1965 4405 1 PB
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Quirino Cordeiro*
Alexandra Martini de Oliveira**
Débora Melzer***
Rafael Bernardon Ribeiro****
Sérgio Paulo Rigonatti*****
Resumo
O presente trabalho apresentará aspectos técnicos,
políticos e legais da prevenção em saúde mental no
País. Inicialmente, serão apresentadas as bases epide-
miológicas dos diferentes níveis de prevenção em saúde
pública, a saber, primária, secundária e terciária. De-
pois disso, serão apresentados exemplos de como pode
ocorrer a prevenção nesses diferentes níveis em saúde
mental. Por fim, serão discutidas questões relaciona-
das à deficiência de programas públicos de prevenção
em saúde mental em nosso meio, apesar das garantias
Abstract
The present paper discusses technical, political, and
legal aspects involved in mental health prevention in
Brazil. First, it focuses the epidemiological basis of di-
fferent levels of prevention in public health, namely, the
primary, secondary, and tertiary levels. Then, it brings
examples of how such prevention can occur at these
different levels. Finally, it discusses issues related to
the deficiency of public prevention programs in mental
health in Brazil, despite historical legal guarantees of
such care in the field of public health.
Keywords: Epidemiology – Rights – Psychiatry – Public
health.
5. Conclusão
Algumas doenças podem ser prevenidas, havendo, en-
tão, a possibilidade de impedir seu surgimento. Esse tipo de
intervenção é chamado de “prevenção primária”. Muitos dos
transtornos psiquiátricos não podem ter sua instalação pre-
venida. No entanto, existem alguns quadros que podem ser
prevenidos, como os transtornos psicóticos relacionados ao
uso de drogas, como a cannabis e a cocaína. Alguns efeitos
mórbidos das doenças também podem ser prevenidos ao se
conduzirem investigações clínicas em um momento no qual
o tratamento pré-sintomático seja mais efetivo do que o tra-
tamento quando os sintomas já estão ocorrendo. A esse tipo
de prevenção chama-se “secundária”.
Nesse contexto, por exemplo, no caso da esquizofrenia, o
tratamento medicamentoso aumenta a possibilidade de evolu-
ção favorável do paciente ao longo prazo, já que os sintomas
psicóticos sem tratamento teriam um efeito neurotóxico, o
que poderia causar danos irreversíveis ao cérebro já enfermo.
Já a prevenção terciária refere-se às atividades clínicas que
previnem a deterioração adicional ou reduzem as complica-
ções após o estabelecimento da doença. No contexto da saúde
mental, tal etapa pode ocorrer de maneira bastante efetiva na
prevenção da ocorrência de suicídio, por exemplo.
Embora essas possibilidades de prevenção em saúde
mental sejam extremamente importantes para os pacientes
e para a comunidade como um todo, e embora a prevenção
em saúde mental seja historicamente prevista e garantida
em Lei, infelizmente, tal questão vem sendo negligenciada no
Brasil. Atualmente, não há uma política efetiva de prevenção
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