O Enigma Das Atitudes Proposicionais
O Enigma Das Atitudes Proposicionais
O Enigma Das Atitudes Proposicionais
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Ruth Maria Chittó Gauer
EDIPUCRS:
Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor
Jorge Campos da Costa – Editor-chefe
Ana Maria Tramunt Ibaños
PORTO ALEGRE
2009
© EDIPUCRS, 2009
CDD 401
APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 6
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7
CONCLUSÃO .....................................................................................................262
REFERÊNCIAS...................................................................................................265
6 Ana Maria Tramunt Ibaños
APRESENTAÇÃO
Jorge Campos
O enigma das atitudes proposicionais 7
INTRODUÇÃO
1
Frege (1892) afirmando (1), (2), (3) e (4) ,
Portanto,
não ocorre como se poderia supor de (1) e (3) por causa da verdade de (2) e (4).
1
Ao longo deste trabalho, são usados, preferencialmente, os textos originais ou a tradução
inglesa. Quando não é problemático, também é utilizada a tradução em português.
8 Ana Maria Tramunt Ibaños
Este capítulo tem por objetivo traçar o percurso teórico das Atitudes
Proposicionais (AP), de sua primeira formulação moderna com Frege (1892) até
as especulações atuais de Fodor. Tal visão panorâmica pretende se justificar em
dois sentidos básicos: Em primeiro lugar contextualizar, no âmbito da linguística,
um tema que não lhe é exatamente familiar; em segundo lugar, sistematizar
questões relevantes para o problema das AP de modo a poder avaliar as teorias
contemporâneas que concorrem, pela capacidade de elucidar tais questões. É
óbvio que o roteiro dos textos analisados já obedece a uma seleção de questões
relevantes para a análise posterior das teorias concorrentes. É óbvio, também,
que a apresentação deste percurso, dir-se-ia histórico-teórico, é feita de maneira
não problemática, ou seja, essencialmente em termos de descrição dos insights e
não de qualquer pretensão crítica às abordagens contempladas. Finalmente, é
também trivial dizer-se que não há nenhum interesse, neste capítulo, na exaus-
tividade dos argumentos.
A estratégia para a construção deste percurso histórico-teórico das AP
passa por três seções: a primeira, em que será apresentado o contexto moderno
de origem dos enigmas das AP, através da formulação que lhes deram Frege
(1892) e Russell (1905) especialmente; a segunda, em que são descritos os
desdobramentos posteriores no âmbito da lógica, com Carnap (1947/54), Church
(1941/43/50/51/54/56/82), Mates (1952), Putnam (1954), Quine (1956/61/66/69/73
/94), Davidson (1970/75/84), Kripke (1972/79) e Hintikka (1962/69/75) e,
finalmente, a terceira, no contexto cognitivista, com Fodor (1976/81/87/90) e
Jackendoff (1983).
Uma versão modificada deste capítulo aparece em Feltes (org.) Produção de Sentido. São
Paulo: Annablume; Porto Alegre: Nova Prata; Caxias do Sul: EDUCS, 2003.
O enigma das atitudes proposicionais 11
parece não haver dúvidas de que Júlio César é o objeto de que se fala; a
referência do nome é sobre o objeto que designa. Mas, se a sentença (1) for
transformada em discurso indireto como em (2),
Mais ainda, se 'Júlio César' for substituído por 'O Fundador do Primeiro
Triunvirato Romano', como apresentado em (3),
12 Ana Maria Tramunt Ibaños
como pode ser possível que, num determinado contexto em que os termos
substituídos refiram-se à mesma pessoa, uma sentença seja verdadeira, por
exemplo (2), e outra falsa, como (3)?
A resposta que Frege encontra para este aparente paradoxo, que
contraria o princípio de que a substituição de um nome por outro de igual
2
referência não modifica o valor-de-verdade de uma sentença , está no
estabelecimento de uma distinção entre o significado direto e indireto de um
termo, tanto no que se refere ao sentido quanto no que diz respeito à referência.
Tal resposta aparentemente simples exige, no entanto, que se saiba, em
termos fregeanos, o que significa 'sentido', 'referência' e outros conceitos que
possam ser relevantes para a compreensão dessa solução como um todo, então,
a fim de se chegar a esse objetivo, dentro do quadro geral da obra de Frege, dois
pontos relacionados entre si são de interesse para o presente trabalho. O primeiro
refere-se ao que foi posteriormente denominado de Enigma de Frege, a saber, a
discussão de Frege sobre juízos de identidade; o segundo, resultado desse, é a
abordagem do par sentido-referência, que serve de sustentação teórica para a
distinção que Frege faz da relação entre o conteúdo de uma sentença e seu papel
lógico.
Em termos de juízos de identidade, Frege inicia seu ensaio On Sense and
3
Meaning [SM] questionando o tipo de relação em que consiste a igualdade ; será
uma relação entre objetos, entre nomes ou sinais de objetos?
A razão de seu questionamento está na necessidade de saber como é
possível que qualquer coisa informativa possa ser transmitida por afirmações de
identidade verdadeiras; Se 'a=b' é verdadeira, como pode dizer mais do que 'a=a',
sendo esta verdadeira a priori e, portanto, trivial? Em outras palavras, dadas as
afirmações abaixo
2
Trata-se da bem conhecida Lei de Leibniz aceita por Frege [SM], p.164.
3
Em [SM], Frege, em nota de rodapé, enfatiza que usa a palavra igualdade no sentido de
identidade. Sua opção será seguida nesta seção.
O enigma das atitudes proposicionais 13
Frege conclui que, tomando-se o sinal 'a' apenas enquanto objeto, não
enquanto sinal, percebe-se que o valor cognitivo de 'a=a' torna-se,
essencialmente, igual ao de 'a=b', desde que este último seja verdadeiro.
I.
4
Conforme Dummett, a noção de informação aqui utilizada não requer qualquer explicação
elaborada: adquire-se informação quando se aprende algo. (cf. Dummett [FPL], p.95).
O enigma das atitudes proposicionais 15
Não se conclua do que está dito acima que sentido seja uma entidade
mental. Sentido constitui-se na parte do significado de uma palavra ou expressão
que necessita ser apreendida para que se decida os valores-de-verdade das
sentenças que o contêm. Em outras palavras, sentido é a parte do significado que
determina a referência;
16 Ana Maria Tramunt Ibaños
6
Este é um dos pontos mais problemáticos do trabalho de Frege conforme Dummett [FPL] e Baker
& Hacker [FLE], mas tal discussão foge aos limites do presente trabalho.
18 Ana Maria Tramunt Ibaños
Portanto, sentenças como (7) e (8), como se fossem nomes próprios, têm
como sentido um pensamento (7) de que Eratóstenes calculou precisamente o
tamanho da Terra e (8) de que foi Héron de Alexandria quem inventou as
engrenagens de trens; e como referência um valor-de-verdade, no caso, o
verdadeiro, uma vez que, de acordo com Frege, toda sentença assertiva, em face
à referência de suas palavras, deve ser considerada como ou o verdadeiro ou o
falso.
Até aqui, foram definidos o que significam sentido, referência,
pensamento e valor-de-verdade. Mas, retomando a resposta dada por Frege
apresentada no início deste trabalho, ainda falta explicar o que significa um termo
ter um significado direto e indireto.
Em termos de referência, considera-se que um termo tem referência
direta quando ele denota/refere o seu objeto usual. Assim, 'O conquistador da
Gália’ refere, usualmente, Júlio César. Portanto, Júlio César é a referência direta
de tal expressão. Por outro lado, diz-se que um termo tem referência indireta
quando denota/refere o sentido que usualmente expressa. Assim, em uma análise
fregeana, 'O conquistador da Gália' em (2) não tem como referência Júlio César,
mas, sim, tem uma referência indireta pois, na posição que ocupa na sentença, 'O
7
conquistador da Gália' não refere o indivíduo Júlio César, mas o conceito
expresso normalmente por 'O conquistador da Gália'.
No que concerne ao sentido, sentido direto é aquele expresso por um
termo que tem referência direta, enquanto que sentido indireto é o sentido
expresso por um termo quando ele refere o sentido que usualmente expressa.
Retornando, então, à primeira questão apresentada neste trabalho, a
saber, o que acontece quando se está tratando de uma sentença em contextos de
7
No quadro fregeano, conceito deve ser analisado em sentido puramente lógico. Ele é, tal como
Frege o entende, predicativo, isto é, a referência de um predicado gramatical. (Cf. Frege [SCO],
1978).
O enigma das atitudes proposicionais 19
São esses tipos de 'orações que' que correspondem ao caso em que não
há garantia de substituição de um nome por outro, mantendo-se o mesmo valor-
de-verdade.
[1.14] Frege conclui que, em tal contexto, um nome não tem sua
referência ordinária: o nome deve, dentro desse contexto, ser
usado para falar de algo distinto de seu referente usual, e Frege
diz que o nome tem uma referência oblíqua. (Dummett [FPL],
p.187)
[1.15] Por este mecanismo, Frege salva o princípio de que, toda a vez
que uma expressão ocorrendo dentro de uma sentença seja
substituída por alguma outra expressão que possua a mesma
referência, o valor-de-verdade da sentença continua o mesmo.
([FPL], p.187)
R S R
s1 [SR]
onde 'R' abrevia a sentença 'A terra se move', s1 [R] é o sentido usual da sentença
R, isto é, o pensamento e a seta inferior representam a relação de referência; e
refere o valor-de-verdade desde que R (= r1 [R]). Em (III), a semântica de 'Galileu
O enigma das atitudes proposicionais 21
disse que a terra se move', s2[R] é o sentido indireto de 'R' e 'S' abrevia 'Galileu
disse que'. A referência indireta de 'R' é seu sentido costumeiro (s1 [R]) e a
referência da sentença como um todo é obtida pela aplicação da referência
costumeira de 'S' à referência indireta de 'R' e o valor-de-verdade é indicado pelo
que vem abaixo do sinal
Ainda que o quadro acima seja esclarecedor, a verdade é que a distinção
fregeana sentido/referência tem sido objeto de intermináveis controvérsias. O que
não se discute, entretanto, é que ela possui, para os interesses de Frege,
inúmeras vantagens, uma das quais como bem a reconhecem Baker & Hacker
(1984) é que
8
Russell adota a palavra 'meaning' (significado) para o que Frege chama de 'sinn' (sentido), e
'denotation' (denotação), para o que Frege chama de 'bedeutung' (referência). Observe-se, no
entanto, que algumas traduções da obra de Frege para o inglês utilizam a palavra 'meaning' para
referência. Isso se deve ao fato de que, em alemão, 'Bedeutung' pode ser tanto traduzido por
'meaning' como por 'reference'.
9
Esta é a linha argumentativa mais trivial entre os comentadores das críticas de Russell e Frege.
Para o presente trabalho, entretanto, ela é a mais útil.
22 Ana Maria Tramunt Ibaños
ele advoga que, dado que 'O Rei da Inglaterra é calvo', parece ser uma afirmação
sobre o homem denotado por seu significado, por paridade de forma, o mesmo
deveria ser dito de 'O Rei da França'. Mas esta frase, apesar de ter significado,
por analogia do significado do exemplo (11), certamente não tem denotação, pelo
menos em nenhum sentido óbvio.
A pergunta que Russell poderia ter feito nesse momento seria: 'Se o
significado é o modo de apresentar a denotação, como é possível não haver
denotação e persistir o significado?'
Para Russell, parece que o ponto de vista adotado por Frege de, por
definição, fornecer uma denotação puramente convencional (como no caso de 'O
Rei da França' denotar uma classe vazia) embora não conduza a um erro lógico
real, é totalmente artificial e não fornece uma análise exata da questão. Ao
abordar o chamado Enigma de Frege, considera que sua teoria, que assimila o
significado dentro da denotação, pode resolvê-lo de maneira mais simples e mais
correta do que a solução apresentada por Frege.
O enigma das atitudes proposicionais 23
[1.21] Uma teoria lógica deve ser testada por sua capacidade de lidar
com enigmas. [...] Eu formularei, portanto, três enigmas 10 que uma
teoria da denotação deve estar apta a resolver, e mostrarei, a
seguir, que minha teoria os resolve. (Russell [OD], p.47)
ele afirma que (16) não segue das premissas anteriores porque:
10
Os enigmas a que Russell se refere são os que seguem:
(a) Se a = b, uma proposição poderá substituir a outra, sem afetar o seu valor-de-verdade;
(b) Pela Lei do Terceiro Excluído, ou 'a = b' ou 'a não é b' deve ser verdadeiro. Portanto, ou 'O
atual rei da França é calvo' ou 'o atual rei da França não é calvo' deve ser verdadeiro. No entanto,
nem na lista daqueles que são calvos nem na lista daqueles que não são calvos encontraremos 'O
atual rei da França'.
(c) Se 'ab' é verdadeira, existe uma diferença entre a e b que pode ser expressa da forma 'a
diferença entre a e b subexiste'. Mas se é falso que ab, não existe tal diferença, que pode ser
expressa sob a forma 'a diferença entre a e b não subexiste’. Mas como pode uma não entidade
ser objeto de uma proposição? (Cf. Russell [OD], p.47-48).
Cabe ainda considerar que, em vista da exegese dos textos mantidos pelo Russell
Archives, em que o autor discute minuciosamente a distinção entre sentido e referência, pode-se
afirmar, com segurança, que as razões que o levaram a abandonar aquela distinção são
apresentadas de forma extremamente críptica em oito parágrafos de On Denoting. Essas razões
dizem respeito à suposta ininteligibilidade da distinção sentido/referência. Para maior
detalhamento, cf. Almeida C.,1992.
24 Ana Maria Tramunt Ibaños
12
a proposição que as palavras em (17) indicam na realidade contém Hipácia, a
própria mulher, como seu constituinte e, portanto, o nome 'Hipácia'; e a expressão
'é sábia' contribui com o atributo de sapiência para tal proposição. Grosso modo,
'ser sábia' é uma propriedade que o objeto possui. Em termos de (18), já não
se tem uma afirmação da forma 'x era sábia' e tampouco apresenta 'A líder da
escola neoplatônica de Alexandria' como seu sujeito. De maneira abreviada, (18)
pode ser reescrita como 'uma e somente uma entidade era a líder da escola
neoplatônica de Alexandria e essa entidade tinha a propriedade ’.
Proposições são, de fato, entidades estruturadas que podem ser
representadas como n-tuplas ordenadas de seus constituintes e componentes.
Assim, a sentença (13) indica uma proposição que é uma entidade estruturada do
tipo tripla ordenada que pode ser apresentada como (19) abaixo,
(19) 0 0
(IV) ab
R[a] R[b]
13
nomes logicamente próprios e sua diferença de descrições definidas, conforme
contasta Linsky (1983).
Dessa forma, se 'A' e 'B' são nomes logicamente próprios para o mesmo
objeto, 'A=B' possui a mesma proposição que 'A=A'. Não existe, pois, para
Russell, a questão de igualdade com valores cognitivos diferentes, como foi
defendido por Frege. Se for construída uma afirmação intercalada com sinal de
igualdade entre dois nomes logicamente próprios, se tal afirmação for verdadeira,
será trivial e sem um valor cognitivo.
Retornando aos exemplos (13) e (14) reproduzidos, novamente, abaixo,
Russell reafirma que se 'o autor de Waverly ' fosse um nome logicamente próprio
3) teria a mesma proposição que (14). Como isso não acontece, uma vez que (14)
é trivial e necessária enquanto que (13) é contingente e informativa, não há
possibilidades de que seja um nome logicamente próprio.
13
"O nome próprio aparece como um contraponto teórico para as investigações sobre descrições
definidas". (Cf. COSTA [SLLN], 1988)
14
Russell preocupa-se em apresentar esta questão de gramática de superfície na medida em que
considera que afirmações de identidade aparentemente informativas devem estar apresentando
uma disparidade entre a forma gramatical de superfície e a forma lógica subjacente. (Cf. Russell
[OD])"Com aquele artigo [OD] (Russell) começou a desenvolver uma concepção de análise de
acordo com a qual a forma lógica das sentenças envolvidas é crucial. (...) e a principal tarefa da
análise é a de encontrar a forma lógica subjacente da proposição, uma forma lógica que pode
estar mascarada pela sentença que expressa a proposição" (Hylton [RIEAP], p. 268)
15
O ponto central da Teoria das Descrições era de que uma frase poderia contribuir para o
significado de uma sentença, sem ter qualquer significado isolado.
"Disso, no caso das descrições, há uma prova precisa: Se 'o autor de
Waverly' significasse outra coisa que não 'Scott', 'Scott é o autor de
Waverly' seria falsa, o que não é o caso. Se 'o autor de Waverly'
significasse 'Scott', 'Scott é o autor de Waverly' seria uma tautologia, o
que não é. Portanto, 'o autor de Waverly' não significa nem 'Scott' nem
qualquer outra coisa – i.e. 'o autor de Waverly' não significa nada."
(Russell [MPD], p.85)
28 Ana Maria Tramunt Ibaños
Além do mais, como ele observa, a sentença (13) seria equivalente a, por
exemplo, (20)
se 'o autor de Waverly' fosse um nome. No entanto, 'Scott é Sir Walter' não
depende de fato nenhum a não ser que tal pessoa assim se chame. Mas o
exemplo em (13) depende de algo, de um fato físico, a saber, o fato de que Scott
tenha escrito 'Waverly'.
E, se por acaso, uma afirmação do tipo (21),
supostamente formada por nomes próprios é informativa, Russell conclui que tais
nomes não são nomes logicamente próprios e, sim, descrições truncadas ou
disfarçadas, de maneira que a pretensa identidade é da forma de (22).
(22) ( x) ( x) = ( x) ( x)
que pode ser informativa e verdadeira, mas não uma identidade, pois possui uma
descrição.
Mais ainda, em uma afirmação do tipo (23),
em que o sujeito gramatical dessa sentença pode ser suposto como não
existente, mas, mesmo assim, a sentença parece apresentar significado, para
Russell, está claro que o sujeito gramatical não é um nome próprio, ou seja, um
16
nome que represente diretamente um objeto .
16
Subjacente está a distinção que Russell faz entre conhecimento por familiaridade
(acquaintance) e por descrição (knowledge). "A distinção entre acquaintance e knowledge é a
distinção entre as coisas com as quais nós somos apresentados, e as coisas que alcançamos
somente por meio de expressões referenciais." (Russell [OD], p.41)
O enigma das atitudes proposicionais 29
ou
17
O conceito de verdade de Carnap está ligado ao que ele denomina de 'conceitos-L'. Em se
tratando de sentença, grosso modo, pode-se dizer que uma sentença é L-verdadeira em um
sistema semântico S se, e somente se, é verdadeira em S, de tal forma que sua verdade pode
ser estabelecida com base nas regras semânticas do sistema S por si só, sem qualquer referência
(extralinguística) a fatos. (Cf. Carnap [MN], p.9-10).
18
conforme Carnap, esta concepção de extensão/intensão também se aplica no caso de
sentenças falsas. (Cf.Carnap [MN], p.25).
O enigma das atitudes proposicionais 33
a partir dos dois princípios acima, a análise estilo fregeano levaria à seguinte
conclusão:
O nominatum oblíquo da sentença (28), isto é, a entidade nomeada por
(28), em um contexto oblíquo como (29), é a proposição de que Júlio César é o
conquistador da Gália.
Carnap concorda que, seguindo o raciocínio de Frege, está claro que (29)
não fala da sentença (28), porque Marco Antônio poderia ter usado outras
palavras e outra língua, provavelmente o latim. Tampouco (29) fala do valor-de-
verdade da crença de Marco Antônio, mas sim sobre o seu sentido, pois (29)
afirma que Marco Antônio acredita numa certa proposição que é o sentido
ordinário de (29). No entanto, ele considera que esse método de raciocínio é
muito oneroso e obriga a construção de mais entidades do que necessárias. Por
esta razão, embora admita que não se pode dizer que há uma incompatibilidade
entre o par de conceitos defendido por Frege e o seu, uma vez que os dois pares
coincidem em contextos ordinários (extensionais), diferindo apenas em contextos
34 Ana Maria Tramunt Ibaños
Neste contínuo, será possível verificar que a mesma expressão 'Mh' tem
um infinito número de diferentes entidades como nominata quando ocorre em
diferentes contextos. O que se observa nesse caso, de acordo com Carnap, é
uma multiplicidade desnecessária de entidades e nomes devida ao método nome-
relação de Frege.
O que Carnap propõe, portanto, e considera mais plausível para a
solução desse paradoxo, é que se mude de método, isto é, deixe-se de pensar no
binômio nome-relação, defendido por Frege e Church (posteriormente), e se
utilize o método que ele denomina de extensão-intensão, conforme já
mencionado.
A primeira vantagem está no fato de que, no método de análise semântica
desse último tipo, o conceito de 'nominatum' não ocorre; consequentemente, o
paradoxo de nome-relação em sua forma original não pode surgir.
Mas é bem verdade, e o próprio Carnap reconhece que pode surgir, sob
certas condições, uma antinomia de identidade de extensão análoga à da
identidade do nominatum. E isso ocorreria se houvesse um princípio análogo ao
princípio de intersubstituibilidade de nomes para o conceito de extensão (Cf. MN,
p.142), uma vez que o conceito de extensão é, em muitos aspectos, semelhante
ao conceito de nominatum.
Partindo dos dois princípios de intersubstituibilidade dentro dos contextos
intensionais e extensionais, a saber:
19
Cf. página 34.
36 Ana Maria Tramunt Ibaños
ele analisa essa possibilidade de haver contextos em que ocorra essa antinomia e
verifica que é o caso quanto ao tipo de sentenças que contêm o que Carnap
denomina de termos psicológicos como 'eu acredito que '.
Dados os seguintes exemplos:
20
Carnap considera que duas orações expressam a mesma proposição sse são logicamente
equivalentes, o que não é típico da semântica de Frege.
O enigma das atitudes proposicionais 37
Para exemplificar essa definição, Carnap utiliza-se das expressões '2 + 5'
e 'II mais V' que ocorrem numa linguagem S em que '2', '5', 'II', 'V' são expressões
numéricas e '+' e 'mais' são sinais de operação de adição. Supõe-se, também,
que, de acordo com as regras semânticas de S, '2' é L-equivalente a 'II', assim
21
Matrizes de designadores também poderiam ser chamadas de fórmulas-bem-formadas,
conforme constata-se na nota de rodapé número 3 do artigo [IIIB], p.166, de Church, que chama a
atenção para o fato de que seria preferível usar 'fórmula-bem-formada' em vez de matrizes de
designadores.
38 Ana Maria Tramunt Ibaños
como '5' é L-equivalente a 'V' e '+' a 'mais'. Portanto, as duas expressões serão
intensionalmente isomórficas porque não somente como um todo são L-
equivalente a '7', mas as três partes que as constituem são L-equivalentes umas
com as outras.
Assim, se for dito que (33),
que permite se acordar que sentenças de crença não podem ser analisadas em
termos de proposição, uma vez que duas sentenças como (35) e (36)
não aceitasse como um todo a solução advogada por Carnap, e, em seus artigos
On Carnap's Analysis of Statements of Assertion and Belief [OCASAB] e
Intensional Isomorphims and Identity of Belief [IIIB], apresenta suas refutações ao
modelo carnapiano. Mas, a fim de que tais refutações sejam bem entendidas,
parece necessário, em primeiro lugar, compreender-se um pouco da própria teoria
de Church que, por conseguinte, será mostrada numa espécie de quadro geral
abaixo.
Assim como Frege, Church adota o método nome-relação ao tratar da
relação de um nome próprio com aquilo que denota. Ele chama a atenção, no
entanto, que tal relação é, na realidade, uma relação ternária entre a linguagem, a
palavra ou sintagma dessa linguagem e a denotação, e só é tratada como binária
ao se fixar a linguagem em um contexto determinado. A coisa denotada, por sua
vez, será chamada de denotação.
[1.32] Por exemplo, será dito, portanto, que o nome próprio 'Rembrandt'
denota ou nomeia o artista holandês Rembrandt e será dito que
ele próprio é a denotação do nome 'Rembrandt'. Da mesma forma,
'o autor de Waverly' denota ou nomeia o autor escocês e ele
próprio será a denotação tanto deste nome como do nome 'Sir
Walter Scott'. ([IML] p.5)
contas. É óbvio que uma linguagem bem construída deveria assegurar uma
univocidade, isto é, cada nome ter somente um sentido. Mas como isso não
acontece com a linguagem natural, que, normalmente, permite além do sentido
ordinário do nome um sentido oblíquo, para se obter a eliminação dessa
obliquidade, através da introdução de nomes especiais para denotar os sentidos
que outros nomes expressam, deve-se seguir os seguintes postulados:
[1.34] (1) quando um nome constituinte é substituído por outro que tenha
o mesmo sentido, o sentido do nome como um todo (complexo)
não muda;
(2) quando um nome consituinte é substituído por outro que tenha
a mesma denotação, a denotação do nome como um todo não
muda (embora o sentido possa mudar);
(3) [...] a denotação de um nome (se existir) é a função do sentido
do nome [...], isto é, dado o sentido, a existência e a identidade da
denotação são por meio dela determinadas, embora não
necessitem, necessariamente, ser conhecidas de cada um que
conhece o sentido. (Church [IML], p.7)
Church utiliza-se dos postulados (2) e (3) para dar certa plausibilidade
23
intuitiva à concepção de que a denotação das sentenças é um valor-de-verdade ,
e de um quarto postulado, a saber,
que tem a consequência de admitir sentenças nem verdadeiras nem falsas, como
no caso do exemplo (12), novamente reproduzido abaixo como (37),
23
Cf. Simpson, [LRS], capítulo IV e Church [IML], p.24-25.
O enigma das atitudes proposicionais 41
24
Church considera que não . Define proposição como o conceito de um
valor-de-verdade. Essa sentença, portanto, pode ter sentido, mas o conceito
expresso não é uma proposição.
Agora, se, além de uma sentença carecer de denotação como (37), ela for
do tipo existencial negativa como (38),
como concluir o fato de que (37) não é nem verdadeira nem falsa e a outra (38)
pode ser verdadeira?
O autor afirma que sua teoria do significado indireto apresenta a resposta
para problemas dessa natureza. Quando se diz que 'o rei da França não existe', o
que ocorre é a asseveração de que o conceito 'o rei da França' é vazio. Trata-se
de uma questão ontológica sobre entidades abstratas: não existe o rei da França,
mas sim seu conceito correspondente.
'Denotação', 'sentido', 'conceito' e 'obliquidade' são, pois, entidades
utilizadas por Church em sua teoria do significado que terão papel importante na
explicação de sentenças de atitudes proposicionais. Seguindo a teoria de Frege,
reconhece que o método de nome-relação para a explicação de como uma
sentença deixa de denotar o seu valor-de-verdade para denotar o seu sentido qua
25
encaixada pode, realmente, desencadear uma multiplicação de nomes . Mas,
pondera que a linguagem proposta por Frege, na qual o sentido de cada nome
tem, por sua vez, um nome, apresenta vantagens em relação à linguagem natural,
que, neste aspecto, é ambígua. Além disso, essa multiplicação de entidades,
mostrada no gráfico abaixo, acha-se compensada por uma maior simplicidade
24
Church reconhece, no entanto, que a decisão de não considerar exemplos como (33) uma
proposição é uma decisão arbitrária e que se desvia da noção de 'gedanke' de Frege. Cf. Church
[IML], p.27.
25
Cf. argumentação de Carnap neste capítulo.
42 Ana Maria Tramunt Ibaños
teórica em outros aspectos, como pode ser visto comparando-a com a teoria de
Russell.
V.
nome n1 n2 n3 n4 ......
Hipácia é
mulher
S S S
D D D D
entidades e1 e2 e3 e4 ....
valor-de-verdade a proposição
de que Hipácia
é mulher
adaptado de Simpson [LRS], p.136
26
Conferir página 39 deste capítulo.
O enigma das atitudes proposicionais 43
[1.36] Além de (i), (ii) e (iii) ... passos do seguinte tipo devem ser
permitidos: (iv) substituição de uma expressão de abstração por
uma constante predicadora sinônima; (v) substituição de uma
constante predicadora por uma expressão de abstração sinônima;
(vi) substituição de uma descrição individual por uma constante
individual sinônima; (vii) substituição de uma constante individual
por uma descrição individual sinônima. (Church [IIB], p.161)
e expõe que o seu propósito é mostrar o que ele acredita ser uma objeção
insuperável contra análises alternativas que favorecem coisas mais concretas
como sentenças em detrimento das proposições.
Tomando como exemplo a sentença assertiva (39), ele considera que, de
acordo com a proposta de Carnap em [MN], chegar-se-ia à seguinte análise:
(41) Existe uma linguagem S1 tal que Sêneca escreveu como sentença
de S1 palavras cuja tradução de S1 para o português é 'o homem é um
animal racional'.
[1.37] Não é nem mesmo possível inferir [39] como uma conseqüência
de [41] apenas termos lógicos - mas somente fazendo uso de um
item de informação factual não contido em [41] de que 'o homem é
um animal racional' significa em português que o homem é um
animal racional. ([OCASAB] p.169)
27
e se fosse passada (41) para o sistema semântico S2 (inglês ) a tradução teria
que ser como (42):
27
No artigo de Church, o primeiro sistema escolhido é o inglês e o segundo é o alemão. Por
motivos de adequação, optou-se escolher o sistema português como o primeiro e o inglês como o
segundo.
O enigma das atitudes proposicionais 45
(44) ‘Colombo faz uma resposta afirmativa à 'a terra é redonda' como
uma sentença do português’
(45) Colombo tem uma relação com 'a terra é redonda' como sentença
do português
[1.38] [45] não é deduzível de [44], mas apenas confirmada por [44] em
certo grau. '' é um construto teórico não-definível em termos de
comportamento manifesto, seja este lingüístico ou não. As regras
para '' têm que ser de tal forma que não implique Colombo
conheça uma ou outra língua. Por outro lado, a referência para
uma sentença em [português] em [45] pode ser substituída por
uma referência a qualquer outra oração sinônima em qualquer
linguagem. (Carnap [OBS], p.231-232)
(46) 'Colombo tem a relação com 'The earth is round' como sentença
do inglês.
Como Church sustenta que uma crença deve ser interpretada como uma
relação entre uma pessoa e uma proposição, (45) não seria considerada
adequada para ele. Carnap, contudo, ressalta que não crê que os argumentos
oferecidos por Church mostrem a impossibilidade da segunda forma. Na
realidade,
pergunta qual seria a razão de haver tal isomorfismo. Para ele, o não isomorfismo
não implica uma contradição. Utilizando-se do exemplo (39), propõe a seguinte
situação, a saber, suponha-se que alguém analise (39) na teoria simplificada dos
tipos como (47),
[1.40] E isso é a única exigência que, eu creio, deve ser imposta sobre
duas análises corretas do mesmo conceito. (Putnam [SABS],
p.150)
[1.41] [...] a sentença citada não deve ser 'o homem é um animal
racional' ou 'man is a rational animal', mas a tradução dessa
sentença em um sistema neutro arbitrariamente selecionado,
digamos o sistema L, correspondente ao Latim. Então, em [41] as
palavras ''O homem é uma animal racional' como sentença de P'
são substituídas por ''Home est animal rationale', como sentença
de L'; e em [42], as palavras ''Man is a rational animal' as a
sentence of SE' são substituídas por ''Home est animal rationale'
as a sentence of L' e, então, [41] e [42] tornam-se
intensionalmente isomórficas. ([SABS], p.151)
48 Ana Maria Tramunt Ibaños
Ninguém duvida, realmente, que quem crê em (49) acredita em (49) e, por
força do isomorfismo, ninguém poderia duvidar que quem crê em (49) crê em
(50). Isto sugere, para Mates, que, para qualquer par de sentenças
intensionalmente isomórficas como D e D' acima, se houver uma dúvida de quem
quer que acredite D, acredita D', então, a explicação de Carnap é incorreta. Mais
ainda,
Para Church,
Da mesma forma, (53) também não pode ser sinônima a (54) abaixo:
28
Church também recorda que já utilizou esse mesmo critério de tradução como suporte à
conclusão de que o objeto de uma crença deve ser tomado como uma proposição, em vez de
sentenças, se certas características importantes do uso diário do discurso indireto devem ser
preservadas. (Cf.[IIB], p.164)
50 Ana Maria Tramunt Ibaños
Church conclui que a questão levantada por Mates é uma dúvida sobre
certas matrizes sentenciais e, consequentemente, uma dúvida sobre (53) em vez
de uma dúvida sobre (52).
Putnam, por sua vez, considera o argumento de Mates muito poderoso.
No entanto, não adota a atitude radical de Carnap em dizer que a teoria no seu
presente estágio não pode refutar a crítica. Pelo contrário, apresenta uma
proposta alternativa. Para ele, é óbvio que (49) e (50) apresentam conteúdos
diferentes, embora sejam construídas gramaticalmente da mesma forma de
constituintes correspondentes com o mesmo conteúdo. A diferença é atribuída à
estrutura lógica proveniente do fato de que em (49) há duas ocorrências de um
simples constituinte 'grego', onde em (50) existem ocorrências de diferentes
constituintes. Em suas palavras,
Dito de outra forma, Putnam está dando à estrutura lógica o ônus de ser,
de certa forma, responsável pelo sentido da sentença. Assim, reformula o
29
Princípio da Composicionalidade para G:
29
Entende-se por PC "o sentido de uma sentença é a função do sentido de suas partes".
30
Cf. nota nº 12 [SABS], p.157. Diz-se que duas sentenças possuem a mesma estrutura lógica
quando duas ocorrências do mesmo sinal em uma sentença corresponde a ocorrências do mesmo
sinal na outra.
O enigma das atitudes proposicionais 51
revisse suas críticas sobre a lógica modal estrita, o mesmo não poderia ser dito
em relação às AP, conforme constata-se por suas palavras,
(55) Cícero=Tully
e ele continua,
(62) (9 7)
31
Cf. nota nº 2 de Quine [RM], p.20, 1979.
54 Ana Maria Tramunt Ibaños
que é falsa.
(64) (x7)
Está claro que se 'x' for substituído por '9', a afirmação será verdadeira,
mas se for substituído por 'o número de planetas', a condição se torna uma
afirmação falsa, não ocorrendo, portanto, a chamada 'satisfação objetual', isto é, a
noção de um objeto que produz uma condição-de-verdade independentemente de
como ele é especificado.
Se além da conexão entre termos singulares e quantificação modal se
observar a quantificação existencial, como em (65),
32
Sentenças abertas são expressões que são verdadeiras de certos objetos e falsas de outros.
(x) F(x) é verdadeira sse existe pelo menos um objeto no domínio da variável que satisfaz a
sentença aberta F(x). (Linsky[OC], p.100)
O enigma das atitudes proposicionais 55
[1.52] A maneira com que o lógico modal está preso a [65], faz com que
ele se comprometa com uma visão metafísica ("essencialismo
33
aristotélico" , para dar-lhe um nome) de acordo com o qual
propriedades necessárias e contingentes pertencem aos objetos,
não importando o seu modo de especificação, caso sejam, afinal
de contas, especificados. É uma doutrina necessária para dar
sentido a [65] apesar da diferença de valores-de-verdade de [62] e
[63] e a verdade de [61], i.e., ...apesar da semântica clássica
extensional de quantificação. "Evidentemente", diz Quine, "esta
reversão ao essencialismo aristotélico é necessária se se for
34
insistir em quantificação em contextos modais . (Linsky [OC],
p.103-104)
33
Fine [QQI] refuta essa objeção de Quine e a necessidade de um compromisso com o
essencialismo aristotélico. "A objeção, no presente caso, está longe de ser clara. [...]
Considerando-se a aplicação de re da necessidade lógica, o tipo de modalidade com que Quine
está preocupado, pareceria que os seus pressentimentos não têm fundamento". p.7-8. Conforme
Linsky [REM], p.99, Quine rejeita a Lógica Modal porque, para ele, Essencialismo é uma doutrina
metafísica sem sentido.
34
Parsons [EQML] considera que 'essencialismo' sempre pode ser evitado. "Existe uma outra fuga
do paradoxo e uma que evita totalmente o essencialismo. Considere tanto as construções
essencialistas e não-essencialistas de (d) e (e) (onde 'Px' está no lugar de 'x é o número de
planetas')
(d') '(x) (y) (x é nove & y é sete e xy )'
(d") ' (x) (y) (x é nove e y é sete e xy)'
(e') '-(x) (y) (Px & y é sete e xy) '
(e") '- (x) (y) (Px & y é sete & x y)'
Mantendo uma linha não-essencialista, podemos negar (d') e aceitar (d"), (e') e (e"). O "paradoxo"
agora tem duas construções, ambas não-paradoxais. Quando construído com (d') e (e') como
premissas, simplesmente há uma premissa falsa. Por outro lado, quando construído com (d") e
(e") como premissas, nenhuma contradição se segue pela razão familiar e que trocar predicados
contingentemente coextensivos dentro de contextos modais não garante a preservação do valor-
de-verdade". p.82.
56 Ana Maria Tramunt Ibaños
que se referem a 'Ctesias está caçando unicórnios' e 'Ernest está caçando leões',
contrastando com (68),
O enigma das atitudes proposicionais 57
De acordo com (76), Witold tem seu candidato específico; de acordo com
(77), ele apenas deseja que uma forma de governo esteja no poder.
Contudo, essas formulações sugeridas para o sentido relacional, como
em (71) e (76), envolvem quantificar de fora em uma expressão de atitude
proposicional. E isso, para Quine, é um trabalho dúbio, como pode ser visto em
35
seu exemplo, que se tornou clássico de 'Ralph e Ortcutt'.
Se Ralph não sabe que Ortcutt é o homem suspeito de chapéu marrom,
quem ele acredita ser um espião, e sabe que Ortcutt é um homem digno, um dos
pilares da sociedade, então pareceria que se estaria aceitando uma conjunção do
tipo:
como verdadeira, em que ambos os espaços são preenchidos pelo mesmo nome,
pois Ralph prontamente negaria que Bernard Ortcutt é um espião. Para evitar
situações como a de (78), Quine passa, então, a analisar as duas situações em
separado, conforme (79) e (80).
35
Cf. Quine [QPA], p.103.
O enigma das atitudes proposicionais 59
(80) Ralph não acredita que o homem visto na praia seja um espião
que se torna a nova maneira de se dizer que existe alguém de quem Ralph
acredita ser um espião.
Acredita(¹) é assim construído de maneira que se pode acreditar em uma
proposição quando um objeto foi especificado de uma maneira, e não acreditar,
O enigma das atitudes proposicionais 61
que (88),
Para Quine,
[1.56] o tipo de exportação que leva [81] para [82] deveria, sem dúvida,
ser visto em geral como implicação. ([QPA], p.106)
'O homem na praia' não recebe referência em (93) por causa da opacidade
referencial, mas recebe em (94), de onde se conclui, conforme (95) que,
(82) e (95) contam ambos como verdadeiros. Mas para não considerá-los
contraditórios conforme (96),
(97) Ernest luta para que (x) (x é um leão. Ernest encontra o leão)
apresentam objeções da mesma forma que (71). É certo que (97) e (98), no lado
nocional de desejar e lutar para conseguir, são inocentes de qualquer
quantificação ilícita em contextos opacos de fora. Mas os mesmos problemas
começam também a acontecer no lado nocional, na medida em que se tenta dizer
que não somente 'Ernest caça leões' e 'Eu quero um barco' como também
'Alguém caça leões' ou 'Alguém quer um barco', que leva ostensivamente (97) e
(98) para (99) e (100),
Tal quantificação também pode, obviamente, ocorrer com 'acreditar' e com outros
verbos de AP.
Essa solução assim delineada consitui-se num ponto problemático pois,
para Quine, uma análise que nos deixe com uma superpovoação de proposições,
atributos e o resto das intensões não parece das melhores, principalmente, se se
levar em conta que seu princípio de individuação é obscuro. Mas abrir mão das
intensões em favor da extensão também não traz quaisquer vantagens, uma vez
que atributos é que são necessários para a quantificação, não classes como se
pode ver em (103) e (104),
perturba pelo fato de que se deve ser levado pelo conceito de língua. O que é
uma língua? Qual grau de rigidez é suposto? Quando temos uma língua e não
duas? Para Quine, atitudes proposicionais são obscuras e é lamentável que se
tenha que adicionar obscuridade à obscuridade, trazendo à tona variáveis. No
entanto, continua, não se deve supor que qualquer clareza seria ganha com a
restituição das intensões.
O que resulta dessas considerações apresentadas por Quine, contra a
abordagem intensional, é que, de acordo com Linsky [OC], ele falha desde o início
por não apreciar o lado racional por trás do ponto de vista intensional. Os
paradoxos modais levantados por Quine, como o caso do 'número 9 e o número
66 Ana Maria Tramunt Ibaños
(106) (97)
(107) (F(y))
(109) y = x (x)
é ambígua e duas leituras podem ser feitas a partir dela, a saber, a de amplo
escopo como (111) e de escopo estrito como (112).
(115) (Fy)
y = (x) (x)
----------------------
[F (x) (x)] (Smullyan [MD], p.38)
Church [QPAM), por sua vez, considera que o paradoxo de Quine sobre
modalidade e o paradoxo sobre o Rei George V e Sir Scott são exemplos de um
mesmo paradoxo. Por isso mesmo,
[1.62] Uma teoria satisfatória para uma linguagem deve [...] apresentar
uma abordagem explícita das condições-de-verdade de cada
sentença e isto pode ser feito com uma teoria que satisfaça os
critérios de Tarski. ([OST], p.159)
37
Davidson assume que uma teoria da verdade para uma linguagem contendo demonstrativos
deve ser estritamente aplicada a enunciados e não a sentenças, ou será necessário tratar verdade
como uma relação entre sentenças, falantes e tempos. Cf. Truth and Meaning p.319-320.
70 Ana Maria Tramunt Ibaños
E essa mesma abordagem pode ser aplicada para outros verbos de AP.
Assim, o exemplo (116) transformado pelo verbo 'acredita' como em (119),
(120) A (g,isso)
38
Em inglês, Davidson utiliza o substantivo samesayer. Como parece não haver um
correspondente da mesma forma em português, optou-se pela forma 'mesmo enunciador'.
O enigma das atitudes proposicionais 71
[1.65] nenhuma das linguagens que Frege sugere como modelo para as
linguagens naturais, nem as linguagens descritas por Church são
passíveis como teoria no sentido da definição de verdade que se
enquadre nos padrões de Tarski. No caso de Frege, ocorre que
cada expressão referencial pode referir um infinito número de
entidades, dependendo do contexto, e não há regra que dê a
referência em textos mais complexos com base na referência de
contextos mais simples. Nas linguagens de Church, existe um
número infinito de expressões primitivas; isto diretamente bloqueia
a possibilidade de recursivamente caracterizar-se um predicado
verdadeiro de acordo com as exigências de Tarski. ([OST], p.164)
39
Os problemas tratados por Kripke em seu ensaio [NN] ultrapassam o roteiro deste trabalho.
Apenas serão citados aqui, de forma não exaustiva, alguns aspectos de sua teoria necessários
para a compreensão de sua argumentação em A Puzzle About Belief.
O trabalho de Kripke pode ser avaliado, em português, na tese de Costa [SLLN], 1988.
72 Ana Maria Tramunt Ibaños
40
que a teoria de Frege-Russell em termos de nomes próprios, vista como uma
reação à teoria dos nomes de Mill, que considera que os nomes próprios não têm
sentido, está errada. Nomes não possuem o sentido fregeano, argumenta Kripke
e sustenta sua argumentação, apresentando a famosa nota de rodapé do próprio
41
Frege em [SR] sobre Aristóteles . Se os nomes tivessem sentido, este não
poderia ser caracteristicamente expresso pelo tipo de descrições definidas usadas
por Frege.
Para Kripke, parece que o que Frege quer dizer com tal exemplo é que
existe uma espécie de frouxidão ou fraqueza na linguagem natural. Assim, não se
pode impedir que as pessoas atribuam diferentes sentidos ao nome próprio. No
caso de Aristóteles, por exemplo, poderia ser 'O mestre de Alexandre', 'O
discípulo de Platão', 'O Pai da Lógica' etc. Mas tal atitude não é correta, afirma
Kripke, pois,
40
Kripke identifica o trabalho de Frege e de Russell sob um só rótulo. Para ele, em termos do
ponto que vai tratar, as teorias de Frege e Russell sob o nome próprio não diferem de maneira
importante. Em seu apêndice ao capítulo 5 - Note on an Attempted Refutation of Frege de [FPL],
Dummett faz uma defesa de Frege contra Kripke, salientando que "uma vez que se distingue a
teoria do sentido de Frege da teoria das descrições de Russell, vemos que a maior parte da teoria
de Frege não é afetada pela crítica de Kripke." (Dummett[FPL], p.110)
41
Cf. [SR], p.63
O enigma das atitudes proposicionais 73
Kripke, é que pode ocorrer que uma descrição não distinga apenas um único
referente. Suponha o enunciado (122) abaixo,
Seria bem plausível que alguém usasse o nome 'Newton' para referir-se à
descrição acima. Mas, também seria plausível que alguém usasse o nome
'Leibniz' para referir a mesma descrição, pois ambos, Newton e Leibniz,
separadamente, inventaram esses dois cálculos. Seguindo o raciocínio de Kripke,
42
então, uma tese descritivista que se baseia em uma hipótese do tipo em (123)
42
Aqui Kripke trata das chamadas teorias neodescritivistas que seguem os passos trilhados por
Frege e Russell.
43
Mundo possível, para Kripke, não é uma forma de construção de um outro mundo. Considera
mundos possíveis a partir de situações contrafactuais. "Um mundo possível é dado pelas
condições descritivas que nós associamos a ele. O que nós significamos quando nós dizemos 'em
algum mundo possível eu poderia não ter dado esta palestra hoje'? Nós acabamos de imaginar a
situação onde eu decidi não dar esta palestra ou decidi proferi-la em algum outro dia [...]" (Kripke
[NN], p.44)
74 Ana Maria Tramunt Ibaños
Linsky [OC] acredita que uma consequência desta tese é que nomes próprios co-
designativos são intersubstituíveis, salva veritate, em contextos modais.
Considerando, pois, uma das formas do enigma proposto por Quine e
outros de que, através de (124) e (125),
(124) Hesperus=Phosphorus
(125) (Hesperus=Hesperus)
que, apesar de (124), não garante a verdade; pelo contrário, conduz à falsidade
de (128).
44
Kripke discorda do sistema kantiano. Para ele, é possível existirem enunciados necessários a
posteriori (como o que envolve as verdades matemáticas) e contingentes a priori ( como a fixação
da referência mediante uma descrição definida). Cf. Costa [SLLN], p.124-125.
O enigma das atitudes proposicionais 75
[1.69] Obviamente Kripke não irá dizer que [128] é verdadeiro e que
nossa convicção de sua falsidade está baseada na confusão das
modalidades; pois ninguém argumentaria que uma afirmação de
crença (como em [128]) não pode ser verdadeira porque [124] é
uma verdade a posteriori . (Linsky [OC], p.143)
O Enigma é o seguinte:
Suponha que Pierre é um falante nativo de francês, que vive na França, e
não conhece nenhuma outra língua exceto o francês. Ele, obviamente, ouviu falar
daquela cidade distante, London, que ele chama de Londres. Com base no que
ouviu dessa cidade, ele é inclinado a dizer em francês (129),
45
Geach introduziu este termo baseado nas linhas de Shakespeare: "uma rosa, mesmo com
qualquer outro nome, ainda cheiraria tão doce". Isto é, será que os nomes próprios correferenciais
são um válido modo de inferência e, por conseguinte, a substituibilidade é admitida?
76 Ana Maria Tramunt Ibaños
46
Para discussão completa das quatro possibilidades, cf. Kripke [PAB], p.121-122.
O enigma das atitudes proposicionais 77
Ele não apresenta uma solução para o paradoxo. De acordo com Salmon
& Soames (1988), o que ele deseja demonstrar é que as dificuldades que
envolvem o uso ordinário dos nomes próprios ao especificarem a crença de
alguém surgem quando tais nomes são tratados como logicamente próprios,
quando são vistos como essencialmente descritivos ou quando não se toma
qualquer decisão explícita sobre seu conteúdo.
[1.72] Na realidade, ele [Kripke] mostra que tais dificuldades podem ser
geradas independentemente dos princípios padrões de
substituibilidade. (Salmon & Soames [I], p.8)
Kripke argumenta que se pode derivar uma contradição, não somente dos
julgamentos de Pierre, como de quem os analisa.
Ele se pergunta, então, que conclusões podem ser tiradas de seu artigo.
Em primeiro lugar, que o enigma é um enigma e que a teoria das crenças deve
aprender a lidar com ele. Em segundo lugar, que o enigma sobre Pierre serve
como um contraexemplo (ou pelo menos serve para não garantir) àqueles que
defendem que os contextos de crença não são shakesperianos, isto é, nomes
próprios co-designativos não são intercambiáveis nesses contextos salva veritate.
47
Inúmeros outros trabalhos poderiam ser aqui citados que corroboram ou refutam, de alguma
forma, a abordagem kripkiana. Como não é objetivo deste trabalho fazer uma análise exaustiva do
trabalho de Kripke e, sim, apenas traçar a via principal de acesso ao caminho teórico das AP, tais
trabalhos não serão detalhados.
80 Ana Maria Tramunt Ibaños
a sabe/acredita/lembra/espera que p
e
a sabe/acredita/lembra/espera que q
48
Hintikka esclarece que pode haver AP que não se enquadrem nessa divisão. Mas, para ele, "Se
realmente existem tais AP recalcitrantes, ficarei feliz em restringir o escopo do meu tratamento de
maneira a excluí-las. Ainda restarão noções extremamente importantes dentro do meu método."
(Hintikka [SFPA], p.150)
O enigma das atitudes proposicionais 81
Ele deseja provar que a semântica dos mundos possíveis lida tão
satisfatoriamente com modalidades aléticas que é natural supor que a mesma
abordagem para atitudes proposicionais será bem sucedida, em razão das
analogias sintáticas e semânticas muito próximas entre elas. E é por essa razão
49
Sobre esse assunto, cf. [SFPA], p. 155-156 onde Hintikka trabalha com os problemas
levantados por Quine sobre quantificação.
O enigma das atitudes proposicionais 83
que ele inclui a sua abordagem dentro da lógica doxástica. Essas intuições, de
acordo com Linsky [OC], levam aos seguintes princípios
K. "a não sabe (acredita) que p, se, e somente se, em algum mundo
epistemicamente (doxasticamente) possível compatível com o que a sabe
(acredita) não é o caso que p"
(LinsKy [OC],p.84)
Por fim, cabe uma última palavra a respeito de teorias que abordam o
problema das AP com uma visão cognitiva. Fodor e Jackendoff serão os
representantes dessa corrente apresentada em 1.3.
[1.81] Como uma primeira explicação, pensar 'vai chover, portanto vou
entrar' é ter um tokening de representação mental que significa
'vou entrar' causada, de certa forma, por um tokening de
representação mental que significa 'vai chover'. ([PSY], p.17)
50
'caixas de crença' é uma maneira "taquigráfica" de se apresentar atitudes como estados
funcionais. Esta ideia se deve à Schiffer (1981).
O enigma das atitudes proposicionais 85
isso, no sentido de que uma teoria das AP tem que explicar porque sentenças de
crença normalmente não mantêm as mesmas condições-de-verdade quando há
substituição de idênticos, enquanto que sentenças declarativas de
posicionamento livre mantêm. Fodor defende a posição de que a opacidade deve
ser explicada, mas não seguindo os preceitos da condição de Frege;
No sentido de que uma teoria das AP deve dizer o que são tokens de AP ou, pelo
menos, quais são os fatos que tornam as atribuições de AP verdadeira.
Fodor não apresenta especificamente uma teoria das AP nem tampouco
se detém em exemplificações; preocupa-se, isto sim, em estabelecer os
fundamentos necessários para que AP possam ser coerentemente tratadas. Em
sua opinião,
[1.84] ter uma certa atitude proposicional é estar em uma certa relação
com uma representação interna. Isto é, para cada uma das
atitudes proposicionais que um organismo pode formular, existe
uma representação interna e uma relação tal que estar nessa
relação para com uma representação é nomologicamente
necessária e suficiente (ou nomologicamente idêntica) para se ter
a atitude proposiconal. ([TLT], p.198)
51
cf. Fodor [R], p.201.
O enigma das atitudes proposicionais 87
52
Veículo é um símbolo; um token espácio-temporal particular que tem propriedades sintáticas e
semânticas e um papel causal.
88 Ana Maria Tramunt Ibaños
o que ocorre com exemplos comparativos como esses é que o sintagma ligado
pelo quantificador é sintaticamente um sintagma de grau, que não é normalmente
tratado como uma posição ligável. Consequentemente, em vez de (137) e (138),
que já violam a sintaxe da sentença que devem expressar, com frequência se vê
um tratamento como (139), que viola ainda mais a restrição gramatical:
(139) x ((x= o grau no qual Tully é gago) e (Ralph acredita que (Tully
não é gago como o grau x))
(140) Ralph acredita (de fato) que o átomo do carbono contém dois
elétrons na esfera exterior
a leitura opaca de (141) pode ser verdadeira e de (140) pode ser falsa (omitindo-
se o modificador). Contudo, (140) e (141) possuem o mesmo valor-de-verdade em
leituras transparentes.
Segundo Jackendoff, evidências como essas são várias e contribuem
para se negar tratamentos em termos de escopo; e, mais ainda, para se ter uma
abordagem que, realmente, dê conta das AP, deve-se, em primeiro lugar, deixar
escrúpulos ontológicos de lado. Ele reconhece que Frege estava correto ao
afirmar que a referência de sentenças em contextos de crença não é a sua
referência ordinária, mas não concorda que essa referência anormal deva ser o
sentido. Portanto, Jackendoff se propõe a apresentar um tratamento distante de
preocupações ontológicas e filosóficas. Para ele, o importante é uma abordagem
O enigma das atitudes proposicionais 89
(143) Ralph acredita que (x ((x= seu tio falecido) e (x está vivo)
Tudo isso para tentar mostrar, de maneira informalmente esclarecedora, por que
ele considera a abordagem de Significados Estruturados a solução formalmente
viável e adequada para o problema em questão.
Considerando 1 essencial para o desenvolvimento da proposta
cresswelliana, será através da análise de como ele adota a semântica das
condições-de-verdade, o conceito de mundos possíveis, o sistema de intensões e
a linguagem categorial que este capítulo de imediato se inicia.
53
Embora existam outras teorias semânticas que não adotam essa noção de significado vinculada
às condições-de-verdade, Lewis ([GS], p.1) considera que uma semântica sem o tratamento das
condições-de-verdade não é semântica.
94 Ana Maria Tramunt Ibaños
54
'Mundo' simplesmente refere um complexo de coisas e situações sobre as quais a sentença
pode falar.
55
Cf. nota 23, p.17 de [LL].
56
Entenda-se 'intepretação' para uma linguagem proposicional L como um par ordenado P,V
em que P é um conjunto e V uma função, de maneira que: se o então V ( ) P
se n então V ( ) Ppn
O enigma das atitudes proposicionais 95
É provável que uma definição dessa natureza sofra críticas por ser muito
geral. Cresswell argumenta, no entanto, que deseja apresentar um quadro teórico
semântico que seja o suficientemente amplo para fornecer qualquer atribuição
possível de significados para quaisquer símbolos em uma linguagem
proposicional.
(2) Se Júlio César não tivesse casado com Cleópatra, o Senado o teria
apoiado
É possível dizer que, embora no mundo real de (2) Júlio César tenha
casado com Cleópatra e o Senado tenha deixado de apoiá-lo, poderia ter ocorrido
uma instanciação contrafactual em que realmente ele não tivesse esposado
Cleópatra e o Senado não tivesse planejado a sua morte. Esse modo diferente de
o mundo ser é o que caracteriza, de acordo com a noção clássica de Leibniz, a
intuição de mundos possíveis.
96 Ana Maria Tramunt Ibaños
57
Cf. Cresswell [LL], p.37.
58
De acordo com Cresswell, "Ao dizer que estou tomando partido em favor do fisicalismo, eu
quero dizer, obviamente, o que Fodor (1975, p.12) chama de token physicalism”. (Cresswell
[SMSPA], p.163)
59
Atomísticas, de acordo com Cresswell, em termos do papel que possuem na análise linguística.
"Nisso, eles [MP] são como as partículas últimas da física" ([LL], p.38) Atomísticas, mas entidades
linguísticas cf. descrições de estados carnapianos ([MN], p.9).
60
Em essência, a maneira como Cresswell define MP em termos de pontos espácio-temporais
também foi aplicada por Quine ao tratar de atitudes de organismos que não apresentam a
linguagem natural (1969).
O enigma das atitudes proposicionais 97
61
acomodada dentro da semântica dos mundos possíveis que Cresswell em
[SMSPA], guardados os princípios apresentados em [LL], refaz o caminho que
leva a essa sua definição.
62
Apesar de descomprometer-se com questões ontológicas sobre o
significado, assume que expressões significam e que, portanto, é necessário que
alguma análise seja feita em relação a isso. Considera, portanto, que os
significados formam um sistema funcionalmente composicional e são sentidos
complexos construídos de partes simples. E essas partes nada mais são do que
funções (daí o termo funcionalmente composicional) que, dependendo da maneira
como são combinadas, permitirão a obtenção de um sentido e de uma referência.
Dado que, como visto até aqui, a concepção de MP para Cresswell
permitirá captar relações de significado e que estes encontram-se em uma
relação de funções, parece, dessa forma, que um bom modo de se explicar a
noção de mundos possíveis é iniciar pela explicação do que significa função. E
como já foi salientado anteriormente que Cresswell opta por uma linguagem
aritmética para explicar a sua abordagem das AP, da mesma forma, ele faz para
explicar o que é função.
Funções são um tipo especial de entidade da teoria dos conjuntos, afirma
Cresswell e é importante especificá-las porque
61
Segundo Thomason ([I], p.43-44), a noção de mundo possível surgiu naturalmente das reflexões
sobre os problemas enfrentados pela semântica extensional ao tratar de questões como a
determinação do significado em termos singulares (vide exemplos de "Scott' e "O autor de
Waverly"), de verbos de um lugar ("é Scott", ”é o autor de Waverly") e dos significados das
sentenças serem tratados como valores-de-verdade, pois implicaria que pelo menos duas de cada
três sentenças teriam o mesmo significado.
"A semântica dos mundos possíveis [...] lida não somente com as denotações que as expressões
tomam em um mundo designado como "mundo real" mas com regras que governam suas
denotações em todos os mundos possíveis".
62
"Alguém poderia sustentar que a questão é se, em algum sentido, significados existem, e se
existem, de que maneira o fazem. Estas não serão meus questionamentos, se é que eles têm
algum sentido" (Cresswell [SMSPA], p.9)
98 Ana Maria Tramunt Ibaños
Segundo Cresswell,
[2.7] O que faz uma coleção de pares ordenados uma função é que,
para cada membro de um par na função, existe um segundo
membro; isto é, ambos n,m e n,m' ocorrem na função. Então,
m=m'. Isto é de tal maneira que podemos falar do valor da função
63
para aquele argumento. (Cresswell [SMSPA], p. 61-62)
(b) Dada uma segunda função como '+' que opera sobre dois argumentos.
+ é um conjunto, não de pares, como no caso da função sucessora, mas de
triplas. n,m,k está em + sse k é a soma de 'n' e 'm'. O domínio de '+' é o
conjunto de todos os pares de números. A exigência da funcionalidade aqui é de
que para qualquer par de números exista exatamente um número que é a sua
soma.
63
Talvez uma maneira mais simples de se demonstrar a noção de função é com a expressão 'mãe
de'. Para cada ser humano x, existe exatamente um ser humano y que é a mãe (biológica) de x.
Portanto, se y é a mãe de x e z é mãe de x, y e z são a mesma. Mas por outro lado, diferentes
pessoas podem ter a mesma mãe. Portanto, não há restrições que evitem que m,n e m', n
estejam ambos em uma mesma função. (Cf. Cresswell [SMSPA], p.62)
O enigma das atitudes proposicionais 99
64
Cresswell chama a atenção para o fato de que ele toma partido de uma concepção realista de
verdade, mesmo que ela seja relativizada aos mundos possíveis. (Cf. Cresswell [SMSPA], p.163)
100 Ana Maria Tramunt Ibaños
(a) a função não pode ser confundida com o mecanismo, pois ela é o
conteúdo que é computado pelo mecanismo;
(3) F(a,w) = V
passa-se para (4)
66
(6) Ctésias está caçando cavalos alados
67
O conceito de intensão na linguagem filosófica é atribuído por Kneale & Kneale (1962) a Sir
William Hamilton, na metade do séc. XIX, como um substituto do termo 'compreensão' usado
pelos lógicos de Port Royal (1662), em oposição ao termo 'extensão'.
68
"Esses estados de conhecimento são ordenados temporalmente, presumindo uma ordem parcial
que representa os diferentes modos alternativos nos quais gradualmente adquirimos e
entendemos nossos conhecimento e informação. [...] uma sentença que é verdadeira em um certo
estado de informação será sempre verdadeira em estágios posteriores, uma vez que, ao termos
verificado uma afirmação, nunca perdemos aquela informação". (cf. Partee, Meulen, & Wall [MML],
p.306-307)
104 Ana Maria Tramunt Ibaños
69
[2.13] A distinção intensão/extensão deve ser contrastada com a
distinção sentido/referência [...]. Da maneira que eu estou usando
esses termos, a distinção intensão/extensão está sendo feita
dentro do reino da referência. De fato, eu quero argumentar que a
referência de qualquer expressão lingüística é justo uma intensão
(na verdade, terei pouco a dizer sobre extensões) e com isso eu
quero significar justamente algo que é um membro de algum D.
(Cresswell [SMSPA], p.70)
Poder-se-ia dizer que dois são os motivos que levam Cresswell a adotar
um sistema de intensões. O primeiro, como foi visto em 2.2.2, está na
necessidade de se adotar uma semântica dos MP – que obviamente necessita de
um sistema de intensões para se chegar à referência do significado – para a
solução das questões de atitudes proposicionais. O outro motivo está no fato de
que esta noção é central para o princípio da composicionalidade. Seria até
mesmo possível dizer que a noção de intensionalidade evita que esse princípio
naufrague no perigoso mar da extensionalidade: se a referência de uma
expressão é apenas extensional, o significado do todo não dependerá das
extensões dos complementos do verbo principal. Assim, sentenças como (7) e (8)
69
Cresswell aponta que outros autores adotaram terminologias diferentes. Montague, por
exemplo, usa a distinção sentido/referência mais ou menos da mesma maneira que Cresswell
utiliza intensão/extensão. Contudo, considerando a intenção original de Frege, Cresswell acredita
que há razões para se ir para ambos os caminhos (o de Montague e o dele). Portanto, não
existem discussões sobre qual terminologia é a mais correta. Mas, ressalta, para o problema das
AP, as duas distinções são obviamente necessárias e a terminologia de Frege parece conveniente
para se opor à distinção intensão/extensão.
O enigma das atitudes proposicionais 105
(9) (a = b ) [ b/a ].
Mas, como se sabe, acreditar em (7) não é o mesmo que acreditar em (8). Verbos
da AP não denotam relações entre entidades e valores-de-verdade e sim entre
entidades e intensões das sentenças. Dessa forma, para se resguardar o princípio
da composicionalidade, poder-se-ia redefini-lo como o chamado princípio da
composicionalidade intensional, a saber: a intensão de uma expressão complexa
é uma função das intensões de suas partes.
A maneira como Cresswell apresenta essa sua argumentação a favor do
sistema intensional é muito simples e pode ser resumida como se segue:
Considerando-se a intensão de um predicado como uma função de
70
coisas para conjuntos de MP, suponha que uma função represente o
predicado 'é P'. Para qualquer no domínio de (isto é, qualquer a para o qual P
é significativo) qualquer mundo w ou será membro de (a) ou não será. Em
outras palavras, de acordo com Cresswell, haverá um conjunto de todos os a que
satisfazem o predicado P no mundo w, e este conjunto é a extensão do predicado
P no mundo w. E a intensão de P será aquilo que, em cada mundo, determina a
sua extensão. Isto é exatamente o que faz: a extensão de P em w será {a:w
(a)}. O predicado P tem, então, uma intensão que, no caso de predicado simples,
será o próprio significado.
70
Ao assumir que qualquer coisa é uma coisa, Cresswell reconhece estar sendo
desavergonhadamente platonista. Embora muitos filósofos acreditem que quanto menos entidades
uma ontologia admite melhor, Cresswell defende que admitir o tudo é o caminho para se lidar com
a semântica da linguagem natural. "Prefiro considerar o platonismo inocente até prova em
contrário, mas com uma importante qualificação: quero saber como as entidades que eu assumo
se comportam e que estruturas elas possuem". (Cresswell [SMSPA], p.164)
106 Ana Maria Tramunt Ibaños
71
da gramática de Montague , e ele ilustra seu ponto de vista através de exemplos
com conetivos veritativo-funcionais como 'e' e 'não'.
Dado que D0 refere p conjunto de todos os conjuntos de MP, uma vez
que 0 é a categoria semântica das proposições, se 'não' opera sobre uma
proposição para formar outra, e 'e' opera sobre duas para formar uma terceira,
então:
intensão, ela se torna disponível como argumento de uma intensão de nível mais
alto. Conhecer uma intensão envolve ter a habilidade de se testar o valor da
intensão para uma variedade de argumentos. (cf. [SMSPA], p.72)
Embora algumas abordagens – que consideram a referência da sentença
somente como uma proposição ou uma situação – pretendam resolver a questão
das AP sem a utilização de MP (a não ser derivacionalmente), Cresswell
argumenta que a sua abordagem cumpre seu papel muito bem e que
trata-se, pois, não de uma gramática de estrutura frasal, e sim de uma gramática
de dependência ou valência. Valência, no sentido de que existem apenas duas
categorias atômicas – Nome e Sentença – sendo todas as outras unidades
linguísticas incompletas, isto é, insaturadas que necessitam de outras expressões
para completá-las.
73
Princípio que será tratado ainda neste capítulo.
74
Cf. Bach, 1987.
O enigma das atitudes proposicionais 109
75
Cf. Steedman [CG], p.221
110 Ana Maria Tramunt Ibaños
categorias. Um verbo que possa ser tanto transitivo quanto intransitivo pertencerá,
portanto, a duas categorias: (S\N)/N para transitivo, e S\N para intransitivo.
76
Partee ([C], p.281) considera que o Princípio de Frege, em sua forma geral, é quase
incontroverso. Mas o princípio somente pode se tornar preciso em conjunto com uma teoria do
significado e da sintaxe, aliado a uma especificação completa do que é exigido pela relação 'é
função de'. Cresswell, por sua vez, ressalta que não é de seu interesse discutir as posições sobre
sintaxe-semântica. Apenas assume uma posição, em conformidade com Lewis ([GS], 1972) de
que a função de regras sintáticas semanticamente sensíveis barrariam como [expressões] mal-
formadas em termos semânticos aquelas expressões geradas somente por regras sintáticas. (Cf.
[SMSPA], p.139)
77
Importante salientar, conforme Partee ([C], p.282), que o Princípio da Composicionalidade é
extremamente dependente de uma teoria. Por essa razão, poder-se-ia dizer que existem várias
versões do princípio em conformidade com as diferentes teorias.
112 Ana Maria Tramunt Ibaños
78
Cresswell considera que as linguagens categoriais satisfazem o Princípio de Frege, tão
importante para as teorias do significado. O significado de uma expressão em uma linguagem
categorial é, obviamente, seu valor sob alguma atribuição particular. Todas as atribuições
satisfazem o princípio de que o significado de qualquer expressão complexa é determinado pelo
significado de suas partes. Outra questão que pode ser abordada pelas linguagens categoriais,
segundo Cresswell, é o fato de que ambiguidades de escopo não surgem com elas. Da maneira
que as linguagens categoriais são estruturadas, essas ambiguidades não se sustentam, uma vez
que as classes de símbolos em diferentes categorias sintáticas são disjuntas (i.e., nenhum
símbolo apresenta mais de uma análise gramatical). Além disso, o escopo de cada funtor é fixo,
de forma que não se pode ter uma ambiguidade nas expressões nas quais o funtor está operando.
(Cf. Cresswell [LL], p.75-77)
O enigma das atitudes proposicionais 113
I.
(0/00)
0 0
(0/1) 1 (0/0) 0
(0/1) 1
[2.22] [...] irei propor a teoria das atitudes proposicionais [...] usando um
framework com o qual já trabalhei extensivamente, isto é, a
linguagem categorial [...] que parece possuir tanto poder quanto
as gramáticas transformacionais, sendo, conseqüentemente,
altamente provável que a formalização a ser oferecida possa ser
razoavelmente traduzida em qualquer framework semântico da
teoria dos modelos e das condições-de-verdade. (Cresswell
[SMSPA], p.95)
O enigma das atitudes proposicionais 115
significados de (significados esses que nada mais são do que intensões), sendo
que essa ideia de função pode ser aplicada a estruturas cada vez mais
complexas.
O sistema de intensões usadas na interpretação de uma linguagem
categorial é representado por uma função D que atribui a cada categoria
sintática um domínio de coisas que podem ser os significados das expressões
na categoria . E a correlação entre os significados de D e as expressões de F
(isto é, o sistema F de símbolos da categoria ) pode ser executada por uma
função V, cujos valores são intensões, de tal forma que onde F então V()
D.
O descrito acima não esgota o papel do operador na formação de
estruturas cada vez mais complexas, mas serve para ilustrar como trabalha essa
linguagem categorial , para os interesses de Cresswell, que exemplifica tal
79
linguagem através da semântica do 'que' , conforme apresentado a seguir:
Suponha 'que0', a saber o 'que' pertencente à categoria (1/0), cuja
semântica é a função de identidade, isto é, V(que0) é a função em D(1/0), de tal
forma que a D0 , (a) = a . Em outras palavras, conforme (17),
(18) Cícero,discursa
Esse 'que' leva a uma proposição. Mas suponha que o 'que' seja sensível
não apenas à intensão do todo, e sim, às intensões das partes, separadamente.
Nesse caso, 'que' estará na categoria (1/(0/1)1), isto é, produzirá um nome de um
predicado e de um nome e a simbolização será 'que (0/1)1)' podendo ser usada
para formar (19),
79
Cresswell opta por este tipo de exemplificação com o 'que', uma vez que, em suas próprias
palavras, "[...] a discussão sobre sentenças-que [...] estará integrada em um framework de amplo
alcance para a semântica de toda uma linguagem." ([SMSPA], p.98)
O enigma das atitudes proposicionais 117
[2.23] [...] onde 1,...,n são quaisquer categorias sintáticas, então que
((0/1,...,n)1 ,...,n ) está na categoria (1/(0/1,...,n) 1,...,n ) e
onde a1,...an são categorias em D1,...,Dn, respectivamente, e
está em D (0/1,...,n), então V(que ((0/1 ,...,n) 1,...,n)) (,a1
,...,an) = , a1,...,an.
A idéia é que qualquer 'que' opera separadamente em expressões
que, por elas próprias, podem combinar-se para construirem uma
sentença, delas formando um nome da seqüência que consiste
dos significados das partes separadas. (Cresswell [SMSPA],
p.102-103)
(20) ‘5+4=9’
Cresswell desenvolve o seu ponto de vista teórico que acrescenta à ideia de que
a teoria do significado deve ser composicional, o fato de que ela deve ser
funcionalmente composicional. Embora tenha se valido de uma expressão
aritmética tão simples, os princípios que a ela subjazem são aplicados a todas as
operações necessárias para as suas explicações, a saber:
(a) é logicamente possível que alguém erre uma soma como a (20).
80
Ao apresentar no capítulo 6 de seu livro as razões por que considera que significados não são
representações mentais, como defendido por cognitivistas (Cf. Fodor [MR],1981), Cresswell
apresenta o seguinte exemplo: (1) 'Fodor acredita que os significados estão na cabeça'. "Se os
significados são representações internas, como isto irá ajudar na semântica de (1)? Suponha que
eu (Cresswell) tenha enunciado (1). (1) é minha sentença. Portanto, os significados dela e de suas
partes são representações em minha cabeça. Isto significa que ao enunciar (1) eu digo para você
o que Fodor acredita, então o objeto da crença de Fodor está em minha cabeça. Mas isto é
obscuro." O que acontece aqui é uma confusão entre objeto e conteúdo, entre a posição do
acreditador e a do enunciador.
O enigma das atitudes proposicionais 119
81
De acordo com Cresswell, dizer que composicionalidade deve ser funcional não significa que a
referência tem que ser tão simples como é no caso aritmético, mas reafirma que utiliza a
linguagem aritmética porque, nesse caso, a noção de referência parece ser razoavelmente clara,
ajudando na apresentação de seu trabalho. (Cf. [SMSPA], p.28)
120 Ana Maria Tramunt Ibaños
No exemplo (21), parece não haver dúvidas de que o que se deseja dizer
é que 9 livros foram escritos por Eratóstenes, enquanto que no exemplo (22)
parece, também, que a expressão 'V+IV', quaisquer que sejam as suas
O enigma das atitudes proposicionais 121
em termos de 'acredita' mais 'o todo'. Ela deve ser vista em termos de suas
partes, isto é, '5', '+', '4', '=', '9' que formarão o sentido. Em última análise,
'acredita' não é uma relação entre o acreditador e uma referência, mas sim entre
o acreditador e o seu sentido (cf. Ibaños [SMPCAP], p.34).
82
Apesar de seguir uma linha fregeana, Cresswell reconhece que na Teoria de Frege não há
identificação do sentido com a estrutura, como ele pretende, mas tal identificação torna plausível a
ligação com a abordagem de re para as AP. (Cf. Cresswell [SMSPA] capítulo 3)
O enigma das atitudes proposicionais 123
O problema que surge em (25) é que não está claro quais são os
indivíduos concernentes à crença de George IV. Pode ser o caso que George IV
esteja enganado sobre a identidade ou nacionalidade dos poetas. Suponha, por
exemplo, que George IV tenha confundido Scott com John Clare e erroneamente
acredita que Scott seja inglês em vez de John Clare. Suponha, também, que
124 Ana Maria Tramunt Ibaños
(26) Vossa magestade acha que todos os poetas ingleses são loucos?
(27) George IV acredita de todos os poetas ingleses que eles são loucos
[2.30] [...] parece, pelo menos logicamente, que [30] poderia ser falsa
enquanto que [32] é verdadeira.
Isto não é, realmente, um problema sobre números, nem
tampouco um problema sobre a natureza das proposições. É uma
manifestação particular de um problema geral de identidade em
sentenças sobre atitudes proposicionais [...] que a semântica de re
soluciona. (Cresswell [SMSPA], p.18-19)
126 Ana Maria Tramunt Ibaños
(34) Marco Aurélio acredita que o grande código gravado em pedra corre
mais o risco de ser quebrado do que incendiado,
mas Marco Aurélio está sob a impressão de que o mais importante código da
antiguidade está escrito em papel, corretamente ele assume, então, que este
código corre mais o risco de queimar do que quebrar. Consequentemente, é falsa
a sentença (35),
embora pareça plausível que ela seja obtida de (34) pelo Princípio da
Substituibilidade da Idênticos. Da mesma forma, se se diz que
mais uma vez está ocorrendo um exemplo em que, embora (38) pudesse falsear
(37), é possível admitir-se que (36) e (37) ocorram sem haver uma contradição
por parte de Hamurabi.
Para Cresswell, normalmente se diz que a falha de tais inferências implica
que a substituibilidade de idênticos não se mantém em contextos de AP. Mas
embora talvez se pudesse pensar que o caso de Marco Aurélio é semelhante ao
exemplificado em (29) – (32), se for feito um exame meticuloso, será possível
observar que existe uma diferença importante. A crença de Eratóstenes sobre
'5+4=9' não é uma crença sobre diferentes números, enquanto que a crença de
Marco Aurélio é sobre um código diferente do que o código expresso em pedra
(de Hamurabi, para ser mais preciso). Sua crença é, portanto, sobre um código
83
que ele pensa ser o mais importante, mas que não é o mais importante .
Ele afirma que não tem muito o que dizer sobre como analisar esta
questão,
83
Entenda-se aqui que não está em jogo uma discussão histórica sobre a importância de um
código em detrimento de outro. Trata-se, apenas, de um exemplo.
128 Ana Maria Tramunt Ibaños
[2.33] O problema é que ele [Ralph] não está ciente do res ao qual ele
está atribuindo a propriedade. Em outras palavras, ele não está
ciente de propriedades importantes que o res possui, isto é, que o
res visto em uma ocasião é o mesmo que o res visto na outra
ocasião. (Cresswell [SMSPA], p.21)
Nestas duas análises, obviamente, o que está entre parênteses não faz
parte das mesmas; serve apenas como um meio de se exemplificar um modo de
se reconhecer Ortcutt para as diferentes crenças de Ralph. O essencial é que
ambas dividem a crença em termos de ser Ortcutt e desse ser ou não espião.
Considerando a análise acima, pode-se dizer que existe uma ligação
84
entre a crença de re e os exemplos envolvendo cálculos aritméticos aqui
considerados, que, claramente, de acordo com Cresswell, mostraram privilegiar
uma abordagem de re em vez de uma abordagem de dicto ou proposicional.
O segundo tipo de atitude trabalhada pelo autor para a verificação de sua
teoria das AP são as chamadas Atitudes de Expressione e Citacionais, que
passam agora a ser analisadas.
Cresswell inicia o seu trabalho sobre atitudes de expressione e citacionais
avaliando a solução popular para o problema das AP que consiste em,
simplesmente, dizer que elas envolvem atitudes para com a sentença, e que,
nessa visão, a referência à estrutura já está automaticamente incluída por causa
da estrutura da sentença-complemento. Além disso, o verbo de atitude para o
qual esta abordagem é mais plausível parece ser o verbo 'dizer'.
Assim, considerando os exemplos abaixo,
84
Cresswell não esgota as discussões sobre crenças de re; por exemplo, em termos de indexicais,
John Perry ([PEI], 1979) faz uma abordagem bem diferenciada da apresentada por ele.
O enigma das atitudes proposicionais 129
85
(39) Marco Aurélio diz 'os romanos são bravos'
à primeira vista, seria plausível dizer que (39) serviria como uma explicação para
(40). No entanto, argumenta Cresswell, a razão pela qual essa análise não
funcionará é que (40) não afirma que (41) é a sentença enunciada por Marco
Aurélio; ele bem que poderia ter enunciado (42), por exemplo. Parece, portanto,
razoável admitir-se que em (40) o verbo 'dizer' não possui a mesma acepção
proposta em (39), visto que (40) poderia ser considerada verdadeira, memo que
Marco Aurélio tivesse enunciado (42). Isso pode ser comprovado com a paráfrase
em (43):
(43) Marco Aurélio enunciou uma sentença sinônima a 'os romanos são
86
bravos' .
O problema que surge com esta análise é que, para ela ser válida, é
necessário que se aceite uma certa ambiguidade do verbo 'dizer'. Caso essa
ambiguidade seja aceita, incorrerá numa contradição do pressuposto de que, nas
sentenças de AP, a ambiguidade não está no verbo mas, sim, na 'oração-que'.
[2.34] [...] isto tem a conseqüência de que onde 'dizer' significa 'enunciar
uma sentença sinônima de', existem tantos diferentes significados
de 'dizer' quanto os níveis de sensibilidade à estrutura. Isto
diretamente contradiz a exigência de que a ambigüidade não
esteja localizada no verbo de atitude. (Cresswell [SMSPA], p. 42)
85
Neste tipo de exemplo, Cresswell não está levando em consideração aspectos como a intenção
de comunicar ou o nível de entendimento necessário para se enunciar algo.
86
Creeswell ressalta que sua crítica à abordagem da análise citacional (cf. Cresswell [QTPA],
1980) é, em essência, um refinamento do argumento de Church ([OCASAB], 1950) sobre a
tradução. Mas no presente trabalho, Cresswell restringe-se em mostrar que, se se está
trabalhando com uma semântica que procede atribuindo significados a expressões, então, a
abordagem de sinonímia para as AP somente funcionaria se já houvesse uma semântica
adequada para cada atitude em termos da relação entre pessoas e significados. (cf. [SMSPA], p.
148)
130 Ana Maria Tramunt Ibaños
(44) Existe uma sentença na linguagem L2,V2 de tal maneira que Marco
Aurélio está usando L 2,V2e enuncia e V2 () = V1 (os romanos são
bravos) (Cf. Cresswell [SMASPA], p.43)
V1 deve ser entendida como a linguagem na qual (40) está sendo relatada
e que não é, necessariamente, a mesma linguagem L2 ,V2 que Marco Aurélio
está usando. Disso se conclui que em (44) considera-se Marco Aurélio como
tendo uma relação com um significado e somente derivacionalmente com uma
sentença. Assim, se 'm' for considerado o significado, qualquer que ele seja de 'os
romanos são bravos' em L1, V 1, então, (44) poderá ser reescrita como (45),
(45) Existe uma sentença em uma linguagem L2 ,V2 tal que Marco
Aurélio está usando L2 ,V2 e enuncia em V2 e V2 ( )=m.
(46) Catulo disse que Cícero foi ga-ga-gago des-desde cri- cri-ança-ça
87
Segundo Cresswell, em termos russellianos, não há nenhum problema em particular sobre
enunciados de identidade quando descrições estão envolvidas. O que tem sido mais problemático
na literatura recente é o caso em que nomes estão envolvidos. Deve-se primordialmente a Kripke
(1972,1979) o fato de que o problema que apareceu no trabalho de Frege – e no trabalho de
muitos autores subsequentes – como o problema da 'estrela de manhã e da estrela da tarde' tenha
se tornado o problema de 'Hesperus e Phosphorus'. Cresswell salienta que no seu estudo das AP
não tem como objetivo discutir a teoria causal. No entanto, em termos dos tipo de atitudes que
estuda, o seu interesse na teoria causal resume-se ao fato de que o significado de um nome é
apenas o seu referente (aquele que o carrega). (Cf. [SMSPA], p. 149-150)
88
Assumir que (47) não é citacional seria assumir a possibilidade de (47) = (50). De acordo com
Cresswell, "Alguns autores assumiram a linha dura neste ponto e disseram que (47) e (50) são
sinônimas. Para tais autores, o problema que estou discutindo não surge [...]. Contudo, para
muitos autores, e eu me incluo nesses, parece que (47) pode ser usado como o relato de uma
situação [...] Eu procederei na suposição de que (47) tem um significado diferente de (50)"
(Cresswell [SMSPA], p.44-45). Entre os autores de linha dura, Cresswell cita Tye (1978), que
argumenta que saber que Hesperus é Hesperus é justamente o sinônimo de saber que Hesperus
é Phosphorus. ( Cf. [SMSPA], p. 150)
O enigma das atitudes proposicionais 133
(50). Ao mesmo tempo, ele não nega que (47) pode apresentar um significado
que seja sinônimo ao de (50), e isso acontece porque sentenças como (47) são
ambíguas.
[2.37] [...] Eu não neguei que [47] pode também ter um significado que
seja sinônimo a [50]. Na verdade, eu penso que muito do que foi
dito sobre nomes está no fato de que sentenças como [47] são
ambíguas. (Cresswell [SMSPA], p. 45)
(47) parece, pois, também ser um caso misto como (46). A maneira de
analisá-la é construir Hamurabi dando uma informação para Nabuco, por
89
exemplo, sobre o uso dos nomes 'Vênus' e 'Hesperus' . (47) transforma-se,
então, em (51),
(51) Hamurabi diz de Hesperus que 'Vênus' e 'Hesperus' são nomes para
Hesperus
89
Cresswell salienta que (47) não exibe uma relação de informação sobre o uso linguístico; "[...] é
conhecimento de astronomia que falta, não conhecimento de convenção lingüística. Eu não penso
que (47) deva ser tomada como relatando uma falha de conhecimento lingüístico." (Cresswell
[SMSPA], p. 45)
134 Ana Maria Tramunt Ibaños
Atitudes iteradas são sentenças do tipo 'A acredita que B acredita que '
em que existem no mínimo dois verbos de atitude proposicional (não
necessariamente distintos), duas 'sentenças-que', sendo uma encaixada na
sentença-complemento da outra, conforme (52).
90
(52) M.A. acredita que J.C. acredita que Brutus não trapaceia
1 2
90
M.A = Marco Antônio e J.C= Júlio César. Optou-se pelas abreviaturas para facilitar a
visualização das sentenças que se seguem.
O enigma das atitudes proposicionais 135
91
Esta possibilidade é usada por Cresswell na chamada Restrição de Macroestrutura, um
dispositivo inventado por ele para evitar que exemplos do tipo (2) e (3) baseados em (1) abaixo
(1) 'Brutus trapaceia sse existe um gladiador que mata todos os gladiadores que não se
matam'
(2) 'Júlio César acredita que Brutus não trapaceia'
(3) 'Júlio César acredita que Brutus trapaceia sse existe um gladiador que mata todos os
gladiadores que não se matam'
tenham a mesma leitura em que 'que' é tomado como ' que0'. (Cf. Gupta & Savion [SPA], p.401-
402 para críticas a respeito).
136 Ana Maria Tramunt Ibaños
cuja intensão é uma função de três lugares que opera sobre funções nas
categorias (0/0), (0/1) e 1, nesta ordem, isto é, (55).
Cresswell passa, então, a trabalhar com as atitudes iteradas propriamente
ditas e com os problemas que elas podem originar. Considerando, novamente, a
sentença (52) repetida em (62),
O enigma das atitudes proposicionais 137
(62) M.A. acredita que J.C. acredita que Brutus não trapaceia
92
(63) Acredita M.A.que0 (acredita J.C. que0 (Brutus não trapaceia )
parece que se (62) for tomada como (59), não há problemas com a sua
semântica, pois que0 nada mais é do que uma função de conjunto de mundos
para conjunto de mundos. É a função de identidade e, portanto, a intensão de
(64),
é justamente o conjunto de mundos nos quais J.C. acredita que Brutus não
93
trapaceia .
O problema surge quando o 'que' mais externo de uma sentença de
atitudes iteradas opera no sentido da sentença-complemento, como no caso de
(65),
92
Para efeito da presente análise, não é importante a estrutura lógica de 'Brutus não trapaceia'.
93
Cresswell salienta que advoga uma visão de AP em que o conteúdo das atitudes proposicionais,
embora sejam significados estruturados, em algumas ocasiões o uso limite de um significado
estruturado feito de intensões é justo uma intensão simples. Assume, na verdade, que a intensão
de acredita sempre opera na intensão da 'sentença-que', embora a intensão da 'sentença-que'
nem sempre é a intensão da sentença complemento. (Cf. [SMSPA], p.89)
138 Ana Maria Tramunt Ibaños
é simplesmente (67),
(67) ,a,b.
[2.39] Para avaliar [65], então, temos que supor que 'acredita' tem uma
intensão que engloba uma estrutura que contém mesma intensão
como seu próprio argumento. (Cresswell [SMSPA], p. 90)
94
Esta solução não é aceita por todos. Cf. Böer ([PAFO], 1994) para razões de não aceitar tal
solução.
O enigma das atitudes proposicionais 139
(70) Acredita M.A. que ((0/1,1) (acredita que(0/1) (Brutus não trapaceia),
J.C.)
[2.40] parece que temos que viver com o fato de que não podemos,
simplesmente, quantificar sobre tudo o que gostaríamos. A única
coisa que direi é que uma teoria no estilo fregeano mais flexível
[...] assegura que a maioria das sentenças de atitudes iteradas
podem ser diretamente interpretadas, sem a necessidade de
quaisquer atitudes de níveis mais altos. ([SMSPA], p. 92)
95
Teoria dos Tipos propõe uma espécie de hierarquia dos significados de 'acredita'. A primeira é
uma função que opera nas estruturas sem qualquer significado de 'acredita' nelas; a segunda é
uma função que opera nas estruturas com somente o 'acredita' de primeiro nível, e assim por
diante.
140 Ana Maria Tramunt Ibaños
(72) deve ser entendido como um exemplo de uma sentença em uma linguagem
categorial L na qual subjaz uma língua (neste caso o português) e que tem
associada a si uma atribuição V, que dá aos símbolos de L os tipos apropriados
que se supõem refletir os significados que as palavras correspondentes em
português possuem. Posto isso, pode-se dizer que, em (72), V(que0) é
justamente a função de identidade, de maneira que, conforme (73),
dita em uma ocasião especial w,t em que (76) é a única coisa que Brutus diz na
linguagem cuja atribuição de significado é V. 'O que' é uma expressão que
transforma um predicado em um nominal, isto é, está na categoria ((0/(0/1)/(0/1))
e 'é falso' será tratado como um predicado de um lugar. A estrutura de (76) em
linguagem categorial é apresentada em (77),
96
Cresswell salienta que não deseja ser específico quanto a decidir qual L*,V* é a linguagem do
falante. Além do mais, V* e L* não precisam, necessariamente, ser na mesma linguagem que V e
L; o discurso indireto, por exemplo, pode relatar enunciados em uma linguagem diferente. (Cf.
[SMSPA], p.106)
142 Ana Maria Tramunt Ibaños
como a função 1 , tal que para a D1 então 1 (a) = V(diz) (Brutus,a), isto é, w,t
1 (a) sse Brutus produz em w,t uma realização de superfície de uma
sentença em uma linguagem categorial , tal que V* representa a atribuição de
significado para na linguagem que Brutus está falando em w,t, V* () = a. E
2 como 'V(é falso)', então, para qualquer b em D1 de 2 , 2 (b) = w b.
Consequentemente, w,t ((69)) sse Brutus produz em w,t uma realização de
superfície da sentença de uma linguagem categorial e onde V* representa a
atribuição de significado na linguagem em que Brutus está falando em w,t, w,t
V* ().
Dessa análise, argumenta Cresswell, tem-se como resultado uma
contradição, pois,
percebe-se que (76) é verdadeira sse (79) é falsa. Como (76) = (79), então (76) é
97
verdadeira sse (76) é falsa. Chega-se, portanto, à contradição .
O autor entende que, em sua teoria, não há muito o que se dizer sobre
paradoxos e que ele assume de 'V(diz)' que é uma função que chega o mais
próximo e consistentemente possível do que é desejado. Descarta, também, mas
por motivos distintos, qualquer discussão sobre a quantificação sobre a 'sentença-
que', pois, para ele, não há problema algum em quantificar-se nessas sentenças.
Se, por exemplo, em vez de (72), a sentença fosse (80),
97
Cresswell considera que o paradoxo se dá porque Brutus (neste caso) utiliza a mesma
linguagem tanto para dizer quanto para relatar o que disse, isto é, a linguagem em que ele está
falando tem a mesma atribuição de significado que a linguagem com a qual ele reporta a sua fala.
Cresswell cita o trabalho de Prior (1961) sobre o assunto, mas salienta que o mais importante é
reconhecer que nem tudo é possível de ser apreendido por qualquer função e o que se deve
aprender é saber como se chegar mais próximo do desideratum impossível. Em termos de análise
desses paradoxos, cf. Slater [PCIS], 1989.
144 Ana Maria Tramunt Ibaños
98
que pode ser uma caso de referência de re em que a referência da 'sentença-
que' é ,b, onde b é Cícero e é a função em D(0/1) tal que para qualquer a
no seu domínio w,t (a) sse a gagueja em w no tempo t.
Cresswell julga que esta abordagem estendida (que considera o segundo
argumento como estrutura) pode apresentar uma solução do tipo presente em
(84),
99
(85) Marco Aurélio disse eu discursei
100
poderia avaliar 'eu' como Marco Aurélio ou como a pessoa que está enunciando
a sentença (note-se que não se está considerando a convenção ortográfica para
citações).
Portanto, (85) pode ser interpretada como (86),
ou
100
Para mais informações sobre indexicais e as diferentes abordagens dentro de um trabalho
semântico, cf. Kaplan ([OLD],1978), Perry ([PEI],1979) e Austin ([WMT], 1990), entre outros.
146 Ana Maria Tramunt Ibaños
que será verdadeira em w,t sse, em algum w,t no qual t' é completamente
anterior a t, Cícero produz um enunciado que, em sua linguagem em w,t', é
verdadeiro em justo aqueles MP onde Catilina está trapaceando no tempo t'. Tudo
isso, de acordo com Cresswell ([SMSPA], p. 112), considerando-se o que é
exposto em (95),
O enigma das atitudes proposicionais 147
(95) V(ed) é uma função em D(0/0) tal que para qualquer a D0, w,t
() sse existe algum intervalo t' tal que cada momento em t' precede
cada momento em t e w,t' a.
que são casos de atitudes de se (de acordo com Lewis, 1979) porque são atitudes
que, de alguma fovrma, estão envolvidas com elas próprias, isto é, a questão se
volta para o falante.
Para Cresswell, o fator importante é saber como analisar tais sentenças.
Ele argumenta que a solução viável parece ser aquela que leva em consideração
as várias estruturas possíveis para (96) em uma linguagem categorial . Ele inicia
a sua análise, portanto, pelo uso de 'que0' conforme (98):
101
No comentário bibliográfico de sua obra (p.183), Cresswell cita que Böer & Lycan (1980)
argumentam veementemente que todas as atitudes de se são simplesmente atitudes de re. O
mesmo se dá com Stalnaker (1981). Cresswell ressalta que se isso fosse verdade, ele não
hesitaria em adotar uma solução tão mais simples. Mas este parece não ser o caso.
148 Ana Maria Tramunt Ibaños
102
(98) Zeus, , x, diz, x, que0, x, lança trovões
em que a abstração é usada para marcar o uso do pronome 'ele' como uma
variável ligada. Mas, por outro lado, se se considerar 'Zeus' como um nome em
vez de um nominal os princípios da conversão transformam (98) equivalente a
(99),
que será verdadeira em qualquer w,t sse Zeus em w,t produz uma realização
de superfície da sentença em uma linguagem categorial tal que V*() = V (
Zeus, lança trovões). (cf. Cresswell [SMSPA], p.122)
O teórico pondera que esta análise não fornece os resultados corretos,
pois se Zeus falasse a nossa linguagem, ele poderia facilmente tornar (99)
verdadeira, enunciando uma realização de (100),
[2.43] o que parece estar errado é que em [98] é necessário que Zeus
esteja se referindo a ele próprio. Isto sugere que uma atitude de re
pode estar envolvida. ([SMSPA], p.122)
102
Cresswell, para efeito e simplicidade de análise, considera 'lança trovões' como um predicado
de um lugar, sem se preocupar com sua estrutura interna.
O enigma das atitudes proposicionais 149
que será verdadeira em w,t sse existe um nominal que designa 'Zeus' para
Zeus em w,t, e um predicado tal que V*() = V (lança trovões) onde V* é a
linguagem que Zeus está falando em w,t. ([SMSPA], p.122)
O interessante na solução de (101) é que, caso Zeus pense que é Jeová,
então o nome 'Zeus' não designará 'Zeus' para Zeus, de forma que um enunciado
como (100) não poderá contar como um dito de que Zeus lança trovões.
A solução parece estar assim bem definida. Mas Cresswell deseja
apresentar um critério para a autorreferência que possa desproblematizar tanto
exemplos como (98) e similares quanto aqueles que apresentam ambiguidade
temporal como (102),
104
O nome hiperintensionalidade foi, pela primeira vez, utilizado por Cresswell em seu artigo
"Hyperintensional Logics" (1975) para se referir a contextos nos quais a substituição mesmo de
sentenças logicamente equivalentes não necessitam de preservar a verdade. Segundo Cresswell
[QT], as AP são o exemplo típico de hiperintensionalidade, talvez o único.
O enigma das atitudes proposicionais 151
(107) e (108) são dois exemplos que apresentam uma diferença de condições-de-
verdade, em que a diferença semântica deve ser analisada em termos de
contraste implicado. 'Por engano' operaria na estrutura da sentença, de tal forma
105
De acordo com Cresswell, trata-se de um trabalho não publicado de Jeff Ross que circula na La
Trobe University.
152 Ana Maria Tramunt Ibaños
que, a parte selecionada como foco (em maiúsculas nos exemplos), seriam as
106
partes envolvidas no contraste . (109) e (110), por outro lado, parecem
apresentar 'obviamente' como o elemento suscetível à ambiguidade semântica, e
a melhor maneira de lidar com ela é postular que o advérbio é uma derivação
transformacional de sentenças como 'é óbvio que', precedendo, portanto, uma
'sentença-que' e sendo da mesma forma que esta analisada.
Por fim, deve-se ressaltar a discussão de Cresswell sobre o papel dos
significados estruturados para a correta análise do que ele denomina de
semântica no quadro e quadros impossíveis, que equivalem a contradições em
todos os mundos possíveis. Segundo ele, em sintonia com a análise de Sober
(1976), uma representação pictórica não é tão diferente de uma representação
linguística como muitos teóricos supõem, e a melhor maneira de avaliar uma
representação deste tipo, como especificado em (111),
que apresenta um tipo de situação em que parece não haver maneiras de evitar
uma estrutura em que existam conjuntos de mundos no qual o monge está
subindo, e conjunto de mundos no qual ele está descendo, é levar em
108
consideração uma dessas estruturas para se fazer a análise .
O autor finaliza argumentando que, quaisquer que sejam as soluções
para esses casos, eles não parecem ser indícios suficientes para se reivindicar
uma revisão drástica da análise defendida em seu trabalho.
Este capítulo teve como objetivo apresentar o quadro teórico
desenvolvido por Cresswell para o tratamento das AP dentro da semântica das
condições-de-verdade, enriquecida com mundos possíveis e sistemas de
intensões. Enfocando, desta maneira, seus aspectos básicos e suas extensões
para acomodar vários fenômenos relacionados com as AP, foi, da mesma forma,
delineando a sua postura teórica em relação às abordagens clássicas. O que é
106
Para maior detalhamento sobre contraste implicado, cf. Dretske (1972, 1977) e Böer (1979).
107
Cf. Cresswell 'A highly impossible scene', 1983.
108
Uma abordagem mais detalhada da semântica de representações pictoriais, usando a noção
de mundos possíveis, encontra-se em Howell (1974) e Hintikka (1975).
O enigma das atitudes proposicionais 153
109
Conforme Gupta & Savion [SPA], esta maneira de tratar a ambiguidade é uma consequência
nova e intrigante própria da Teoria de Cresswell.
154 Ana Maria Tramunt Ibaños
* Uma versão modificada deste capítulo aparece em Ibaños e Silveira (ogs.) Na interface
semântica/pragmática. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
110
Richard considera uma atribuição de atitude uma sentença cujo verbo principal é um verbo de
atitude que, por sua vez, é qualquer verbo que pode tomar uma 'sentença-que' como um objeto e
termos singulares como sujeitos em realizações de superfície. (cf. [PA], p.7)
111
Richard salienta que seu sentencialismo psicológico nada tem a ver com o estilo fodoriano, não
se compromentendo, portanto, com nenhuma tese defendida pelos cognitivistas. Relaciona-se
mais com uma psicologia folk.
"[...] não desejo defender qualquer uma das formas alarmantes de nativismo que filósofos
como Jerry Fodor têm ligado à hipótese de que atitudes são sentenciais" ([PA], p.40)
O enigma das atitudes proposicionais 155
Assume, pois, uma posição de elaborar e defender uma visão própria que
não se enquadra totalmente dentro de uma ou outra teoria clássica, mas que
tampouco as rejeita; pelo contrário, utiliza-se de ambas para explicar sua teoria.
Determina, em primeiro lugar, que:
(b) adota a semântica dos mundos possíveis, mas considera que a sua
abordagem poderia muito bem ser enquadrada em outros frameworks;
(a) e (b) são estratégias que liberam Richard de compromissos fortes com
teorias específicas. Justifica (c) de maneira semelhante à Cresswell, isto é, deseja
ser o mais informal possível para evitar o peso de uma teoria formal e facilitar o
entendimento. (d), (e), (f) e (g) são aspectos fundamentais, necessários ao
desenvolvimento de sua abordagem, que desencadeiam e o forçam a responder
as seguintes perguntas no decorrer de seu trabalho:
Considerando-se (a), (b), (c), (d), (e), (f) e (g), este capítulo tratará, como
já foi feito com a Teoria de Cresswell, de caracterizar
(2) a estratégia teórica que ele adota para a abordagem das AP; e
Naturalmente, (1), (2) e (3) estarão dirigidos no sentido das respostas que
Richard oferece para i, ii, iii e iv.
112
Como o seu objetivo é apresentar uma teoria que dê conta das atitudes proposicionais, Richard
preocupa-se mais em refutar teorias que também trabalham sobre as AP do que teorias que
neguem a possibilidade das AP – como é o caso de Quine.
158 Ana Maria Tramunt Ibaños
113
Richard usa a expressão 'modo de pensar' para referir-se ao que Frege denominou de sentido.
(cf. [PA], p.61)
114
Richard salienta que faz uma análise grosseira das diferenças entre pensamento e sentido.
Não entra na discussão das diferenças sutis, pois não são relevantes para o ponto que deseja
mostrar. (cf. [PA] p.61-62)
O enigma das atitudes proposicionais 159
[3.4] Podemos supor que alguma coisa a mais faz com que uma
palavra refira e simplesmente construir a referência de um nome
em seu sentido. Se fizermos isso, poderemos avaliar um sentido
fregeano como um par de coisas, aquilo que Frege poderia ter
identificado como um sentido juntamente com sua referência.
([PA], p. 65)
115
Embora Richard considere que essas concepções estejam enganadas, ele não acha que o
papel cognitivo de 'Eratóstenes é egípcio' para Hipácia seja totalmente irrelevante para as
atribuições de verdade como em (5). "Embora minha teoria final não seja parecida com a que eu
discuto aqui, [...] eu apresento uma teoria que resulta que algo reminiscente do papel cognitivo da
sentença é, ou pelo menos pode ser, relevante à verdade da atribuição". ([PA], p.60)
116
Observe-se que, devido à generalidade do tratamento, não serão discutidas aqui as críticas de
Kripke, Putnam e Kaplan em relação ao nome próprio.
160 Ana Maria Tramunt Ibaños
117
Nessa visão , a primeira parte do sentido de 'Eratóstenes' pode (mas
não necessariamente) ser algo como um conceito que determina Eratóstenes e
somente ele. O sentido de Eratóstenes nem precisa conter alguma informação
que seja verdadeira de Eratóstenes. E a parte conceptual de um sentido não tem
que corresponder a uma descrição definida.
Richard admite que essa é uma concepção que se afasta daquela
proposta por Frege, mas considera, por outro lado, que ela torna a análise da
semântica das AP mais viável. O primeiro problema, portanto, parece resolvido.
Mas o mesmo não acontece com o segundo problema da teoria fregeana. Este
decorre do fato de que não há nada nessa concepção que possa explicar como
tratar a afirmação de que o sentido de uma expressão varia intersubjetivamente.
O problema, para Richard, é que, dado que conceitos diferem de pessoa para
pessoa, será uma ocorrência normal que os sentidos associados a palavras
difiram, mesmo que seus referentes não.
As primeiras conclusões resultantes dessa análise são que a ideia de que
o sentido determina a referência deve estar errada, e que as variações de sentido
constituem-se em um problema para a visão fregeana de atribuições de atitude.
Retomando o exemplo (5) e o que a sentença diz como um todo, não há nessa
visão algo como 'o pensamento de que Eratsótenes é egípcio'. Portanto, a teoria
deve decidir sobre qual é o sentido nomeado pela 'sentença-que': será o sentido
que o falante expressa ao dizer 'Eratóstenes é egípcio'? o sentido que Hipácia
expressa ou outro sentido qualquer?
118
O autor sugere três soluções que ele discute em extensão , a saber:
117
Esta estratégia parece ter sido adotada por McGinn (1983).
118
Cf. [PA], p.66-85.
O enigma das atitudes proposicionais 161
(a) (i) não funciona e isso pode ser visto através de um exemplo simples
como Hamurabi e sua relação com 'Hesperus não é Phosphorus', a saber:
119
Russell modificou muitas vezes a sua visão sobre proposição. A que está sendo assumida na
abordagem de Richard é aquela em que Russell ainda mantinha que proposições expressas no
uso de sentenças contendo nomes próprios ordinários como 'Mont Blanc' contêm os referentes
desses nomes como constituintes: "Eu acredito que, apesar de toda a sua neve, o próprio Mont
Blanc é uma parte componente do que é realmente asseverado na proposição 'Mont Blanc tem
mais do que 4000 metros de altura'. Não asseveramos o pensamento, pois isto é uma questão
psicológica particular: asseveramos o objeto desse pensamento e isso é, a meu ver, um certo
complexo [...] no qual o próprio Mont Blanc é uma parte componente". (Russell [RTF], 1904)
O enigma das atitudes proposicionais 163
não é possível admitir-se que esses exemplos possam diferir em seus valores-de-
verdade. Em outras palavras, considerando-se a representação da proposição de
(7) em (9) abaixo,
A pergunta que Richard faz é: 'Por que alguém seria russelliano? E ele
próprio responde que, em sua opinião, três aspectos essenciais conduzem
filósofos ao russellianismo, e sua revisão desses pontos se concentrará na
164 Ana Maria Tramunt Ibaños
120
Kaplan trabalha em termos de demonstrativos e nega a possibilidade de o conteúdo de 'ele',
por exemplo, ser tratado como um sentido fregeano ou um conjunto de propriedades. Kripke, por
sua vez, argumenta que a referência de um nome próprio tampouco pode ser determinada por
algum sentido fregeano. Seria melhor falar em termos do referente do nome. Cf. nota 35 do
capítulo 1.
121
Outras considerações dessa natureza favorecem o russellianismo. Conforme Richard, parece
que geralmente as pessoas são indiferentes ao nome ou indexical que usam para relatar uma
afirmação ou uma crença, desde que a referência seja preservada. "Assim, se eu aponto para
Twain e digo 'Ele é feliz', qualquer uma das afirmações que se seguem parecem ser relatos
literalmente corretos do que eu disse: 'MR disse que Twain é feliz', 'MR disse que Clemens é feliz',
‘MR disse que você (falando com Twain) é feliz','MR disse que eu sou feliz' (Twain falando)". ([PA],
p.116-117)
O enigma das atitudes proposicionais 165
relativa a uma atribuição de Marco Aurélio para 'x', será a proposição russelliana
expressa em (12),
(13) Existe alguém tal que (i) não é feliz; (ii) poderia ter sido feliz, e (iii)
Cícero acredita que ele é feliz
(14) x (x não é feliz & é possível que x é feliz & Cícero acredita que x é
feliz)
[3.7] Uma vez que um russelliano chega tão longe, ele pode
argumentar de vários modos que é plausível identificar-se a
166 Ana Maria Tramunt Ibaños
para (16),
Mas uma vez que o principal rival das visões russellianas para a
atribuição de atitudes são as teorias fregeanas, é importante que se faça,
primeiramente, uma análise das intuições antirrussellianas dos falantes de que é
possível que 'x acredite que Cícero é orador' e, ao mesmo tempo, 'x não acredite
que Tully é orador'.
O russellianismo padrão afirma que essas intuições devem ser explicadas
em termos de implicação pragmática. Ao dizer que um par de sentenças como (7)
e (8) não pode diferir em valores-de-verdade, os russellianos estão oferecendo
uma abordagem em termos de semântica das condições-de-verdade, não estão
tratando, portanto, de questões pragmáticas.
[3.8] Os usos típicos de [7] podem captar algo que os usos típicos de
[8] não captam. Mas isso, ele [o russelliano] diz que é uma
questão de implicaturas seu conteúdo de verdade condicional.
([PA], p.120)
De uma forma crítica, ele reconhece que essa visão que considera
proposições como uma espécie de mistura é deselegante. Mas se a escolha tem
que ser feita entre tal deselegância e a rejeição que os russellianos fazem às
intuições sobre a possibilidade de haver diferentes valores-de-verdade para
exemplos como (7) e (8), a escolha parece bem clara.
122
Kaplan (1977) usa a noção de acreditar uma proposição sob um caráter particular (ou
significado da sentença). Salmon (1986) invoca maneiras de se apreender proposições
russellianas (maneiras que envolvem as sentenças que são usadas para expressarem tais
proposições). Perry & Soames (1987) falam de estados de crença, etc.
123
De forma genérica, a título de exemplificação, suponha que os mediadores de atitude sejam
sentenças da linguagem natural (em termos de token). Assim, por exemplo, pode-se observar que
Catulo tenha um token de (1),
(1) 'Cícero está morto'
em seu quadro de crenças sem ter o token de (2),
(2) 'Tully está morto'
Por outro lado, Salústio pode ter um token de (2) sem ter o de (1). Neste caso, embora tanto
Catulo quanto Salústio acreditem na proposição russelliana em (3),
(3) 'a propriedade de estar morto, Cícero'
eles a acreditam sob diferentes mediadores; Catulo sob o mediador (1) e Salústio sob o (2).
168 Ana Maria Tramunt Ibaños
(b) A proposição de que não é o caso que Júlio César governa Roma e
Marco Antônio governa Roma
(18) 10
127
Uma sentença disjuntiva, por exemplo, não nomeará uma proposição diferente de uma
sentença negativa, uma vez que, na semântica dos mundos possíveis, ser uma disjunção é
simplesmente uma questão de ser a união de dois conjuntos de mundos (um sendo complemento
do outro). Assim, cada proposição é tanto uma negação quanto uma disjunção. (cf. Richard [PA],
p.10)
172 Ana Maria Tramunt Ibaños
(19) então, cada inteiro maior que 1 pode unicamente ser decomposto em
potências de primos.
128
Para maiores detalhes, cf. Richard [PA] p.12-16 e Stalnaker Inquiry, 1984.
O enigma das atitudes proposicionais 173
129
(21) Se A então B, não B, não A
129
Embora a exemplificação seja feita apenas com conetivos, Richard considera igualmente
plausível que outros aspectos da estrutura sentencial – em particular estrutura quantificacional e a
174 Ana Maria Tramunt Ibaños
e a pergunta decorrente dela, isto é: até que ponto a estrutura e a sentença são
semelhantes? uma boa maneira de se iniciar a discussão sobre a estruturação
das proposições.
Richard acredita que é possível se dar uma resposta radical para essa
pergunta, a saber: se a estrutura das sentenças S e T são distintas, também o
são a proposição 'que S' e a proposição 'que T'. Assim, embora duas sentenças
do tipo (23) e (24)
presença de termos e predicados – sejam refletidos na individuação das proposições. (cf. [PA],
p.18)
O enigma das atitudes proposicionais 175
130
A visão que identifica proposição com intensões estruturadas advoga
uma resposta do tipo dada acima. Para ilustrar um sistema de intensões
estruturadas, o autor apresenta de forma simplificada um marcador de estrutura
frasal (PSM) para uma sentença e substitui as expressões de base por suas
intensões e as expressões dos outros nós pelas intensões determinadas pelas
intensões inferiores, conforme diagramas I e II abaixo.
I. PSM II.
s e s A e B
A B A B
(25) A, B, e, a intersecção de A e B
(26) e,A,B
130
Dentre os defensores de uma visão nesta linha, além de Cresswell [SMSPA],1985, encontram-
se Carnap [MN], 1947; Church [IIIB], 1954, e Lewis [GS], 1972.
176 Ana Maria Tramunt Ibaños
e ele acredita que esta é uma visão defensável que merece ser trabalhada, tanto
em aspectos gerais quanto particulares, o que será visto a seguir.
Embora adote uma abordagem que toma as proposições como objetos
estruturados, ressalta que sua adoção é particularizada, isto é, reconhece que
existem outras abordagens dentro deste mesmo espírito, mas as rejeita por
considerar que elas apresentam mais problemas do que soluções.
Essa sua postura traz, de imediato, uma consequência, a saber: poderia
ser argumentado que sua rejeição implica negar como um todo que as
'sentenças-que' nomeiam intensões estruturadas. De fato, dado o par de
'sentenças-que' em (27) e (28),
ele, a primeira resposta que poderia ser dada à argumentação seria dizer que
'sentenças-que' como (27) e (28) nomeiam conjuntos de intensões estruturadas;
na realidade, nomeiam o mesmo conjunto.
Se uma visão como essa fosse adotada, seria necessário definir uma relação de
equivalência sobre intensões estruturadas e dizer que uma 'sentença-que' 'que
A' nomeia um conjunto dessas intensões i de tal forma que i mantém a relação
com a intensão estruturada de A. Se uma intensão i sustenta para j se (mas
não somente se) i = e,A,B e j = e,B,A então as 'sentenças-que' nomeiam a
mesma coisa.
Mas não é necessário se fazer tal abordagem de equivalência de classes.
Para Richard, a questão é bem mais simples e se baseia no fato de que mesmo
sem levar em consideração contextos sintáticos, percebe-se que pares de
'sentenças-que' como (27) e (28) nem sempre podem ser intersubstituíveis salva
131
veritate , se o que estiver em jogo é uma questão de dedução. É sempre
possível que alguém deduza (27) sem deduzir (28). E se assim é o caso, isso
fornece uma razão positiva para se negar que a proposição 'que T e S' é
semelhante à proposição 'que S e T', pois apresenta um motivo que permite que
se diga que alguém pode fazer algo com a primeira proposição e não fazer o
132
mesmo com a segunda . Assim,
131
cf. exemplificação detalhada em [PA], p.29-30
132
Richard considera que o fenômeno discutido se reduz à questão dos verbos. 'Dizer' está
determinado por 'permutação de conjunção' enquanto que 'deduzir'não está. Os verbos de AP são
determinados por uma permutação adjetival. O fato de que necessariamente alguém acredite
(espere, etc.) numa proposição p sse acredita (espera, etc.) q não exige que p = q. (Cf. [PA], p.31)
178 Ana Maria Tramunt Ibaños
133
E mesmo que não se pudesse fazer tal generalização , o certo é que a
diferença nos PSMs das 'sentenças-que' é suficiente para marcar a diferença no
que tais sentenças nomeiam.
Na realidade, Richard realmente defende essa posição de que a estrutura
de uma sentença-conteúdo de uma 'sentença-que' é refletida na individuação das
proposições. Em outras palavras, 'sentenças-que' cujos PSMs diferem nomeiam
diferentes coisas, e a maneira pela qual esta estrutura estará refletida nas
proposições se deve ao fato de ela estar literalmente presente no PSM, pois uma
intensão estruturada tem literalmente a estrutura de seu PSM associado.
Ainda assim, poderia ser objetado que mesmo que a estrutura de uma
'sentença-que' se reflita na individuação das proposições, daí não se segue que
as próprias proposições tenham qualquer estrutura. Ele reconhece que há várias
perguntas a serem feitas sobre proposições, mas a que é de seu interesse é
apenas saber sob quais condições duas 'sentenças-que' nomeiam a mesma
proposição. Segundo ele,
133
Poder-se-ia dizer que essa argumentação não generaliza completamente porque existem
sentenças A e B tais como 'o estudante deduziu que A' e 'o estudante deduziu que B' que são
necessariamente equivalentes conforme exemplificação abaixo:
(1) 'que um velho, febril homem tossiu'
(2) 'que um febril, velho homem tossiu'
O enigma das atitudes proposicionais 179
134
Está claro que intuitivamente as duas sentenças dizem a mesma coisa,
mas não fazem as mesmas referências explícitas a indivíduos ou propriedades.
Contudo, conforme Richard, as referências aparentes das sentenças de
expressões idiomáticas não são semanticamente relevantes (isto é, relevantes
para se calcular o que a sentença diz). Portanto, não são problemáticas para a
135
individuação da proposição . Ele conclui que o que parece ser correto afirmar é
que, em certo nível de generalidade, ele adota que proposições refletem a
estrutura das sentenças que as expressam e isto basta para o desenvolvimento
de sua teoria.
Uma vez que Richard preocupa-se, sobremaneira, com a identificação
das proposições com as sentenças que as expressam, parece oportuno avaliar
como ele aborda a questão do sentencialismo, que será tratada em seguida.
A versão de sentencialismo defendida por Richard é, segundo suas
palavras, uma versão muito fraca que, simplesmente, requer que a verdade de
uma atribuição de atitude – em especial, a verdade de uma atribuição de 'acredita'
ou 'deseja' – seja uma função de alguma relação entre um objeto de crença
semântico e psicológico (cf. [PA], p.57). Mas uma vez que ele adota um objeto
psicológico, torna-se necessário explicitar mais detalhadamente o que ele
entende por sentencialismo e como sua proposta não se confunde com as
propostas cognitivistas.
Em primeiro lugar, considera três pontos essenciais, a saber:
134
Desconsideram-se aqui as objeções quineanas em termos de tradução.
135
Richard apresenta, também, exemplos de francês com reflexivo onde a contraparte em inglês
não apresenta como nos casos 'Le soleil se leve' e ‘The sun rises'. Para ele, a melhor forma de
resolver a diferença do 'se leve' para 'rise' é considerar 'se leve' como um todo. Como resultado,
no nível da forma lógica tanto o francês quanto o inglês apresentarão a mesma estrutura com
expressões com a mesma interpretação semântica. (cf. [PA], p.36-37)
180 Ana Maria Tramunt Ibaños
iii. 'acredita' e outras AP qua relação com uma proposição são relações
decorrentes de algum estado psicológico de maior ou menor intensidade,
136
Richard pondera que somente o estado psicológico não determina uma proposição. Em geral, é
em virtude de um certo estado psicológico e de uma situação histórica e contextual que se
acredita em uma proposição. (cf. [PA], p.38)
137
Para uma crítica radical sobre teorias sentencialistas das AP, cf. Schiffer,1987.
138
Richard define crenças tácitas como: 'a crença de x que S' é uma crença tácita sse
(a) x acredita que S
(b) x não aceita nenhuma sentença que determine a mesma intensão estruturada como 'S'
O enigma das atitudes proposicionais 181
que se supõe que alguém tenha, mas que dificilmente se possa pensar que sejam
armazenadas como sentenças (é o caso de crenças matemáticas e sintáticas).
Mas Richard refuta essa objeção; ele argumenta que, embora muitos
exemplos putativos de crenças tácitas sejam exemplos de crença, eles não são
instâncias de crenças tácitas. Em segundo lugar, a existência de tais crenças não
é estritamente incompatível nem com o SP nem com a afirmação de que ambos
SS e SP são verdadeiros e que a semântica de 'acredita' pode ser explicada em
termos de relações adequadas entre o que uma 'sentença-que' nomeia e um
objeto psicológico de crença. Se é dito que:
a verdade de (32) não exige que se aceite uma sentença com a mesma intensão
de S.
Além disso, ele salienta que não se compromete com qualquer tipo de
visão que considera atitudes como relações com as sentenças. Pelo contrário,
algumas delas não deseja nem de longe defender.
139
Para uma análise detalhada da visão atomística, cf. Stalnaker 1984.
O enigma das atitudes proposicionais 183
140
Richard considera que alguns fenômenos da mente podem ser descritos em diferentes níveis:
(a) no nível da psicologia folk, (b) no nível da psicologia empírica e (c) no nível da neurofisiologia.
Para ele, o SP se enquadra no nível (a). (cf. [PA], p.43-45)
184 Ana Maria Tramunt Ibaños
da crença, não somente sobre o quê – tão habilidosamente descrita pelas teorias
russellianas.
não seriam correlações, pois o primeiro não preserva referência e o segundo não
é uma função.
Para ser mais explícito, suponha que se tome uma RAM p e uma
correlação f (f definida por todas anotações em p) e se substitua sistematicamente
o que está em p por sua imagem em f. Assim, dado (42) que
entende-se que 'Tully' representa 'Tully' e nada mais. A RAM de (44) será
verdadeira desde que represente uma das RAMs de Alexandre sob a qual há a
relação 'Tully - a - Cícero'.
Portanto, o contexto determina uma coleção de restrições ou correlações.
Cada restrição, por sua vez, é formada por três elementos: uma pessoa u, uma
anotação a e uma coleção de anotações S. O contexto de Salústio, por exemplo,
fornece a restrição em (45),
141
Embora Richard não deseje entrar em tecnicalidades muito complexas, não pode deixar de
fazer uma breve análise do valor semântico de 'acredita' e outros verbos de AP que no Princípio (I)
não é explicitado. Numa sentença como (a) 't acredita que S', qual seria, então, a intensão de
'acredita'?
Richard considera que a melhor alternativa é considerar tais verbos como predicados de
três lugares, correspondendo a quantificações existenciais no nível da forma lógica como em (b):
(b) f B³ (t, que S, f)
que pode dar conta de exemplos em que mais de uma tribuição de atitude esteja presente, como
em (c):
(c) 'Brutus acredita que S. Ele deseja que T e atribuir condições-de-verdade como em (d);
(d) ' f B³ (Brutus, que S , f) e f D³ (Brutus, que T, f)
O enigma das atitudes proposicionais 189
142
Cf. capítulo 1.
190 Ana Maria Tramunt Ibaños
Uma primeira objeção que poderia ser feita à sua abordagem seria que,
devido a esse refinamento das proposições, não seria possível permitirem-se
atribuições de atitudes em língua estrangeira. Se, por exemplo, Marco Aurélio não
fala português, ele não terá a RAM que 'Romanos são bravos'. Richard, no
entanto, considera esta objeção como uma confusão sobre a função das RAMs. A
sua proposta não diz que Marco Aurélio tem uma RAM que 'Romanos são bravos'
em sua SR. Pelo contrário, diz apenas que esta RAM representa uma das RAMs
de Marco Aurélio. Não há motivos para que a RAM que 'Romanos são bravos'
não possa representar uma RAM em latim como em (48),
Richard refuta este tipo de objeção, argumentando que o que basta para
a análise de sentenças em línguas diferentes é saber explicar, de forma correta e
clara, exatamente quais situações (que mundos) são corretamente caracterizadas
pelos vários usos da sentença e isso não exige preservação do significado.
O enigma das atitudes proposicionais 191
143
Esta abordagem de contextos trabalhada por Richard provém de Kaplan,1977.
192 Ana Maria Tramunt Ibaños
Como foi dito acima, Richard preocupa-se em mostrar de que forma a sua
teoria pode trabalhar problemas clássicos vinculados às AP. O primeiro deles diz
respeito às atitudes iteradas que será visto a seguir.
Considere o exemplo:
que representa uma instância das chamadas atitudes iteradas e, segundo ele,
pode apresentar alguns problemas teóricos quando considerada em um contexto
puramente russelliano ou no contexto de sua própria abordagem. O problema
surge porque:
O enigma das atitudes proposicionais 193
Da mesma forma, ele rejeita a distinção fregeana que, para evitar que os
indivíduos sejam considerados constituintes do pensamento fregeano,
reinterpretam quantificadores simples, como em (54), como pares de
quantificadores – um objectual padrão e o outro quantificando sobre sentidos. (54)
transforma-se em (55),
e atribuição de re correspondente,
144
Mas em seu livro [PA] considera provável uma análise em termos das RAMs.
198 Ana Maria Tramunt Ibaños
145
O uso do circunflexo caracteriza a formação de nomes de funções. Assim, por exemplo, 'x ({W
é careca em W}) nomeia a função que leva x ao conjunto de mundos em que x é careca (cf. [PA]
p.142).
146
Richard identifica propriedades de n-lugares com funções de n-tuplas de indivíduos possíveis
para conjuntos de mundos possíveis e proposições de zero lugares como conjunto de mundos.
O enigma das atitudes proposicionais 199
147
Em nota de rodapé, Richard acrescenta que a sua abordagem difere das de Chisholm (1981) e
Lewis (1979) em vários aspectos importantes. Primeiro, não mantém que as propriedades são os
objetos da crença de se como Lewin e Chisholm consideram. Para ele, os objetos de todas as
crenças são de um caráter uniforme (como Lewis também aceita), mas não são propriedades.
Também discorda que as crenças de re são um tipo de crença de se conforme Lewis e, por fim,
considera que, diferentemente de Chisholm, não há nada de misterioso em termos de
reflexividade da autoatribuição "é reflexivo simplesmente porque envolve significados que contêm
{I}". Cf. [DRB], p. 195.
200 Ana Maria Tramunt Ibaños
148
Richard não se preocupa em explicar detalhes semânticos de sua abordagem, pois os
considera simples, não particularmente complexos, ao contrário da sintaxe que apresenta detalhes
muito sutis que merecem maior atenção.
O enigma das atitudes proposicionais 201
(66) IBr(IBr(FI))
149
Richard ressalta que o fato de tratar 'Bs' dessa maneira não se constitui na desistência de se
considerar a visão de que os objetos de crenças são proposições uniformes. Trata-se, apenas, de
um dispositivo para análise. Cf. [DRB], p.177-178.
202 Ana Maria Tramunt Ibaños
a. f(), se v
b. ca, se = I isto é, agente
c. cti, se = ti isto é, membro de v
d. cyi, se = yi isto é, membro de v
Dado, pois um relativo a c e f, será verdadeiro em w (isto é, cf [] w) se,
150
'i-reduzido' é qualquer significado em que (a) nem todas Si's são interpretadas e (b) as únicas
Si's não interpetadas são {i}, ({I}, obviamente, é a função que produz ca, quando aplicada a um
contexto c.
204 Ana Maria Tramunt Ibaños
[3.42] Tem-se dito que este princípio [lei de Leibniz] é fundamental para
a quantificação objectual; conseqüentemente, o fato de minha
abordagem violá-lo pode ser considerado como um defeito.
Argumento que violar a Lei de Leibnis não é defeito visto que a Lei
de Leibniz não é uma lei da teoria da quantificação. ([PA], p.197)
Quando, no dia seguinte, Herófilo vai relatar a uma terceira pessoa o que
Hamurabi disse, ele não consegue se lembrar dos nomes dos planetas. portanto,
apenas diz, verdadeiramente, a sentença em (77)
(78) seria falsa. Uma vez que 'existem planetas' é objectual, Richard aponta para
o fato de que visto (77) ser verdadeira, as atribuições de Hesperus para 'x' e
Phosphorus para 'y' tornam (79) abaixo verdadeira.
O enigma das atitudes proposicionais 205
(79) Hamurabi disse que ele observou x e depois y, mas ele queria ter
observado y e depois x
e visto que (78) é falsa, nenhuma atribuição para as variáveis de (80) podem
torná-la verdadeira.
(80) Hamurabi disse que ele observou x e depois y, mas ele queria ter
observado x e depois y
(81) Se x=y, se (Hamurabi disse que ele observou x e depois y, mas ele
queria ter observado y então x), então (Hamurabi disse que ele observou
x depois y, mas ele queria ter observado x e então y)
151
A noção de condição pode ser identificada com extensão ou entidades como mundos
possíveis, ou conforme Quine, com criaturas da escuridão como propriedades. O importante é que
'condição' será algo que determina uma extensão. Dizer que uma sequência S satisfaz uma
sentença é dizer que ela está na extensão da condição determinada pela sentença.
206 Ana Maria Tramunt Ibaños
[3.44] [...] quando penso para mim mesmo [Isto (planeta) é um planeta e
152
isto (estrela) é brilhante] , as duas ocorrências do demonstrativo,
visto que são ocorrências de diferentes tokens, determinam
diferentes representações. O RAM em minha SR que corresponde
a esta sentença será da forma [...{d},o planeta...{d'}, a estrela
...]. ([PA], p. 211)
Como último ponto, poder-se-ia dizer que Richard considera que sua
abordagem constitui-se no melhor caminho para a resolução de enigmas
clássicos.
Analisando, em primeiro lugar, o enigma de Pierre – será que ele acredita
ou não que Londres é bonita? – considera que a melhor solução é aquela que
permita uma maneira de se dizer que:
são ambas verdadeiras conforme uso que se faz delas quando se atribui verdade
a elas e falsas se forem unidas, pois seriam contraditórias (conforme Kripke
[PAB], p.257).No entanto, se a análise for feita em termos de RAMs individuais,
de sistemas representacionais, não há problema nenhum em se dizer que Pierre
possui duas SR de Londres diferentes que, quando em uso, permitem que se diga
que é verdade tanto (87) quanto (88).
152
Poderiam também ser o caso de 'isto' referir-se só ao planeta duas vezes. Mas como Richard
identifica representação como conjuntos de ocorrências, essas duas ocorrências de 'isto' – se
ocorrências de tokens – ainda assim determinariam diferentes representações.
208 Ana Maria Tramunt Ibaños
153
g. restrições são determinadas pelas intenções do falante/ouvinte ;
153
(g) é uma característica que distingue abordagem de Richard de outros trabalhos
contemporâneos dentro da semântica dos valores-de-verdade. E como ele mesmo ressalta, se o
que ele diz sobre intenções afetarem o valor-de-verdade de verbos como 'acredita' for correto,
também afetarão a própria sintaxe das sentenças (ao afetarem a distribuição dos quantificadores
sobre correlações). Mas ele tem consciência que não apresentou uma teoria sobre intenções. E
essas constatações necessitam de uma teoria própria, algo ainda por ser feito.
210 Ana Maria Tramunt Ibaños
pode-se dizer que, para a sua abordagem, não seria problemático que (1) fosse
falso e (2) verdadeiro, por exemplo, uma vez que a atitude de re é analisada em
termos de atribuição de uma propriedade para um indivíduo. Portanto, é óbvio que
a propriedade de um par (4,5) que se soma é diferente da propriedade de um
indivíduo que se iguala a outro.
Suponha que (1) seja substituído por (3),
Uma vez que ele trabalha dentro do quadro dos MP, diferentemente de
Quine, Cresswell consegue justificar as crenças de Ralph como um conjunto de
mundos onde Ortcutt é um espião e outro onde ele não é, e, mais uma vez, a sua
solução de re possibilita que não se tenham crenças contraditórias. De acordo
com a citação [2.33], o importante é ter-se mais de um objeto Ortcutt, isto é,
Ortcutt apresentado a Ralph de uma maneira em uma ocasião, e de outra
maneira em outra ocasião. Ele apela para a intuição de diferentes modos de
apresentação discutidos por Frege (cf. citação [1.2]). Essa análise lhe permite que
se façam algumas considerações sobre a abordagem de re como um todo. Na
realidade, seja em termos matemáticos, seja em termos de linguagem natural,
Cresswell preocupa-se em mostrar a impossibilidade de se tratar a questão das
AP somente por meios proposicionais. Caso isso fosse possível, o objeto da
crença de Ralph, isto é, a proposição que Ralph acredita diretamente
proporcionaria uma crença inconsistente (p -p). De fato, ele salienta em [DRBG]
O enigma das atitudes proposicionais 213
que o problema de Ralph é ter apenas feito um engano empírico de não estar
ciente de que o homem que ele viu em duas ocasiões separadas é o mesmo.
Cresswell deixa evidente, em notas bibliográficas de seu trabalho, que essa
solução também deveria ser trabalhada para o enigma de Pierre: trata-se apenas
de se fazer uma distinção entre o objeto (a sentença enunciada), o conteúdo
(significado da 'sentença-que') e o conteúdo* (o que x acredita diretamente –
proposição) .
Em outras palavras, considerando a distinção entre conteúdo e
conteúdo*, a análise da crença de Pierre de que 'Londres est jolie' e 'London is
not pretty' não apresenta crenças inconsistentes. O conteúdo das crenças de
Pierre, seguindo a mesma análise de (i) e (ii) da página 133 para Ralph, não
permite a contradição. Nessa mesma linha de argumentação, para justificar a não
contradição das crenças de Pierre encontra-se Lewis (1982).
E o que dizer da análise de sentenças como (35) e (36) do capítulo 2 que
ilustram atitudes de re em contextos com descrições definidas que não referem a
mesma coisa? De fato, a sentença (35), abaixo reproduzida como (6),
é problemática para Cresswell, pois ele não vê como explicar essa crença de M.A.
em duas coisas diferentes como se fosse uma única. Vale a pena lembrar que
Marco Aurélio tem a impressão de que o mais importante código da antiguidade
está escrito em papel, e é essa característica que faz com que (6) seja falsa.
Cresswell reconhece (cf. [2.32]) que não tem muito a dizer sobre exemplos dessa
natureza e que, para fins da análise de re, ele apoia uma abordagem
grosseiramente russelliana para descrições definidas. Dito de outra forma,
descrições definidas enquadram-se na mesma categoria sintática dos
quantificadores, possuindo, portanto, a propriedade de tomarem escopo amplo ou
restrito sobre os operadores sentenciais.
A questão fica em aberto. Serão exemplos dessa natureza sem solução?
214 Ana Maria Tramunt Ibaños
Trata-se de uma relação do sujeito com o significado, não com a sentença. Mas,
por outro lado, Cresswell se vê pressionado a resolver os exemplos de
expressione como (46), aqui visto em (8).
(9) Catulo disse de Cícero que ele foi gago desde criança
associada à atitude de Catulo ao que (8) expressa. Mesmo que Cresswell não
desejasse, parece impossível escapar a uma análise, pelo menos parcialmente,
da própria sentença ou de seu uso linguístico. Ele próprio reconhece (cf. [DRBG])
que nesta área a sua abordagem não fica claramente explicada, mas que talvez
fosse possível permitir-se que as próprias expressões linguísticas servissem
como argumentos extras, dentro de categorias englobadas pela 'sentença-que'.
155
Cresswell tampouco faz uso dos argumentos relacionados à tradução.
O enigma das atitudes proposicionais 215
(11) Herón¹ acredita que Hipácia² acredita que nela² ele¹ acredita
em que 'ele' e '(n)ela' estão em uma posição que pode ser correferencial com 'u' e
'v' que, juntamente com 'z' e 'w', estão na categoria 1, enquanto que 'x' e 'y' estão
156
Gupta & Savion mencionam o trabalho de Aczel (na época, a sair em 1988). Se essa é ou não
uma solução viável, exigiria uma análise detalhada das possibilidades das teorias dos conjuntos.
Cf. Barwise & Etchmendy "The Liar".
216 Ana Maria Tramunt Ibaños
(13) Marco Antônio acredita que Júlio César acredita que Brutus é fiel
(16) Embora seja uma verdade necessária, Hamurabi não sabe que
Hesperus é Phosphorus
(17) Embora seja uma verdade necessária, Hamurabi não sabe que
Hesperus é Hesperus
(18) Embora seja uma verdade necessária, Hamurabi não sabe que o
planeta chamado 'Hesperus' é o planeta chamado 'Phosphorus'
157
Cresswell apresenta esse mesmo artifício de se usar uma descrição definida como uma
segunda maneira de se resolver o problema de Pierre. London seria interpretado como 'a cidade
que Pierre conhece sob o nome de London' e Londres, semelhantemente, seria 'a cidade que
Pierre conhece sob o nome de Londres'. Cf. [SMSPA], p.150-151.
218 Ana Maria Tramunt Ibaños
mesmo que se diz em (17). Essa também é a linha de argumentação de Gupta &
Savion [SPA] ao analisarem questões relevantes do [SMSPA].
O segundo aspecto diz respeito a paradoxos do tipo apresentado na
sentença (76) do capítulo 2 e aqui reproduzida como (19),
158
(23) Marco Aurélio disse que eu discursei
que pode ser usada para relatar apenas uma verdade sobre o estado de Xantipa
como, também, ser usada por alguém chocado que deseja mostrar a palavra
indelicada usada por Sócrates para com Xantipa. 'Babar', e somente babar, então,
tem que ser apresentada com o operador de citação como em (26),
158
Cresswell chama atenção para o fato de que é possível que em linguagem falada existam
diferenças sutis de entonação entre as duas interpretações, mas o que importa para ele é que
duas estruturas lógicas subjacentes estão envolvidas, e é com essas estruturas que ele se
preocupa. (cf.[SMSPA], p.116)
220 Ana Maria Tramunt Ibaños
uma última palavra em favor do autor se faz necessária. Quando ele se referiu à
questão do contraste implicado, deve ficar claro de que não se trata de um
solução determinada somente pelo stress. Em análises de sentenças de crença
[DRBG], Cresswell e Stechow dão conta dessa questão em termos de linguagem
categorial , com sentenças do tipo (30) e (31) abaixo:
159
Uma propriedade é proposicional sse está conjugado a uma combinação no mundo, isto é,
para cada mundo w ou é verdadeira para cada indivíduo e w ou é falsa para cada indivíduo
em w.
222 Ana Maria Tramunt Ibaños
Embora nenhuma aplicação tenha sido feita para sentenças do tipo (28) e
(29), é bem provável que essa solução dada por Cresswell e Stechow para
crenças possa ser aplicada aos casos de hiperintensionalidade como os
expressos em (28) e (29).
Se esta avaliação da análise que Cresswell faz das AP é correta, então,
poder-se-ia sintetizar, assim, os principais resultados e problemas que se seguem
da aplicação de sua teoria.
Em termos de resultados positivos, pode-se dizer que:
(38) e, p,q
(41) será falso, pois o que Catulo disse foi e,T,S. A única forma de (41) dizer
algo de verdadeiro seria considerar a sua 'sentença-que' como nomeando (44),
(45) Catulo disse que Tully é sério e nenhum senador é sério, e Tully não é
um senador
Entretanto, (45) não foi o que Catulo disse. A opinião de Richard, também
defendida por Gupta e Savion, é que, mesmo que Cresswell argumentasse que
na sua visão há leituras de (45) que não são acarretadas pela leitura de (41),
embora isso seja correto, não está claro como pode melhorar a questão.
O segundo problema decorre de os verbos de atitude mostrarem certos
tipos de sensibilidade (ou insensibilidade) à estrutura que a teoria de Cresswell
não dá conta. Conforme ocorre com o exemplo abaixo,
(47) Brutus disse que o homem que foi morto era rude e déspota.
sentença, existe um operador 'que' que se combina com a sentença para formar
um nome da intensão, e assim por diante.
A essa pergunta, ele apenas responde, em [DRBG], que está inclinado a
pensar que todos os casos de hiperintensionalidade envolverão, implícita ou
explicitamente, algum operador como 'que'; não tem uma resposta elaborada para
isso, mas enquanto não oferecerem uma solução melhor prefere a sua.
Uma última palavra sobre a questão dos significados estruturados.
Conforme foi apresentado no capítulo 2, essa noção de SE está vinculada àquela
de composicionalidade que se origina no chamado princípio de Frege. Portanto,
qualquer crítica que se faça à ideia de significados funcionalmente
composicionais, conforme Cresswell explicita em [2.25], terá que arcar com o
peso de estar negando um construto teórico quase incontroverso (cf. Partee [C]).
É bem verdade que os motivos de disputa envolvem argumentos sérios e
160
relevantes relacionados a restrições sintáticas e/ou ao mapeamento da sintaxe
para a semântica. Contudo, Cresswell não necessita justificar a sua escolha ou
rebater argumentos dessa natureza. O importante é que ele assume a
propriedade composicional da linguagem, como afirma em [2.18] e trabalha a
composicionalidade dentro de uma teoria do significado específica, aliada a um
detalhamento completo do que é exigido pela relação 'é função de'. E é
exatamente isso o que Partee [C] considera ser fundamental para a
caracterização da composicionalidade, a saber: apresentar-se dentro de uma
teoria.
E sobre a semântica das condições-de-verdade, o que se pode
comentar?
A SCV, respaldada na lógica clássica bivalente, obviamente tem seus
méritos. Um dos seus aspectos mais importantes é a maneira desproblematizada
e não redundante com que trata a noção do significado: conhecer o significado de
uma sentença é especificar todas as possíveis condições em que tal sentença é
verdadeira; ou, em outras palavras, é fornecer as condições suficientes e
necessárias para a verdade dessa sentença. A noção central é de que existe uma
relação entre a sentença e o mundo e esta característica é considerada por
160
cf. Chomsky (1975).
228 Ana Maria Tramunt Ibaños
161
Na realidade, Jackendoff [SC] acredita que a suposta relação entre linguagem e realidade tem
pouca, se alguma, relevância para a natureza dos julgamentos linguísticos e cognitivos.
O enigma das atitudes proposicionais 229
162
observa, é possível escolher uma ou outra das teoria semânticas para se fazer
uma análise de questões relevantes para a teoria do significado. Essas servem,
portanto, como um contraponto para a computação final da relevância do trabalho
de Cresswell.
Em se tratando do sistema de intensões, Cresswell tem a seu favor o fato
de que se trata de um construto teórico respaldado pelos trabalhos de, entre
outros, Carnap [MN], Kripke [NN] e Montague [PTQ]. Conforme visto em [1.29],
ele apresenta vantagens para o tratamento das AP, uma vez que se constitui no
modo de se determinar a referência de uma expressão. Consequentemente,
torna-se um instrumento significativo para a resolução do problema de contextos
não referenciais como os de crença.
A sua utilização, contudo, não é de forma alguma consensual. Há um
grande número de teóricos extensionalistas – e neles se incluem Quine e
Davidson – que não aceitam qualquer possibilidade de se povoar o mundo com
entidades tão estranhas como as intensões. Aliás, Quine explicita em [1.55] bem
essa opinião, recusando-se a postular qualquer coisa que vá além de entidades
extensionais. O espírito extensionalista exige que nenhuma entidade intensional
seja admitida na análise. Consequentemente, se propriedades têm que ser
admitidas, elas devem ser identificadas com coisas extensionais. Ademais, poder-
se-ia dizer que uma alternativa que não requer apelo a entidades intensionais e
não necessita de nenhuma referência a uma determinada língua (cf. isomorfismo
intensional de Carnap) como a desenvolvida por Davidson é menos problemática
e não se sobrecarrega de entidades extras.
Interessante notar que os extensionalistas acusam teóricos
intensionalistas de usarem entidades estranhas e, absolutamente, obscuras. Mas,
da mesma forma, parece que os extensionalistas enredam-se com entidades se
não obscuras, pelo menos, também, problemáticas. Por exemplo, Cresswell
poderia perguntar a Davidson como ele explicaria, dentro de uma análise
semântica, uma questão pragmática como o enunciado? Além disso, que espécie
de primitivo é 'dizer o mesmo', conforme Davidson explicita em [1.63]?
162
Além das citadas no texto, poderiam aparecer a semântica teorética dos jogos de Hintikka e a
semântica situacional de Barwise & Perry como duas concepções opostas à de Cresswell.
230 Ana Maria Tramunt Ibaños
163
Cf. Yagisawa (1988).
O enigma das atitudes proposicionais 231
Pode-se considerar em (48) Marco Aurélio como o sujeito, e 'o dizer' como uma
atitude. Pergunta-se: (a) Qual será o objeto da atitude?, (b) Qual o significado da
'oração-que'? ou (c) Quais as suas condições-de-verdade?
232 Ana Maria Tramunt Ibaños
(o) mais uma evidência de que o significado não pode ser reduzido a
representações mentais.
164
Dentre esses aspectos sobre os quais Richard nem mesmo menciona, estão questões
relacionadas com nomes ficcionais, quantificação fora do escopo da atitude, e questões sobre a
contribuição que as descrições definidas podem dar para atribuições de atitudes.
234 Ana Maria Tramunt Ibaños
(i) Ao refutar uma análise de re, como Richard pode dar conta de
exemplos como (76) e (77), reproduzidos abaixo em (50) e (51)?
(53) (x) x é uma pessoa desta sala e x algum dia terá fome
(iii) Que explicação tem Richard para sentenças como (54) e (55),
análogas aos exemplos (29) e (32) do capítulo 2?
(55) Eratóstenes acredita de (357) + (6² 9) que a soma é igual a 81
entre (54) e (55) é patente. Convém lembrar que, para Richard, é importante que
se determine não somente o 'que' mas também o 'como' da crença. É necessário
que se considere o conjunto de todos os fatos sobre o acreditador que são
relevantes para a verdade e falsidade das atribuições de crença. Portanto, trata-
se de se considerar o sistema representacional do acreditador. Mais ainda, como
o próprio Richard ressalva em [SNB], está claro que o dizer que a adição dos
elementos de (54) soma 9 não é semelhante ao dizer de (55) que a adição de
seus elementos soma 9. Mesmo que Eratóstenes tivesse aprendido,
simultaneamente, as duas formas de somar, o uso de diferentes palavras na
linguagem pública, automaticamente, faz com que as sentenças digam coisas
diferentes, não importa o que seus usuários saibam.
b. Por outro lado, o que se pode dizer da análise apresentada por Richard para
atitudes de se? Embora ele não tenha trabalhado com essas atitudes visando à
explicação das RAMs, não se pode negar que a análise é bem abrangente e
parece dar conta de questões de autoatribuição. No entanto, algumas questões
são importantes e não podem ficar pendentes. Como foi visto, Richard mantém
que, pelo menos em casos de crenças tipicamente expressos por demonstrativos,
indexicais ou nomes, a crença é triádica (cf. [3.8]), isto é, além da proposição
acreditada, existem maneiras de acreditá-la e essas maneiras podem ser usadas
para a resolução dos problemas de de se. A questão, portanto, que se faz é se
não seria mais simples, em vista dos exemplos (66) a (70) do capítulo 3, em vez
de abordar a relação acreditador-proposição-modo considerar-se uma análise em
termos de autoatribuição de propriedades qualitativas? Dito de outra forma, dado
o exemplo (72) reproduzido abaixo como (56),
não seria muito mais fácil postular 'si próprio' como uma locução que enfatiza a
relevante diferença entre o expresso pela sentença-complemento e a descoberta
de que esse 'ele' fez sobre si mesmo? Nessa linha de argumentação, por sinal,
trabalha Chisholm (1981), que estabelece como uma noção primitiva o que ele
O enigma das atitudes proposicionais 237
c. Quanto à abordagem dada às sentenças iteradas, por outro lado, parece que
Richard consegue uma solução apreciável. A utilização de um tratamento
hierárquico – no qual os diversos verbos de AP encontram-se em diferentes níveis
– permite que tais verbos apresentem valores semânticos distintos e,
consequentemente, não ocorra a mesma dificuldade que Cresswell enfrenta com
sentenças do tipo (61) reproduzida em (10) neste capítulo.
Mas Richard também tem que pagar um preço por essa solução: atribuir
ambiguidade ao verbo. Se cabe a Cresswell explicar a ambiguidade do 'que', e ele
bem poderia valer-se de seus exemplos aritméticos para uma justificativa – da
mesma forma, cabe a Richard explicar essa ambiguidade "infinita" das funções
que operam sobre os valores semânticos dos verbos de atitude. Além disso, a
explicação deverá ser estendida às RAMs, já que elas também trabalham em
hierarquias diversas.
A resposta que ele certamente daria é que os verbos devem ser tratados
como indexicais e 'acredita', por exemplo, tem um único significado; o que muda
através de contextos é sua interpretação. 'Acredita' e outros verbos de AP são
predicados de três lugares que tomam nomes de um acreditador, uma RAM e
238 Ana Maria Tramunt Ibaños
(59) Ele é inteligente, mas o homem com quem ele está falando é mais
inteligente
existem dois diferentes tokens de demonstrativo e, uma vez que cada token
determina uma representação diferente, a RAM que a sentença determina não
será reflexiva.
E qual a solução que Richard daria para uma sentença como (60)?
(60) Eu sou inteligente, mas o homem com quem eu estou falando é mais
inteligente
(c) as RAMs são um dispositivo poderoso que podem, por certo, dar
conta de diversas questões de atitudes, como é o caso do enigma de
Pierre, por exemplo;
em uma conversação cujo tópico é saber se Catulo listaria Tully como um romano
falecido ou não. Em um contexto dessa natureza, de acordo com Richard, as
restrições – determinadas contextualmente (cf. Princípio I, p. 154 ) – que estão
em funcionamento são:
Já que Catulo aceita o relato de que Tully está morto, a sentença é verdadeira.
Surge, no entanto, um problema se for imaginada uma situação contrafactual, um
mundo possível em que o nome de Tully é escrito/pronunciado com um 'o' final,
'Tullyo'. Nada mais é diferente, somente isso. Parece que seria óbvio pensar-se
que o relato de crença deveria ser verdadeiro mesmo se o nome de Tully fosse
pronunciado diferentemente. Mas, com as restrições contextuais propostas por
Richard, isso não é possível. Catulo não tem uma RAM em seu SR em que 'Tullyo
está morto' conta como uma representação apropriada. O relato é, pois, falso.
Esse tipo de consideração é feita por Saul [SAP], que argumenta que o
problema consiste no fato de que tais restrições fixadas pelas intenções não
produzem condições-de-verdade quando outros mundos possíveis estão sendo
levados em consideração. Isto, de acordo com Saul, deveria servir como um aviso
de que tais restrições não deveriam ser construídas na semântica.
Mas o questionamento sobre a validade das restrições assume outras
facetas; trata-se de considerar o problema do ponto de vista de excesso e de
insuficiência de restrições. Quanto ao primeiro caso, o próprio Richard tenta se
165
adiantar a qualquer objeção e, através do exemplo (48) sobre tradução para o
Latim, mostra o que ele entende ser apenas uma confusão sobre a função das
RAMs. De qualquer forma, sua explicação e sua justificativa não evindenciam um
166
exemplo como o que se segue :
Suponha que Laura (em sua primeira aula de Filosofia da Linguagem)
aprendeu que:
165
cf. capítulo 3, página 155.
166
Exemplificação semelhante à usada por Saul [SAP] para contrapor a teoria de Richard.
244 Ana Maria Tramunt Ibaños
Ao relatar a sua primeira aula para a sua mãe, e sem saber que Hamurabi
falava apenas acadiano e que, portanto, não usaria as palavras gregas 'Hesperus'
e 'Phosphorus', Laura toma as crenças de Hamurabi como ligadas a essas
palavras. A pergunta nesse caso seria: como explicar a crença de Hamurabi?
Richard argumenta que em um caso normal, as restrições para (63) e (64)
em funcionamento correspondem a (65) e (66).
Como nem Lois nem Jimmy sabem qualquer coisa da vida dupla de Clark Kent,
não há razões para se pensar que (69) e (70) possam diferir em seus valores-de-
verdade. Mas, embora Lana não tenha qualquer crença relacionada a Clark Kent,
como todo o mundo, ela acredita que Super-homem salvará o mundo. O problema
que se apresenta, então, é o seguinte:
Quaisquer que sejam as restrições que estão operando no contexto, elas
têm que ser da mesma espécie para ambos os enunciados. Normalmente não
são colocadas restrições fortes nas correlações das palavras nas RAMs dos
acreditadores e dos atribuidores de crença. É necessário que haja alguma razão
especial para se pensar que o acreditador deva aceitar a mesma sentença com a
qual um relato de crença é feito. Como Jimmy e Lois não têm tal razão, e visto
que parece implausível supor-se que o contexto forneça restrições do tipo (71) e
(72),
167
Como o exemplo é uma adaptação simplificada do ex. oferecido por Saul, ignora-se para efeito
da análise a questão de existenciais negativos, mundos ficcionais, etc.
246 Ana Maria Tramunt Ibaños
(r) as restrições das RAMs não permitem que se estabeleça com precisão
o seu funcionamento.
168
Como, por exemplo, a sintaxe e a pragmática, enquanto áreas da linguística, e da lógica e
matemática, enquanto disciplinas formais.
O enigma das atitudes proposicionais 249
169
O debate pode ser encontrado em vários lugares; destaca-se George, A (1989) Reflections on
Chomsky, Katz & Postal (1991), Higginbotham (1991), Israel (1991) e Soames (1991), todos os
últimos em Linguistics and Philosophy 14.
250 Ana Maria Tramunt Ibaños
elucidar tal relação ao nível lógico para o mesmo problema em nível psicológico,
com o agravante de que a segunda resolução parece mais problemática?
Conceptualistas como Chomsky, Fodor e Jackendoff, por sua vez, têm
feito insistentes críticas ao que eles têm denominado de 'Linguística P', de
platônica, em oposição ao que chamam de 'Linguística C', de cognitiva, forma de
investigar a linguagem que eles propõem. Para a linguística C, conforme
Chomsky (1987), o que interessa é a verdade sobre a mente/cérebro das pessoas
que falam inglês-C, português-C, etc., adequadamente idealizado. Nesses
termos, a linguística pertence às ciências naturais, mais especificamente, à
psicologia cognitiva. A linguagem em jogo, então, é a linguagem interna, um
estado mental cuja natureza é o conhecimento da língua e que se opõe às
diversas formas que uma linguagem externa assume. Tais formas, inclusive de
linguagens lógicas, não são o verdadeiro objeto da linguística para os
conceptualistas pois não têm existência no mundo natural e caracterizam-se pelas
suas idiossincrasias estruturais, culturais e políticas. Se uma linguística platônica
propõe, observa Chomsky (1987), que, além da linguagem interna (I) garantida
pela evidência de como as crianças adquirem um sistema linguístico, e das
linguagens externas evidentes e verificáveis, ainda existe uma linguagem de
entidades abstratas, então tal linguística P é a que tem o ônus de sua justificativa.
Em outras palavras, os conceptualistas jogam sobre os realistas o ônus da prova.
Se alguém acredita em entidades abstratas, assume o preço de ter que provar
que elas existem. Jackendoff (1983) reforça o conceptualismo de Chomsky,
argumentando que as teorias logicistas de nossa linguagem, nascidas do
equívoco dos lógicos do século XIX, início do XX, que viam a linguagem natural
como logicamente imperfeita, são inadequadas e inaceitáveis porque traduzem,
de maneira absolutamente implausível e não intuitiva, a estrutura das sentenças
da linguagem natural. Para Jackendoff, não há justificativas para a enorme
diferença que os semanticistas lógicos estabeleceram, por exemplo, entre 'Rex é
um cachorro' e 'O vira-lata é um cachorro' com 'Cr' e '(x) (Vx Cx)', para citar o
caso mais típico. Além disso, como observa Jackendoff (1983), é implausível que
se trabalhe, na semântica lógica, com uma noção de verdade cujo caráter é a
relação entre a sentença e o mundo real ou mundos possíveis. O mundo que
interessa é um mundo projetado, constituído de entidades representadas
252 Ana Maria Tramunt Ibaños
60 e 70, por exemplo. Cabe ainda considerar que entre duas teorias concorrentes
a relação entre os efeitos teóricos – soluções de problemas ou resultados – e o
custo metodológico – simplicidade do modelo, apelo a recursos incontestáveis – e
ontológico – compromisso com primitivos poucos e plausíveis –, pode servir à
maneira de Sperber & Wilson (1986) como medida de relevância para a
comparação entre elas, as teorias.
Dito isso, à luz de tais critérios, trata-se, agora, de efetuar-se a avaliação
do debate enquanto confronto das teorias TSE e TS tomadas como um todo
estruturado.
Praticamente, no decorrer do trabalho foram delineadas a abrangência e
as limitações de ambas as teorias discutidas. As duas situam-se dentro da
tradição de Frege e Russell, mas divergem na maneira como veem o
comportamento das expressões dentro de atribuições de atitudes.
Cresswell desenvolve sua teoria essencialmente dentro da linha fregeana.
Para ele, a questão de contextos oblíquos requer uma análise composicional e
intensional. Para isso, ele preenche o seu mundo com mundos possíveis,
condições-de-verdade e trata o significado das sentenças de AP a partir dessa
relação, através de uma análise estruturada com o auxílio de linguagens
categoriais . Embora insista em não querer se comprometer com questões
ontológicas sobre o que é o significado, a sua ação permite que se infira o seu
comprometimento com entidades abstratas, dentro de uma concepção realista.
Cresswell é, na verdade, um semanticista lógico que, à maneira montaguiana,
não vê motivos para se tratar a linguagem natural diferentemente das linguagens
matemáticas. Por essa razão, ela adota a estratégia de estudar linguagens
naturais por meio de técnicas aplicadas ao estudo de linguagens formais, assim
especificado em (k) e (l) da p. 242.
Em outras palavras, pode-se dizer que Cresswell
(a) conforme especifica na nota 71, assume que qualquer coisa é uma
coisa, e que é desavergonhadamente platonista, e na nota 64 assume uma
concepção realista da verdade;
254 Ana Maria Tramunt Ibaños
(d) assume proposição como uma entidade abstrata [2.12] e trabalha com
propriedades que nada mais são do que uma função de coisas para conjuntos de
mundos;
e, por tudo isso, é um realista e, como tal, cabe-lhe o ônus de se defender contra
os argumentos que pesam contra o realismo, a saber:
pode-se concluir que ele é um conceptualista. E, como tal, também lhe cabe o
ônus de se defender contra os argumentos que pesam contra o conceptualismo.
(h) deve esclarecer, por fim, o que significa o mentalês para a explicação
da relação de significados das línguas.
Richard não se sente ameaçado por essas questões, uma vez que rejeita
ser rotulado de conceptualista. Ele, na realidade, apresenta-se num meio termo
entre o conceptualismo e o nominalismo, visto que trabalha tanto com
representações quanto com a própria sentença em termos linguísticos. Para ele,
conforme especificado em [3.21] e [3.22], se há uma diferença estrutural, qualquer
que seja, nas sentenças-conteúdo das 'sentenças-que', elas nomeiam coisas
distintas. Além do mais, ressalta que proposições são objetivas e independentes
da mente. A relação das AP com uma proposição é que decorre de algum estado
psicológico de maior ou menor intensidade do atribuidor de crença. Considera-se,
na verdade, um sentencialista que, conforme [3.24], não tem qualquer relação
com o nativismo alarmante de Fodor e outros.
Mas ao se comprometer com sentencialismo, pode estar se
caracterizando como um extensionalista típico. Se assim fosse feito, no entanto,
teria que explicar as críticas fortes de Schiffer, por exemplo, que o acusaria de ser
O enigma das atitudes proposicionais 259
(e) falha em apresentar razões claras de sua não aceitação das atitudes
de re;
(j) não explica com clareza os dispositivos teóricos que utiliza, como
concordância referencial, sistema representacional, contexto e intenção.
Pelo o que se viu na seção 4.1 e nas conclusões (a) - (g) da página 266,
parece que a teoria de Cresswell apresenta maiores poderes de explicação,
abrange um número maior de casos, alcançando uma maior capacidade de
generalização. Pelos compromissos claramente realistas que adota, a TSE tem
sobre si o peso dos argumentos contra o realismo. Cresswell responde parte
deles e mantém uma estrutura absolutamente segura na linha de condução de
sua teoria. Richard, por outro lado, como se observou na seção 4.2 e nas
conclusões de (a)-(J) das páginas 268-269 peca por não ser claro e não
estabelecer, com precisão, todos os elementos de que se ocupa para a análise
das AP. Além do mais, o fato de não se preocupar em explicar o maior número
possível de casos deixa uma margem para se pensar na provável não
aplicabilidade de sua abordagem. Também, não se pode deixar de considerar que
os casos que sua teoria resolve são solucionados ao custo de uma estratégia que
mistura entidades de naturezas diferentes – físicas e mentais – e que,
consequentemente, enfrenta críticas fortes: Richard precisa explicar tanto a sua
adoção do conceptualismo quanto os resíduos do nominalismo presentes em sua
abordagem. Parece óbvio, portanto, que se forem computados os resultados de
ambas as teorias, levando-se em consideração o custo ontológico e
metodológico, pode-se dizer que
(2) a teoria de Cresswell parece mais relevante do que a teoria de Richard
em relação à apresentação de soluções para o problema das AP.
262 Ana Maria Tramunt Ibaños
CONCLUSÃO
S crê que p
p=q
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