O Antropólogo e Sua Magia

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12/05/2016

Universidade do Estado do Rio grande do Norte


Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais
PET: Ciências Sociais
Tutor: Prof. Dr. Ailton Siqueira
Aluno: Denner Morais Dantas

Resenha: SILVA, Vagner Gonçalvez da – O Antropólogo e sua Magia:


Trabalho de Campo e Texto Etnográfico nas Pesquisas Antropológicas
sobre as religiões afro-brasileiras. – 1° ed. 1° reimpr - São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2006.

Palavras-chave: Religião; Antropologia; Trabalho de Campo;


Etnologia; Pesquisa Antropológica.
Apresentação

Se a ciência antropológica possui uma “marca registrada”, ela se fundamenta em sua


capacidade de percepção interstícia (o olhar desde dentro) que é propiciada pela
observação participante, pioneiramente definida pelo antropólogo Branislaw
Malinowski em crítica a então antropologia de Gabinete. Esse olhar intertístico permite
que o antropólogo se torne ferramenta de sua pesquisa, tendo, portanto um campo de
visão de seu objeto bem mais abrangente.

Com o processo de descolonização dos povos estudados pela antropologia nos anos 60,
que ocasionou mudanças nas relações políticas e econômicas entre a sociedade dos
antropólogos e os grupos pesquisados, a antropologia colocava em xeque
questionamentos sobre os velhos modelos de representação cultural que percorriam as
pesquisas etnográficas daquela época, sendo estas colocadas sob análise. Buscava-se
então uma reinterpretação dos textos etnográficos, apoiados nas interpretações
posteriores de Clifford Geertz, nos anos 70, como as da antropologia hermenêutica, que
analisa a cultura como um texto, numa tessitura de significados e com uma certa
desconfiança à respeito das representações culturais holísticas e fechadas em relação ao
“outro” que pairavam naquela época.

Neste sentido, passa-se a surgir um interesse em se analisar a relação sujeito-objeto na


antropologia e vê-se necessário um olhar “por sobre os olhos do nativo”, mais
precisamente olhar a cultura através de dentro dela mesma. Discute-se então, o fazer
antropológico no campo, a dimensão da relação do antropólogo e seu objeto, suas
implicações para o fazer científico, como o antropólogo elucida essas questões nas
etnografias e como aborda a dimensão do pesquisado e sua interpretação da realidade.

Essas questões são trazidas à tona elucidativamente através de colocações que envolvem
as religiões afro-brasileiras, enfatizando as relações pesquisador/pesquisados deste
universo como sendo mutuamente interligadas.
Desenvolvimento

No capítulo 1°, “Canoas e Praias Desertas”, o autor retrata como Malinowski descreve a
sua chegada em Nova Guiné, define o trabalho de campo, seus desafios e dificuldades,
bem como sua posição pessoal diante destes desafios. A antropologia, então, a partir da
década de 70, passa por uma espécie de metamorfose, à qual agora começa a estudar
comportamentos, práticas e relações sociais em bairros e cidades vizinhas, bem como
também se coloca como objeto de investigação e autocrítica. Agora o pesquisado não é
mais omisso, dependente e sem voz. Ele é também produtor e reprodutor de discursos
sobre si mesmo. Malinowski ensinara diversas técnicas sistêmicas de como se produzir
uma etnografia, entretanto deixava obscurecida uma certa “magia” que pairou sobre ele
em todo esse fazer etnográfico, cujo mistério se apresentava em qualquer antropólogo
que há tempos vêm salvaguardando essa magia.

Mais adiante, o autor argumenta que o fato de pesquisar o familiar ainda guarda uma
exótica busca por descobrir o desconhecido, como por culturas distantes e distintas. Os
antropólogos geralmente seguem uma certa sistematização em relação à pesquisa
etnográfica – projeto de pesquisa; pesquisa de campo; análise dos dados – que quase
sempre não condizem com a realidade da sua pesquisa. As regras da academia acabam,
em alguns casos, interferindo significativamente nos resultados das pesquisas de campo
na antropologia. Quando se vai a campo, deve-se tentar buscar os significados das redes
as quais o próprio antropólogo está inserido e tentar compreender e elucidar sua relação
com os pesquisados.

No terceiro capítulo, Chegar ao “Campo”, o autor enfatiza que os antropólogos devem


se ater as regras básicas de relacionamento dos grupos pesquisados e trás à tona a atual
falta de elucidação de visão pessoal dos autores em textos etnográficos, as dificuldades
enfrentadas durante o processo de pesquisa no campo e a ilusão de neutralidade que a
alguns insistem em enfatizar com relação ao pesquisador/pesquisado. Ele ilustra essas
situações indagando como se procede numa pesquisa em terreiros, se atentando para as
categorias temporais, hierárquicas e geográficas. As relações pesquisador/pesquisado,
de uma forma ou de outra são influenciadas, desde a presença do pesquisador em
campo, até as origens pelas quais fizeram-no pesquisar aquela determinada área.
Somente através das vivências quotidianas é que o pesquisador vai delimitando o grau
de proximidade e afastamento com os pesquisados. Ainda, nesse contexto, o
antropólogo pode vir a ter conflitos internos políticos e/ou hierárquicos em seu espaço
de pesquisa, podendo inviabilizar as interlocuções. Portanto, as lições acadêmicas
metodológicas podem chegar, inclusive, a refrear o processo de construção da pesquisa
de campo. É importante a sinceridade do etnógrafo em relação a suas dificuldades e sua
visão sobre seu objeto de pesquisa, pois o antropólogo que pesquisa religiões afro-
brasileiras dificilmente realiza sua observação participante sem causar ou ser envolvidos
em conflitos e rivalidades que caracterizam a vida quotidiana dos terreiros.
Posteriormente, no quarto capítulo, Minhas Perguntas, Suas Tartarugas, o autor coloca a
importância de se conquistar a confiança dos pesquisados, estabelecendo uma relação de
reciprocidade, pois isto se configura num processo complicado e exaustivo, visto que se
exige um conhecimento mínimo de certas etiquetas e código dos grupos, como o caso
das religiões afro-brasileiras. A divisão de poder nos terreiros acaba gerando rivalidades
e ciúmes, caso o antropólogo não saiba como as relações estão configuradas neste
espaço. Não se pode, por exemplo, entrevistar um iniciado sem se entrevistar um pai de
santo, pois este acredita que pode dar qualquer informação necessária a elucidação de
pessoas alheias. Além do mais o ato de perguntar nem sempre é bem visto em algumas
dessas religiões. Acredita-se que o conhecimento deva ser transmitido de acordo com os
méritos de cada um e em função do tempo de iniciação. Nesse ambiente aprende-se
observando, sem questionar ou demonstrar excessiva curiosidade. No caso de
entrevistas, é importante deixar o entrevistado à parte do sentido de sua pesquisa, sua
tramitação na academia e o porquê de sua curiosidade sobre o tema, pois os pais de
santo percebem perdas e ganhos por meio desses trabalhos. É importante frisar que nem
sempre a lógica de um grupo específico, se aplica a lógica acadêmica e por isso às vezes
fica difícil sua produção por meio de métodos tradicionais.

No quinto capítulo, Os Fios Frágeis de Ariadne o Autor

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