal verdadeiramente
competente, absoluta e relativamente competente (seja entre jurisdição administrativa vs.
tributária; seja dentro da própria jurisdição administrativa).

Também pode acontecer, uma circunstância deste género quando uma ação foi
colocada num tribunal administrativo, mas poderia ser na arbitragem. E aí tem que se ver
o pedido das partes, e aplicar as regras da lei da arbitragem voluntária. Também aqui a
competência fixa-se a partir do momento em que se fez o primeiro pedido.

5. Pressupostos relativos aos sujeitos

Para terminar, e quanto aos sujeitos:

Conceitos relevantes:

· Conceito de personalidade judiciária:

A suscetibilidade de se ser parte no processo.

· Conceito de capacidade judiciária:

A suscetibilidade de estar em juízo.

No fundo, o segundo conceito (capacidade judiciária) está relacionado com uma


lógica de exercício de direitos. O primeiro com uma lógica de existência de direitos. Para
se ter personalidade judiciária, não é obrigatório que se tenha personalidade jurídica
material.

Esta questão da personalidade e capacidade judiciária no contencioso


administrativo, é muito vista em relação a pessoas coletivas, determinando-se a sua
competência ou não para estarem em juízo. É uma matéria relacionada com o exercício
efetivo de direitos. O patrocínio judiciário está previsto no art. 11º do CPTA e nos

81
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

tribunais administrativos é obrigatória a constituição de mandatário (tal como prevista no


CPCivil) podendo então as entidades públicas, fazer-se representar por advogado,
solicitador licenciado em D ou S, sem prejuízo da possibilidade de apresentação do
Estado pelo MP. Os advogados têm que cumprir com obrigações, desde logo, de sigilo, e
têm um importante papel dentro do processo, desde logo relativamente a notificações que
são feitas.

O MP entra fundamentalmente neste plano, na lógica das ações públicas ou


populares.

A legitimidade ativa e a legitimidade passiva:

Tem legitimidade ativa, e portanto, é parte legítima: o autor que ALEGUE ser
parte na relação material controvertida. Para além destes, podem aparecer as autarquias
locais, e o MP, quando estejam em causa interesses das RA, AL relacionados com saúde
pública, ambiente, urbanismo, ordenamento do território, património cultural, bens do
Estado e outros.

A legitimidade passiva: é posta contra a outra parte na relação material


controvertida, e contra as pessoas ou entidades titulares de interesses contrapostos aos do
autor (isto é abertura para a ideia dos contrainteressados, e portanto, também o legislador
processual tenta que entrem no processo administrativo todos os sujeitos que têm
interesse, ou no cumprimento, ou no não cumprimento da ação).

Quando um processo é contra uma entidade pública, a parte demandada é a pessoa


coletiva de direito público. Quando se esteja perante o Estado ou RA, e esteja em causa a
ação ou omissão de órgãos que sejam integrados nos ministérios regionais, a parte
demandada será o Ministério ou a Secretaria Regional, a cujos órgãos sejam imputáveis
os atos praticados. De todo o modo, deve o autor do pedido identificar o órgão em causa.

Quando seja das entidades independentes (reguladores do mercado) que não


tenham personalidade jurídica, vai ser intentado contra o Estado ou a pessoa coletiva de
direito público a que essa entidade pertença. Mesmo nos casos em que a ação deveria ser
intentada contra o ministério ou secretaria regional, ela será popular se for indicado o
órgão que está em causa.

Estas regras aplicam-se relativamente à cumulação de pedidos, podendo


envolver uma legitimidade passiva mais alargada. E é possível que o sujeito passivo

82
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

processual, seja um particular ou um concessionário, quando estejam a atuar no âmbito


de poderes públicos, ou quando os envolvam com outras entidades públicas ou com outros
particulares. Sempre que seja razoável chamar um terceiro, esse chamamento deve ser
feito no âmbito das regras relativas ao processo civil.

11/03/2022

Estávamos a ver os pressupostos relativos aos sujeitos. Legitimidade (ativa ou passiva).

Aceitação do ato

Este é o pressuposto negativo especial, que podemos encontrar no artigo 56º do


CPTA e que passa pela ideia de que a aceitação de um ato administrativo impede o seu
pedido de anulação (isto aplica-se a casos de anulabilidade, não se aplica aos casos de
nulidade), e no artigo 56º, nº1 refere-se que não pode impugnar um ato administrativo
com fundamento na sua mera anulabilidade quem o tenha aceitado, expressa ou
tacitamente, depois de praticado. Portanto, a aceitação terá que ser depois da prática do
ato e pode ser expressa ou tácita.

O que se pretende com este regime é determinar os efeitos de estabilização


relativamente aos atos administrativos, através de um pressuposto processual que é
naturalmente diferente face à ilegitimidade e à falta de interesse em agir.

No nº2 do artigo 56º está previsto de forma expressa o que entendemos por
aceitação tácita e ela vem de uma prática que seja espontânea e sem reserva relativamente
ao facto que potencialmente pode ser impugnado (muito importante).

A execução ou acatamento por funcionário ou agente não se considera aceitação


tácita do ato executado ou acatado, salvo quando dependa da vontade daqueles a escolha
da oportunidade da execução, apenas será considerada como aceitação quando dependa
da vontade de quem a está a executar.

Vistos os pressupostos relativamente aos sujeitos, passamos aos pressupostos


relativamente ao processo.

83
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O 1º é o da utilização de um meio adequado para se obter a proteção judicial que


se necessita. Nos casos em que o pressupostos não está completo, encontramos nos
perante situação de absolvição da instância.

Um exemplo: será aquele em que se faz um pedido urgente para intimação ou de


intimação para proteção do direito, liberdade, e garantia, para se obter a providência
cautelar ou a condenação ao cumprimento de uma prestação. Portanto, nesta circunstancia
o que temos não é uma questão dentro da AA, é uma questão entre a ação administrativa,
um procedimento urgente; ou entre um processo urgente e uma providência cautelar.
Portanto, pressupõe que estejamos perante figuras processuais distintas.

O 2º pressuposto é o de que exista uma necessidade de tutela judicial, isto é, um


interesse real e atual na intervenção, interesse de natureza processual, e o interesse real e
atual determina-se pela utilidade na procedência do pedido. Este é o pressuposto que
acaba por completar a lógica da legitimidade ativa. Necessita-se, neste caso, da ligação
entre a lógica de um interesse processual, e a lógica de um interesse substantivo. É
residual a sua importância quando estejamos perante casos de impugnação de atos
administrativos.

Um exemplo desta circunstância é a que está no 65º CPTA, quando na pendência


do processo, seja proferido ato revogatório sem efeitos retroativos do ato impugnado, o
processo prossegue em relação aos efeitos produzidos.

O 3º pressuposto: é da tempestividade. Típico na anulabilidade dos atos


administrativos. Corresponde ao prazo que quem tem legitimidade ativa tem para utilizar
a forma processual que esteja à sua mão. Está relacionado com o prazo. Esse prazo
encontra-se previsto quanto à forma de contagem no n2 do 58º que se conta nos termos
do 279º CC (isto é, de forma contínua). E entre 2002 e 2015, os prazos contavam-se de
acordo com as regras processuais (isto é, contavam-se apenas os dias úteis). Desde 2015
os prazos são contabilizados de acordo com as regras substantivas, portanto, cuidado com
a forma como contabilizamos o prazo para efeitos, por exemplo, de impugnação do ato
administrativo. Com a cautela de que o prazo é estritamente substancial (e não
processual). Este prazo gera situações de potencial maior celeridade.

Distinguir quanto ao prazo de impugnação do ato: a situação do MP vs. a situação


dos particulares. A passagem do prazo que é de 1 ano determinado relativamente ao MP

84
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

n1 a) do 58º determina que a sua ultrapassagem, cria uma situação de caso decidido para
o MP não podendo o MP impugnar aquele ato.

Portanto, é um prazo que acaba por estar relacionado com a validade do ato. Já
nos particulares, não existe uma lógica de caso decidido, até porque o prazo do MP é
maior (1 ano). Para os particulares são 3 meses - art.58º b).

Mas passado o prazo de 3 meses em relação ao particular que poderia impugnar o


ato, deixa de o poder fazer.

Este prazo vai se contar a partir da notificação que tenha sido feita a um
determinado particular, ou do conhecimento que tenha do ato. Se a notificação não foi
corretamente feita (se é insuficiente) n.º1 do 60º, o próprio ato administrativo não é
oponível.

Quando a falha se refira ao autor, à data, aos fundamentos da decisão, pode o interessado
(é uma possibilidade que ele tem) de requerer à entidade que proferiu o ato, a notificação
daquilo que falta. Assim como pode pedir uma intimação judicial.

Outro ponto: situações em que se pode impugnar o ato, sendo particular, e


tendo já passado os 3 meses. Quando no processo civil, ocorra o justo impedimento,
quando não fosse exigível ao cidadão normalmente diligente ter conhecimento do erro no
ato, ou quando passado 1 ano o não conhecimento seja desculpável toma do em atenção
a ambiguidade do próprio quadro normativo ou às dificuldades que existiam em
identificar o ato impugnável.

Distinguir as figuras da suspensão e da determinação do novo prazo. A


suspensão do prazo, corresponde a uma circunstância em que a certa altura se para a
contagem do prazo e depois se retoma o mesmo. Por exemplo, nas circunstâncias do nº4
do 59º isto é, a utilização de meios de impugnação administrativa. Retoma quando haja
decisão administrativa, ou concurso no prazo legal para se tomar a decisão administrativa.
Estamos na fase do procedimento. Já a contabilização do novo prazo vem prevista no
regime do 59º nº8.

Também neste plano existem casos de verdadeira caducidade da ação. Atos que
sejam impugnáveis durante o procedimento, só podem sê-lo durante a pendência do
mesmo. Depois já não pode. N3 do 51º CPTA. Há uma exceção: quando as invalidades

85
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

em causa digam respeito à exclusão de alguém de um procedimento ou se esteja perante


um ato em que existe uma determinação de uma impugnação autónoma. Na mesma linha
desta caducidade, no n.º3 do art.103º no contencioso pré-contratual, portanto na ação
urgente pré-contratual, esse artigo refere como regra que o pedido pode ser requerido na
pendência do procedimento, quando haja documentos que a ele se referem.

Os prazos também podem ser mais curtos. Processos urgentes: 7 dias para o
contencioso eleitoral. 1 mês para o contencioso dos procedimentos de massa. Ou 1 mês
nos processos de contencioso pré-contratual. Portanto o prazo não é sempre idêntico. E
tem que se distinguir este prazo de caducidade, dos prazos relativos à prescrição de
direitos substantivos. Os prazos de caducidade estão relacionados com a possibilidade de
se poder impugnar um ato. Estas circunstâncias de prescrição têm base substantiva, como
por exemplo, aquilo que sucede em relação à matéria de responsabilidade civil, por
aplicação do 498º CC temos uma previsão de verdadeira prescrição, que tem como
consequência, se o prazo for ultrapassado, uma circunstância de absolvição DO PEDIDO
porque é uma questão de natureza substancial (e não absolvição da instância).

Pontos relevantes:

Diferença do MP face aos particulares.

Deixando o MP passar o seu prazo, existe uma convalidação do ato. O mesmo não
sucede quando estamos perante a circunstância de serem particulares. Se uma ação for
posta antes do prazo, também intempestiva, levará a uma absolvição da instância, a NÃO
SER que o prazo se tenha iniciado antes desta decisão, porque é possível a sua
consideração desde o primeiro dia do prazo aberto.

Relativamente à matéria da intervenção administrativa prévia

Isto é: o quê que é determinado quanto à impugnação administrativa necessária,


relativamente a certos atos? Se formos ver o regime da reclamação administrativa, ou
recursos administrativos, 185º CPTA, eles podem ser ou necessários ou facultativos
conforme levem à dependência ou não da sua prévia utilização para que haja possibilidade
de acesso aos meios de impugnação judicial.

Princípio geral: é que são facultativos, salvo os casos em que a lei determina que são
necessários. Portanto, a regra geral é a de que não existem recursos necessários.

86
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Sabemos também que a utilização dos meios de impugnação administrativa,


suspende o prazo de impugnação contenciosa. Essa suspensão, não impede o particular
de fazer impugnação contenciosa ou de requerer a adoção de providências cautelares.
Portanto, aqui o interesse legislativo é o de não se restringir a possibilidade de intervenção
de natureza judicial. Naturalmente, os casos de reclamação administrativa necessária são
casos em que se caminha para a suspensão da eficácia do ato administrativo, com uma
vantagem: é que se obriga uma entidade administrativa mais qualificada, a pronunciar-se
com sujeição a prazos que são curtos.

E portanto, a ideia é a de permitir a aplicação de uma intervenção por parte da


Administração, sabendo-se que as impugnações administrativas quando são facultativas
não têm efeitos suspensivos, a não ser que a lei determine o contrário. Os particulares que
queiram a suspensão têm que a requerer de forma autónoma, devendo a decisão ser
tomada no prazo de 5 dias, e só é determinada se se chegar à conclusão de que existe uma
probabilidade séria da veracidade dos atos que são invocados pelos interessados. E nesses
casos deve ser decretada a suspensão da execução, 189º CPTA.

Importante ver o que deve constar na notificação de um ato administrativo - art


114º n2 a), b), c), CPTA. Estando previsto também o prazo de impugnação administrativa
no caso de o ato ser um ato sujeito ao regime da impugnação administrativa necessária.
Para estas últimas situações em que se tem que indicar o órgão competente para apreciar
a impugnação administrativa, o reconhecimento do erro ou da omissão quanto ao meio
da impugnação administrativa que possa ser utilizado, não prejudica a utilização do
mesmo, no prazo de 30 dias a contar da decisão de natureza jurisdicional. Há ligação entre
as decisões de natureza administrativa e as decisões de natureza judicial.

No caso de certos casos de impugnação administrativa necessária, que sejam


especialmente curtos e em que não seja imputável ao particular mais diligência do que
aquela que teve, e o prazo tenha sido ultrapassado, pode admitir-se a existência de
impugnação judicial posterior. Neste sentido, analisar o nº4 do 198º CPTA.

Quanto a outras situações de adequação entre prazos administrativos e judiciais,


e nos casos de condenação à prática de ato administrativo, à quando não tenha sido
proferida decisão pelo órgão administrativo no prazo devido. A falta de resposta por parte

87
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

de um delegante ou subdelegante, vai ser imputada ao órgão que tenha sido delegado. A
condenação à prática de um ato administrativo pode suceder quando tenha sido cumprido
o dever de praticar um ato administrativo que resultava diretamente da lei, ou se pretenda
a substituição de um ato administrativo de conteúdo positivo.

Outros casos de relacionamentos, são os previstos no 37º n.º3 relativamente à


situação de particulares, e em especial de concessionários. No art.109º n.º2 em que casos
de intimação para proteção de DLG, em que também pode haver uma intimação feita a
particulares; nos casos do 104º relativamente à intimação para prestação de informações;
e em relação à execução das sentenças nos 172º, 174º, 173º.

Ainda nos pressupostos relativamente ao processo:

● Casos de litispendência e de caso julgado

São de conhecimento oficioso, e que correspondem aos casos em que uma causa
é idêntica quanto aos sujeitos, pedidos, causa de pedir, e objeto. Havendo uma ação
proposta, uma outra que apareça com todas estas características pode aproveitar da
litispendência? Caso julgado: como é importante que não haja contradição, corresponde
às circunstâncias em que já houve uma decisão judicial sobre a matéria em causa.

Matéria da Tramitação dos processos administrativos

Está próxima do Processo Civil.

Art.º7-A do CPTA está previsto um dever de gestão processual, ISTO É, o juiz deve
dirigir ativamente o processo, fazer com que ele seja célere, promover de forma oficiosa
as diligências que sejam necessárias, recusar o que seja dilatório, e se necessário adotar
mecanismos de agilização processual que garantam a justa composição do litígio.

Quando haja pressupostos que possam ser sanados, deve o juiz determinar a
realização dos atos necessários à regularização OU quando haja dependência de uma
qualquer prática por parte dos particulares, convidá-los a essa mesma prática.

Os documentos são eletrónicos. A informação deve estar estruturada no sistema


de informação, também ele eletrónico, em que devem ser incluídos os atos processuais
que são praticados sob a forma escrita.

88
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Articulados:

Primeiro articulado: petição inicial. É a peça introdutória do processo, em que se


identifica o tribunal, as partes, o objeto, o pedido, e a causa de pedir. Para que se inicie
os processos, tem que se ter o recebimento pela secretaria. A peça deve ser
articulada/escrita com a formulação dos artigos com os factos. E os elementos que deve
conter estão no n.º2 do 78º.

Quando estamos perante uma demanda quanto a um ato que se praticou ou que se
devia ter praticado tem que se indicar o órgão que praticou ou que devia ter praticado o
ato. Um dos elementos essenciais que temos que considerar: a determinação do valor da
causa, que vai ter relevância sobre a taxa da justiça. Deve neste momento fazer-se
indicação da prova. E quando o autor pretenda indicar um rol de testemunhas deve fazer
no fim da peça processual. Também deve fazer indicação dos documentos que considere
que sejam necessários e que constam no processo administrativo (= no procedimento).

Contrainteressados: Quando o autor não conheça, no todo ou em parte, a


identidade e residência dos contrainteressados, pode requerer à Administração,
previamente à propositura da ação, a passagem de certidão da qual constem aqueles
elementos de identificação (art.º78-A).

Passada a fase do articulado inicial. A segunda é a da intervenção da secretaria:


arts.80º e 81º. Mas no 78º vemos que para que a ação se considere proposta é necessário
que a petição inicial seja recebida na secretaria do tribunal ao qual é dirigida. A secretaria
pode recusar receber a petição (está subentendido aí). E é isso que está previsto no art.80º
CPTA em que se determina a possibilidade de recusa, que tem que ser fundamentada por
escrito, com a ocorrência de um conjunto de circunstâncias, como por exemplo, não estar
redigida em língua portuguesa, não estar assinada, não ter endereço ou estar endereçada
a outro tribunal. Este artigo tem uma remissão para o n.º5 do art.º24. Que se refere àquelas
circunstâncias em que não seja obrigatória a constituição de mandatário e a parte não
esteja patrocinada.

Os efeitos da recusa estão na lei de processo civil. Podem ser objeto eles próprios
de reclamação. Pode haver um recurso em relação a essa decisão. Não havendo nesses
casos, um despacho do juiz sobre a petição. E portanto, há nesta fase, menos intervenção
judicial, mas mais intervenção administrativa do tribunal.

89
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O art.81º segue a lógica de normalidade: a citação dos demandados. É promovida


de forma oficiosa e simultânea, quando se esteja perante impugnação de norma, o juiz
deve mandar publicar o anúncio da propositura da ação de forma a dar publicidade à
norma, afim de permitir a intervenção de eventuais contra interessados.

Os demandados vão poder contestar, e no momento em que se faz a citação dos


mesmos, é remetida a petição bem como todos os seus elementos, ao MP (a não ser que
ele já seja o autor), podendo o MP com os dados que tenha e outros que pretenda juntar,
pronunciar-se quanto ao mérito da causa sob a ótica dos DF dos cidadãos ou interesses
públicos relevantes, 85º CPTA.

3º Fase: contestação e possível reconvenção.

A contestação está no art.82ºCPTA, é feita no prazo de 30 dias a contar da citação.


Um contrainteressado a quem não tenha sido dada a consulta do processo administrativo
em tempo útil, deve dar conta disso ao juiz, que concederá prazo suplementar de 15 dias
para contestar. Mediante pedido devidamente fundamentado, é concedida ao Ministério
Público prorrogação de prazo, não superior a 30 dias, quando careça de informações que
não possa obter dentro dele ou quando tenha de aguardar resposta a consulta feita a
instância superior. A contestação também será articulada, vai expor as razões de facto e
de direito, em sentido contrário às do autor. Podendo ser apresentadas testemunhas e
outras prova que considera relevante, desde logo a documental.

Quando na contestação seja deduzida reconvenção, esta deve ser expressamente


identificada e deduzida em separado do restante articulado, e conter: a) Exposição dos
factos essenciais que constituem a causa de pedir e das razões de direito que servem de
fundamento à reconvenção; b) Formulação do pedido; c) Declaração do valor da
reconvenção.

Se na contestação não for declarado o valor da reconvenção, a contestação não


deixa de ser recebida, mas o reconvinte é convidado a indicar o valor, sob pena de a
reconvenção não ser atendida.

Em relação a esta fase de contestação, é um ónus que existe relativamente à


Administração.

4ª fase: a do papel do MP

90
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Já sabemos quando os demandados são citados, tem que ser remetida a petição
para o MP, que ele tem uma possibilidade de pronúncia, que pode, aliás, invocar causas
de invalidade distintas das que foram inicialmente distintas, tendo prazos previstos no
85º, e pode ter também um papel especial de defesa de DF bem como de defesa de
interesses especialmente relevantes.

Portanto, a intervenção que hoje em dia se prevê para o MP é mais na defesa de


DLG, do que propriamente numa lógica de parte processual. Claro está, que se pode
sempre pronunciar sobre o mérito, sobre novas causas de invalidade, ou até suscitar
nulidades.

Pode também suceder que a intervenção do MP se fique por esta lógica de uma
intervenção inicial.

5ª Fase: Réplica, tréplica, articulados supervenientes

Matérias relacionadas com a lógica das exceções. Nas ações de apreciação


negativa, surge para que o autor possa impugnar: factos constitutivos alegados pelo
demandado. A tréplica está determinada pelo que tenha sido alegado na réplica, vai existir
muito quanto à matéria da reconvenção. E o seu regime está determinado no 85º A, tal
como em relação aos articulados supervenientes no 86º (estes referem-se a factos
constitutivos, modificativos, extintivos, e que surgem já depois de ter sido interposta a
ação administrativa. Podem ser deduzidos em novo articulado, sempre até ao
encerramento da discussão, e quando

O novo articulado se funde ou tenha a sua origem em factos desconhecidos, a


possibilidade do articulado superveniente deve ser dada em 10 dias).

Chegamos à fase de tratar do saneamento, da instrução, e das alegações:

Lógica da fase de saneamento:

Despacho pré-saneador, na sequência das possibilidades de intervenção do juiz no


âmbito do 7º-A CPTA, inicia-se com o fim dos articulados, e em que o juiz faz o despacho
com o objetivo de providenciar perante exceções dilatórias que sejam supridas para
chegar ao aperfeiçoamento dos articulados e para determinar a junção de documentos que
permitam fazer um juízo quanto às exceções dilatórias. É no fundo um primeiro momento

91
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

que permite a entrada na fase da audiência prévia, que acaba por ser uma sub-fase. O
regime está no art.87º-A, em que se tenta realizar uma reconciliação, facultar às partes
uma discussão de facto e de direito quando o juiz pretenda decidir naquele momento a
causa.

Esta audiência prévia tem que ser realizada em 30 dias, que pode levar a que seja
proferido um despacho pré saneador pode levar a que o processo seja simplificado, e que
seja programada a audição dos mandatários. É uma fase de enunciação dos temas relativos
à prova.

A audiência prévia não se realiza quando seja claro que o processo deve findar no
despacho saneador pela procedência de exceção dilatória.

O despacho saneador tem o seu regime no 88º, para além do conhecimento das
exceções dilatórias, é o momento em que se pode conhecer de forma total ou parcial o
mérito da causa. E o próprio processo permitir a que se cheguem a essas conclusões. E
portanto, nesta fase é possível então a resolução das questões formais, a abertura da
instrução, e da fase da prova, ou mesmo uma decisão de mérito. O despacho saneador
concentra as decisões de natureza formal. Tomadas ali, não há decisões de natureza
formal posteriores. Podemos dizer que o despacho saneador corresponde à ideia de um
caso julgado formal. Apenas não será um CJ formal nas circunstâncias em que existam
alteração de circunstâncias, em que se podem conhecer mais tarde, ou em casos de
litispendência posterior.

O legislador demonstra em todas as soluções determinadas nesta altura, que


pretende fugir de uma decisão processual que se funde em meras questões de forma. O
que se pretende é passar para a fase seguinte: de instrução do processo. Há despacho de
prova, que pode ser determinado em audiência prévia e há aplicação do princípio do
inquisitório previsto no 90º.

Na instrução: determinam-se quais os factos relevantes e quais aqueles que


necessitam de prova. Aplica-se o princípio do inquisitório.

A prova é, nesta fase, uma prova mais processual. E a tendência é dar liberdade
em relação à prova a alcançar.

Terceiro momento: audiência final

92
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Pode ser oral: quando seja necessário o depoimento de parte, é necessário ouvir
testemunhas, ou atos orais por parte de peritos.

Quanto às alegações: elas podem ser apresentadas por escrito, em prazo


simultâneo de 20 dias, n.º1 do 95º. E quando sejam realizadas diligências de prova sem
que exista audiência final, o prazo será de 20 dias e, também, simultâneo.

Fase do Julgamento

Salienta-se o papel da sentença e da publicidade.

O juiz é, em princípio, singular, que tem que fundamentar a sua decisão de direito
e de facto num prazo de 30 dias.

Podem suceder circunstâncias em que a primeira instância se dá nos tribunais


administrativos de círculo, 93º CPTA remissão para o 41º ETAF. O objetivo das
diferentes soluções quanto às competências em matéria de primeira instância é o da
existência de jurisprudência uniforme, objetivo tutelado no n.º2 do 25º ETAF. E a lógica
de pronúncia do STA está sempre pensada para obtenção de uniformização de
jurisprudência.

Na sentença há identificação das partes, do objeto do litígio, uma enunciação das


questões de mérito que o tribunal vai julgar, e uma decisão com fundamentação de facto
e de direito. As partes da mesma têm que ser notificadas, existindo no caso dos tribunais
superiores, uma publicação.

Regras quanto ao caso especial de Processos com andamento prioritário:

As suas regras estão no 48º CPTA. Quando, num mesmo tribunal, sejam
intentados mais de dez processos que, embora referidos a diferentes pronúncias da mesma
entidade administrativa, digam respeito à mesma relação jurídica material ou, ainda que
respeitantes a diferentes relações jurídicas coexistentes em paralelo, sejam suscetíveis de
ser decididos com base na aplicação das mesmas normas a situações de facto do mesmo
tipo, o presidente do tribunal deve determinar, ouvidas as partes, que seja dado andamento
apenas a um deles e se suspenda a tramitação dos demais.

93
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Tem uma tramitação analógica dos processos urgentes. O tribunal pode


igualmente determinar, ouvidas as partes, a suspensão dos processos que venham a ser
intentados na pendência do processo selecionado e que preencham os pressupostos
previstos no número anterior. Formação do tribunal com 1 juiz do processo + 2 dos mais
antigos do tribunal em causa, podendo nestas circunstâncias haver cumulação de pedidos
como no art.º90 n.º4 na remissão para o art.º48 n.º8 e art.º4 n.º4.

A decisão que seja determinada é notificada às partes nos processos que estejam
suspensos para no caso de 30 dias, o autor desistir do pedido, ou qualquer das partes
recorrer da sentença proferida.

O tribunal decide de forma oficiosa a extensão dos efeitos da sentença, aos


processos suspensos que não tenham sido sujeitos à decisão.

Conclusões quanto ao processo: pretende-se em 1º lugar uma tutela jurisdicional


efetiva, não formal. Em 2º lugar pretende-se, também, encaminhar para um julgamento
material uma decisão mais célere, num processo em que é evidente a existência de menos
poderes por parte do MP, e em que se permitem soluções processuais que decidem
procedimentos de massa.

PROCESSOS CAUTELARES:

Antes de 2002, os processos cautelares estavam reduzidos à lógica da suspensão


da eficácia dos atos administrativos. Ainda na sequência de uma ideia de recurso de
anulação dos atos prevalecentes neste contencioso, tem lógica a ideia de se possibilitar
essa ideia de suspensão. Por exemplo, no contencioso tributário, há a determinação de,
passado o prazo de pagamento de um imposto, poder ser prestada a garantia que tem como
consequência a suspensão do contencioso.

Estes processos cautelares, não devem ser confundidos com outros meios
processuais acessórios, por exemplo, as intimações, que são processos urgentes em que
há uma decisão.

Os processos cautelares tal como estão hoje previstos, têm a possibilidade de criar
efeitos antecipatórios, mas também conservatórios, isto é, podem ajudar tanto à
conservação de um ato como à antecipação de uma circunstância em que ele não produz
efeitos.

94
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

A lógica que deve marcar o juízo a fazer no âmbito destes processos cautelares é
da existência ou não da possibilidade de um prejuízo grave para o interesse público. O
seu desenvolvimento sucedeu fundamentalmente após a revisão constitucional de 1997,
em que se prevê a possibilidade de proteção cautelar, sendo estes processos casos em que
se visa manter a utilidade da lide principal. Naturalmente, a decisão de uma providência
cautelar é menos longa que a decisão de um processo em ação administrativa. O que se
pretende é, à partida, assegurar a utilidade de uma sentença.

Portanto, os processos cautelares são: preventivos, são instrumentais quanto à sua função,
e são sumários. Atenção: não se pode confundir a existência destes processos cautelares
com outros processos urgentes (os processos urgentes são aqueles em que há decisão
MATERIAL com base num processo muito mais rápido, com prazos muito menores. O
processo cautelar tem uma relação com uma decisão definitiva que vai ser tomada, e o
objetivo é que a decisão definitiva seja uma decisão útil.

O regime legal dos processos cautelares está previsto nos arts. 112º e ss CPTA. E
logo no n1: providências cautelares serem antecipatórias ou conservatórias, de terem que
ser adequadas (para propor), e o facto de serem necessárias para que a sentença seja útil.

No n.º2 do 112º temos uma enumeração exemplificativa dessas mesmas


providências:

2 - As providências cautelares regem-se pela tramitação e são adotadas segundo os


critérios previstos no presente título, podendo consistir designadamente em:

a) Suspensão da eficácia de um ato administrativo ou de uma norma;

b) Admissão provisória em concursos e exames;

c) Atribuição provisória da disponibilidade de um bem;

d) Autorização provisória ao interessado para iniciar ou prosseguir uma atividade ou


adotar uma conduta;

e) Regulação provisória de uma situação jurídica, designadamente através da imposição


à Administração do pagamento de uma quantia por conta de prestações alegadamente
devidas ou a título de reparação provisória;

95
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

f) Arresto;

g) Embargo de obra nova;

h) Arrolamento;

i) Intimação para adoção ou abstenção de uma conduta por parte da Administração ou


de um particular por alegada violação ou fundado receio de violação do direito
administrativo nacional ou do direito da União Europeia.

Objetivo: respeitar a necessária utilidade da sentença.

Quanto aos requisitos para uma decisão no processo cautelar:

● 1º a existência do receio de uma lesão = a possibilidade de iniquidade por parte


da sentença final
● 2º a existência da aparência de um direito, isto é, a existência de uma
probabilidade de haver uma decisão final de procedência do pedido
● 3º a proporcionalidade da decisão feita a ponderação de todos os interesses em
causa.

Está aqui presente a ideia do periculum in mora, e do fumus bonis iuris. Sendo o
periculum in mora uma lógica de perigosidade, de criação de uma situação de facto
consumação ou de produção de prejuízos de difícil reparação para o requerente. Ver o
n.º1 do 120º CPTA.

O juiz tem então de fazer um juízo de prognose, desde logo na necessidade de


provar que existe um provável periculum in mora e é devido a esta lógica que se abre nos
processos cautelares, a via: quer das medidas conservatórias, quer das medidas
antecipatórias.

Apesar de tudo, e também nas pessoas coletivas terá que haver prejuízo de
natureza material relativamente a uma decisão a tomar. O que não existe é uma decisão
definitiva, tal como acontece, por exemplo, nos processos urgentes. Aquilo que aqui se
faz é uma avaliação da probabilidade da procedência.

Quanto ao fumus bonis iuris podemos considerar a existência de uma evidente


ilegalidade, ou de uma mera probabilidade da mesma acontecer.

96
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Se estiverem presentes estes 2 elementos: perigo de mora + probabilidade de uma


decisão de improcedência à tem que existir uma decisão que seja proporcional. E aqui
essa proporcionalidade vai ter um critério que é o da defesa do interesse público. A
medida provisória é decretada ou não, de acordo com o interesse público que possa estar
presente.

E portanto, o que se pretende alcançar: uma situação de equilíbrio, em que haja


uma ponderação de danos, que leve a uma decisão que seja no fundo adequada e
necessária. Por isso, o n.º3 do 120º CPTA, determina que as providências cautelares se
devem limitar ao necessário, para evitar a lesão dos interesses que sejam defendidos pelo
Direito.

ATENÇÃO: nestas providências, o tribunal deve ouvir as partes.

Pode também suceder que se chegue à conclusão, e quando já há processo


principal intentado, em que já há elementos para se produzir a decisão final, pode o
tribunal, ouvidas as partes dentro de 10 dias, antecipar essa decisão final. Ou seja, pode o
processo cautelar auxiliar a que se chegue a uma solução de decisão final do processo
administrativo.

O recurso que seja estabelecido relativamente a esta decisão tem efeitos


meramente devolutivos.

Estes processos cautelares estão dominados por um princípio de celeridade. E por


isso, a decisão que se tome relativamente às mesmas determina a notificação com
urgência às partes, para que seja possível um cumprimento de natureza imediata
relativamente a essa matéria.

Um assunto que assume complexidade é o da caducidade das providências. Por


exemplo, se foi decretada uma providência, mas aquele que a requerer, não utilizou no
prazo previsto o meio contencioso que tinha à sua mão para defender os seus interesses;
ou se o fez e o processo esteve parado no prazo de 3 meses, e em que haja negligência
sua.

Outra situação é a da extinção do direito que se pretendia tutelar: houve decisão


final contrária à manutenção da providência cautelar.

97
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Portanto nota-se aqui uma relação de dependência entre: o processo cautelar e a


ação administrativa que vai levar à decisão final.

Outro ponto que leva a que se tenha cuidado na apresentação destes processos
cautelares: possibilidade de o requerente possa responder pelos danos com dolo ou
negligência grosseira, tenha criado quer nos interessados quer nos contrainteressados à
são casos de utilização abusiva da providência cautelar.

Tomar em atenção:

o A providência nasce de uma lógica de suspensão e alarga-se,


acompanharam a evolução do contencioso administrativo;
o Há dois grandes requisitos, como vimos.
o Dependência total face ao que é decidido no âmbito da ação principal
o A decisão tem de ser obrigatoriamente uma decisão proporcional (como
é que se determina a sua proporcionalidade? Pela análise da existência
do interesse público, o interesse público tanto pode servir para que
venha a ser determinada a existência de uma providência cautelar,
como pode ser essencial para a determinação do não decretamento de
uma providência cautelar).
o Quando uma pessoa coletiva seja alterada ou seja revogada, esse facto
deve ser notificado aos requerentes, à entidade que foi requerida e aos
contrainteressados.
o Quando a pessoa coletiva se refira à aplicação de uma norma ou de um
ato administrativo que afete uma grande pluralidade de pessoas (o que
é evidente quanto às normas), ela tem que ser publicada nos termos de
uma decisão final porque implica a circunstância de uma pluralidade
de sujeitos.
o É possível que as pessoas coletivas sejam determinadas sob condição
ou sejam determinadas a termo certo porque o juiz considera que esse
é o momento em que o interesse público deixa de fazer sentido para
que esteja determinada uma providência cautelar.
o Também no mesmo sentido, se deve ter em atenção que se nada for
dito, as providências apenas vão caducar (e se não houver alteração de

98
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

circunstâncias) quando for proferida a decisão final, ou até ao


momento em que seja proferida uma decisão que leve à sua alteração.

17/03/2022

Convém notar que as Providências Cautelares são instrumentais, provisórias,


sumárias, o que é próprio de um processo que se caracteriza por ser provisório e urgente
ao mesmo tempo. Não confundir a Providências Cautelares com os processos urgentes.
Estamos aí a falar de realidades diferentes.

E se olharmos para aquilo que são as determinações de natureza legal em relação


a esta matéria: por exemplo, no 112º no nº1, notamos que há uma preocupação de que as
medidas tomadas sejam, por um lado, adequadas à situação e, por outro lado, assegurem
a utilidade da sentença.

Como vos disse, elas podem ser antecipatórias ou conservatórias. E o nº2 do 112º
dá-nos uma enumeração meramente exemplificativa de casos em que se admite a
existência de Providências Cautelares. Elas dependem fundamentalmente de 3 grandes
requisitos: o primeiro é o receio de uma lesão; o segundo é a existência de aparência de
direito; e o terceiro é proporcionalidade na emissão da medida cautelar.

Falando um pouco da lógica do receio de lesão: está logo previsto no 120º/1.


Corresponde a um fundado receio da existência de um possível dano, em relação ao qual
é necessário que o tribunal faça um juízo de prognose sobre a utilidade de uma
providência cautelar antes da sentença definitiva.

A lógica da existência de uma aparência de direito é uma novidade que surgiu


em 2002, bem como em 2015, e leva-nos a uma ideia de probabilidade de deferimento da
ação principal. Não devendo ser um pressuposto que se pressupõe como único na
aplicação das Providências Cautelares.

Por fim, a lógica da proporcionalidade da decisão vai corresponder ao juízo que


é feito em tribunal da ponderação de todos os interesses em jogo. Portanto, a
proporcionalidade é uma proporcionalidade não só na determinação de uma Providência
Cautelar, como, também, na determinação da Providência Cautelar em concreto, perante
a situação concreta – aplicando-se aqui a ideia de necessidade, que está prevista no 120º/3,
podendo essa necessidade passar pelo evitar da lesão dos interesses defendidos pelo

99
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

requerente, pela necessidade de ouvir as partes, adotar Providências Cautelares em


cumulação ou em substituição relativamente àquelas que foram pedidas/devidas.

Portanto, podemos já aqui notar que a aplicação da Providência Cautelar


corresponde a uma tutela provisória de interesses e nessa tutela provisória de interesses
tem de se atender ao momento em que é determinada a própria providência, não ao
momento apenas na lógica da decisão final. Tem de se defender os interesses em causa
no momento em que se determina a própria da providência. Também tem de se tomar em
atenção a possibilidade de existência de alteração de circunstâncias, que podem levar até
a que se apresentem novos meios de prova (113º/4), existindo também a possibilidade de
alteração e revogação das providências, que pode ser oficiosa ou por requerimento,
quando se alteram os pressupostos de facto e os pressupostos de direito que estavam
inicialmente presentes. Ver 124º CPTA.

Ainda nesta mesma linha, há quem veja as Providências Cautelares como um


processo de urgência com um contraditório limitado.

Mas esta ideia de urgência está por exemplo presente na possibilidade de se


decretar forma provisória, porque há precisamente 1 situação de especial urgência, da
providência requerida ou daquela que seja mais adequada num prazo de 48 horas.

Também se admite, na linha do que está previsto no CPC, o decretamento da


providência sem audiência no caso de a audiência das partes pôr em risco o fim da
providência.

Queria chamar a atenção para alguns factos, no plano legal. Desde logo: que há
sempre uma determinação sumária, no requerimento cautelar, do pedido, dos seus
fundamentos (alínea g) do nº1 do 114º) e que em relação à prova, no sentido da celeridade,
se presumem verdadeiros os factos invocados pelo requerente no caso de não haver
oposição.

Portanto, estamos aqui numa lógica de um processo que vai ser um processo
sumário, em que não há prova pericial, se determina um limite de 5 testemunhas, em que
o juiz pode recusar meios de prova que entenda como desnecessários, e que não há
adiamentos da audiência por faltas. Analisem estas referências nos números 3 a 6 do 118º.

100
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O valor da causa da Providência Cautelar é um valor próprio (32º/6), nunca se


podendo entender que a Providência Cautelar corresponde a uma decisão sumária ou a
uma decisão provisória, por muito que haja análises relativamente ao direito que são feitas
neste tipo de processos.

A Providência Cautelar de maior relevância vai ser a da suspensão de eficácia do


ato ad ou de normas, que não será determinada (atenção!) se se provar que com o
decretamento da providência, existe um prejuízo grave para o interesse público. Nesses
casos, teremos uma circunstância de indeferimento da execução da Providência Cautelar.

Para aquelas situações em que já se trouxeram para o plano da Providência


Cautelar todos os elementos que sejam necessários para a resolução do caso e ele seja
simples ou especialmente urgente, o tribunal poderá, sempre que ouvidas as partes (tudo
isto num prazo de 10 dias), antecipar a decisão definitiva.

Portanto, aqui a ideia é a de se cumprir uma lógica de celeridade na aplicação do


Direito, sempre cumprindo de forma rigorosa as condições necessárias para a sua
aplicação. E quando já tenha sido tentado no processo principal, os elementos que sejam
trazidos a juízo têm de demonstrar a existência de um relacionamento com essa mesma
causa.

Devemos fazer uma relação, por exemplo, com o artigo que se refere ao despacho
liminar, na medida em que esse decretamento é feito precisamente nesse despacho
liminar. (ligação entre 131º/1 e 116º). E os critérios de decisão pelo qual se assume a
providência cautelar, estão genericamente referidos no 120º, seja em relação ao perigo,
seja em relação a potenciais danos que a vida vai assumir.

Há casos especiais de Providências Cautelares como as relativas ao processo de


formação de alguns contratos públicos, como em relação à produção antecipada de prova.
Com isto terminamos a referência às Providências Cautelares.

O que sucede em relação a estas lógicas das Providências Cautelares? É a


utilização de modelo que vem do processo civil, com alguns elementos do processo
administrativo. Não pode a Providência Cautelar seguir em frente se constituir um
prejuízo grave relativamente à necessária defesa do interesse público.

SENTENÇAS

101
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O conceito de sentença parte de uma noção do CPC. Parte de um conceito de


acordo com o qual a sentença corresponde à decisão relativamente à causa principal ou
dos incidentes que se apresentem como relacionados com a decisão dessa mesma causa.
Remete-nos para a possibilidade de aqui termos presente uma decisão que pode ser uma
decisão material ou uma decisão meramente formal.

A absolvição da instância corresponde a uma circunstância em que com base em


determinados requisitos, nem sequer se vai conhecer o pedido. Temos 3 grandes
possibilidades:

1. Absolvição da instância;

2. Decisão com uma base meramente formal;

3. Decisão material.

Relativamente ao fim das sentenças, temos 3 grandes hipóteses:

a. Temos as sentenças de simples apreciação;

b. As sentenças condenatórias;

c. Ou as sentenças constitutivas.

Relativamente às sentenças de simples apreciação: são aquelas que não vão


implicar a alteração de relações jurídicas substantivas. As sentenças conservatórias são
as que estabelecem o dever de prestação de um facto positivo ou negativo, podendo ser
decisões de condenação genérica quando não se consiga concretizar o dever de prestação
de facto.

As sentenças constitutivas são aquelas que no fundo determinam a intervenção


sobre a ordem jurídica, criando, modificando ou extinguindo uma determinada relação
jurídica. Todas as sentenças de natureza negativa ou de improcedência serão meramente
declarativas.

Temos de distinguir as sentenças de simples apreciação (no fundo, declarativas),


as sentenças que condenam a uma determinada prestação de facto, e as constitutivas, que
alteram uma relação jurídica.

102
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Vamos ver agora aqui alguns aspetos de especialidade:

As sentenças constitutivas podem ter como consequência a invalidação retroativa


de atos de autoridade que geram eles próprios obrigações de restabelecimento da
legalidade.

Nas ações declarativas, também pode suceder (caso típico: declaração da nulidade
de um ato) que levem a uma obrigação para a Administração, isto é, que também tenham
aspetos condenatórios. Esta classificação das sentenças não leva a que elas tenham de ser
obrigatoriamente aplicadas no/num estado puro, podem existir interações.

Quanto ao primeiro caso, o que sucede? Há uma sentença que tem uma
característica constitutiva (portanto, cria, modifica ou extingue uma RJ) e que pode levar
a uma invalidade de atos de autoridade (por exemplo, atos administrativos) que têm de
ser restabelecidos numa lógica de respeito pelo princípio da legalidade.

Continuando na lógica das sentenças cujas características acabam por se


entrecruzar:

Também podemos dar o exemplo das sentenças condenatórias em que pode existir
uma intimação para uma ação ou omissão por parte da Administração. Portanto, aqui até
há uma lógica de ligação daquilo que nós vemos como ações meramente condenatórias
na lógica da ação principal com processos de natureza urgente.

Caso de decisão de provimento e os efeitos que esse mm provimento pode ter


quanto a uma situação que seja ela própria complexa devido à possibilidade de cumulação
de pedidos, isto é, há circunstâncias no contencioso ad que não são apenas enquadráveis
numa única circunstância, permitem a cumulação de pedidos, logo permitem decisões
com diferentes naturezas.

Vamos agora olhar para a matéria da determinação da sentença em caso de uma


simples anulação de um ato, que é a circunstância mais natural e aquela com que nos
vamos confrontar, ou nos vamos confrontar na vida prática por mais vezes.

Existe aqui naturalmente, quando há uma circunstância de anulação, um efeito


constitutivo, que se vai aplicar a partir do momento em que se dá a ilegalidade. Isto é, a
aplicação de efeitos ex tunc.

103
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Este efeito constitutivo que existe, com a tal aplicação retroativa relativamente ao
momento da ilegalidade, gera para a Administração um dever de execução da sentença.
Portanto, existe aqui uma lógica de um efeito reconstrutivo ou desconstrutivo. O que é
que naturalmente se vai fazer? Uma reconstrução de uma situação hipotética atual como
se não tivesse existido ato administrativo.

Atenção que pode suceder que o efeito confirmativo da sentença não leve a
Administração a praticar um ato idêntico àquele que ali está em causa.

Isto tudo se passa no plano de execução das sentenças. Ver 173º/1 – Sem prejuízo
da possibilidade de praticar novo ato administrativo sempre com respeito dos limites do
caso julgado. Caso julgado é sempre o limite até onde a Administração pode ir.

Para além disso, a AP vai ter que obrigatoriamente cumprir com deveres que não
tenham cumprido por referência à situação jurídica de facto que foi constituída. Para além
da referência direta da reconstituição da situação, pode a AP cumprir com deveres que
não tinha cumprido, pois não estava obrigada na medida em que não existia tal ato.

Temos efeito anulatório e efeito reconstitutivo derivado da execução da sentença.


Isto é completado pelo n.º2 do art.º173.na logica da anulação, a AP pode praticar atos
com eficácia retroativa. Sempre com respeito necessário por direitos ou interesses
legalmente protegidos, assim como é possível que situações jurídicas que se tenham
criado já depois da existência do ato e que sejam incompatíveis com a anulação, tenham
de ser extintas. Portanto, não são apenas as situações jurídicas como/que existiam ou
existiriam se não existisse o ato, como também aquelas que foram criadas na sequência
do ato propriamente dito.

Portanto, nós temos a declaração de anulação, efeitos retroativos da altura da


ilegalidade e a necessidade de atuar sobre as situações que foram constituídas porque o
ato existia, como aquelas que não foram determinadas porque o ato existia (e sobre as
duas tem de se atuar). E mesmo factos supervenientes estão sujeitos a estas consequências
da sentença.

Ver 90º/4. Este artigo refere-se a casos de cumulação de pedidos – todos eles
relacionados com ilegalidade de conduta administrativa, podendo o tribunal antecipar a

104
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

decisão daquela que seja considerada a causa principal que até poderão não necessitar de
uma instrução se beneficiarem da procedência do pedido principal.

A lógica deste artigo deve ser vista sob análise do 95º/6, que é o de haver decisões
em que vai ser necessário especificar as consequências de facto da decisão de provimento
da sentença.

O processo de execução das sentenças não extrai apenas consequências diretas da


decisão da ação principal, ou da sentença anterior, mas tem também uma dimensão
declarativa e produz efeitos autónomos (muitas vezes, efeitos de natureza condenatória).
Portanto, há aqui uma autonomia entre a decisão quanto a validade de um ato
administrativo e a especificação que é necessário fazer quanto às relações ou atos
necessários à reconstituição de uma determinada situação.

Portanto, é criada uma obrigação para o juiz de se reexaminar a situação de facto


à luz da sentença, à luz da lei aplicável, tendo a obrigação de manter a sua atuação dentro
destes seus limites. Pode suceder que questões de natureza formal até levem à prática de
atos inovadores. Mas o limite pelo qual a Administração tem de cumprir as determinações
do tribunal vai depender do grau de discricionariedade que tem a Administração na prática
do ato administrativo.

Para além deste elemento de discricionariedade, a natureza da própria sentença vai


depender do tipo de ato que está em causa. Se for um ato positivo, ele vai ter uma natureza
oficiosa que implica uma proibição de agir. Se for um ato de segundo grau, vai ter
implicações no primeiro, no primeiro grau. Ou se for declarativo vai ter uma eficácia
reportada a um momento anterior (aquilo que já vimos da retroatividade).

De todo o modo, o modelo que existe das/nas sentenças de natureza administrativa


são as de reconstituição da situação que teria existido no caso de não ter sido praticada a
ilegalidade.

Atos consequentes

Os atos consequentes são aqueles em que existe um quadro complexo. Há várias


determinações na lei relativamente a esta matéria. Por exemplo, o 156º/2 (quanto à
matéria dos recursos). Portanto, mantém-se a lógica processual da decisão primeira.

105
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Sendo o recurso um novo julgamento, podendo ser mantida ou revogada a decisão que
tenha sido recorrida.

Isto vai ter que se relacionado com o que está no nº2 do 173º, de que já falamos
quanto à questão da eficácia retroativa dos atos.

Quanto a estes atos consequentes, tem de se notar a existência da possibilidade de


aparecimento de novos atos que sejam incorporados com a restituição da situação a fazer.

Há sempre uma lógica de determinação de liberdade e de avaliação da


Administração relativamente às consequências quanto a atos que são consequentes face
à determinação que o tribunal tenha tomado. Não esquecer que as sentenças têm de ser
fundamentadas e que há limites subjetivos do ato julgado.

Há sentenças que não têm efeitos erga omnes, os efeitos são inter partes à por
exemplo, quando se está perante efeitos favoráveis em que tem de se tomar em atenção a
existência de contrainteressados. Apesar da consequência ser entre as partes, podem ser
extensíveis a outros..., mas também que se tem sempre de assumir o caso julgado de
acordo com aquilo que está determinado nos fundamentos da própria sentença. Ver 161º/1
– os efeitos podem ser estendidos a outras pessoas que não tenham recorrido à via
contenciosa no caso de estarem perante a existência de um ato de conteúdo idêntico.

CASOS PRÁTICOS

a) Despacho do Diretor de um instituto público sobre o processo disciplinar


interposto a um trabalhador com vínculo público, omitindo, na notificação, o sentido
da decisão.

O que temos? Ato administrativo. Art.º37 CPTA, al. a) do n.º1 e temos impugnação de
atos administrativos. O que seria relevante a seguir? A questão de ver quais os atos
impugnáveis e, portanto, teríamos que ir ao n.º1 do art.º51 e n.º2/a). Depois de vista a
questão dos atos impugnáveis, vimos quem tinha legitimidade para impugnar.
Artº55/1/a). Importa, também, ver os prazos – art.º58/1/b). Será que esta situação tem
alguma especialidade? Art.º59/2. Aqui não há fundamentação na notificação. Faltando
este elemento, o ato não é devidamente notificado. Podemos aplicar o regime 60.º CPTA
(possibilidade de se aplicar um processo urgente – explicar o que são processos urgentes).

106
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

18/03/2022

Execução de sentenças e com o recurso

Processo Executivo

Estamos a falar de execução de sentenças dos tribunais administrativos. E, durante


muito tempo, este não era um elemento relevante quanto ao contencioso administrativo.
Havia uma lógica de limitação histórica quanto a esta matéria por causa da aplicação da
separação de poderes (de acordo com o qual, a execução das sentenças ficava muito na
mão, e na disposição, da Administração, sendo que a AP podia assumir que era de
interesse público a não aplicação das sentenças.

Estava tudo nas mãos da vontade da própria Administração quanto à execução.


Isto tem ainda mais sentido quando estamos a falar de um contencioso que tinha por base
a lógica de anulação de atos administrativos. Portanto, um contencioso muito baseado
numa mera vertente declarativa de anulação de atos administrativos, gerava dificuldades
em tudo o que tem a ver com a execução da sentença. Porque a execução de sentença é
algo que vai ser oneroso para a Administração, e vai ter que se ter em atenção os limites
que um tribunal tem quanto à possibilidade de determinar comportamentos da
Administração.

Em 2002, na reforma, e na sequência da revisão constitucional de 1997, e da


determinação de uma ideia de tutela jurisdição efetiva dos direitos dos administrados,
quando a lógica deixa de ser centrada na Adm e passa a ser centrada nos administrados,
levou a um conjunto de modificações que têm consequências relativamente à execução
das sentenças. Desde logo, a maior virtude da ação adm, relembrar o que está determinado
no nº1 do artigo 37º quanto às várias possibilidades de ações administrativas, não estão
apenas as declarativas relativas à anulação, mas também as de, por exemplo, condenação
da Administração à prestação de um facto ou não prestação de um facto, para além de
responsabilidade civil, formação dos contratos etc.

Portanto, a lógica passou a ser a de um dever de execução da sentença por parte


da Administração passando esta a ter como ónus de invocar uma causa legítima de
inexecução da sentença, é o virar em relação ao que acontecia antes. Antes estava nas

107
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

mãos da AP, agora em princípio, tem que executar a sentença a não ser que haja uma
causa ilegítima de inexecução.

E quanto à execução, na lógica de uma Administração de prestações, passamos a


ter uma execução de sentença que pode envolver prestações de facto, prestações de
Direito, prestações de coisas, e de quantia certa.

Esta maior preocupação com a execução das sentenças, nota-se também na


possibilidade de determinação de sanções pecuniárias compulsórias. Estas sanções estão
relacionadas com as sentenças condenatórias (pensar na lógica do Processo civil) e
mesmo na lógica do processo executivo, embora no contencioso administrativo seja mais
ampla. Portanto, a lógica de execução da sentença não se fica pela questão condenatória.
para efeitos de contencioso administrativo há um conceito amplo de execução. Quando
estamos a falar de sentenças constitutivas (na sequência, por exemplo, de anulação de um
ato adm), pode ser determinada a reconstituição da situação que existiria se o ato não
tivesse sido praticado; e aliás, são nulos ou anuláveis os atos contrários a uma sentença
que mantenham a circunstância que existia sem anulação. Ver a determinação dos artigos
164º nº5 e nº6: Se a Administração tiver invocado a existência de causa legítima de
inexecução, segundo o disposto no n.º 3 do artigo anterior, deve o exequente deduzir, se
for caso disso, as razões da sua discordância e juntar cópia da notificação a que se refere
aquele preceito.

No caso de concordar com a invocação da existência de causa legítima de


inexecução, o exequente pode requerer, no prazo estabelecido no n.º 2, a fixação da
indemnização devida, segundo o disposto no artigo 166.º

Quando a Administração invocar uma causa legítima para executar a sentença,


deve o exequente da mesma deduzir as suas razões de discordância juntando também uma
cópia da notificação. No caso de concordar com a causa ilegítima, poderá requerer um
pedido de indemnização. Portanto de qualquer maneira alguma consequência haverá
sempre.

Lógica para compreender estas regras: na execução de sentenças no processo civil


e temos duas partes de direito privado, aqui temos duas partes que exercem poderes
públicos, e que os exercem de forma distinta: os tribunais e a Administração. No processo

108
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

civil temos uma determinação do poder público sobre privados, aqui temos a
determinação do poder público sobre outro poder público.

Apesar de tudo, não há um impedimento sobre a possibilidade de acordo entre as


partes relativamente à execução da sentença.

ATENÇÃO: quando falamos em “execução de sentença” estamos a entrar num mundo


novo de natureza judicial também relativamente à ação principal. Notar: atos contrários
às sentenças, no nº2 do artigo vem referido que as decisões dos tribunais adm são
relevantes sobre decisões dos tribunais administrativos. E os seus autores, estão sujeitos
a uma responsabilidade civil, criminal e disciplinar.

Determinada a sentença, e sendo uma sentença que determina o pagamento de


quantia certa há 30 dias para a executar de forma espontânea, passado esse prazo pode o
particular iniciar o processo de execução de sentença.

Claro que quando começa o processo de execução da sentença, podem existir


causas legítimas que levem à não execução da sentença.

Podem existir causas legítimas que levem à não execução da sentença, causas
legítimas de “inexecução”. O seu regime está previsto no 163º CPC. A execução pode ser
total ou parcial. E apenas será causa de inexecução a circunstância de prejuízo para o
interesse público, e portanto, para que tenhamos uma causa de inexecução, quem a invoca
vai ter que a fundamentar. Mais: só pode utilizar argumentos “novos” face ao momento
da decisão.

Só pode utilizar factos que sejam supervenientes OU que a Administração não


tivesse possibilidade de invocar durante o processo principal. É aquilo que era, no
mínimo, desconhecido na altura em que a Adm se pode pronunciar no processo principal.

Há uma notificação sobre estas causas de inexecução. A possibilidade prevista por


exemplo no 165º de oposição à execução, estamos aqui a falar de execução para prestação
de factos ou de coisas, diz o 165º nº1 é apresentada uma petição com vista à execução da
sentença, passado o prazo com vista à execução espontânea, as entidades que a devem
executar são notificadas para, no prazo de 20 dias, OU executarem OU se oporem à
execução. Um dos fundamentos de oposição à execução é a existência de causa legítima
de inexecução da sentença, segundo nº1 do 165º. Quando haja oposição, há suspensão da

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

execução podendo o exequente, em 10 dias, replicar. Caso concorde pode fazer o pedido
de indemnização. Nada fica igual.

Este regime é replicado no artigo 177º (sentenças de anulação de atos


administrativos).

Também na execução de sentenças de anulação dos atos administrativos se pode


invocar a existência de causa legítima de inexecução de acordo com o 175º do código de
processo, mais precisamente o nº2.

Para além da questão de execução, também se tem que tomar em atenção o regime
de possibilidade de indemnização. Na petição, o exequente deve especificar os actos e
operações em que entende que a execução deve consistir, podendo requerer, para além da
indemnização moratória a que tenha direito a entrega judicial da coisa devida, a prestação
do facto devido por outrem, se o facto for fungível.Estando em causa a prática de acto
administrativo legalmente devido de conteúdo vinculado, a emissão pelo próprio tribunal
de sentença que produza os efeitos do acto ilegalmente omitido.

Estando em causa a prestação de facto infungível, a fixação de um prazo limite,


com imposição de uma sanção pecuniária compulsória aos titulares dos órgãos
incumbidos de executar a sentença. Ver artigo 164º nº6 CPTA em ligação com o 166º.
Com esta ideia: se o tribunal considerar que há de facto, uma causa legítima de
inexecução, tanto que é procedente, vai notificar não apenas o exequente como também
a Adm para no prazo de 20 dias, acordarem no montante de indemnização. Caso precisem
de mais tempo é possível prolongá-lo. Na falta de acordo, o tribunal no prazo de 20 dias
vai determinar o montante de indemnização, n2 do 166º.

Vieira de Andrade até considera esta possibilidade de um modo mais amplo.


Considera uma forma mais ampla para além da própria indemnização.

Regras gerais quanto à execução de sentenças:

Em regra, é competente para a execução, um tribunal de 1ª instância.

Em segundo lugar, a legitimidade para requerer a execução de sentença é de quem


teve provimento na decisão judicial, e o MP. Para Vieira de Andrade, deve ser qualquer

110
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

pessoa com interesse direto na sentença, que pode pedir essa execução quando a mesma
seja erga omnes.

Quando estejamos perante a prestação de factos fungíveis, há diferenças também:


como por exemplo a possibilidade de substituição pública ou quando está em causa a
prática de ato administrativo legalmente devido cujo conteúdo esteja vinculado.

Quando estamos a falar de prestação de facto infungível, está determinado um


regime extraordinário. O juiz determina e especifica na sentença constitutiva os atos que
estão em causa, as operações que têm que ser cumpridas, notifica o órgão responsável, e
fixa o prazo limite razoável para a realização de prestação. Não pode ser por um terceiro.

Quanto ao pagamento de quantia certa: O tribunal dá provimento à pretensão


executiva do autor quando, dentro do prazo concedido para a oposição, a Administração
não dê execução à sentença nem deduza oposição ou a eventual alegação da existência de
factos supervenientes, modificativos ou extintivos da obrigação venha a ser julgada
improcedente. Art.º172. Ver também o n.º2.

ATENÇÃO: no orçamento do Estado tem que existir uma votação afeta a estes
pagamentos e ela existe à ordem do Conselho Superior do TAF. Quando não tenha
existido compensação de créditos, o tribunal dá conta disso ao Conselho Superior para
ele no prazo de 30 dias cumprir com a ordem de pagamento. Quando não haja, tem o
Conselho Superior que notificar disso ao Primeiro Ministro e Assembleia da República
para que promova abertura de crédito extraordinário, podendo nessa circunstância o
exequente, que dela tenha sido notificado, requerer ao Tribunal que continue com a
execução e requerer fixação de prazo para pagamento.

Portanto, estes regimes têm especialidades muito marcadas relativamente ao que


está determinado no CPC.

Execução relativa à anulação de atos administrativos:

O ponto de partida é o art.º4º n.º2, de acordo com o qual, se podem cumular vários
pedidos, desde logo de anulação do ato administrativo com condenação à prática da
Administração. Depois, a nível da execução da sentença vamos chegar à necessidade de
colocar em causa atos administrativos contrários à lógica da decisão tomada.

111
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quanto à decisão desta matéria: estamos perante a sentença em que é mais clara a
questão do relacionamento entre administração e tribunais, no sentido de delimitação de
poderes distintos entre ambos. problema que se põe aqui: a possibilidade de
discricionariedade na aplicação dos atos.

Portanto, o juiz quando determina a procedência do pedido, também, especifica o


conteúdo dos atos e operações que têm que ser tomadas para dar execução às sentenças.
Para além disso, tem que identificar o órgão em causa e ainda fixar o prazo de intervenção,
nº1 do 179º. Para além disso, declara a nulidade dos atos que sejam contrários à sentença,
anulando aqueles que sem fundamento se mantém contra a decisão. Pode ser determinada
logo nessa altura, uma sanção pecuniária compulsória com vista à execução da sentença
nº3 do 179º.

Lacunas que tem o sistema de execução de sentenças do nosso código: a questão


dos factos negativos, em segundo lugar a falta de regime específico relativamente à
nulidade de um ato (à sentença declarativa).

Quando se está perante uma circunstância de inexecução que é ilícita, é preciso


tomar em atenção, as regras determinadas quanto à invalidade dos atos administrativos,
sendo nulos os atos que ofendam os casos julgados, sendo essa nulidade invocável a todo
o tempo i) do n.º2 do 161º e n.º2 do 162º n.º2 CPTA.

Quanto à questão de responsabilidade relacionada com a execução de sentença,


por inexecução ilícita das decisões judiciais, essa responsabilidade está determinada no
179º e pode determinar a existência de responsabilidade civil e de uma responsabilidade
disciplinar. Também é possível que exista responsabilidade de natureza criminal: crime
de desobediência qualificada, de acordo com os arts 159º.

Quanto ao regime das sanções pecuniárias compulsórias, este tem por base: CC e
a sua possibilidade vem definida no nº2 do art 3º CPTA, podendo os tribunais det prazo
para cumpriemtndo das sentenças, e aplicar quando tal se justifique (tem que haver
fundamentação, justificação) sanção pecuniária compulsória, e ambas existem para se
assegurar a efetividade das decisões dos tribunais. A lógica deste n.º2 do art 3º é a de
possibilitar uma execução específica da sentença ou o cumprimento de um prazo razoável
para a mesma. A ideia na determinação da sanção pecuniária compulsória é a de que

112
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

exista por parte do juiz, uma liberdade de avaliação que vai depois levar à determinação
de uma medida em concreto.

Ponto de partida de pressupostos objetivos: a existência de uma sentença de


condenação, ou de uma sentença de intimação, que seja válida, e em que haja
especificação da forma de execução.

A partir desse pressuposto objetivo e da relevância que o juiz considere que ele
tem, pode determinar uma sanção pecuniária compulsória que recai sobre os titulares dos
órgãos do Estado, não recai sobre o Estado, e portanto lógica de um património que é
individualizado para se perceber quem é responsável pelo pagamento da sanção. Também
se podem aplicar sanções pecuniárias compulsórias relativamente a particulares que no
fundo ficam sub-rogados na posição que a Administração tem no processo. Assim como
em circunstâncias referidas no nº4 do 111º, especificamente relativamente à impugnação
de decisões.

A sanção pecuniária compulsória quando é imposta leva à fixação do seu


montante e às regras de liquidação que são da competência do juiz, que as determina de
forma oficiosa. Cessa com o cumprimento integral da sentença inicial.

Para além destas regras, há um conjunto de casos que correspondem a casos


especiais de execução. Em regra, o seu regime está nos arts 175.º e ss. Decorrendo
também em relação aos particulares no tribunal administrativo, mas se não houver
legislação especial as regras serão as do CPC.

Diferentemente, o regime de execução quando estamos a falar de ato


administrativo praticado pela Administração vs. ato administrativo praticado por
particulares.

Quanto a regras e regimes especiais: ver nº4 do 257º que se refere a outros casos
em que se pode utilizar as vias de execução previstas quanto a estas sentenças.

E quanto ao regime dos Recursos Jurisdicionais: 140º ss.

Regra: lei processual civil, salvo o que esteja det desde logo no CPTA, nº3 do
140º.

113
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O recurso é desde logo relativo ao mérito da causa, e vamos considerar dentro do


mérito da causa, as matérias especificadas no nº 2 do 142º. Consideram-se incluídas nas
decisões sobre o mérito da causa as que, em sede executiva, declarem a existência de
causa legítima de inexecução, pronunciem a invalidade de atos desconformes ou fixem
indemnizações fundadas na existência de causa legítima de inexecução.

Regra de valor dos recursos: n.º1 do 142º (O recurso das decisões que, em
primeiro grau de jurisdição, tenham conhecido do mérito da causa é admitido nos
processos de valor superior à alçada do tribunal de que se recorre, quando a decisão
impugnada seja desfavorável ao recorrente em valor superior a metade da alçada desse
tribunal, atendendo-se, em caso de fundada dúvida acerca do valor da sucumbência,
somente ao valor da causa.), mas esta regra tem a exceção do nº3.

Quanto à forma em matéria de recurso, isto é, ao recurso sobre matéria de forma,


as decisões tomadas num despacho interlocutório podem ser objeto de impugnação de
tmb de recurso, quanto à decisão final, exceto nos casos em que o CPC admite tramitação
autónoma.

Quando estivermos perante ato de mero expediente, não há recurso, com exceção
daquilo que está previsto no nº3 do art 7º. A decisões que vão contra o princípio da
igualdade ou do contraditório, com aquisição para o processo de factos, ou
admissibilidade de meios de prova.

Tipos de recurso que existem:

No plano doutrinário, temos uma distinção entre:

● recursos substitutivos (substituem uma decisão)


● recursos cassatórios (há mera anulação de decisão do tribunal, com remessa para
o mesmo para tomada de uma outra decisão)

Portanto, no recurso ou se toma uma decisão contrária (se decide) OU dá-se a


possibilidade de existência de efeitos cassatórios.

No plano legal, também temos uma classificação:

● à ordinários (os recursos de apelação e de revista)

114
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

● à extraordinários (a revisão e o recurso para uniformização da jurisprudência)

O recurso de revista tem o seu regime no 150º CPTA, aplica-se, por exemplo, a
decisões de segunda instância do TCA em que excepcionalmente há revista para o STA,
tem que assim suceder em relação a matérias de especial relevância. OU então quanto
para aplicação melhor do direito, o recurso se demonstre como totalmente necessário, há
recurso de revista com base em questões de natureza processual e em questões de natureza
material. O recurso está limitado quanto aos factos materiais que sejam fixados pelo
tribunal devido, existindo uma determinação do regime jurídico por parte do tribunal de
recurso. Também podemos ter o recurso per saltum para o STA, este vem da primeira
instância, e sucede com mais do que 1 requisito: é necessário que só tenham sido
chamadas questões de direito, e que o valor OU seja indeterminado OU seja superior a
500 mil euros. Portanto, as determinações quanto aos recursos ordinários, estão previstas
nos arts 150, 151º. Quanto aos recursos extraordinários, também têm a sua relevância a
questão da unif da jurisp, sendo o regime fund quanto a esta matéria o do 152º cpta, e esta
uniformização pode se dar em duas grandes sit: contradição quanto a questão de Direito
entre dois acórdãos do STA, ou quanto a um entre TCA e TCA, e TCA e STA.

Tem que se identificar a contradição, a infração que se considera na contradição,


e o recurso não é admitido quando se peça a contradição relativamente a um acórdão que
esteja de acordo com a mais recente jurisprudência do STA. São publicados em DR.

O segundo tipo de recurso extraordinário é de revisão, aplica-se ao recurso de


revisão, as regras que estão determinadas no CPCivil. E atenção, pode pedir a revisão,
não apenas quem tenha sido citado no processo, mas também aqueles que estão a sofrer
com a decisão que foi tomada, abrindo-se aqui uma maior legitimidade para este recurso.

O recurso vai ter o caminho relativo ao processo a que respeita porque vai ser
apensado a esse processo. Especialidades que tem o recurso das decisões dos tiriba dm
face às regras do processo civil. Desde logo, quanto à legitimidade, tem legitimidade
quem ficou vencido mas também o MP nº1 do 141º, n.º4, porque também pode recorrer
aquele que não é parte, mas que foi prejudicado pela decisão do tribunal administrativo.

Portanto, a lógica de legitimidade é aqui mais aberta, e relacionado com isto outra
dif. é o papel do MP que pode recorrer nº1, nº3, nº4 do artigo 141º, mas tmb pode ter

115
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

intervenção à luz do n1 do 146º no fundo uma pronúncia com um especialista quanto


estejam em causa violações de DF’s.

Efeitos do recurso, nº1 artigo 143º em princípio são suspensivos. Há casos


referidos na lei em que o efeito é suspensivo, nº3 do artigo 143º quando há suspensão,
leve a situação de facto ou à produção de prejuízos muito difícil reparar pode ser requerido
que o recurso tenha meros efeitos devolutivos. Regra: suspensivo, mas pode se requerer
que o efeito seja meramente devolutivo.

Quando a decisão do tribunal possa causar danos, o tribunal também pode


determinar medidas para os minorar e impor a prestação de uma garantia. O efeito
meramente devolutivo é sempre recusado quando os danos que da manutenção da decisão
se mostrem superiores àqueles que existiriam se o recurso fosse suspensivo.

Há aqui sempre uma lógica de avaliação dos danos que podem vir a ser
determinados na sequência da existência do recurso e da manutenção da decisão, que os
efeitos são meramente devolutivos.

Outro ponto: possibilidade ampla de as partes se pronunciarem em sede de recurso


nº3 do 146º.

Prazos: Art.º144 CPTA. O prazo para a interposição de recurso é de 30 dias e


conta-se a partir da notificação da decisão recorrida. O recurso é interposto mediante
requerimento dirigido ao tribunal que proferiu a decisão, que inclui ou junta a respetiva
alegação e no qual são enunciados os vícios imputados à decisão e formuladas conclusões.
Recebido o requerimento, a secretaria promove oficiosamente a notificação do recorrido
ou recorridos para alegarem no prazo de 30 dias.

Outro ponto: a possibilidade de julgamento a nível de recurso é ampliada,


podendo estar presentes todos os juízes tal como previsto o 148.º CPTA. Quando a
decisão seja necessária para manutenção de linha jurisprudencial, é necessário quórum de
presença de 2/3.

Quanto aos poderes que o tribunal tem nos recursos ordinários, ver aqui lógica de
sentença substitutiva, nº1 do art 149º, porque ainda que se declare nula a sentença, o
tribunal de recurso tem sempre que decidir o objeto da causa, obriga ao reconhecimento
dos elementos de facto e de direito - n.º1 do art.º149.

116
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Art.º149/2 CPTA: Se o tribunal recorrido tiver julgado do mérito da causa, mas


deixado de conhecer de certas questões, designadamente por as considerar prejudicadas
pela solução dada ao litígio, o tribunal superior, se entender que o recurso procede e que
nada obsta à apreciação daquelas questões, conhece delas no mesmo acórdão em que
revoga a decisão recorrida. n.º4: Nas situações previstas nos números anteriores, há lugar,
no tribunal superior, à produção da prova que, ouvidas as partes pelo prazo de cinco dias,
for julgada necessária, sendo aplicável às diligências ordenadas, com as necessárias
adaptações, o disposto quanto à instrução, discussão, alegações e julgamento em primeira
instância. tem os deveres de audição das partes no n.º 5 do art.149º.

Portanto, há aqui uma lógica de amplitude dos poderes de conhecimento por parte
do tribunal de recurso.

b) Despacho do Diretor-Geral dos Assuntos Farmacêuticos, que ordena o


encerramento de um posto de medicamentos sem fundamentar devidamente a sua
decisão e indicando, na notificação, a sujeição daquela decisão a impugnação
administrativa necessária.

Despacho em que há notificação em que se diz que é necessário fazer uma


impugnação administrativa necessária em relação ao encerramento do posto de médico
que não está fundamentado. É um ato administrativo, e, a partir daí, a ação administrativa
que podemos utilizar é a do art.º37/n.º1/a) CPTA.

Este ato administrativo terá, à partida, algum vício com consequências


processuais? Falta de fundamentação, regra específica, art 60 n.º2, portanto à partida
íamos ter a intimação que é um processo urgente. Falar dos processos urgentes. Remissão
entre o n.º2 e n.º3.

Existe uma impugnação administrativa necessária? Art 185.º - só a lei pode


determinar a impugnação administrativa necessária pelo que a indicação na notificação
não o determina..

Se houvesse impugnação administrativa necessária, aplicamos o art.59.º. Prazo


suspenso, fica-se à espera da decisão, finda a decisão, retoma-se o prazo. No entanto, a
suspensão pressuporia uma notificação validamente feita.

117
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

c) Ato que exclui um candidato de um procedimento concursal tendente à


celebração de um contrato de aquisição de bens móveis, que viola o princípio da
imparcialidade, praticado por um município e em cuja notificação falta a indicação
da data da sua prática.

● Processos urgentes. São processos mais céleres com prazos menos dilatados em
relação à apresentação, resposta, e determinação da sentença final.
● Para além da possibilidade de processo urgente, havia outra: impugnação do ato,
aplicar n.º2 do art.º60 e suas consequências (não havia indicação da data).
● Falar da legitimidade, prejudicado, mas em causa estava a aplicação do art 60º
CPTA.
● Era um ato destacável dentro do procedimento.
● Quem tem legitimidade para a impugnação neste caso era o prejudicado, falar dos
prazos, etc.
● Imparcialidade: era questão de legalidade, e não de conveniência.

d) Decisão de indeferimento de um pedido de reclamação apresentado


contra um ato do Ministério da Economia que impõe uma sanção disciplinar a um
trabalhador em funções públicas.

Trabalhador em funções públicas:emprego público.

● Possibilidade de Condenação de ato devido, possibilidade de anulação (podia


haver cumulação de pedido);
● Legitimidade está no art.68º;
● Prazos (impugnação de ato administrativo).
● Pedido de reclamação para o ministro: consequência do n.º4 do art.59º, utilização
de meios de impugnação administrativa suspende o prazo

e) Falta de decisão, no prazo legal, pelo Instituto de Segurança Social, I.P.,


de pedido de atribuição de apoio judiciário com referência a uma ação de
responsabilidade civil extracontratual do Estado.

Pedido de condenação de ato devido art.87º b), art.67º n.º1 a), art.69º, art.º71 n.º1,
lógica da amplitude de poderes de conhecimento que o tribunal tinha.

118
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Podíamos acrescentar uma referência: este é um pedido de apoio judiciário.


Importa falar de ações de responsabilidade civil extracontratual, ir ao art.37º e falar do
seu regime. Referir intimação de proteção de DLG.

25/03/2022

CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO

Vamos tratar o tema da relação jurídica fiscal.

Dentro dos tributos, temos várias categorias – uma delas é a dos impostos. E
quando falamos de relação jurídica fiscal, estamos a falar de uma relação jurídica que tem
no centro a obrigatoriedade de pagar contas.

Quando falamos de relação jurídica tributária, estamos a falar de uma relação


jurídica que tem como centro a obrigação de pagar tributos. Tributos podem ser impostos
ou não. Desde logo há primeira distinção que se faz: entre impostos, por um lado, e taxas,
por outro.

Quando falamos de impostos, estamos a referir a uma prestação unilateral, de


natureza coativa, imposta pelo estado aos seus cidadãos que não tem um carater
sancionatório e que existe porque os cidadãos praticaram 1 facto tributário. Há famosa
frase do Franklin que diz: na vida, certo só a morte e os impostos. Quando se morre,
também se paga impostos.

Os impostos são prestações que nós pagamos independentemente de utilizarmos


ou não serviços do estado. Pagamos porque temos um determinado índice de capacidade
contributiva: rendimento, património e consumo. E posso garantir que hoje já pagamos
impostos. Se fomos ao bar tomar café, pagamos já imposto (IVA). É muito difícil
passarmos um dia sem pagarmos impostos. Impostos acompanham-nos em todas as fases
da nossa vida. Já as taxas são prestações bilaterais. Isto é, paga-se uma taxa porque o
estado presta um determinado serviço, faz uma transação relativamente a um bem publico
ou remove um obstáculo jurídico – quem quer por uma esplanada na rua, tem de pagar.

Esta relação jurídica fiscal é composta por elementos de natureza objetiva e por
elementos de natureza subjetiva. No plano objetivo, o que temos? Temos o índice de
capacidade contributiva que nos vai ser aplicado. Isto é, o motivo que nos leva a termos
que pagar impostos. E nós pagamos impostos porque, por exemplo, obtemos um qualquer
rendimento. Devemos relembrar que quer o IRS quer o IRC são impostos periódicos.
119
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O IRS começa a ser considerado no dia 1 janeiro de cada ano e termina essa mesma
consideração no 31 dezembro. Neste dia acaba o ano fiscal, mas depois começa outro. O
ano fiscal termina, mas começa automaticamente um novo.

Segundo índice de capacidade contributiva: a utilização que damos ao nosso


rendimento, isto é, o consumo. A nível de consumo, temos impostos gerais sobre o
consumo e temos impostos especiais sobre o consumo. O imposto geral sobre o consumo
é o IVA. O IVA é aquele imposto que acompanha um bem desde o momento em que é
matéria-prima até ao momento em que, por exemplo, vai ser algo para vender. Em todo
o seu processo produtivo. Por isso se diz “imposto de valor acrescentado” – o que conta
é o valor que se acrescenta ao bem em qualquer uma das fases do processo. Esse imposto
vai ser pago por todos nós contribuintes e consumidores, porque é fenómeno designado
repercussão, que é transmissão económica do imposto, que no caso do IVA é obrigatória.

Terceiro índice de capacidade contributiva: o património. Em relação a este índice


de capacidade contributiva, podemos ter uma circunstância de tributação geral do
património. Por exemplo, estados há em que se discute a existência de um imposto geral
sobre as fortunas. Podemos ter (opção feita em Portugal) uma tributação parcelar sobre o
património. Em PT, o património que é tributado é o património imobiliário. Para esse
efeito, temos 2 grandes impostos: IMI e IMT. IMI é pago por aquele que seja proprietário
do imóvel no dia 31 de dezembro. O IMT é pago no momento em que há uma transação
de um imóvel.

Portanto, no plano objetivo, a relação jurídica fiscal tem estes elementos.

No plano subjetivo temos os sujeitos. A regra é que são sujeitos o sujeito ativo e
o sujeito passivo. Sujeito ativo é basicamente a Administração. Sujeito passivo é o
contribuinte. Atenção que nesta relação jurídica o sujeito passivo não tem uma
circunstância de liberdade. Ele é obrigado legalmente a pagar o imposto.

Por sua vez, atenção que o sujeito ativo tem várias circunstâncias de intervenção.
Em 1º lugar, é ele que determina a lei que se vai aplicar, exercendo aquilo que chamamos
uma competência tributaria. É ele que vai participar na relação jurídica com o sujeito
ativo. Ele não só determina a regra como tem participação explicita na relação jurídica
com o sujeito ativo.

120
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Por outro lado, estão presentes os elementos relacionados com a obrigação de


imposto, que é a obrigação que nasce da relação jurídica fiscal em sentido estrito, mas
também a necessidade de cumprir com deveres acessórios. Isto é, e por exemplo, a
obrigação de declaração. Aí, vamos voltar a conceitos de Direito Fiscal – conceito de
hétero ou autoliquidação. Há autoliquidação quando é o contribuinte que determina em
concreto qual é o montante de imposto a pagar. Há heteroliquidação em que apesar de o
contribuinte fazer a declaração de imposto, quem aplica a taxa ao rendimento é a
Administração. Com isto podemos ver que há uma grande relevância na determinação
daquele que vai ser o montante de imposto a pagar por parte da intervenção que é feita
pelo contribuinte. Isto é a aplicação de um princípio de colaboração entre contribuintes,
por um lado, e Administração, por outro. Cada vez mais a Administração vai passando
para os contribuintes obrigações que tem de cumprir para se determinar o imposto a pagar.
Neste momento, a nível da declaração de IRS, temos coisas facilitadas. A declaração de
rendimentos já está assumida na página de administração – o que temos de fazer é mera
confirmação, e tenho de ter em atenção se as coisas estão corretas ou não; o papel do
contribuinte hoje é dizer “está tudo bem, é esta” ou “há algumas alterações que são
necessárias fazer”.

Por estes elementos que podemos ver, a relação jurídica fiscal é uma relação de
natureza obrigacional – isto é, há uma obrigação que tem de ser cumprida pelo
contribuinte em relação àquele que é o sujeito passivo da relação obrigacional (que é a
AP). Mas ao mesmo tempo, essa relação é também uma relação de DA porque é uma
imposição de posição ao contribuinte por parte da Administração.

Estamos perante uma circunstância de uma obrigação de natureza legal.

É uma obrigação indisponível e executória. Indisponível porque não pode o


contribuinte, por exemplo, negociar com a Administração o montante de imposto a pagar.
E é executória porque a AP tem à sua mão um instrumento de gerar obrigatoriedade no
pagamento do imposto. Se deixarmos passar o prazo para pagamento voluntario do
imposto e não pagarmos, automaticamente começa a correr o processo executivo.

A partir de agora vamos ver a LGT e CPPT. Mas se formos ao artigo 36º da LGT
vemos estas referências que fizemos. Primeiro, a relação jurídica inicia-se com o facto
tributário. Facto tributário é a existência do rendimento, do consumo ou do património
que é fiscalmente relevante. As partes não podem, por sua vontade, alterar os elementos

121
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

essenciais desta relação jurídica. E não é possível que as próprias partes da relação
jurídica determinem livremente os seus efeitos. Os efeitos são determinados por lei. Nós
aqui estamos no âmbito de aplicação do princípio da legalidade no seu sentido mais
amplo. Já agora, os elementos essenciais dos impostos correspondem a um caso de reserva
relativa da AR. E o montante da taxa, a determinação da incidência, têm de ser feitos por
lei.

Voltemos aos sujeitos da relação jurídica (doravante RJ) tributária. O sujeito ativo
pode ter 3 grandes possibilidades de atuação: poder tributário; competência tributaria;
capacidade tributária.

O poder tributário é o poder que este sujeito ativo tem de determinar as regras que
se vão aplicar à RJ fiscal. Tem depois a competência tributaria, que é a possibilidade de
estar presente na RJ tributaria perante o sujeito passivo. Para isso, tem de ter capacidade
tributaria ativa.

Já o sujeito passivo que naturalmente é o contribuinte, isto é, é aquele que praticou


o facto tributário e que por isso vai pagar o montante de imposto em divida. Mas também
podemos ter uma figura que é a figura do devedor de impostoque é aquele sujeito que
apesar de não ter praticado o facto tributário, tem uma relação de proximidade com o
contribuinte que o leva a entregar ele ao estado os montantes em divida de imposto.

Neste plano, interessa duas grandes figuras a substituição tributária e a


responsabilidade tributária.

A substituição tributaria corresponde àquela situação em que há um terceiro que


ocupa o lugar que é inicialmente do contribuinte. Por exemplo: Alguém que trabalha por
conta de outrem sabe que o montante que recebe de remuneração do seu trabalho nunca
corresponde àquele que está contratualmente estabelecido, porque há montantes que são
retidos na fonte. Isto é o quê? É a determinação dos montantes que a entidade patronal
vai entregar ao estado por conta do imposto a pagar do seu trabalhador. Portanto, todos
os meses a entidade patronal tira uma percentagem daquilo que deveria pagar ao seu
trabalhador para entregar esse montante ao estado. Isto é algo que sucede todos os meses.

Todos os meses, há retenção na fonte. Todos os meses, a entidade patronal retira


parte daquilo que devia pagar como remuneração ao seu trabalhador e entrega ao estado.
Imaginemos que o montante em causa era de 1000. 1000 foi retido na fonte. Depois, faz-

122
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

se determinação dos montantes de imposto a pagar. Montante de imposto a pagar dá 800.


Há aqui 200 que vão ser devolvidos aos contribuintes. Isto leva a que muitos contribuintes
fiquem felicíssimos porque dizem “o estado devolveu” – mas não, o estado cobrou a mais
e só depois devolveu.

Para alem da substituição, que está relacionada com este mecanismo da retenção
na fonte (embora não seja obrigatório que para haver substituição haja retenção na fonte).
O segundo fenómeno é responsabilidade fiscal. A responsabilidade fiscal corresponde a
casos que são determinados de forma especifica na lei como de terceiros que tomam o
lugar do contribuinte. A responsabilidade é uma responsabilidade subsidiaria, em 1º
lugar. Isto é, é preciso que o contribuinte inicial não tenha de todo capacidade para pagar.
E, portanto, tem de se praticar o – há aqui o chamado benefício de excussão. Benefício de
excussão quer dizer: só depois de estarem executados até ao limite todos os bens do
contribuinte inicial é que se passa para o segundo. Só quando não houver mais nada. Os
casos de responsabilidade que são admitidos têm de estar previstos especificamente na
lei. E são, por exemplo, casos de diretores, administradores, sociedades, quando por
exemplo as sociedades não conseguem pagar.

Para alem da responsabilidade, um outro fenómeno tributário com relevância é a


repercussão fiscal. A repercussão corresponde àquela circunstância pela qual se transmite
economicamente um imposto. E quando a repercussão é obrigatória, transmissão é
obrigatória, temos então a repercussão obrigatória do imposto. Isto é, não há possibilidade
de se fazer as coisas de outra forma.

Conceito de procedimento tributário

Ver artigos 54º da LGT e 44º do CPPT. E corresponde à sucessão de atos que é
dirigida à declaração de direitos tributários. E aqui, no contencioso tributário, a noção de
procedimento vai ser fundamental. É sempre a partir do procedimento que nós vamos
situar e determinar o funcionamento do contencioso tributário.

O artigo 54º, além de nos dar o conceito do que é o procedimento tributário, dá


exemplos de procedimentos tributários. O principal deles é o de liquidação de um
imposto, isto é, é aquele procedimento no qual se determina não apenas qual é que é o
índice da capacidade tributaria, bem como qual é que é o seu quantitativo (daquilo que
chamamos tecnicamente como operações de lançamento tributário), como depois faz
aplicação de uma taxa que determina o montante de imposto a pagar.

123
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Temos de distinguir taxa de taxa de imposto. Taxa enquanto tributo é o tal tributo
de natureza bilateral que se deve a uma determinada intervenção da Administração. A
taxa de imposto é o montante percentual que se vai aplicar à capacidade contributiva e
pela qual se determina o montante em concreto de imposto a pagar.

Agora, tal qual este artigo 54º nos vai referindo os vários tipos de procedimento
(atenção que a enumeração que faz é uma enumeração meramente exemplificativa), não
é apenas a liquidação que é um procedimento tributário. Também o são as ações
preparatórias ou complementares da informação e da fiscalização tributaria, o
reconhecimento de benefícios fiscais, a revisão oficiosa do imposto, as reclamações
graciosas e os recursos hierárquicos, a avaliação direta ou indireta dos rendimentos ou do
património, e a cobrança das obrigações tributarias. De todo o modo, como normalmente
vamos parar ao contencioso tributário?

Houve uma declaração de imposto que fizemos (contribuintes) e que levou a uma
determinada declaração. As nossas declarações presumem-se verdadeiras e de boa-fé.
Com isto, quer-se dizer que a Administração fica totalmente vinculada a elas? Não, a AP
pode ir rebatê-las. E como faz isto? Através de uma inspeção, de natureza tributaria, em
que tem de ser exercido o princípio da audiência previa e em que se determina, por
exemplo, uma liquidação adicional de imposto. Questão: contribuinte caminhou para uma
liquidação de 10, imposto a pagar de 10, mas imposto a pagar seria de 30, paga mais 20.
A partir desse momento, o ónus da prova inverte-se. Isto é, terá de ser a parte, o
contribuinte, a demonstrar que tem razão e a Administração não. É quase como se fosse
jogo de ténis. A bola começa do contribuinte para a Administração e esta ou fica com a
bola e está tudo bem ou devolve a bola para o contribuinte através desta nova inspeção.
E vamos ter o contribuinte que tem de se defender. Coisa que pode fazer no procedimento
(a tal figura da reclamação serve para isso) mas também no processo tributário. O
processo tributário é processo judicial, onde se tratam, em princípio, matérias
relacionadas com liquidações. A liquidação, então, é o procedimento tributário de
excelência, é um ato ad, é um ato ad exequível e que tem muitas características de natureza
formal.

Fases do procedimento tributário:

124
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

1. Fase preparatória. É aquilo que o prof chama de lançamento. É a


determinação em concreto e quantificação do índice de capacidade
contributiva que vai levar ao pagamento do imposto.

2. Fase constitutiva. Esta fase é mais simples. É aquela pela qual se vai
determinar qual o montante de imposto a pagar.

3. Fase executiva. É a fase que tem a ver com a cobrança. Porque que
pagamos imposto? Porque somos obrigados. Se não fossemos
obrigados, não pagávamos impostos. É porque o estado tem força
executiva para chegar ao pé de nós e nos obrigar a pagar imposto.
Ninguém paga impostos porque quer. Pagamos imposto porque somos
obrigados.

No direito fiscal, temos um princípio que é, genericamente: paga primeiro,


reclama depois.

Como é este processo?

Começamos com uma liquidação que é feita pela Administração. Depois da


liquidação, abre-se o prazo para pagamento voluntario. E há 2 coisas que podem suceder:
ou paga ou não paga. Imaginem alguém que pensa: não vou pagar porque depois vou
reclamar e isto suspende. Não, não suspende. Se não houver pagamento, começa
automaticamente o processo executivo, que apenas será suspenso se nós prestarmos
garantia. Ele paga e depois, se tiver razão na reclamação, é devolvido. E se não pagou,
abrem dois processos: o processo declarativo e o processo executivo. E os dois continuam
a funcionar em/de modo simultâneo.

Contencioso tributário é um contencioso que se centra na ideia de ato tributário.

Quanto às fases, tudo começa com a iniciativa do contribuinte. Ou, como diz a lei,
com o impulso. O impulso para início tanto pode ser, conforme o que esteja previsto na
lei, da Administração tributaria (AT) ou dos interessados (artigo 69º da LGT) e sempre
que haja uma denuncia, o contribuinte tem direito a conhecê-la (artigo 70º da LGT).

De salientar aqui: Não há uma obrigatoriedade de o procedimento se iniciar com


uma determinada ação por parte da Administração.

125
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Por outro lado, passada a fase inicial, entra-se na fase de instrução, matéria que
está determinada nos artigos 71º a 76º LGT. Quem tem a direção do procedimento na
instrução é o órgão da Administração competente para declarar a decisão. Aqui,
naturalmente será a Autoridade Tributária e Aduaneira. Que pode utilizar todos os meios
de prova para poder decidir (evidentemente, todos os meios de prova que sejam admitidos
no direito). Quando se esteja perante presunções, admite-se prova em contrário. E o ónus
da prova recai sempre sobre quem invoque os direitos. Se for a Administração a invocar,
ela tem o ónus; se for o contribuinte, é ele que o tem.

Presumem-se verdadeiras e de boa-fé as declarações dos contribuintes que sejam


apresentadas nos termos da lei – 75º/1. O mesmo se vai aplicar relativamente à
contabilidade – por exemplo, no IRC, como sabem, as obrigações nascem muito de uma
base contabilística. Claro que se a contabilidade tiver omissões ou tiver erros, não se vai
aplicar esta presunção. É esse um dos pontos que naturalmente a AT vai tentar provar.

As informações que sejam prestadas durante a inspeção tributaria fazem fé se se


basearem nos critérios objetivos da lei. Já agora: Durante o procedimento de inspeção é
obrigatório, para que ele seja valido, que seja aberto um período de audiência previa do
contribuinte. O facto de se abrir esse período da audiência previa não obriga a que o
contribuinte seja efetivamente ouvido. Pode o contribuinte optar por não ser ouvido. O
que não pode deixar de existir é a possibilidade de ele dar a sua posição sobre os factos
que estão a ser invocados. Portanto, o que é que sucede? Há um relatório provisório da
Administração e é essa mesma Administração que tem de ouvir o contribuinte sobre o
seu relatório. Sucede que muitas vezes o contribuinte não o quer fazer. Porque prefere
guardar o seu argumentário para a fase judicial. Porque sabe uma coisa: a Administração
para reverter uma posição deste género tem de naturalmente estar perante erros de matéria
de facto. Se estiver perante meros erros de Direito, a Administração, em princípio, não
altera a sua posição.

E porque é que isto será assim? Por uma questão simples. Porque a Administração
mantém a sua posição e mantem a sua posição porque acha que se há alguma questão
jurídica envolvida, o mais natural é que venha a ser o tribunal, que é um terceiro, que
venha tomar uma decisão sobre isto/sobre o litígio.

Ponto importante: ao passo que no procedimento temos duas partes (o contribuinte e a


Administração), já quando estamos perante o processo, temos o juiz, o contribuinte e a

126
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Administração. Mais: o contencioso tributário judicial é um contencioso que envolve


naturalmente o contribuinte, por um lado, e a Administração, por outro.

A decisão do procedimento, que é a terceira fase, tem de ser fundamentada, mesmo que
a exposição dos motivos, quer de facto quer de direito... ou até se faça uma mera
concordância com posições anteriores, devendo ter sempre presente quais as normas
aplicáveis que levam à qualificação e quantificação que a Administração faz (qualificação
e quantificação sobre aquilo que é a posição da Administração).

Um procedimento próprio que a nossa legislação prevê é o da revisão dos atos


tributários. E ela pode ser feita: Pelo sujeito passivo no prazo da reclamação
administrativa e com fundamento em qualquer ilegalidade. Por iniciativa da
administração, num prazo de 4 anos após a liquidação. Ou pode ser a todo o tempo se o
tributo ainda não tiver sido pago e com base em erro imputável aos serviços (tem de ser
sempre um erro imputável aos serviços). Esta revisão é uma espécie de boia de salvação
quando os prazos estão todos saldados/terminados/celebrados. Mas atenção: tem de se
provar que há um erro que seja imputável aos serviços.

No fundo temos um procedimento que vai ter que ser decidido e da decisão do
procedimento depois temos recurso judicial (possibilidade de ação judicial, de recurso
judicial).

Também pode acontecer que haja recurso hierárquico. Recurso que é feito para o mais
superior hierárquico do autor do ato. E a não ser casos de estrita determinação legal, este
recurso é sempre facultativo. Já podemos ver que no plano do procedimento temos vários
atos que são possíveis.

Há um conceito especialmente importante: o conceito de ónus da prova relativamente


aos atos de liquidação. Inicia com a declaração do contribuinte e a presunção que a
mesma é verdadeira e de boa-fé; a possibilidade da Administração demonstrar que há
questões, quer quanto à quantificação dos índices de capacidade contributiva, como
também à sua qualificação; e depois o ónus da prova que se vira ao contrario, para o lado
dos contribuintes.

Por outro lado, também sabemos que, neste meio, estamos perante uma logica que é uma
logica de privatização de funções. Isto é, cada vez mais há um conjunto de obrigações
que têm de ser cumpridas pelos sujeitos tributários privados de acordo com o princípio

127
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

de colaboração com a Administração. Esses custos são custos relevantes para as empresas
e uma das preocupações que cada vez mais têm é perceber o seu montante. Hoje as
empresas, mesmo para cumprirem as suas obrigações de natureza fiscal, têm de ter um
esquema interno de forma a poderem cumprir com as obrigações que lhe são determinadas
pela própria Administração.

Quanto à liquidação propriamente dita: vamos falar do conceito de caducidade da


liquidação. É no fundo a determinação do prazo limite para se fazer a liquidação. E neste
plano temos os artigos 45º a 47º. E o princípio geral é este: caduca o direito a liquidar-se
no prazo de 4 anos. Isto é, se a Administração tributária fizer a liquidação já depois deste
prazo, essa será uma liquidação que não é valida.

E nós temos fundamentalmente dois regimes: o regime que se aplica aos impostos de
natureza periódica e o regime que se aplica aos impostos instantâneos. No caso dos
impostos de natureza periódica, o prazo de 4 anos começa-se a contar a partir do fim do
período que está em causa. Isto é, se temos uma tributação para este ano de 2022, de
acordo com a regra que aqui está estabelecida, mais precisamente no nº4... e, portanto, de
acordo com aquilo que está determinado, o prazo de caducidade conta-se nos impostos
periódicos a partir do termo do ano em que se verificou (portanto, no último dia do ano).

Se estivermos perante um caso de um imposto de obrigação única, vai-se contar esse


prazo a partir da ocorrência do facto tributário. Nos casos de IVA, começa-se a contar a
partir do início do ano civil seguinte àquele onde/em que se verificou o ato. Porque é que
isto é relevante? É relevante porque é o limite que a Administração tem para poder
atuar.Quando chega ali ao final do ano, há uma pressão grande da Ad a atuar em relação
a tudo o que se passou 4 anos antes.

Também é importante saber os motivos pelo qual o prazo de caducidade se suspende.


Suspende-se a partir do momento em que é notificado o contribuinte de uma ação de
inspeção. Essa suspensão do prazo de caducidade cessa se uma inspeção externa tiver
ultrapassado o prazo de 6 meses, sem que nada o justifique.

Já agora, devemos distinguir inspeção interna de inspeção externa. A inspeção externa é


aquela em que a inspeção tributaria vai ao domicílio ou às instalações do contribuinte. Já
a inspeção interna, pelo contrário, é aquela em que é o próprio contribuinte que vai à
Administração dar as informações que são necessárias.

128
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Também se suspende a contagem do prazo de caducidade quando haja um litígio judicial


de cuja resolução dependa a liquidação. Suspende-se desde o início até ao transito em
julgado da decisão. Quando o direito à liquidação resultar de reclamação ou de
impugnação, desde a sua apresentação até à sua decisão.

Pontos relevantes: O prazo é de 4 anos. Findo o prazo de 4 anos, não pode a


Administração fazer a liquidação. Há motivos de suspensão da contagem do prazo de
caducidade. O principal é a abertura de um processo de inspeção tributaria, em que se
conta a suspensão desde o momento em que o contribuinte foi notificado dessa ação; e a
suspensão mantém-se até ao fim do procedimento de inspeção a não ser que o mm
ultrapasse os 6 meses.

O resultado normal de uma inspeção poderá ser a existência de uma liquidação adicional.

Distinção entre avaliação direta e a avaliação indireta: a Administração determinou um


critério de acordo com o qual pode fazer avaliação indireta e pode, por exemplo, aplicar
o que chamamos de índices de capacidade contributiva. O que é que fazem? Para os casos
de impossibilidade de comprovação dos elementos indispensáveis ao cálculo da matéria
tributável ou para aqueles casos em que a matéria tributável, durante 3 anos seguidos, se
afasta dos indicadores objetivos da atividade de base técnico-científica, ou se afasta dos
padrões de rendimento. Alguém não declara rendimento nenhum, mas tem uma casa
espetacular, um automóvel XPTO, etc. A Administração pode dizer “o sr tem aqui estes
indícios e, portanto, vou aplicar uma percentagem sobre os mesmos na determinação da
matéria tributável, e depois vou aplicar a isso a taxa”.

Um caso que também é aplicável de aplicação dos regimes de avaliação indireta: são os
que têm a ver com advogados que trabalham por conta própria – os advogados que vão
trabalhar por conta própria apresentam os seus rendimentos de categoria B por uma de
duas formas: ou com recurso à contabilidade organizada ou, no caso de não ultrapassar o
montante anual de 200 mil euros; se acima desse montante, fantástico, é contabilidade
organizada sem mais. Se estiverem abaixo dos 200 mil euros, vão optar ou pelo regime
simplificado ou pelo regime da contabilidade organizada.

O regime simplificado determina o seguinte: pressupõe-se 25% do rendimento do


trabalho independente. É o custo da sua atividade. Sendo que (isto não é assim sem mais)
o trabalhador tem de demonstrar perante a Administração, salvo erro, ou 10% ou 15%
desse montante – portanto, tem de demonstrar, através de faturas, que é verdade em

129
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

relação a 15%. Se não demonstrar, fica apenas com 10% de desconto. Esta avaliação
indireta é um regime excecional.

A tomada de posição por parte da Administração tem que ser fundamentada de acordo
com as regras determinadas no artigo 77º. Há depois alguma discussão sobre os efeitos
da não fundamentação. Na opinião do professor, a falta de fundamentação leva a um vicio
do ato de liquidação. Aplicando-se as regras do CPA no plano da opção pela nulidade ou
pela anulabilidade/aplicando-se as regras do CPA com consequência sobre uma possível
nulidade ou anulabilidade.

Quanto à cobrança: A cobrança pode ser feita com base no pagamento voluntario, mas
se não for feito o pagamento voluntário, caminhamos para a cobrança coerciva. E é aí que
surge a possibilidade do pagamento a prestações. O pagamento das prestações inclui-se
dentro da logica da cobrança coerciva, tem de ser feita nos termos legais e é aplicada na
fase executiva. O requerimento para pagamento a prestações apenas pode ser apresentado
depois de ter passado o prazo para pagamento voluntario. Quem pede o pagamento a
prestações é quem o consegue fazer. Só se pode apresentar o requerimento quando não
seja possível. Pode dar nota à Administração que o vai fazer. Mas o requerimento
propriamente dito só com a abertura do processo executivo.

A cobrança coerciva tem como elemento a execução fiscal prevista no 103º da LGT e
148º e ss. do CPPT.

Esta é uma fase em que há o/um papel próprio dos tribunais e da Administração. Como,
alias, podemos notar analisando o artigo 151º do CPPT. Como começa a execução? Com
o ato de citação do executado. A comunicação do processo executivo faz-se por citação;
a comunicação no processo tributário faz-se por notificação. O objetivo da execução será
o da apreensão dos bens por penhora. Faz-se uma convocação de credores e verificação
da graduação dos créditos. E tudo termina com a venda dos bens penhorados. Com essa
venda, vai terminar o processo de execução fiscal. Ver 259º e ss e 264º/274º e ss. CPPT.

Atenção que vamos acabar por trabalhar com um esquema idêntico, evidente: Primeiro
passo: Liquidação – que é feita pelo próprio contribuinte, por exemplo (autoliquidação,
no caso do IRC). Segundo passo: Inspeção tributaria. A inspeção tributaria determina uma
liquidação adicional. Há o direito à audiência previa por parte do contribuinte e o
contribuinte opta ou por ser ouvido ou por não ser ouvido. Na sequência disso,
caminhamos para a existência de um relatório de inspeção onde se determina uma

130
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

liquidação adicional. O resultado desse relatório vai ser notificado ao contribuinte e aberto
o prazo para se fazer o pagamento. Das duas uma: contribuinte aí ou paga ou não paga.
Vamos imaginar que paga. O facto de o contribuinte pagar quer dizer que concorda com
a atividade da Administração Não! O contribuinte, aí, vai poder reclamar
administrativamente. Caso não queria reclamar, pode diretamente impugnar. Também
pode reclamar e da decisão administrativa depois impugnar. Há casos que a legislação
prevê como casos de reclamação administrativa obrigatória. O contribuinte pode optar
por fazer uma impugnação judicial ou, quando estejamos a falar de impostos e a
liquidação tenha como limite 10 milhões de euros, pode ir para a arbitragem. Nas
circunstâncias em que o contribuinte deixa que o processo vá para a fase executiva, pode
também fazer isto tudo. Só que nenhuma destas medidas suspende o direito que a
Administração tem para fazer a execução. Ele apenas vai ser suspenso no caso de um
contribuinte prestar uma garantia. Naturalmente, uma garantia bancaria. Sobre o regime
das garantias, falaremos nas próximas aulas.

31/03/2022

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO TRIBUTÁRIO

Noção de procedimento – sucessão de atos relativos à declaração de direitos


tributários. O principal dos procedimentos é o procedimento de liquidação pelo qual se
determina o montante de imposto a pagar por parte do contribuinte. Mas, é de notar que
há outros procedimentos no plano tributário. E, muitas vezes, o que sucede é que o
procedimento tributário vai ser relevante para o desenvolvimento da parte processual que
envolve um terceiro que é o juiz.

O procedimento quando envolve uma liquidação tem como primeira fase final: a
notificação do contribuinte para pagar voluntariamente, fazendo-o pode depois reclamar,
impugnar, ou fazer pedido arbitral. Caso não pague, entra em processo executivo, e pode
também pode apresentar os mesmos meios de reação (pode apresentar reclamação,
impugnação judicial ou pedido arbitral). O contribuinte não pode achar que por
apresentar, por exemplo, reclamação suspende a execução, não, para isso acontecer tem
de prestar garantia.

131
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

A referência aos princípios encontra-se na LGT está nos artigos 55º a 60º, no
CPPT (10º, e 45º a 50º).

· Princípio da legalidade

O princípio da legalidade tem a sua origem na CRP, sendo que os artigos 103º e
104º determinam os princípios gerais quanto a esta matéria. E, pela determinação da
constituição, tem de ser aprovado por documento legislativo, por lei ou decreto-lei (em
caso de reserva relativa da AR), aquilo que seja o regime da incidência da taxa, dos
benefícios fiscais e garantias. O artigo 8º da LGT se refere aos crimes fiscais e ao regime
geral das contraordenações fiscais.

O legislador considera que estão sujeitos ao princípio da legalidade tributária: a


tributação, a cobrança de tributos, a determinação de prazos de prescrição e caducidade,
as figuras de substituição e responsabilidade, a definição de regras acessórias, e regras de
procedimento e processo tributário. Estando perante um princípio de legalidade
determinado pela própria lei, tem o valor que tem, pelo que esta lei pode ser revogada.

· Princípio da imparcialidade

Tem de se verificar imparcialidade no decorrer do procedimento e na decisão


sendo a intervenção da administração fundamentalmente uma intervenção de defesa do
interesse público e da legalidade.

· Princípio da proporcionalidade

N.º 2 do artigo 266º da CRP – o princípio da proporcionalidade está ligado com a


ideias de necessidade, de adequação, e de proporcionalidade em sentido estrito, ou seja,
adequação entre meios e fins. Este princípio está também previsto na LGT no artigo 55º
(definição geral) e artigo 63º (refere-se à inspeção, isto é, no plano da inspeção não se
pode ultrapassar os limites da proporcionalidade).

· Princípio da celeridade

A propósito do princípio da celeridade, relembrar as regras da caducidade da


tributação (artigo 45º da LGT). A liquidação tem de ser feita, se não houver regra
especial, em 4 anos. Nos impostos periódicos esses 4 anos contam-se do termo do período
fiscal (normalmente o período termina no dia 31.12). E, no IVA, ou quando haja retenção

132
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

da fonte a título definitivo, o prazo começa-se a contar a partir do primeiro dia do ano
civil seguinte àquele em que o ato foi praticado.

O próprio procedimento tem prazos que não pode ultrapassar. A regra é do


indeferimento tácito. E, o natural é que o procedimento tenha de estar terminado 4 meses
depois do seu início. A administração é obrigada a pronunciar-se, pode demorar muito
tempo a fazê-lo, passados estes 4 meses começa-se a contar o prazo para impugnar, o que
não significa que pode começar outro prazo para impugnar a contar-se quando a
administração pratica o ato. Este é o prazo de cautela – 4 meses a partir do início do
procedimento começa-se a contar o prazo para se apresentar petição inicial no âmbito da
impugnação judicial.

· Princípio da colaboração

Este princípio está previsto no artigo 59º da LGT que determina de forma
recíproca este dever de colaboração quer para os contribuintes quer para a administração
tributária. Hoje em dia, a administração tributária passa muitas obrigações de colaboração
para as mãos do contribuinte. Os contribuintes são cada vez mais sujeitos a obrigações de
compliance (que pesam muito nas estruturas empresariais).

Dentro da lógica deste princípio, destaca-se o dever de esclarecimento de


informação por parte da administração fiscal. No n.º 3 do artigo 59º está previsto este
dever de esclarecimento, ele pode ter várias vertentes:

· Informação pública regular e sistemática sobre os direitos e obrigações dos


contribuintes – al. a);

· As orientações genéricas sobre a interpretação de leis (estas orientações apenas


vinculam a administração) – al. b);

· Resposta a pedidos de informação vinculativa (PIV) – al. e).

O que é que um pedido de informação vinculativa? Perante uma situação em


concreto, o contribuinte tem dúvidas sobre a interpretação a dar à lei, e pode-se fazer um
pedido à administração fiscal expondo a situação de facto, lançando uma interpretação
hipotética, de forma a que a administração se tenha de pronunciar sobre aquele caso. A
administração vai pronuncia-se e fica vinculada a essa sua opção para aquele caso
concreto em relação àquele contribuinte. Vantagem: sendo os piv publicados fica-se a

133
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

saber a interpretação da administração, e fica-se a saber qual a posição que a


administração vai ter sobre aquela matéria, porque fica vinculada àquele caso concreto.

O contribuinte não fica vinculado, fica é a saber a posição que a administração vai
tomar e se não cumprir aquilo que é a posição da administração vai entrar numa
circunstância de possível litígio com a administração.

Portanto, no plano das informações convém distinguir as informações genéricas


que são sobre a interpretação que a administração faz sobre a lei, não diz respeito a um
caso; informações vinculativas – diz respeito a um caso em concreto.

A Administração fica vinculada para aquele contribuinte para aquele caso. A


informação vinculativa clarifica a posição da administração. Já as orientações genéricas
correspondem ao direito circular, em que a administração se apercebendo que há
problemas com a interpretação de determinados artigos, faz uma publicação com essas
orientações (fácil análise e acesso nos meios informáticos que a administração coloca às
mãos dos contribuintes).

A administração tem um dever de esclarecimento, se não o fizer, está a incumprir


os seus deveres – artigo 59º, n.º 3, al. a) (referente à informação pública sobre os seus
direitos e obrigações).

Por sua vez, os contribuintes têm também uma obrigação de colaboração,


desde logo cumprindo com as obrigações acessórias previstas na lei (como a obrigação
de declaração), devendo prestar todos os esclarecimentos que lhe sejam solicitados sobre
a sua situação tributária, bem como sobre as relações económicas que mantenham com
terceiros. Portanto, há um dever, por um lado, da administração, e por outro lado do
contribuinte - deveres em espelho.

As declarações que os contribuintes apresentam presumem-se verdadeiras e


de boa-fé desde que sejam apresentadas de acordo com os termos previstos na lei. Quando
o contribuinte apresenta a sua declaração tem atrás de si uma presunção de que aquilo é
verdadeiro – as consequências disto sobre o ónus da prova é que a administração terá de
provar o contrário. Se a administração nada fizer, aquela declaração é a que fica em
relação ao cumprimento das obrigações tributárias.

Pode suceder que a administração tenha desconfiança sobre aquela que é a


declaração do contribuinte, e aí vai abrir um procedimento de inspeção para tentar

134
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

encontrar a verdade material e o procedimento considera-se iniciado com a receção da


notificação por parte do contribuinte visado.

Pode a Administração neste campo ter acesso livre às instalações ou locais onde
possam existir elementos relacionados com as obrigações fiscais dos contribuintes. Pode
ter acesso aos locais do contribuinte, examinar os seus livros, pode aceder ao seu sistema
informático, pode requisitar documentos, estamos a falar da lógica das inspeções
externas. Quando se está perante informação protegida pelo segredo profissional, apenas
com decisão judicial o mesmo pode ser levantado.

O contribuinte deve colaborar com a administração, a não ser que: se pressuponha


o acesso à habitação do contribuinte e não haja autorização para o efeito; a consulta dos
elementos está abrangida pelo segredo profissional; seja necessário o acesso à vida íntima
dos contribuintes; haja violação de direitos de personalidade (artigo 63º, n.º 5 da LGT).
Se não estivermos perante uma destas circunstâncias, o contribuinte é obrigado a
colaborar com a administração.

O procedimento de inspeção vai passar com a existência de um relatório provisório


sobre o qual o contribuinte tem um direito de audiência prévia antes que ele se torne
definitivo. Muitas vezes no âmbito da sua estratégia de defesa, o contribuinte opta por
não exercer o direito de audiência prévia ou não exercer totalmente, porque quer guardar
os seus argumentos para a impugnação judicial – da parte da administração quanto a
questões jurídicas a administração dificilmente mudará pela audiência prévia, mas quanto
a questões materiais, vale a pena exercer o direito a audiência prévia. Passada essa fase,
o relatório é definitivo e se levar a uma liquidação adicional ou uma liquidação em geral
terá como consequência a abertura de um prazo de pagamento voluntário da mesma.

Declaração do contribuinte + inspeção + inspeção com relatório + relatório gerar


circunstâncias do prazo para pagamento voluntário.

Este procedimento está estabelecido com base num ónus que recai sobre a
administração, de provar que as declarações dos contribuintes não são verdadeiras, ou
enfermam de vícios. Por exemplo, a presunção não se aplica logo à partida quando há
erros ou omissões na contabilidade ou o contribuinte não tiver cumprido com os seus
deveres de esclarecimento ou a matéria tributável se afastar sem justificação razoável de
alguns indícios sejam técnicos, sejam os determinados no artigo 89ºA da LGT.

135
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

A declaração presume-se verdadeira, a administração tem o ónus prova de que a


declaração não é verdadeira, se a administração ultrapassar essa presunção, o contribuinte
tem o ónus de provar que a administração não está certa.

Nesta lógica de colaboração há sempre uma presunção de boa-fé seja a favor do


contribuinte seja a favor da administração – n.º 2 do artigo 59º - corresponde a uma ideia
de respeito pelo princípio da boa-fé e de proteção da confiança.

· Princípio da participação

Genericamente o princípio de participação está previsto no n.º 5 267º CRP – este


direito é muito claro quando falamos da audiência prévia. Tem uma função garantística
de descoberta da verdade e da defesa antecipada de direitos, existindo aqui uma lógica de
um princípio de tipicidade. O contribuinte vai ter direito à audiência prévia: antes da
liquidação, ou direito de audição através da declaração; um direito à audição antes de
indeferimento total ou parcial dos pedidos, reclamações, recursos ou petições; antes da
conclusão do relatório de inspeção tributária; ou antes da aplicação de meios indiretos.
Há vários momentos pelos quais o contribuinte pode exercer este seu direito de
participação (artigo 60º da LGT).

Quanto à audição antes da liquidação – podemos ter as circunstâncias de


situações de inspeção, mas também quando há liquidação administrativa propriamente
dita (liquidação realizada pela Administração) porque por exemplo o contribuinte não
entregou a sua declaração.

Quanto à audição anterior ao ato de indeferimento (expresso) de reclamações


- o contribuinte deve ser ouvido, e isso não retira os seus direitos posteriores como o
direito de recurso hierárquico, ou impugnação judicial ou pedido arbitral.

Também existe um direito de audição antes da revogação de qualquer benefício


de natureza fiscal – artigo 65º do CPPT. Também o contribuinte deve ser ouvido antes
da decisão de reversão – n.º 4, artigo 23º da LGT.

E, pode também suceder a sua audição antes da aplicação de uma norma anti-
abuso – n.º 5, artigo 63º do CPPT. Normas anti abuso - há uma previsão nas regras gerais
do direito tributário de acordo com o qual determinadas circunstâncias, por exemplo
contratuais, não levarão à invalidade do negócio, mas levarão à inexistência dos seus
efeitos jurídico-fiscais. Este negócio fez-se, mas fez-se desta maneira porque havia um

136
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

intuito de natureza fiscal, aplica-se a norma geral anti abuso que não vai permitir que se
produzam esses efeitos benéficos fiscais para o contribuinte que usou de forma abusiva
uma forma contratual. Tem a ver com os efeitos do contrato jurídico. Também existem
normas especiais anti-abuso nos diferentes impostos.

Quanto direito à audição antes da aplicação de meios indiretos:

O contribuinte não é obrigatoriamente ouvido duas vezes, a regra é de proibição


da dupla audição – n.º 3, artigo 60º da LGT - relativamente às circunstâncias de audição
antes dos momentos indicados nas alíneas b) a e) do n.º 1 do artigo 60º.

Os métodos indiretos, por exemplo, os que tem a ver com a manifestação de


fortuna, estes métodos indiretos por manifestação de fortuna vão se aplicar quando haja
uma desproporção superior a 30% entre o rendimento padrão e aquilo que está previsto
no n.º 4, artigo 89ºA da LGT que se refere a circunstâncias em que existe uma
desproporção entre aquilo que é o estilo de vida do contribuinte e aquilo que é a sua
declaração de natureza fiscais.

A administração nas suas decisões tem de exercer um dever de fundamentação, e


a fundamentação deve ser comunicada ao sujeito passivo (artigo 60º, n.º 5 da LGT), isto
é, ao sujeito passivo comunica-se não apenas o sentido de uma decisão, mas também a
sua fundamentação, mesmo que a mesma seja sumária no plano do direito e dos factos,
mas tem de ser feita.

Muitas vezes o projeto de decisão de inspeção e a decisão final da administração


são coincidentes de conteúdo e fundamentos, porque a administração na altura que fez a
determinação da sua decisão já tinha a sua posição muito bem definida. Se surgem
elementos novos em relação aos quais há uma falta de pronúncia, isso corresponde a um
fundamento de impugnação judicial.

· Princípio da confidencialidade

Artigo 64º LGT – aqueles que trabalham na administração tributária têm um dever
de confidencialidade sob pena de responsabilidade disciplinar, contraordenacional e
criminal.

Não pode o funcionário das finanças que não gosta de o vizinho ir bisbilhotar a situação
fiscal, para depois fazer inspeção.

137
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Listas VIP havia um conjunto de fiscais, p ex um ex-primeiro ministro especialmente


vistos por funcionários da Administração, incorreram nesta responsabilidade disciplinar,
contraordenacional, criminal, se não tinham motivo para o fazer.

O que não se confunde com a circunstância dos funcionários que tiverem que
aceder a essa informação fiscal até para efeitos de determinação de processo criminal ou
contraordenacional. Outra coisa é fazer por mero capricho, vai contra princípios
essenciais do procedimento tributário como desde logo previsto no artigo 64º.

Portanto, há um sigilo profissional especialmente determinado em relação a estes


funcionários.

· Princípio da vinculação da forma – em regra, a forma é escrita.

· Princípio da disponibilidade e do inquisitório

Artigo 58º da LGT- devendo a administração proceder a todas as diligências que


sejam necessárias para a satisfação do interesse público, para a descoberta da verdade
material, não está sujeita, a este propósito, a uma limitação que seja derivada do pedido
feito. E, portanto, há uma distinção entre a posição da administração e da posição do
contribuinte. O contribuinte tem na fase do procedimento tem a seu favor uma presunção
de verdade, quem tem de ir buscar meios de prova para conseguir chegar à verdade
material será a administração porque o contribuinte tem uma declaração que se presume
como verdadeira e de boa-fé.

· Princípio da publicidade dos atos

Quer as orientações genéricas quer as informações vinculativas estão publicadas


no site das finanças, mas também há uma comunicação individual através da notificação.
A notificação vai ser essencial no procedimento tributário sendo de distinguir da citação,
que é a forma de comunicação no processo executivo.

· Princípio do duplo grau de decisão

Apenas se pode recorrer administrativamente uma vez (artigo 47º do CPPT).


Existindo uma segunda decisão administrativa desfavorável, abre-se as portas ao processo
jurisdicional. Atenção que há casos em que a lei prevê a obrigatoriedade do recurso
hierárquico e aí o contribuinte não pode escolher, se quiser no futuro caminhar para a
impugnação judicial tem de fazer este recurso hierárquico.

138
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

PROCEDIMENTOS EM ESPECIAL

Quanto aos procedimentos:

1. O procedimento regra é o procedimento de liquidação;

2. Procedimento de avaliação;

3. Procedimento de reclamação que pode ir até ao recurso hierárquico.

Em qualquer um dos casos, acaba por estar relacionados com a liquidação porque a
reclamação é sobre uma liquidação, o recurso hierárquico é o recurso da decisão de
reclamação sobre a liquidação. A avaliação serve para determinar os elementos objetivos
da incidência em relação aos quais se vai exercer a liquidação.

No contencioso administrativo, o ato administrativo relevante é o ato tributário pelo


qual se determinam ou a própria liquidação, ou os elementos que vão fazer parte
dessa liquidação.

A história começa com uma declaração por parte do contribuinte (1), a declaração
presume-se verdadeira e de boa-fé. 2) a declaração será entregue junto da
administração, e esta vai analisar e ver se à partida elementos que levem à quebra da
presunção (como por exemplo omissões, falhas contabilísticas ou falhas na própria
declaração), se nada disto sucede, a administração pode abrir um procedimento de
inspeção.

No procedimento de inspeção há um dever de colaboração muito aberto do contribuinte


com a administração. A inspeção pode ser interna ou externa. A inspeção interna é
aquela que não exige deslocações; a inspeção externa exige deslocações. Naturalmente,
a inspeção externa tem a ver com meras questões de …. Adm – alguém faz uma mais-
valia, e retira a essas mais valias os gastos com as benfeitorias (exemplo, valor das
despesas com as obras), pode ser chamado a apresentar essas faturas.

Outro ponto: caso se exijam deslocações, temos a inspeção externa, e a inspeção externa
pressupõe uma grande colaboração do contribuinte com a administração, estando previsto
que a administração tributária vai fazer um relatório que é provisório quando é
apresentado ao contribuinte, para efeitos de exercício do seu direito à audiência prévia. O
contribuinte vai poder exercê-lo ou não, passado o prazo para o fazer, a administração
emite o relatório definitivo que naturalmente vai levar a uma liquidação adicional que

139
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

tem de ser notificada ao contribuinte com uma fundamentação de facto e de direito,


começando a correr o prazo para fazer o pagamento voluntário, passado esse prazo, seja
ou não feito o pagamento, abre-se um outro prazo para fazer uma intervenção de natureza
contenciosa. Não esquecer que independentemente do pagamento, este direito existe, mas
caso se não pague abre-se em paralelo o processo executivo.

Outra questão é: muitas vezes os contribuintes impugnam liquidações que são feitas pelo
Estado logo em primeira via, naqueles casos em que existe heteroliquidação, para se abrir
o contencioso não é dado necessário a existência/abertura de procedimento de inspeção,
ele surge nos casos de autoliquidação (é o caso do IRC, há declaração e liquidação pelo
contribuinte).

Temos dois grandes sistemas de liquidação: autoliquidação e heteroliquidação. No IRS


o contribuinte apresenta a sua declaração e quem faz a liquidação é a administração. No
IRC o contribuinte apresenta a declaração e faz a liquidação, e em relação a estes casos
de autoliquidação que muitas vezes surgem a inspeções tributárias.

01/04/2022

Os procedimentos podem ser da iniciativa da administração fiscal ou do


contribuinte.

Procedimento de liquidação

O procedimento por excelência é o procedimento de liquidação que tem por base


a declaração do contribuinte que se presume verdadeira e de boa-fé. O artigo 59º, n.º 1 do
CPPT determina que o procedimento de liquidação se instaura com as declarações dos
contribuintes.

Quando não haja declaração ou quando ela tenha vícios, a liquidação terá de ser
feita com base em todos os elementos de que disponha a administração ou venha a obter
de uma entidade administrativa. Se houver um erro, a declaração pode ser substituída pelo
contribuinte, quando a declaração de substituição entregue pelo contribuinte leve a que a
administração com base na mesma não faça uma liquidação, e se a declaração de
substituição for entregue no prazo para reclamação graciosa é uma reclamação graciosa
(artigo 59º, n.º 5 do CPPT).

140
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Portanto, se houver um erro, a declaração pode ser substituída pelo contribuinte,


sendo que a declaração de substituição que seja entregue no prazo para reclamação
graciosa é, quando a Autoridade Tributária não fizer liquidação, é uma reclamação
graciosa. Abre-se a partir daí um prazo de 4 meses para a administração decidir quanto a
esta matéria.

Pode também oficiosamente a administração abrir o procedimento de liquidação


quando tenha por base conhecimento de factos de que resultem ou devam resultar a
liquidação.

Procedimento de cobrança

A cobrança pode ser vista da parte do contribuinte como pagamento, da parte da


administração é vista como arrecadação de receitas (os impostos são a principal fonte de
receitas que o Estado tem).

A cobrança pode ser voluntária ou coerciva. A cobrança é voluntária quando é


feita dentro do prazo estabelecido para pagamento – artigos 84º a 86º do CPPT. A
cobrança será coerciva quando não se cumpriu esse prazo para pagamento.

Pode haver uma lógica de pagamentos parciais, por exemplo em relação ao


pagamento do IVA atualmente o estado prevê a hipótese de o fazer em 6x sem entrar em
mora. O prazo de pagamento voluntário dos diferentes tributos é determinado em cada lei
especial, se nada disser a lei especial, o prazo é de 30 dias a contar da notificação para
pagamento feita pelos serviços competentes (prazo supletivo). Quando não há
cumprimento do prazo de pagamento voluntário, o pagamento tem de ser feito com juros
de mora, estes juros tem o seu regime da LGT (artigo 86º, n.º 1 do CPPT à 44º da LGT).

E, o pagamento a prestações, salvo situações excecionais como a referida


possibilidade de se fazerem pagamentos parciais, só pode ser requerido depois de
ultrapassado o prazo de pagamento voluntário, isto é, depois de termos entrado numa
situação de cobrança coerciva. Quando a cobrança é coerciva é possível pedir-se o
pagamento a prestações. Muitas vezes, o contribuinte conclui que não tem dinheiro
suficiente para pagar de uma vez, mas quer pagar, sendo que tem de se chegar à fase da
execução para requerer o pagamento a prestações (196º e ss. do CPPT).

Procedimento de informação vinculativa

É importante distinguir a informação vinculativa das orientações genéricas.


141
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

As informações vinculativas existem para gerar maior segurança dentro do


mercado jurídico. Corresponde a situações em que a interpretação a fazer da norma não
é fácil, o contribuinte tem uma interpretação da norma, mas quer saber a aplicação que a
administração faz ao caso concreto. Quando sucede uma circunstância dessas, há uma
decisão estratégica a tomar: ou aplicar a interpretação do contribuinte sem mais ou fazer
pedido de informação vinculativa, vinculada a administração. Isto é, qualquer que seja o
sentido da interpretação que Administração faz, seja igual ao do contribuinte, seja
diferente, a administração fica vinculada de naquele caso concreto cumprir aquilo que
determinou a nível de informação vinculativa. Dá mais segurança, mas pode não trazer
aquilo que o contribuinte pretende. Como dá mais segurança, fica-se logo a saber qual a
posição da administração e tem tempo para ponderar se quer ir para arbitragem, tribunais
judicias, reclamação, ou não fazer nada.

O pedido de informação vinculativa é sempre feito ao dirigente máximo do


serviço, deve conter: os elementos de facto necessários para se fazer a interpretação, e
sempre que envolva outra jurisdição deve conter os elementos que podem levar à troca
automática de informação entre as administrações caso ela seja necessária (artigo 68º, n.º
1 da LGT).

Pode o contribuinte fazer uma solicitação fundamentada de urgência


relativamente ao seu pedido. E, nesse caso, a lei diz que “mediante solicitação
justificada do requerente a informação vinculativa pode ser prestada com caráter de
urgência, no prazo de 75 dias, desde que o pedido seja acompanhado de uma proposta de
enquadramento jurídico-tributário” à a obrigatoriedade de fazer enquadramento jurídico-
tributário surge para os contribuintes nos pedidos de informação vinculativa de urgência,
claro está que mesmo que os que não são de urgência podem fazer esse enquadramento,
mas a obrigatoriedade legal só há apenas quando se quer dar urgência ao pedido – n.º 2
68º LGT.

O pedido é feito por via eletrónica, deve seguir o modelo oficial que esta nessa
mesma via eletrónica e a resposta deve ser notificada num prazo máximo de 150 dias (68º
n.º 4).

Os advogados podem fazer este pedido de informação vinculativa, mas também


solicitadores, ROC, técnicos oficiais de conta, ou entidades de consultadoria fiscal. Tem
é de o cliente ser expressamente identificado (artigo 68º, n.º 5).

142
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quando o pedido de informação vinculativa é de urgência, a administração


tributária tem 30 dias para notificar o contribuinte da aceitação ou não do pedido como
urgente, caso seja aceite nesses 30 dias, deve o contribuinte pagar a taxa de justiça
respetiva no prazo de 5 dias – 68º n.º 6.

No caso de ser feito o pedido com urgência e não haver resposta por parte da
administração, considera-se passado o prazo de 75 dias, que a resposta é de
deferimento tácito, se a administração não disse nada é porque aceitou a interpretação
que o contribuinte fez (exceção ao princípio de indeferimento tácito. Nestes casos, a
administração só fica vinculada à sua interpretação quanto aos factos que foram
expressamente indicados e ao período de tributação em que esses factos ocorram. É
mesmo um pedido imediato aquele que é deferido tacitamente (artigo 68º n.º 8 e n.º 9).

Caso a administração venha a notificar o requerente da inexistência dos


pressupostos de pedido de informação vinculativa urgente, a mesma passa a seguir o
regime regra do pedido de informação vinculativa (68º n.º 10) Pode a administração
também pedir novos elementos para sustentar a urgência que devem ser dados no prazo
de 10 dias (n.º 11).

Na circunstância em que está a ocorrer ao mesmo tempo, pelo mesmo contribuinte,


um pedido de reclamação ou de impugnação judicial com base nos factos objeto do PIV,
o PIV é arquivado (n.º 12).

Antes da tomada da decisão por parte da administração, a administração deve


notificar o requerente para exercício de audiência prévia (n.º 13).

Não pode a administração depois de prestar a sua informação vinculativa


proceder em sentido diverso da informação que tenha sido prestada (n.º 14).

Quando há uma alteração superveniente dos pressupostos de facto ou de direito


em que assentou a informação vinculativa, a mesma caduca. O prazo de vinculação da
administração à interpretação que fez para aquele caso concreto é de 4 anos - passados
esses anos, caduca, a não ser que o sujeito passivo solicite a renovação da informação (n.º
15). Pode suceder que administração sinta a necessidade de modificar a informação
vinculativa, só o pode fazer 1 ano depois de a prestar, tem de haver audiência do
requerente, e tem de se salvaguardar os direitos e interesses legítimos que tenham sido
constituídos. Há um direito à revogação da informação vinculativa (n.º 16).

143
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Todas as informações vinculativas prestadas, urgentes ou não, são publicadas por


meios eletrónicos (n.º 17).

O contribuinte pode recorrer contenciosamente das decisões da


Administração relativas à inexistência dos pressupostos para a prestação de informação
vinculativa ou recusa de prestação de informação vinculativa urgente; quanto à existência
de uma especial complexidade técnica que impossibilite a prestação de informação
vinculativa; ou quanto ao enquadramento jurídico tributário dos factos que constam da
resposta à prestação de informação vinculativa (n.º 20). Esta alínea podia representar uma
abertura grande a contencioso quanto a PIV, cuidado com esta alínea.

Os sujeitos passivos que fizeram o pedido de informação vinculativa, caso saibam


de alguma alteração relativamente aos elementos do pedido inicial devem informar disso
à Administração Tributária e Aduaneira (n.º 21).

Diferente do regime das informações vinculativas, é o das orientações genéricas


(68ºA da LGT). As orientações genéricas são feitas pela própria administração, são o
direito circular e têm como objetivo a uniformização da interpretação e aplicação das
normas tributárias. Se a administração se apercebe que sobre um determinado artigo
existem inúmeras interpretações antagónicas por parte vários contribuintes, emana uma
orientação genérica que vincula apenas a administração, os contribuintes que discordam
podem assumir uma interpretação distintas das orientações genéricas, mas podem sofrer
a uma inspeção e liquidação adicional.

As orientações genéricas não se podem invocar de forma retroativa em relação aos


contribuintes quando tenham atuado com base numa interpretação plausível e de boa-fé.

E, a administração pode transformar estas informações vinculativas em circulares


administrativas quando tiver sido colocada uma questão de direito relevante e a mesma
tenha sido apreciada no mesmo sentido em 3 pedidos de informação vinculativa.

A administração tem um dever de alterar as suas orientações genéricas quando


haja jurisprudência reiterada dos tribunais superiores com 5 decisões transitadas no
mesmo sentido, quando não existam mais decisões transitadas em sentido contrário, isto
é no sentido da orientação genérica. A administração tem o dever quando haja 5 casos
julgados em sentido contrário, mas não terá de o fazer quando haja 6 acórdãos no mesmo
sentido da orientação genérica, face aos 5 em sentido contrário. Também de o fazer

144
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

quando exista um acórdão uniformizador pelo STA, ou quando versem sobre uma matéria
que tenha sido apreciada em decisão sumária por um tribunal superior nos termos do
artigo 656º do CPC.

Resumindo quanto às informações vinculativas:

· vinculam a administração em relação ao caso concreto;

· e vinculando a administração, também vinculam a interpretação que se vai fazer


quanto aquelas situações em concreto, em princípio por um prazo de 4 anos, findo
os quais caduca;

· com determinados pressupostos, a informação vinculativa pode ser revogada;

· o pedido pode ser feito pelo próprio sujeito passivo, pelo advogado ou até
consultores;

· há prazos de resposta determinados, e consequências quando o PIV seja urgente


quanto ao incumprimento do prazo, temos uma circunstância de deferimento
tácito (exceção à regra);

· as taxas de urgência são taxas onerosas, devem ser muito bem ponderadas, pois
o contribuinte sabe que da interpretação que a administração faça, o contribuinte
sofrerá as consequências, em princípio é aquilo que se vai aplicar aquele caso
concreto.

PROCEDIMENTOS TRIBUTÁRIOS EM ESPECIAL

Procedimentos de natureza informativa

· Procedimentos cujo destinatário da informação é o contribuinte

o procedimento de orientações genéricas

o procedimento de informações vinculativas

· Procedimentos cujo destinatário da informação é a Administração


Tributária

o procedimento de inspeção tributária

145
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

o procedimento de acesso a informações bancárias

Procedimentos de avaliação

· Procedimento de avaliação prévia

· Procedimento de avaliação direta

· Procedimento de avaliação indireta

Procedimento de reconhecimento de Benefícios Fiscais

Procedimento de aplicação de norma anti-abuso

Procedimento de ilisão de presunções

Procedimento de liquidação

Procedimento de cobrança

Procedimentos impugnatórios (de segundo grau)

· Procedimento de revisão da matéria tributável fixada por métodos indiretos

· Procedimento de revisão dos atos tributários

· Procedimento de reclamação graciosa

· Procedimento de recurso hierárquico

Procedimentos cautelares

Sistema de preços de transferência:

O regime dos preços de transferência está relacionado com a ideia de relações


especiais.

Pretende-se que em circunstâncias em que há relações especiais entre


contribuintes, os mesmos apliquem indevidamente nas transações comerciais um
com o outro aquilo que são os preços normais de mercado, não se quer preços de favor
em relação a contribuintes que tenham entre si relações especiais – previsto no artigo 63º
do CIRC. E é especialmente relevante o nº4 deste artigo (relativo à ideia do que se
considera ser uma situação em que existem relações especiais), porque nos dá uma
enumeração exemplificativa de casos de relações especiais, por exemplo quando uma
entidade e os titulares do seu capital, ou os cônjuges, ascendentes ou descendentes destes,

146
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

que detenham direta ou indiretamente uma participação inferior não inferior a 10 % do


capital ou dos direitos de voto.

Quando dois sujeitos passivos de IRC, por exemplo, têm entre si participações
cruzadas no mínimo de 20 % ou para cima, basta que tenham 2 titulares do capital, os
cônjuges, ascendentes ou descendentes, e mesmo que a participação seja indireta, há
relação especial e para estas situações os contribuintes têm que ter uma especial atenção,
no facto deas suas relações serem feitas com as regras normais do mercado, não serem
feitas em circunstâncias de favor, podendo a Administração tributária na sequencia de
uma inspeção, determinar a aplicação dos métodos previstos na lei dos preços de
transferência, aplicar o regime de preços de transferência, e fazer modificação entre o
preço que foi aplicado e o preço que devia ter sido aplicado, numa lógica de preço de
mercado.

Os contribuintes podem: solicitar à ATA (autoridade tributária e aduaneira), um


acordo prévio para estabelecer o método ou os métodos que venham a ser suscetíveis de
assegurar os termos e condições que seriam normalmente acordados e aceites, entre
entidades independentes, quanto a operações comerciais e financeiras, incluindo-se esta
possibilidade para as relações inter-grupo porque também têm o sistema de grupos de
sociedades. O legislador determinou que quando existam grupos de sociedades em vez de
aplicarmos IRC sociedade a sociedade, faz se a soma algébrica dos lucros e prejuízos que
cada uma delas teve e imputa-se ao cúmulo de todas as sociedades, faz-se uma soma dos
valores individuais e aplica-se o IRC a todas as sociedades. Mesmo em relações intra-
grupo, pode pedir-se este acordo prévio sobre o método a aplicar em casos de preços de
transferência.

Quando o sujeito passivo queira incluir nas entidades com as quais existam
relações especiais, residentes no estrangeiro (com o qual exista um ADT = acordo de
dupla tributação, ADT’s são acordos de dupla tributação entre estados), sempre que
pretenda fazer isto com sociedades com sede em países estrangeiros em que exista um
ADT, deve solicitar que o pedido seja dirigido às entidades tributárias competentes desses
estados. Este pedido é sempre feito ao diretor geral da AT, deve ter uma proposta de
métodos, deve identificar o tipo de relação a aplicar, e o período, deve conter uma
assunção por parte do sujeito passivo do cumprimento do dever de colaboração com a AT
quanto à prestação de informações, devendo quando envolve outras AT’s ser reduzido a
escrito, e nesse caso, ser comunicado ao sujeito passivo. Estes acordos são sempre
147
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

confidenciais. Estando as informações que o sujeito passivo passou à AT sob sigilo fiscal,
muitas vezes são segredos do seu próprio negócio, apenas existindo aqui uma derrogação
à custa das situações em que exista troca automática de informações. O que deve conter
o acordo: o método a aplicar, as operações que vai abranger, os pressupostos de facto, as
condições para a sua revisão, a possibilidade de prorrogação e o prazo de vigência que
nunca pode ser superior a 4 anos. Havendo acordo, a ATA fica vinculada a comportar-
se de acordo com o mesmo. Se durante o acordo, houver alterações de circunstâncias,
por exemplo no plano factual, tem o sujeito passivo uma obrigação de comunicar essas
mesmas alterações à ATA.

Pontos relevantes:

Há um especial interesse nestas matérias quanto a relações comerciais


internacionais entre empresas, porque envolvem mais do que uma AT.

Existe uma dificuldade: determinação do preço ideal, logo há também dificuldade


de determinação do método ideal.

Tudo começa com o requerimento do interessado, com a aceitação da proposta e


avaliação por parte da AT, terminando ou não num acordo. Todos estes trâmites têm que
se passar com confidencialidade, com forma escrita, sendo a decisão irrecorrível.

Este pedido envolve um conjunto de riscos para o contribuinte. Desde logo há o


risco de estar a dar um conjunto de informações, por exemplo não se chegou a acordo,
mas foram transmitidas à Administração informações como potencialidade de relações
especiais, podem não chegar a acordo, mas as informações foram transmitidas.

Procedimento para reconhecimento de benefícios fiscais

Benefícios fiscais: a situação de benefício fiscal é uma situação de favor, que


pode passar por uma circunstância automática ou não. São, portanto, medidas
excecionais que são determinadas para defender outros interesses públicos diferentes do
de arrecadação de receitas, acabam por ser interesses superiores aos da própria cobrança
de impostos, acabam por impedir a tributação.

Podem ser: isenções, reduções de taxa, deduções, amortizações, ou mesmo


reintegrações aceleradas, e outras medidas fiscais que obedeçam às características
enunciadas no nº 1 do artigo 2º do Estatuto dos Benefícios Fiscais (Decreto-Lei nº
198/2001). Há uma abertura grande à admissibilidade de figuras de Benefícios
148
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Fiscais. Por exemplo, não estava prevista uma solução do género do IVAUCHER, ou do
autovoucher.

Os BF podem ser automáticos ou podem depender de reconhecimento. Os que


são automáticos dependem apenas da letra da lei, os segundos pressupõem atos de
reconhecimento. O reconhecimento pode ser por via de um ato administrativo ou pode
ser por via de um acordo entre a Administração e o contribuinte (é este que nos interessa).

Esta matéria está tratada no artigo 65ºdo CPPT, dependendo o reconhecimento


dos Benefícios Fiscais de iniciativa dos interessados (contribuintes) que fazem
requerimento específico para este fim, quando sejam obrigados fazem o cálculo do
benefício fiscal em causa, e têm como objetivo alcançar o direito ao benefício provando
a verificação dos pressupostos para o benefício vir a ser reconhecido. Tem que ser
apresentado no serviço que faz a liquidação e tem basicamente dois grandes prazos:

o quando sejam Benefícios Fiscais relativos a factos tributários sujeitos a retenção


na fonte a título definitivo, têm que ser pedidos até ao fim do prazo para entrega
da retenção aos cofres do estado (para entrega do respetivo imposto nos cofres do
Estado)

o em todos os outros casos: até ao limite do prazo para entrega da declaração de


rendimentos necessária, relativa ao período em que se tenham verificado os
pressupostos de atribuição do benefício fiscal. Nesta 2ª circunstância, ver para
onde foram partilhados pressupostos que levam ao benefício, e perante isso, fazer
o pedido dentro do prazo para entrega da declaração.

Quando haja deferimento do pedido, tem que se determinar as datas de início e


fim do benefício fiscal. Quando haja indeferimento, a lei prevê o direito a recurso
hierárquico.

Neste procedimento, o papel do contribuinte é relevante, porque é ele que vai


trazer à Administração os factos que considera relevantes para que se possa conceder o
benefício fiscal.

Procedimento de avaliação:

É aquele pelo qual se determina o valor de bens para efeitos tributários. Isto
existe muito na tributação de património e por isso as regras relativas ao valor dos bens
estão no código de tributação de imóveis, CIMI. A avaliação também pode ser relevante
149
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

em alguns casos de tributação do rendimento. Podem os contribuintes quando tenham um


interesse legítimo nisso, e paguem uma taxa a fixar quanto ao valor mínimo e máximo
anualmente previsto, solicitar a avaliação de bens que constituam a base de incidência de
qualquer tributo, desde que a AT ainda não tenha feito essa avaliação. Esta avaliação
prévia, vincula a Administração por um período de 3 anos, após se ter tornado definitiva.
Quando haja reclamação ou impugnação da avaliação, o efeito vinculativo não se pode
produzir.

A avaliação pode ser: direta ou indireta.

Correspondendo a avaliação indireta aos casos em que a direta não é


absolutamente possível, faz-se uma avaliação dos bens determinando-se uma verdade
material aproximada. Por exemplo: consultórios médicos: quando por exemplo se fazia
em regra, na contribuição sobre as empresas, uma avaliação indireta quanto a
determinadas áreas de atividade: por exemplo os médicos, o que se fazia era:
determinava-se que era possível esta avaliação indireta, e como é que é feita? Os técnicos
da Administração iam aos consultórios, iam à sala de espera, e viam quantas cadeiras
tinha a sala de espera, e presumiam o volume de negócios de acordo com esse número de
cadeiras, 30 cadeiras seria maior volume do que 1 cadeira. Perante dificuldades da
avaliação, chegava-se a circunstância de avaliação indireta por indícios que existiam
nomeadamente por esse indício dos consultórios médicos.

Continuando esta abordagem dos métodos de avaliação, indiretos e diretos: a


avaliação direta é aquela que por exemplo resulta de uma declaração que leva a uma
liquidação, e depois, quanto a essa liquidação, podemos ter hétero liquidação (IRS) ou
autoliquidação (IRC). Na avaliação direta há uma lógica de procura da própria verdade
material, podendo existir impugnação em relação à liquidação que vem da declaração,
ver o 54º do CPPT em que se diz que os atos interlocutórios em princípio não são objeto
de impugnação a não ser que sejam imediatamente lesivos dos direitos dos contribuintes.

No nº1 do artigo 86º LGT diz que a avaliação direta é suscetível de impugnação
contenciosa direta, nos termos da lei. Há casos nº2 do artigo 86º da LGT, de dependência
para impugnação da avaliação direta, do esgotamento dos meios administrativos previstos
para a revisão da avaliação, isto é, uma segunda avaliação ou a revisão dos atos
tributários.

150
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Já por exemplo a avaliação indireta não é suscetível de impugnação própria a


não ser que não resulte em liquidação. Quando se está a impugnar a avaliação indireta ou
a impugnar um ato de liquidação que tem na sua base a avaliação indireta, pode se utilizar
todos os argumentos relativos à ilegalidade a não ser que a avaliação tenha por base um
acordo entre a Administração e o contribuinte quanto à avaliação (o que seria um venire
contra factum proprium), não pode mais tarde o contribuinte vir impugnar liquidação
com base em vícios da avaliação, porque ele próprio concordou nela.

Quando haja um erro na quantificação ou nos pressupostos de aplicação da


avaliação indireta, a impugnação judicial da liquidação depende de prévia reclamação
nos termos da lei, isto é, tem que ter uma reclamação graciosa necessária. Esta matéria de
avaliação indireta entra muito nas competências da Administração Tributária, porque
acaba por participar seja na avaliação direta seja na avaliação indireta, mas na indireta é
muito claro que há um papel essencial a ser cumprido por parte da AT. Esse papel, muitas
vezes está vinculado legislativamente (ler regras quanto à avaliação do CIMI).

Casos de avaliação indireta, artigo 87º da LGT: eles surgem quando há regime
simplificado (relembrar o exemplo dos trabalhadores independentes). Quando haja
impossibilidade de comprovação e quantificação direta, exata, dos elementos
indispensáveis à determinação da matéria tributável.

Quando a matéria tributável do sujeito passivo se afastar, sem razão justificada,


mais de 30% para menos ou, durante três anos seguidos, mais de 15% para menos da que
resultaria da aplicação dos indicadores objetivos da atividade de base técnico-científica
referidos na presente lei. Especificamente quanto ao IRS quando haja afastamento sem
justificação dos padrões de rendimentos e de manifestações de fortuna, havendo remissão
para o 89ºA. A desproporção deve ser de 30% e quem tem essa desproporção e tenha
imóveis de valor de aquisição superior a 250 mil euros, vai ter um rendimento padrão que
é 20% do valor de aquisição. E depois temos determinações de rendimentos padrão para
automóveis, barcos, suprimentos, e para montantes que sejam transferidos para
instituições residentes em países de regime fiscal mais favorável previstos em portaria,
desde que não seja feita a identificação desse rendimento.

Portanto o legislador utiliza presunções, isto é, há determinado nível de


rendimento, há determinadas manifestações de fortuna, logo há determinado imposto a
pagar.

151
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Também se faz avaliação indireta no caso de IRC ou da categoria B do IRS,


quando os sujeitos passivos não tiverem razão justificada para apresentarem números ou
prejuízos fiscais durante 3 anos consecutivos. Quando o contribuinte iniciou a sua
atividade este requisito não se aplica durante 3 anos, só se começa a aplicar depois.
Quando haja património de 100 mil euros, com falta de declaração de rendimentos
também se pode fazer aplicação de métodos de avaliação indireta.

Quem é que tem o ónus da prova é a AT. Poderá existir participação por parte do
contribuinte, de acordo com o artigo 60º da LGT, através do direito de audição, mas quem
tem que ultrapassar a presunção de verdade que existe sobre a declaração dos
contribuintes é a Administração.

Procedimento de revisão da matéria tributável:

(dentro dos procedimentos impugnatórios de segundo grau)

A própria LGT regula o procedimento de revisão da matéria tributável, que


pode ser solicitada pelo próprio contribuinte, pelo sujeito passivo. O sujeito passivo tem
que, para isso, fazer um requerimento fundamentado dirigido ao órgão da administração
tributária da área do seu domicílio fiscal, e deve fazê-lo no prazo de 30 dias a contar da
notificação que teve da avaliação. Deve indicar o perito que o representa. Portanto, nestas
circunstâncias, o sujeito passivo pode solicitar a revisão da matéria tributável, só não o
fará nos casos de regime simplificado. Este pedido tem efeito suspensivo relativamente
à liquidação do tributo. Caso o pedido seja aceite, o órgão da Administração tem ele
próprio (no prazo de 8 dias) que indicar um perito, que não deve ter tido preferencialmente
qualquer tipo de participação anterior no processo, e deve marcar os peritos para o prazo
de 15 dias (deve marcar uma reunião entre este e o perito indicado pelo contribuinte a
realizar no prazo máximo de 15 dias). Pode qualquer uma das partes solicitar a nomeação
de um perito independente. Este procedimento tem que terminar com revisão ou
avaliação da matéria coletável.

O procedimento tem de terminar com uma revisão da matéria coletável, relembrar


o nº3 do artigo 86º quanto à avaliação indireta.

Voltando ao procedimento de revisão: há sempre debate contraditório entre os


peritos, com vista a alcançar-se um acordo. Este procedimento deve estar terminado em
30 dias, devendo caso não exista acordo ser determinada a avaliação pelo órgão

152
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

competente para a fixação da matéria tributável. Estando presente o perito independente,


o mesmo deverá tomar a decisão devidamente fundamentada.

Procedimento de inspeção:

(dentro dos procedimentos de natureza informativa, em geral, e em concreto


dentro do procedimento cujo destinatário da informação é a Administração
Tributária)

É especialmente relevante quando falamos de inspeção tributária externa. O seu


regulamento está no DL nº413/98, determina o regime complementar do PITA.

Discricionariedade que tem a Administração para determinar a sanção dos


contribuintes que vão ser sujeitos a inspeção, e dos atos tributários que vai escolher para
efeitos de inspeção. Durante muito tempo havia a teoria que quem entregava declaração
de fora do prazo era depois sujeito a inspeção.

O IMP é: Quem vai ser inspecionado depende de uma decisão meramente


discricionária tomada por parte da Administração, e mesmo os atos que vão ser sujeitos
a inspeção, estão dentro deste jogo de discricionariedade da Administração.

As inspeções são irrepetíveis em princípio, embora haja exceções a este


princípio, Acórdão do STA de 20 dezembro de 2005 e recurso 0059/02. Claro que dentro
da discricionariedade da Administração ela pode determinar uma grande amplitude de
inspeção. Não pode suceder é a aplicação de inspeções indiretas. Isto por exemplo
seria algo a tomar em atenção quando se faz uma inspeção de IVA a um determinado
sujeito tributário. Não se pode fazer uma liquidação noutro contribuinte com base
numa inspeção a outro, isto é, temos um processo produtivo em que participavam A, B,
C, D e a inspeção faz uma atuação sobre o sujeito passivo A e descobre problema quanto
à liquidação do IVA, não pode com isso fazer liquidação adicional sem inspeção a B, C,
D tem também que lhes fazer uma inspeção.

A inspeção começa com a notificação em que vem a assinatura da ordem de


serviço ou o despacho em que se determina o âmbito de inspeção que tem que ser
reconhecido por parte do contribuinte. Tem que existir uma nota de diligências a assumir,
desde logo, diligências de natureza probatória. E para além do mais, o objetivo é da
existência de um relatório final, mas antes faz-se um relatório provisório e sobre o mesmo
tem que se abrir o direito de audiência prévia do contribuinte. Feita a audiência prévia,

153
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

faz-se um relatório final, muitas vezes igual ao provisório/inicial, é notificado o


contribuinte da decisão final, abrindo-se o prazo para pagamento adicional quando haja
liquidação.

O prazo de caducidade das liquidações fica suspenso durante o período de


inspeção nº1 do artigo 46 da LGT. Não devendo a inspeção durar mais de 6 meses.
Portanto, o prazo de caducidade suspende-se com a notificação ao contribuinte e a
notificação é da ordem de serviço ou de despacho que inicia uma ação de inspeção
externa. Não podendo a inspeção ultrapassar o limite de 6 meses. Temos de
compatibilizar este prazo com o outro que é o de caducidade das liquidações: 4 anos.

Os contribuintes têm um especial dever de colaboração no âmbito dos trabalhos


da inspeção tributária. Portanto, há um especial dever de intervenção por parte do
contribuinte, mas se tem este especial dever, também tem especiais direitos: direito a
estar presente nas ações inspetivas, tem o direito ao silêncio, e caso pretenda pode
estabelecer um contraditório informal.

Artigo 63º da LGT determinam-se os direitos que têm os órgãos competentes


quanto à inspeção. Podem aceder às instalações ou locais relacionados com a atividade
do contribuinte, por exemplo as suas casas, podem examinar os seus livros de escrituração
e de contabilidade, podem aceder a TODO o sistema informático do contribuinte
(podendo testá-lo, e fazem por password), podem requerer documentos aos notários e
conservadores, e podem utilizar as instalações do contribuinte como a sede do seu
trabalho. É até possível no âmbito da inspeção que se aceda a informação que está
protegida por segredo profissional. Para o efeito têm que ter uma autorização judicial
que lhes permita o levantamento desse sigilo, há aliás regras nos artigos 63ºA ao 63ºC
quanto a informações relativas a operações financeiras, acesso a contas bancárias afetas
à atividade empresarial etc. que determinam regras especiais.

A inspeção deve ser proporcional, só podendo haver mais do que 1


procedimento externo de fiscalização quanto ao mesmo sujeito passivo … com decisão
fundamentada relativamente a factos novos.

O contribuinte tem uma obrigação de cooperação nas diligências, só sendo


legítima a sua recusa, quando se refira ao acesso a habitação do contribuinte, consulta
de elementos protegidos por segredo profissional, acesso a factos da vida íntima dos
cidadãos, ou violação de DLG. Quando o contribuinte demonstre a sua oposição em

154
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

relação a alguma diligência, com base nestas exceções, a mesma (a diligência) só pode
ser realizada quando haja autorização concedida pelo tribunal.

IMP: apenas pode existir inspeção, caso sejam respeitados os limites relativos à
comparação entre meios e fins da inspeção. Para que a inspeção seja proporcional tem
que existir uma circunstância de equilíbrio entre meios e fins que se pretendem
alcançar.

Quanto ao procedimento de acesso a informações bancárias, o mesmo foi


durante muito tempo discutido, existindo a ideia de que os contribuintes deveriam estar
especialmente defendidos em relação a informações do setor financeiro. Não era aceitável
(era este o princípio) que se esteja a violar a intimidade da informação relativamente a
contas bancárias. O argumento contrário era: o de ser necessário esse acesso para se
alcançar a verdade material.

Hoje, determina-se que a AT tem o poder de aceder a todos as informações, ou


documentos bancários, não necessitando para o efeito de autorização do titular desses
mesmos elementos, quando: existam indícios da prática de crime tributário (se há índicos
de crime, não se pode ficar à espera de autorização do criminoso quanto ao levantamento
de sigilo sob informações de natureza bancária); outro caminho: se existirem indícios da
falta de veracidade do declarado, ou esteja em falta declaração legalmente exigível.
Abre-se muito a possibilidade de acesso a documentos de natureza bancária. E ainda,
quando haja indícios de acréscimo de património injustificado – al. c) do artigo 87º. Al f)
do nº1 do 87º.

Quando se pretende verificar a conformidade a conformidade dos documentos de


registo contabilístico ou sujeitos passivos de IRS ou IRC que tenham contabilidade
organizada, e sujeitos de IVA que tenham direito de iva de caixa – IVA que dá direito ao
reembolso…quando haja uma comprovada dúvida da existência de dividas ao fisco ou à
SS, ou no âmbito da inspeção quando também se esteja a atuar relativamente ao
branqueamento de capitais.

Conclusão: Espaço amplo relativamente à abertura do sigilo de natureza


bancária.

Pode no caso de recusa, a Administração tentar a possibilidade de fazer a consulta


relativamente a familiares ou terceiros que tenham uma relação especial com o

155
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

contribuinte. As decisões do levantamento do sigilo têm que ser fundamentadas pela AT,
nessa fundamentação têm que estar os motivos concretos, e deve existir uma notificação
dos interessados no prazo de 30 dias a partir da emissão da decisão do levantamento do
sigilo. Todos os anos a Administração deve dar um tratamento estatístico das informações
que concedeu, e todas estas determinações têm que ser cruzadas com aquelas que estão
previstas quanto à matéria de natureza penal.

Procedimento de reclamação graciosa/administrativa

(dentro dos procedimentos impugnatórios de segundo grau)

Este procedimento é especialmente relevante porque, a ele se aplica a ideia de


contencioso, em que apenas estão presentes 2 partes: a Administração e o sujeito passivo.
De acordo com o que está determinado no artigo 68º do CPPT, a reclamação graciosa é
um procedimento impugnatório que visa a anulação de atos tributários.

A apresentação de uma reclamação não suspende a liquidação. É neste amito


que se verifica que a suspensão da liquidação depende pura e simplesmente da
prestação de uma garantia que seja adequada.

A partir do momento em que passa o prazo de pagamento voluntário por parte do


contribuinte, passando o prazo de pagamento voluntário, abrem-se 3 prazos ao
mesmo tempo: prazo para prestação da garantia + prazo de apresentação de
reclamação graciosa + prazo de impugnação judicial.

O pedido deve ser apresentado pelo sujeito passivo, junto da Administração, e


deve ser apresentado visando a anulação do ato tributário.

Ainda dentro desta lógica, deve se tomar em atenção que o prazo é de 120 dias
que são contados de forma corrida a partir do termo do prazo de pagamento voluntário.

O procedimento de reclamação graciosa tem como objetivo: anulação total ou


parcial dos atos tributários, e está baseado numa iniciativa do contribuinte, do substituto
ou dos seus responsáveis. NÃO se pode apresentar ao mesmo tempo reclamação e
impugnação. Apresentada a impugnação, não está entre os seus efeitos o da suspensão
da execução, a impugnação não suspende a execução, a suspensão da execução apenas
existe quando seja prestada garantia nos termos do CPPT. E quanto à garantia
adequada ver o 199º do CPPT, porque é aí que vêm as regras essenciais relativamente à
garantia, ela tem que ser idónea podendo ser uma garantia bancaria, uma coação, um
156
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

seguro-caução, ou qualquer outro meio capaz/suscetível de assegurar os créditos do


exequente.

Quanto aos fundamentos pelos quais pode apresentar a reclamação: eles são os
mesmos que permitem apresentar uma impugnação judicial.

O prazo é de 120 dias e conta-se da existência dos factos previstos no 102º, nº1
do CPPT, ou seja, o termo do prazo para pagamento voluntário, com o tal prazo de 120
dias A NÃO SER que esteja perante casos de nulidade em que pode ser apresentado a
todo o tempo.

Temos aqui uma lógica de cláusula aberta de legalidade que vai poder ser
utilizada pelo contribuinte, pois não está muito limitado em relação àqueles que são os
argumentos pelos quais pode apresentar reclamação. Há aqui um sistema de remissão
entre reclamação e impugnação porque a lógica é a mesma, com a diferença que a
impugnação vai ser decidida por um juiz, ao passo que na reclamação é a Administração
que decide, e por isso se põe a questão de estratégia processual, sobre se deve ou não
apresentar a reclamação.

A instrução do pedido é feita pela Administração artigo 73º do CPPT, em


princípio a reclamação é apresentada ao órgão periférico regional da AT, sendo instruída
pelo órgão periférico local, diferença entre o serviço local e distrital. O serviço local que
vai instruir o processo é o da área de residência ou da sede do contribuinte ou da situação
dos bens quando falamos por exemplo em IMI ou da liquidação. A instrução não pode
durar mais de 90 dias.

Não vai haver instrução caso a entidade que devia e iria fazer a instrução já tenha
os elementos necessários para a tomada de decisão.

É possível que a reclamação graciosa seja apresentada em coligação, admite-


se nos mesmos termos da impugnação judicial. Podendo também haver cumulação de
pedidos salvo quando o instrutor (o órgão local) considere que isso prejudica a celeridade
da decisão.

Em regra, se se ultrapassa o limite estabelecido para a conclusão deste


procedimento, estamos perante uma circunstância de indeferimento tácito. E qual é o
prazo para o fim do procedimento? Artigo 57º, nº1 da LGT, devendo o procedimento

157
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

ser concluído no prazo de 4 meses. Sendo que os prazos são contíguos, contando-se nos
prazos do 279º do CC.

07/04/2022

Continuando com os procedimentos em especial no plano tributário. Devemos recordar


que o principal, procedimento sempre que estamos a tratar de procedimento tributários é
o procedimento de liquidação – determinação do montante a pagar. A regras a aplicar são
as de incidência tributaria, seja no plano da determinarão do princípio da capacidade
contributiva – o rendimento, rendimento utilizado e o património são os 3 grandes
indicies. E aplicação da taxa ao índice de capacidade contributiva é que nos leva ao
montante de imposto a pagar.

PROCEDIMENTO DE RECLAMAÇÃO

Relevante é o procedimento de reclamação. Ele é importante, desde logo, porque


a partir do momento em que expira o prazo para pagamento voluntario de um tributo, são
lhe abertas algumas hipóteses: utilizar as regras procedimentais através da reclamação ou
de utilizar as regras de natureza processual através de impugnação ou através de pedido
arbitral.

A utilização da reclamação graciosa pelo contribuinte, normalmente passa pela


utilização de argumentos de facto, como por exemplo, a não consideração de uma
qualquer despesa, erro nas contas, etc.

Agora pensemos sempre na reclamação graciosa como ato procedimental que tem
como objetivo a anulação de atos de natureza tributária. É este alias, a leitura que devemos
fazer do 68º CPPT. quando se refere que o procedimento de reclamação graciosa visa a
anulação do ato tributário, podendo a anulação ser total ou parcial. Quem tem
legitimidade para iniciar este procedimento são os devedores de imposto. A saber: os
contribuintes, mas também os substitutos e os responsáveis.

Nunca se pode apresentar ao mesmo tempo reclamação graciosa e impugnação judicial.


Apenas será possível fazê-lo se não se basear no mesmo fundamento. E porque é assim?

158
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Porque, desde logo, da decisão de indeferimento da reclamação graciosa é possível


passar-se para a impugnação judicial.

Regras essenciais quanto à apresentação de uma reclamação

Não pode existir um caso que já esteja decidido ou resolvido. Ao contrário do que sucede
com o processo que tem custas, a reclamação não tem custas.

No plano probatório, utiliza-se, nesta fase, apenas prova de natureza documental.


Ou melhor, quem pretender indicar testemunhas tem de o fazer sob a forma de pedido ao
órgão instrutor. Porquê? Porque a prova esta limitada à ideia de prova documental a não
ser que o órgão instrutor decida ordenar outras diligencias complementares sempre tendo
em base a procura da verdade material.

Um outro princípio: a apresentação de uma reclamação graciosa não tem efeitos


suspensivos sobre a execução. A não ser que haja a opção de apresentar uma garantia. É
o regime do 69º, alínea f) com remissão para o 199º onde estão previstas as garantias que
vão ser admitidas. Basicamente, na lógica das garantias bancárias ou garantias de natureza
patrimonial.

Quanto aos fundamentos que podem ser utilizados na reclamação. No plano legal,
o que se determina é que podem ser precisamente os mesmos da impugnação contando-
se como prazo para apresentação da reclamação graciosa, 120 dias. Atenção: o legislador
optou por um nº de dias. Não são 4 meses. É um cuidado que temos de ter quando
quisermos apresentar reclamações graciosas. Ao passo que na reclamação o prazo está
determinado em dias. Na impugnação o prazo está apresentado em meses.

Os 120 dias contam-se corridos (se acabar em fim de semana ou feriado acaba o prazo no
1º dia útil seguinte).

Quanto ao início da contagem do prazo temos de aplicar o 102º/1 do mesmo


código. Contando-se o prazo a partir do momento em que termina o prazo voluntario para
pagamento das prestações tributárias. Ver 102º/1 a). ou seja, a contar do termo do prazo
para pagamento voluntario. Já, por exemplo, a impugnação, tem um prazo de 3 meses.
Qual é a relevância que isto tem? Se quisermos tomar uma decisão se fazermos
reclamação graciosa ou impugnação, temos de fazer nos 3 meses seguintes ao prazo de
pagamento voluntário. Claro está que se optarmos por fazer a reclamação, podemos
sempre, da decisão da reclamação, mais tarde, impugnar.

159
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Ponto é: se se estiver perante uma nulidade, se estivermos a falar de impugnação, ela pode
ser apresentada a todo o tempo.

Ao admitir que quanto aos fundamentos se aplicam as regras de impugnação


judicial, o que se ta a fazer para a reclamação graciosa é a admissibilidade de uma clausula
aberta de ilegalidade. É precisamente o que esta previsto no 70º/1. Podendo os
fundamentos serem fundamentos de facto ou de direito. Como o prof disse, o mais normal
é os fundamentos sejam de facto. Mais, não tem de se utilizar logo na reclamação graciosa
os fundamentos que vão ser utilizados a nível da impugnação. O contribuinte pode utilizá-
los todos, mas também pode não fazer.

A reclamação graciosa é sempre dirigida ao órgão periférico da Administração


tributaria, sendo instruída pelo órgão local. O que que dizer isto? Quer dizer que quem
vai recorrer os elementos necessários à decisão é o órgão local da Administração que o
deve fazer no prazo de 90 dias, findo o qual deverá remeter uma proposta de decisão.
Pode acontecer que nem seja necessária a instrução. Isso acontece quando o órgão local
tem todos os elementos necessários para a tomada de decisão. Muitas vezes, esta fase de
reclamação graciosa pode ser vista como uma fase pré processual de resolução do
conflito. Pode suceder que a Administração se dê conta que de forma evidente não tem
razão e resolver a questão de forma que não seja necessário o recurso aos tribunais.

Regra quanto à decisão: é a de que a mesma é tomada pelo órgão periférico


regional da área do domicílio ou da sede do contribuinte.

Quando se está a falar de situações de responsabilidade subsidiaria, e esta será


determinada em sede de execução fiscal, quem será competente é o órgão periférico
regional da área da execução fiscal. Ou da área do órgão que praticou a execução fiscal.

Da decisão que é tomada no âmbito da reclamação graciosa, poderá existir recurso


hierárquico (isto é, para o superior órgão da Administração que pode tomar a decisão
sobre esta matéria) tal como está previsto no 76º CPPT. Havendo um prazo de 30 dias a
partir da decisão. Há a ideia de um duplo grau de decisão, dentro da própria
Administração.

A decisão que é tomada pela Administração pode ser uma decisão expressa ou
pode ser uma decisão tácita. Será uma decisão tácita quando passem 4 meses sobre o
início do procedimento, aplicando-se nessas circunstâncias a regra do indeferimento

160
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

tácito. Fazer remissão do CPPT para a LGT que no nº1 determina que o procedimento
tributário deve ser concluído no prazo de 4 meses (57º LGT).

Também se determina aí que os prazos se contam no âmbito do procedimento de


acordo com as regras do 279º CC – os prazos são contínuos. E se nada for dito em
contrário por legislação, os atos procedimentais (cada um deles) deve ser na prática
tomado num prazo máximo de 8 dias.

Se passados 4 meses sobre o início do procedimento nada for dito, presume-se o


indeferimento tácito. Isto obriga o contribuinte a impugnar? NÃO! Pode ser esperar pelo
cumprimento da decisão expressa por parte da Administração. A regra do indeferimento
tácito está no 106º CPPT (fazer remissão deste para o 57º LGT).

Chegados aqui, temos: se 4 meses depois de ter iniciado o procedimento nada for
dito há uma presunção de indeferimento tácito, abrindo-se o prazo de 3 meses para a
impugnação judicial. Se o contribuinte deixar passar o prazo, pode sempre esperar pela
decisão expressa e se for contrária, aí apresentar a impugnação. É um risco porque pode
ficar à espera muito tempo.

Há uma exceção expressa: há a ideia de indeferimento tácito que tem a ver com
os casos de pagamento por conta. Estes são aqueles pagamentos provisórios feitos pelo
próprio contribuinte. O que sucede? Quando se pretenda impugnar judicialmente um caso
de pagamento por conta temos de atentar à reclamação graciosa obrigatória para o órgão
periférico local. E essa reclamação também tem o prazo especial de 30 dias a contar da
data em que se fez um pagamento indevido. Caso a reclamação seja expressamente
indeferida, o contribuinte e terá, para impugnar, 30 dias. Caso 90 dias de apresentar o
pedido, nada tenha sido dito, a reclamação considera-se tacitamente deferida. É uma
exceção à regra do indeferimento tácito. Nestas circunstâncias de pagamento por conta
há um deferimento tácito. Ver 133º.

Conjunto de exceções: por um lado a reclamação é necessária, por outro lado, os


prazos são próprios e por fim o prazo também para términos do procedimento é especial
(no caso da reclamação); e se passarem 90 dias sem que nada seja dito há deferimento
tácito (o que determina a exceção é o nº4 do 133º).

Vamos para a situação em que há uma reclamação graciosa e indeferimento total


ou parcial.

161
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Dessa decisão pode haver em primeiro lugar, recurso hierárquico (76º CPPT). Em
segundo lugar, pode-se optar pela impugnação judicial (102º CPPT).

O prazo de impugnação judicial é de 3 meses quer da notificação quer da formação


da presunção de indeferimento tácito.

Em regra, a reclamação graciosa é meio impugnatório de natureza facultativa, não


é obrigatória. Há, no entanto, casos de reclamação graciosa necessária. Já referimos um:
o caso dos pagamentos por conta (133º). Mas também quando esteja em causa uma
impugnação em caso de autoliquidação (por exemplo, IRC), terá de haver
obrigatoriamente reclamação graciosa dirigida ao dirigente do órgão periférico regional
num prazo de 2 anos a partir da apresentação da reclamação. Por exemplo, casos relativos
a contribuições especiais que tem declarações de natureza trimestral. É o que acontece
com a contribuição para os dispositivos médicos. O contribuinte pode fazer: pode fazer a
reclamação em todos os 3 meses, ou pode aguardar 2 anos e fazer uma reclamação pelas
várias reclamações que fez até ao momento.

Uma exceção a esta exceção. Quando exista uma mera questão de direito de uma
autoliquidação que tenha sido feito de acordo com uma orientação genérica determinada
pela Administração, não há reclamação graciosa necessária. Pode haver reclamação, mas
não é necessária. Logo não se aplicam os prazos para essa reclamação que existem para
a reclamação necessária em caso de autoliquidação.

Um outro caso de impugnação necessária é o artigo 133º.

Há um caso especial de reclamação necessária que é algumas situações de


retenção na fonte. O princípio geral é este: pode haver impugnação por parte de um
substituto quando se tenha entregado imposto superior ao que tenha sido retido.
Imaginemos uma situação de uma retenção que deveria ser de 100, mas foi entregue ao
estado 150; o substituto tem legitimidade para impugnar. Pode o substituto, também,
descontar o montante que entregou a mais nas entregas seguintes. No caso de não ser
possível essa correção, o substituto reclama graciosamente para o órgão periférico
regional no prazo de 2 anos (a contar do erro que ele próprio cometeu na retenção). Após
o que vai fazer a impugnação. Temos mais um caso de reclamação necessária.

Também terá direito a impugnar não apenas o substituto, mas também o substituído,
quando a retenção na fonte for definitiva. Quando a retenção na fonte tiver a natureza de

162
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

pagamento por conta do imposto da vida final, não terá direito a fazer impugnação, porque
quando for o ajuste de contas, vai ser considerado o montante que tenha sido efetivamente
retido. O substituído apenas vão ter direito a impugnar quando tenhamos uma retenção
na fonte a título definitivo.

Distinção de retenção na fonte por conta e a título definitivo. É por conta aa que
é feita durante o ano (IRS); todos os meses em relação aos salários. É definitiva aquela
que tem o montante de taxa definido e num único ato (por exemplo, recebimento de juros;
de acordo com determinações do CIRS, em princípio os juros não são englobados; e por
isso estão sujeitos a uma retenção na fonte a título definitivo de 28%).

Temos estes 3 casos de impugnação necessária.

Ficam de fora os casos de heteroliquidação que não haja ou pagamento por conta
(= pagamento provisório feito pelo contribuinte) ou alguns casos de retenção na fonte.

Para além da reclamação graciosa pode existir o recurso hierárquico que é uma
solicitação ao superior hierárquico do órgão que praticou o ato para uma nova apreciação
relativa à legalidade desse mesmo ato tributário. O regime do recurso hierárquico está
previsto no 76º. Aplica-se aos atos de indeferimento total ou parcial de reclamação
graciosa. A decisão do recurso hierárquico é suscetível de recurso contencioso
(impugnação judicial), a não ser que essa impugnação já tenha sido submetida. Em regra,
o prazo para se apresentar o recurso hierárquico é de 30 dias. Tendo os recursos
hierárquicos, em regra, 67º/1, uma natureza não só facultativa como um efeito meramente
devolutivo.

Caso a lei determine que há efeito suspensivo no recurso hierárquico, ele apenas se aplica
à parte da decisão que está a ser sujeita a recurso. Tem importância a nível da execução
fiscal.

Os recursos hierárquicos serão decididos no prazo máximo de 60 dias, em caso de


silêncio, há indeferimento tácito. E os recursos hierárquicos podem passar por uma
revogação total ou parcial da decisão que foi tomada no âmbito da reclamação graciosa.

Os recursos hierárquicos são apresentados junto do órgão que tomou a decisão de


reclamação, devendo subir no prazo de 15 dias, sempre acompanhados do processo
administrativo (todos os atos procedimentais que foram assumidos até ao momento).

163
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Nesse prazo de 15 dias pode o autor do ato que está a ser recorrido, revogá-lo de forma
total ou parcial. Podemos ver estes regimes no âmbito do 66º e 67º do CPPT.

Cláusula geral anti abuso. Vários códigos tributários têm cláusulas anti abuso.
Isto é, cláusulas que são contrárias à utilização abusiva de determinadas formas jurídicas.
Isto serve quando se faça o quê? Quando o contribuinte utilizou determinados expedientes
negociais, que são validos, mas que foram utilizados com fins meramente tributários –
para pagar impostos. A nível dos diferentes códigos, o legislador vem determinar que os
atos são validos, mas não tem eficácia no plano tributário.

A cláusula geral anti abuso está no 38º LGT e aplica-se quando nenhuma das
clausulas especiais se possa aplicar. Ver nº1 do artigo 38º - o facto de negócio jurídico
serem ineficazes, por serem simulados, não obsta a que haja tributação. Basta que já se
tenham verificado os efeitos económicos pretendidos pelas partes. Basta que tenha
existido uma qualquer manifestação de capacidade contributiva que implica o pagamento
de impostos.

O que determina, agora, o legislador? Ver nº2 do 38º. Determinar-se um qualquer


negócio ou a forma de negócio com base num objetivo de natureza fiscal – de pagar
menos impostos e de não pagar impostos. É a utilização de instrumentos que são legais,
mas que visam o pagamento de menos impostos.

O contribuinte, na sequência do que está determinado por normativos europeus,


passou a prever a figura de Bob o construtor no plano fiscal, isto é, as construções. Todas
as construções de natureza jurídica que tenham como finalidade principal ou uma das
finalidades principais obter uma vantagem fiscal o legislador vem dizer que noa é preciso
que seja a finalidade principal, pode ser; mas basta que seja uma das finalidades. Nesses
casos, quando se pretenda obter uma vantagem fiscal, frustrar o objetivo da norma fiscal,
haja abuso de formas jurídicas ou não sejam consideradas genuínas, são desconsideradas
para efeitos tributários. Tem de haver um abuso da forma. A forma não esta utilizada para
aquilo que seria o seu objetivo. Tendo todos os elementos, acontece que o negócio
jurídico não é considerado para efeitos tributários, apesar de ser valido. Leva aplicação
das normas de incidência, que sempre se aplicariam, se não tivesse existido o abuso de
normas jurídicas. Aplicam-se as regras que correspondem à substância presente. As
vantagens ficais que se pretendiam realizar não serão realizadas estas são as
consequências.

164
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Ver artigo 38º/3 a) – ajuda a fazer a interpretação sobre o que serão construções
jurídicas com abuso ou não genuínas. Serão aquelas que não são realizadas por razões
económicas validas. Que reflitam a substância económica (i. e., o índice de capacidade
contributiva).

Estas são as regras no plano substantivo.

No plano procedimental aplicam-se as regras do 63º do CPPT. O que se


determina no 63º? Os elementos que têm de estar expressos ou como base de fundamento
da decisão de aplicação da norma geral anti abuso. E são os previstos no nº3 do 63º.

Para se aplicar a norma geral anti abuso no plano procedimental, tem de haver
audição prévia do contribuinte. Tem de existir um procedimento de inspeção sobre o que
esta a beneficiar da construção jurídica (que está a pagar menos impostos). O direito à
audição tem o prazo de 30 dias a contar do projeto de decisão da aplicação da norma anti
abuso.

Nesses 30 dias o contribuinte é livre de apresentar as provas que entender. Não


podendo aplicar-se a disposição antiabuso, se o contribuinte tiver feito um pedido de
informação vinculativa e a Administração não tiver respondido num prazo de 150 dias.

Este é mais um caso de reclamação graciosa necessária. Isto é, só se pode impugnar caso
tenha existido reclamação graciosa anterior.

Neste artigo 63º está previsto um procedimento especial que no fundo tem por base a
especial insegurança de que a aplicação destes casos traz. Tem que existir, para aplicação
da clausula geral de anti abuso, uma logica de fundamentação especialmente cuidada e
de contraditório ou, melhor dito, de possibilidade de contraditório do contribuinte. Por
fim, deve-se tomar em atenção que qualquer hipótese de impugnação tem de passar por
uma reclamação graciosa previa.

Distinções relevantes entre o procedimento tributário e o procedimento


administrativo:

1. O procedimento tributário é iminentemente um procedimento de natureza


objetivista e não subjetivista. Não é especialmente relevante o sujeito do
procedimento.

165
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

2. O procedimento tributário é procedimento centrado na ideia de ato tributário.


Ato pelo qual se determina a existência de contribuintes e de imposto a pagar.
O procedimento tributário é o procedimento centrado na incidência do
imposto. O procedimento administrativo é o procedimento que está cada vez
mais a ultrapassar o ato, com a entrada de procedimento contratuais que não
existem tanto no procedimento tributário.

3. O procedimento tributário é um procedimento mais limitado que o


procedimento administrativo pelo princípio da legalidade.

4. O procedimento tributário é um procedimento de anulação. Anulação de ato


tributário que pode ser total ou parcial. Já o procedimento administrativo
ultrapassa cada vez mais uma vertente estritamente anulatória.

5. Esta vertente de relacionamento com o ato e de vertente anulatória vai ter


efeitos sobre aquilo que é a base de natureza processual tributaria. Desta
forma, o procedimento tributário tem uma ligação muito grande com aquilo
que vai suceder no plano da impugnação. Por isso faz uma grande ligação entre
a reclamação graciosa e a impugnação, havendo circunstâncias (131º, 132, e
133º CPPT) em que a reclamação graciosa (neste caso do abuso) é necessária
para que haja impugnação. De certa forma, podemos dizer que a ligação entre,
por um lado, um procedimento e, por outro lado, o processo no plano tributário
é muito marcado. Isto não leva à obrigatoriedade de um contribuinte no plano
procedimental utilizar todas ou todos os fundamentos que pretende utilizar no
plano da impugnação.

Relembrando o esquema: nós temos, para começar, o ato de liquidação. Ato pelo
qual se determina o montante de imposto a pagar e quem o vai pagar. Terminado que
esteja o ato de liquidação – que pode ser ato de autoliquidação ou heteroliquidação – o
contribuinte vai ter o prazo de pagamento voluntário do imposto. Findo o prazo de
pagamento voluntário do imposto, o contribuinte vai ter 120 dias para reclamar
graciosamente ou 90 dias para impugnação judicial. E vai optar por uma ou outra, a ano
ser nos casos em que exista reclamação necessária.

Optando pela reclamação graciosa, temos algumas hipóteses: se em 4 meses nada é dito,
forma-se (salvo situações excepcionais) um indeferimento tácito. O dia do indeferimento
tácito é o primeiro dia da contagem da impugnação judicial. Caso o contribuinte queira

166
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

pode esperar pela decisão expressa da Administração. Na data da decisão da


Administração em 1ª instância também se abre a possibilidade de recurso hierárquico. O
recurso hierárquico que deve estar decidido em 90 dias. Caso não esteja corresponde a
uma decisão de indeferimento expresso e dessa decisão, também se começa a contar o
prazo para a impugnação judicial ou pedido arbitral.

Duas notas:

1. Pode suceder, nos casos em que não há reclamação graciosa necessária, que
o contribuinte opte logo pela impugnação judicial. Outra coisa: os dados do
processo administrativo, do ato de liquidação e, caso exista, da reclamação,
havendo impugnação judicial, tem de ser remetidos ao tribunal.

2. Os meios contenciosos não têm eficácia suspensiva em relação à execução da


liquidação. E, portanto, terminado o prazo para pagamento voluntario, sem
que o mesmo seja feito, para alem de se abrirem os prazos de reclamação e
impugnação declarativa, abre-se a execução fiscal e esta apenas é suspensa
pela garantia que seja prestada, ou pode ser extinta pelo pagamento (aí será
pagamentos com juros).

08/04/2022

GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES

As garantias são meios criados pela ordem jurídica cujo objetivo é prevenir e se
necessário sancionar potenciais violações da ordem jurídica, mais especificamente de
direitos subjetivos ou interesses legalmente protegidos dos contribuintes.

Quando falamos destas garantias dos contribuintes, como é obvio que tudo se
inicia com uma base de natureza constitucional. Que tem um desenvolvimento legal, no
caso, é estabelecido na LGT com a determinação dos princípios e garantias existentes.
Aplicando-se uma lógica de princípio da legalidade relativamente a meios de intervenção
que são não impugnatórios.

Por exemplo, vamos começar por analisar o direito à informação. Este direito
existe relativamente a direitos e a deveres dos contribuintes, quanto à sua situação em

167
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

específico (situação tributária), quanto à sua posição no procedimento,


fundamentalmente, quando os procedimentos lhes digam respeito.

Há nestas garantias uma base constitucional que podemos encontrar no 268º/1


CRP. Mas também falamos de uma base de desenvolvimento dos princípios no plano
legal, na LGT no 67º LGT. Este artigo refere o direito à informação na lógica dos
contribuintes (um direito que ele tem) de saber a fase procedimental em que se encontra,
bem como a data previsível da sua conclusão. Em relação à data previsível, o contribuinte
tem um elemento que o defende que é saber que existe um prazo que está determinado na
lei e em regra caso seja ultrapassado determina a existência de um indeferimento tácito
com o direito do contribuinte poder reagir relativamente a essa lei.

Nesta lógica das garantias, convém atentar que o contribuinte tem direito a saber
da existência de denúncias dolosas que não sejam confirmadas e de identificação do autor
das denúncias. Do lado contrário, o contribuinte tem direito ao sigilo da sua situação
tributária (a sua situação não pode ser pública e notória).

É preciso distinguir os pedidos de informações vinculativas (os tais PIV) que são
relativamente a uma situação em concreto e com efeitos para essa situação em concreto,
das orientações genéricas também previstas na lei, em que no fundo a Administrativo
torna pública aquela que é a sua interpretação sobre determinadas normas.

As informações vinculativas são sobre a situação jurídica tributaria de


determinados sujeitos, são dirigidas ao dirigente máximo das finanças e devem ter uma
descrição dos factos relativos à situação em concreto, cuja determinação de interpretação
se pretenda, devendo nos caos de informações vinculativas urgentes, o próprio
contribuinte avançar com a interpretação que faz da norma. Quando o PIV é não urgente,
também se pode avançar com a interpretação que se tem de uma norma de um facto em
concreto.

Estes PIV são distintos das inspeções tributarias. Não é possível fazer-se um PIV sobre
factos que estejam sujeitos a uma inspeção tributaria cujo pedido tenha sido notificado ao
contribuinte. O prazo de prestação com caracter de urgência é de 75 dias. Os pedidos são
feitos por via eletrónica, estando as respostas aos mesmos pedidos, também publicados
por essa via. Qualquer dos seguintes sujeitos, seja o contribuinte, seja o seu advogado,
seja o seu representante, podem apresentar o PIV.

168
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Os PIV urgentes têm de pagar uma taxa que vai das 25 às 250 unidades de conta
e cujo montante vai depender da complexidade da matéria. E nos casos de pedido de
urgência em que não há resposta dentro do prazo, se considera que a interpretação que o
contribuinte deu é tacitamente aceite. É um caso de deferimento tácito.

A inexistência dos pressupostos para se fazer uma informação vinculativa urgente


devem ser notificadas ao requerente, circunstância em que o pedido segue a regra geral.

Diferente desta informação vinculativa que se aplica ao caso em concreto e que vinculam
em relação ao mesmo. O máximo que pode acontecer é que quem tenha casos análogos –
os casos análogos exigem por uma lado idêntica factualidade e por outro lado idêntica
aplicação de norma jurídicas nessas situações, o que pode suceder é que o contribuinte
que tenha a situação análoga possa esperar idêntica interpretação. Mas pode não suceder.

Ao passo que nas orientações genéricas, o que a Administração esta a determinar


e a interpretação e uma norma jurídica que vai vincular a Administração. A informação
vinculativa, vincula para o caso. A orientação genérica vincula a Administração. Portanto,
em casos que se enquadram dentro da orientação genérica 68ºA LGT, os contribuintes
sabem qual a interpretação que a Administração vai fazer nessas circunstâncias.

Primeira garantia: garantia do direito à informação.

Segunda garantia: o direito a ser ouvido. Isto é, o direito a uma audiência previa.
este direito existe, previsto na nossa legislação procedimental e processual, em vários
artigos. Desde logo, no 63ºB relativo ao acesso a informações se documentos bancários.
No fundo o direito a audiência relacionado com questões de levantamento de sigilo
bancário. No direito à determinação da responsabilidade subsidiária, na aplicação dos
regimes do 22º e 23º da LGT. Na inspeção tributaria. Podemos ver regime complementar
d inspeção tributaria. Na aplicação da regra geral anti abuso, nos números 4, 5 e 6 do 63º
CPPT.

Terceira garantia é a que tem a ver com direito à caducidade da liquidação, cujo
regime está previsto no 45º LGT. O direito à rescrição da mesma obrigação. E quanto à
prescrição ver 48º LGT. Determinando-se então que não existe uma possibilidade sem
prazo de a Administração poder determinar um imposto em concreto. O regime é distinto
conforme se esteja, quanto à caducidade, perante um caso de um imposto periódico ou de
um imposto instantâneo.

169
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Mas também existe caducidade relativamente à prestação de uma garantia. E uma


garantia que seja apresentada para suspender a execução no caso de reclamação graciosa,
impugnação judicial ou oposição (é a intervenção processual quando estamos no âmbito
do processo executivo), a garantia caduca de forma automática se a reclamação graciosa
ao estiver decidida no prazo de um ano a contar da data da sua imposição. Aqui o prazo
é superior aos 4 meses que levam ao indeferimento tácito.

Também no plano de impugnação, se não estiver proferida uma decisão, em 1ª instância,


no prazo de 4 anos e o interessado apresentar requerimento no processo. Não basta
passagem dos 4 anos, é preciso que o interessado apresente no processo a caducidade da
garantia. Ver 183ºA.

O requerimento a pedir a caducidade da garantia vai ser submetido à apreciação


do tribunal competente (é o caso do tribunal tributário), devendo determinar-se uma
decisão que é fundamentada após audição da AT (Administração Tributária), que
determine ou a caducidade da garantia ou a sua manutenção por um período máximo que
não vai ser renovável de dois anos.

Esta manutenção apenas se dá caso exista um risco sério para o Estado de não
recebimento. Os prazos de caducidade da garantia são sempre acrescidos em 6 meses
quando se recorrer à prova pericial.

Quem determina a caducidade da garantia? Nos casos de reclamação, o órgão


competente para a decisão. Nos casos de impugnação o tribunal tributário de 1ª instância
onde esteja pendente a impugnação ou recurso.

No procedimento a decisão tem de ser tomada no prazo de 30 dias, sob pena de se


considerar o requerimento tacitamente deferido. Havendo deferimento da caducidade da
garantia, o órgão de execução fiscal deve anulá-la no prazo de 5 dias a contar da decisão.

Notificação e fundamentação dos atos procedimentais

A notificação é o ato de comunicação pelo qual atos praticados pela AT se tornam


eficazes perante o sujeito passivo. Ver 35º/1 CPPT.

Não devemos confundir, notificação com citação. A citação é o modo de comunicação


quando estamos perante processo executivo.

170
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Para um ato que ponha em causa direitos e garantias tributarias possa ter efeito,
ele tem de ser validamente notificado. As notificações têm sempre de conter a decisão em
causa, os fundamentos, os meios de defesa e o prazo para poder reagir. Tem também de
estar presente a referência ao órgão que praticou o ato.

Para que as notificações sejam perfeitas têm de ser recebidas.

Quando estamos perante notificações que são feitas de forma registada elas
consideram-se feitas no 3º dia útil posterior ao registo. Ou, quando esses 3 dias caem num
dia não útil, no 1º dia útil seguinte. Esta presunção vai poder ser ilidida pelo notificado
quando consiga provar que não é imputável a si o facto de a notificação ter ocorrido em
data posterior. Para este efeito, pode o notificado requerer que seja pedida informação aos
correios sobre a data em que efetivamente a notificação registada foi recebida.

Quando há uma notificação com aviso de receção, a notificação considera-se feita


na data da assinatura do ato de receção, presumindo-se que ela foi efetuada na pessoa do
notificando, apesar de, por exemplo, ter sido assinada por um terceiro. Nessas
circunstâncias presume-se que houve uma comunicação feita ao destinatário da carta com
aviso de receção. O distribuidor do serviço postal (CTT), deve fazer uma anotação do BI
ou documento equivalente (agora, CC e documento equivalente).

Nos casos em que ao aviso de receção foi devolvido, que pode ter várias bases –
recusa de receção, não levantamento no prazo previsto nos regulamentos postais,
mudança de domicílio sem que a mesma tenha sido comunicada – há uma presunção de
notificação. Podendo o potencial notificado provar a existência de justo impedimento ou
então uma impossibilidade de ter comunicado a mudança de residência fiscal.

Quando não haja recebimento ou levantamento da carta, a notificação considera-


se feita no 3º dia posterior ao registo ou no 1º dia útil seguinte.

A lei ainda prevê a notificação por telefax. Ou notificação feita pela internet,
sendo que nesse caso se presume que é na data de emissão que a notificação foi feita.
Bastando para tal, a prova do sucesso do envio. Esta presunção pode ser ilidida. Já agora:
quando há notificações que são feitas para o domicílio fiscal eletrónico, presumem-se
feitas no 15º dia posterior ao registo de disponibilização da comunicação podendo ainda
nessas circunstâncias, o notificado ilidir a presunção quando não seja imputável que a
notificação tenha sido feita em data posterior.

171
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Casos de nulidade da notificação: serão os de falta de identificação do ato. E


quando houve delegação ou subdelegação de competências, da qualidade em que decidiu,
do sentido e da sua data. É especialmente relevante para efeito de perfeição da notificação,
a receção da mesma. Na lei são determinados vários casos de presunção que podem ser
ilididos porque quem deveria ter recebido e não recebeu.

A notificação de pessoas coletivas. Também tem regime próprio previsto no 41º


CPPT, sendo a notificação feita na caixa postal eletrónica da pessoa coletiva, na sua área
reservada no portal das finanças ou na pessoa dos seus administradores e gerentes, na
sede da empresa ou na sua residência. Quando não se consegue encontrar o representante
da empresa, pode a notificação ser feita na pessoa de qualquer trabalhador que seja capaz
de transmitir de forma correta a notificação e que se encontre no local onde funciona a
Administração.

As notificações têm que ser fundamentadas sob pena serem consideradas


insuficientes. Portanto, nos casos em que a notificação não prevê a fundamentação
legalmente exigida, a indicação dos meios de ação ou outros requisitos em geral, pode o
interessado, no prazo de 30 dias, ou dentro do prazo de reclamação, recurso ou
impugnação (no caso desse prazo ser inferior aos 30 dias) requerer a notificação correta
dos requisitos que deveriam ter sido comunicados e foram omitidos. Quando o
interessado usa desta faculdade, o seu prazo para reclamação ou impugnação começa-se
a contar a partir da notificação validamente feita, ou da entrega de certidão de que foi
requerida a notificação correta.

Na fase processual, quando o tribunal reconheça que está errado um meio de


reação contra ato notificado presente na notificação, pode o meio adequado ser utilizado
num prazo de 30 dias a contar da notificação dessa decisão.

Temos de ter em atenção:

1. A existência de requisitos para a sua perfeição.

2. Distinguir os requisitos de natureza material (tem a ver com a fundamentação


da própria notificação) e requisitos que tem a ver receção da notificação.
Quando estejam em causa problemas materiais da notificação que foi feita, há
sempre uma possibilidade de correção da notificação. Já quando se está

172
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

perante questões relacionadas com o prazo de receção da notificação, é


importante a utilização dos meios de prova.

Nunca esquecer:

Há uma obrigação por parte do contribuinte de participar uma alteração do


domicílio fiscal. Se a Administração não tem conhecimento dessa alteração, não pode
fazer a notificação de forma correta, tendo os contribuintes o direito a que a notificação
seja corretamente feita.

Quanto à citação e aos atos em matéria de processo executivo devemos ver os


artigos 189º a 194º do CPPT.

Também não esquecer que a notificação de pessoas coletivas segue sempre normas
distintas face à notificação de pessoas singulares.

Juros

Os juros podem ser: de mora, compensatórios e indemnizatórios.

Vamos ver os juros compensatórios. Estes são devidos ao estado e estão


relacionados com situações de retardamento da liquidação ou da entrega do imposto a
pagar de forma antecipada. Também estão relacionados com o recebimento de devolução
de imposto superior ao devido.

Interessa, neste regime dos juros compensatórios, que há um facto imputável ao


sujeito passivo. A contagem é feita dia a dia. Que há uma integração na divida de imposto.
E contam-se dia a dia começando na data do fim do prazo da entrega da declaração de
imposto, do termo do prazo de entrega do imposto a pagar antecipadamente ou imposto
retido ou a reter, até que seja suprida a falta que levou ao retardamento da liquidação.

Quando esse motivo é determinado em procedimento de inspeção, a falta considera-se


suprida ou corrigida a partir do momento do auto de notícia.

Um dos motivos que mais leva à existência de juros compensatórios tem a ver
com o retardamento da liquidação pelo facto de as declarações de imposto terem sido
apresentadas fora dos prazos legais.

173
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

São juros devidos num prazo máximo de 180 dias, quando haja erro no sujeito
passivo na declaração ou quando há uma falta que foi apurada em ação de fiscalização
até aos 90 dias posteriores a essa mesma ação de fiscalização. Estes juros andam à volta
dos 4%. Como os juros compensatórios se vão integrar numa divida de imposto, são
liquidados em conjunto. Apesar disso, na notificação devem vir separados os montantes
de imposto a pagar e os montantes de juros.

Os juros de mora – 44º LGT. São aqueles que são devidos pelo facto de o
montante de imposto devido não ser pago dentro do prazo legalmente previsto.

Os juros compensatórios têm a ver com atraso na liquidação; os juros de mora tem
a ver com atrasos no pagamento de imposto.

Vão ser devidos até à data que se pague (desde o momento em que deveriam ter
sido pagos e não foram, até que sejam pagos). Sendo o seu montante definido, na lei geral,
para as dividas do estado e outras entidades publicas.

Quando a divida de imposto seja paga 30 dias depois da citação (isto é, da


comunicação de um processo executivo), os juros de mora serão contabilizados entre o
momento da falta do pagamento e a emissão da citação.

O terceiro tipo de juros são os juros indemnizatórios. São juros a favor do


contribuinte. São juros que são pagos quando o prazo, para cumprimento de uma sentença
desfavorável à Administração, não foi cumprido – não houve execução espontânea da
sentença dentro do prazo previsto. Para este efeito ver o 102º LGT, havendo remissão
quanto às regras destes números para o 146º CPPT e 162º CPTA.

Estes juros são os únicos juros que são a favor do contribuinte.

Regras relativas ao ónus da prova

A regra geral no procedimento tributário é que o ónus da prova recai sobre quem
invoca os factos constitutivos.

Começando com o ónus da prova numa logica de ping-pong: o contribuinte que


apresenta uma declaração tem ao seu lado uma presunção de que a mesma é verdadeira e
foi apresentada de boa-fé. E, portanto, o que sucede? Caso a Administração tenha dúvidas
sobre a veracidade da declaração tem que provar os factos em que sustenta essa mesma

174
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

dúvida. E vão fazê-lo com base num procedimento inspetivo. Esse procedimento
inspetivo pode ter como resultado final a apresentação de uma liquidação adicional. E aí
o ónus da prova reverte, devendo o contribuinte utilizar os meios de prova que tenha à
sua disposição para provar que a Administração Tributaria não está a ter uma posição
correta. Aplicando-se o 74º/1 LGT. O ónus dos factos constitutivos de direito da AT ou
dos contribuintes recai sobre aqueles que os invoca. Quando esses elementos de prova
estiverem nas mãos da AT, o ónus considera-se satisfeito pela mera identificação desses
mesmos factos junto da Administração.

Quando a Administração pretenda aplicar regras de avaliação indireta (87º a 89º


da LGT), a Administração é que tem de cumprir o ónus da prova quanto à verificação dos
pressupostos para que se faça a avaliação indireta. O sujeito passivo terá por sua vez o
ónus de demonstrar que houve um excesso na quantificação que foi estabelecida na
avaliação indireta por parte da Administração.

Quanto à presunção de verdade de boa-fé das declarações dos contribuintes, ver


75º/1. Aplica-se às declarações dos contribuintes bem como aos dados da sua
contabilidade, desde que a contabilidade esteja organizada de acordo com o regime
determinado na legislação comercial e fiscal.

A presunção de verdade não existe quando as declarações ou contabilidade


tenham omissões ou erros, quando o contribuinte não cumprir com aqueles que são os
seus deveres de esclarecer a sua situação tributaria. Ou quando essa matéria tributável ou
rendimentos se afastem sem razão justificativa dos padrões de rendimento que possam
razoavelmente levar a aplicação do 89ºA da LGT quanto às manifestações de fortuna.

As informações que venham a ser prestadas em sede de inspeção tributaria


presumem-se verdadeiras, quando estejam fundamentadas e estejam baseadas em
critérios objetivos. Na inspeção, temos um momento em que no fundo se inverte o ónus
da prova que impedia sobre a Administração, para passar a ser um ónus da prova que
passa a impender sobre o contribuinte. Há presunção e verdade quer das declarações do
contribuinte, mas também das conclusões que estejam vertidas no relatório final da
inspeção tributaria. É muito esta fase que vai levar ao contencioso tributário.

Aspetos específicos do contencioso tributário

175
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O ponto de partida deve ser litígios de matéria meramente administrativa, mesmo


que suscitados no âmbito de um procedimento tributário, são resolvidos pela legislação
de contencioso administrativo – CPTA e CPA. Tudo o que corresponda a relações
jurídico-administrativas no âmbito do procedimento tributário é tratado nos tribunais
administrativos.

O objeto do contencioso tributário é o ato tributário basicamente, o ato de


liquidação dos tributos, seja ela liquidação original ou liquidações adicionais e oficiosas,
bem como tudo o que esteja relacionado com autoliquidações, retenções na fonte e
pagamentos por conta. Relembrar o regime da obrigatoriedade de reclamação
administrativa necessária prevista no 131º a 133º CPPT.

Há atos em matéria tributaria que necessitam de especial atenção: atos


preparatórios, atos prévios de atos tributários, com especial relevância daqueles que tema
ver com a determinação da matéria tributável e impugnação de atos administrativos que
são relativos não a relações jurídico-administrativas, mas a questões tributarias, que se
enquadram nos procedimentos especiais previstos no 44º CPPT.

Nunca esquecer de distinguirmos meios impugnatórios procedimentais – reclamação


graciosa e o recurso hierárquico – dos meios judicias – impugnação judicial dos tribunais
tributários.

Parte processual

O processo tributário tem logo à partida duas características relevantes. É um


processo pleno e é um processo de legalidade.

Quando se diz que é um processo pleno, corresponde-se à ideia de que o


contencioso que ali está presente abarca todas as matérias relevantes no plano tributário.
E todas as matérias relevantes são todas as que têm a ver com a anulação do ato de
liquidação.

Portanto, o contencioso é pleno porque também ele é limitado. Tem um objeto delimitado
à partida e sabido pelas partes.

Por outro lado, é um processo de legalidade em que plano? Não há hipótese de


acordo relativamente ao pagamento de impostos. Isto é, não podem as partes chegar a

176
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

uma circunstância em que determinam que vão acabar o seu contencioso, determinando
que apenas é pago a pronto 75% da divida. Isso não existe. No contencioso tributário, a
logica é uma logica de tudo ou nada, podendo, neste tudo ou nada, uma anulação ser total,
parcial ou completamente inexistente. São muitos os casos em que se determina uma
anulação meramente parcial do ato de liquidação. Portanto, este contencioso acaba por
ser uma consequência constitucional da necessidade de defender as garantias e os direitos
dos administrados; no caso, as garantias e direitos dos contribuintes.

Agora, olhando para as figuras processuais previstas no nosso código.


Comecemos por notar o seguinte: face ao que vimos no contencioso ad, o contencioso
tributário é um contencioso muito mais simples. Isto é, tem menos formas processuais.
Claro está que as formas processuais no contencioso ad vão bater na logica da ação
administrativa. De todo modo, dentro da ação administrativa, são várias as possibilidades
que se tem, que vão da anulação do ato à condenação da Administração à prática de um
ato devido ou até mesmo à omissão de um qualquer ato. Aqui, temos um contencioso
baseado no ato, mas para alem desse contencioso, está previsto no 145º CPPT, a
existência de uma ação para reconhecimento de direitos ou interesses legalmente
protegidos.

E não deixa de ser curioso que ela deve ser entendida como uma última ratio
processual. Estas ações podem ser propostas por quem invoque a titularidade de um
direito ou do interesse a reconhecer e de certa forma são vistas, no plano do processo
tributário, como as ações que podem ser interpostas sempre que não esteja em causa uma
impugnação judicial.

O prazo de instauração desta ação para isso mesmo é de 4 anos (é prazo alargado).
Sendo ela uma última ratio, não deixa de ser curioso que o legislador determine que estas
ações apenas podem ser propostas sempre que esse seja o meio processual mais adequado
para assegurar a tutela plena e eficaz (isto é a letra constitucional) de um direito ou
interesse legalmente protegido.

Portanto, aqui estará naturalmente prevista uma lógica de intervenção


relativamente a um ato administrativo em matéria tributária que seja lesivo, mas que seja
lesivo na/da logica da relação jurídica tributária (e não da relação jurídica administrativa).

Claro está que também se pode admitir uma intervenção processual na logica da
exigência de prática de ato que seja legalmente devido. Por exemplo: a Administração

177
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

não atuou dentro de uma qualquer matéria tributaria no prazo devido pode exigir-se o
cumprimento da lei e, portanto, na logica do tal princípio da legalidade, admitir uma
forma de intervenção processual. Alias, esta é a consequência processual daquilo que são
os princípios constitucionais – diz o professor.

Em terceiro lugar, os meios cautelares são previstos em matéria processual


tributária de uma forma bem mais restrita do que aquilo que acontece no processo
administrativo. Porque aqui a intervenção é sempre uma intervenção em relação ao ato.

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS

Vamos ao primeiro princípio. Tal como previsto no artigo 13º, nº2 do CPPT, o primeiro
princípio é o princípio de verdade material. Isto é, as intervenções processuais existem
para que se admita uma busca da verdade material (e quando falamos da verdade material,
é, no fundo, o apuramento da verdadeira liquidação), estando também especificamente
determinado, em relação a esta matéria, a coordenação dos meios processuais e de prova
de acordo com este princípio – isto é, o princípio do inquisitório que existe no processo
tributário é sempre na logica de se encontrar a verdade material.

Segundo princípio é o princípio da colaboração. É um princípio recíproco que se vai


aplicar a ambas as partes presentes no processo. Quando se diz que é um princípio
recíproco, diz-se que não incide especialmente sobre uma das partes, até porque nós aqui
no processo temos três – o juiz, o sujeito passivo da relação material e a AT, que vai ser
sujeito passivo da relação processual.

Terceiro grande princípio é o princípio da celeridade. Este princípio determina


que o processo deve estar concluído num prazo que seja considerado como um prazo
razoável. Está, alias, previsto que o processo deva estar terminado num prazo de dois anos
sob/sobre a possibilidade de responsabilidade disciplinar do juiz que não termine nessa
ocasião. Atenção que é o processo tributário aquele que maiores dificuldades, gera no
plano de cumprimento de prazos. Porque a matéria é muitas vezes uma matéria jurídica e
seria, mas também que obriga ao conhecimento de outras áreas como a área contabilística
ou económica. E, portanto, muitas vezes os processos tributários são especialmente
complexos na sua decisão. Se formos ver intervenções da presidente do STA sobre estas
matérias, no plano de política legislativa, estão constantemente a pedir mais assessores
técnicos para os tribunais tributários de forma a que se possa cumprir com este princípio
da celeridade.

178
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O quarto princípio é o princípio do inquisitório. Este princípio, que tem na sua


base uma ideia de oficiosidade, está relacionado com o princípio da verdade material e
determina que o juiz pode praticar todos os atos que sejam necessários para alcançar a
verdade material, para chegar aos dados necessários e determinar qual a liquidação que
se deveria fazer. Não ficando o juiz limitado à prova que seja pedida pelas partes.
Portanto, temos aqui um princípio de liberdade de prova.

Entramos no quinto princípio processual, que é o princípio do contraditório. De


acordo com o qual se é certo que é por um ato das partes que se inicia o processo e a sua
resposta, não há uma limitação do poder de reconhecimento face àquilo que seja por elas
determinado. Ao contrário do que acontece noutros ramos do Direito, os instrumentos
processuais apresentados pelas partes não limitam o processo, porque este é um processo
de direito publico e porque é um processo que está estritamente relacionado com um ato
que se pretende determinar quanto à sua natureza que é o ato tributário.

O sexto princípio presente quanto ao processo tributário é o princípio do duplo


grau de jurisdição. Isto é, no processo tributário há apenas um recurso e esse recurso ou
é para o TCA ou é para o STA. Naturalmente, quando é para o STA, daquilo que tem a
ver com questões de direito, que serão resolvidas pela secção tributária... As questões de
facto geram uma circunstância de recurso para o TCA.

Quanto às partes que participam num processo, são elas os sujeitos passivos da
relação jurídico tributária (i.e., o contribuinte, o substituto ou o responsável, que
funcionam como sujeitos ativos da relação processual) e por outro lado a AT, que é sujeita
ativa na relação jurídica material e que será naturalmente sujeita passiva na relação
adjetiva de direito tributário.

Isto é, como o contencioso é um contencioso de anulação (anulação de ato


tributário), quem está a colocar em causa a legalidade do ato tributário é o sujeito passivo
da relação jurídica tributaria no plano material, que é o contribuinte.

Por sua vez, quem vai ser colocado em causa na relação processual é quem praticou o ato,
que foi a Administração Tributaria. Portanto, aqui a logica entre a relação jurídica
material tributaria e a relação jurídica adjetiva tributária é sempre ao contrário.

O MP tem uma intervenção que é especialmente relevante neste processo, como


defensor da legalidade tributária.

179
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O tribunal será sempre a terceira parte da relação processual. Através do juiz, que
para decidir terá de ter competência material, territorial e hierárquica...

Quanto aos sujeitos, temos três sujeitos principais (os sujeitos passivos e a AT – isto é, as
partes), um terceiro supra partes (o juiz) e temos como participantes acessórios o MP
(defensor da legalidade) e o representante da fazenda publica que defende a AT.

Quando é apresentada uma impugnação judicial, abre-se um primeiro momento


processual que permite à Administração rever o ato tributário que praticou. E muitas
vezes (isto depois vai depender da forma de intervenção das próprias direções distritais),
muitas vezes acontece que um/o processo tributário se fica por essa altura, porque há uma
revogação do ato e a revogação pode ser total ou parcial.

Muitas vezes, o processo termina aí, porque há aí elemento muito relevante, que é o
(elemento) tempo. Os sujeitos passivos, grande parte das vezes, preferem ter uma razão
meramente parcial em tempo útil do que uma razão absoluta em tempo que já não é útil.

Ver o que dissemos quanto ao regime de juros: Em que apenas os indemnizatórios


podem ser a favor do contribuinte e são aplicados pela falta de execução da sentença na
altura ou dentro do prazo de execução espontânea. Apenas no caso de uma sentença que
seja contraria à AT que não seja cumprida em prazo, podemos começar a contar juros a
favor do contribuinte. De resto, os restantes juros são sempre a favor da AT.

A legitimidade ativa e passiva tem regras próprias, que estão determinadas no


artigo 9º/4, que quanto à matéria judicial determina que para alem da legitimidade de
intervenção dos contribuintes, dos substitutos e dos responsáveis tributários, no plano
processual há legitimidade própria do MP e do representante da fazenda publica.

A legitimidade processual quanto aos sujeitos principais é idêntica à legitimidade


procedimental (números 3, 2 e 1 do 9º CPPT). Isto é, tem essa legitimidade a AT, os
contribuintes, os substitutos, os responsáveis, outros obrigados tributários, as partes em
contratos fiscais e qualquer outra pessoa que consiga provar interesse legalmente
protegido. Já agora: casos de contratos fiscais são ultraminoritários e basicamente esta
legitimidade é uma legitimidade que existe para contribuintes, substitutos e responsáveis.

Para além destes casos, está prevista a possibilidade de intervenção com


legitimidade para processo judicial do MP e do representante da fazenda pública que não
intervêm naquilo que se refere ao procedimento tributário.

180
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

21/04/2022

PROCESSOS EM ESPECIAL

Há hipóteses de vários meios processuais que são postos à mão das partes, deste caso do
contribuinte, para evoluírem relativamente ao processo tributário.

Uma das hipóteses que é posta não sendo vista como um direito absoluto é o de
convolação dos meios processuais. Está previsto no artigo 97º, nº3 da LGT e 98º, nº4 do
CPTA.

No CPTA é referido, quando haja erro na forma do processo, que este é convolado
na forma que seja adequada. O nº3 do artigo 97º que trata do tema da celeridade da justiça
tributária refere a correção do processo quando o meio utilizado não seja o adequado.
Este nº3 deve ser visto em conjunto com aquilo que diz o número anterior do 97º, que
estabelece um direito de utilização do meio processual que seja mais adequado para fazer
valer a sua posição em juízo. Este direito que não pode ser entendido de uma forma
absoluta também tem a vertente de quando a celeridade propriamente o de existir em
prazo razoável uma decisão que aprecia a pretensão que foi deduzida em prejuízo.

O processo de impugnação judicial tem um objetivo que é o de se conseguir a


anulação total ou parcial dos atos tributários.

Pontos relevantes: o processo tributário é o processo de natureza anulatória, é


um processo que está centrado na prática do ato de impugnação. O processo tributário é
um processo de natureza distinta face ao processo administrativo.

Ação declarativa de simples apreciação. A interposição da ação não tem como


consequência a suspensão da execução. para que haja suspensão da execução, é
necessário que seja prestada a garantia adequada. Temos que distinguir entre os meios
processuais ou meio processual por excelência que é o meio processual declarativo e que
tem por objeto a liquidação e o meio processual executivo que tem por objeto executar
uma liquidação que fez nascer a obrigação de pagamento. Princípio do “paga primeiro,
reclama depois”.

Pode suceder que na impugnação judicial se esteja a discutir a legalidade de atos


de liquidação que já levaram ao pagamento da parte do contribuinte.

181
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Qual é o objeto da impugnação? É o ato de liquidação. Pode ser um ato de


autoliquidação ou heteroliquidação. Relativamente a um imposto periódico ou imposto
de obrigação única. Será é sempre um ato pelo qual se impugna uma obrigação de
pagamento de um imposto ou a legalidade da obrigação de pagamento de imposto,
devendo-se assumir desde já que grande parte dos atos de impugnação estão relacionados
com liquidações adicionais.

Relação entre a impugnação judicial e a reclamação contenciosa. Ambas têm o mesmo


objetivo: o de conseguir a anulação total ou parcial do ato tributário. Distinguem-se pelo
tempo de tramitação (existência do prazo de 4 meses no âmbito da reclamação para que
ela seja considerada tacitamente diferida). Tem uma diferença daqueles que são os
sujeitos que participam no encontro ao passo que reclamação participam apenas a
administração e o sujeito passivo.

Quando estamos a falar de processo temos 3 partes porque também entra o


tribunal. Há uma diferença quanto àquela que é a prova admitida. Na impugnação judicial
são admitidos todos os meios de prova, ao passo que na alínea e do artigo 69º do CPA há
uma limitação dos meios probatórios quanto à forma documental, sem prejuízo de o órgão
instrutor poder ordenar outras diligências que sejam complementares e que
manifestamente possam auxiliar à descoberta da verdade material. Também é distinta a
natureza das decisões. A reclamação é muitas vezes uma espécie de uma decisão
introdutória, ao passo que a impugnação assume uma vertente mais definitiva porque da
decisão de indeferimento da reclamação contenciosa caberá impugnação judicial.

Também é distinto o regime de custas que naturalmente é aplicável de uma forma mais
aberta quando estamos a falar de impugnação judicial.

Convém distinguir quanto à questão do tempo 2 regimes: o primeiro é o


daquele caso em que tenha sido antes da receção da decisão de impugnação tenha sido
apresentada uma reclamação contenciosa contra o mesmo ato. Nesses casos, essa
reclamação deve ser apensa à impugnação judicial no estado em que se encontrar e vai
ser considerada como incluída no processo de impugnação. No caso de depois da receção
da petição de impugnação seja apresentada reclamação contenciosa em relação ao mesmo
ato e com fundamento diverso deve essa também ser apensa à impugnação judicial sendo
considerada no âmbito do processo de impugnação. Acaba por abrir os fundamentos da

182
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

impugnação. Estes artigos demonstram no plano impugnatório a existência de uma


centralidade da impugnação judicial. Nº3 e 4 do artigo 111º do CPTA.

Quanto aos fundamentos que permitem a impugnação: artigo 70º do CPTA.


Relevante na medida em que prevê que pode a reclamação contenciosa ser produzida com
os mesmos fundamentos em que é apresentada a impugnação judicial (previstos no 99º).
Este artigo dá-nos a fundamentação possível quer quanto à impugnação quer quanto à
reclamação. O 1º ponto a chamar a atenção é o de que a enumeração dos fundamentos é
uma enumeração exemplificativa. Temos fundamentos que são fundamentos de facto e
outros que são de direito. Os que são fundamentos de facto tem a ver com a idónea
quantificação dos rendimentos, lucros ou outros factos tributários. Nestes casos, é natural
que seja utilizada o instrumento da reclamação oficiosa. Os casos que maior sucesso têm
têm a ver com fundamentos de facto.

Os fundamentos de direito têm a ver com qualificação do ato tributário, com a


incompetência, ausência ou vício de fundamentação que está presente na notificação. O
legislador para além de ter determinado a existência de uma numeração exemplificativa
determina também na última alínea deste nº uma cláusula aberta de admissibilidade de
fundamentos para a impugnação. A impugnação pode ter por base argumentos factuais
ou argumentos de natureza jurídica. Pode, também, dentro dos argumentos de natureza
jurídica ter grande abertura porque as partes têm uma ampla liberdade.

Quanto à questão da tempestividade na apresentação da impugnação: a impugnação deve


ser apresentada no prazo de 3 meses.

A grande regra é a de que a impugnação judicial é apresentada no prazo de 3


meses contados do termo do prazo para o pagamento voluntário das prestações que
tenham sido legalmente notificadas ao contribuinte. Isto é, tem que haver notificação por
parte da administração ao contribuinte. Também se pode regular atos que não dão origem
a impugnação. Contar o prazo para impugnação judicial a partir da citação dos
responsáveis subsidiários em processo de execução judicial. Neste caso, é especialmente
aplicável aos responsáveis tributários.

É a partir do momento, não da notificação, mas da citação que os responsáveis


tributários podem impugnar. Abrem-se os prazos para processo executivo e processo
declarativo ao mesmo tempo. A citação é a forma de comunicação no âmbito do processo
executivo. Outro momento de contagem do prazo dos 3 meses é o da notificação daqueles

183
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

que são os restantes atos que podem ser objeto de impugnação autónoma nos termos
legais. Termina-se com a abertura do prazo a partir do conhecimento de atos lesivos de
interesses legalmente protegidos.

Este prazo não se aplica às situações de nulidade. Quando há nulidade a impugnação pode
ser deduzida a todo o tempo. Estes casos são muito residuais.

Outro momento que deve ser considerado como de abertura do prazo para
impugnar é o da formação da presunção de indeferimento tácito. Se se forma o
indeferimento tácito e não se utiliza a possibilidade de impugnar no prazo dos 3 meses,
fica precludida a possibilidade de impugnação? O facto de se formar indeferimento tácito
porque a Administração nada disse não quer dizer que a administração não tenha uma
obrigação de decisão, pode tomá-la depois e tomando depois é suscetível de impugnação
judicial.

O indeferimento tácito não tem como consequência o fim da obrigação da administração


decidir.

Deferimento tácito: pagamentos por conta (artigo 133º do CPTA, nº4). É


especial o prazo de resposta que a administração tem que cumprir como também a solução
de nada ter feito. Nesses casos, em que circunstância é que poderá haver impugnação
judicial por parte do sujeito passivo? Só nos casos de indeferimento expresso. A
impugnação também tem um prazo especial de 30 dias.

Regras práticas: o prazo começa a decorrer a correr no dia seguinte ao da


verificação do evento (dia seguinte à notificação). O prazo conta-se de forma contínua
porque é o prazo com natureza procedimental. Sempre que o prazo se conta de forma
contínua se terminar num domingo ou num feriado considera-se que o prazo terminou no
1º dia útil seguinte. (por exemplo, se conta no sábado, convém contar até sexta).

Atos praticados em tribunal ou que tenham que ser praticados em tribunal cujo prazo
termine em férias judiciais transfere-se para o 1º dia útil posterior ao fim das férias
judiciais caso elas terminem num dia não útil.

Como é que se inicia o processo de impugnação judicial? Vai-se iniciar com a


apresentação da impugnação judicial. O que é que é relevante que essa petição inicial
tenha? Tem que ter a solicitação da anulação de um ato tributário com base em ilegalidade
da liquidação. A impugnação judicial começa com a petição, a petição de acordo com o

184
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

artigo 108º do CPT deve ser dirigida ao juiz do tribunal competente, deve-se identificar
o ato e a entidade que praticou e devem-se expor os fundamentos de facto e de direito que
sustentam o pedido estabelecido. Especial atenção à descrição dos argumentos de facto.
Na petição também se indica o valor da causa ou o valor do processo e a sua forma e
deve-se indicar quanto à prova os documentos e as testemunhas. O processo é
normalmente baseado quanto à matéria factual em documentos. É normal que o processo
seja de natureza escrita. A petição deve ser apresentada em articulado e em triplicado
podendo ser apresentada ou no tribunal ou no serviço periférico local em que tenha sido
praticado um ato.

Se a apresentação se fez no serviço de finanças, deve-se remeter no prazo de 5 dias o


processo para o tribunal (artigo 103º do CPT). A apresentação da petição inicial leva a
uma situação de interrupção da prescrição da prestação tributária, sendo que o prazo de
prescrição é um prazo de 8 anos. Não esquecer de distinguir a interrupção da prescrição
com a sua suspensão.

Quanto aos elementos que naturalmente vão estar incluídos na petição de


impugnação: tem que estar identificado o ato impugnado, tem que estar identificada a
entidade que praticou o ato, tem que haver um pedido de anulação e causa de pedir. A
causa de pedir corresponde aos vícios específicos que são considerados como relevantes
na apresentação da impugnação. Tem que haver uma exposição dos factos e tem que se
indicar o valor do processo na consideração.

Regime que existe quanto à ineptidão da petição inicial pensando sempre que a
lógica deste é o da manutenção do processo. É considerada uma nulidade insanável do
processo judicial tributário a sua ineptidão porque são graves demais para se poder
prosseguir com o processo. Não esquecer que a apresentação da impugnação da petição
não suspende a execução e que para que a execução venha a ser suspensa vai ser
necessário encontrar uma situação de prestação de garantia no âmbito do processo
executivo. Essa prestação tem que ser feita a requerimento do sujeito passivo, isto é,
daquele que está a ser executado. Apresentada a petição inicial, o juiz vai notificar a
contraparte para contestar. Faz ordenando a notificação do representante da fazenda
pública. O artigo 110º, nº1 refere mesmo essa notificação. Temos completamente assente
a lógica de que quem vai impugnar é o sujeito passivo da relação material.

185
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Em que prazo é que deve ser feita essa notificação? A contestação deve ser feita
no prazo de 90 dias podendo para além de contestar, ser apresentado um pedido de
produção de prova adicional. Apresentada que esteja uma impugnação judicial, abre-se a
possibilidade de o órgão periférico regional da AT (direção distrital das finanças) poder
revogar total ou parcialmente o ato tributário. Caso em que a administração considera que
é um erro óbvio, pode fazer essa revogação, desde que o ao impugnado não exceda o
valor da alçada do tribunal tributário da 1ª instância. Essa revisão do ato deve ser feita
num prazo de 30 dias a contar do conhecimento que a administração tem da impugnação.
Nestes casos, a Administração tem 3 hipóteses: mantém, revoga ou revoga parcialmente.

Se existir uma circunstância de revogação parcial, o órgão distrital que a fez, deve
notificar o contribuinte para este, no prazo de 10 dias, vir dizer se mantém ou não a
impugnação. Se nada disser, improcede. Já se há uma revogação total a notificação será
feita não ao contribuinte, mas antes ao representante da fazenda pública que em 3 dias
deve tomar as medidas necessárias para a extinção do processo.

No âmbito das relações entre administração e tribunal convém não esquecer que
nos casos em que haja elementos de processo administrativos que não são conhecidos do
tribunal, há uma lógica contínua entre a reclamação contenciosa e a impugnação judicial.

22/04/2022

Impugnação judicial (continuação)

Vamos falar das contestações e das impugnações judiciais. A contestação da


impugnação judicial começa com uma notificação que é feita à contraparte para efeitos
de dar uma resposta. Essa notificação abre o prazo de contestação, prazo que, aliás, está
previsto no artigo 110º do CPPT.

Na contestação, há uma defesa que é feita por impugnação ou por exceção.


Portanto, cumprem-se aqui totalmente as regras do processo civil. E o facto de não haver
contestação não equivale a confissão dos factos. Porque a procura que se pretende com
este processo de anulação dos atos tributários é uma procura da verdade material e de
uma verdade material que tem uma substância de natureza económica. E, portanto, não
tinha sentido que a falta de contestação tivesse como consequência a confissão.

186
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Como vimos, o ato tributário pode ser revogado logo no início do processo
judicial. Com o conhecimento inicial do pedido, dá-se um princípio de revogação do ato
impugnado. Sendo também possível, para os casos de manifesta simplicidade, conhecer
de imediato a questão. também pode um juiz proferir um despacho de aperfeiçoamento
se entender que o mesmo é necessário e atenção que também sucede a possibilidade de
existir um indeferimento liminar. O indeferimento liminar deve ser sempre utilizado com
especial cautela por parte do juiz, na estrita medida em que gera uma situação de fim do
processo e, portanto, de limitação do princípio da verdade material.

Passada a fase de contestação, temos a fase de instrução. A fase de instrução é aquela


em que são levados para o processo os elementos que sejam considerados essenciais
relativamente à prova e que vão poder sustentar a posição do juiz. De lembrar mais uma
vez que o processo tributário é fundamentalmente um processo de natureza escrita.

Existe, a nível do processo tributário, uma logica de admissibilidade generalizada


dos meios de prova – artigo 115º, nº1. São admitidos os meios gerais de prova. Atenção
que nós temos de ver o que são meios de prova. Relembro, quando por exemplo falamos
da matéria da informação, a natureza que vai assumindo, por exemplo, a existência de
orientações genéricas. Isto é, as orientações genéricas são informações que são dadas ao
contribuinte relativamente aquela que será a interpretação que a Administração vai fazer
perante determinadas situações. Isso não determina ou não pode ser usado como meio de
prova – primeiro porque tem a ver com elementos de Direito e em segundo lugar, porque
apenas vincula a Administração.

Também se entende que não é possível que o juiz de uma matéria de direito
publico que determina um pagamento ao estado esteja limitado por um princípio do
dispositivo e de iniciativa das partes. Todo e qualquer meio de prova que seja apresentado
ou desde logo os documentos que sejam apresentados podem ser impugnados num prazo
de 10 dias a contar do momento da junção ao processo. Ver número 4 do artigo 115º.

Em regra, não existirão testemunhas, mas há aqui uma abertura maior do que, por
exemplo, aquela que existe na reclamação graciosa.

É, então, aceite prova testemunhal, na base do que está determinado no 118º


CPPT, não podendo, por cada ato tributário que esteja a ser impugnado, exceder-se 10
testemunhas, nem 3 por cada facto. Portanto, apesar de tudo, há aqui uma limitação em
relação à logica da prova através de testemunhas. Muitas vezes as testemunhas até

187
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

existem para poderem provar como é que se faz 1 determinada operação, para poderem
explicar, no plano contabilístico, o que é que está em causa. Também esse posicionamento
é assumido várias vezes pela base da prova pericial. O juiz é livre de a solicitar. Pode ser
pedida pelo juiz de forma oficiosa ou a pedido das partes. O seu regime é o regime do
CPC e o Professor vê esta abertura em relação à possibilidade da perícia pela existência
de matérias técnicas muito específicas neste contencioso que muitas vezes ultrapassa os
conhecimentos de base meramente jurídica e quer dar-nos nota que a admissibilidade de
prova pericial acaba por ser “um modo de se estar a ultrapassar a falta de assessores
técnicos que muitas vezes estes tribunais têm”.

Quanto aos documentos que são aceites: pode-se aplicar a distinção entre
documentos autênticos e documentos particulares, sendo possível sempre pôr em causa
se são ou não genuínos (artigo 115º, nº4).

A fase seguinte é a fase de alegações. É fase escrita em que cada uma das partes
faz uma pronúncia que seja critica sobre a prova que tenha sido produzida e as questões
de Direito.

Atenção porque isto é relevante: em fase de alegações, já não se pode juntar prova,
a não ser por iniciativa do juiz. Se não houver iniciativa do juiz, nesta fase, há apenas uma
discussão sobre matéria de facto e matéria de Direito.

A fase seguinte é a fase de vista pelo Ministério Público. É a fase em que o MP


vê o processo para se pronunciar especificamente quanto às questões de legalidade ou de
outras que, de acordo com o estatuto do MP, considera que são relevantes para o caso.

A fase final é a fase da sentença. A sentença tem de ser notificada. Ela


corresponde à decisão do juiz, que será uma decisão relativamente ao fundo da causa ali
presente, com consequências relativamente às custas do processo. Caso o sujeito passivo
não tenha razão total ou parcial vai ter de pagar custas, podendo até ser considerado
litigante de má-fé. Se virmos a organização das sentenças, veremos que elas têm espécie
de modelo. Na sentença, identifica-se as partes e o ato que está em causa, os argumentos
trazidos pelas partes, determina-se o que é a matéria de facto provada e a matéria de facto
não provada, faz-se uma fundamentação relativamente à questão de Direito, que tem de
ser identificada e tratada, e determina-se a decisão.

188
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Portanto, a sentença tem uma função muito relevante de fixar as questões que estão
em causa no processo. No juízo que faça dos possíveis vícios existentes, deve começar
por decidir quanto àqueles que levam à extinção da causa, sendo então normalmente
vistas as matérias desde logo da contestação por exceção. Os vícios materiais deverão
inicialmente ser aqueles que, sempre ajuizados, levam à nulidade (que são uma exceção)
e depois então aqueles que levam à anulação do ato tributário. A sentença tem de ser
notificada e nessa notificação tem de se considerar a notificação a fazer ao MP e ao
representante da fazenda evidentemente para alem da notificação que é estabelecida em
relação ao impugnante.

Nunca esquecer que o juiz é totalmente livre na sua decisão e essa liberdade é uma
liberdade que existe em relação aos fundamentos da mesma. Agora, notificada a decisão,
o juiz não tem liberdade para alterar a mesma. Ela ficou ali fechada, é caso julgado. A
decisão em relação a estes processos tributários é uma decisão relativa à anulação do total,
parcial ou não anulação do ato tributário. Portanto, temos aqui uma circunstância de uma
tutela que é uma tutela indireta relativamente à posição que vai ser tomada pela
Administração Tributária.

Qual é a bússola que deve ser sempre utilizada pelo julgador? É de reconstituir
uma situação em que seja cumprido o princípio da legalidade ou aceitar que a situação,
tal qual existe, está a cumprir está de acordo com o princípio. Portanto, todo o
Ordenamento Jurídico processual tributário é pensado para a relevância de uma decisão
que seja mais do que uma decisão em matéria formal, uma decisão em matéria
substancial. E a substancialidade da decisão é uma substancialidade determinada pelo
cumprimento do princípio da legalidade.

Agora, também devemos atentar que: as sentenças não se auto-executam. Uma


coisa é o cumprimento pelo poder judicial pelos tribunais e outra é o cumprimento do
poder administrativo pela Administração. Portanto, aquilo que naturalmente será aplicado
é a constituição de uma obrigação de execução da sentença por parte da Administração
Tributária. Caso ela não seja voluntariamente cumprida, abre-se o período de que já
falamos aqui (artigo 43º da LGT) de possibilidade de aplicação do regime dos juros
indemnizatórios. A sentença não é uma sentença impositiva, e não o é na estrita medida
em que é necessário que exista uma execução por parte da Administração.

189
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

No plano de atos acessórios, o professor queria falar-nos de algo que ele acha
que será falado no futuro desta UC: decisão de questões prejudiciais, pois em impostos
com IVA. É natural que se vão referindo possíveis violações do DUE desde logo em
relação a liberdades fundamentais (como a liberdade de circulação de pessoas e de
capitais). Pelo regime do DUE, o que sucede é que se vai suspender/suster a causa até que
uma qualquer pergunta que envolva o DUE seja respondida pelo TJUE.

Em segundo lugar, a possibilidade de existência de incidentes, que são uma


espécie de atos destacáveis dentro do processo. Incidentes esses que podem ser resolvidos
de uma forma autónoma. Serão eles (artigo 127º do CPPT) a assistência, a habilitação e
o apoio judiciário, que devem ser respondidos num prazo determinado pela lei de 15 dias.
Estes incidentes seguem as regras do CPC a não ser em casos de determinação contraria
que vai pelo CPPT. E a habilitação acontece quando no decurso do processo judicial de
impugnação o impugnante morra e o sucessor queira continuar com a sua pretensão. Em
2º lugar, o incidente de assistência tem a ver com a possibilidade de intervenção quer do
substituto tributário quer do responsável tributário quanto a impugnações que são
apresentadas pelo contribuinte. Sendo que a sentença, quer em relação ao substituto, quer
em relação ao responsável tributário, apenas pode ser sobre o ato tributário que está em
causa.

Fechamos a impugnação judicial e passamos para a ação para reconhecimento de


um interesse ou de um direito em matéria tributaria.

Ação para reconhecimento de um interesse ou de um direito em matéria tributária:

Esta ação acaba por ser para aqueles casos que não estão abrangidos pela lógica
da impugnação judicial. Pode suceder, por exemplo, relativamente a casos de omissão
por parte da Administração. Portanto, o âmbito de intervenção aqui é um âmbito de
intervenção distinto que deve ser usado quando possa ser considerado como o mais
adequado (artigo 145º, nº3). Mais adequado para assegurar uma tutela plena e eficaz do
direito que esteja em causa. Pode ser apresentada no prazo de 4 anos a partir da
constituição do direito ou do conhecimento por parte do contribuinte da situação que
esteja em causa. E tem legitimidade para apresentar estas ações quem invoque ser titular
do direito ou do interesse.

De uma forma geral, os vários atos processuais seguem o modelo da impugnação


judicial. Portanto, esta é uma ação declarativa de simples apreciação.

190
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Ações cautelares

Em terceiro lugar, as ações cautelares. As ações cautelares não têm no contencioso


tributário, a relevância que assumem, por exemplo, no contencioso administrativo. A
logica da sua existência é precisamente a mesma lógica que vemos genericamente no
Direito sempre que aparecem estas formulações. Isto é, são meios céleres em que se
procura evitar situações de lesões que sejam irreparáveis. O professor acha que o caminho
que está a ser seguido pelo nosso legislador relativamente a estas ações cautelares (por
exemplo, a possibilidade de elas poderem existir de forma inominada em relação aos
contribuintes foi revogada; isso não aprece razoável ao professor, ainda por cima num
contencioso que demora muito). Deveria existir, por parte do nosso legislador tributário
uma maior abertura à figura destas ações cautelares. O que sucede é que a forma de
organização do contencioso tributário.

As ações cautelares, infelizmente no direito tributário não avançam mais porquê?


Porque como o processo tributário é muito um processo de anulação do ato tributário. Ato
tributário que é automaticamente executável passado o prazo de pagamento voluntario de
que o contribuinte é notificado. Considera-se que não existe uma logica de mera aparência
de dano ou de mera aparência de existência de um direito porque ou não há liquidação ou
há liquidação. E havendo liquidação, o Estado tem o seu poder executório por excelência.

O que leva a que quando falamos destes processos, o que tenhamos são as
situações de arresto e de arrolamento.

Relativamente ao arresto, quem o pode requerer é o representante da fazenda


publica. Numa circunstância em que o arrestado não pede a propriedade dos seus bens,
sendo, no entanto, os seus atos de disposição ineficazes na sua relação com aquele que
previu o arresto. Para que seja possível o arresto, é preciso que se cumpram
simultaneamente o facto de o tributo estar liquidado ou em fase de liquidação e haver
fundado receio da diminuição das garantias de cobrança dos créditos tributários, na lógica
do Estado, na logica da Administração.

Aquilo que é um imposto em fase de liquidação é distinto nos impostos periódicos


e nos impostos de obrigação única. Nos impostos periódicos é a partir do fim do período.
Nos impostos de obrigação única, é a partir do momento em que se dá o facto.

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Quem tem competência para o arresto é o tribunal de 1ª instância. O seu regime é


genericamente o CPC, podendo o arresto caducar no caso de se chegar à conclusão que
não existe qualquer ato tributário ou quando haja inspeção e falta notificação, por um
prazo de 90 dias, ao inspecionado.

Agora, quanto ao arrolamento. O arrolamento surge quando há receio do extravio


de bens ou documentos, podendo ser requerido pelo representante da fazenda publica.

O 4º caso é o que tem a ver com a possibilidade de impugnação de apreensão de


bens que seja feita durante o processo.

MEIOS PROCESSUAIS ESPECIAIS

Intimação para um comportamento

Este é o que existe verdadeiramente para os casos de omissão por parte da


Administração Tributária. Apenas pode ser aplicado quando entre todos os meios
processuais existentes, se chegue à conclusão de que este é o mais adequado. Faz-se
através de um requerimento enviado ao juiz de 1ª instância, em que tem de se identificar
o ato em relação ao qual existe 1 omissão, o direito lesado, e os procedimentos que devem
ser aplicados. A Administração só tem 15 dias para responder. Terminado esse prazo, o
juiz deve decidir e, se necessário, deve notificar a Administração a adotar um
comportamento que seja necessário, reintegrar o direito, reparar a lesão e, no caso de ser
necessário, praticar um ato administrativo.

Pretende-se aqui uma tutela que seja uma tutela célere. Este processo subsidiário
pode ter como consequência, então, a prática de um ato. Durante algum tempo para alem
deste, também se referiu o processo especial de derrogação do sigilo bancário. Com o
alargamento das possibilidades de abertura procedimental desse mesmo sigilo, esta
referência foi, como é obvio, perdendo importância.

E temos, então, visto o processo declarativo tributário.

Processo de execução fiscal

Vamos passar para o processo de execução fiscal, em que aquilo que se pretende
é a realização do direito de crédito. Essa realização de um direito de crédito pode ser feita
através de meios não jurisdicionais. E, portanto, é um processo em que se cruzam a parte

192
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

judicial com a parte administrativa. E é um processo em que se parte de uma ideia de


existência de um direito de preferência por parte do credor.

A existência deste direito tem por base os poderes executórios que a


Administração tem relativamente às dividas tributarias e o facto de as mesmas serem ou
terem de ser para efeitos de execução, certas, líquidas e exigíveis. Essa é a previsão que
encontramos a partir da referência a um título executivo, devendo as autoridades
tributarias, passado o prazo para pagamento voluntário, extrair por via dos serviços
competentes uma certidão de dívida, em que se identifica o devedor, em que se descreve
a situação e em que se quantifica a divida em causa. Ver os regimes dos artigos 88º, 162º
e 163º do CPPT. Sendo que, para o efeito de existir um título executivo, vai ser necessário
que no título esteja presente qual a entidade que está a fazer a execução, a data de emissão
do título, nome e domicílio dos devedores e indicação do montante e da natureza da
divida. Já agora: no processo executivo, que vai ser o processo de oposição à execução,
não se discute a legalidade da dívida. A legalidade da divida é discutida no âmbito do
processo declarativo de que falamos antes. Aqui estamos apenas na potencial oposição à
execução com aspetos específicos da própria execução.

Quais são as dívidas objeto de execução fiscal? São os tributos, as coimas e as


sanções pecuniárias relativas a contraordenações tributarias ou ao regime geral de
infrações tributarias. Mas também outras dividas ao Estado e a outras pessoas coletivas
de direito publico que devam ser pagas por força de ato administrativo.

O credor, nestas circunstâncias, é o órgão de execução fiscal. É o xerife dos


tempos modernos. É o que tem o direito a executar os contribuintes. Os contribuintes são
os executados. Há várias formas de execução.

Neste processo de execução, há atos que são praticados pela Administração e atos
que são praticados pelos tribunais. Quem é competente para a execução? É a
Administração Tributária – artigo 150º, nº1. Se nada for dito, será o serviço do domicílio
ou da sede do devedor. Mas também há atos praticados pelos tribunais tributários, que
têm de decidir os incidentes que sejam suscitados no âmbito do processo administrativo
de execução, como por exemplo a oposição ou os embargos.

Uma decisão que é muito importante e em relação à qual os unais podem ter uma
intervenção tem a ver com a determinação dos responsáveis tributários. A área da
execução é uma área que o nosso legislador considera especialmente relevante quanto à

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APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

possibilidade de se aplicar o princípio da celeridade. Isto é, emitido que seja o despacho


de início da execução, o mm deve ser rapidamente comunicado ao órgão de execução
fiscal, que deve ordenar a citação do executado. E este ato é um ato praticado pela
Administração.

Já em relação aos atos praticados pelos tribunais, como por exemplo a oposição
(que deve ser apresentada 30 dias após a citação) são atos praticados pelos tribunais e
cujo regime está determinado no artigo 203º e ss.

Relativamente a quem tem legitimidade para ser exequente, a nossa legislação


também determina no artigo 152º que a mesma pode ser feita pelo órgão de execução
fiscal. Se entrarmos no serviço de finanças vemos que há sempre um serviço que é o
serviço de execução.

Quanto ao executado, será executado o contribuinte. Podendo também ser


executado o responsável após um processo de reversão.

Quanto a essa matéria, relembro que o regime geral da responsabilidade, é uma


responsabilidade subsidiária (artigo 23º da LGT). Portanto, é preciso que a divida reverta
do contribuinte para o responsável e que seja cumprido o princípio de excussão, isto é,
não haja no património do devedor principal bens penhoráveis que levem à possibilidade
de pagamento da dívida ou total ou parcialmente.

Porque está o professor nos diz isto tudo? A reversão dá-se no processo de
execução.

Ver artigo 24º da LGT.

No caso de uma empresa não ter no seu património bens suficientes para pagar
dividas fiscais, os administradores, diretores e gerentes ou outras que exerçam de facto
funções de administração ou de gestão serão subsidiariamente responsáveis.

Isto existe em relação a diretores, administradores, mas também em relação a


pessoas que não o são, mas que de facto praticam atos de gestão e um ato de gestão pode
ser, por exemplo, fazer um pagamento.

E há dois regimes de responsabilidade. Por aquelas que sejam as dividas cujo facto
constitutivo/tributário durante o exercício do cargo, mesmo que o prazo de pagamento
termine depois do exercício do cargo, para que o tal administrador seja obrigado a fazer

194
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

o pagamento, tem de ter sido por culpa sua que a empresa não tem bens penhoráveis
necessários para cumprir a divida. Portanto, primeira situação é a situação de, durante o
mandato, praticou-se o ato, mas o prazo de pagamento já vai ser posterior ao mandato da
Administração. Tem de se provar que foi por sua culpa que não há bens; é situação em
que a Administração tem dificuldades de prova. Já em relação as dividas tributarias cujo
prazo de pagamento termina durante o mandato ou exercício de funções, os responsáveis
têm de provar que não lhes é imputável a falta de pagamento. E esta é uma prova
diabólica. Quando o prazo de pagamento de uma divida tributaria termina durante o
mandato do exercício de funções, o mero prazo de pagamento, o ónus da prova que está
sobre os ombros sobre os administradores ou diretores é muito grande têm de provar o
facto negativo (que não lhes é imputável a causa de não pagamento).

A forma de comunicação no processo executivo não é a da notificação, é a da


citação dos responsáveis. Artigo 160º do CPPT. Portanto, depois da reversão, o órgão
de execução fiscal tem que mandar citar os responsáveis. Imaginemos que eles são vários,
só alguns são citados. O processo não fica à espera: corre em relação a eles.

O início da execução é sempre feito pela Administração através da citação do


executado (artigo 35º/2 do CPPT). A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao
executado de que foi proposta contra ele determinada execução. É uma consequência da
notificação para pagamento ou da notificação para liquidação. Se não se cumpre o prazo
para pagamento, vai-se cair na situação de execução.

Feita essa citação, abre-se o prazo de oposição à execução, de requerimento da


dação em pagamento ou de pagamento em prestações. O pagamento em prestações, em
regra geral, pede-se no procedimento executivo.

As formalidades que tenham de ser cumpridas pelas execuções estão previstas no


artigo 190º, sendo importante a existência de uma cópia do título executivo.

Quando um executado intenta uma oposição à execução, está a fazer algo muito
simples: está a praticar um ato pelo qual está a colocar em crise a pretensão do credor
tributário, que é de cobrar coercivamente uma determinada dívida.

Agora, para além da possibilidade da cobrança executiva, convém ter em atenção


que é possível alcançar a sua suspensão por via de uma prestação de garantia. A garantia
deve ser idónea e pode ser uma garantia de natureza bancária. A aceitação da garantia tem

195
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

como consequência que a Administração Tributária não pode praticar atos de cobrança
coerciva. Devem as garantias ser apresentadas 15 dias depois da notificação da decisão
em que se autoriza a prática da garantia e se não for apresentada em prazo, o processo
executivo segue os seus termos normais.

Para além do artigo 199º do CPPT, ver também o artigo 212º que refere que a
oposição também suspende a execução.

Quanto aos fundamentos da oposição estão previstos nos artigos 204º e 205º. E,
como tínhamos já dito, não se referem à ilegalidade da liquidação em concreto.

No âmbito do processo de execução, ver os requisitos para a petição que estão


previstos no artigo 206º(genericamente, são os que se preveem também para a
impugnação judicial). Quanto ao local da sua apresentação, deverá ser o da execução
fiscal e a tramitação tem o seu regime determinado entre os artigos 208º e 213º, podendo
ela ser rejeitada liminarmente pelo juiz, de acordo com os requisitos do artigo 209º, nº1.
Mas se não estiver previsto ou se não estiver presente nenhuma destas situações, vai ter
de levar a uma sentença de acordo com aquilo que está previsto no artigo 212º.

Recursos das decisões dos tribunais tributários

Correspondem a uma reapreciação que é feita por um tribunal superior da decisão


que é estabelecida por um tribunal inferior. É uma decisão cujo requisitos têm na base um
juízo de legalidade em relação a outros atos jurisdicionais. E também aqui podemos ter o
recurso ou para o TCA ou para o STA.

A sua tramitação está prevista nos artigos 280º e ss. do CPPT. O recurso é
estabelecido com prazo geral de 10 dias. O seu regime geral é o dos agravos do processo
civil e tudo deve começar com o requerimento em que o sujeito declara a sua intenção de
fazer um recurso.

Como questão de natureza prática que em situação de SOS, o nosso colete salva-
vidas é o da revisão dos atos tributários. A revisão oficiosa é uma válvula de escape
procedimental, mas no fundo vai para o início de toda a produção. E o início de toda a
produção é um ato procedimental.

Para que haja uma liquidação adicional (LA), é necessário que se tenha passado
pelo procedimento de inspeção tributária, inspeção tributária essa em que exista um
procedimento em relação ao qual o contribuinte tem a possibilidade de exercer o seu
196
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

direito de audiência prévia. Podendo, caso assim entenda, não o aplicar. Mas tem de ser
dada a possibilidade. A inspeção tributária termina num relatório definitivo e se levar a
uma liquidação adicional vai gerar um prazo para pagamento voluntário de uma
liquidação.

Findo o prazo de pagamento voluntário, o contribuinte pode ter exercido duas


possibilidades: pagou ou não pagou. Caso não tenha pagado, dá-se o início do processo
executivo, em que a Administração tem a possibilidade de executar de forma coerciva a
cobrança. Como é que o contribuinte poderá suspender essa possibilidade pela prestação
de uma garantia? Se não houver prestação de garantia, o processo executivo continua a
decorrer e temos a possibilidade ou de conseguir cobrar tudo ou de ter uma declaração
em falhas.

Havendo uma declaração em falhas pode existir uma reversão e havendo reversão
podem parecer os responsáveis tributários. Independentemente de ele ter pagado ou não
ter pagado, pode colocar em causa no plano declarativo a legalidade da liquidação
tentando a sua anulação. Para este efeito, o que se pode fazer? Reclamação graciosa (120
dias) ou impugnação judicial (2 anos) /pedido arbitral (6 meses). Não é possível ir para a
arbitragem quando estão em causa liquidações de taxas e não de impostos e quando estão
em causa liquidações superiores a 10 milhões de euros. A reclamação graciosa, caso não
seja respondida no prazo de 4 meses, leva a indeferimento tácito abrindo-se o prazo de 3
meses.

Se deixarem passar o prazo desta impugnação judicial podem sempre vir impugnar
mais tarde a decisão expressa da Administração.

2ª hipótese: há decisão expressa da Administração: abre-se o prazo de


impugnação judicial.

3ª hipótese: recurso hierárquico. Existindo recurso hierárquico, o contribuinte tem


possibilidade de impugnar judicialmente.

CASOS PRÁTICOS

1. António recebeu uma citação com uma nota de liquidação, no valor de 50000
euros, relativa ao seu IRS. Concorda com parte, mas discorda de outra. Dois meses
depois contacta uma sociedade de advogados. Será possível promover a sua defesa?
E se o contacto ocorrer seis meses depois?

197
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Relativamente à 1ª frase, António é um contribuinte, podendo ser referido o


conceito de relação jurídica tributária e os seus elementos (está aqui precisamente em
causa a vertente subjetiva da relação), que recebe uma citação com uma nota de liquidação
relativa ao imposto periódico IRS. Porém, é necessário distinguir a citação de notificação.
A citação é um meio de comunicação quando esteja em causa um processo de execução
e a notificação é um meio de comunicação quando esteja em causa uma situação
declarativa. Neste caso, deparamo-nos perante uma situação declarativa sendo que devia
ter sido feita uma notificação. Feita a notificação, abre-se o prazo para o pagamento
voluntário.

Passados 2 meses, poderia o contribuinte no plano procedimental reclamar


graciosamente e no plano processual impugnar. Para o efeito, é necessário atentar aos
prazos destas formas de reação. Como estava em causa uma heteroliquidação, não havia
reclamação necessária (só nos casos de autoliquidação, pelo que aqui era relevante falar
do ato de liquidação que é o ato mais importante do procedimento tributário e explicar no
que o procedimento tributário consiste; distinguir procedimento de processo quando se
fale da reclamação graciosa em relação à impugnação judicial; referir que a impugnação
é o processo regra; e referir os fundamentos e prazos para a reclamação e para a
impugnação).

O prazo vai-se contar a partir do termo do prazo do pagamento voluntário. No


caso de não se pagar, tem de se, para suspender o processo de execução, prestar garantia
(e acrescentar o facto de que o processo de impugnação ser um processo autónomo). Não
obstante, para reclamar têm-se 120 dias (artigo 70º do CPPT) e 3 meses para impugnar
(artigo 102º do CPPT). Assim, 2 meses depois ainda estaria dentro destes prazos.

Se recorresse à hipótese de reclamação graciosa tínhamos que referir que passados


4 meses sem decisão expressa se dá um indeferimento tácito. Abre-se novo prazo para a
impugnação judicial e para recurso hierárquico. Após o recurso hierárquico é ainda
possível a impugnação judicial.

Passados 6 meses, os prazos não estão cumpridos, pelo que teríamos que distinguir
se havia ou não pagamento. Não havendo pagamento, iniciar-se-ia o processo executivo.
Poderia suspender o processo prestando garantia. Se não o fizesse, seguiria a cobrança
executiva. A única hipótese seria de revisão do ato tributário, por erro imputável aos
serviços.

198
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

O artigo 78º da LGT refere-se à revisão dos atos tributários. Note-se que estamos
no âmbito do procedimento e esta revisão pode ser feita por iniciativa do sujeito passivo
no prazo da reclamação ou por iniciativa da Administração no prazo de 4 anos após a
liquidação (ou a todo o tempo, se o tributo ainda não tiver sido pago com fundamento em
erro imputável aos serviços). Portanto, a revisão dos atos tributários é uma espécie de
“emergência” caso todos os prazos já tiverem sido ultrapassados no plano tributário, pois
se se puder usar o artigo 78º, nº1 da LGT, deve-se fazê-lo.

2. Bernardo é notificado de uma liquidação de que discorda. No prazo devido,


intenta uma impugnação judicial relativamente a um indeferimento tácito do seu
pedido de anulação. Após ter entrado com a petição inicial, a Administração
responde no prazo de sete meses. O que deverá fazer o juiz, sabendo-se, entretanto,
que a Administração indeferiu de forma expressa a intenção do contribuinte?

O Bernardo é contribuinte. A notificação é a comunicação feita ao contribuinte.


Ao discordar, tem 3 meses para impugnar ou 120 dias para reclamar. Neste caso optou
pela reclamação graciosa. Havendo o indeferimento expresso ou tácito, abre-se o prazo
para a impugnação nos tribunais arbitrais ou judiciais. Neste caso, não havendo uma
decisão expressa no prazo de 4 meses, ocorre um indeferimento tácito. Assim, B
impugnou judicialmente o ato. O pedido é de anulação – contencioso de anulação de um
ato. Mas, entretanto, a Administração indeferiu de forma expressa. O juiz deve continuar
a ação porque não houve circunstância de alteração em relação ao ato tributário pelo que
o processo administrativo vai ser junto ao processo de natureza judicial.

Bernardo está especialmente descontente na medida em que lhe foram penhorados


vários bens do seu património. A sua fúria aumentou ao saber através do seu gerente
bancário que lhe tinha sido levantado o sigilo bancário. Quid Iuris?

É possível que sejam penhorados vários bens de Bernardo?

Sim. O processo executivo decorre ao mesmo tempo que o processo declarativo.


Assim, para não ser penhorado teria que pagar ou então prestar uma garantia.

O sigilo bancário é um processo especial. Devíamos referir as alterações em relação a


esta matéria.

29/04/2022

Realização de 2 Casos Práticos


199
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Critérios de correção do caso prático (1.º teste): equacionar várias hipóteses. 1.º -
Impugnação de ato administrativo, legitimidade, efeitos que a decisão teria. Questão dos
prazos em relação aos particulares e ao MP. Legitimidade passiva – tribunal competente.
Possibilidade – condenação para a prática do ato devido e por possibilidade de
responsabilidade por parte da Administração. Poderíamos falar das providências
cautelares e desenvolver a matéria das providências cautelares.

CASOS PRÁTICOS CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO

3 – Carlos foi ouvido durante a uma ação da Administração relativamente à sua


situação tributária. Seis meses depois foi surpreendido com uma liquidação de que
não esperava. Enviou de imediato uma carta para as finanças em que dava conta do
seu desconforto face à situação em concreto. Recebeu na semana seguinte uma
resposta à sua missiva em que um funcionário da Administração admitia que a
notificação que lhe foi enviada resultava de uma ação inspetiva. Poderá Carlos
reagir?

António é surpreendido por ação da ADM em relação à sua situação tributária. O


que será essa ação? Deveria ser uma inspeção. Temos procedimentos. Explicávamos o
procedimento de inspeção. Indicar qual a consequência natural da inspeção. Relatório
provisório por parte da Administração, a audiência prévia em relação a essa matéria e o
caminho para o relatório final. Enquadramento do relatório.

Naturalmente, vamos pressupor que vai ser notificada. 6 Meses depois, foi
surpreendido. Enquadramento da liquidação no procedimento tributário. A liquidação é
no plano do procedimento tributário o procedimento por excelência. Procedimento por
excelência. A liquidação é a apuração do montante de imposto a pagar. Elemento objetivo
e elemento subjetivo.

Enviou uma carta para as finanças, em que contou o desconforto em concreto. Até
se poderia admitir que esta carta fosse o modo já de defesa do Carlos na parte do
procedimento, porque passado o prazo para pagamento voluntário, abre-se a possibilidade
de reclamar, a possibilidade de impugnar na forma contenciosa ou na forma arbitral. Já
agora, a notificação é a forma de comunicação por excelência quando falamos de
contencioso tributário.

200
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

4 – Duarte foi diretor de recursos humanos de uma empresa no setor da alimentação.


Certo dia e quando já trabalhava por conta própria foi citado para pagar uma
dívida de IVA da empresa em causa. Estupefacto ligou para os administradores que
conhecia e que lhe disseram nada saberem sobre a situação, na medida em que
tinham modificado a sua vida tendo “saído da empresa”.

Quid Juris?

Em princípio, não é diretor financeiro, a não ser que a sua assinatura seja
necessária para vincular no plano financeiro a sociedade (a não ser que tenha atos que
possa levar à sua responsabilidade). Explicar a reversão, a excussão para que exista
responsabilidade.

Em que altura é que se dá a reversão que faz nascer a responsabilidade? No


processo executivo. Alias, a citação é o ato pelo qual se dá conhecimento da abertura do
processo executivo. Aqui já estamos no âmbito do processo executivo e dá-se a reversão.
A responsabilidade é subsidiária e será solidaria para aqueles responsáveis que
administração consiga. Aqui a divida aqui não é própria, é uma dívida de terceiro. O
terceiro é a empresa. Podia falar das duas circunstâncias em que pode haver
responsabilização efetiva, seja no caso do facto em que o ato tributário nasce no mandato
do administrador, seja nos casos em que o X de pagamento termina nesse mandato. Num
caso, a Administração tem dificuldades, noutro caso é o devedor. A questão da prova
diabólica.

ARBITRAGEM

Temos estado a referir que no âmbito do contencioso tributário a arbitragem


assume relevância maior do que sucede no plano administrativo. Foi encontrada uma
solução que está no regime jurídico da arbitragem tributária (ver diploma).

A possibilidade de existir arbitragem tributária foi sempre discutida durante


bastante tempo junto do legislador. Houve várias propostas que apareceram na
Assembleia da República que foram trabalhadas. O processo arbitral deve ser entendido
como meio processual verdadeiramente alternativo relativamente aos meios processuais
tributários. Quando falamos dos meios processuais tributários, falamos da impugnação
de ato tributário. Claro é que, de certe forma, é arbitrável mais do que aquilo que é
impugnável.

201
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Há um conjunto de impugnações de atos que não entram dentro da arbitragem.


Além do RJAT, também há uma portaria para a qual o próprio regime remete (portaria de
vinculação).

No âmbito da arbitragem tributária, que encontramos no DL 10/2011, de 20 de


janeiro, na alínea a) do art.º2 desse regime vemos que é possível à arbitragem
relativamente a liquidações adicionais, liquidações oficiosas, autoliquidação, retenção na
fonte e pagamentos por conta.

Tudo isto tem que ser compreendido dentro de limitações da portaria de


vinculação. Qual é a relevância desta matéria? É que apenas vamos poder enquadrar na
arbitragem a impugnação relativa a impostos. Impostos que sejam administrados pela
Autoridade Tributária. Não pode haver arbitragem tributária relativamente a taxas, sejam
elas taxas administradas pela Administração local ou central, os tributos parafiscais e as
contribuições.

Nas contribuições, a primeira grande discussão que se faz é saber se aquela


contribuição tem natureza de imposto ou de taxa. Importa saber se é tributo com natureza
unilateral sem contraprestação (imposto) ou bilateral e logo assumir a figura de uma taxa.
Porquê? Na arbitragem só há legitimidade para o Tribunal arbitral decidir caso seja um
exemplo em que a contribuição tenha natureza de imposto. Se tiver como imposto, um
dos elementos andará à volta do princípio da legalidade – saber se o regime de
contribuição foi definido por lei ou decreto-lei.

A segunda limitação tem a ver com o facto de apenas serem suscetíveis de


arbitragem os casos que são administrados pela autoridade tributária e aduaneira. não se
admite a arbitragem relativamente a impostos que, por exemplo, sejam administrados
pelas administrações regionais dos açores ou da madeira. O mesmo sucede em relação às
contribuições para a SS.

Quanto aos atos de autoliquidação, retenção e pagamento na conta, terá que existir
também aqui recurso prévio à via administrativa, aplicando-se o regime doas artigos 131.º
e 133.º CPPT. Caso não se tenha recorrido a via administrativa, não poderá existir
arbitragem. No plano da via administrativa basta que exista uma qualquer intervenção da
Administração.

202
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Portanto, quais são os atos suscetíveis de arbitragem? Atos de liquidação de


impostos administrados pela AT relativamente a liquidações adicionais, liquidações
oficiosas, atos de autoliquidação em que se cumpra o art.º 131 CPPT, atos de retenção na
fonte (requisitos do art.º 132 CPPT), atos de pagamento por conta (requisitos do art.º 133
CPPT).

Não entram no recurso a arbitragem: as liquidações de direitos aduaneiros


relativos à importação, liquidações relativas a impostos indiretos que se refiram a direitos
de importação, liquidações relativas à classificação pautal e a contingentes pautais.

Já agora, estarão na arbitragem tributária em determinadas circunstâncias atos de


determinação da matéria tributável (por exemplo, de determinação em sede de IRC do
lucro tributável), mesmo eu não haja lugar a pagamento (por exemplo, quando há
correções quanto ao modo de considerar ou não custos, benefícios fiscais ou prejuízos
fiscais).

O que é que ficará excluído? Os atos de determinação da matéria tributável. O que


considerava que ficava de fora? Os atos de avaliação da matéria coletável por métodos
indiretos. Já se começa a admitir essa possibilidade.

Relativamente a cumulação de pedidos e coligação de autores: há uma abertura


cada vez maior para a consideração de vários impostos no mesmo pedido e há também
abertura para a possibilidade de coligação de autores. Quanto ao prazo de pedido de
reconstituição de um tribunal arbitral. O prazo conta.se de forma corrida. Este é um ponto
importante. O pedido de constituição do tribunal arbitral tem de ser acompanhado do
pedido que o autor faz relativamente ao ato que em concreto quer que seja decidido por
via de arbitragem – art.º 10 RJAT e art.º 3-A do RJAT.

O prazo vai ser de 90 dias quando se conte do termo do prazo de pagamento das
prestações voluntarias que sejam administradas pela AT e que tenham sido notificadas ao
contribuinte. Pode ser contado através do indeferimento tácito e expresso da reclamação
graciosa ou do recurso hierárquico. Pode ser contado da notificação dos restantes atos que
possam ser suscetíveis de impugnação autónoma. Por outro lado, têm também o prazo de
30 dias para a notificação dos atos de classificação de valores patrimoniais ou da
notificação dos atos de determinação da avaliação direta.

Quanto a situação do pedido arbitral, temos duas hipóteses:

203
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

1. A parte não indica escolha de árbitro. Vai ficar mais barato. Deixa essa escolha
nas mãos do centro de arbitragem administrativa (CAA).
2. A parte indica escolha de árbitro. A outra parte, a Administração Tributária vai
escolher outro árbitro. Os dois tentam chegar a acordo sobre quem poderá ser
arbitro presidente. Não havendo acordo, quem escolhe é o centro de arbitragem.
Para se estar nessa lista, tem que ser aceite. Tem que se ter mínimo de experiência
de mínimo de 5 anos, podendo ser presidentes juízes (que suspendam a sua
carreira judicial), juízes jubilados ou doutorados em jurídico-económicas.

Na arbitragem suspende-se e interrompe-se o prazo de caducidade e prescrição,


cessando esse efeito quando haja recurso da decisão arbitral. Os casos de recurso são
muitos escassos. Uma das características da arbitragem é a celeridade. A decisão é mais
rápida (6 meses a partir da constituição do tribunal, podendo um coletivo fazer uma
prorrogação por mais 2 meses).

O que sucede aqui é limitação muito grande relativamente a possibilidade de


recurso.

Quem é que tem legitimidade no pedido de constituição do tribunal arbitral? A


Administração tributária, os sujeitos passivos, sejam eles contribuintes, substitutos ou
responsáveis, outros obrigados tributários, as partes dos contratos fiscais (para
investimento, por exemplo) e quaisquer outras pessoas que provem ter um interesse que
seja legalmente protegido.

Quanto à necessidade de constituir mandatário judicial: é obrigatória a


constituição de advogado naquelas causas que excedam o dobro da alçada dos
tribunais tribuários e e naquelas cuja competência pertença ao TCA e ao STJ.

No pedido tem que estar identificado o sujeito, ato ou atos tribuários de que se
quer a pronuncia e muito importante: tem que estar identificado o pedido arbitral. Este
ponto é importante a que segue exposição de facto e de direito – factos que terão que
ser sujeitos a prova e os meios de prova a utilizar, por exemplo, as testemunhas. Deve-
se indicar o valor do pedido. Há jurisprudência que altera esse valor do pedido
posteriormente. Deve-se indicar o valor do pedido e um comprativo do pagamento da
taxa inicial. É também no pedido que se deve demonstrar a intenção de designar um
árbitro.

204
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Atenção: O árbitro de parte não é o advogado das partes. O normal é fazer logo a
designação. O árbitro da parte tem que ter requisitos de independência para as partes.

O pedido de pronúncia arbitral é a petição inicial que conhecemos relativamente


a impugnação judicial. É apresentado numa plataforma eletrónica do centro de
arbitragem e os fundamentos podem ser aqueles que estão previstos no art.º99 CPPT
(quaisquer ilegalidades, como seja a má quantificação ou errónea qualificação e
rendimentos e valores tributários de outros factos tributários), a ausência de
fundamentação e a preterição de outras formalidades legais.

A Administração Tributária só vai poder ser notificada do pedido de constituição,


passando a partir desse momento a ter acesso á plataforma do CAD, onde pode
consulta o pedido de pronúncia arbitral, a fim de que possa, caos queira, exercer o sue
direito ao arrependimento.

Já os árbitros a constituir têm acesso ao pedido de constituição de tribunal arbitral


porque devem ver se têm ou não algum impedimento que o leve a pedir escusa. Por
exemplo, o sujeito passivo ter sido cliente do seu escritório num prazo de 2 anos para
trás.

Entregue que seja o pedido arbitral por parte do sujeito passivo, o CAAD tem dois
dias para notificar a AT da petição inicial. Designa os árbitros e deve notificar as
partes dessa mesma notificação. A AT, recebido o pedido inicial e recebida a
designação dos árbitros, tem 30 dias para decidir se quer ou não manter a situação
jurídica do sujeito passivo. O CAAD ira receber notificação por parte da
Administração a dizer se mantem ou não a sua posição e notifica então as partes da
constituição do tribunal arbitral caso nenhuma delas tenha oposto ao nomes que em
concreto tenham sido designados para compor o tribunal arbitral.

Portanto, e em regra, dez dias depois da notificação das partes, quanto à designação
dos atos, o Tribunal considera-se constituído e abre-se parte processual. Isto pode
demorar 1 a 2 meses antes da constituição do Tribunal arbitral. A partir da sua
constituição, são 6 meses para decidir. Isso em relação aos casos de arbitragem em que
nomeação é feita pelo centro de arbitragem - Quando seja um tribunal arbitral especial
(em que há nomeação pelas partes), o sujeito passivo começa pro entregar por via
eletrónica ao centro o pedido e identificação do ato, devendo o CAD, no prazo de 2 dias,

205
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

notificar a administração do pedido de constituição. A Administração, em 30 dias, deve


decidir se mantém ou não a situação. Mantendo, deve designar o seu árbitro de parte.

No caso em que no prazo dos 30 dias a AT não se pronuncia, o CAD vem em


substituição da administração designar um árbitro. Tem de notificar o sujeito passivo num
prazo de 5 dias. Nessa circunstância, abre-se o período necessário para indicação do
presidente. A regra é a de que os dois árbitros devem designar terceiro árbitro. Se não
conseguirem, será o centro a faze-lo.

Aberto que seja o processo arbitral, o 1º ato que o CAD toma é de notificar o dirigente
máximo do serviço da AT para, no prazo de 30 dias, apresentar a resposta. Reparemos
nesta curiosidade: o primeiro ato processual é um ato de notificação de algo que a
administração já conhecia, pelo que acaba por ter mais de 30 dias para preparar a sua
resposta.

Para além da resposta, pode solicitar a produção de prova adicional.

O direito de defesa que é assegurado à AT corresponde á aplicação, no processo


arbitral, do princípio do contraditório. No caso de a AT não ser notificada para apresentar
a sua defesa, a decisão estará em violação clara deste princípio, o que leva a um
fundamento para impugnação da decisão arbitral que venha a ser proferida. Na
circunstância em que a AT não responde, isso não obsta a que os processos continue,
sendo a decisão arbitral tomada com base na prova que tenha sido efetivamente
produzida. Aqui, o tribunal arbitral fica na circunstância de estar mais livre no modo como
vai apreciar a prova.

A Administração tem também prazo para remeter ao tribunal arbitral uma copia do
processo administrativo, isto é, do que se passou no plano do procedimento.

Recebida que seja a resposta por parte da AT, o tribunal arbitral promove, caso assim
entenda, uma reunião entre as partes, em que se vai definir a tramitação processual a fazer,
em que se houve as partes quanto a exceções, pode convidar as partes a corrigir a sua peça
processual quando necessário e se comunica às partes a data para a prolação da decisão.
Esta reunião não é obrigatória. Pode ser dispensada à luz de um princípio de autonomia
do tribunal, da celeridade, da simplificação e da informalidade no plano processual

Veja-se o art.º 18 RJAT.

206
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

Tem de haver uma decisão em prazo razoável. A decisão em prazo razoável tem como
limite o prazo máximo de 6 meses, eventualmente prorrogável por períodos de 2, com o
limite de 3 prorrogações. O processo não pode durar mais de um ano.

As exceções presentes podem ser dilatórias ou perentórias. Na reunião em causa tem


de se ouvir as partes quanto às exceções dilatórias, pois estas obstam a que o tribunal
conheça do mérito da causa.

Quanto ao convite às pates para corrigirem as suas peças processuais e da marcação


das alegações, a regra é da oralidade. No entanto, a regra de facto, acaba por ser a de
apresentação de alegações pela forma escrita.

Quanto ao recurso e impugnação da decisão arbitral, existe um princípio de a decisão


ser irrecorrível. É uma condição imposta para que a arbitragem seja verdadeiramente
alternativa aos tribunais para evita o congestionamento destes.

Exceções:

● Casos de recurso para o Tribunal Constitucional quando as partes utilizem


argumentos de possível inconstitucionalidade.
● Recursos para o STA
● Casos de impugnação geral de decisão arbitral

Recurso para o TC: acontece em duas circunstâncias:

● Quando a decisão arbitral tenha recusado a aplicação de uma norma com


fundamento na sua inconstitucional
● Quando o tribunal arbitral tenha aplicado uma norma cuja inconstitucionalidade
tenha sido suscitada no processo

Quem tem legitimidade? O MP, qualquer uma das partes para a 1ª circunstância,
ou a parte que alegou a inconstitucionalidade na segunda situação.

O prazo é de 10 dias. A interposição de recurso tem efeito suspensivo.

Há um efeito definitivo da decisão do TC.

Recurso para o STA: Tem como fundamento as circunstâncias de oposição quanto


à mesma questão fundamental (tem de ser uma questão de direito) com acórdão proferido
pelo TCA, pelo STA ou por outro acórdão arbitral. Portanto, quando haja oposição de

207
APONTAMENTOS DE CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO

decisões e quando esteja em causa a mesma questão fundamental de direito proferida pelo
STA ou TCA ou TA.

Legitimidade – parte vencida ou MP. Note-se que o recurso tem efeito suspensivo.

Atenção: a decisão do STA deve-se limitar ao mérito da mesma questão. Só em


relação à questão controvertida tem poderes de decisão de declaração.

O terceiro caso é a Impugnação da decisão arbitral. Os fundamentos - Não


especificação dos fundamentos de facto e direito que fundamentam a decisão, oposição
entre os fundamentos e a decisão, pronúncia indevida e omissão de pronuncia. O tribunal
competente para receber é o TCA sul. O prazo é de 15 dias e quem, em princípio, tem
legitimidade será a parte vencida. Esta circunstância tem que ter bases muito marcadas.
O fundamento tem que ser quanto à mesma questão fundamental de direito.

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