Elementos para Compreensão de Uma Astrologia Cristã - II
Elementos para Compreensão de Uma Astrologia Cristã - II
Elementos para Compreensão de Uma Astrologia Cristã - II
Astrologia – Astronomia
A ideia aristotélica de corpos terrestres e celestes interligados foi, aos poucos, sendo
desnecessária. A observação dos fenômenos físicos como explicação da existência
passou a ser substituída pelo método experimental. No entanto, não se pode deixar de
mencionar que a observação de um fenômeno da natureza, feita pelos estudiosos
medievais, era considerada como um “método experimental”, mas não como na
modernidade, em que os fenômenos são provocados para que o cientista verifique sua
hipótese. A diferença entre a experiência na ciência aristotélica – medieval – e a
experiência na ciência moderna consiste na própria atitude experimental. Enquanto a
primeira não necessitava criar um experimento que provocasse o fenômeno a ser
explicado, a segunda necessita desse experimento. Desse modo, não se pode dizer que a
ciência medieval não produziu coisas significativas, mas, sim, que seu desenvolvimento
limitava-se à própria necessidade dos homens daquele momento histórico.
O novo homem que estava nascendo no século XIII correspondia a um momento que
exigia a aquisição de mais conhecimentos e, por conseguinte, ele tinha condições de
lidar com os novos desafios da época. Assim, a educação sofreu mudanças
significativas para preparar este homem para o novo saber, o qual estava associado às
universidades, ao crescimento urbano e ao conhecimento greco-árabe que se
disseminava no Ocidente Cristão.
Nesse processo, Tomás de Aquino foi fundamental: seus comentários sobre Aristóteles
mantiveram o diálogo entre as obras cristãs e os ensinamentos do último, o qual chamou
de o Filósofo. Aquino principiou a romper com a ideia de Iluminação e passou a falar
numa correspondência entre Deus e as coisas humanas. Ou seja, a partir de uma lei de
analogia, ele considerava que as ideias humanas poderiam ser imitadas da Ideia
primeira, do Intelecto original, ou seja, de Deus. Todavia, Aquino não acreditava que o
homem pudesse ligar-se diretamente às ideias superiores; ele apenas poderia imitá-las.
Percebe-se que, nesse período, a lei de analogia estava baseada na universalidade das
coisas. O mundo de Aquino não era fragmentado como o atual e a razão humana era,
para ele, o caminho para que o homem buscasse explicações para seus problemas,
angústias, dúvidas do mundo real. Iniciava-se, assim, um processo de rompimento com
a visão de mundo neoplatônica que ainda permanecia viva e servia para explicar as
ações humanas. Dessa forma, a analogia valia para toda a realidade, sem separação
alguma, ou seja, todos os elementos da natureza possuíam uma conexão, por exemplo, o
corpo humano era análogo a um corpo celeste e, da mesma forma que este se movia, o
corpo também se movia.
Para Tomás de Aquino, as coisas criadas não eram desligadas de sua origem após a
criação, mas estariam sempre vinculadas à sua fonte original e sob sua influência. No
entanto, o homem não era um ser dirigido apenas pela natureza celeste. Foi-lhe dada
razão para que ele pudesse agir livremente no mundo, caso contrário, não haveria razão
de ser criado como homem. Deus poderia nortear a Alma humana como sua criação,
mas cada homem nortearia sua vida pela razão recebida no ato da criação, donde se
depreende que, para Tomás de Aquino, a finalidade era conhecer o mundo real, por
meio da observação e da experiência.
Mas o homem podia estar envolvido com problemas que transcendiam sua vida pessoal,
como a miséria, os problemas econômicos, as guerras, enfim, várias situações coletivas
que estavam além do poder de escolha do indivíduo. Os estudiosos buscavam uma
explicação para esses fenômenos analisando a posição dos corpos celestes ou a
disposição dos ventos.
Para que se garantisse uma melhor formação humana, era importante estabelecer qual
era o papel do homem na sociedade. Tomás de Aquino preocupou-se com esta questão
e colocou o homem como um ser que imitava a inteligência de Deus, mas não poderia
deixar de se orientar por sua própria razão, procurando mantê-la atenta a qualquer
instinto ou paixão que ameaçasse o seu lado humano.
Não só a Terra era o centro do universo, mas, em especial, as questões humanas. Diante
dessa ideia cosmológica, tornava-se importante que o homem conhecesse as condições
em que poderia exercer sua racionalidade e sua livre escolha e sua capacidade de viver
em sociedade. Com o poder de desenvolvimento de sua memória, ele não se esqueceria
do conteúdo dos assuntos estudados, mantendo-se como ser racional.
Os atos humanos, bons ou maus, poderiam ser explicados por algumas disposições
corpóreas do homem às quais ele ficava submetido. Desse modo, a Astrologia era um
dos instrumentos que lhe permitiam esquivar-se de tais disposições, caracterizando,
certa moralidade sua. Ele percebia-se como parte de uma unidade cósmica, tendo uma
concepção universalista da realidade.
Arithmetica
De acordo com a filosofia aristotélica, tudo o que era movido, isto é, que passasse da
potência ao ato, era necessariamente movido por um movente ou motor. Com base
nela, Tomás de Aquino procurou fundamentar a tese de que havia uma influência dos
corpos celestes na vida humana; não em toda a sua instância, mas apenas no que se
referia ao corpo humano. Ele ateve-se ao caráter estritamente prático da Astrologia, ou
seja, à sua utilidade para a compreensão do homem e do mundo ao seu redor, enquanto
formas corporais.
Pode-se entender, dessa forma, que, no saber astrológico, implicitamente havia uma
teoria cristã que terminava por levar o homem a uma visão teológica e cosmológica do
mundo, pois permitia ver, por meio do estudo do céu, que o mundo natural fora
organizado, primeiramente, pelo primeiro motor, que Tomás de Aquino chamava de
Deus. Para entender esse todo ordenado, era preciso que o homem analisasse a realidade
com o uso de sua razão. Isto implica a necessidade de um homem livre, para que suas
escolhas fossem as mais adequadas e de acordo com a sua vontade.
Dialectica
Um tema que muitos autores medievais fizeram questão de discutir, com profundidade,
foi a liberdade humana. Como se viu, Santo Agostinho discorreu sobre a importância
do livre-arbítrio para que o homem alcançasse, mediante suas escolhas, o caminho da
salvação por meio da revelação cristã. Praticamente, todas as doutrinas teológicas dos
séculos posteriores seguiram a doutrina agostiniana sobre a liberdade do homem.
Qualquer teoria que afirmasse o contrário disso, ou seja, que negasse o livre-arbítrio,
seria condenada pela Igreja Cristã. Foi pelo fato de prever o futuro com certo
determinismo e, assim, anular o direito de escolha das pessoas, que a Astrologia
judiciária foi julgada, por alguns teólogos, como imprópria para a sociedade. Por isso, a
Astrologia será, na visão de Aquino, uma forma de estudar o efeito dos astros apenas
nos corpos e não no intelecto.
Pode-se dizer que, ao tratar do livre-arbítrio, Aquino não se referia ao homem como um
todo, mas somente à sua Alma.
Além disso, é livre o que é causa de si mesmo. Logo, o que não é causa da sua ação é
livre no agir. Ora, o que não se move nem age a não ser movido por outrem não é causa
de si mesmo para agir. E tal coisa só move mediante o juízo, pois o que se move a si
mesmo se divide em movente e movido, sendo movente o apetite que é movido pelo
intelecto, pela fantasia ou pelos sentidos, aos quais pertence julgar. Destes, porém,
somente julgam livremente os que ao julgar determinam. Ora, nenhuma potência que se
julga a si mesma se determina, a não ser que reflita sobre seu ato. Logo, é necessário, se
age para julgar a si mesma, que conheça o seu juízo. Mas isso só ao intelecto pertence.
Por isso, os animais irracionais, são, de certo modo, livres no movimento ou na ação,
mas não o são no juízo. Os entes inanimados, porém, que só são movidos por outro,
nem têm liberdade de ação, nem de movimento. Mas os entes intelectuais não só são
livres na ação, como também no juízo, e isto é ter livre-arbítrio.
(TOMÁS DE AQUINO)
O homem, enquanto ser racional, possuía o intelecto livre para agir e escolher os
caminhos que se apresentavam em sua vida. Para que um homem fosse considerado
livre precisaria estar consciente de seus atos e isto só se daria com o uso contínuo da
razão e do intelecto, o que o levava a manter a ordem na sua vida. O fato de exigir
reflexão não significava ficar horas num mosteiro, mas analisar, observar e pesquisar os
mistérios em que a realidade estava envolta. Um intelecto determinado pelos corpos
celestes, por exemplo, não poderia fazer tal experiência, porque estaria condicionado a
apenas uma parte do todo (o que não é o caso da concepção de Aquino sobre o ato de
ser homem). O corpo e a alma não poderiam existir separados no homem, e para que o
homem pudesse adquirir conhecimento era preciso ser dotado de intelecto e dos
sentidos.
Assim, os corpos celestes eram causas universais e símbolos da própria ordem cósmica.
Como afirma Alain De Libera, o mundo do astrólogo e do filósofo era o mesmo e,
assim, ambos podiam partilhar a ideia de que o mundo inferior sofria, direta ou
indiretamente, influência do mundo superior.
O século XIII, movido por uma fusão das culturas – grega e islâmica – e de
conhecimentos, deparava-se com os mais diversos problemas humanos. Esta situação
histórica explica porque Tomás de Aquino retomou os pecados capitais e considerou
importante tratar o homem como um ser racional, errante, social e político. Era
necessário que o homem aceitasse as leis e as ordens superiores como uma necessidade.
Na sociedade, não haveria a necessidade de leis para um homem que não fosse racional
e perfeito e, talvez, nem haveria homem. As leis eram uma consequência dos anseios do
ser humano, porque suas escolhas implicavam a necessidade de um ordenador. A razão
não deixava de ser uma lei interna do homem, mas também era uma forma particular de
julgar e apreender os elementos do mundo sensível.
Neste sentido, a Astrologia era um saber que permitia ao estudante entender de que
maneira esta ordem celeste manifestava-se e, assim, compreender como o mundo era
constituído. A análise realizada neste trabalho permitiu concluir que, quando se
estudava uma ordem superior, era possível compreender, por analogia, como se dava a
ordem inferior. Como foi visto no segundo capítulo, a razão, por exemplo, era
relacionada ao planeta Saturno, porque este estava mais próximo do primeiro motor e,
portanto, seria a melhor posição para se conhecer o criador. Baseado nessa visão
cosmológica, Dante Alighieri, influenciado pelo pensamento de Aquino, colocou os
sábios nesta esfera. Assim, vê-se a importância do procedimento analógico: neste caso,
o movimento dos astros serve como referência e não como uma determinação para a
vida humana.
Portanto, pode-se dizer que a Astrologia cristã poderia conviver com a doutrina da
Igreja e ser útil para compreender os períodos de boa ou má disposição dos corpos
inferiores para determinadas ações. Seria possível mensurar que tipo de predisposição
corporal um homem teria, por exemplo, para ganhar uma batalha ou mesmo para ter um
filho e até para cometer um crime devido às suas paixões. Caberia, porém, ao homem
fazer suas escolhas diante de suas predisposições corporais. O fato de não ter talento
para a música não impediria que um homem estudasse música, por exemplo. Assim, vê-
se que o corpo pode ser determinado, mas não a alma, que é livre para escolher.
Geometria
O homem do qual Tomás de Aquino falava não era simplesmente um ser animal, mas
possuía alma, intelecto e vontade livre, o que o diferenciava dos outros animais.
Para Aquino, todas as coisas corpóreas, inclusive o corpo humano, poderiam ser
influenciadas pelo influxo dos astros. No entanto, se o intelecto humano também
estivesse à mercê destes influxos, o homem ficaria no mesmo nível dos outros animais,
o que contrariava o ideal cristão de Aquino. Por outro lado, quando as paixões
dominavam o homem, este passava a seguir seu instinto natural, ficando sob total
influência de corpos superiores.
Para Tomás de Aquino, o homem educado, conhecedor da moral, da ética e das leis, de
uma forma geral conseguia dominar as paixões, evitando que sua vontade fosse
influenciada pelos corpos celestes. Isto não significava que os astros fossem um
problema para os homens, ao contrário, por meio do estudo e do conhecimento dos
corpos celestes o homem poderia direcionar sua atenção e, exercendo sua razão, fazer
suas escolhas.
Como já se disse, o apetite sensitivo sendo ato do órgão corpóreo, nada impede que, por
impressão dos corpos celestes, uns sejam inclinados, como por compleição natural, à
ira, à concupiscência ou a qualquer paixão semelhante. Pois a maior parte dos homens
seguem as paixões, às quais só os sapientes resistem. Donde vem que, na mór parte dos
casos, verifica-se o que é prenunciado dos atos humanos, pela consideração dos corpos
celestes. Porém, como diz Ptolomeu, o sapiente domina os astros, porque, resistindo às
paixões, impede, por vontade livre e de nenhum modo sujeita ao movimento celeste,
tais efeitos desses corpos. Ou, como diz Agostinho, devemos confessar que por um
certo instinto ocultista por que as mentes humanas são levadas, sem o saberem, é que às
vezes os astrólogos dizem a verdade. E isso é obra dos espíritos sedutores, quando feito
para enganar os homens.
(TOMÁS DE AQUINO)
Grammatica
Dessa forma, é visível a analogia, utilizada por Aquino, para analisar os vários
elementos que compõem o universo, a natureza, a sociedade, o homem e Deus. Todos
estes elementos estavam dispostos de forma hierárquica, de modo que um elemento
superior influenciava o inferior, e assim acontecia em todas as esferas do Todo, sem
separação alguma.
Nota-se que, nesta analogia, ele introduz sua ideia de um mundo criado por Deus,
principalmente quando afirmava que havia uma extensão da providência divina até as
últimas substâncias. A visão aristotélica de um mundo eterno foi adaptada ao sentido
cristão de mundo criado. Ou seja, Aquino manteve a ideia de um primeiro motor, como
fora proposto por Aristóteles, porém considerou Deus como um ser em contato
permanente com a criatura. Percebe-se, dessa forma, que Deus sendo o primeiro motor –
imóvel –, os corpos celestes seriam os motores seguintes, responsáveis pelo movimento
dos corpos no mundo sublunar. Pelo estudo das substâncias corporais superiores, o
homem poderia compreender as causas dos movimentos e das alterações do mundo
natural inferior. O mundo medieval movia-se sob esse olhar cosmológico em que o Céu
e a Terra estavam intrinsecamente ligados, e o homem deveria compreender essa visão
de mundo para que pudesse integrar-se melhor ao seu meio social e à natureza. Assim,
como o homem aparecia como um ser cósmico, a educação medieval tinha, como um de
seus papéis, que inseri-lo nessa totalidade, a fim de que ele pudesse estar mais próximo
da imagem e semelhança de Deus.
Esta ideia punha o homem em contato com um elemento ordenador de sua vida. Ele
poderia, assim, basear-se na ordem superior e em sua constância para dirigir sua razão
em busca de uma ordem inferior e uma constância semelhantes. Deve-se ressaltar que a
possibilidade de Tomás de Aquino aceitar a não participação do mundo superior na
vida humana e na natureza era impossível, porque, se assim o fizesse, estaria admitindo
um mundo eterno e, dessa forma, afirmando a não necessidade de Deus. Assim, o
homem, os animais e a natureza eram considerados um reflexo do mundo superior, mas
dispostos às corrupções do mundo inferior.
Com efeito, ao movimento circular dos corpos celestes nada há de contrário, razão por
que neles não pode haver violência. Mas o movimento dos corpos inferiores tem
contrário, a saber, o movimento de subida e descida. Por isso, a potência dos corpos
celestes é mais universal que a dos corpos inferiores. Ora, as potências universais dão
movimento às particulares, como se depreende do que acima foi dito. Logo, os corpos
celestes movem e dirigem os corpos inferiores.
(TOMÁS DE AQUINO)
Além disso, assim como o imóvel absoluto está para o momento absoluto, também o
imóvel relativamente a determinado movimento, para este movimento. Ora, o que é
simplesmente imóvel é princípio de todos os movimentos, como acima foi provado.
Consequentemente, o que é imóvel, relativamente à alteração, é o princípio da alteração.
Ora, os corpos celestes são os únicos inalteráveis entre os corpos, o que se verifica na
disposição deles, que é sempre a mesma. Logo, os corpos celestes são causa da
alteração dos corpos a ela sujeitos. Ora, a alteração, nos corpos inferiores, é o princípio
de todo movimento, pois, por ela, chega-se ao aumento e à geração, e o que gera é por si
mesmo agente dos movimentos que o céu seja causa de todos os movimentos
encontrados nos corpos inferiores.
(TOMÁS DE AQUINO)
Tem-se reiterado neste trabalho que Aquino não afirmou que o homem como um todo –
alma e corpo – sofreria influências dos corpos celestes, mas somente seu corpo e as
demais substâncias corporais que compunham o mundo inferior. A ideia de mundo
superior (sede das almas e dos corpos superiores) correspondente ao mundo inferior
(sede das almas inferiores e dos corpos inferiores) era uma base recorrente em seu
pensamento cosmológico. Nesta ideia de hierarquia a ser seguida, sempre existiria um
ordenador das coisas, e esta ordem estava no mundo da natureza incorruptível e
imutável.
É possível presumir que, quando Aquino discorreu sobre o movimento dos corpos,
expondo, de forma implícita, sua visão de desordem nos corpos, ele estaria fazendo uma
alusão à própria desordem na sociedade, ou seja, aos conflitos existentes entre as
comunas e os senhores, entre a nobreza e a Igreja. Isto não significa que a sociedade em
que viveu Tomás de Aquino fosse completamente desajustada, mas que, em algumas
instâncias, havia a necessidade de ordem e, em outras, havia a necessidade de manter a
ordem. Ele poderia estar, assim, referindo-se à fragilidade a que a sociedade medieval
estava exposta, ou seja, ao fato de que, diante de várias culturas, a ordem social corria o
risco de desaparecer, caso não houvesse uma adaptação à nova situação social e
histórica.
Além disso, nenhum corpo opera senão por movimento, como prova o filósofo. Ora, as
coisas imóveis não são causadas por movimento, pois nenhuma coisa é causada pelo
movimento de um agente senão enquanto este, ao ser movido, move outro. Logo, as
coisas que estão totalmente fora do movimento não podem ser causadas por corpos
celestes. Ora, as coisas ligadas ao intelecto estão propriamente fora de movimento,
como se depreende do que diz o Filósofo, até porque, como ele escreveu: Na ausência
de movimento torna-se a alma prudente e sábia. Logo, é impossível que os corpos
celestes sejam por si causa das coisas ligadas ao intelecto. (Tomás de Aquino)
Além disso, toda a coisa movida por outra é por esta reduzida de potência a ato.
Nenhuma coisa, porém, é reduzida de potência ao ato a não ser por algo que já está em
ato. Por isso, é necessário que todo agente movente esteja de algum modo em ato em
relação a uma coisa que, estando submetida e movida, esteja em potência. Ora, os
corpos celestes não são inteligíveis em ato, porque alguns são singulares sensíveis. Ora,
como o nosso intelecto não está em potência senão para os inteligíveis em ato, é
impossível que os corpos celestes tenham ação direta sobre ele. (Tomás de Aquino)
A alma recebia influência diretamente de Deus, por meio das coisas inteligíveis em ato,
que eram as almas superiores. Aquino afirmava que esta influência não poderia existir
de forma direta e deixou uma possibilidade para uma influência indireta, porque, como
se viu anteriormente, o intelecto ou a alma necessitavam da forma corporal para poder
se expressar.
Aquino apontou que o intelecto e a alma estavam livres do tempo e por isso invocou
sua liberdade diante das coisas corpóreas. Afirmava que o homem possuía liberdade,
independente de suas condições corpóreas, inclusive os bens, e que ele poderia atingir o
conhecimento das coisas sensíveis, porque a alma e o intelecto não estavam submetidos
à corrupção e à alteração das coisas do mundo inferior. A alma não era corporal e
somente as coisas corporais podiam sofrer com o tempo. O intelecto diferia dos sentidos
e por isso os corpos celestes não poderiam agir diretamente sobre ele, porque o
conhecimento adquirido por meio das coisas corporais dependia de uma razão imaterial,
“como Platão que lhe deu como causa as idéias, e Aristóteles, o intelecto agente.
Entretanto, os corpos celestes agiriam indiretamente no intelecto humano, visto que ele
necessitava de condições corporais para poder agir e, consequentemente,
conhecer. Aquino, baseado em Santo Agostinho e Ptolomeu, afirmou que o intelecto
sofria, indiretamente, influência dos corpos superiores, fazendo com que o homem
exercesse, totalmente ou parcialmente, as potencialidades de sua alma.
No entanto, deve-se saber que embora os corpos celestes não possam ser causa dos
nossos conhecimentos, indiretamente podem operar neste sentido. Apesar do intelecto
não ser potência corpórea, em nós ele não atua sem operação das potências corpóreas,
que são a imaginação, a estimativa e a memória, como anteriormente vimos. E daí
acontecer que quando estão impedidas as operações destas potências, por alguma
indisposição corporal, fica também impedida a operação do intelecto, como, por
exemplo, se observa nos loucos, nos letárgicos e em outros assim indispostos. Por essa
razão, também a boa disposição corpórea do homem torna-o apto para um bom
conhecimento intelectivo, porque, por ela, as potências supra-mencionadas tornam-se
mais fortes, tendo por isso escrito o Filósofo: Vemos serem os de composição delicada
mais aptos para a ordem intelectual. (Tomás de Aquino)
Aquino deixou explícito que os corpos celestes podiam impedir a ação da vontade, por
isto era fundamental para que o homem pudesse perceber suas aptidões e sua disposição
corporal, as quais eram temporárias e não permanentes. Aquino pressupunha que o
homem teria certos talentos ao nascer, principalmente quando citava Aristóteles.
Acreditava que, dependendo das condições corporais, o homem poderia ou não exercer
determinadas qualidades da alma. Então, o estudo da astrologia apresentava-se como
fundamental para a escola e para o ensino medieval, porque tornava possível descobrir a
aptidão de uma pessoa, baseada em talentos corporais, para determinada tarefa. Esta
idéia poderia explicar porque se faziam os horóscopos dos alunos da Universidade de
Paris. Talvez esta prática fosse uma forma de conhecer o aluno, permitindo avaliar as
aptidões que ele teria para determinadas disciplinas, de forma que pudesse estar usando
sua faculdade intelectiva da melhor maneira possível.
Rhetorica
Como se viu anteriormente, por meio das passagens de Tomás de Aquino, a alma
poderia expressar sua vontade e o homem poderia buscar seu conhecimento por meio da
boa disposição corporal. Isto estabelecia a importância da manutenção do corpo para
que o homem permitisse que seu intelecto adquirisse o máximo de conhecimento
possível, por meio do estudo, da memorização, da reflexão, da observação e da
experiência do mundo sensível.
Além disso, toda eleição e toda atual volição são causadas em nós pela apreensão
inteligível, pois o bem conhecido pelo intelecto é o objeto da vontade, como disse o
Filósofo. Por isso, não pode haver perversidade na eleição, se o intelecto não falhar no
juízo sobre o singular e elegível, o que se torna evidente pelo que também disse o
filósofo. Ora, os corpos celestes não são causa das nossas intelecções.
Consequentemente, não podem ser causa da nossa volição.
(TOMÁS DE AQUINO)
Aquino admitiu que o intelecto podia incorrer em erros, daí a necessidade de o homem
sempre estar buscando seu aperfeiçoamento. No entanto, a vontade partia do intelecto e
não podia ser diretamente influenciada pelos corpos superiores. Havendo a
possibilidade do intelecto errar, por conseguinte, a vontade humana também estaria
sendo mal direcionada ou mal compreendida pelo próprio ente que a possuía, o próprio
homem. Aquino, ao mesmo tempo que remetia à posição do homem como ser racional,
colocava-o numa posição de sujeito imperfeito, necessitando de muito esforço para ter
domínio sobre sua razão e ter confiança plena em seu intelecto. Tratava-se, neste caso,
de confirmar que o homem tinha um propósito inerente ao seu ser e que não era
simplesmente uma obra do acaso, como se fosse lançado na natureza sem função
alguma. Nada na natureza era sem propósito, visto que tudo procedia de uma causa e
nada existia sem causa. Como ele próprio exemplificava, ninguém acharia um tesouro
sem que outrem tivesse enterrado ou escondido.
De acordo com seu pensamento, os corpos superiores eram causa das alterações que
aconteciam nos corpos inferiores, isto é, os corpos inferiores agiam por causa natural.
Entretanto, o intelecto – a volição e a eleição – não estavam sujeitos a causas naturais. O
homem, enquanto homem, tinha a possibilidade de aprimoramento e, se dependesse
somente de causas naturais, não precisaria de nenhuma espécie de formação, nem
moral, nem religiosa, nem política, enfim, estaria tão condicionado às influências dos
corpos superiores quanto os animais irracionais.
As coisas que acontecem naturalmente são conduzidas ao fim por meios determinados
e, por isso, acontecem sempre de modo invariável, porque a natureza está determinada
só para o seu fim. Ora, as eleições humanas tendem para o fim por caminhos diversos,
quer nas questões morais, quer nas operativas. Logo, as eleições humanas não se
realizam naturalmente.
Além disso, as coisas que acontecem naturalmente, na maioria das vezes, acontecem de
modo correto, porque a natureza só falha poucas vezes. Se o homem escolhesse
naturalmente, as suas eleições seriam corretas na maioria das vezes. O que é
evidentemente falso. Logo, o homem não elege naturalmente, o que aconteceria se ele
elegesse por influxo dos corpos celestes.
(TOMÁS DE AQUINO)
Aquino analisou duas coisas muito pertinentes em relação ao homem. Primeiro, que
suas ações tendiam para caminhos diversos; segundo, que suas eleições não
necessariamente seriam corretas. Ora, isto revelava a necessidade, posta por ele em
pleno século XIII, de se verificar como e por que os homens cometiam determinados
erros e, sobretudo, o modo como o homem seria orientado para não perder o sentido da
vida. Na medida em que os motivos dos erros humanos fossem explicados, tornava-se
possível manter a ordem social. Deve-se ressaltar que, como filho de seu
tempo, Tomás de Aquino não poderia admitir que a vontade de uma pessoa fosse
determinada pelos corpos celestes, porque, se assim fosse, estaria negando sua crença
no livre-arbítrio. Assim, ele encontrou uma forma de inserir a Astrologia no seio cristão,
incorporando-a ao processo educacional, pois ela informava aos homens a qualidade e a
disposição dos corpos inferiores, incluindo também o corpo humano. Além disso, o
estudo da Astrologia permitiria a compreensão da dimensão divina do homem e da
natureza e, de que forma, a alma poderia se aperfeiçoar e cumprir seu papel no mundo
como forma espiritual.
Além disso, nenhuma potência é dada inutilmente a alguma coisa. Ora, o homem tem a
potência de julgar e de consultar sobre tudo o que é por ele realizável, quer quanto ao
uso das coisas exteriores, quer quanto ao combate das paixões internas. No entanto, isto
seria debalde se a eleição fosse causada pelos corpos celestes, ficando fora do nosso
domínio. Logo, os corpos celestes não são causa das nossas eleições.
(TOMÁS DE AQUINO)
O homem, de acordo com as premissas acima, não podia ser excluído de uma vida
social. Percebe-se aqui um reflexo da própria situação que Aquino vivia. Durante o
século XIII, houve a criação das ordens mendicantes, os dominicanos e franciscanos, os
quais não ficavam mais somente nos mosteiros, mas começaram a levar a educação
religiosa para outras regiões, respondendo, assim, às mudanças socais, políticas,
econômicas que ocorriam.
Seria, ademais, inútil o estabelecimento das leis e dos preceitos do viver se o homem
não fosse senhor das suas eleições. Também inúteis seriam as penalidades aos maus e os
prêmios aos bons, se não estivesse em nosso poder escolher isto ou aquilo. Faltando, no
entanto, tais coisas, desapareceria a vida social, imediatamente. Logo, segundo a ordem
da providência divina o homem não foi de tal modo constituído que as suas eleições
sejam provenientes dos corpos celestes.
(TOMÁS DE AQUINO)
Embora atribuísse ao rei único a responsabilidade pela condução da ordem, para que
esta fosse mantida, o homem comum continuaria responsável pelos seus atos. Somente
ele, por meio de sua vontade e de suas escolhas, conseguiria conquistar a bondade ou a
ordem social. Não haveria aprimoramento do ser se a ação de buscar o bem fosse
dirigida pelos corpos celestes. Estaria encerrado o papel do homem no mundo natural e
talvez sua existência não teria nenhuma finalidade. Era isto que diferia o homem dos
animais. Aquino não afirmava que os animais não possuíssem sentido algum, pelo
contrário, tudo o que possuía uma causa natural tinha sentido, mas o homem tinha sido
designado para buscar a compreensão da realidade, ou seja, utilizar a razão para
aquisição de conhecimento sobre o mundo em que vivia, seus problemas e as soluções.
Alem disso, as coisas que se inclinam para um fim proporcionadas a ele. Ora, as
eleições humanas estão dirigidas para a felicidade como seu último fim. Ora, este não
consiste em bens corpóreos, mas em unir-se a alma, mediante o intelecto, com as coisas
divinas, como acima foi demonstrado, quer segundo a fé quer segundo as sentenças dos
filósofos. Logo, os corpos celestes não podem ser causa das nossas eleições.
(TOMÁS DE AQUINO)
Ora, se o objetivo era o entendimento do real, o homem deveria fazer suas escolhas de
acordo com seu intelecto e sua razão. Ele poderia eleger algo que lhe fosse apresentado
não somente pelos influxos celestes, mas pelos problemas sociais, as crises, as guerras,
etc. Sua escolha não seria pecado caso estivesse de acordo com sua razão, como no caso
da união corporal para a procriação. Se o homem agisse apenas por influxos corporais
provenientes dos corpos celestes – somente poderia fazer escolhas referentes às coisas
corporais, ficando impossibilitado de atingir algo intelectual e espiritual.
Entretanto, como o homem era dotado de uma alma e de um corpo, ou seja, de intelecto
e de matéria, estaria propenso a ser influenciado pelos corpos celestes apenas de forma
indireta.
Ora, há muitos que seguem os impulsos naturais, mas poucos há, só os sábios, que
resistem às ocasiões de fazer o mal e aos impulsos naturais. Por esse motivo disse
Ptolomeu que o trabalho das estrelas ajuda os sábios, e que o astrólogo não pode julgar
do influxo dos astros se não conhece bem a capacidade da alma e o temperamento
natural, e que o astrólogo não pode dizer coisas particulares, mas só de um modo geral.
Com efeito, o influxo das estrelas produz efeitos em muitos que não resistem à
inclinação corpórea. No entanto, isto não acontece neste ou naquele que resiste à
inclinação natural.
(TOMÁS DE AQUINO)
Aquino admitiu a importância do estudo das influências astrais, porque isto permitia ao
homem um domínio maior de suas inclinações naturais. Entretanto, a Astrologia não
poderia ser aplicada ao estudo da vontade, mas apenas às influências às quais o homem
estaria disposto pela condição corporal. Conhecê-la era uma forma de se educar para
lidar com os instintos naturais. Os astros, por meio das disposições corporais,
apresentariam ao homem duas portas: uma que levaria à humildade, à bondade, à
dedicação ao semelhante e a outra que levaria ao crime, ao roubo, aos vícios. Estas
últimas atitudes eram consideradas impulsos, orientadas não pelo intelecto, mas pelas
paixões. A vontade do homem ficaria à mercê das paixões à medida que ele não
compreendesse seus próprios sentimentos e essas escolhas refletiam-se indiretamente
nas relações sociais. O caso do homem que não tivesse noção dessas atitudes seria um
sinal de desordem social.
A ideia de que os corpos celestes não interferiam, diretamente, nas escolhas e vontade
pessoais, reforçava a liberdade do homem e o instigava a praticá-la o tempo todo,
evitando ser movido pelos seus instintos como faziam os animais.
Além disso, a causa agente particular na sua operação assemelha-se à causa agente
universal e a imita. Ora, se a alma humana por meio da operação do corpo tivesse
influxo em outra alma humana, como, por exemplo, quando ela comunica o seu
pensamento mediante uma voz significativa, a ação corpórea de uma alma não atingiria
outra alma senão mediante o corpo, pois a voz pronunciada traz mudança ao órgão
auditivo e, desse modo percebida pelo sentido, o seu significado atinge o intelecto. Ora,
se a alma do corpo celeste tivesse influxo em nossas almas, mediante movimento
corpóreo, esta operação não atingiria nossa alma senão mediante uma mudança em
nosso corpo. Ora, isto não será causa de nossas eleições, mas tão somente ocasião,
como se depreende do que foi dito. Logo, o movimento do corpo celeste não seria a
causa de nossa eleição senão ocasionalmente.
(TOMÁS DE AQUINO)
A afirmação de que um corpo só era movido por outro corpo e a alma era somente
movida por outra alma encerrava os comentários de Tomás de Aquino. Mas não se
pode desconsiderar que o intelecto, conforme discussões anteriores, podia sofrer uma
influência indireta dos corpos celestes e daí a eleição ser uma ocasião, boa ou má, de
ordem ou de desordem.
Para Tomás de Aquino, o céu não era algo distante como se apresenta nos dias atuais e
as esferas não ficavam a anos-luz da Terra, mas a poucos quilômetros de distância.
Estudar os efeitos que o céu, como forma corporal, desencadeava no mundo sublunar
era a função da Astrologia. Isso transparece em seu ideal de Astrologia, ou seja, em sua
análise das boas ou más ocasiões com as quais o intelecto humano iria se deparar pela
frente. Ele compartilha, de certa forma, de uma visão materialista e naturalista que
concebia que o conhecimento racional também poderia ser alcançado pelo estudo da
Astrologia. O mundo materialista era muito real e palpável, diferente do mundo das
ideias, que muitas vezes podia ser idílico.
O Mistério das Catedrais
O fato de a Astrologia ser considerada como uma visão de mundo e como conhecimento
– a do Macro e do Microcosmo – não nega a existência de outras maneiras de praticá-la.
Sua utilização para prever acontecimentos futuros na vida de uma pessoa, por exemplo,
foi condenada pelos teólogos medievais, inclusive por Tomás de Aquino. Em seu
caso, Aquino aceitou a validade de estudos que não interferissem diretamente no livre-
arbítrio humano e, além disso, reconheceu sua importância, principalmente aqueles que
poderiam ser aplicados à medicina e à alquimia dais quais Aquino era partidário. O
mundo de Aquino era o universo de relações humanas, animais, vegetais e cósmicas e a
Astrologia possibilitava que o homem tivesse esta compreensão, uma vez que sua teoria
apresentava a existência de harmonia entre todos os elementos do universo.
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REFERÊNCIAS
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