Conto Fantástico

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“Até aqui nos ajudou o Senhor...

Disciplina: Redação
Professora: Angela Lima
Série: 9º ano Turma: 901 Bimestre: 1º Referência: Trabalho em sala
Aluno: ___________________________________________________

CONTO FANTÁSTICO

Entre a surpresa e a dúvida


O título acima sintetiza a explicação que o poeta José Paulo Paes nos dá sobre o que vem a ser uma
narrativa fantástica:

Se você e der ao trabalho de ir até o dicionário para saber o que quer dizer fantástico, vai verificar que essa palavra
designa tudo quanto seja fantasioso, fantasmagórico, mero produto da imaginação. Em suma, o oposto do real. Real,
por sua vez, não é apenas aquilo cuja existência pode ser comprovada pelos nossos sentidos, mas sobretudo aquilo que
ninguém põe em dúvida que seja verdadeiro.
Quando uma narrativa explora a oposição entre o real e o fantástico, diz-se que é uma narrativa fantástica. (...)
Num conto fantástico, em nenhum momento o leitor perde a noção da realidade. Por não perdê-la é que lhe causa
surpresa o acontecimento ou acontecimentos estranhos, fora do comum ou aparentemente sobrenaturais que de
repente parecem desmentir a solidez do mundo real até então descrito no conto. Nesse momento de surpresa e de
perplexidade, está o próprio sal da literatura fantástica. Daí um dos seus estudiosos, Tzvetan Todorov, a ter definido
como aquela que provoca, no espírito do leitor, uma dúvida insolúvel entre uma explicação natural e explicação
sobrenatural para os estranhos fatos que ele narra.

(In: Edgar Allan Poe et ali. Histórias Fantásticas. São Paulo: Ática, 1996. p. 3-4.)

O QUE ELA MAL SABIA

Ideia para uma história de terror: uma mulher vai ao


dentista, e, enquanto espera a sua vez, pega uma revista para
folhear. É daquelas típicas revistas de sala de espera, na
verdade apenas parte de uma revista antiga, sem capas,
caindo aos pedaços. A mulher começa, distraidamente, a ler
um conto. Começa pela metade, pois o começo do conto está
numa das páginas perdidas da revista. E de repente a mulher
se dá conta que a história é sobre ela. Até os nomes – dela, do
marido, de familiares, de amigos – são os mesmos. Tudo que
está no conto, ou naquele trecho de conto que ela tem nas mãos, aconteceu com ela. A última linha do trecho
que ela lê é: "E naquele dia, saindo para ir ao dentista, ela tomou uma decisão: conquistaria a liberdade. Mal
sabia ela que (Continua na página 93)". A mulher procura, freneticamente, a página 93. A página 93 não existe
mais. O pedaço da revista que ela tem nas mãos termina na página 92. Ela é chamada para o consultório do
dentista. Na saída, a boca ainda dormente pela anestesia, pergunta para a recepcionista se pode levar aquela
revista para casa. Qual revista? Uma que estava ali... A recepcionista se desculpa. Fez uma limpa nas revistas
enquanto ela estava lá dentro. Botou tudo fora. Afinal, eram tão antigas... "Não é possível", diz a mulher. "Você
não sabe nem que revista era?" "Desculpe, mas não sei. Não tinham nem mais capas." A mulher sai do dentista
apavorada. Com a frase na cabeça: "Mal sabia ela que". Que o quê? Sim, tinha decidido conquistar sua liberdade.
Pedir finalmente desquite ao Joubert. Era a decisão mais importante da sua vida. Mas o que era que ela mal
sabia? O que lhe aconteceria? Voltou para a sala de espera. Suplicou à recepcionista. Precisava da revista. Não
podia explicar, mas a sua vida dependia daquela revista. "Joguei pela lixeira", disse a recepcionista. "A senhora
não pode..." Mas ela já está na escada, descendo para o porão do prédio. Não podia nem esperar pelo elevador.
A revista. Precisava saber que revista era aquela. Uma Cruzeiro. Sim, parecia uma Cruzeiro da década de 50. A
Cruzeiro publicava contos? Não interessava. Procuraria na lixeira do edifício. Descobriria a data da revista, de
alguma maneira descobriria o fim daquele conto e o destino que a esperava.
No porão, teve uma briga com um empregado do prédio que é meio débil metal. "Não pode mexer no lixo
não senhora." "Mas eu preciso!" "Não pode." "Seja bonzinho!", diz a mulher. Como está ofegante, e com a boca
anestesiada, o que ela parece ter dito é "Você é um bandido". "O quê?", diz o homem, avançado na sua direção.
No caminho, ele pega uma barra de ferro.

(Luís Fernando Veríssimo. Zoeira. 5. ed. Porto Alegre: L&PM, 1987. P. 41 - 2).

1) O conto fantástico normalmente é construído a partir da oposição entre dois planos: o plano real das
personagens, em que ocorrem fatos comuns, do tipo que realmente acontece ou pode vir a acontecer; e o plano
irreal, em que ocorrem fatos estranhos, insólitos, incompreensíveis.
a) Que situação do conto mostra fatos comuns, relacionados com o plano da realidade?
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b) Que fato novo introduz no conto o plano irreal?


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2) Há, no conto, duas histórias que se inter-relacionam, como se num espelho uma fosse o reflexo da outra.
Entretanto, uma das histórias está concluída, e a outra não.
a) Qual das histórias ainda não chegou ao final?
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b) Por que é importante para a protagonista (a mulher que está no consultório) conhecer o fim da história
publicada na revista?
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3) Releia este trecho da história publicada na revista: "E naquele dia, saindo para ir ao dentista, ela tomou uma
decisão: conquistaria sua liberdade. Mal sabia ela que".
a) A protagonista do conto também busca sua liberdade. Para ela, o que era essa liberdade?
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b) Ao ler o trecho "Mal sabia ela que", por que ela se desespera?
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4) Nascida do cruzamento do plano real com o plano irreal, a atmosfera fantástica crescer gradativamente, à
medida que a personagem encontra vários obstáculos que se opõem ao seu desejo.
a) Quais são os obstáculos?
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b) Deles, qual representa o clímax da narrativa?


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5) O desfecho de conto é sucinto, resumido a uma única frase: "No caminho, ele pega uma barra de ferro".
a) O que você acha que aconteceu depois disso?
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b) Esse tipo de final é comparável com a frase "Mal sabia ela que"? Por quê?
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c) E com a frase "Ideia para uma história de terror", que inicia o conto?
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6) O conto fantástico é um gênero textual geralmente curto, com poucas personagens e ações e tempo e espaço
reduzidos.
a) Quantas personagens existem no conto lido?
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b) Qual é o tempo (cronológico ou psicológico), duração e o espaço em que a história transcorre?


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7) Predomina no conto fantástico a variedade padrão da língua, mas a linguagem pode variar, de acordo com o
perfil das personagens. No conto lido, que variedade linguística predomina?
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8) É comum, no conto fantástico, as formas verbais serem empregadas predominantemente no pretérito perfeito
e no pretérito imperfeito do indicativo. No conto lido, entretanto, isso não ocorre.
a) Que tempo verbal predomina no texto?
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b) Que efeito o emprego desse tempo verbal provoca no leitor? Justifique sua reposta.
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