Arte e Literatura - Semana 01

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Literatura

Arte e Literatura: conceitos iniciais

Resumo

A arte
A palavra arte é derivada do termo latino “ars”, que significa arranjo ou habilidade. Neste sentido, podemos
entender a noção de arte como um meio de criação, produção de novas técnicas e perspectivas. Há diferentes
visões artísticas, mas todas possuem em comum a intenção de representar simbolicamente a realidade,
sendo assim, resultado de valores, experiências e culturas de um povo em um determinado momento ou
contexto histórico.

Quadro “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral

A arte pode ser composta pela linguagem não verbal (por meio de imagens, sons, gestos, etc.) ou, ainda, pela
linguagem verbal, formada por palavras. Quando ocorre a fusão entre os dois tipos de linguagem, chamamos
de linguagem mista ou híbrida. É importante dizer, ainda, que ainda que a arte faça referência a algum período
histórico ou político, essa não possui compromisso de retratar fidedignamente a realidade e possui o intuito
de instigar, despertar o incômodo, romper com os padrões.

A literatura
Além disso, a literatura também é um tipo de manifestação artística e sua “matéria prima” são as palavras,
que podem compor prosas ou versos literários. A linguagem, em geral, explora bastante o sentido conotativo
e o uso das figuras de linguagem contribuem para a construção estética do texto. Os movimentos literários,
que estudaremos em breve, estão vinculados a um contexto histórico e possuem características que
representam os anseios e costumes de um determinado tempo.

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Literatura

Textos literários
Os textos literários têm maior expressividade, há uma seleção vocabular que visa transmitir subjetividade,
uma preocupação com a função estética, a fim de provocar e desestabilizar o leitor, as palavras possuem
uma extensão de significados e faz-se preciso um olhar mais atento à leitura, que não prioriza a informação,
mas sim, o caráter poético.
Veja, abaixo, exemplos de textos literários:

Renova-te.

“Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.”
Cecília Meireles

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Literatura

Morte do Leiteiro

Há pouco leite no país,


é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro


de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca


não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morador na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos


também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro…

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Literatura

Sem fazer barulho, é claro,


que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil


de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico


(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono


de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue, a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

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Literatura

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
Carlos Drummond de Andrade

Poema Brasileiro
No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

Antes de completar 8 anos de idade


antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
Ferreira Gullar, 1962.

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Literatura

Textos não literários


Diferente do poema da autora Cecília Meireles, em que há uma transmissão de sensibilidade nos versos, os
textos não literários são aqueles que possuem o caráter informativo, que visam notificar, esclarecer e utilizam
uma linguagem mais clara e objetiva. Jornais, artigos, propagandas publicitárias e receitas culinárias são
ótimos exemplos de textos não literários, pois esses têm o foco em comunicar, informar, instruir.

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Exercícios

1. “(...) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento
de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda
irreparável?
Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a
consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, quantas
demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam
das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos,
gritos, gemidos. Mas que significa isso?
Essas coisas verdadeiras não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam
pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-
se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade.
(...) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter
notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as
minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade (...)”
RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record, 1984.
O fragmento transcrito expressa uma reflexão do autor-narrador quanto à escrita de seu livro contando
a experiência que viveu como preso político, durante o Estado Novo.
No que diz respeito às relações entre escrita literária e realidade, é possível depreender, da leitura do
texto, a seguinte característica da literatura:
a) revela ao leitor vivências humanas concretas e reais.
b) representa uma conscientização do artista sobre a realidade.
c) dispensa elementos da realidade social exterior à arte literária.
d) constitui uma interpretação de dados da realidade conhecida.

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Literatura

2. Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência
significativa em sua carreira de escritor.
“Lembro-me de que certa noite, eu teria uns quatorze anos, quando muito, encarregaram-me de segurar
uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros
curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam carneado. (...) Apesar do horror
e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo
isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar
esses talhos e salvar essa vida? (...)
Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que
o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada,
fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões,
aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não
tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos
fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”
VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como
uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura,
a) criar a fantasia.
b) permitir o sonho.
c) denunciar o real.
d) criar o belo.
e) fugir da náusea.

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3. Na busca constante pela sua evolução, o ser humano vem alternando a sua maneira de pensar, de sentir
e de criar. Nas últimas décadas do século XVIII e no início do século XIX, os artistas criaram obras em
que predominam o equilíbrio e a simetria de formas e cores, imprimindo um estilo caracterizado pela
imagem da respeitabilidade, da sobriedade, do concreto e do civismo. Esses artistas misturaram o
passado ao presente, retratando os personagens da nobreza e da burguesia, além de cenas míticas e
histórias cheias de vigor.
RAZOUK, J. J. (Org.). Histórias reais e belas nas telas. Posigraf: 2003.

Atualmente, os artistas apropriam-se de desenhos, charges, grafismo e até de ilustrações de livros para
compor obras em que se misturam personagens de diferentes épocas, como na seguinte imagem:

c) e)
a)
Romero Brito. "Gisele e Tom Funny Filez.“Monabean”. Pablo Picasso. “Retrato de
Jaqueline Roque com as
Mãos Cruzadas”.

d)
b)
Andy Warhol. "Michael Jackson" Andy Warhol. “Marlyn Monroe”.

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4. Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor quer, mesmo, é
isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz amadurecer
o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de papel é
melhor ainda.
O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar muito. 'Textos guardados
acabam cheirando mal', disse Silvia Plath, (...) que, com esta frase, deu testemunho das dúvidas que
atormentam o escritor: publicar ou não publicar? guardar ou jogar fora?
Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa da criação literária. A
ideia de que o processo de maturação do texto nem sempre é o que garante bons resultados está
sugerida na seguinte frase:
a) "a gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa."
b) "em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda."
c) "o período de maturação na gaveta é necessário, (...)."
d) "mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma."
e) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho."

5. Os melhores críticos da cultura brasileira trataram-na sempre no plural, isto é, enfatizando a


coexistência no Brasil de diversas culturas. Arthur Ramos distingue as culturas não europeias
(indígenas, negras) das europeias (portuguesa, italiana, alemã etc.), e Darcy Ribeiro fala de diversos
Brasis: crioulo, caboclo, sertanejo, caipira e de Brasis sulinos, a cada um deles correspondendo uma
cultura específica.
MORAIS, F. O Brasil na visão do artista: o país e sua cultura. São Paulo: Sudameris, 2003.

Considerando a hipótese de Darcy Ribeiro de que há vários Brasis, a opção em que a obra mostrada
representa a arte brasileira de origem negro-africana é:

a) e)
c)

b) d)

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6. TEXTO I

TEXTO II
Soldado da guerra a favor da justiça
Igualdade por aqui é coisa fictícia
Você ri da minha roupa, ri do meu cabelo
Mas tenta me imitar se olhando no espelho
Preconceito sem conceito que apodrece a nação
Filhos do descaso mesmo após abolição
Disponível em: https://www.vagalume.com.br/mv-bill/so-deus-pode-me-julgar.html

O trecho do rap e o grafite evidenciam o papel social das manifestações artísticas e provocam a:
a) consciência do público sobre as razões da desigualdade social.
b) rejeição do público-alvo à situação representada nas obras.
c) reflexão contra a indiferença nas relações sociais de forma contundente.
d) ideia de que a igualdade é atingida por meio da violência.
e) mobilização do público contra o preconceito racial em contextos diferentes.

7. Observe atentamente o trecho transcrito abaixo.


“(...) o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de
fato aconteceu, mas sim o verossímil, o que pode acontecer, considerado na sua universalidade.”
SILVA, Vítor M. de A. Teoria da Literatura. Coimbra: Almedina, 1982.

A partir da leitura do fragmento, pode-se deduzir que a obra literária tem o seguinte objetivo:
a) opor-se ao real para afirmar a imaginação criadora;
b) anular a realidade concreta para superar contradições aparentes;
c) construir uma aparência de realidade para expressar dado sentido;
d) buscar uma parcela representativa do real para contestar sua validade.

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8.

A origem da obra de arte (2002) é uma instalação seminal na obra de Marilá Dardot. Apresentada
originalmente em sua primeira exposição individual, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte,
a obra constitui um convite para a interação do espectador, instigado a compor palavras e sentenças e
a distribuí-las pelo campo. Cada letra tem o feitio de um vaso de cerâmica (ou será o contrário?) e, à
disposição do espectador, encontram-se utensílios de plantio, terra e sementes. Para abrigar a obra e
servir de ponto de partida para a criação dos textos, foi construído um pequeno galpão, evocando uma
estufa ou um ateliê de jardinagem. As 1500 letras-vaso foram produzidas pela cerâmica que funciona
no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, num processo que durou vários meses e contou com a
participação de dezenas de mulheres das comunidades do entorno. Plantar palavras, semear ideias é
o que nos propõe o trabalho. No contexto de Inhotim, onde natureza e arte dialogam de maneira
privilegiada, esta proposição se torna, de certa maneira, mais perto da possibilidade.
Disponível em: www.inhotim.org.br. Acesso em: 22 maio 2013 (adaptado).

A função da obra de arte como possibilidade de experimentação e de construção pode ser constatada
no trabalho de Marilá Dardot porque
a) projeto artístico acontece ao ar livre.
b) o observador da obra atua como seu criador.
c) a obra integra-se ao espaço artístico e botânico.
d) as letras-vaso são utilizadas para o plantio de mudas.
e) as mulheres da comunidade participam na confecção das peças.

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9.

A instalação Dengo transformou a sala do MAM-SP em um ambiente singular, explorando como


principal característica artística a
a) participação do público na interação lúdica com a obra.
b) distribuição de obstáculos no espaço da exposição.
c) representação simbólica de objetos oníricos.
d) interpretação subjetiva da lei da gravidade
e) valorização de técnicas de artesanato.

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TEXTO II

Speto
Paulo César Silva, mais conhecido como Speto, é um grafiteiro paulista envolvido com o skate e a
música. O fortalecimento de sua arte ocorreu, em 1999, pela oportunidade de ver de perto as
referências que trazia há tempos, ao passar por diversas cidades do Norte do Brasil em uma turnê
com a banda O Rappa
Revista Zupi, n. 19, 2010

O grafite do artista paulista Speto, exposto no Museu Afro Brasil, revela elementos da cultura brasileira
reconhecidos
a) na influência da expressão abstrata.
b) na representação de lendas nacionais.
c) na inspiração das composições musicais.
d) nos traços marcados pela xilogravura nordestina.
e) nos usos característicos de grafismos dos skates.

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