O Antropólogo e Sua Magia
O Antropólogo e Sua Magia
O Antropólogo e Sua Magia
Com o processo de descolonização dos povos estudados pela antropologia nos anos 60,
que ocasionou mudanças nas relações políticas e econômicas entre a sociedade dos
antropólogos e os grupos pesquisados, a antropologia colocava em xeque
questionamentos sobre os velhos modelos de representação cultural que percorriam as
pesquisas etnográficas daquela época, sendo estas colocadas sob análise. Buscava-se
então uma reinterpretação dos textos etnográficos, apoiados nas interpretações
posteriores de Clifford Geertz, nos anos 70, como as da antropologia hermenêutica, que
analisa a cultura como um texto, numa tessitura de significados e com uma certa
desconfiança à respeito das representações culturais holísticas e fechadas em relação ao
“outro” que pairavam naquela época.
Essas questões são trazidas à tona elucidativamente através de colocações que envolvem
as religiões afro-brasileiras, enfatizando as relações pesquisador/pesquisados deste
universo como sendo mutuamente interligadas.
Desenvolvimento
No capítulo 1°, “Canoas e Praias Desertas”, o autor retrata como Malinowski descreve a
sua chegada em Nova Guiné, define o trabalho de campo, seus desafios e dificuldades,
bem como sua posição pessoal diante destes desafios. A antropologia, então, a partir da
década de 70, passa por uma espécie de metamorfose, à qual agora começa a estudar
comportamentos, práticas e relações sociais em bairros e cidades vizinhas, bem como
também se coloca como objeto de investigação e autocrítica. Agora o pesquisado não é
mais omisso, dependente e sem voz. Ele é também produtor e reprodutor de discursos
sobre si mesmo. Malinowski ensinara diversas técnicas sistêmicas de como se produzir
uma etnografia, entretanto deixava obscurecida uma certa “magia” que pairou sobre ele
em todo esse fazer etnográfico, cujo mistério se apresentava em qualquer antropólogo
que há tempos vêm salvaguardando essa magia.
Mais adiante, o autor argumenta que o fato de pesquisar o familiar ainda guarda uma
exótica busca por descobrir o desconhecido, como por culturas distantes e distintas. Os
antropólogos geralmente seguem uma certa sistematização em relação à pesquisa
etnográfica – projeto de pesquisa; pesquisa de campo; análise dos dados – que quase
sempre não condizem com a realidade da sua pesquisa. As regras da academia acabam,
em alguns casos, interferindo significativamente nos resultados das pesquisas de campo
na antropologia. Quando se vai a campo, deve-se tentar buscar os significados das redes
as quais o próprio antropólogo está inserido e tentar compreender e elucidar sua relação
com os pesquisados.