Ponderações Introdutórias Sobre A Importância Da Ética Nas Relações de Vida em Sociedade Sob A Óptica Da Filosofia Do Direito
Ponderações Introdutórias Sobre A Importância Da Ética Nas Relações de Vida em Sociedade Sob A Óptica Da Filosofia Do Direito
Ponderações Introdutórias Sobre A Importância Da Ética Nas Relações de Vida em Sociedade Sob A Óptica Da Filosofia Do Direito
FILOSOFIA DO DIREITO
ÉTICA (FILOSOFIA DO DIREITO)
INTRODUÇÃO
Os seres humanos nascem, crescem, se desenvolvem, normalmente convivendo em
sociedade, cujos valores, crenças e regras de conduta variam de acordo com o tempo e espaço
geográfico.
Essa vivência perpassa por diversas dimensões sociais e culturais, as quais podem ser
modificadas nas interações do homem com outros sujeitos e com o ambiente.
Leonardo Boff, em sua obra “Ethos Mundial: um consenso mínimo entre os humanos”
expõe com muita perspicácia não apenas a sua preocupação pela perpetuação da raça humana,
mas com a própria sobrevivência do planeta, com toda sua biodiversidade e complexidade,
alertando para existência de três grandes problemas globais, os quais suscitam a urgência de
uma ética mundial, a saber: a crise social, a crise do sistema de trabalho e a crise ecológica. [1]
Em tempos de globalização, aduz BOFF ser necessário para resolver esses problemas
globais uma revolução ética mundial. Para tanto, “far-se-ia necessária uma ideologia
revolucionária global, com seus portadores sociais globais que tivessem tal articulação, coesão e
tanto poder que fossem capazes de impor a todos” [2], através de uma base ética mínima.
Não menos importante revela-se a questão que na atualidade [7], uma grande parcela dos
seres humanos não mais possuem uma boa formação humanista. E, na busca desenfreada pelo
enriquecimento individual, impulsionada pela sistemática da conjectura econômica
transnacional, questões éticas e morais foram paulatinamente perdendo valoração junto às
relações sociais.
Nesse enfoque:
Ademais, com bem aduziu Maria da Graça dos Santos Dias, vive-se em tempos de
perplexidades e complexidades. “Profundas crises – econômica, social, cultural, política –
abalam a Sociedade e o Estado contemporâneos.” Parece, segundo a douta professora, “ter-se
chegado ao fim da História”. [9]
Por fim, ante a elasticidade que o presente estudo permite, passa-se a analisar
inicialmente alguns aspectos pertinentes ao conceito e abrangência da ética, para em seguida
esmiuçar algumas ponderações sobre a filosofia do direito, culminando, ao final, com algumas
considerações sobre a sociedade contemporânea.
1 ÉTICA
Segundo De Plácido e Silva[10] a ética é derivada do grego ethikos, sendo definida
como a “ciência da moral”.
Ethos com e pequeno significa a morada, o abrigo permanente, seja dos animais
(estábulo), seja dos seres humanos (casa) [...] A morada o enraíza na realidade, dá-lhe segurança
e permite a ele sentir-se bem no mundo [...] o ethos não é algo acabado, mas algo aberto a ser
sempre feito, refeito e cuidado como só acontece com a moradia humana. Ethos se traduz,
então, por ética.
[...] ethos, mas escrito com E grande (o epsílo, em grego). Ele significa os costumes,
vale dizer, o conjunto de valores e de hábitos consagrados pela tradição cultural de um povo.
Ethos como conjunto de meios ordenados ao fim (bem/autorrealização), se traduz comumente
por moral. Moral (mos-mores, em latim) significa, exatamente, os costumes e valores de uma
determinada cultura.[11]
Assim, a ética deve possibilitar que o homem seja capaz compreender o direito
alicerçado em princípios basilares que atendam as urgências humanas básicas de sobrevivência,
com profundo respeito a vida humana e ao meio ambiente.
Se existe, então, para as coisas que fazemos, algum fim que desejamos por si mesmo e
tudo o mais é desejado por causa dele; e se nem toda coisa escolhemos visando à outra (porque
se fosse assim, o processo se repetiria até o infinito, e inútil e vazio seria o nosso desejar),
evidentemente tal fim deve ser o bem, ou melhor, o sumo bem. [12]
A ética como organizadora e reguladora das condutas humanas nos leva a refletir no
campo jurídico como agir perante a uma situação cotidiana que envolve a vida do homem e de
outros homens.
Uma das principais urgências da ética é a da justiça social para suprir as necessidades
básicas do homem, respeitando o planeta, pautada na equidade entre os seres humanos.
2 FILOSOFIA DO DIREITO
A Filosofia do Direito admite diversas acepções e diferentes interpretações sobre sua
amplitude no campo jurídico.
O historiador da filosofia do direito, que deve dar conta de doutrinas diversas ao longo
do tempo e do espaço, é obrigado a adotar uma definição ampla e que sabe ser somente
provisória, que corresponde ao máximo possível ao conteúdo dos manuais que levam esse
nome.[13]
VALLEY ainda ensina que “são os filósofos que trazem a lume, explicitam, formulam
os princípios com base nos quais se constituem as ciências do Direito.” [14]
Com este olhar na filosofia que o jurista deve articular suas ações com criticidade,
solidariedade, interatividade e, sobretudo, na ética de amor a vida sua e do outro, respeitando o
mundo em que se vive.
3 SOCIEDADE
Como bem ressaltou Aristóteles “o homem é um animal político.” [15] Tal assertiva não
se refere as questões políticas de organização da sociedade, mas a necessidade do homem
conviver com seus semelhantes em comunidade.
O processo pelo qual os indivíduos formam a sociedade e são formados por ela é
chamado de socialização. A imagem que melhor descreve esse processo é a de uma rede tecida
por relações sociais que vão entralaçando e compondo diversas outras relações até formar toda a
sociedade.
Cada indivíduo, ao fazer parte de uma sociedade, insere-se em múltiplos grupos e
instituições que se entrecruzam, como a família, a escola e a Igreja. E, assim, o fio da meada
parece interminável porque forma uma complexa rede de relações que permeiam o cotidiano.
Ainda que cada sujeito tenha sua individualidade, esta se constrói no contexto das relações
sociais com os diferentes grupos e instituições dos quais ele participa, tendo por isso
experiências semelhantes ou diferentes das de outras pessoas. [16]
Nesse sentido, diversas são as manifestações de vida em sociedade, nas quais a ética
da solidariedade e da partilha deve se fazer presente em todas as estruturas dos espaços sociais,
sejam elas de ordem religiosas, políticas, sindicais, acadêmicas, familiares, entre outros, para
uma harmonia na teia da vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este breve estudo percebe-se que o homem é um ser que necessita conviver em
sociedade, a qual tem valores e crenças diversas, dependendo da cultura e do contexto social.
Desse modo a filosofia do direito faz com que o sujeito possa assumir compromissos
segundo suas experiências, considerando que existem diferentes pontos de vista e peculiaridades
em cada situação.
BIBLIOGRAFIA
DIAS, Maria da Graça dos Santos; SILVA, Moacyr Motta da; MELO, Osvaldo
Ferreira de. Política Jurídica e Pós-Modernidade. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009.
FELIPPI FILHO, Mario Cesar. Ser ou ter: eis a questão (1ª Parte). Artigo publicado
no jornal O Correio do Povo, em 29 jul. 2011, edição 6.733, p. 3.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 13ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense,
1997.
TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2010.
NOTAS
[1]
Segundo o Autor, a crise social decorreria da enorme desigualdade na distribuição
de riquezas, gerando um grande abismo/fosso entre ricos e pobres, sendo um fator responsável
pelo aumento considerável da pobreza mundial. Já a crise do sistema de trabalho, caracterizar-
se-ia pelas novas formas de produção que cada vez mais substituem o trabalho humano pela
máquina inteligente, gerando “um imenso exército de excluídos em todas
as sociedades mundiais” E, por fim, a questão da crise ecológica, que decorreria da
irresponsável atividade humana causadora de danos irreparáveis à biosfera, bem como pela
grave ameaça de desequilíbrio ecológico capaz de atingir a sustentabilidade de todo o planeta.
De forma categórica, refere-se ao surgimento do “princípio da autodestruição”. (BOFF,
Leonardo. Ethos Mundial: um consenso mínimo entre os humanos. Rio de Janeiro: Record,
2009 p. 14-17).
“O crescimento é o deus oculto das nossas sociedades. Este deus que se esconde é
[3]
um deus cruel: exige sacrifícios humanos. Hoje pesa sobre nós a mais grave angústia que jamais
pesou sobre os homens no curso de sua história: a da sobrevivência do planeta e dos que o
habitam.” (GARAUDY, Roger. O Projeto Esperança. Tradução de Virgínia Novais da Mata-
Machado. Rio de Janeiro: Salamandra, 1978; p. 1).
Versada pela professora Maria da Graça dos Santos Dias como período Pós-
[7]
Moderno. (DIAS, Maria da Graça dos Santos; SILVA, Moacyr Motta da; MELO, Osvaldo
Ferreira de. Política Jurídica e Pós-Modernidade. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009).
FELIPPI FILHO, Mario Cesar. Ser ou ter: eis a questão (1ª Parte). Artigo
[8]
DIAS, Maria da Graça dos Santos; SILVA, Moacyr Motta da; MELO, Osvaldo
[9]
[11]
BOFF, Leonardo. Ethos Mundial: um consenso mínimo entre os humanos; p.
30-31.
de cada autor. 5ª ed. 7ª Reimpressão. São Paulo: Martin Claret, 2011; p. 13.
Claudia Berliner. 2ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009; p.4.
[14]
VILLEY, Michel. A formação do Pensamento Jurídico Moderno; p.4.
[15]
Aristóteles. Ética a Nicômaco; p. 22.
2010; p. 18.
Autores
Bacharel em Direito pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2007). Pós-graduado em nível
de Especialização (com habilitação para o Magistério Superior) em Direito Penal e Processual Penal pela
Universidade do Vale do Itajaí, em convênio com a Associação Catarinense do Ministério Público (2008).
Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI (2013). Professor
Universitário na área de Direito Penal e Processual Penal junto ao Centro Universitário - Católica de
Santa Catarina (2009/atual). Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de
Santa Catarina (gestão 2013-2015). Advogado militante nas áreas Civil e Criminal.<br>