Segregação Socioespacial em Campo Grande - Objeto de Intervenção Urbana
Segregação Socioespacial em Campo Grande - Objeto de Intervenção Urbana
Segregação Socioespacial em Campo Grande - Objeto de Intervenção Urbana
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM
CAMPO GRANDE
objeto de intervenção urbana
Orientadora:
Prof. Me. Juliana Couto Trujillo
CAMPO GRANDE – MS
2021
4
5
6
7
AGRADECIMENTOS
De início, obrigada a minha família, que além de me formarem como ser humano,
diariamente lidaram com os surtos que envolvem a passagem pela faculdade, me
apoiando e incentivando.
A prof. Dra. Juliana Trujillo, sou grata não apenas por me orientar, mas por ser
compreensiva e paciente em meu um ano e meio de trabalho nesta monografia. Seu
carinho em aconselhar me levou mais longe.
A UFMS, pela oportunidade de ter feito viagens dentro do curso, onde pude vislumbrar
ao lado de amigos, colegas e professores, que a arquitetura e urbanismo é mais do
que projeto – é a construção do mundo. Em especial, graças a essas experiências,
agradeço ao Prof. Alex Nogueira por ter me selecionado para a minha primeira
exposição fotográfica.
A todos os que conheci nessa trajetória, obrigada por fazerem parte dessa
transformação. Muito obrigada, em especial, aos amigos queridos que carrego por
toda a vida, e que me mostram que apesar de todos as dificuldades, tenho pessoas
incríveis ao meu lado. A eles, agradeço pelos ensinamentos, conselhos, ideias,
amizade e paciência.
Ao meu querido Alberto, por atravessar esse caminho ao meu lado, e por todo amor.
Com você, enfrento tudo com mais alegria.
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ABSTRACT
This work is the final step towards receiving the degree of Bachelor of Architecture and
Urbanism. Initially, socio-spatial segregation will be conceptualized, in an attempt to
bring it closer to the city of Campo Grande, from a social and urban point of view. This,
therefore, the discussion on this issue is recent in the local academic environment, and
in this dissertation we tried to be part of a broader debate, yet to be built. Thus, studying
the theme of segregation, the formations of Campo Grande and the data provided by
the city hall are a way to understand the processes that permeate the discussion of
socio-spatial segregation in the city. From this process of understanding segregation
in the urban environment of Campo Grande, the study of drift (experimental
methodology developed by the Situationist International) will be presented as a
methodological practice. This discussion will be the way to substantiate the proposal
of this work: to locate the socio-spatial segregation in the perimeter of the capital of
Mato Grosso do Sul and present it to the population through an object of urban
intervention. Following this thought, urban art will be approached as part of the
expanded field of Architecture and Urbanism. With this, it is intended to introduce the
discussion of the visual approach of the existence of socio-spatial segregation in the
space of Campo Grande, as a way of referring to the conceptual study. Treating these
aspects, a three-dimensional digital model will be developed that presents the socio-
spatial segregation in the city of Campo Grande as a two-face topographic model; one
side related to population data by neighborhood and the other related to per capita
income by neighborhood. These conceptions will make up the study's object of urban
intervention: a multifunctional space that seeks to present the discussion of socio-
spatial segregation in the city of Campo Grande to its population.
RESUMO
Este trabalho é a etapa final para receber o título de Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo. Inicialmente, se conceituará a segregação socioespacial, na tentativa de
aproximá-la à cidade de Campo Grande, do ponto de vista social e urbano. Isso, pois,
a discussão sobre essa problemática é recente no meio acadêmico local, e tentamos
nesta dissertação fazer parte de um debate mais amplo, ainda a ser construído. Dessa
forma, estudar a temática da segregação, as formações de Campo Grande e os dados
disponibilizados pela prefeitura são uma forma de entender os processos que
permeiam a discussão da segregação socioespacial na cidade. A partir desse
processo de compreensão da segregação no ambiente urbano de Campo Grande, o
estudo da deriva (metodologia experimental desenvolvida pela Internacional
Situacionista) será apresentado como prática metodológica. Essa discussão será o
caminho para a fundamentação da proposta desse trabalho: localizar a segregação
socioespacial no perímetro da capital sul-mato-grossense e apresentá-la à população
através de um objeto de intervenção urbana. Seguindo esse pensamento, a arte
urbana será abordada como parte do campo expandido da Arquitetura e Urbanismo.
Com isso, pretende-se introduzir a discussão da abordagem visual da existência da
segregação socioespacial no espaço de Campo Grande, como forma de remeter ao
estudo conceitual. Tratado desses aspectos, será desenvolvido um modelo digital
tridimensional que apresenta a segregação socioespacial na cidade de Campo
Grande como um modelo topográfico de duas faces; uma face relativa aos dados de
população por bairro e a outra relacionada à renda per capita por bairro. Essas
concepções irão compor o objeto de intervenção urbana do estudo: um espaço
multifuncional que busca apresentar a discussão da segregação socioespacial na
cidade de Campo Grande à sua população.
”
AMBIENTE E O ESTABELECIMENTO DE UM MODO DE VIDA.
___________________________________________________________ASGER JORN
14
15
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Evolução urbana de Campo Grande – 1909 à 1929. ............................... 18
Figura 2 – Plano de alinhamento de ruas e praças de 1909. .................................... 19
Figura 3 - Planta de Campo Grande – MS em 1920 ................................................. 20
Figura 4 - Planta de Campo Grande no início da década de 1930............................ 22
Figura 5 - Planta da cidade de Campo Grande criada por Saturnino de Brito em
1939. ......................................................................................................................... 23
Figura 6 – Mapa do Plano Urbanístico Escritório Saturnino de Brito de 1939. .......... 24
Figura 7 – Evolução urbana de Campo Grande – 1939 a 1959. ............................... 25
Figura 8 – Evolução urbana de Campo Grande – 1969 a 1989. ............................... 27
Figura 9 – Fachada da Antiga Rodoviária de Campo Grande em 2019. ................... 37
Figura 10 – Localização das classes média e alta nas pequenas e nas grandes
cidades. ..................................................................................................................... 38
Figura 11 – Mapa rendimento per capita da população em Campo Grande – MS
(Censo 2010)............................................................................................................. 40
Figura 12 – Mapa população por bairro em Campo Grande – MS (Censo 2010) ..... 40
Figura 13 – Mapa segregação socioespacial em 2010, Campo Grande – MS.......... 42
Figura 14 – Mapa coleta seletiva porta a porta em 2019, Campo Grande - MS........ 44
Figura 15 – Mapa pavimentação urbana em 2020, Campo Grande – MS. ............... 45
Figura 16 – Mapa cobertura de rede de gás em 2020, Campo Grande – MS. .......... 45
Figura 17 – Tilted Arc, instalação de Richard Serra, na praça Foley Federal Plaza. 52
Figura 18 – Divulgação da Grande Saison Dada. ..................................................... 60
Figura 19 – Obra de Hélio Oiticica, Parangolés. ....................................................... 64
Figura 20 – Penetrável PN1 de Hélio Oiticica. .......................................................... 65
Figura 21 – Penetrável Filtro, obra de Hélio Oiticica. ................................................ 66
Figura 22 – Tropicália PN2, instalação de Hélio Oiticica. .......................................... 67
Figura 23 – Diagrama do primeiro dia de deriva. ...................................................... 72
Figura 24 – Diagrama do segundo dia de deriva....................................................... 72
Figura 25 – Trajeto do primeiro dia de deriva. ........................................................... 94
Figura 26 – Trajeto do segundo dia de deriva. ........................................................ 107
Figura 27 – Comparação entre fotografia d1.9.1 e fotografia d2.8.1 ....................... 111
Figura 28 – Comparação entre fotografias d1.9.2 e d2.7.1 ..................................... 112
Figura 29 – Comparação das fotografias d1.10.3 e d2.5.1. .................................... 113
Figura 30 – Comparação fotografia d1.8.1 e d2.10.1 .............................................. 114
Figura 31 – Comparação entre fotografia d1.6.2 e d2.23.4 ..................................... 116
Figura 32 – Fotografia do espetáculo Bom Retiro 958 metros. ............................... 125
Figura 33 – Modelo digital de como o arranha-céu seria visto se construído em um
campo aberto. ......................................................................................................... 128
Figura 34 – Maquetes impressas em exposição em Städelschule, 2016. ............... 128
Figura 35 – Fotografia da prática artística Projeto CicloCOR. ................................. 129
Figura 36 – Fotografia do projeto Lotes Vagos onde vemos uma ocupação do
terreno sem retirar suas características de abandono. ........................................... 130
16
SUMÁRIO
Introdução.....................................................................................................................3
Justificativa...................................................................................................................6
Metodologia..................................................................................................................6
Objetivos.......................................................................................................................7
Conclusões...............................................................................................................161
Referências Bibliográficas........................................................................................163
1
2
3
INTRODUÇÃO
Quando as teorias do urbanismo apareceram, guiadas pelo engenheiro Idelfonso
Cerdá no século XIX, questões como mobilidade e infraestrutura, por exemplo,
passaram a ser inseridas nas discussões da cidade. Essas questões foram pensadas
graças à Revolução Industrial – uma época onde, entre várias outras mudanças, os
centros urbanos começaram a crescer e se desenvolver. Assim, entraram em cena
novas temáticas, pois era necessário que se analisasse esse crescimento. Dois
séculos depois, a cidade cresceu em territórios de análise, e por isso se entende que
podem existir compreensões diferentes de uma mesma cidade. Nesta monografia, em
especial, inicialmente abordaremos análises que trabalham de forma a compreender
a segregação do e no espaço urbano.
Com a leitura de textos, tais como “O Direito À Cidade” (2015), de Henry Lefebvre,
“Cidades Rebeldes” (2014), de David Harvey, e com o apoio de autores como Ermínia
Maricato (2003) e Flávio Villaça (2011), entre outros que veremos no decorrer do texto,
o que se busca é amparar essa difícil tarefa de descrever as diferentes camadas de
uma cidade. O que adotaremos de princípio no item 1.1 é a existência da segregação
socioespacial nos territórios urbanos atualmente. Após elaborar uma discussão sobre
a segregação socioespacial, passaremos a pensar a mesma como um fator que se
tornou intrínseco à realidade urbana – em especial, nesta monografia, a segregação
socioespacial presente na cidade de Campo Grande, capital do estado do Mato
Grosso do Sul.
É importante que fique claro ao leitor de que não pretendemos readequar a realidade
urbana analisada. Nossa intenção é a de elucidar aspectos da segregação
socioespacial na capital do Mato Grosso do Sul, para depois gerar um objeto de
intervenção urbana (e arquitetônica, por que não?) que busque provocar na população
uma reflexão sobre essa problemática. Aqui também relembramos que, dado o amplo
espaço que compõe a formação de um arquiteto e urbanista (passando desde
sociologia, arte, política, economia, geografia, entre outros), o exercício do
pensamento crítico trabalhado nas páginas seguintes procurará refletir não somente
a urbe do planejamento urbano, mas também a de um tecido social.
Assim, o terceiro capítulo dessa monografia discutirá conceitos iniciais para o objeto
de intervenção urbana ao final desse trabalho. A escolha dos estudos de caso se
segue de forma a relacionar questões sociais e urbanas com arte, arquitetura e
urbanismo. Esses estudos serão as influências principais para as primeiras
concepções do projeto. Sequencialmente aos estudos de caso, serão apresentados
os dados relativos a parques, “parquinhos” e academias ao ar livre da cidade, de modo
a estudar possíveis locais de implementação do objeto de intervenção urbana na
cidade de Campo Grande.
JUSTIFICATIVA
A arquitetura e urbanismo está diretamente ligada a discussões sociais. No século
XX, observou-se um crescimento dentro do meio acadêmico acerca dessas
discussões, e, com isso, novos temas tornaram-se tópico de debate. A segregação
socioespacial, apesar de não ter surgido após essas discussões, é um tema recente.
Tratá-la em relação à cidade de Campo Grande vem da vontade de que esse debate
seja expandido à população local e seus governantes. A inspiração para a formulação
dessa pesquisa surge da carência desse debate na urbe de Campo Grande, que é
importante para promover um debate que se paute pelo crescimento igualitário no
espaço urbano da capital.
METODOLOGIA
O desenvolvimento deste trabalho possui algumas etapas: (1) fundamentação teórica,
(2) coleta de dados, (3) experimentação metodológica, (4) elaboração da proposta de
intervenção urbana.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
1.
9
___________________
desigualdade na cidade, já que por princípio uma classe se sobrepõe a outra. São
nesses termos que tentaremos fundamentar a discussão sobre segregação
socioespacial.
para outros como segregação residencial ou de classes para nós será, aqui, utilizado
como segregação socioespacial”. Em seu texto, os autores ainda concluem que:
Sendo assim, o que Harvey (2014) nos diz é que a cidade já não é a mesma
de antes; ela foi morta pela expansão do capitalismo. O autor de Cidades Rebeldes
desenvolve esse pensamento ao redor do ensaio de Henri Lefebvre, “O direito à
12
cidade” (2001), em que o autor relata a extinção da cidade tradicional. Nele, Lefebvre
cita que “a destruição da cidade não pode ser feita sem deixar um vazio enorme”,
(p.28) mas que para análise crítica o vazio importa menos que a “situação conflitante
caracterizada pelo fim da cidade e pela ampliação da sociedade urbana” (p.28). Esta
situação que findaria a cidade como era antes é destacada em três períodos no texto.
Essa lacuna existe não por falta de quem analisa a cidade e elabora um
pensamento sobre a realidade social urbana (p.29). Para ele, esta racionalidade “parte
de uma análise metódica dos elementos tão fina quando possível” (p.29) e então
“subordina esses elementos a uma finalidade” (p.29). O problema em torno desta
questão é que os adeptos da racionalização buscam “tirar a finalidade do
encadeamento das operações” (p.29). Segundo Lefebvre (2015):
Lefebvre finda por dizer que “de fato, não existe uma marcha única ou unitária
da reflexão urbanística, mas diversas tendências referenciáveis em relação a esse
racionalismo operacional.” (p.30) Assim, ele distingue tais tendências em:
1 Irmãos à Obra, Property Brothers no original, é um programa televisivo onde os irmãos gêmeos
Jonathan e Drew Scott compram e reformam casas que necessitam de melhorias e proporcionam, a
partir disso, maior valorização do imóvel. O programa se inicia com algum telespectador que procurou
a equipe com o propósito de ter a “casa dos sonhos”. Então, os irmãos analisam quais os bens que o
comprador da vez gostaria de ter em sua nova residência e mostram casas (normalmente com valor
acima do que a pessoa possui em banco) onde todos estes sonhos poderiam ser alcançados. Então,
dada a falta de dinheiro do participante escolhido, os irmãos espertamente concluem que é mais viável
comprar uma casa antiga e mal cuidada e transformá-la na tão sonhada casa para que o escolhido da
vez possa assim tê-la. Assim, durante o episódio segue-se a narrativa na qual a reforma realizada é
sinônimo de um caso bem sucedido de transformação do ambiente, em que se privilegia padrões de
decoração como o de cozinha em conceito aberto e uma sala de estar bastante decorada para receber
pessoas. Além disso, ao final do programa os irmãos Scott destacam a valorização do imóvel alcançada
com a reforma, tranquilizando os compradores de que aquele foi um negócio certeiro.
Os irmãos Scott tiveram tanto sucesso que em 10 anos, desde o início do programa Irmãos à Obra, os
mesmos acabaram produzindo diversos outros reality shows na televisão, como Buying and Selling,
Brother vs. Brother, Brothers Take New Orleans e Celebrity IOU. Mais ainda, os irmãos milionários
também possuem uma produtora, uma série de livros infantis e uma linha de móveis e decoração.
Em relação a essa discussão, acesse a reportagem:
SANGUINO, João. Os irmãos Scott: como se aproveitar da desgraça alheia para se tornar milionário
na TV. El País, 2019. Disponível em: <
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/20/cultura/1561047183_663861.html>. Acesso em: 13 de maio
de 2021.
Para conhecer o site dos irmãos, acesse: THE SCOTT BROTHERS. The Scott Brothers, 2021. Página
inicial. Disponível em: < https://thescottbrothers.com/>. Acesso em 13 de maio de 2021.
2 Para entender melhor a outorga onerosa checar a lei do Estatuto da Cidade, Art. 28o da Lei nº 10.257,
Em outros termos, Flavio Villaça, em seu texto “São Paulo: segregação urbana
e desigualdade” (2011), propõe uma nova maneira de abordar a segregação urbana
a partir da análise da espacialização do tempo de deslocamento e localização dos
empregos, buscando assim refletir sobre a desigualdade social e econômica como um
fator para compreender os aspectos do espaço urbano brasileiro. Para ele, “nenhum
aspecto da sociedade brasileira poderá ser jamais explicado/compreendido se não for
considerada a enorme desigualdade econômica e de poder político que ocorre em
nossa sociedade.” (VILLAÇA, 2011, p. 37)
“Existem acontecimentos que a ciência e a filosofia não explicam. Mais difícil ainda
seria imaginar o que o pequeno arraial, perdido nos confins de uma província, na época
ignorado pelos governos, pudesse alcançar um desenvolvimento tão rápido,
harmonioso e de tamanha importância como hoje é a Campo Grande centenária.”
Comecemos esta retomada com Celso Costa, em seu texto “Evolução Urbana”
(1999), que relata José Antônio Pereira como fundador de Campo Grande, que trouxe,
em 1875, seus familiares para se estabelecerem no local. Três anos depois, época de
criação da primeira igreja da região, a população já havia crescido em duzentos por
cento (p. 72). De maneira única, a permanência de José Antônio Pereira desdobra a
dar frutos naquela terra morena, como dito por Costa (1999):
“[...] com apenas catorze anos de vida, Campo Grande já se impunha como um
pequeno empório comercial. Comerciantes e boiadeiros vindos da região de
Uberaba e alguns de São Paulo faziam do lugar um entreposto para os negócios,
forçando fazendeiros das regiões vizinhas deslocarem-se para a nascente
“paróquia”, a fim de realizar negócios de gado e compra de mercadorias.” (COSTA,
1999, p. 72)
O autor aqui evidencia a primeira ligação comercial, e que permanece forte até
hoje, estabelecida no que viria a ser a cidade de Campo Grande. O rural foi a primeira
chama comercial da região. Não é sem motivo que “Campo Grande é a capital de um
estado que possui 95,2% das exportações apenas em produtos agrícolas”
(ATTIANESI & PASSAMANI, 2018, p. 58). Dando segmento, muitos dos que
presenciaram este primeiro fluxo comercial da cidade vieram a se estabelecer no local,
criando as primeiras lojas nos arredores. (p. 72)
18
Para Ângelo Marcos Vieira de Arruda, em seu livro “Campo Grande: arquitetura,
urbanismo e memória” (2006), o Código de Posturas de Campo Grande, tratava:
Nesta mesma década, segundo Costa (1999), uma leva de novos habitantes
chegaram à região:
Seguindo a cronologia, nos anos de 1920 (ver Figura 1), Weingartner (2008)
destaca em sua tese o desenvolvimento econômico e o crescimento urbano da cidade
(ver Figura 3):
3 Para mais curiosidades sobre o Sobá, checar: KATAYAMA, Juliene. Sobá é patrimônio no Pantanal,
tema de festival e cai no gosto do turista. G1 MS. Campo Grande, 06 de agosto de 2015. Disponível
em: <http://glo.bo/1P96K6Q>. Acesso em: 05 de maio de 2021.
21
Para Arruda (2006), não apenas a chegada da ferrovia trouxe novos migrantes,
mas também a construção dos quartéis militares em 1921 (p. 139). Neste cenário de
constante crescimento, são instaladas na cidade a agência do Banco do Brasil, o cine-
teatro Santa Helena e o Rádio Clube (local permeado pela elite citadina, onde o
público se reunia para ouvir o rádio) (p. 45). Assim, começa a surgir na cidade uma
cena cultural:
Neste período, então, os habitantes começam a ter mais espaços para o lazer
público. Em sequência, nos anos de 1930 (ver Figura 1), a cidade de Campo Grande
passou por uma mudança nos hábitos e comportamentos sociais graças a essa
formação cultural, majoritariamente na Rua 14 de Julho, acrescida pelas
possibilidades de viagens de trem e transporte aéreo, gerando uma maior conexão da
cidade com outras cidades do país (p. 47). Sob esta luz:
Figura 5 - Planta da cidade de Campo Grande criada por Saturnino de Brito em 1939.
4ARRUDA, Ângelo Marcos. O primeiro Plano Diretor de Campo Grande e o papel do escritório
Saturnino de Brito em 1939. Minha Cidade, São Paulo, ano 02, n. 019.01, Vitruvius, fev. 2002.
Disponível em: <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/02.019/2068>. Acesso em: 13 de
maio de 2021.
25
Surge, nos anos cinquenta (ver Figura 7), a Faculdade Católica, trazendo a
possibilidade da formação superior à cidade de Campo Grande. Outro marco desta
década na cidade foi o registro de obras de arquitetura moderna:
“Nos anos 60, Campo Grande firma-se como “capital econômica” do Estado e usa
essa condição para reforçar o movimento pela divisão, sonho mais uma vez
frustrado surpreendentemente pelo presidente da República Jânio Quadros, um
filho de Campo Grande. A Rua 14 de Julho vai aos poucos perdendo o seu brilho e,
mesmo mantendo o centro comercial, já não é mais a mesma dos footings e até o
Cinelândia Bar parece acompanhar a decadência dos grandes cinemas. Os eventos
em volta do relógio vão se resumindo aos desfiles militares e a um desanimado
carnaval. Vive-se o clima dos governos militares e a população parece sentir o peso
da desconfiança e do medo, próprios dos momentos de exceção.” (COSTA, 1999,
p. 79)
“Do ponto de vista da política urbana, o PDDI, apesar de burocrata e de ter sido
elaborado sem a participação popular, pode ser considerado progressista, pois
propunha uma lei de uso do solo urbano, baseada nos princípios da normatização
por zonas de uso; uma nova legislação de parcelamento do solo urbano que passou
a exigir infra-estrutura básica nos empreendimentos de loteamento etc.” (ARRUDA,
2006, p. 160 – 161)
27
Na década de 1970 (ver Figura 8), o arquiteto Jaime Lerner veio a Campo
Grande elaborar um Plano de Diretrizes de Estruturação Urbana, que “contemplava a
prioridade no uso do solo combinado com um sistema viário de transporte urbano
através de corredores, que resultou na Lei n. 1.747 de 29 de maio de 1978” (ARRUDA,
2006, p. 161). Apesar da grande capacidade do arquiteto, tendo o mesmo sido prefeito
da cidade de Curitiba e ex-diretor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba (IPPUC), Arruda (2006) aponta:
“Lerner elaborou uma proposta com a participação de alguns arquitetos locais que
à época trabalhavam no setor público, mas, o município não possuía, ainda, um
órgão de planejamento urbano que pudesse acompanhar e monitorar a execução
das propostas, o que acarretou modificações setoriais na citada lei, todas com a
finalidade de alterar o zoneamento, considerado rígido e implantado através de
obras públicas. Assim, a Lei n. 1.747 de 29/5/78 foi sendo alterada e todas as 15
modificações sofridas visavam, em última instância, modificar o zoneamento e os
coeficientes urbanísticos, sem critérios urbanísticos.” (ARRUDA, 2006, p. 161)
Constata-se, então, que em vinte anos a cidade de Campo Grande passou por
uma série de transformações. A perda da cultura local, evidenciados, entre outras
coisas, pelos prejuízos da ditadura militar (além de uma mudança psicológica dada a
repressão do período); um desenvolvimento urbano significativo; uma mudança em
seu status de cidade de interior para agora capital de um novo Estado; e um grande
fluxo migratório. Com isso, retornando ao pensamento de Georg Simmel sobre a vida
mental do homem na cidade, o que se nota é uma adaptação da população tradicional,
29
habitantes de uma antiga cidade rural, que davam um sentido mais emocional às
relações, e que agora passariam ao status de seres metropolitanos:
“Corroborando com Sennet, temos a ideia de que essa nova forma de sociabilidade
com uma alta impessoalidade, promovendo uma subjetividade altamente pessoal
junto com um aumento das relações calculistas do devir da produção capitalista
seriam as essências da atitude blasé demonstrada por Simmel.” (ATTIANESI &
PASSAMANI, 2018, 64)
Visto que este valor econômico é tido como o novo símbolo nivelador das
relações dos indivíduos metropolitanos, e revisitando a evolução de Campo Grande
descrita por Celso Costa, que demarca na capital o período dos anos oitenta como
“tempos de abertura política, anistias, promessas de democracia” (COSTA, 1999, p.
81), temos ainda uma população que parecia “indiferente aos acontecimentos
políticos” (Idem, p. 81). Parece termos aqui os primeiros indicativos de uma atitude
blasé campo-grandense.
Desta forma, a história de Campo Grande como capital teve seu início motivado
por um desenvolvimento de interesse político, não tendo contado com a contribuição
dos ditos “indivíduos comuns”. Ângelo de Arruda (2006) aponta este processo
excludente:
“[...] também são agentes ativos na construção da cidade, uma vez que eles dão
sustentação a essa grande estrutura, outrora de campo, agora de cidade, seja com
mão-de-obra, consumo, enfim, movimentação. No entanto, eles acabam não
desfrutando concreta e diretamente, dos efeitos dessa transformação, pois não
residem no “centro” da cidade – o berço mais visível da modernidade local – nem
tem condições de consumir os códigos dessa modernidade. Logo, há uma outra
Campo Grande, a das periferias distantes do centro, das vulnerabilidades
socioeconômicas, das carências infra estruturais, quem sabe até da violência.”
(ATTIANESI & PASSAMANI, 2018, p. 63)
para todos. Estes fatores geraram ainda mais segregação socioespacial no território
campo-grandense, como veremos no item 1.3.
se os centros urbanos não tivessem uma divisão que percorrem o social e econômico.
O que torna ainda mais segregados os centros urbanos – neste caso, Campo Grande.
Villaça nos diz que comumente o estudo da segregação moderna se volta para
a análise dos condomínios fechados, onde a segregação não é posta num contexto
histórico e nem mesmo conversa com o restante da estrutura urbana, deixando muitas
vezes apenas subentendido as relações entre a segregação e o setor econômico,
político e ideológico da sociedade, o que limita a discussão da segregação ao debate
com questões de segurança, violência urbana, especulação imobiliária, entre outros
(VILLAÇA, 2011, p. 39). Para ele este tipo de estudo:
“têm um fundo não muito claro e nunca explicitado. É um fundo moral, ético, que
destaca a injustiça. Quando destacam a opressão ou a dominação, fazem-no sob a
36
óptica da injustiça. Como sua causa real não é estudada nem claramente
explicitada, ela passa ao leitor (o que deve ocorrer também na cabeça de muitos
dos autores) a ideia de que sua causa é a maldade, a ganância e os interesses
mesquinhos dos homens. Nessa base ética está o maior perigo de qualquer análise
social, as urbanas incluídas.” (VILLAÇA, 2011, p. 39)
“Essa descrição não explica, por exemplo, por que o centro tradicional de nossas
cidades cresce mais numa determinada direção do que em outras (ou isso nada tem
a ver com a segregação urbana?). Pela própria lógica do esquema centro versus
periferia, o centro deveria crescer mais ou menos uniformemente em todas as
direções. No entanto, há mais de um século isso não ocorre em nossas metrópoles.
Não explica ainda a articulação da segregação com as esferas econômicas, que se
dá por meio da atividade econômica que maior interesse tem no espaço urbano: a
atividade imobiliária. Não toca sequer nas articulações entre, de um lado, a
segregação e, de outro, o poder político e a ideologia. Como tantas análises da
segregação, ela enfatiza – explícita ou implicitamente – a desigualdade como
injustiça, não deixando clara se ela é ou não devida à maldade dos homens.”
(VILLAÇA, 2011, p. 40)
degradação por uma parcela dos cidadãos, ao mesmo tempo que para grupos
excluídos representa “uma forma de acessar à cidade” (ATTIANESI & PASSAMANI,
2018, p. 64).
Por este motivo Villaça (2011) adota como método de análise a abordagem da
segregação por grandes regiões da cidade. Para ele, adotar a segregação desta forma
ajuda na “de explicação e compreensão não só do próprio processo de segregação,
mas também com suas articulações com aspectos fundamentais da sociedade”
(VILLAÇA, 2011, p. 40). Isso pois:
Como metodologia para esse estudo de segregação por regiões, Villaça (2011)
adota uma leitura do “lado social” e do “lado espacial” da cidade, em que no social há
uma divisão da sociedade em duas classes, chamadas por ele de “’os mais ricos’ ou
‘as camadas de mais alta renda’, e os mais pobres, ou os de ‘mais baixa renda’”
(VILLAÇA, 2011, p. 41). Tratando do lado espacial, o autor demarca uma análise dos
conjuntos de bairros para evitar que se aborde os bairros de maneira individual, pois
se tratarmos os bairros individualmente a segregação tende a uma análise mais
abstrata, “já que conduz o estudo a bairros ideais ou tipologias de bairros” (VILLAÇA,
2011, p. 41).
Figura 1121 – Mapa população por bairro em Campo Grande – MS (Censo 2010)
Figura 1112 – Mapa rendimento per capita da população em Campo Grande – MS (Censo 2010).
Estas duas regiões, Centro e Prosa, foram apontadas no mapa anterior como
as únicas que não possuem mais do que quinze mil habitantes, o que indica que a
maior renda per capita da cidade de Campo Grande está concentrada nas mãos de
poucas pessoas. Com a leitura do mapa de população por bairro também observamos
que existem dois bairros com mais de trinta mil pessoas na capital, sendo eles o Nova
Lima e o Aero Rancho. Tratando-se então do mapa de renda per capita, nota-se que
ambos os bairros possuem menos do que um salário mínimo (quinhentos e dez reais)
de renda per capita.
Deste modo, no que diz respeito a análise dos dois mapas apresentados,
podemos concluir que existe uma grande concentração de renda nas regiões Centro
42
e Prosa, que concerne a uma pequena parcela da população, ao passo de que nos
bairros com maior população da cidade a renda per capita não chega a um salário
mínimo.
Apenas com a análise dos dois mapas anteriores já é possível ter um parâmetro
bastante significativo a respeito da segregação socioespacial em Campo Grande. É
importante ressaltar que as informações coletadas são referentes ao ano de 2010,
ano do último censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Desta forma, é possível que esta segregação tenha crescido nos últimos
anos. O que também fica claro é a existência de uma grande região — esta agora não
se referindo a uma região urbana demarcada nos mapas anteriores — que concentra
a população de alta renda na cidade campo-grandense. Para melhor entendermos a
região em questão, elaboramos um mapa demarcando os aspectos analisados (ver
Figura 13).
“A porção leste, que antes apresentava um baixo crescimento, torna-se a área mais
valorizada da cidade. As principais avenidas da região central da cidade, Av. Afonso
Pena e Av. Mato Grosso, foram prolongadas no sentido leste para favorecer o
acesso até o Parque dos Poderes. Em meio a grandes vazios localizados entre o
“continuum” da malha urbana e o Parque dos Poderes, surgiram loteamentos
destinados às camadas mais privilegiadas da população. Reforçando esta
tendência de crescimento à leste, foi implantado, em 1989, o Shopping Center
Campo Grande, também nesta região, trazendo maior valorização das áreas
adjacentes.” (EBNER, 1999, p. 57 – 58)
44
Figura 14 – Mapa coleta seletiva porta a porta em 2019, Campo Grande - MS.
45
Também fica claro que as teorias apresentadas por Ebner (1999) e Villaça
(2011) sobre o espaço de segregação é consonante à cidade de Campo Grande, pois,
como visto, na grande região de concentração de renda estão contidos os melhores
serviços, lazer público e privado, melhor estrutura viária, infraestrutura e até mesmo o
47
centro urbano da cidade. Com isso, pretendemos neste capítulo ter explicitado a
questão da segregação socioespacial em Campo Grande, englobando a discussão
conceitual em torno do tema da segregação. Tratamos do crescimento de Campo
Grande, em sua razão social e espacial, e, enfim, neste subcapítulo, da segregação
socioespacial no território campo-grandense.
48
2.
49
___________________
2. Ativismo Urbano
“[...] há ainda a suspeita de que existe uma distinção fundamental inerente aos tipos
de usos adequados para cada arte que vai além de simples questões de função
versus forma, uso versus inutilidade. E, como Kant intuiu, tais distinções têm sido
procuradas desde o Iluminismo. Na arquitetura, a questão foi interpretada como um
conflito dual entre arte e vida. O filósofo e matemático Jean le Tond d’Alembert
coloca o problema mais concisamente quando ele definiu arquitetura como ‘a
máscara embelezada de nossa maior necessidade,’ o que significou que a
arquitetura de olho filosófico foi um pouco mais que o estético ou o suplemento
‘retórico’ para abrigo. Pode-se interpretar todas as tentativas para definir a
‘essência’ da arquitetura desde então como se lutasse para reduzir este dualismo
para uma singularidade. Assim, os apelos para uma arquitetura de ânimo puramente
metafísico (John Ruskin através de Louis I. Kahn) ou puramente funcionalismo
50
O que fica evidente, dessa forma, é que, conforme a história da arquitetura foi
sendo construída, alguns autores começaram a direcionar as discussões estéticas e
funcionais para o lado que mais lhes interessa, voltando o exercício da arquitetura
para o mercado imobiliário e discussões puramente estéticas e, consequentemente,
ignorando a arquitetura e urbanismo em sua discussão de função social e urbana.
Vera Pallamin, autora de “Arte, cultura e cidade: aspectos estético-políticos
contemporâneos” (2015) também discute sobre esse olhar tendencioso na discussão
artística, arquitetônica e urbanística:
da arte como uma prática crítica aqui englobará a vontade de tornar a urbe acessível
a todos os grupos. Adotando a linha de pensamento de Pallamin (2015) esse exercício
também:
Com isso em mente, a autora trata a estética da prática da arte urbana como
um exame dos “modos de constituição dessas relações, seus discursos e papéis,
como nela se engendram o trabalho de arte, o espectador e a espacialidade em que
estão situados” (PALLAMIN, 2015, p. 146). Trazendo a abordagem anterior para a
temática dessa monografia, o que temos intensão de aparentar esteticamente na
intervenção artística urbana gerada (discutida mais a fundo no capítulo 3) é então a
análise das relações socioeconômicas localizadas na cidade de Campo Grande,
pretendendo, dessa forma, gerar no espectador o exercício de pensar a respeito da
espacialização da segregação no ambiente campo-grandense.
“[...] com a instalação da escultura na esfera pública como uma construção espacial
[...]; questões de ‘uso’ como definidas tradicionalmente são lançadas à dúvida.
Como distinguimos, por exemplo, entre o ‘uso’ de uma praça pública como uma
experiência espacial e recreativa e da mesma praça habitada por uma obra como
52
o Tilted Arc de Serra? Ambos pareceriam ocupar uma esfera uma vez definida como
arquitetônica, e juntos eles formam uma entidade espacial muito diferente daquela
uma vez fornecida por uma figura escultural autônoma no centro da praça. Um Tilted
Arc é ao mesmo tempo escultural e arquitetônico, assim como os arquitetos
contemporâneos que defenderiam que as formas internas e externas de seus
edifícios são ambas igualmente arquitetônicas e esculturais. Ambos no fim são
experienciados não apenas de forma tátil por projeção, mas também oticamente
através da visão; ambos são igualmente impostos sobre e respondem ao corpo;
ambos preenchem uma combinação de ‘uso’ experiencial, estético e funcional.”
(VIDLER, 2012, s/p.)
Figura 17 – Tilted Arc, instalação de Richard Serra, na praça Foley Federal Plaza.
experimental que estuda os efeitos do meio geográfico “em função de sua influência
direta sobre o comportamento afetivo dos indivíduos” (DEBORD, 1955/2007, p. 36).
Ou seja, a psicogeografia é uma investigação física do meio geográfico que busca
desvendar questões referentes ao espaço urbano sob o que diz respeito a função
social do mesmo.
união das artes e técnicas, o meio qual permeia (DEBORD, 1957/2007, p. 49). Assim,
nele:
“A arte integral, da qual tanto se fala, não pode realizar-se a não ser em nível de
urbanismo. Porém não corresponderia a nenhuma das definições tradicionais da
estética. Em cada uma de suas cidades experimentais, o urbanismo unitário atuaria
mediante um certo número de campos de força que momentaneamente
designaríamos com o termo clássico de bairro. Cada bairro poderá tender para uma
harmonia exata e romper com as harmonias vizinhas; ou agir no sentido de uma
máxima ruptura da harmonia interna.” (DEBORD, 1957/2007, p. 49 – 50)
“Sabemos que o urbanismo unitário não tem fronteiras; que pretende constituir uma
unidade total do meio ambiente humano onde as separações, do tipo trabalho/ócio,
coletivos/vida privada, serão finalmente dissolvidas. Mas antes disso, a ação
mínima do urbanismo unitário há de ser o terreno de jogos alargado a todas as
59
“se distingue da concepção clássica de jogo pela negação radical do caráter lúdico
da competição e de separação da vida corrente. O jogo situacionista não é alheio a
uma escolha moral, à tomada de partido visando assegurar o reino futuro da
liberdade e do jogo. Ele se relaciona à certeza do contínuo e rápido aumento do
tempo livre, ao nível de força produtiva, típico de nosso tempo. Ele se relaciona ao
reconhecimento do fato que se descortina diante de nossos olhos: uma batalha de
tempo livre, cuja importância na luta de classes não tem sido suficientemente
analisada.” (DEBORD, 1957/2007, p. 53)
“O sujeito é convidado a dirigir-se só, em uma hora marcada a um lugar que lhe fixe.
Acha-se livre das pesadas obrigações do cotidiano, já que não tem nada a esperar.
Sem, no entanto, ter levado esta ‘ocasião possível’ inesperadamente a um lugar que
pode não conhecer, observa os arredores. Podem dar-se ao mesmo tempo outra
"ocasião possível" no mesmo lugar com alguém cuja identidade não é previsível.
Pode inclusive não tê-lo visto nunca, o que o incita a conversar com alguns
transeuntes. Pode não encontrar nada, ou encontrar por acaso algo que o tenha
fixado à "ocasião possível". De todas as formas, sobretudo se o lugar e a hora foram
bem escolhidos, o emprego do tempo e do sujeito terá uma mudança imprevisível.
Pode inclusive pedir por telefone outra "ocasião possível" a alguém que ignora onde
lhe foi conduzido a primeira vez. Há recursos quase infinitos para este passatempo.”
(DEBORD, 1958/2007, p. 75 – 76)
dada a divergência da análise resultante. Derivas mais longas e com mais pessoas
resultam em análises diferentes das derivas em pequenos grupos e em menor tempo,
por exemplo. A questão é que importa na deriva é definir as primeiras conexões
psicogeográficas de uma urbe (Ibid, p. 76). Assim, com a experiência da deriva:
Com isso, a deriva serve a esta monografia como experiência para entender
a atmosfera que permeia os diferentes bairros da cidade de Campo Grande, e
futuramente, ao elaborar o projeto final deste trabalho, termos condições de
estabelecer o real espaço de segregação socioespacial e psicogeográfico da cidade,
bem como entender os aspectos que lhe concernem.
No livro, a autora estuda a obra de Hélio Oiticica e sua história como artista
para melhor compreender o espaço urbano das favelas e sua arquitetura. Inicialmente,
destacando aspectos do espaço onde a favela está inserida, trabalhando conceitos
como os de heterotopia e utopia. Posterior a isso, ela elabora o conceito de fragmento
como análise dos barracos nas favelas. Para a autora, os barracos são fragmentos
porque nunca estão prontos, sempre se transformando. Dessa forma, para Jacques
(2003):
Por esta análise, Jacques (2003) passa a adotar a construção na favela não
como arquitetura, mas como bricolagem, e os “arquitetos-favelados” passam a ser
chamados de bricoleurs (JACQUES, 2003, p. 24). O termo bricolagem é utilizado em
referência à Levi-Strauss, autor que trata a bricolagem como o pensamento selvagem
dos “primitivos”, assim, a construção das favelas, por ser selvagem aos olhos dos
padrões da arquitetura, é tida como bricolagem.
Apesar de essa ser a obra mais conhecida do autor, não nos interessa nesse
estudo a não ser para introduzir a obra de Oiticica e mostrar sua relação com a
arquitetura e com a Mangueira. Para compreendermos o espaço da deriva,
precisamos entrar na discussão do Labirinto trazida por Jacques (2003). O labirinto é
posto às favelas como parte da experiência de adentrar em uma. Mais do que isso, o
labirinto é como a autora define o percorrer da favela, pois “é um espaço efetivamente
labiríntico, tal é o emaranhado dos caminhos internos, e, ainda, como não há
sinalização, placas, nomes ou números, qualquer pessoa de fora, ali, se perde
facilmente” (JACQUES, 2003, p. 65). O único modo de não se perder na favela
labiríntica, então, seria com um guia, seja este mapa ou pessoa.
“caminhar diferente, imposto pelo próprio percurso das vielas” (Ibid, p. 66). Essas ruas
da favela estão sempre em um plano inclinado, tendo passagens enviesadas e
pessoas pelo caminho. Por esta ginga, segundo Jacques (2003), “perambulando pelos
meandros das favelas, compreendemos como as crianças do morro sabem dançar o
samba antes mesmo de saber andar direito” (Ibid, p. 66).
Andando por este caminho labiríntico é que Jacques (2003) analisa o conjunto
de obras os Penetráveis (para uma de suas obras Penetráveis, ver Figura 20), de
Hélio Oiticica. Esses foram os primeiros trabalhos verdadeiramente denominados pelo
artista como labirintos (Ibid, p. 68). Citando Jacques (2003), os Penetráveis são:
Fonte: https://www.nytimes.com/2017/07/13/arts/design/cool-heat-an-art-outlaw-who-still-simmers.html
Essa relação com a arquitetura é também explicitada por Oiticica, não ficando
apenas na fala de Jacques (2003). Hélio Oiticica posiciona a arquitetura como o
“sentimento sublime de todas as épocas, é a visão de um estilo, é a síntese de todas
66
as aspirações individuais e a sua justificativa mais alta” (Ibid, p. 68). Para ele, ao
realizar estes labirintos em sua obra, o mesmo pretende:
Fonte: https://aia-luisagrassi.blogspot.com/2012/05/helio-oiticica-e-os-penetraveis.html
não estavam completas sem a obra Tropicália (ver Figura 22). Segundo Jacques
(2003), “Tropicália é um ambiente constituído de dois Penetráveis – A pureza é um
mito e Imagética” (Ibid, p. 75), estes dois Penetráveis estão “dispostos num cenário
tropical, com plantas e araras; no chão, caminhos de areia, de cascalho ou de terra,
que meio-escondem poemas-objetos” (Ibid, p. 75). Com esse ambiente, Oiticica
demonstra mais explicitamente sua relação com a vivência na favela da Mangueira e
sua urbanidade. A respeito disso, Jacques (2003) afirma:
Fonte: https://www.nytimes.com/2017/07/13/arts/design/cool-heat-an-art-outlaw-who-still-simmers.html
Outro aspecto que Oiticica destaca tem relação com sua vivência na
Mangueira. Para ele, Tropicália é um tipo de mapa, o que Jacques (2003) aponta como
uma “cartografia sentimental” da vivência do artista (Ibid, p. 82). Para ela, os labirintos
do artista “são espaços inacabados, sempre abertos às experiências” (Ibid, p. 82) e
por isso a mesma associa à ideia de Labirinto. Sobre este labirinto, a autora de “A
Estética da Ginga” (2003) posiciona:
Esta cartografia mental é o que nos interessa. Destacar que, sem pretensões
anteriores à experiência da deriva, o ato de derivar pode nos trazer resultados e
perspectivas diferentes das tradicionais, que não seriam as mesmas se fossem feitas
com uma metodologia diferente. Ou seja, associando a deriva com as instalações de
Oiticica, o que pretendemos é apontar como a metodologia, nesse caso, pode servir
à prática de compreensão do ambiente urbano, bem como nos será útil a abordagem
69
“Contra a prática do planejamento urbano, a ideia do Labirinto nos sugere uma volta
à cartografia, que reflete uma situação, acompanhando os movimentos de
transformação da paisagem. Em lugar das cartografias (quase) militares do espaço
real, podemos ver as cartografias da experiência do espaço, cartografias subjetivas,
do próprio movimento. Cartografias da temporal idade, e não do tempo cronológico,
como as anamorfoses. Não são cartografias da forma do percurso, mas da
experencia do percurso, da ação de percorrê-lo, de descobri-lo.” (JACQUES, 2003,
p. 97)
“‘Aspiro ao grande labirinto’ é a única frase escrita por Oiticica em seu diário,
no dia 15 de janeiro de 1961, um domingo.”
(BERENSTEIN, 2003, p. 67)
Como vimos anteriormente, a deriva não precisa ser programada, mas caso
possua algum tipo de programação isso não necessariamente afeta os resultados de
sua metodologia. Com isso em mente, trazendo o método psicogeográfico da deriva
situacionista a Campo Grande, nesse subcapítulo pretendemos analisar a segregação
socioespacial na cidade pelo exercício da deriva.
3. Também foi decidido que, por termos destacado dois bairros de mais baixa
renda situados em locais opostos da cidade, essa deriva seria feita em
dois dias. Isso nos possibilitará explorar tanto os dois bairros de mais baixa
renda destacados, quanto explorar mais amplamente a grande região de
concentração de renda.
5O aplicativo Strava pode ser encontrado nas lojas de aplicativos celulares Play Store e App Store.
Este aplicativo é uma rede social de ciclistas e corredores onde o usuário pode divulgar o percurso
percorrido pelo mesmo na prática de seu esporte em questão para seus amigos, estejam estes dentro
ou fora do aplicativo em questão.
73
O andar pela deriva nos leva a experienciar a cidade de uma forma diferente,
com sentimentos e compreensões antes não vistos. Por este motivo, ao trazer os
relatos a seguir, a linguagem adotada pode parecer diferente do restante da escrita
desta monografia: assim isso foi feito buscando proximidade com as sensações
vividas. As experiências que aqui serão relatadas também foram fotografadas, e
algumas das fotos serão expostas aqui com objetivo de documentar a experiência.
Dessa forma, o decorrer da deriva será separado em tópicos, onde serão
apresentadas as percepções da autora, sendo que cada tópico será associado a uma
ou mais fotografias, apresentadas juntamente ao relato, sendo a nomenclatura da foto
feita respeitando o dia da fotografia (D1 para dia 1, D2 para dia 2) + o tópico do relato
referente + o número da foto (pois alguns tópicos possuem mais de uma foto).
6A bandeira vermelha demarca a existência de um alto risco de contágio do vírus, sendo grande
parte das atividades não essenciais para o funcionamento da cidade suspensas.
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elétrica na grade que cercava o local: até então esse foi o primeiro lugar
visto que tinha o equipamento instalado.
7. Andando pelo bairro chegamos a outro local que aparentava ser uma
praça, porém que não possuía equipamento algum. Achamos o local
um tanto estranho: existia uma casa de prostituição do outro lado da
rua e na praça em frente ao local havia algo que poderia ser chamado
de estacionamento dado os carros que ali estavam, estacionados no
que identificamos como praça. Além disso, o terreno estava limpo, com
árvores vistosas e não possuía gramado em grande parte da clareira
que se formava ao centro. O que mais nos chamou atenção, e que mais
nos fez questionar sobre o local ser uma praça, foi a existência de
alguns restaurantes no arredor, que davam de frente para a Avenida
Arquiteto Vila Nova Artigas, mas que no fundo (que dava para a praça)
pareciam residências abertas para a clareira. Não foram feitos muitos
77
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11. Ao olhar para as ruas que cruzavam com a Jornalista Valdir Lago,
avistamos um boteco “raiz” e decidimos que ali comeríamos mais tarde,
mas continuamos na mesma rua que seguíamos pois eu queria
contornar o parque e observar a Avenida Vereador Thyrson de Almeida
de perto. Seguindo a caminhada, ainda na mesma rua, notamos uma
casa que se ocupava de uma parte da calçada para que os carros
coubessem na garagem. Esse não era um problema para a passagem
dos pedestres, mas é uma cena um tanto incomum e não tenho certeza
da procedência legal dessa situação. Também avistamos em um dos
cruzamentos de rua que havia um bueiro entupido no local, que
aparentava estar neste estado a algum tempo pois a água estava bem
suja.
alto, o que concluí que não era por conta do horário, já que era quase
onze e meia da manhã. Também notei a existência de um rio no meio
da Avenida, que estava aparentando descuido.
15. Viramos na Rua Igarassú, essa também sem asfalto, onde logo na
esquina havia uma construção com a porta que dava para a esquina
fechada com tijolos, isso chamou nossa atenção. Notamos no meio da
quadra uma senhora em frente à sua casa em pé observando a nossa
passagem. Conforme fomos nos aproximando de sua residência ela
entrou em casa, mas ainda olhava nossa passagem. A rua acabava
depois de duas quadras, sendo que a construção em frente ao fim da
rua era os fundos da Igreja Batista da Fé. Decidimos virar à direita,
entrando então na Rua Abaté, com intenção de retornar para
comermos no boteco encontrado anteriormente. Apesar da senhora
nos observando, fiquei com a sensação de que a região era tranquila,
ao menos se mostrava assim de dia.
17. Meio dia e meia saímos da mercearia indo em direção ao Terminal Aero
Rancho. Para isso, foi feito o trajeto Avenida Engenheiro Lutero Lopes,
Rua Jornalista Valdir Lago, Avenida Vila Nova Artigas, chegando a
Avenida Gunter Hans, onde está o terminal de ônibus em questão.
Apesar do horário, o terminal não estava cheio, o que nos chamou
atenção. Pegamos o ônibus 112, ao meio dia e quarenta, em direção
ao Terminal Morenão. Em seguida, no Terminal Morenão foi feita a
integração para a linha 070, onde tive que ficar em pé no veículo, pois
dessa vez não havia vaga para sentar.
18. Duas horas da tarde descemos no ponto de ônibus quase esquina com
a Rua Bom Pastor, rua gastronômica famosa em Campo Grande
localizada no bairro TV Morena. Me dei conta do horário e por isso
decidi, ao invés de adentrar o bairro TV Morena para depois descer
para o centro da cidade, ir rumo ao bairro Itanhangá, pois ainda
tínhamos um longo caminho a percorrer.
19. Andamos pela Rua Rodolfo José Pinho, onde ficou nítida uma
diferença na sinalização das ruas, principalmente na pintura do asfalto,
já que a rua foi pintada a apenas alguns meses. Saímos para a Rua
Pau Brasil, que fica no bairro Jardim Bela Vista (vizinho ao Itanhangá)
e nos deparamos com casas de muros pintados de cores claras e
calçadas majoritariamente em bom estado. É importante ressaltar que
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20. Seguimos pela Rua Dona Joana, onde avistamos muros altos e uma
escola em funcionamento, a Escola Harmonia. Viramos na rua da
fachada da escola (Rua José Caetano), onde existia uma pequena
praça triangular, quase que uma rotatória, cercada de carros. Esta foi
a primeira vez que identificamos uma quantidade grande de veículos
estacionados pela rua. Além disso, notamos um terreno baldio de
aproximadamente 4 lotes padrões em frente à escola, porém que
estava cercado por uma grade branca. Naquela rua foi possível
visualizar ao fundo parte do trajeto que percorreríamos, já que o bairro
Jardim Bela Vista não tem esse nome atoa; é possível ver, entre a
baixada e a sequente subida que existe entre o local e o centro da
cidade, uma vista muito bonita.
21. Passando a Rua dos Vendas, pela Rua Piraju, comecei a me sentir em
casa, já que resido no bairro que entramos, o Itanhangá, sendo difícil
ignorar os fatores sentimentais que envolviam a minha passagem pela
região. Ficou ainda mais difícil me dar o direito de perder-me em um
local onde conheço todas as ruas, onde passeio com meu cachorro
com toda sensação de segurança. Notei esse sentimento muito claro
dentro de mim e tentando ainda assim separar-me daquele lugar
observei algumas peculiaridades que não havia encontrado no Aero
Rancho, e que apesar de naturalizadas por mim no cotidiano, eram
claras evidências da diferença entre os bairros; os muros daquela
região ou são mais altos ou não existem e alguns possuem cercas
vivas. Além disso, duas casas se destacaram, uma de tijolinho a vista
com uma grade de cerca de 1,5m que dividia o terreno da mesma, onde
logo na entrada avistava-se uma grande janela com vasos de cerâmica
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25. Subimos então a Rua Bahia, que dá sequência a Rua Chaadi Scaff, e
decidimos entrar à direita, na Rua Alberto Neder, onde encontramos na
quadra seguinte o Comper Joaquim Murtinho. Atravessamos o mesmo
dentro de suas instalações, aproveitando para comprar um chocolate,
e subimos a Rua Castro Alves. Nesse trajeto adentramos o bairro
Centro, onde observei diferenças entre o bairro anterior, já que as
casas ali localizadas aparentavam serem antigas, seja por sua
arquitetura ou a falta de pintura. Além disso, a sinalização parecia não
ser nova como a observada no bairro anterior.
26. Subindo a Rua Castro Alves, observamos uma viela com casas que
diferiam do restante, se tratando da Rua Boa Vista, e decidimos andar
por aquela quadra, mesmo que estivéssemos com uma sensação de
falta de segurança sobre o lugar. Na rua, as primeiras casas tinham
muros de tijolo sem reboco, o lugar não possuía calçada alguma e seu
asfalto estava todo remendado. Mais a frente na mesma quadra, o
cenário começou a mudar, haviam um poste instalado, o que forçou um
pequeno trecho de calçada a existir por ali, e apesar das primeiras
casas vistas, vimos agora que haviam algumas que possuíam
acabamento.
29. Seguimos por uma das ruas que dão na rotatória, a Rua Oswaldo Cruz,
virando na conhecida Rua Euclides da Cunha, uma das principais ruas
do bairro onde estávamos, o Jardim dos Estados. Continuando nosso
percurso subindo a rua, onde notamos que algumas das butiques
estavam lotadas de carro, o que chamou a atenção especialmente por
estarmos em tempos de pandemia e o comércio estar com restrições.
Durante a passagem observamos a quantidade de locais que estavam
à venda, e também que nessa região haviam mais prédios residenciais
do que nas demais anteriormente visitadas.
30. Decidimos entrar na Rua Espirito Santo para observar melhor as casas
da região, vendo muitas casas com bastante vegetação e pintura
recente. Passamos pelo hospital Unimed, na Rua da Paz, onde notei
na esquina uma residência construída por um arquiteto famoso na
cidade.
31. Seguimos pela Rua da Paz, atravessando a Avenida Ceará, que nesse
momento estava em uma de suas horas mais cheias, com muito
movimento de carro. Após essa passagem, os prédios residenciais
aumentaram ainda mais em quantidade - entrávamos agora no bairro
Santa Fé, onde está localizado o Shopping Campo Grande.
32. Viramos na Rua João Akamine, que terminava em uma praça pequena
em frente ao estacionamento do Carrefour, no Shopping Campo
Grande, com vista para a cidade. Ali foi o momento onde menos me
senti segura em todo o trajeto na grande região de concentração de
renda, pois o local é conhecido por ser região de assaltos. Por este
motivo, apesar da minha grande vontade em registrar com a câmera
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fotográfica o local, optei por não o fazer, tirando apenas algumas fotos
com o celular. Era cerca de cinco horas e vinte minutos da tarde quando
decidimos sentar no meio fio de um prédio em frente a praça para
pedirmos Uber e terminamos por ali nosso primeiro dia de deriva.
No segundo dia de deriva estávamos cansados, com bolhas nos pés do dia
anterior. Partindo do Quiosque do Poeta, localizado na Avenida do Poeta, às oito e
cinquenta da manhã, eu e meu parceiro, Alberto Warmling, fomos caminhando pelo
bairro Chácara Cachoeira.
3. Essa casa se destoou das demais pois nela a calçada era cheia de terra, que
vinha de dentro do terreno, e também tinha muita terra aparente. As grades da
casa eram baixas e haviam dois cachorros latindo para nós enquanto
passávamos. Essa era a única casa do fim de rua da Rua Gardênia; o restante
da rua era um grande matagal sem fim, que supomos ser algum tipo de área
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4. A rua que não a Rua Gardênia era a Rua San Marino, que descia com vista ao
Parque das Nações, de encontro com a Avenida Afonso Pena. Nela
observamos mais um condomínio, e enquanto passávamos uma viatura policial
trafegava por lá; a primeira que vimos em nossa deriva. Mais próximo à Avenida
Afonso Pena, havia um grande terreno baldio na região, o que nos fez pensar
sobre a especulação imobiliária daquele lugar. De esquina com a avenida
estava localizado o Santuário Nossa Senhora da Abadia, igreja católica
localizada onde antes era uma boate.
6. Andando pelo parque, observamos uma grande área cercada que ao fundo se
lia “Eipmmont. Cavalaria 2021”, o que imaginei ser referente à cavalaria do
exército. Logo após essa área, estava localizada a central de manutenção do
parque, onde haviam dois carros de mini golf utilizados pelos vigias para andar
pelo local.
8. Avistamos uma quadra de areia bem grande e mais algumas quadras com
diversas possibilidades de uso, que estavam em bom estado. Em uma dessas
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11. Próximo a uma das entradas, observamos a Concha Acústica, que já foi palco
para grandes artistas um dia. Saímos do Parque das Nações pela Rua Antônio
Maria Coelho, onde havia um grande estacionamento para servir o mesmo, que
estava sendo ocupado por diversos carros, no que concluímos não estarem
usando do parque, já que não avistamos muitas pessoas no local. Logo a
nossa esquerda, na saída, estava o MARCO, Museu de Arte Contemporânea
do Mato Grosso do Sul, e do outro lado da rua observamos a construção da
futura OAB-MS. Ao lado da mesma está o prédio do Hospital Unimed Campo
Grande.
12. Seguimos na Rua Antônio Maria Coelho, rumo à Rua Antônio Theodorowich,
onde está localizada na esquina o edifício residencial Le Corbusier, um dos
mais requintados da cidade. Na Rua Antônio Theodorowich havia dos dois
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13. Seguindo pela mesma rua e atravessando a Avenida Mato Grosso decidimos
virar à direita e entrar no bairro Carandá, pela Rua Miraflores. Logo que
entramos nesta rua, notamos uma diferença no tempo; o lugar era fresco, com
árvores por todo percurso e um vento calmo que passava por nós, o que nos
deixou calmos. A Rua Miraflores nos surpreendeu, pois estava repleta de casas
grandes e vistosas, as mais bonitas que vimos até então, e se tratava de uma
curva que acabava novamente na Rua Antônio Teodorowick. Logo depois da
curva da rua, depois de uma casa gigantesca, havia um terreno baldio em que
a calçada tinha uma grama baixa e onde havia uma árvore que fazia sombra.
O local transpareceu tanta calma e frescor que decidimos sentar por ali um
pouco.
14. O cansaço tomou conta de mim depois de toda a caminhada que havíamos
feito no dia anterior e nesse, e voltando a Rua Antônio Teodorowick decidimos
pegar um Uber até o Shopping Campo Grande para almoçarmos e pegarmos
o ônibus. Eram onze e meia. Depois de almoçarmos, ao chegar no ponto de
ônibus do Shopping Campo Grande, ao meio dia e quarenta, me surpreendi.
Primeiro que o lugar estava recém pintado, e segundo que ao entrarmos no
transporte um dos servidores do local oferecia álcool em gel para os
passageiros, algo muito diferente dos ambientes de transporte público que
havíamos passado, visto que nos demais, apesar de terem postos para
lavagens das mãos, estavam sem sabonete ou álcool em gel para efetuar a
limpeza.
15. Entramos no ônibus de linha 070, rumo ao terminal General Osório. Chegando
ao terminal, às uma e dez da tarde, notei que o mesmo era o mais lotado até
então, e o maior também. Lá fizemos integração para a linha 211, rumo ao
bairro Nova Lima, passando pelo terminal Nova Bahia. Antes de descer no
local o ônibus teve de fazer um desvio da rota programada, que deveria seguir
102
103
pela Avenida Marquês de Herval, mas passou pela Rua Dona Maria Isabel para
desviar de uma obra que estava acontecendo na avenida.
16. Descemos na Rua Dona Maria Isabel às uma e meia da tarde, subindo a Rua
Jeronimo de Albuquerque. Nessa rua havia uma casa que não possuía muro,
de onde saía uma moça. A casa tinha um monte de brita em frente, sobre o
gramado alto. A rua era uma subida onde haviam alguns comércios, em um
deles um homem observava nossa passagem com a câmera fotográfica, o que
me deixou insegura.
17. Viramos na Rua Júlio Prestes, que ficava logo após a Avenida Dona Carlota
Joaquina, e em seguida pegamos a Avenida Cândido Garcia Lima. A
quantidade de avenidas no bairro me impressionou, e ao andar pela Avenida
Cândido Garcia Lima observamos alguns sobrados à venda no lugar. Essa
avenida em questão possuía alguns coqueiros no canteiro central, o que
chamou a atenção pois não havíamos observado essa vegetação nas demais
avenidas.
18. Todo o bairro aparentava desenvolvimento, e parecia não ter fim. Após andar
algumas quadras na avenida, observamos mais um conjunto habitacional, além
de outra casa sem muro, essa feita de madeira e com o chão de terra batida,
onde abrigava um carro antigo.
19. Viramos na Rua Botafogo, que tinha outra casa sem muros, de tijolos, sem
reboco, dessa vez com dois varais em sua frente, ambos lotados de roupas.
20. Viramos então na Rua Alberto da Veiga, e em uma de suas quadras havia o
mais próximo do que pensei ser uma praça no local; um terreno baldio, com
mato e chão de terra batida, onde estavam dispostos na parte com mais chão
de terra uma trave de gol e duas colunas segurando uma rede em um improviso
de quadra de futebol. Uma das ruas que circundava o terreno não era asfaltada,
e vimos uma mulher agredindo seu cachorro (que aparentava ser um Pinscher
por seu porte pequeno) que saiu de casa quando ela entrava com sua moto.
21. Entramos na Rua Alfredo Borba, que é perpendicular à Avenida Zulmira Borba,
onde notamos em um dos terrenos baldios uma passagem entre estas duas
vias supracitadas. O caminho estava demarcado pelo chão de terra batida,
104
105
22. Andamos até chegar à Avenida Gualter Barbosa, onde havia uma tenda que
vendia salgados por um real. Ali paramos para tomar um refrigerante, pois
estava muito quente naquele dia. Fomos atendidos por um garoto que eu
imaginei ter por volta de 12 anos, que morava ali com sua mãe e irmãos. A
simplicidade do lugar e o carinho do garoto no atendimento me tocaram, e
acabei levando alguns salgados para casa pra ajudar a família deles.
23. Subimos uma quadra até a Avenida Zulmira Borba. Eram duas e meia da tarde
e já estávamos exaustos da caminhada, visto o tanto que andamos no dia
anterior também. Por este motivo, decidimos descer a avenida até a Avenida
Cônsul Assaf Trad, para concluirmos o experimento. Enquanto fazíamos esta
descida, reparamos em um terreno privado com campo de futebol, o único local
encontrado na região que aparentava estar bem cuidado para a prática de
esportes.
24. O andar pela avenida me trouxe mais cansaço, e ao longe, na descida rumo a
Av. Cônsul Assaf Trad, avistávamos os condomínios fechados da rede
Alphaville, o que caiu como um presente para o meu trabalho; era inegável a
existência da segregação naquela vista. Essa segregação ficou ainda mais
clara quando reparamos que todas as ruas que cruzávamos a esquerda da
descida da avenida eram ruas sem asfalto.
25. Fiquei triste por não ter disposição física de adentrar mais o bairro Nova Lima
dado o cansaço, mas valeu a pena a visita. Chegando a Avenida Cônsul Assaf
Trad, atravessamos a mesma e reparei na existência de uma ciclovia no local,
que não estava no melhor dos estados e não possuía pintura. Ali, ao atravessar,
nos dirigimos até à loja da Leroy Merlin ali localizada para pedirmos o Uber e
terminarmos nossa deriva.
106
107
parecer algo óbvio pela comparação dos dados apresentados no primeiro capítulo,
porém, a partir da experiência da deriva, outros fatores entraram em cena. Vale
destacar que a deriva não precisa ser programada, mas que especificar o local da
experiência não necessariamente afeta o resultado da mesma, por isso foi possível o
experimento nos bairros anteriormente destacados. Não atoa os situacionistas
trabalham a deriva como parte da psicogeografia; apenas um pesquisador ativo tem
acesso as informações consoantes ao experimento, pois, novamente, sem o exercício
desse os dados seriam os únicos argumentos para a discussão. Por isso, após a
realização da deriva como metodologia deste trabalho, ficaram claros alguns
posicionamentos para a autora. Porém, antes de elaborarmos melhor sobre as
aproximações feitas, é preciso retornar brevemente ao que discutimos a respeito da
deriva no item 2.2 deste capítulo.
Um dos tópicos presentes nos relatos diz respeito ao cansaço, por exemplo.
Esse cansaço foi associado ao declive e distância presente nos bairros derivados; o
Aero Rancho é um bairro com relevo mais plano, onde foi possível percorrer uma
maior quantidade de ruas sem a necessidade de descanso. O mesmo aconteceu nos
altos do bairro Jardim dos Estados, rumo ao Santa Fé, onde o declive existia, mas não
era tão rigoroso. Já na passagem do bairro Itanhangá para o bairro Centro e o começo
do percurso do bairro Jardim dos Estados, bem como percorrendo o bairro Nova Lima,
esse declive era muito maior, com longas subidas. A questão que queremos refletir
110
Pode-se pensar que isso se daria por conta de já ser o segundo dia de
caminhada e este ser o trecho final, o que gera uma ansiedade sobre o futuro
descanso depois da deriva. Porém, é preciso levar em conta de que o percurso feito
no segundo dia foi 10km a menos que no primeiro, sendo assim teoricamente os
derivantes ainda teriam disposição para prosseguir a deriva por um pouco mais de
tempo.
Tem-se a impressão de que há outros motivos para o cansaço não ter sido
relatado no percurso do primeiro dia; havia um ambiente urbano agitado pelo barulho
dos automóveis e com a paisagem mais polida que distraiam tanto a mim,
pesquisadora, quanto meu acompanhante. Essa divergência no modo de como um
percurso com as mesmas características de relevo tem em bairros de diferentes
classes econômicas também concerne a respeito da segregação socioespacial e
apenas através os relatos da experiência da deriva é que foi possível refletir sobre
isso.
bairro vizinho ao Parque das Nações Indígenas. Vale lembrar que no mesmo parque
foram vistos um posto policial, um local destinado a cavalaria do exército e um local
de manutenção do parque, o que a autora relatou como uma forma de sentir-se segura
na região. Tratando dos bairros Nova Lima e Aero Rancho, o único posto visto no
percurso foi o posto policial encontrado dentro do Parque Ayrton Senna, que
aparentava estar abandonado, segundo descrito pela autora no tópico 9 nos relatos
do primeiro dia de deriva.
Visualizando a Figura 27, as meninas que não aparentavam ter mais de doze
anos, descritas no primeiro dia, tópico 9, andavam desacompanhadas pelo Parque
Ayrton Senna, brincando com um carrinho de bebê. A questão que mais chama a
112
atenção nesse cenário é que próximo a elas estava o posto policial abandonado do
parque, o que causou preocupação. Contraposta a esta situação está o ocorrido no
segundo dia, relatado no tópico 8, onde encontrou-se alguns garotos jogando
basquete no Parque das Nações Indígenas. Nesse segundo cenário, havia um posto
policial próximo as quadras, e nem passou pela cabeça dos derivantes questionar a
segurança dos garotos ali presentes. Uma outra comparação possível diz respeito a
residência desses menores; no primeiro dia, só foi identificada a proximidade da
moradia das meninas pois acabamos percebendo a presença das mesmas em uma
residência logo ao sair do parque, já no segundo dia, apesar dos garotos não terem
sido avistados em rumo aos prédios próximos ao local, presumiu-se que ali moravam,
sem nem mesmo se questionar se esta seria uma conclusão precipitada ou não.
Ao andar pelo Parque Ayrton Senna e pelo Parque das Nações Indígenas,
foram tiradas fotos através das grades dos locais (ver Figura 28), onde fica visível a
diferença de classes sociais entre os moradores de ambos os bairros. Na fotografia
do primeiro dia, de número 9.2, observando o entorno do Parque Ayrton Senna, em
especial visualizando a Rua Jornalista Valdir Lago pelas grades, pode-se observar
que as residências eram térreas, com fachadas lisas e portões metálicos onde parte
do interior das residências fica visível. Também se observou que uma das casas na
fotografia não possuía reboco, sendo a alvenaria visível. No segundo dia, ao andar
pelo Parque das Nações Indígenas, também foi fotografada a Rua Antônio Maria
Coelho através das grades do local, onde havia um condomínio conhecido por ser a
113
moradia de alguns servidores públicos. Na foto 7.1 do segundo dia de registros foi
possível identificar os sobrados do residencial, que possuía portões de madeira e uma
grade cercada de plantas arbustivas que criavam uma separação entre o interior do
condomínio e a rua. Avistou-se também que as casas possuíam pinturas em mais de
uma cor, algumas com acabamentos diferentes nas fachadas.
especial no que concerne ao bairro Nova Lima, que possui avenidas vistosas com
asfalto novo e sobrados em construção. É possível que a proximidade do bairro com
o novo shopping da cidade, o Shopping Bosque dos Ipês, e a existência de
condomínios de alto padrão existentes no bairro vizinho, o bairro Novos Estados,
tenha influenciado a evolução do local, porém, a análise que queremos chegar aqui é
de que a desatualização dos dados coletados no capítulo anterior entra em conflito
com o crescimento da cidade de Campo Grande nos últimos dez anos.
segundo dia de deriva, essa diferença entre as áreas de lazer público novamente é
explicitada, isso pois ao passo de que encontramos uma praça no bairro Chácara
Cachoeira (tópico 1), este inserido na grande região de concentração de renda, ao
andarmos no bairro Nova Lima o único local de lazer encontrado foi um terreno baldio
(tópico 20) que continha um improvisado campo de futebol.
Com essa análise sobre as demais áreas de lazer público das regiões
percorridas o que fica claro não é somente a existência de mais ambientes de lazer
na grande região de concentração de renda (concernente ao parágrafo anterior nos
bairros Itanhangá, Jardim dos Estados, Santa Fé e Chácara Cachoeira), mas também
a precariedade desses ambientes no bairro Aero Rancho. Tratando aqui, em especial,
do bairro Nova Lima, o cenário se torna ainda mais infeliz, pois não foram encontradas
áreas de lazer públicas no local. Essa situação é ainda mais preocupante pois, de
acordo com o evidenciado no destaque anterior – “Uma observação entre os dados e
a vivência”, o bairro Nova Lima já era em 2010 um dos maiores bairros da capital no
que se refere a população moradora, e foi possível analisar um desenvolvimento
ocorrendo na área, mas esse desenvolvimento não pode ser comprovado no que diz
respeito ao lazer público na região.
3.
121
___________________
3. Intervenção Urbana
Após brevemente discutirmos sobre a arte urbana no item 2.1, em que abordamos
a mesma como uma prática crítica do exercício da arquitetura e urbanismo, e após
analisar a obra de Hélio Oiticica através da leitura do livro de Paola Berenstein
Jacques (2003) no item 2.2.1, pretendemos, neste capítulo, retomar essas
construções anteriores a respeito da arte e intervenção urbana, que agora serão
discutidas de forma a amparar e influenciar a identidade de nossa obra final.
Essa construção em torno do objeto final deste trabalho contará também com
exemplos que tenham relacionado estudos sociais e urbanos com arte, arquitetura e
urbanismo – discussão essa que será feita no item 3.1 com o propósito de amparar a
concepção formal do mesmo. Aqui destacamos que o objeto final desse trabalho é
consequência do estudo realizado em todo o percurso dessa monografia, e que terá
como objetivo produzir interação e reflexão com o espectador a respeito da existência
da segregação socioespacial em Campo Grande. Assim, ao discutir o terreno desse
objeto final nos ampararemos em englobar todas as regiões da cidade como nosso
local de projeto, o que será melhor discutido no item 3.2.
Os estudos de caso que serão discutidos nesse subcapítulo são uma forma
de entender as alternativas possíveis de serem adotadas em nossa intervenção
urbana, que será feita como objeto final desta monografia. Os textos estudados são
“Territórios Híbridos: ações culturais, espaço público e meios digitais” organizado pelo
grupo Nomads.usp (2013), “Arte, Cultura e Cidade” de Vera Pallamin (2013), a tese
de Maria Martins, “ENTREMEIOS: produzindo imagens em zonas de fronteiras
urbanas” (2020), a obra “Big Fat Dumb Cities for Sale” e a tese de Brigida Campbell,
“Arte Para uma Cidade Sensível” (2018). Com esses estudos, pretende-se amparar a
preparação do objeto final desta pesquisa.
“Ações culturais dessa natureza contribuem para destituir as pessoas de ideias pré-
concebidas a respeito da cultura material e imaterial de lugares ou regiões que se
situam distantes geograficamente dos seus, e que são, para elas, pouco
conhecidos. Essas ideias pré-concebidas derivam de noções de senso comum
construídas a partir de um conjunto de informações veiculadas exaustivamente, seja
pelos meios de comunicação tradicionais, seja pela publicidade, facilmente
assimiladas e assumidas como sentenças gerais. A ação Cenas Urbanas procura
fazer emergir pontos de vista sobre lugares distantes e pouco conhecidos, mais
condizentes com a realidade vivida cotidianamente nesses lugares. Faz isso
convidando os participantes a, primeiramente, ressituar o olhar sobre sua própria
cidade através do enquadramento fotográfico. Procura, assim, aproximar contextos
geográficos e culturais diferentes a partir da possibilidade de interação entre grupos
imersos em tais contextos, e do estabelecimento de reflexões coletivas que possam
fazer emergir particularidades e similaridades em decorrência desses olhares
distanciados.” (ANITELLI, SANTOS & TRAMONTANO, 2013, p. 67)
Tal ação foi feita com crianças e adolescentes de escolas públicas das
cidades de Rio Branco, no Acre, Uberaba, em Minas Gerais, e São Carlos, em São
Paulo. As fotografias resultantes desse projeto foram expostas em formato de banner
nas próprias fachadas dos edifícios presentes nas fotografias, possibilitando interação
da população com o projeto. Assim:
“Os cidadãos que circulam por seus entornos mostram-se curiosos em examinar
imagens de lugares do seu cotidiano, agora enquadrados e transformados em obra
a ser apreciada em uma exposição. Nos banners, eles aparecem lado a lado com
seus congêneres das outras cidades, claramente identificadas, de modo a permitir
comparações e leituras individuais ou compartilhadas. Lugares do espaço público
são, assim, utilizados como suporte de insumos para reflexões, estímulos à crítica
e à discussão, que é o que, no fim, espera-se da população.” (ANITELLI, SANTOS
& TRAMONTANO, 2013, p. 71)
urbano no indivíduo que interage com os locais, e são ainda mais esclarecidas pelas
falas do evento inaugural, em que um estudioso sobre a cidade é convidado a falar,
bem como conta com participação do público, convidados a contarem relatos sobre
os locais fotografados.
Sob essa luz, Pallamin relata o dossiê espetáculo de “Bom Retiro 958 metros”,
teatro esse que, segundo a autora, contradiz a citação anterior, adotando os espaços
urbanos como local de espetáculo, evidenciando a rotina de bairros e a vizinhança,
bem como tratando da “vulnerabilidade das relações de trabalho, o enrijecimento dos
afetos e a destruição de marcos urbanos” (PALLAMIN, 2013, p. 185).
7Para saber mais detalhes sobre a peça em questão, confira a entrevista da Jovem Pan News com a
atriz Sofia Boito em: JOVEM PAN NEWS. Peça Bom Retiro 958 metros propõe caminhada pelo bairro
paulistano. Youtube, 19 de fevereiro de 2013. Disponível em: <https://youtu.be/DuVIBCsrvR0>.
125
bairro, com uma arquitetura mais tradicional, o que gera discussão sobre a arquitetura
local.
Fonte: https://vejasp.abril.com.br/atracao/bom-retiro-958-metros/
3.1.3. ENTREMEIOS
Maria Martins escreveu sua tese de doutorado, “ENTREMEIOS – Produzindo
imagens em zonas de fronteiras urbanas” (2019), a respeito de Performance Art,
fotografia e audiovisual como uma metodologia para aproximação, intervenção, leitura
e expressão de dinâmicas urbanas. Assim, em sua tese a autora relata diversas
126
Com essa definição, a ação se apresenta como uma experiência que permite
discutir questões artísticas: relacionadas à fotografia, intervenções urbanas e o corpo
em movimento, e questões arquitetônicas; como um processo de enriquecimento
informativo a respeito de perspectivas sobre o urbano, o que também é amparado
pelas fotografias que revelam em imagens, dentre outros aspectos, questões
referentes ao urbanismo (Ibid, p. 80). Essas questões levantadas são consoantes à
produção de nosso objeto final, pois assim como na tese de Martins (2019) nosso
projeto possui vertentes artísticas, arquitetônicas e urbanísticas de reflexão sobre o
perímetro da cidade, bem como participa de um processo metodológico semelhante,
visto o percurso caminhado através da deriva e o relato fotográfico feito. Deste modo,
entende-se que interpretações sobre o urbano através de diferentes leituras agregam
na metodologia de projeto e reforçam questões pertinentes ao objeto final.
8 “A ação Grande Caminhada Urbana (Big Urban Walk) fez parte da programação da 11ª. Bienal
Internacional de Arquitetura de São Paulo – Em Projeto (2017), e foi coordenada pelo arquiteto e
fotógrafo alemão Martin Kohler, com o apoio do articulador cultural Thiago Kinzári.” (MARTINS, 2019,
p. 75)
127
Essa exposição foi resultado do trabalho dos alunos Fariba Shafiee, Hanieh
Khaleghian, Hossein Hamdieh, Huey Hoong Chan, Jitendra Sawant, Jonathan
Sutanto, Jorge Ruiz, Peeradorn Warithkorasuth e Victor Sardenberg. A origem do
projeto veio de uma investigação acerca do crescimento das metrópoles que se
favorecem do declínio das áreas rurais e pequenas cidades. Segundo eles, dada a
esse esvaziamento, para ser vista novamente como potencial, a vila deve se tornar
uma mercadoria, um objeto a ser comprado. Com esse pensamento, foram
desenvolvidos objetos arquitetônicos eletrônicos, vulgo arranha-céus gigantes,
capazes de hospedar 10.000 pessoas, abrigando toda uma vila em seu interior10. É
essa a base projetual de “Big Fat Dumb Cities for Sale”.
9 Confira o site do projeto para mais imagens e informações. CITIES FOR SALE. Cities for Sale,
2016. Homepage. Disponível em: https://citiesforsale.wordpress.com/. Acesso em: 02 de agosto de
2021.
10 EL, Eugen. Städelschule Rundgang 2016. Schirn Mag. Frankfurt, 2016. Disponível em:
Figura 33 – Modelo digital de como o arranha-céu seria visto se construído em um campo aberto.
Fonte: http://victorsardenberg.com/wp-content/uploads/2016/03/IMG_9650.jpg
129
11Você pode conferir o vídeo do projeto em ACIDUM PROJECT. CicloCOR – Acidum. Youtube, 05
de junho de 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=y3bgbU3QWfA&t=1s. Acesso
em: 03 de agosto de 2021.
130
Um outro caso que compactua com essa mesma abordagem é visto em outra
prática artística exemplificada na tese de Campbell, o projeto “Lotes Vagos”. A prática
propõe transformar lotes vagos das cidades de Belo Horizonte e Fortaleza em
espaços públicos de uso coletivo. Esses terrenos não são simplesmente utilizados,
mas sim emprestados pelos donos, sendo que o “grupo que participa da
transformação do lote torna-se responsável pela implantação do projeto, pelo cuidado
com o espaço e pelos acontecimentos” (CAMPBELL, 2018, p. 97). Assim as possíveis
utilizações dos lotes são incontáveis, e só dependem da organização dos que se
disporem a participar do cuidado.
Figura 36 – Fotografia do projeto Lotes Vagos onde vemos uma ocupação do terreno sem retirar suas
características de abandono.
Em “Arte, Cultura e Cidade” (2013) de Pallamin, com “Bom Retiro 958 metros”
pretendemos destacar como o site-specific pode acrescentar a nossa obra de
intervenção urbana. Com a discussão desta monografia girando em torno da cidade
de Campo Grande, enxergamos nela o local de nossa intervenção, onde o público
passará a ter novas leituras sobre o ambiente onde está inserido. No caso do bairro
Bom Retiro essa leitura foi introduzida pela peça de teatro, mas em nosso caso será
feito através da obra final.
O desenvolvimento da obra “Big Fat Dumb Cities for Sale” é interessante pois
podemos analisar a partir dele como a crítica a arquitetura e urbanismo pode gerar
um objeto físico capaz de ser exposto. Ao tratarmos de nosso objeto de intervenção,
nota-se a necessidade em conseguir traduzir nossa crítica a segregação socioespacial
na cidade de Campo Grande para uma obra final capaz de ser exposta ao público,
bem como foi executado na exposição vista no estudo de caso.
Após essas leituras, pretendemos ter criado uma base inicial para começar a
imaginar abordagens possíveis de serem adotadas em nosso objeto final de
intervenção urbana. Partiremos, então, ao próximo item, para a definição inicial do
local da obra.
133
Com isso em mente, a intenção é de que esse objeto criado possa ser
reproduzível nas praças da cidade, embora ele não necessariamente seja diferente
em todos os locais. Posteriormente, no capítulo quatro, essa seleção inicial passará a
indicar com mais clareza os locais onde iremos situar o objeto de intervenção urbana.
134
4.
137
___________________
Por fim, no item 4.3, será feita uma reflexão sobre as considerações dos
estudos de caso e o cumprimento destas considerações no projeto do objeto de
intervenção urbana e sua pesquisa.
138
Fonte: IBGE
Elaboração própria
140
Figura 41 – Print retirado do software Revit, em perspectiva 3D, demonstrando a modificação das
alturas dos bairros conforme a população por bairro. Destaque para o bairro Nova Lima e sua altura.
Figura 42 – Print retirado do software Revit, em perspectiva 3D, demonstrando a modificação das
alturas dos bairros conforme a renda per capita. Destaque para o bairro Nova Lima e sua altura.
Figura 49 - Modelo 3D Rhino, passo 7: modificação cores camadas base conforme altura do bairro.
Figura 50 - Modelo 3D Rhino, passo 8: inversão do modelo da topografia de população por bairro e
junção das topografias por suas respectivas bases, criando um modelo único.
A importação dos modelos (Figura 43) foi feita prezando manter os pisos
criados no software Revit como planos, para facilitar o passo seguinte. As unidades
de trabalho foram reduzidas para microns, fazendo com que o arquivo não ficasse
muito grande. É importante esclarecer que o passo a passo foi feito em ambas
topografias em arquivos separados, e juntados no passo 8, visto na Figura 50.
50, estes arquivos foram unidos. Nessa junção, o arquivo da topografia de população
por bairro foi invertido para que sua base ficasse para cima, possibilitando com que
as topografias se juntassem por suas bases. Essa oposição das topografias criadas
foi feita pensando (como discutido anteriormente e melhor visualizado com os dados
disponibilizados pela PLANURB) que os bairros com maior renda per capita são
opostos aos bairros com maior população. Com isso feito, o objeto digital reflete
topologicamente a segregação socioespacial em Campo Grande.
Tomada a decisão de que esse objeto digital manteria uma proporção em que
a altura fosse um local onde a população pudesse subir, e a largura representaria os
150
Outra forma que foi pensada para integrar a intervenção de uma região com
as demais é a sonoridade do ambiente. Isto é, pretende-se reproduzir gravações de
conversas feitas em uma intervenção da região x em alto-falantes na intervenção da
região y. Essa ligação sonora traria outras leituras ao objeto de intervenção. Pode-se,
por exemplo, pensar sobre as diferenças nas conversas da intervenção de um bairro
da periferia e um bairro de alta renda per capita. Outro exemplo seria averiguar a
quantidade de pessoas (vozes) que ali estão de região para região, tirando conclusões
sobre qual intervenção é mais frequentada.
Por fim, criando uma relação com o que foi escrito neste trabalho, prezou-se
pela demonstração deste objeto de intervenção urbana nas regiões onde se observou
uma maior segregação socioespacial na cidade. Nesse caso, a Região Centro e a
Região Prosa por sua maior renda per capita, e a Região Anhanduizinho e Região
Segredo por serem as regiões onde estão localizados os dois bairros com maior
população da cidade de Campo Grande (Aero Rancho e Nova Lima,
respectivamente). Sequencialmente, em cada uma destas regiões, selecionamos o
maior parque da região para ser o local onde situaremos o objeto de intervenção
urbana. Esta seleção está presente na
Figura 56.
153
espelhada, sendo que a topografia de renda per capita seria o volume à esquerda, e
à direita, de modo espelhado, estaria o volume da topografia da população por bairro.
Entre estas duas topografias, há uma distância de aproximadamente seis metros,
criando uma área de intervalo entre os dois objetos construídos. Esse intervalo eleva
ainda mais a versatilidade do local, visto que essa área de intervalo adquire
centralidade e serve como um espaço de comunicação entre os volumes.
Ainda ligando o estudo teórico prévio com o objeto a ser criado, procuramos
manter uma relação entre a segregação socioespacial e o projeto. Para isso, nosso
objeto contou com alguns elementos que refletem nossa articulação. Primeiramente,
considerando o modelo digital criado, a segregação socioespacial está refletida na
volumetria do objeto de intervenção urbana. Essa é a parte mais clara da ligação entre
a discussão e execução do objeto, seja pelo composto topográfico como um todo, seja
por cada bairro ter seu próprio nível, de forma que nenhum bairro da cidade é posto
em igualdade com outro. Em segundo plano, estão o totem e os elementos sonoros,
que complementam a experiência e integram as obras de diferentes regiões. De forma
mais simbólica, prezaremos selecionar os materiais para a execução do objeto de
forma a dar à intervenção uma independência perante seu espaço geográfico: sem
necessidade de manutenção e dando independência energética ao objeto. Contanto,
podemos dizer de que o objeto de intervenção, apesar de bem situado em seu
entorno, é também segregado do mesmo. Tratada as questões iniciais de projeto,
partiremos agora para as materialidades e alocação do objeto de intervenção urbana.
4.2.2. Materializando
ALOCAÇÃO
do lago. Na Região Anhanduizinho, no Parque Ayrton Senna, ela será posta em frente
a quadra poliesportiva. Por último, na Região Segredo, no Parque Tarsila do Amaral,
ela está situada em frente a quadra poliesportiva. Todas estas localizações estão
próximas a pisos existentes do parque, de forma que o objeto não se mantenha muito
distante das áreas de fluxo de pessoas. Também se prezou por posicionar o objeto
próximo a locais com arborização, aumentando o conforto térmico do local.
O USO
O espaço do objeto de intervenção urbana foi criado para ser multiuso, de forma
que a vontade do projeto é de que as pessoas se apropriem do local e não se limitem
a nenhuma utilização específica. Porém, buscando elucidar a dinâmica do ambiente,
descreveremos aqui algumas possíveis utilizações: o mobiliário pode ser utilizado
como arquibancada para um espetáculo/palestra/discussão que acontece no piso
base do local, assim como o oposto também pode acontecer. Pode ser também um
local de descanso e um local de intervenções. Um espaço para uma aula ao ar livre e
um espaço para um show musical. O mobiliário pode servir também como abrigo da
chuva, visto que é possível adentrá-lo nas partes maiores que um metro e meio (1,5
m) de altura.
PISOS E FECHAMENTOS
A intenção projetual é de que este objeto fosse um espaço com diversos usos,
determinados pela população. Para que esse exercício possa ser melhor realizado,
buscou-se trabalhar com materiais que possibilitassem um conforto estético,
resistente as intempéries e que ao mesmo tempo não fossem desconfortáveis ao
usuário. A madeira plástica é um composto plástico pintado de madeira, e por
estarmos tratando de um material plástico o mesmo pode ser posto em locais com
presença de luz solar direta e possibilidade de contato com a água. Além disso, ele é
visualmente similar a madeira, o que remete uma sensação de conforto para o usuário.
Por este motivo, ela foi escolhida para ser o piso das topografias de nosso projeto
(visualizar em Figura 57 - Perspectiva Explodida Intervenção Região Centro – item 7).
Além dos pisos das topografias, foi criado um piso base em pedra portuguesa
branca, que realça a existência dos volumes projetuais e da intervenção como um
todo (visualizar em Figura 57 - Perspectiva Explodida Intervenção Região Centro –
156
item 2). Neste piso, a um metro e meio de distância dos objetos topográficos
construídos, foi criada um friso em concreto polido de cinco centímetros que liga os
dois volumes e o ambiente central. Essa linha cria uma visualização lúdica da conexão
entre as topografias objetos.
ESTRUTURA
Além disso, nos pisos acima de dois metros e meio de altura, o pilar em aço
inoxidável de 5 cm por 5 cm foi substituído por pilares-árvores (com bases em concreto
moldado in loco de um metro de diâmetro e um metro de altura, e com pilares e apoios
em aço inoxidável), agregando na estética do mobiliário e diferenciando os pisos mais
altos do objeto (visualizar em Figura 57 - Perspectiva Explodida Intervenção Região
Centro – item 4).
159
Figura 57
160
como também trazendo uma ligação sonora e tecnológica do ambiente com a temática
da segregação socioespacial, envolvendo a população em uma experiência de
conhecimento a respeito do ambiente urbano da cidade de Campo Grande.
162
CONCLUSÕES
Tratou-se neste trabalho de conclusão de curso a pesquisa de estudos relacionados
à segregação socioespacial, seja pela leitura de obras situacionistas, discussões
sobre a temática da arte urbana como uma prática crítica da arquitetura e urbanismo,
bem como através da pesquisa e elaboração de mapas e da realização da
metodologia da deriva, compreender os aspectos consoantes à segregação
socioespacial na capital do estado do Mato Grosso do Sul, Campo Grande. A
elaboração de uma obra de intervenção urbana que fosse o produto final dessa
análise, e que tivesse como pretensão a divulgação desse conhecimento adquirido na
pesquisa aos moradores da cidade, foi um caminho não linear e parte de um processo
com erros e acertos, mas que seguiram na busca de gerar um resultado que
atendesse a necessidade da população e incluísse como critério a produção de um
conhecimento em sua relevância pública.
Do ponto de vista teórico, enfim, buscamos que nosso trabalho tivesse uma relação
de interdependência entre pesquisa e o projeto. Os limites da obra de intervenção,
nossa pretensão ao elaborá-lo, bem como o alcance que procuramos atingir, refletem
diretamente os estudos que realizamos durante o percurso de escrita. Mais que
embasar teoricamente, nossa tentativa foi a de fazer com que a temática da
segregação socioespacial – os aspectos que a relacionam com a desigualdade social
e com as diferenças entre classes sociais – impactem o tipo de produção em
Arquitetura e Urbanismo. Dessa maneira, produzir um trabalho engajado, mas
devidamente técnico, para que a produção em nosso campo apresente fatores que
poderiam passar despercebidos ou mesmo ignorados em nossos trabalhos mais
técnicos.
Esperamos, então, ter exposto nosso estudo de modo a demonstrar uma forma de
levar a discussão da segregação socioespacial aos moradores da capital sul-mato-
grossense, visto que levando a temática à população campo-grandense poderemos
gerar discussões mais elaboradas e conscientes sobre essa realidade.
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