Estágio Específico IV - Relatório Final - Finalizado

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 20

 

FACULDADE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - UNIFIN


CURSO PSICOLOGIA

 
 
RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO ESPECÍFICO IV

HOSPITAL DE ALVORADA
 

VANESSA FEIL HOMA

Porto Alegre
2019
RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO ESPECÍFICO IV
HOSPITAL DE ALVORADA

Relatório de atividades apresentado na


disciplina de Estágio Específico IV do
Curso de Psicologia da Faculdade São
Francisco de Assis sob orientação da
Professora Letícia Horn de Oliveira.

PORTO ALEGRE
2019
Resumo: Através da prática de estágio clínico do curso de Psicologia, o
presente artigo discorre os aprendizados envolvidos na área hospitalar. O
objetivo é entender o trabalho do Psicólogo nesta instituição através da
observação, reflexão crítica e articulação teórica –prática.

Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Estágio Clínico; Maternidade – UTI


Neonatal

Caracterização do local de estágio

A história do Hospital de Alvorada inicia-se com as reivindicações da


comunidade local para que fosse instalado em Alvorada um hospital. Estes
movimentos sociais se tornaram mais fortes na década de 80, e a partir deste
momento iniciaram-se as tratativas entre município e estado para a construção
do hospital.

O início oficial das atividades do Hospital de Alvorada foi em 20 de


setembro de 1985, quando Alvorada possuía 150.000 habitantes e o Hospital
de Alvorada 50 leitos. No período de 1985 a 1997 a gestão do Hospital de
Alvorada esteve foi compartilhada entre o estado e o município. A partir de
janeiro de 1998 a gestão do Hospital de Alvorada passou à Fundação
Universitária de Cardiologia (FUC) através de convênio com o Estado do Rio
Grande do Sul, proprietário do Hospital de Alvorada. Em seu primeiro ano de
gestão(1998) a FUC ampliou o hospital com mais 28 leitos destinados à
maternidade. No ano de 2001 foi aberta a uma Unidade de Tratamento
Intensivo Neonatal com 16 leitos. Em 2010 foi inaugurado o Centro de Parto
Normal com 8 leitos exclusivos para o parto normal. Atualmente o Hospital de
Alvorada conta com 99 leitos, 370 funcionários para realizar 6.500 internações
ao ano (exclusivamente pelo SUS). Além dos atendimentos aos pacientes
internados, o Hospital dispõe de um serviço de pronto atendimento 24 horas
para as situações de urgência e emergência com classificação de risco. O
único serviço dentro desta modalidade no município, sendo também referência
ao SAMU para o atendimento de média complexidade ou o primeiro
atendimento nos casos mais graves.

(Fonte: http://www.hospitaldealvorada.com.br)
Existe apenas uma psicóloga no local, e uma equipe de 15 acadêmicos
em psicologia que estão em diferentes semestres do curso, alguns realizam
estágio curricular clínico (atuação) e outros estágio curricular a nível inicial
(observação) em instituições diferentes como por exemplo: UFRGS, PUC,
Cesuca, Unissinos, São Francisco de Assis e IPA. O serviço de psicologia
conta com uma sala específica, mas a maioria dos atendimentos se dão nos
leitos de internação, alojamento conjunto, UTI neonatal, atividades
ambulatoriais que ocorrem conforme a disponibilidade do dia, entre outros.

Existem atividades de rotinas no Alojamento Conjunto (AC) com


puérperas e gestantes de risco e a escuta se faz presente junto à outras
mulheres que estão internadas no mesmo quarto, por vezes, os atendimentos
ambulatoriais com as pacientes que interessam-se pela continuação do serviço
de psicologia, acontecem no pátio do hospital, na praça, sala do cartório, sala
da psicologia e onde exista a possibilidade de uma escuta no contexto do
ambiente físico hospitalar, tentando preservar ao máximo a singularidade de
cada paciente. O Setting terapêutico se faz muito dinâmico. O trabalho nesta
instituição faz alusão a clínica em extensão.

Introdução e Justificativa do Tema

Segundo Ministério da Saúde (2007), amamentar é muito mais do que


nutrir a criança. É um processo que envolve interação profunda entre mãe e
filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de
se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo
e emocional, além de ter implicações na saúde física e psíquica da mãe. E,
apesar dos diversos estímulos, informações, capacitações de funcionários para
melhor orientarem as mães, percebe-se que o aleitamento materno ainda não
se faz o suficiente como é recomendado. É imprescindível que os profissionais
tenham um olhar atento, humanizado e abrangente e que assim possam
orientar e acolher essas mães para que elas sejam protagonistas de suas
escolhas.
Como o hospital recebeu o título de Amigo da Criança, os profissionais
devem incentivar, promover e auxiliar no aleitamento materno. O serviço de
psicologia conta com essa rotina, além de outras que surgem a todo momento.

Meu interesse pelo tema se fez presente pela minha identificação com a
área hospitalar e por meu desejo de estar nesse espaço. Estou atualmente no
quarto semestre nessa instituição e me sinto cada vez mais motivada a estar
nele.

O tema maternidade ainda é um grande tabu em nossa sociedade, pois


a mulher recebe essa herança social, além de existir a romantização da
gestação e nela muitos sentimentos estão envolvidos e por vezes a mãe passa
a se perceber de uma forma diferente da qual imaginou se sentir, trazendo
muitos medos, mágoas e até uma depressão em um caso mais complexo.
Nosso trabalho está para além de promover o aleitamento, mas sim, termos um
olhar atento quando percebemos dificuldades de vínculos e uma possível
rejeição por aquele bebê que precisa ser cuidado, amado e nutrido.

Fundamentação teórica

A psicologia da saúde, que tem por objetivo a promoção e manutenção


da saúde e à prevenção da doença, resulta da integração das contribuições
específicas de diversas áreas do conhecimento psicológico (psicologia clínica,
psicologia comunitária, psicologia social, psicobiologia) que tinham por objetivo
a promoção de saúde e a prevenção em todos seus níveis.

A intervenção de psicólogos na saúde, além de contribuir para a


melhoria do bem-estar psicológico e da qualidade de vida dos pacientes nos
serviços de saúde, pode também contribuir para a redução de internações
hospitalares, diminuição da utilização de medicamentos e utilização mais
adequada dos serviços e recursos de saúde.

Conforme Vigueras (2015), a psicologia da saúde, teve início nos


Estados Unidos, na década de 70 em função do período pós guerra e suas
consequências aos veteranos de guerra que sobreviveram a estes amontoados
de traumas, conflitos, abalos e perdas. Esses fatores influenciaram interesses
em estudos, pesquisas, reabilitações na área. Aos poucos, a necessidade e
interesse na área foram se tornando cada vez maiores.

Segundo a mesma autora, a psicologia hospitalar tornou-se uma área


oficial da psicologia no ano 2000, quando foi regulamentada pelo Conselho
Federal de Psicologia. Esse segmento da psicologia é, na verdade, um campo
que busca compreender e tratar os aspectos psicológicos no processo de
adoecer. Para lidar com as questões afetivas e emocionais do paciente, a
psicologia hospitalar disponibiliza para pacientes, familiares e equipe de saúde
o saber psicológico, no sentido de resgatar a singularidade do paciente, suas
emoções, crenças e valores. Para a psicologia hospitalar interessa auxiliar o
paciente durante toda a experiência do adoecimento, buscando resgatar sua
subjetividade.

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2010), o psicólogo


especialista em psicologia hospitalar atua em instituições de saúde, realizando
atividades como: atendimento psicoterapêutico; formação de grupos
psicoterapêuticos; formação de grupos de psicoprofilaxia; atendimento em
ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto-atendimento;

No Brasil, a história da psicologia hospitalar surge em 1954, quando


Matilde Neder desenvolvia atividades com crianças na Clínica Ortopédica e
Traumatológica da USP. Seu trabalho consistia em preparar os pacientes para
a intervenção cirúrgica de coluna e sua consecutiva recuperação. A ansiedade
das crianças fazia com que os gessos quebrassem, gerando dificuldades para
os trabalhadores da clínica. Nesta época, Matilde candidatava-se a uma vaga
na sociedade Brasileira de Psicanálise, o que então demonstrava-se um
desafio, tornou-se uma possibilidade em atrelar seus conhecimentos a uma
forma breve de cuidados que a instituição demandava. Ocorreram então, a
criação de modelos teóricos de atendimentos que tinham como objetivo agilizar
e torná-los adequados à realidade institucional. Inaugurou assim, as atividades
do psicólogo em hospitais no Brasil:

Conforme Vigueras (2015), no dia-a-dia do hospital os psicólogos muitas


vezes ocupam o lugar de tradutores entre os médicos e os pacientes, podendo
tomar-se o entendimento de que as questões subjetivas são exclusivas do
psicólogo e as orgânicas do médico. Entretanto, o ser humano não é só
somático ou psíquico, ou seja, a fragmentação do atendimento à saúde pode
não contemplar a complexidade do ser humano, devido aos diferentes campos
de saberes e poderes envolvidos no atendimento ao paciente. Contudo, a
linguagem técnica da equipe de saúde pode não ser o único empecilho no
atendimento. Qualquer orientação dos profissionais do campo da saúde pode,
muitas vezes, ser incompreensível ou inadequada às condições de vida da
pessoa. Por exemplo, uma pessoa que necessita de diversos medicamentos,
em diversos horários e que não é alfabetizada necessitará de uma orientação
diferente de uma pessoa alfabetizada. O própria atendimento precisa ser
contextualizado, pois no momento em que o médico diz que a pessoa pode
levar uma vida normal, ele precisa conhecer o dia-a-dia dela. Um pedreiro, por
exemplo, nem sempre poderá carregar peso imediatamente após sua alta.

Assim, a equipe de saúde nem sempre pode se mostrar aberta, pelo menos,
em um primeiro momento, ao trabalho do psicólogo. Devido a isso, pode-se
pensar que, em algumas situações, o atendimento psicológico pode ser visto
como algo desnecessário àqueles pacientes que não apresentam
comportamentos considerados não prioritários para o atendimento à saúde, ou
ser considerado secundário por se tratar de uma demanda subjetiva. Porém, a
inserção do trabalho do psicólogo no contexto hospitalar pode mudar a
dinâmica de atividades de toda equipe de saúde, uma vez que a dinâmica das
relações de poder entre os diferentes saberes do que é saúde passam a ser
estabelecidas de outras formas, alterando o entendimento sobre atenção à
saúde, tanto por parte da equipe médica, como por parte dos pacientes.

Um exemplo do processo de comunicação entre os profissionais da equipe


de saúde é o prontuário: cada um descreve o que observou para que todos
possam acessar esses registros, fazer um manejo único com o paciente,
evitando uma dupla mensagem. Mas as vezes algo tão simples torna-se difícil
de aplicar-se, pois na correria dos atendimentos nem sempre é possível olhar a
ficha do paciente antes de entrar nos leitos, pois quem mais os usa são as
enfermeiras e médicas, tendo pouca relação com a psicologia. O discurso por
parte das profissionais da saúde de psicologia sobre o prontuário é de que este
é o processo comunicacional mais importante entre os profissionais das
diferentes áreas disciplinares da saúde. Em alguns casos, posterior a esta
forma de relação, através deste mecanismo de comunicação, podem ocorrer
discussões sobre o manejo e o entendimento da demanda dos usuários sobre
o tratamento e questões relacionadas a sua internação.

Como menciona Vigueras (2015), do ponto de vista da psicologia, os


trabalhos das equipes multidisciplinares só se tornarão válidos e
enriquecedores para os pacientes, se cada profissional se responsabilizar por
sua área de cuidados em relação à saúde: "...o dentista, o psicólogo, médico,
nutricionista, tem que haver esta troca. É, um não ocupar o lugar do outro,
respeitar o espaço e o conhecimento do outro profissional para que ele também
respeite o nosso. Se algo é trabalho do médico, então não se diz porque o
paciente quer ouvir, ou está reclamando do médico para criar um laço
acolhedor, chama-se o médico para ele explicar. Esse é um bom sistema para
se trabalhar, é integrar, respeitando o outro e também sendo respeitado. Se
responsabilizar pelo atendimento, para ser o mais apropriado possível e, não
“passando por cima” do restante da equipe. A psicologia tem como desafio
para as questões de saúde em suas práticas junto com as equipes
multidisciplinares de forma direta, questionar-se, principalmente, que
concepção de sujeito e de sociedade está como pano de fundo para as práticas
psicológicas nos hospitais. O trabalho da psicologia nas equipes
multidisciplinares deve ser tomado como algo mais complexo, merecendo uma
discussão também complexa que, no mínimo, consiga ser problematizada de
questões contemporâneas que envolvem essas práticas psicológicas sobre
doença e saúde. Não há exercício profissional que dispense uma perspectiva
de sujeito e de realidade. Em toda prática psicológica existe a necessidade
dessa discussão, e ações que constituam o trabalho da psicologia.

Assim, para o profissional da psicologia, não estão restritas somente às


atividades de saúde mental. Todo o trabalho que seja exercido no campo da
coletividade com a finalidade da promoção do bem-estar e da saúde e que seja
possível os trabalhos da psicologia serão de interesse, ou seja, o profissional
da saúde também deve estar presente na formulação, organização e
desenvolvimento das políticas públicas e sociais de saúde.
No processo de gestação, a mulher se depara com concepções
advindas de sua história, traz desde sua infância o preconceito sobre a
maternidade, seus medos, fantasias e uma imagem idealizada desse processo
que está vivendo. Ela despe de si em troca ao outro que gesta. Mas nem todos
os casos as mães sentem sentimentos sadios aos filhos. Não rara as
situações, elas relatam a não imediata aceitação destes seres que estão em
seus ventres, demonstram um trabalho de tecer as roupagens do ser mãe. Por
este motivo se faz necessário o não julgamento, o ouvir com empatia o campo
simbólico do outro. Esse laço de amor que se inicia tecendo o desejo pela
família se faz necessário para que o bebê exista antes mesmo de ser
fecundado. Podendo ser desejado, demandado, ele pode também construir
essa dobradiça de afetos.

Das Graças (2009), aponta que a Psicologia defende o ato de


amamentar e cuidar com afeto do bebê, auxiliando e fortalecendo o vínculo da
mãe e seu filho. Mas mesmo que a mãe não consiga amamentar por questões
físicas, dores, condições clínicas, o bebê não está prejudicado
psicologicamente se a mãe conseguir demandar com amor a mamadeira ou
outro objeto que transfira esse alimento. O ato de amor pode ser transferido do
seio ao outro objeto de carinho.

“A arte de amamentar provoca laços de amor entre mãe e filho,


proporcionando um sentimento de transformar em um único
ser. Nessa relação única mãe e bebê necessitam um do outro
tanto física quanto psiquicamente. O bebê apresenta a
necessidade do leite, mas também de carinho, amor,
tranquilidade obtidos pelo contato físico do corpo materno e
também de sua boca muito sensível e dos seus sentidos
enquanto mama. A mãe necessita do bebê para que ele retire o
leite de seus seios, proporcionando conforto e também
satisfação de alimentá-lo e sentir-se amada por ele” (DAS
GRAÇAS, 2009 p. 154).

A informação da importância do aleitamento materno para os bebês


estão além de nosso trabalho no hospital, cada paciente tem uma história
singular, e, a partir dela podemos tecer, ou não, um início de vínculo com a
mãe. As dúvidas e histórias surgem em todos discursos proferidos por elas.
Podemos notar também, o quanto de dúvidas podemos auxiliar nestes
espaços, o quanto podemos criar e transformar, recebendo assim também,
nossa dobradiça de afetos, a partir de um desejo.

Relato de Caso de uma paciente


Motivo da Consulta e Queixas
Paciente L, 36 anos, chega no Hospital de Alvorada para internação
devido a complicações em sua gravidez. Gestava seu segundo filho, o mais
velho tem 11 anos. Foi diagnosticada com pré-eclâmpsia. Após o primeiro
contato, paciente seguiu em atendimento após a alta médica e seguiu em
terapia com a estagiária de psicologia.
Devido ao seu diagnóstico (pré-eclâmpsia), paciente L. relatava estar
muito angustiada. Referiu que a gestação estava sendo bastante dolorosa,
diferente da gestação anterior. Seu filho Ls (23 semanas) mexia muito e ela
sentia-se muitas dores nas costas, na barriga e quase não saía de casa, pois
se cansava com muita facilidade. Relatou sofrer de ansiedade e depressão.
Não fazia acompanhamento psicológico, apenas psiquiátrico há mais ou menos
10 anos. Como é gestante, estava aguardando a psiquiatra mudar sua receita,
pois a dosagem anterior devia ser alterada. Por este motivo relatou estar
extremamente desequilibrada e nervosa (sic). Dizia que sua “cabeça estava
bagunçada” (sic). Como a internação no hospital é temporária, o serviço de
psicologia é oferecido para ser continuado após alta médica. A paciente
demonstrou muito interesse em seguir com a escuta, pois como faz uso de
medicamentos há muitos anos, avaliou que seus sintomas não findaram.
Relatou ser muito nervosa, sentir diversos enjoos, principalmente quando tem
que sair de casa. Sentia-se indisposta, por vezes triste e com vontade de
morrer. Antes da gestação utilizava Sertralina e Bupropriona pela manhã;
Bupropriona e Topiramato à tarde. Relatou que os sintomas persistiram e, que
não foram suficientes para acalmar-se. Relatou que necessita de doses mais
fortes ou alterações medicamentosas, pois não percebia melhora em seu
sofrimento psíquico.

HISTÓRIA FAMILIAR E HISTÓRIA PREGRESSA

A paciente é natural do interior do Rio Grande do Sul, reside na cidade de


Alvorada com seu esposo e filho de 11 anos. Sua gestação atual não foi
planejada e, segundo a paciente, ocorreu na troca de anticoncepcionais.
Apesar de não ocorrer nenhum planejamento estava feliz pela maternidade do
segundo menino, relatou que seu esposo é um homem bom, batalhador e
sentia-se apoiada por ele.
Conta que os sintomas “ruins” (sic) apareceram quando deu à luz ao seu
primeiro filho, Ln (11 anos). Diz que a gestação foi planejada, mas muito difícil.
Era ativa, trabalhava, estudava pedagogia e sua vida era agitada. Quando seu
filho nasceu, complicações surgiram e fizeram com que ele ficasse internado
na Unidade de Tratamento Intensivo - UTI Neonatal com quadro bastante
grave. A partir desse momento, relatou não ter tido forças para cuidá-lo, ia
todos os dias na UTI para vê-lo, mas estava preocupadíssima e sem
esperanças. Refere muita tristeza em não ter podido amamenta-lo, pois, seu
leite secou e dificultou a oferta do seio. Como ficou na incubadora, mal pode
pegá-lo no colo, pois estava cheio de sondas e fios.
Quando Ln melhorou e recebeu alta, a paciente L. conta que não teve
ânimo para atender ao choro do filho. Sua mãe, que reside no estado de Santa
Catarina, precisou passar uma temporada em sua casa para lhe auxiliar, relata
que se não fosse ela seu filho não sobreviveria. Apesar do episódio difícil, hoje
a ama muito, se considera uma boa mãe, mas diz que não pôde mais retornar
à vida que tivera antes dele nascer. Parou a faculdade no segundo semestre e
atualmente sua renda é da empresa em conjunto ao esposo; uma empresa que
leva as iniciais dos membros da família na área de turismo.
Após a alta médica, a paciente L. seguiu com o atendimento do serviço
de psicologia, uma vez por semana. Se fez presente e assídua, demonstrando
empenho na sua melhora. Em um dos primeiros encontros, relatou achar que
sua depressão estava voltando. Disse que há 1 semana, do nada, apareceram
sentimentos de mal-estar, seu coração parecia que saltaria pela garganta. A
lembrança do nascimento do primeiro filho vinha em sua mente e sentia-se
doente de novo, com vontade de morrer para acabar com esses sentimentos,
mas lembrava do seu marido, seu filho e do bebê que estava esperando. Dizia
não sentir fome, não comer direito, não ter sono e nem vontade de sair de
casa. Relatou tomar 1 dosagem a mais de Sertralina pela manhã e à noite, mas
o medicamento não esava fazendo efeito (sic).
Nos encontros, a paciente L. demonstrava muito queixosa, sua fala
muito acelerada e ofegante, difícil até de fazer alguma intervenção, seus
discursos nessas semanas foram parecidos... estava cansada de sentir-se
assim, quando precisava sair de casa sentia dores na barriga e enjoos. Tem
poucos amigos, sem momentos fora de sua rotina normal, não estava indo ao
supermercado, nem praças, nada. Diz que observava seu filho e esposo e
pensava o por que desses pensamentos, pois antes não era assim. Se agora
que mais um filho estava em sua barriga as coisas não voltariam a ser como
antes (sic).
Em uma sessão, relata que seu pai bebia muito, era violento com sua
mãe. Em um determinado momento, elas esperaram ele sair de madrugada
para beber e fugiram de casa. Ela e sua irmã levaram a mãe para morar com
um irmão mais velho e assim deu-se a separação de seus pais. Em alguns
encontros, a paciente L. falou em sonhar com água. Que está em meio à água
limpa. Estava com a impressão de ser algo positivo, mas quando tentamos
interpretar seu sonho, revelou não ter maiores informações. Lembrava apenas
que sonhou com água.
Após a consulta com a psiquiatra, no hospital, Letícia foi internada
novamente, estava com dores fortes abaixo da barriga. Relatou ter realizado
exames e nenhuma infecção apareceu. Foi medicada e liberada. No momento,
quando ela relatava o acontecido, em nossa sessão, pediu que eu auxilie nas
dosagens dos medicamentos porque estava muito agitada. Foi orientada que a
psicologia não pode receitar medicamentos e que toda alteração deve ser
avaliada pela psiquiatra. Disse que depois da segunda internação estava muito
ansiosa, com medo do nascimento de seu novo bebê e que me escrevera
nesses momentos de angústia, tendo algumas “cartinhas a entregar em nosso
próximo encontro” (sic). Disse que escreveu quando não tinha outra alternativa
e pensava em mim. Um antigo psiquiatra uma vez lhe sugeriu, pois as
consultas eram mensais e longes umas das outras. Relatei que a escrita não é
uma obrigatoriedade e não faz parte do nosso acordo terapêutico, mas se ela
sentia-se bem ao escrever seu dia, podia continuar fazendo e trazendo para
nossos encontros.
Ao longo de sua gestação, paciente L. me escreveu o total de 13 cartas.
Em todas elas suas escritas eram parecidas e queixosas. Quando tentei
articular algo relatado ao seu passado, ela dizia não lembrar. Me contou em um
dos momentos que sua mãe abortou na gestação anterior a ela. Não recorda
se foi espontâneo ou provocado, mas lembra um “assunto assim na família”
(sic). Diz de sua relação com a mãe, como é conflituosa, pois ela está sempre
dando “pitacos” em sua vida, nada está bom (sic)!
Paciente L. enviou-me uma mensagem que seu filho nasceu! Nas 37
semanas de gestação ele quis vir ao mundo. “Nasceu chutando” e na sala de
recepção do hospital (sic). Seu maior medo tornou-se realidade mais uma vez.
Ele ficou internado na Unidade de Tratamento Intensivo – UTI Neonatal, pois
seus pés estavam roxos devido ao parto ao contrário, e o nascimento
aconteceu antes da hora. No dia do nosso encontro, estava no hospital para as
atividades de rotina e Letícia solicitou aos meus colegas que eu a procurasse
no leito x. Fui à sua procura, ela sentiu-se feliz. Mencionou estar cansada e
com muitas dores, pois o parto foi muito difícil. Solicitou que eu fosse a UTI
Neonatal com ela. Percebi o quanto ela desejava tocá-lo, fazer carinho em seu
filho. E o quanto foi importante para ela eu presenciar seu investimento pelo
bebê. Muito preocupada com ele e com seus pés roxos e eu percebo alguns
espasmos musculares, já que o pezinho tremia algumas vezes. A enfermeira
solicitou que todos saíssem da sala, pois iriam realizar alguma atividade
invasiva em uma das crianças. Nesses momentos é padrão as mães não
estarem olhando, pois, segundo a enfermeira, é um procedimento ruim em um
bebê muito pequeno, sendo melhor que as mães não vejam para não sofrerem
mais. Fomos ao corredor esperar o procedimento ser realizado. Neste
momento a médica aproveitou para passar as informações iniciais sobre o
quadro dos bebês ali internados. Estava com a paciente L. quando ela recebeu
a notícia que seu filho estava ali devido a prematuridade e pela força/forma que
ele nasceu. Mas, apesar do susto seu quadro era bom, que se ao tirarem o
oxigênio ele conseguisse respirar sozinho, em dois a três dias já sairia dali...
para a paciente L., essa foi a melhor notícia que poderia ouvir, ficou muito feliz.
Mas logo já se angustiou questionando o porque do seu filho estar no oxigênio;
etc. Percebi que todo o momento o fantasma da situação anterior voltava,
sentia medo de não dar conta da situação que se repetia.
Ls, logo teve alta da UTI, dois dias depois e já estava na sala do
canguru*. A paciente L. fez questão de me manter informada do acontecido,
percebi o quanto era essencial para ela minha presença. Quando a
acompanhava na sala do Canguru, pude ver o quão cuidadosa estava sendo,
preocupada e feliz com o pouco tempo que seu filho ficou internado.
Trabalhamos muito a situação dele ter ido para a Neo como algo pontual já que
seu quadro se mostrou muito favorável. Ela sempre trazia a situação da
gestação anterior, me relatando ter medo de não conseguir criar um bom
vínculo com seu bebê, mas minha percepção estava clara do quanto ela estava
se preocupando em demasia.
Em um atendimento, a paciente novamente verbalizou o sonho com
água. Relatou que estava com o corpo todo banhado por água e que a
sensação era boa. Logo, sugestionei que apesar de não lembrar, me contasse
sobre sua infância. O primeiro assunto que lembrava era sobre as idas à
piscina de sua amiga, o quanto gostava desses momentos de
criança/adolescente. Disse que seu pai, ao ver sua felicidade, comprou uma
piscina de plástico para ela e sua irmã brincarem, mas a paciente L. lembra
que ficou brava porque seu pai comprou um produto tão inferior. Ao mesmo
tempo que suas lembranças trazem sentimentos de felicidade, sentia-se
culpada por ter sido estúpida com ele, pois seu pai só estava tentando agradá-
las. Perguntei a ela sobre a influência da água em sua vida, já que percebia
seus relatos e sonhos com o elemento. Ela percebeu as mesmas ligações e
queria muito entender o por que da palavra água estar em sua cabeça.
Nossos encontros, desde o início, foram semanais, apenas na semana
de nascimento do filho mais novo e de sua internação é que a paciente L.
faltou. Não era hábito a falta sem justificativa e sem aviso. Liguei para a
paciente e questionei se estava a caminho, pois já passava do horário de
nosso encontro. Ela fica surpresa e disse que esqueceu. Talvez estivesse com
a cabeça cheia, mas não lembrou (sic). Marcamos a nova data para o próximo
dia.
Na consulta seguinte, percebi a coincidência de esquecimentos, das
lembranças da infância e de nossa consulta (justamente quando estamos tendo
um progresso muito importante). A paciente L. me trousse a informação de que
perguntou para sua mãe como havia sido sua gestação, como foi quando sua
mãe estava grávida dela. Relatou que a mãe trouxe assuntos diversos e logo
esqueceu de responder. Lembrou do aborto que ocorreu com a mãe próximo a
sua gravidez, dizendo que iria perguntar novamente e desta vez iria anotar
para não esquecer.
L. verbalizou que estava tendo mais forças para suportar os sentimentos
ruins. Não que eles haviam desaparecido, mas apareciam menos vezes e
conseguia controlar com mais facilidade. “Penso o quanto isso é minha cabeça
quem cria e o quanto sou eu que sofro por antecedência” (sic).

DIAGNÓSTICO CLÍNICO SEGUNDO CID-10

CID-10: F43.2 – Transtornos de Adaptação(primário)


“Estado de sofrimento e de adaptação emocional subjetivos, que entravam
usualmente o funcionamento e o desempenho sociais. Ocorrendo no curso de
um período de adaptação a uma mudança existencial importante ou a um
acontecimento estressante. O fator de “estresse” pode afetar a integridade do
ambiente social do sujeito (luto, experiências de separação) ou seu sistema
global de suporte social e de valor social (imigração, estado de refugiado); ou
ser ainda representado por uma etapa da vida ou por uma crise do
desenvolvimento (escolarização, nascimento de um filho, fracasso em atingir
um objetivo pessoal importante, aposentadoria). A predisposição e a
vulnerabilidade individuais desempenham um papel importante na ocorrência e
na sintomatologia de um transtorno de adaptação; admite-se, contudo que o
transtorno não tenha ocorrido na ausência do fator de “estresse” considerado.
As manifestações, variáveis compreendem: humor depressivo, ansiedade,
inquietude (ou uma combinação dos precedentes, sentimento de incapacidade
de enfrentar, fazer projetos ou continuar na situação atual, assim como certa
alteração do desempenho cotidiano.
Choque cultural;
Hospitalismo da criança;
Reação de luto;
Exclui: transtorno ligado à angústia de separação na infância” (CID-10, 1993).

CID-10 – F41.1Transtorno de Ansiedade Generalizada (secundário)

“O aspecto essencial é a ansiedade, a qual é generalizada e persistente, mas


não restrita ou mesmo fortemente predominante em quaisquer circunstancias
ambientais em particular (isto é, ela é “livremente flutuante”). Como em outros
transtornos ansiosos, os sintomas dominantes são altamente variáveis, mas
queixas de sentimentos contínuos de nervosismo, tremores, tensão muscular,
sudorese, sensação de cabeça leve, palpitações, tonturas e desconforto
epigástrico são comuns. Medos de que o paciente ou um parente irá
brevemente adoecer ou sofrer um acidente são frequentemente expressados,
junto com uma variedade de outras preocupações e pressentimentos. Esse
transtorno é mais comum em mulheres e frequentemente relacionado a
extresse ambiental crônico. Seu curso é variável, mas tende a ser flutuante e
crônico”.

A paciente, tinha em seu diagnóstico principal o Transtorno de


Adaptação, este derivava de suas angústias e tristezas para o segundo
enquadre F41.1 que, após a dualidade de sentimentos surgidos da segunda
gestação, desejo de seu filho viver x desinvestimento, pois sua psique estava
se desvinculando do bebê, já que o prognóstico não era nenhum pouco
favorável, angústias apareceram e continuavam. Temores que algo lhe
aconteceria ao sair de casa, ou ao seu filho, enjoos ao sair de casa,
palpitações, etc.
Freud (1917/1969), em seus estudos sobre Luto e Melancolia, aborda
que o luto é um processo natural frente a perda de um objeto amado, onde o
sujeito retira a libido do objeto que foi afastado ou não mais existe, sendo uma
reação saudável, pois a pessoa vai desvinculando a libido do objeto.
A paciente L. como observado, antecipou o luto simbólico de sua
primeira gestação (há 11 anos) ao saber que o quadro clinico de seu filho Ln
era gravíssimo. Foram aproximadamente 30 dias de internação, e 30 dias de
desinvestimento libidinal. Ao se deparar com a melhora e alta do filho, pode-se
supor que restavam na paciente, sentimentos imaginários de perda e
desinvestimento da imagem do filho ideal. Porém, com sua estrutura neurótica,
os sentimentos de culpa por desejar inconscientemente a morte do filho, e
culpa por não ter realizado os cuidados maternos impostos por nossa
sociedade, que representam a lei, conduziram a sintomas latentes (físicos):
medo de sair de casa, pois algo ruim poderia acontecer; enjoos; dor de barriga;
cansaço; entre outros. Como realizava a ingestão de medicamentos nesses
últimos anos, houve a possibilidade de continuar seguindo suas rotinas com os
desagrados, mas nada exacerbante para ela. Já na segunda gestação, onde
estes medos reapareceram no real, os sintomas latentes também voltaram,
incapacitando a paciente, trazendo novamente o medo da morte e a culpa pelo
mesmo desejo.
Druon (1996) aponta que os pais, diante de tanta dor, tendem a
antecipar o luto, ou seja, deixam de investir no bebê para evitarem mais
sofrimento, pois acreditam que não adianta fazer mais nada.
A paciente L. durante as consultas, relatou que apesar dos sentimentos
desagradáveis conseguia realizar suas tarefas com maior segurança quando
seu esposo Lno a levava para determinado local, a buscava e a aguardava
enquanto realizava suas atividades. Como se ela necessitasse do olhar do
outro para validar sua capacidade como mãe.
Segundo Kuble Ross (2002), a depressão decorre não somente do
impacto da doença sobre o indivíduo, mas sobre toda a família, e das
alterações sofridas por esta. Entre as alterações estão o enfraquecimento
financeiro, a necessidade de o outro cônjuge trabalhar e o afastamento dos
filhos, que, por vezes, precisam ficar aos cuidados de parentes. Neste aspecto,
a autora encontrou dois tipos de depressão: a reativa e a preparatória. O
segundo tipo é o que ocorre quando o doente se dá conta de que perderá, em
breve, tudo o que ama. Se prepara então para a perda.
Quando a paciente deu à luz ao filho Ls, seguiu em atendimento com a
psicologia e apresentou melhoras, segundo ela, seu papel como mãe estava
sendo bastante diferente da primeira gestação, onde trouxe todos estes
comportamentos, sintomas e desejos. A paciente L. falou sobre os sonhos que
estava envolta à agua. Podemos supor sua demanda de amor, demandando
uma contenção/limitação dessa “água”. Como se a água fizesse referência ao
útero e sua dualidade nascimento/morte estivesse presente em seu
inconsciente, mas, devido ao recalque não pudesse ser percebido como
desejo, então traz sofrimento a seu ego. A confiança em seu esposo e a
vontade que tinha para que ele estivesse sempre presente pode representar
seu superego como uma espécie de vigia/contenção.
A paciente L. teve suas consultas reduzidas quinzenalmente, uma
decisão realizada por ela e a estagiária de psicologia, já que a mesma
demanda essa necessidade de dependência/contenção e apresentava
dificuldades em lidar com a falta. Trabalhando a diminuição das consultas
podemos trabalhar também, a autonomia da paciente, pois segundo a
abordagem psicanalítica breve, as consultas tinham seu prazo findado e, as
demandas manifestas precisam ser trabalhadas com maior ênfase para o bem-
estar do paciente.
Segundo Kahtuni, o tema focal do tratamento psicanalítico breve está
ligado à emergência, pois está ligada com a angústia, que por sua vez tem sua
raiz ligada a um conflito primário. Podemos supor que este conflito primário foi
desencadeado na primeira gestação da paciente, sabemos que a mulher
reedita a gestação de sua mãe. A paciente L. relatou o aborto que sua mãe
teve antes dela, porém, a paciente disse não haver nenhuma relação entre a
perda da mãe (aborto) com seus sintomas. Como relatou, pouco sabe desse
acontecido, quando o desejo de saber apareceu, logo o esqueceu (ligou para
sua mãe e conversaram sobre outros assuntos).
(“...O não dito impede que a criança se estruture,
ele é destrutivo. As vezes pode até matar.
Porque sobre um buraco não se pode construir
coisa alguma”) Miriam S.

Segundo Miriam S, toda criança tem direito a sua história, são esses
“buracos” que geram as repetições dramáticas na vida do sujeito, pois não
saber sua origem os faz andar em círculos. Durante o tratamento, se o paciente
consegue colocar palavras sobre esses não ditos e compreender o que
aconteceu, o buraco pode retomar seu lugar, sua história seu curso.
A paciente L. referiu que a gestação do seu filho Ls não foi planejada,
aconteceu pela troca de anticoncepcionais. Segundo a mesma autora, se
existe fecundação, o desejo de ter um filho está presente. Um preservativo mal
colocado, umas pílulas esquecidas são ditas atos falhos do inconsciente bem-
sucedidos. Devemos entender o por que o casal se colocou, neste momento,
no “descuido” de ter um filho.
Relacionando o texto da autora com o nascimento do Ls, podemos
interpretar o interesse da paciente como uma oportunidade de reeditar a sua
história. Antes, na primeira gestação, sua função psíquica estava ainda como
filha, demandando os cuidados de uma mãe, para a sua própria. Mas, esse
desinteresse trouxe culpa, e agora, com a nova chance de ser mãe, esta
posição de filha, se findou, passando finalmente para a de mãe, assim podendo
construir sua relação mãe-bebê de outra forma. A paciente relatou que desde o
nascimento do segundo filho não visitou sua mãe, e achou por melhor evitar,
pois se antes ela estava mais presente, agora queria tomar para si esses
cuidados, e, finalmente provar para seus familiares e para “sua cabeça que é
uma pessoa normal” (sic).

PROGNÓSTICO
Paciente L. apresentou um prognóstico favorável, visto que algumas
mudanças significativas já ocorreram desde a sua entrada em psicoterapia, até
o momento da finalização das sessões. A paciente relatou que tinha mais
consciência que seus sentimentos eram fruto de sua preocupação pelo
ocorrido durante a primeira gestação. Disse que percebeu o quanto a escuta do
que dizia fez se envergonhar pela forma como seu medo se apresentava. A
paciente disse que seu medo quando aparecia não se tornava mais irracional,
pois pensava e avaliava o que sentia, tinha mais autonomia.

Relato crítico do processo de integração no local: Como se deu o início


do estágio, acolhida e principais desafios

Meu início na instituição se deu através da desistência de uma colega de


graduação, ela, sabendo do meu desejo e identificação com a prática de
psicologia hospitalar me avisou e me passou o contato da psicóloga. Na época,
iniciei minhas atividades de observação com a psicóloga Greici Laitano, esta
mesma ficou na instituição pouco mais de 6 anos. No período de suas
combinações de saída com a gerência, indicou para continuar em seu local
uma profissional de psicologia que havido tido experiências como estagiária no
mesmo espaço. Assim, durante as férias (entre o segundo semestre de 2018 e
início do primeiro semestre de 2019) a psicóloga Tainara passou a exercer as
atividades e orientar os estagiários de psicologia.

Vejo essa situação como uma oportunidade de aprendizado novo, por mais
que as atividades sejam as mesmas os olhares não o são e assim podemos
atualizar os conhecimentos aprendidos anteriormente e/ou melhorá-los caso
algo seja apontado.

O espaço de estágio possibilitou novas construções de conhecimentos,


possibilitou-me também, aprimorar os conhecimentos anteriores adquiridos
nesse local. Ao longo desses semestres em que pude realizar atividades, pude
ver o quão ricas experiências de trabalho estou tecendo. Creio que o
aprimoramento virá com o tempo, mas noto-me mais madura e mais preparada
para além da formação.

A experiência do primeiro atendimento se fez marcante em minha


trajetória profissional, senti-me muito nervosa e insegura nos primeiros
encontros com a paciente, mas ao longo do tempo, com as supervisões da
instituição de ensino e concedente de estágio, os medos foram diminuindo.
Está sendo um prazer imensurável realizar atividades nessa instituição.
Agradeço imensamente minha supervisora pela acolhida e por me receber com
tanta confiança, e por saber superar os erros que inevitavelmente acontecem
durante esse período.

Acaba sendo difícil superar as inseguranças que temos quanto


estagiários, quando as pacientes faltam é inevitável nos culparmos por isso.
Ficamos pensando o que fizemos de errado, se é que fizemos. Ou o que faltou,
o que poderia ser melhor. Mas a certeza que construí foi que a transferência se
faz diferente para cada relação terapêutica, as vezes, os pacientes não
desejam permanecer em análise, querem uma descarga momentânea para
aliviar suas tensões, devemos lidar e trabalhar com as frustrações, elas são
inevitáveis.
Bibliografia

H. YAMAMOTO., Oswaldo Construindo a Psicologia Brasileira. 2003 Casa


do Psicólogo
SIMONETTI, ALFREDO. Manual de Psicologia Hospitalar: o Manual da
Doença, 4º ed. São Paulo. 2008. Casa do Psicólogo ALMEIDA, E. C. O
Psicólogo no Hospital Geral. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 20, n. 3, 2000,
pp.24-27.
BLEGER, JOSÉ. Temas de Psicologia: Entrevistas e Grupos, 2°t. São
Paulo, 2012
ANGERAMI,VALDEMAR AUGUSTO E OUTROS. O Doente, A Psicologia E O
Hospital. 1º ed. São Paulo Editora Pioneira
VIGUERAS, Evelyn. Psicologia da Saúde. São Paulo: Pearson Education do
Brasil, 2015.
DAS GRAÇAS, MARIA ANGELA. Laços de Amor: Maternidade e
Amamentação. Acessado em:14 Maio de 2019. Disponível em:
https://www.cesjf.br/revistas/cesrevista/edicoes/2006/lacos_de_amor.pdf
MINISTÉRIO DA SAÚDE. SAÚDE DA CRIANÇA: Nutrição Infantil
Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Série A. Normas e
Manuais Técnicos Cadernos de Atenção Básica – n.º 23. Brasília 2007
Acessado em: 15 de Maio de 2019. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
saude_crianca_nutricao_aleitamento_alimentacao.pdf
KUBLER- Ross, E. Sobre a morte e o morrer: 8ª Ed., Martins Fontes. São
Paulo, 1998.

Você também pode gostar