Candomblé Bantu e A Importância Dos Afro-Saberes Na Educação - Geledés Importante

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28/03/2018 Candomblé Bantu e a importância dos afro-saberes na educação - Geledés

Candomblé Bantu e a importância dos afro-saberes na educação

Kamila Gomes Borges – Maganza Muxinandê, de Uambulu N`sema, mona kwa nkisi Nzo Tumbansi,
Itapecerica da Serra/SP

O CANDOMBLÉ CONGO-ANGOLA: MANIFESTAÇÃO BANTU A IMPORTÂNCIA DOS SABERES


AFRO-RELIGIOSOS NA EDUCAÇÃO

Kamila Gomes Borges [1]

RESUMO

O presente artigo analisa o terreiro tradicional de Candomblé Congo-Angola Inzo Tumbansi de


tradição Bantu, que busca aprofundar em seus costumes de tradição africana. A história dessa
manifestação cultural-religiosa é de extrema importância, para entender a nossa identidade
brasileira.  A intenção aqui é mostrar que a história do povo de santo não é uma história
invertebrada, ao contrário, é longo o caminho que temos que percorrer para aprofundar nesse
conhecimento que foi tão deturpado ao longo dos anos.                                                                           
             

INTRODUÇÃO

Após serem submetidos a um processo de invisibilidade, em virtude da folclorização das


manifestações religiosas de matrizes africanas que privilegiavam os modos de ser da liturgia dos
Candomblés de origem nagô, os terreiros Bantu reinventam-se não como uma manifestação
milongada [2] apenas, mas como comunidades autênticas e mantenedoras da memória africana
reproduzida em seus espaços. Atitude que prevaleceu durante todo o processo escravocrata no
qual foi imposta a desumanização aos africanos escravizados que nesta circunstância, para
manter o espaço perdido tanto geográ co, como a dimensão subjetiva, rea rmaram nos terreiros
suas dinâmicas de conhecimento e posicionamento existencial frente ao mundo, pois foram essas
uma das formas que dispuseram de manter sua humanidade alijada de seu território e símbolos
originais.
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A produção
28/03/2018 desse conhecimento tem muito a contribuir comBantu
Candomblé a temática da dos
e a importância diversidade étnico-
afro-saberes na educação - Geledés

racial, também serve como estratégia de combate a intolerância religiosa e contra o racismo.
Aponta ainda para a emergência de novos paradigmas à prática educativa pautada hoje por um
discurso no qual se a rma a inserção de todos e todas independente de cor, sexo e condição
econômica. Através do conhecimento sobre os costumes educativos praticados nos Candomblés é
possível ter novos subsídios para o ensino de história e da cultura afro- brasileira.

A compulsória falta de conhecimento relacionado às questões raciais resulta, sobretudo, no


despreparo dos pro ssionais da educação diante dos con itos étnicos presentes no cotidiano de
alunos e alunas submetidos a uma estrutura social racista, onde muitas vezes são esses
pro ssionais os reprodutores de práticas discriminatórias onde se rea rma as atrocidades
direcionadas à população afro-descendente e o sofrimento a ela imposto.

O diálogo nas escolas voltado para o combate ao racismo e para o respeito à diversidade cultural
no Brasil, pode ajudar os educadores e educadoras a compreenderem melhor seu lugar como
sujeito histórico e a partir desse ponto de vista desenvolverem e fortalecerem as diversas
identidades envolvidas em um processo social.

Alguns avanços resultantes das pressões do movimento negro sobre as diretrizes do Estado no
que tange a população afro-descendente resultou na lei 10.639 de 9 de janeiro 2003, que  altera a
Lei Federal nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 em que estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional para incluir no currículo o cial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.

Como medida compensatória a mutilação imposta à população afro-descendente no Brasil, essa


lei impõe a necessidade de levar a história africana e do negro no Brasil para as escolas e salas de
aula, ou seja, criar a visibilidade das tradições africanas, os saberes de seus povos,
sistematicamente ocultados e distorcidos por estereótipos.

A escola enquanto instituição burocrática está empobrecida de símbolos e ritos, pesquisar um


terreiro de candomblé, rico de mitos e ritos, pode ser um meio interessante de mostrar como
práticas simbólicas, portanto educativas, ainda desconhecidas e /ou segregadas podem nos
indicar novos caminhos para uma educação inclusiva (BOTELHO, 2005:6).

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Para Botelho
28/03/2018 o bojo simbólico das tradições africanas e especi
Candomblé camente
Bantu e o Candomblé
a importância dos afro-saberes pode sugerir
na educação - Geledés

novas dinâmicas de aprendizado e estímulos para alunos e alunas das instituições educacionais.
Divulgar o conhecimento sobre religião de matriz africana é uma maneira de ampliar a
compreensão da diversidade cultural no nosso país, pois sabemos da di culdade de aceitação que
existe com relação aos cultos de Candomblé em virtude da sistemática racista na sociedade
brasileira. Pensar a diversidade na educação é possibilitar inclusões, solidariedade e respeito.

CANDOMBLÉS

O Candomblé é o resultado da reelaboração de diversas culturas africanas. É uma religião de


matriz africana, mas recriado em novo território, é, portanto uma religião afro- brasileira .

Lugar para onde está voltada a memória, onde aqueles que viveram a condição- limite de escravo
podiam pensar-se como seres humanos, exercer essa humanidade, e encontrar os elementos que
lhes conferiam e garantiam uma identidade religiosa diferenciada, com características próprias,
que constitui um patrimônio simbólico do negro brasileiro (a memória cultural da África), a rmou-
se aqui como território político-mítico-religioso, para sua transmissão e preservação (SODRÉ,
1988:50).

É o lugar onde as comunidades construíram seus templos, lugar de orgulho, fonte cultural de
matriz africana.

Essa reconstrução das religiões africanas no Brasil ocorreu não só como uma forma coletiva de
resistência cultural, mas, em primeira instância, como uma necessidade para enfrentar o infortúnio
ou os tempos de experiência difícil, dos quais a escravidão é sem dúvida um dos casos mais
extremos (PARÉS,2007:109).

Quando os portugueses chegaram a terras brasileiras já havia pelo menos 50 anos que tra cavam
escravos em África. É bem possível admitir a presença de africanos escravizados nas primeiras
embarcações chegadas ao Brasil.“A primeira notícia documentalmente comprovada da presença
de escravos em tripulações lusitanas, no Brasil, é a que envolve a viagem comercial da nau Bretoa,
em 1511” (TINHORÃO, 2008:16)

Ao iniciar-se o século XVII já havia cerca de 20 mil africanos e afro-descendentes no Brasil. Ainda
no século XVII temos o registro das manifestações de culto afro-baiano registrada na poesia de
Gregório de Matos que chamavam de calundu. “Que de quilombos que tenho/Com mestres
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superlativos/Nos
28/03/2018 quais se ensina de noite / Os calundus e feitiços”
Candomblé (PARÉS, dos
Bantu e a importância 2007:113)
afro-saberes na educação - Geledés

O poeta informava que em terreiros abertos nos matos próximos das cidades, os negros
realizavam sessões de religiões africanas em que mestres de cachimbos invocavam calundus para
saber o destino.

Podemos entender então o calundu como um conjunto de práticas religiosas praticadas


principalmente pelos africanos e seus descendentes. Praticavam danças em locais ermos, em
roças, onde havia altares, sacrifícios de animais e oferendas alimentícias, sugerindo serem os
antecedentes dos futuros candomblés do século XIX. “Os sacrifícios animais as oferendas de
comidas rituais nos altares dedicados às divindades constituem a base da religiosidade africana,
especialmente das tradições da África Ocidental” (PARÉS, 2008:116)

No século XVIII, calundu foi um termo genérico utilizado para designar atividades religiosas de
várias índoles, porém de origem africana em oposição às práticas católicas. A palavra calundu é de
origem Bantu segundo Yeda Pessoa de Castro a palavra “kalundu signi ca obedecer a um
mandamento, realizar um culto, invocar espíritos, com músicas e danças.” ( CASTRO apud SOUZA
2002:3)

O Candomblé que é também palavra Bantu remete especi camente ao local e ao culto de práticas
religiosas afro – brasileiras. No Candomblé as nações se dividem e diferenciam-se por vários
elementos rituais como danças, instrumentos, línguas e músicas. “O termo nação foi perdendo sua
conotação política para se transformar num conceito quase exclusivamente teológico” (PARÉS,
2008:102).

Desde o início do século XIX existem registros dos primeiros Terreiros de Candomblés na cidade de
Salvador. “O primeiro foi à Casa Branca ou Ilê ya Naso  fundada em 1830.” ( CARNEIRO apud
BARROS,2003:34 )

Adeptos desse Candomblé relatam que sua Casa teria sido fundada por três mulheres chamadas
Iá Adetá, Iá Kala e Iá Naso . Contam que também seriam provenientes de Ketu, cidade hoje
localizada no Benin, África, e que o nome Iá Naso, correspondia a um título altamente honorí co na
corte de Ala m (rei) de Oió, do reino de mesmo nome situado na atual Nigéria. (BARROS 2003:34)

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O povos
28/03/2018 africano de origem sudanesa chegaram no último Bantu
Candomblé período da escravatura,
e a importância “foram
dos afro-saberes na educação - Geledés

concentrados nas zonas urbanas em pleno apogeu , nas regiões suburbanas ricas e desenvolvidas
dos estados do Norte e do Nordeste , Bahia  e Pernambuco, particularmente  nas capitais desses
estados , Salvador e Recife.” (SANTOS 1975:31)

Outro fator é que havia uma intensa comunicação entre África e Bahia através do comércio, sendo
que propiciou aos “Nagôs do Brasil um contato permanente com suas terras de origem.”
(SANTOS 1975:31) Esta ligação, portanto, propiciou uma melhor manutenção de seus costumes.

Os africanos de origem Bantu principalmente de Angola e do Congo foram os povos africanos que
chegaram primeiro durante um período difícil, início da colônia, foram espalhados pelas zona rural
e nesse período não havia muito contato com as cidades. Os africanos que chegaram primeiro
foram escravizados junto com os índios, eles receberam dos indígenas os segredos das plantas da
terra.

Tudo indica que o Candomblé Bantu foi criado nos meados do século XIX.  A história do
Candomblé Congo- Angola está amparada basicamente na oralidade do povo de santo, seus
registros bibliográ cos são muito poucos.

Uma das principais referências que temos são algumas obras de Edison Carneiro, mas que muitas
vezes são pouco esclarecedoras. Pois ele utiliza alguns termos como candomblé de caboclo para
se referir a candomblé Bantu , o que reduz muito o signi cado dessa manifestação.A rma muitas
vezes que os Bantu não tinham mitologias.

Segundo Raimundo Nonato da Silva [3], na história do candomblé Congo- Angola temos


referência de cinco grandes famílias. Temos a família de Maria Neném, de Gregório Makwende, de
Amburaxó ,de  Mariquinha Lemba  e a família Goméia.

A Matriarca Maria Neném a Maria Genoveva do Bon m, Mametu Tuenda Dia Nzambi nascida no
Rio Grande do Sul em 1865, era lha de santo de Roberto Barros Reis, africano de Cabinda ela
assumiu o terreiro Tumbensi em 1909. Segundo depoimento oral dos antigos era mulher muito
enérgica, de semblante fechado, riso difícil, mas de caráter irrepreensível e bom coração, como
prova o ato de adotar inúmeras crianças que criou como lhos até a fase adulta.  A matriarca que
tira a mão do morto [4] de Bernadino da Paixão em 1910 e inicia Manoel Ciriáco . Bernardino da

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Paixão
28/03/2018 foi iniciado por Manoel Nkosi, sacerdote iniciado emBantu
Candomblé África. Foi Manuel
e a importância Ciríaco que
dos afro-saberes criou o- Geledés
na educação

Tumba Junçara e Bernardino da Paixão que fundou o Bate-Folha, outras importantes referências
de Candomblé Congo-Angola no Brasil.

A família de Gregório Makwende é uma referência para história do Candomblé Congo-Angola,


lho carnal de Constâncio Silva e Sousa, angolano de nascimento de quem herdou o terreiro,
nasceu em 1874 e faleceu em 1934.

Temos Mariquinha Lemba, sabe-se pouquíssimo sobre ela, retratam-na como uma mulher de gênio
difícil. Sabe-se que deixou inúmeros descendentes, mas a maioria das casas encontra-se no
Estado da Bahia.

A família Amburaxó, do Sr. Miguel Arcanjo de Souza em sua grande maioria adotou os rituais da
nação ketu. Temos então a família Goméia que é uma das maiores famílias de santo da nação
Congo-Angola. Esta espalhada nas regiões sul, sudeste e nordeste do Brasil.

João da Goméia foi para o Rio de Janeiro, era bailarino pro ssional, levou para os palcos a dança
dos deuses.

POVO BANTU

Os Bantu são formados pelo conjunto de vários povos que falam línguas que tem uma mesma
origem. Abarca praticamente todas as etnias do sul, leste e centro de África, possuem, no entanto,
características culturais semelhantes e são povos falantes de línguas comuns.

A palavra Bantu foi utilizada pela primeira vez em 1862, por W.H.I .Bleck, para designar as
numerosíssimas falas aparentadas […] que cobrem uma superfície de uns nove milhões de
quilômetros quadrados ao sul de uma linha quase horizontal , a cortar o continente africano , da
baía de Biafra a Melinde.O termo banto aplica-se , hoje, também aos povos e somam mais de
duzentos milhões de pessoas que utilizam um daqueles idiomas. (SILVA, 2006:209 )

O universo lingüístico Bantu, ocupam grande porção do continente africano, do centro em direção
ao sul, sendo milhares de falantes, compondo numerosos países. O termo Bantu faz referência a
centenas de línguas e povos diferentes.

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Os Bantu
28/03/2018 saíram das regiões equatoriais (a região Candomblé
que é hoje ocupada
Bantu pelos
e a importância dosCamarões e educação
afro-saberes na pela - Geledés
Nigéria) e dividiram-se em dois movimentos diferentes: para o sul e para o leste criando a maior
migração jamais vista na África. Por motivo ainda desconhecido, esta migração continuou até ao
século XIX.

O nome Bantu não se refere a uma unidade racial. Da sua formação e migração originou uma
enorme variedade de gêneses.  Assim, não podemos falar de uma raça Bantu, mas sim de povo
Bantu, isto signi ca uma comunidade cultural com uma civilização comum e linguagens similares.
Depois de muitos séculos de movimentações, guerras e doenças, os grupos Bantu mantiveram as
raízes da sua origem comum. Os povos Bantu, além do semelhante nível lingüístico, mantiveram
uma base de crenças, rituais e costumes muito similares; uma cultura com características idênticas
e especí cas que os tornam semelhantes e agrupados.

Segundo a tese de alguns lingüistas, as línguas bantas seriam derivadas de uma única língua
comum, denominadas por eles de protobanto.De acordo  com os estudos destes lingüistas, é
possível reconstruir um pouco do modo de vida dos primeiros povos bantos através do estudo de
sua língua. (SCAMARAL, 2008:46)

Era possível saber os alimentos que eles produziam através do estudo do vocabulário, por
exemplo, era mais escasso o vocabulário referente à caça e mais fácil encontrar sobre a pesca.

Pelos estudos lingüísticos e arqueológicos, estamos diante, portanto de pescadores, que


praticavam a agricultura nas bordas da mata, coziam a cerâmica, teciam panos de rá a e outras
bras vegetais, faziam cestos, estavam organizados em extensas famílias, baseadas no prestígio
dos mais velhos. (SCAMARAL, 2008:46)

As populações bantas submetidas à escravidão chegaram ao Brasil, mesmo pertencendo a etnias


diferentes, acabaram ao longo do tempo sendo denominados de angola ou congo. As demais
etnias foram pouco registradas e com o passar do tempo outras denominações acabaram sendo
incorporadas a essa nomenclatura redutora – escravo congo ou escravo angola – independente do
local de origem dessas pessoas.

“Entre os bantu foram os Bakongos e os Ambundos os dois povos que vieram em número mais
expressivo para o Brasil na condição de escravizados e, conseqüentemente aqui deixaram sua
marca, assim como em toda a América, continente que ajudaram a construir.” (ADOLFO, 2010:07)

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As principais
28/03/2018 línguas do tronco Bantu utilizadas noCandomblé
terreiro Bantu
Inzo eTumbansi
a importânciasão Quicongo
dos afro-saberes naeeducação - Geledés

Quimbundo. No Brasil essas línguas são utilizadas para ns litúrgicos, na Angola, Congo e em
outros países que são fronteiras são utilizadas como meios de comunicação cotidiana, faladas por
milhares de pessoas.

Quando falamos desses grupos Bakongos e Ambundos no Brasil, temos que perceber a
importância fundamental desses grupos na formação sócio-cultural do país, nas danças, língua
que falamos, na culinária, modo de ser e religiões.

INZO TUMBANSI

O termo “Inzo” ou “casa” é utilizado no cotidiano dos que acreditam nos inkissi para determinar
lugar onde habita a família. Nesse espaço denominado terreiro existem as construções que
abrigam os assentamentos de cada divindade. É o lugar da memória, das tradições, onde se
preserva uma língua ancestral, onde são entoadas as rezas. Existe ai um parentesco mítico, os
deuses cultuados são os Mukissis [5], de origem africana.

O terreiro Inzo Tumbansi é composto por um espaço de aproximadamente 1000m², com matas em
volta, no meio do terreno está construído o barracão, os quartos de santo, o quarto de dormir,
banheiro, cozinha e sala de jogo. Do lado de fora temos o quarto de Nvumbi, quarto de Kavungo,
outro de Mpambu Njila [6] e logo na entrada do terreiro no tempo temos um assentamento de
Kitembo .

INzo Ia Tumbansi Twa Nzambi Ngana Kavungu – Casa Pedaço de Terra do Deus Senhor dos
Mistérios – Terreiro Candomblé que mantém e conserva a cultura e tradição ancestral congo-
angola(Bantu), é dirigido e organizado pelo Nganga-Nkisi Katuvanjesi –  Walmir Damasceno.O
Tata Katuvanjesi é baiano do município de Barra do Rocha, região cacaueira do sul da Bahia foi
iniciado no Candomblé aos 11 anos de idade no dia 22 de setembro de 1974 quando sofria de
uma doença grave que o impedia de andar .Passou 3 meses recolhido no terreiro Santa Luzia
Tumbenci Filho, no bairro de boca do rio, em Salvador. Tomou suas obrigações de 1,3 e 7 anos com
Nengwa Kwa Nkisi Nvujiká, do terreiro Nvujiká em Ipiáu em 1986.

Em 1989 tomou obrigação de 14 anos por d.Ilza Rodrigues e seu lho Gilvan Rodrigues do terreiro
Matamba Tombenci Neto a obrigação ocorreu no Inzo Ia Tumbansi a (casa fundada por ele),
quando funcionava na zona norte de São Paulo.

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A obrigação
28/03/2018 de 21 anos foi realizada no Inzo Tumbansi quando
Candomblé Bantu eesse funcionava
a importância na região
dos afro-saberes leste de
na educação - Geledés

São Paulo, em maio de 2003 pelas mãos de Nengwa Kwa Nkisi Lembamuxi d. Gereuna Passos
Santos a sacerdotisa responsável pelo Kioxi Tumbenci localizado no bairro Tancredo Neves na
periferia de Salvador. Espaço onde está guardado os pertences sagrados da Nengwa kwa Nkisi
Tuenda Kwa Nzambi, a Sra.Genoveva do Bon m , a matriarca Maria Nenén.

Segundo o Tata Katuvanjesi, o Tumbansi está num processo de reafricanização ou pelos menos
num processo de revisão lingüística e litúrgica, tentando afastar-se do modelo nagô e aproximar-
se cada vez mais de suas raízes Bantu.

As principais divindades cultuadas no Inzo Tumbansi são:


MpambuNjilla,Nkosi,Mavambo,Mutakalambô,Ngunzu,Nkongobila,Katendê,Mpanzo, Kingongo,
Nsumbu, Kavungu, Hangolô,Nzinga Lubondo Nzazi,Luango , Matamba, Uambulu´n´sema
,Kaiongu,Kapanzu, Ndanda Lunda, Kianda, Samba Kalunga ,Kuku’eto, Nzumbarandá , Lemba
Dilê,Lemba Gima. Essas divindades são chamadas de Nkissi, mas no universo lingüístico Bantu
iremos encontrar vários outros termos para nomear essas divindades.

O Nkisi segundo o entendimento dos adeptos é uma força que vem das manifestações da
natureza, como o trovão, o raio, a chuva, a água salgada, a água doce. Todas as coisas vivas estão
interligadas ao ser humano e pode transmiti-lo nguzu em maior ou menor grau. Na cosmovisão
Bantu as realidades humanas, vegetal, mineral são consideradas sagradas e fazem parte de um
mesmo universo. Também as pessoas vivas, mortas e as que estão por vir formam essa cadeia.

A força ou energia que perpassa essas realidades é chamada de Nguzu que está sempre à
disposição dos homens vivos que poderão utilizá-la tanto pro bem como para o mal.

No Brasil os candomblés de congo-angola são dirigidos pelos sacerdotes conhecidos como


Nganga através dos cantos e orações. Os assentamentos das divindades são feitos em vasilhas de
barro e em seu conteúdo há várias especiarias, bebidas e folhas.

Essa força é manifestada nas Kizombas [7] através do transe mediúnico, através da manifestação
da dança sagrada.

CANDOMBLÉ E EDUCAÇÃO

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Os espaços
28/03/2018 de Candomblés servem para a preservação daBantu
Candomblé tradição cultural
e a importância doseafro-saberes
religiosa naafricana,
educação - Geledés

dentro de uma dinâmica social caracterizada pela secularização e avanços industriais, no qual o
processo de produção e reprodução social são pautados pelo neoliberalismo e sua perspectiva de
formação de novos mercados que para se expandirem necessitam globalizar cada vez mais as
diferenças culturais, nesta conjuntura, os ritos da tradição africana con guram-se como elementos
de  resistência identitária aos seus integrantes que em maioria são pertencentes a uma população
que  cotidianamente tem sua auto-estima esmagada.

Foi através da religiosidade dessas diversas formas de celebrar o divino que a religião trouxe o que
há de mais importante para os africanos submetidos à diáspora, é a celebração do divino que traz
a imagem do território perdido. Tendo o terreiro uma função importantíssima de recuperar esse
território mesmo que de maneira simbólica: através de amuletos, do círculo mágico e outros
objetos litúrgicos que carregam referências de seu lugar de origem.

O terreiro é o lugar onde se celebra a vida, espaço da memória. Em África o culto ao inkissi, estava
ligado a cidade ou região. No Brasil a diáspora impôs uma recriação do culto, aqui ocorre o culto de
várias divindades no mesmo templo. Existem várias crianças, vários jovens, adultos e idosos
adeptos do Candomblé.

Esses adeptos hoje no Brasil sofrem graves rejeições e discriminações. Na realidade, nas escolas
existem vários casos onde estudantes precisam esconder suas visões de mundo, suas religiões
para conseguirem se inserir na visão dominante. É necessário transformar essas relações,
implementar políticas públicas , transformar essas práticas racistas.

Sabemos que em muitas escolas, nas aulas de ensino religioso são estudadas somente a bíblia, ou
cartilhas de padres e pastores. Muitas vezes são realizadas orações diárias e as crianças mesmo
adeptas de outras religiões são induzidas a participarem e não encontram em nenhum momento
da vivência escolar assuntos pertinentes aos referenciais simbólicos de sua religião. Por isso elas
se sentem muitas vezes na obrigação de esconder e mentir sobre suas convicções.

Percebemos também que a memória coletiva, da história e cultura das identidades dos alunos
negros estão apagadas do sistema educativo formal, o problema está nas escolhas ideológicas
feitas pelas instituições educacionais, segundo Botelho, torna-se muito importante: “A denúncia
dos modelos hegemônicos educacionais , que elegem a vertente judaico –cristã como única
detentora de saberes e verdades sócio-religiosas” (BOTELHO 2005 :24), os saberes e
conhecimentos de tradição africana devem ser ampliados  e fazê-los migrar do lugar de folclore,
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do fetichismo,  
28/03/2018 para o lugar de conhecimento entreCandomblé
as demaisBantudisciplinas
e a importânciado
dossistema educacional
afro-saberes na educação - Geledés

de ensino. A meta e luta é rumo à valorização das questões da negritude, para a construção de
uma prática anti-racista nas escolas.

Crescer em um terreiro de candomblé é aprender a conviver com as múltiplas diferenças e


partilhar, com isso, uma nova perspectiva de educação anti-racista e plural. Há muito a escola
perde essa experiência porque é longa sua prática de silenciar culturas não hegemônicas
(CAPUTO, 2006:28).

O Candomblé através da sua riqueza de símbolos enriquece o imaginário, oferece um universo


poético, enquanto as instituições de ensino muitas vezes através da burocracia e prática
desumanizadora escondem as desigualdades sócio-histórico racial.

Outro fator relevante é que no Brasil a língua que falamos é imensamente caracterizada pelas
línguas africanas principalmente Quimbundo e Quicongo que são línguas Bantu. A assessora
técnica em Línguas Africanas do museu da língua Portuguesa em São Paulo, Yeda Pessoa de
Castro (2005) a rma que dos cerca de quatro milhões de indivíduos transplantados da África
subsaariana para o Brasil, 75 por cento foram trazidos do mundo Bantu – falante, de territórios
situados atualmente em Angola e nos dois Congos.

Conhecer o Brasil é aprender a história de cada matriz cultural para compreender a contribuição
de cada cultura na história do país. A historiogra a o cial ao longo dos anos na maioria dos livros
didáticos que conhecemos, apresenta assuntos sobre história da África numa ótica estereotipada. 
                                                                                       
             

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral o povo brasileiro tem suas origens na América, Europa, África e Ásia e cada um
desses povos trouxeram elementos para formação do povo e da história brasileira. Para entender
nossa história e nossa identidade não há outro caminho se não pelo estudo de todas as matrizes
culturais.

A herança cultural africana constitui uma das matrizes fundamentais da chamada cultura nacional
e deveria por esse motivo, ocupar uma posição igual às outras. […] Juntas essas heranças
constituem a memória coletiva do Brasil, uma memória plural e não mestiça ou unitária.
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(MUNANGA,
28/03/2018 2004:4) Candomblé Bantu e a importância dos afro-saberes na educação - Geledés

Os africanos in uenciaram por vários séculos na manutenção sócio- econômica e cultural da


sociedade brasileira. Eméritos estudiosos têm demonstrado, com abundância de provas e com
riquíssima documentação que a História do Brasil é inseparável da História de Angola;
antropólogos têm con rmado que é decisiva a contribuição Bantu, em particular a angolana e
conguesa, para a edi cação da cultura nacional.

Vários estudos acadêmicos qualitativos e quantitativos, realizados por instituições de pesquisa de


prestígio como o IBGE e o IPEA, não deixam dúvidas sobre a gravidade da exclusão sócio cultural
ao longo dos anos no Brasil. A exclusão do negro na sociedade brasileira é evidente. Nas
estatísticas podemos perceber que a escolaridade e emprego são privilégios de alguns:

do total dos universitários brasileiros, 97% são brancos, 2% negros e 1% descendentes de


orientais.
sobre 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% deles são negros.
sobre 53 milhões de brasileiros que vivem na pobreza, 63% deles são negros

(HENRIQUES apud MUNANGA, 2001:33)

Com esses dados podemos perceber a di culdade das pessoas negras se inserirem no sistema de
educação.

Os jovens negros não conseguiu ingressar de modo representativo no sistema de educação


existente que, embora não contemplasse sua história, cultura e visão de mundo, é indispensável
para sua inclusão e mobilidade no mercado de trabalho e em outros setores da vida nacional
(MUNANGA,2004:4 ).

Depois de 116 anos de abolição foi criado a partir de reivindicações do movimento negro a lei
10.639, para incluir a história no negro no Brasil, porém não há como nenhuma lei acabar com os
preconceitos que existem em nossas cabeças.

Há um problema grave que é a idéia de “democracia racial apoiada entre outros na idéia de
sincretismo cultural, de cultura e identidades mestiças, de povo mestiço que se contrapõem às
idéias de diversidade e de pluralismo cultural” (MUNANGA, 2004:4).

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A educação
28/03/2018 pode oferecer a possibilidade dos indivíduos questionarem
Candomblé certos
Bantu e a importância mitos e idéias
dos afro-saberes na educação - Geledés

racistas. Essa história omitida na historiogra a o cial é importante para todos os alunos, das
várias descendências étnicas porque todos tiveram seus imaginários afetados por um sistema
educacional que vêm deturpando a história dos povos não hegemônicos.

A questão da identidade é de extrema importância para compreender os problemas da educação


[…] Em todos os países do mundo hoje pluralistas as relações entre democracia, cidadania e
educação não podem ser tratadas sem considerar o multiculturalismo. Cada país deve formular os
conteúdos do seu multiculturalismo de acordo com suas peculiaridades de seus problemas sociais,
étnicos e de gêneros. (MUNANGA, 2004:6)

Por isso já vem sendo organizado há algum tempo esses novos paradigmas para as emergências
do sistema educacional. Para isso é fundamental esse olhar para os diversos segmentos da
sociedade. Ensinar para os alunos e alunas as contribuições dos vários grupos culturais na
formação da identidade nacional. O racismo é um dos aspectos do colonialismo, através dele o
colonizador tenta desvalorizar o colonizado para então ressaltar sua imagem.

A corrente pós-colonialista busca entender a dominação colonial como cerceamento da


resistência, através de uma imposição que torna a fala do colonizado desquali cada e por isso a
silencia. Esses estudos buscam a desconstrução dessa mentalidade, a descolonização da
imaginação, diluir essas fronteiras culturais impostas pelo colonialismo. É importante uma
reinterpretação da história, reinscrever o colonizado não como referência de atraso, mas como
parte fundamental do que foi construído nas diversas partes do mundo. A existência de ciências
antes de ser parte da história européia é parte de uma história global. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADOLFO, Sérgio Paulo. As famílias de santo no Candomblé Congo-Angola.Disponível em


<http://www.inzotumbansi.org> Acesso em: 12 jul.2010

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Eduel. Londrina, 2010.

BARROS, José Flávio Pessoa de.Na Minha Casa:Prece aos Orixás e Ancestrais Ed: Pallas,2003.

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Paulo: Agba, 2005.
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28/03/2018 Stela Guedes, Crianças de Candomblé, não! Revista
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2008 p.28.

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Janeiro: Academia Brasileira de Letras: Topbooks Editora, 2005

MUNANGA, Kabengele.Políticas de ação a rmativa em benefício da população negra no Brasil: um


ponto de vista em defesa das cotas. Sociedade e Cultura v.4 n.2, jul./dez. 2001,

MUNANGA, Kabengele. A importância da história da África e do negro na escola brasileira. 2004

PARÉS, Luis Nicolau. A formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. 2 ed.rev.-
Campinas ,SP:Editora Unicamp,2007.

SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nagô e a morte. 12.ed, Vozes ,2007.

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quali cação de professores do Sistema básico de Ensino / Coordenação Geral / Projeto Abá/ Leo
Carrer Nogueira). Anápolis:Núcleo de Seleção ,UEG, 2008.

SILVA, Alberto da Costa.A enxada e a lança. A África antes dos portugueses, 3ª Ed. revista e
ampliada Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2006

SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade. A forma social negro-brasileira. Vozes, Petrópolis, RJ, 1988.

SOUZA,Laura de Mello e.Revisitando os Calundus.São Paulo,2002

TINHORÃO, José Ramos.Os sons dos negros no Brasil.Cantos,danças, folguedos:origens.São Paulo:


Ed 34, 2008.

[1]  Graduanda  do Curso de Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do


Tocantins, Campus de Porto Nacional-TO.

[2] Termo usado pelos candomblecistas da vertente congo-angola para designar aqueles templos
muito misturados com ritos de outras nações.

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[3] Em
28/03/2018um artigo intitulado TOMA KWIIZA KYA KIZOONGA BANTU!
Candomblé Bantu NZAAMBI
e a importância KAKALAYETO!
dos afro-saberes de - Geledés
na educação

Tata Lubitu Konmannanjy – Unzó kwa Mpaanzu – Raimundo Nonato da Silva,publicado no site
http://www.inzotumbansi.org (http://www.inzotumbansi.org)

[4] Tirar a mão do morto – cerimônia que acontece quando morre o iniciador, e o iniciado procura
um outro sacerdote para continuar sua iniciação

[5] Mukissis-sing. Nkissi- Divindade bantu

[6]Mpambu Njila – Senhor dos caminhos e das encruzilhadas.

[7] Kizomba – cerimônia sagrada, festa.

Fonte: Ilabantu 

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